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Capítulo 24 Controle da Respiração 471 C A P Í T U L O 24 471 Respiramos sem pensar, e podemos modifi car nos-so padrão de respiração e, até mesmo, prender a respiração. O controle ventilatório, discutido nes- te capítulo, inclui a geração e a regulação do ritmo da respiração, pelo centro respiratório do tronco cerebral, e sua modifi cação pela informação gerada pelos cen- tros cerebrais superiores e receptores sistêmicos. A função da respiração, do ponto de vista mecânico, é minimizar o trabalho, e do ponto de vista fi siológico, é a manutenção dos gases sanguíneos e, mais especifi ca- mente, regular a PCO2 arterial. Outra função da respira- ção é a de manter o balanço ácido-básico no cérebro pela regulação da PCO2 arterial. A respiração automática começa ao nascimento. No útero, a placenta, e não os pulmões, é o órgão responsável pela troca de gases do feto. Suas microvilosidades interdigitam com a circula- ção uterina materna, e o transporte de O2 e a remoção de CO2 do feto ocorrem por difusão passiva, por meio da circulação materna. CONTROLE VENTILATÓRIO: VISÃO GERAL Existem quatro principais sítios de controle da ventila- ção: (1) o centro do controle respiratório, (2) os qui- miorreceptores centrais, (3) os quimiorreceptores periféricos e (4) os receptores mecânicos pulmonares/ nervos sensoriais. O centro do controle respiratório está situado no bulbo (medula oblongata) do tronco cerebral, e é composto de múltiplos núcleos que geram e modifi cam o ritmo ventilatório básico. O centro con- siste em duas partes principais: (1) o gerador de padrão ventilatório, que gera o padrão rítmico, e (2) o integra- dor, que controla a geração do padrão, processa as in- formações geradas por centros cerebrais superiores e pelos quimiorreceptores e controla a frequência e a am- plitude do padrão ventilatório. Essas informações, che- gadas ao integrador, geradas por centros cerebrais superiores, incluem o córtex cerebral, o hipotálamo, a amídala, o sistema límbico e o cerebelo. Os quimiorreceptores centrais estão situados, no sistema nervoso central, logo abaixo da superfície ven- trolateral do bulbo. Esses quimiorreceptores centrais detectam a variação da PCO2 e do pH dos fl uidos inters- ticiais, no tronco cerebral, e modulam a ventilação. Quimiorreceptores periféricos estão localizados em cé- lulas especializadas do arco aórtico (corpos aórticos) e da bifurcação das artérias carótidas internas e exter- nas (corpos carotídeos), no pescoço. Os quimiorrecep- tores periféricos detectam a PO2, a PCO2 e o pH do sangue arterial, e enviam essa informação para o núcleo inte- grador do bulbo pelos nervos vago e pelos nervos do seio carotídeo, ramos do nervo glossofaríngeo. A esti- mulação dos mecanorreceptores pulmonares e dos ner- vos sensoriais, em resposta ao insufl ar dos pulmões ou às substâncias irritantes ou à liberação de mediadores locais, nas vias aéreas, modifi ca o padrão ventilatório. Os feixes nervosos que vão do centro do controle respiratório até neurônios motores, localizados no cor- no anterior da medula espinal, controlam os músculos da respiração e determinam o padrão rítmico automá- tico respiratório. Neurônios motores, localizados na região cervical da medula, controlam a atividade do diafragma pelos nervos frênicos, enquanto outros neu- rônios motores, localizados na região torácica da me- dula, controlam os músculos intercostais e acessórios da respiração. Em contraste com a respiração automática, a respi- ração voluntária não passa pelo centro do controle respiratório no tronco cerebral. A atividade neural, res- ponsável pelo controle da respiração voluntária, se origina no córtex motor e vai diretamente para os neu- rônios motores na coluna espinal pelos tratos córtico- espinais. Os neurônios motores para os músculos respiratórios constituem o último nível de integração para o controle da respiração voluntária (trato córtico- espinal) e automático (tratos ventro-laterais). O contro- le