Buscar

1-Paulo_Marcos_F._Andrade_M-10600087 BARRA-M3-LITBI- ATIVIDADE I (N1)

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE LINGUAGENS
DEPARTAMENTO DE LETRAS
CURSO DE LETRAS
INTERTEXTUALIDADE ENTRE
TRECHOS DA CARTA, DE PERO VAZ DE CAMINHA E A DESCOBERTA, DE OSWALD DE ANDRADE.
LETERATURA BRASILEIRA I
Barra do Bugres, MT.
2014
Trechos da Carta, de Pero Vaz de Caminha.
“E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha – segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas – os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos.
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!”
“Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam.”
A descoberta, de Oswald de Andrade
“Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.”
Os dois primeiros trechos pertencem à carta que o escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral escreveu ao rei de Portugal, contando sobre a nova terra. O texto A descoberta pertence ao escritor Oswald de Andrade, um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna no início de 1922, em São Paulo. Trata-se de um poema que estabelece uma relação intertextual com a Carta de Caminha. A partir do exposto e da leitura dos textos, responda às questões abaixo:
PARA SABER MAIS INTERTEXTUALIDADE:
QUAIS AS PRINCIPAIS SEMELHANÇAS ENTRE OS TEXTOS?
O texto de Oswald de Andrade é verossímil e usa da ironia para criticar aspectos do descobrimento do Brasil descritos por Caminha. Percebe-se que o poema é construído em torno de recortes da carta Caminha, numa dinâmica de apropriação que resulta na intertextualidade. Veja que o fragmento da carta de caminha “seguimos nosso caminho, por este mar de longo” é apropriado por Andrade em seu texto no 1º verso. Depois sobre indígenas nuas de Caminha, Andrade as descreve no 15º verso como “as meninas da gare”, usando um tom irônico e mais moderno ao se referir ás moças. É estabelecido de forma crítica um paralelo entre o histórico (quinhentismo é o moderno (modernismo). Numa espécie de imitação, Andrade usa o recurso estilístico e a paródia para compor seu poema, conferindo ao texto uma intertextualidade temática e estilística. 
B. E AS DIFERENÇAS? (NÃO SE ESQUEÇA DE OBSERVAR TANTO A TEMÁTICA QUANTO A FORMA, A ESTRUTURA DOS TEXTOS).
O diferente entre os textos é visível não só no que diz respeito ao gênero do discurso, pois o primeiro é histórico e cumpre o objetivo de informar e narrar fatos ao passo que segundo está disposto em verso com uma função crítica social típica do modernismo Brasileiro. Em “Descoberta” Oswald de Andrade transforma o documento histórico que é a carta histórica de Pros Vaz de Caminha em poesia. A diferença se acentua também na intenção dos autores, Caminha não pensava em literatura e usava a linguagem apenas para descrever a viagem, já Andrade a usa para fazer “Literatura Crítica e Moderna”. Não obstante Caminha usar o português com muita autenticidade, o português brasileiro de Andrade confere ao poema um tom moderno, ao mesmo tempo nacionalista e traz um sentido de oposição aos ideais dos viajantes de Caminha. 
C. A PARTIR DO DISTANCIAMENTO TEMPORAL QUE HÁ ENTRE OS TEXTOS (INÍCIO DO SÉCULO XVI E INÍCIO DO SÉCULO XX, RESPECTIVAMENTE), COMENTE SOBRE OS POSSÍVEIS EFEITOS PROVOCADOS NOS LEITORES. COMO A RECEPÇÃO PODE ALTERAR O SENTIDO DA OBRA?
Entendo que o distanciamento cronológico entre os textos traz para o leitor a possibilidade de pensar no objetivo que ambos cumprem em seu tempo, como os autores se referem aos fatos e o uso que cada um faz da linguagem. Pois, por mais que Andrade constrói seu poema sobre fragmentos de Caminha, é possível que o leitor perceba que a semântica que ele dá aos termos, propõe uma crítica e um repúdio às informações da carta endereçada ao rei de Portugal. O leitor pode enxergar a carta como produto de interesses especulatórios portugueses e o poema como irônico desabafo nacionalista, a partir do qual é possível traçar a linha da exploração do país ao longo destes mais de 500 anos. Ainda é possível que o leitor perceba a busca veemente de Andrade em definir uma cultura brasileira através de sua poesia ambígua e cômica. 
 REFERÊNCIA
A Carta De Caminha: Uma Perspectiva Oswaldiana. Disponível em http://www.artigonal.com/literatura-artigos/a-carta-de-caminha-uma-perspectiva-oswaldiana-1063117.html acessado em 27/10/14.
"letras.com" é um blog de conteúdo dedicado à língua portuguesa e à literatura. Disponível em http://keylapinheiro.blogspot.com.br/2010/05/analise-do-poema-brasil-de-oswald-de.html Acesso em 27/10/14.

Mais conteúdos dessa disciplina