voluntário desses músculos compete com as infl uências automáticas no nível dos neurônios moto- res espinhais, e essa competição pode ser demonstra- da quando se prende a respiração. No início, o controle voluntário governa os neurônios motores espinais. Po- rém, ao se continuar prendendo a respiração o controle ventilatório automático eventualmente se sobrepõe ao esforço voluntário e limita sua duração. Os neurônios motores também inervam músculos da via aérea supe- rior por meio dos nervos cranianos. Esses neurônios estão localizados no bulbo (medula oblongata), próxi- mos ao centro do controle respiratório. Quando ativa- dos, dilatam a faringe e as grandes vias aéreas no início da respiração. RESPOSTA AO CO2 A ventilação é regulada pela PCO2, pela PO2 e pelo pH do sangue arterial. A PCO2 arterial é o mais importante desses reguladores. A frequência e a amplitude da res- piração são controladas para manter a PaCO2 próxima de 40 mmHg. Em indivíduo hígido e acordado ocorre au- mento linear da ventilação quando a PCO2 arterial atinge ou excede 40 mmHg (Fig. 24-1). As variações da PaCO2 são detectadas por quimiorreceptores periféricos e centrais que transmitem a informação para os centros respiratórios do bulbo (medula oblongata). Em segui- da, o centro de controle respiratório regula a ventila- ção-minuto e, assim, mantém a PCO2 arterial dentro dos valores normais. Quando a PAO2 é normal a ventilação aumenta, aproximadamente, 3 L/min, para cada milíme- Controle da Respiração 472 Berne e Levy Fisiologia tro de aumento da PaCO2. A resposta ao aumento da PACO2 fi ca ainda mais aumentada quando a PaO2 é baixa (Fig. 24-2). Quando a PaO2 está diminuída a ventilação é maior, independentemente do valor da PACO2, e no caso de aumento da PACO2 esse aumento da ventilação fi ca exacerbado (a curva é mais inclinada). A curva da resposta ventilação-minuto como função do CO2 inspirado é chamada de resposta ventilatória ao CO2 e é teste da sensibilidade a esse gás. É impor- tante reconhecer que essa reação é amplifi cada pelos baixos níveis de O2 (Fig. 24-2, B). Ocorre aumento da atividade com níveis baixos de O2 porque diferentes mecanismos são responsáveis pela detecção dos ní- veis da PO2 e PCO2 pelos quimiorreceptores periféricos. Assim, a ocorrência de hipercapnia ou de hipoxemia (normalmente chamada de asfi xia, quando ambas as alterações estão presentes) tem efeito aditivo na infor- mação, enviada por quimiorreceptores, e no estímulo ventilatório resultante. A pulsão ventilatória ou resposta às variações da PCO2 pode ser reduzida com a utilização de hiperventi- lação e também de fármacos como a morfi na, os barbi- túricos e os agentes anestésicos, que deprimem o centro do controle respiratório e diminuem a resposta ventilatória ao CO2 e ao O2 (Fig. 24-1). Nessas circuns- tâncias, o estímulo não consegue ativar adequadamen- te os neurônios motores que inervam os músculos da respiração. Ela também é deprimida durante o sono. Além disso, a resposta ventilatória às mudanças da PCO2 fi ca diminuída e o trabalho respiratório aumenta, o que pode ocorrer em indivíduos portadores de doen- ça obstrutiva pulmonária crônica (DOPC) (Fig. 24-1). Isso ocorre, principalmente, porque o estímulo neural enviado pelo centro respiratório é menos efi ciente em promover a ventilação, devido à limitação mecânica própria da ventilação. CONTROLE VENTILATÓRIO: DETALHES O Centro de Controle Respiratório Quando o encéfalo é experimentalmente seccionado em um ponto entre o bulbo e a ponte a periodicidade respiratória é mantida, demonstrando que a ritmicida- de inerente à respiração é originada no bulbo. Apesar de nenhum grupo específi co de neurônios no bulbo ter sido identifi cado como o “marca-passo” respiratório, dois núcleos distintos estão envolvidos na geração do padrãorespiratório (Fig. 24-3). Um deles é o grupo respiratório dorsal (GRD), composto de células do nú- cleo do trato solitário, localizado na região dorsome- dial do bulbo. Células do GRD recebem aferentes do 9o e 10o nervos cranianos, originados nas vias aéreas e no pulmão, e acredita-se que constituem a estação de pro- cessamento intracraniano inicial desses estímulos afe- rentes. O segundo grupo de células bulbadas é o grupo respiratório ventral (GRV), localizado na região ven- trolateral do bulbo. O GRV é composto de células de três núcleos: da porção rostral do núcleo retrofacial, da porção caudal do núcleo retroambíguo e do nú- cleo para-ambíguo. O GRV contém neurônios inspira- tórios e expiratórios. O núcleo retrofacial e as células caudais do núcleo retroambíguo estão ativos durante a expiração, enquanto as células rostrais do núcleo retroambíguo estão ativas durante a inspiração. O núcleo para-ambíguo tem neurônios inspiratórios e ex- piratórios que, por meio do nervo vago, inervam os músculos laríngeos e faríngeos. Estímulos originados nessas células têm efeito excitatório em algumas célu- las e inibitório em outras. No nível do centro de controle respiratório a inspi- ração e a expiração ocorrem em três fases — uma ins- piratória e duas expiratórias (Fig. 24-4). A inspiração começa com aumento repentino da descarga das célu- las do núcleo do trato solitário, do núcleo retroambí- guo e do núcleo para-ambíguo, seguido por aumento uniforme em rampa da frequência das descargas duran- te a inspiração. Isso leva à contração progressiva dos músculos respiratórios durante a respiração automáti- ca. Ao fi nal da inspiração, evento de desligamento (off- switch) resulta em diminuição acentuada da descarga neuronal, e começa a expiração. No início da expiração (fase I da expiração), um aumento paradoxal da descar- ga neuronal inspiratória diminui a velocidade da fase expiratória ao aumentar o tônus dos músculos inspira- tórios e a descarga neuronal expiratória. Essa descarga 15 10 5 0 25 35 45 55 65 PaCO2 (mmHg) Ve nt ila çã o al ve ol ar (L /m in) Acidose metabólica Indivíduo hígido acordado Durante o sono Morfina, barbitúricos DOPC Agentes anestésicos ! Figura 24-1. A relação entre a PaCO2 e a venti- lação alveolar em indivíduo hígido acordado, durante o sono, após a ingestão de narcóticos, sob anestesia geral e na presença de acidose metabólica. Tanto as curvas de resposta (sensibilidade) quanto a posição das curvas de resposta (limiar, o ponto onde a curva cruza o eixo x) estão modifi cadas, indicando alterações nas respostas ventilatórias e nos limites da resposta. Capítulo 24 Controle da Respiração 473 inspiratória diminui até cessar completamente na fase II da expiração. Apesar de diferentes neurônios do GRD e GRV estarem envolvidos na ventilação, cada tipo ce- lular parece ter função específi ca. Por exemplo, o refl e- xo de Hering-Breuer é um refl exo inspiratório inibitório originado em receptores de estiramento aferentes, lo- calizados nos músculos lisos das vias aéreas. O aumen- to da insufl ação do pulmão estimula esses receptores de estiramento e resulta em expiração precoce pela estimulação dos neurônios associados à fase de desli- gamento inibitório do controle dos músculos inspirató- rios. Assim, a respiração rítmica depende de controle respiratório contínuo (tônico), mediado pelo GRD, e de controle expiratório intermitente (dividido em fases) realizado pelo cérebro, tálamo, nervos craniais e tratos sensoriais ascendentes da medula espinal. Quimiorreceptores Centrais O quimiorreceptor é um receptor que responde à varia- ção da composição química do sangue ou de qualquer outro fl uido a seu redor. Quimiorreceptores centrais são células especializadas na superfície ventrolateral do bulbo. Os quimiorreceptores são sensíveis ao pH do fl uido extracelular que os banha. Como o fl uido extra- celular está em contato com o líquido cérebro-espinal PaCO2 (mmHg) A Ve n til aç ão (L /m in) PaCO2 (mmHg) B Ve n til aç ão (L /m in) PaO250 70 100 PaCO2 55 35 45 Núcleo do trato solitário Quarto ventrículo Núcleo retroambíguo C1 Centro pneumotáxicoPonte Bulbo Receptores vagais de estiramento Músculos respiratórios + – + + + + Quimiorreceptores centrais e periféricos C A B ! Figura 24-4. O diagrama do circuito básico do controla- dor ventilatório do tronco cerebral. Os sinais nos principais estímulos enviados (setas) pelos grupos neuronais indicam se o estímulo é excitatório (+) ou inibitório (–). O grupo A envia estímulos inspiratórios tônicos para os músculos da respiração. O grupo B é estimulado pelo grupo A e envia estímulos adicio- nais aos músculos da respiração, e o grupo B estimula o grupo C. Outros grupos cerebrais estimulam o grupo C (estímulo inibitório inspiratório), que envia impulsos inibitórios para o grupo A. Informação aferente (feedback) de vários sensores atua em diferentes locais: quimiorreceptores atuam no grupo A e fi bras sensoriais intrapulmonares atuam, via nervo vago, no grupo B. O centro pneumotáxico na região anterior da ponte recebe informação do córtex cerebral e modula o grupo C. ! Figura 24-2. Os efeitos da hipóxia (A) e da hipercapnia (B) na ventilação, enquanto a pressão parcial do outro gás respiratório varia. A, Sob qualquer PaCO2 a ventilação aumenta cada vez mais, quando a PaO2 cai. Quando a PaCO2 pode dimi- nuir (como em condições normais) durante a hipóxia a respi- ração é pouco estimulada até a PO2 atingir menos que 60 mmHg. A resposta à hipóxia é mediada pelos quimiorrecepto- res dos corpos carotídeos. B, A sensibilidade da resposta ven- tilatória ao CO2 é aumentada pela hipóxia. ! Figura 24-3. O centro de controle respiratório está situado no bulbo (a porção mais primitiva do cérebro). Os neurônios ocorrem principalmente em duas áreas, chamadas de núcleo do trato solitário e núcleo retroambíguo. 474 Berne e Levy Fisiologia (FCE), as variações do pH do FCE afetam a ventilação por atuarem nesses receptores. O FCE é um ultrafi ltrado do plasma secretado conti- nuamente pelo plexo coroide e reabsorvido pelas vilo- sidades aracnoides. Por estar em contato com o fl uido extracelular cerebral sua composição é infl uenciada pela atividade metabólica das células a seu redor e pela composição sanguínea. Apesar de o FCE ter origem no plasma suas composições não são iguais, devido à exis- tência da barreira hemato-encefálica entre os dois (Fig. 24-5). A barreira hemato-encefálica é composta de cé- lulas endoteliais, por músculo liso e pelas membranas pia-máter e aracnoide, e ela regula a troca de íons entre o sangue e o FCE. Além disso, o plexo coroide também determina a composição iônica do CFE pelo transporte de íons para dentro e para fora deste. A barreira hema- to-encefálica é relativamente impermeável aos íons H+ e HCO3–, mas é muito permeável ao CO2. Assim, a PCO2 no FCE é diretamente proporcional à tensão da PCO2 arterial. O CO2 também é produto metabólico das célu- las cerebrais. Consequentemente, a PCO2 do FCE em geral é alguns mmHg maior do que a do sangue arterial, e seu pH é pouco mais ácido (7,33) que o do plasma (Tabela 24-1). Quando ocorrem variações da PCO2 arterial devido à modifi cação do pH mecanismos de homeostasia são ativados, fazendo com que o valor do pH volte ao nor- mal. A barreira hemato-encefálica regula o pH do FCE pelo ajuste da composição iônica e da [HCO3–] do FCE. Porém, essas variações na [HCO3–] do FCE ocorrem len- tamente, em período de várias horas, enquanto as mo- difi cações da PCO2 do FCE podem ocorrer em minutos. Portanto, para compensar inteiramente as variações do pH do FCE são necessárias horas. Quimiorreceptores PeriféricosOs corpos aórticos e carotídeos são quimiorreceptores periféricos que respondem às variações da PO2 (e não à quantidade de O2) da PCO2 e do pH arteriais, e transmi- tem informação aferente para o centro de controle res- piratório. Os quimiorreceptores periféricos são os únicos que respondem às alterações da PO2. Eles tam- bém são responsáveis por aproximadamente 40% da resposta ventilatória ao CO2. Esses quimiorreceptores são estruturas pequenas e muito vascularizadas. Eles consistem em células tipo I (glomus), ricas em mitocôn- drias e retículo endoplasmático. Também contêm vários tipos de grânulos citoplasmáticos (vesículas sinápti- cas), com diferentes neurotransmissores, incluindo do- pamina, acetilcolina, norepinefrina e neuropeptídeos. Fibras nervosas aferentes fazem sinapses com as célu- las do tipo I e transmitem informação ao tronco cerebral por meio do nervo do seio carotídeo (corpo carotídeo) e do nervo vago (corpo aórtico). Células do tipo I são as responsáveis, principalmente, pela detecção da PO2, do PCO2 e do pH. Em resposta às baixas da PO2 (mesmo que pequenas), ocorre aumento da descarga do qui- miorreceptor, o que aumenta a respiração. A resposta é HCO3 HCO3(horas) H+ H+ CO2 CO2 CO2 CO2 CO2 CO2 CO2 FCE Crânio Músculo liso Músculo liso Ba rre ira h em at oe nc ef ál ica Ba rre ira h em at oe nc ef ál ica Tecido cerebral Tecido cerebral Sangue arterial Dilatação CO2 metabólico Quimior- receptor central (Lentamente) CO2 metabólico Sangue venoso – – ! Figura 24-5. CO2 e a barreira hemato-encefálica. O CO2 arterial atravessa a barreira hemato-encefálica e é rapidamente equilibrado com o CO2 do FCE. Íons H + e HCO3– atravessam a barreira lentamente. O CO2 arterial se combina com o CO2 metabólico para dilatar os músculos lisos. Quando comparado com o sangue arterial, o pH do FCE é mais baixo e a PCO2 é mais alta, e ocorre pouco tamponamento por proteínas. !"NO NÍVEL CELULAR A equação de Henderson-Hasselbalch relaciona o pH do FCE à [HCO3–]: pH = pK + log [HCO3 –] α.P CO2 onde α é o coefi ciente de solubilidade (0,03 mmol/L/ mmHg) e pK é o logaritmo negativo da constante de dissociação do ácido carbônico (6,1). A equação de Henderson-Hasselbalch demonstra que o aumento da PCO2 do FCE irá diminuir o pH do FCE em qualquer [HCO3–]. A queda do pH irá estimular os quimiorre- ceptores centrais e, assim, aumentar a ventilação. Portanto, o CO2 sanguíneo regula a ventilação por meio de seus efeitos no pH do FCE. A hiperventilação resultante reduz a PCO2 do sangue, assim como a do FCE, e o seu pH retorna ao valor normal. Além disso, a vasodilatação cerebral acompanha o aumento da PCO2 arterial, o que aumenta a difusão de CO2 para o FCE. Em contraste, o aumento na [HCO3–] do FCE vai aumentar o pH do FCE em qualquer PCO2. ! Tabela 24-1. Valores Normais da Composição do Fluido Cérebro-Ventricular e do Sangue Arterial FCE Arterial pH 7,33 7,40 PCO2 (mmHg) 44 40 HCO3 – (mEq/L) 22 24 Capítulo 24 Controle da Respiração 475 grande quando o valor da PO2 arterial atinge 75 mmHg ou menos. Assim, a ventilação é regulada pelas varia- ções no pH arterial e no FCE pelos efeitos que causa nos quimiorreceptores periféricos e contrais (Fig. 24-6). Mecanorreceptores Pulmonares Parede Torácica e Refl exos Pulmonares Muitos refl exos originados na parede torácica e nos pulmões afetam a ventilação e os padrões ventilatórios (Tabela 24-2). O refl exo inibitório-inspiratório de He- ring-Breuer é estimulado pelo aumento do volume pul- monar, especialmente os associados a um aumento da frequência ventilatória e do volume corrente. O refl exo de estiramento é mediado por fi bras vagais, e quando ocorre produz o término da inspiração pela estimulação de neurônios inibitórios no bulbo. Esse refl exo é inati- vado durante a respiração calma e parece ser muito importante em recém-nascidos. A estimulação de re- ceptores nasais ou faciais com água fria inicia o refl exo do mergulho. Quando ele é induzido ocorre apneia, ou cessação da respiração, e bradicardia. Esse refl exo im- pede que a água seja aspirada durante os estágios ini- ciais do afogamento. A ativação de receptores no nariz é responsável pelo refl exo do espirro. O refl exo de fungar ou de aspiração pode ocorrer pela estimulação de receptores mecânicos na nasofa- ringe e na faringe. É um esforço inspiratório forte e de curta duração que leva o conteúdo da nasofaringe para a faringe, onde pode ser deglutido ou expelido. Os re- ceptores mecânicos responsáveis pelo refl exo de fungar também são importantes na deglutição pela inibição da respiração, causando o fechamento da laringe. So- mente recém-nascidos podem respirar e deglutir si- multaneamente, o que permite ingestão mais rápida de nutrientes. A laringe contém receptores superfi ciais e profun- dos. A ativação dos receptores superfi ciais resulta em apneia, tosse e movimentos expiratórios que impedem que o trato respiratório inferior aspire conteúdo estra- nho. Os receptores profundos estão localizados nos NA CLÍNICA Imagine que você está em um avião, voando de Nova Iorque para Denver. A pressão barométrica em Nova Iorque é aproximadamente de 760 mmHg, enquanto nas montanhas que rodeiam Denver, no Colorado, é de 600 mmHg. A PO2 do sangue arterial, no nível do mar, é de cerca de 95 mmHg (utilizando a equação do ar alveolar [Capítulo 22], a PAO2 = [(760 – 47) × 0,21] – [40/0,8] = 100 mmHg. Se a diferença da PO2 alvéolo-arterial [AaDO2] é de 5 mmHg; a PaO2 = 100 – 5 = 95 mmHg). No FCE o pH seria de cerca de 7,33, a PCO2 seria de 44 mmHg (PCO2 arterial + CO2 produ- zido pelo metabolismo das células cerebrais) e o HCO3– seria aproximadamente de 22 mEq/L. Quando você chega às montanhas ocorre queda abrupta da PIO2 (PIO2 = [600 – 47] × 0,21 = 116 mmHg) e diminuição do O2 alveolar e arterial (PAO2 = 116 – [40/0,8] = 66 mmHg; PaO2 = 61 mmHg, pre- sumindo que não ocorreu alteração da AaDO2). Essa queda no O2 arterial estimula os quimiorreceptores periféricos e, assim, aumenta a ventilação. Esse aumento da ventilação diminui a PCO2 e eleva o pH arterial. O resultado desse aumento na ventilação é o de minimizar a hipoxemia, pelo aumento da PAO2. (Por exemplo, admita que o valor da PACO2 diminua para 30 mmHg. Logo, PAO2 = [(600 – 47) × 0,21] – [30/0,8] = 78 mmHg, aumento de 12 mmHg da PAO2.) A queda da PCO2 arterial também diminui a PCO2 do FCE. Já que a [HCO3–] não se altera, o pH do FCE aumenta. Esse aumento do pH do FCE atenua a fre- quência das descargas provenientes dos quimiorre- ceptores centrais e diminui sua contribuição para o controle ventilatório. Durante as próximas 12 a 36 horas a [HCO3–] no FCE diminui devido à atuação de proteínas transportadoras ácido-básicas na barreira hemato-encefálica. Consequentemente, o pH do FCE volta ao normal. Os estímulos vindos dos quimiorre- ceptores centrais aumentam, bem como a ventilação- minuto. Ao mesmo tempo em que a [HCO3–] no FCE diminui, o HCO3– é gradualmente excretado pelos rins. Isso resulta em retorno gradual do pH arterial ao normal. A estimulação de quimiorreceptores periféri- cos aumenta à medida que o pH arterial volta ao normal (quimiorreceptores periféricos são inibidos pelos altos valores do pH arterial). Enfi m, dentro de 36 horas da sua chegada nas montanhas a ventila- ção-minuto aumenta signifi cativamente. Essa respos- ta “lenta” é mais intensa do que o efeito imediato da hipoxemia na ventilação. Esse aumento adicional da ventilação ocorre devido à atuação dos quimior- receptores centrais e periféricos. Assim, ao término do fi nal de semana tanto o pH arterial quanto o do FCE estão próximos de seus níveis normais; a ventila- ção-minutoestá aumentada, e as PO2 e PCO2 arteriais estão diminuídas. Agora você está voltando para Nova Iorque. Ao pousar, a PO2 inspirada retorna ao normal e o estímulo hipóxico à ventilação é removido. A PO2 arterial volta ao normal, e a estimulação dos quimiorreceptores periféricos à ventilação diminui. Isso aumenta a [CO2] arterial até níveis normais, o que, por sua vez, aumenta a [CO2] do FCE. Esse aumento está associado à queda do pH do FCE, já que sua [HCO3–] diminui e a venti- lação é aumentada. Durante as próximas 12 a 36 horas, transportadores ácido-básicos, na barreira he- mato-encefálica, carreiam HCO3– para o FCE, e o pH desse fl uido gradualmente retorna ao normal. Para- lelamente, o pH sanguíneo diminui enquanto a PCO2 arterial aumenta, porque a [HCO3–] arterial diminui. Isso estimula quimiorreceptores periféricos, e a venti- lação-minuto continua aumentada. Dentro das próxi- mas 12 a 36 horas o rim aumenta a [HCO3–] sanguí- nea (Capítulo 36), e o pH arterial volta ao normal, bem como a ventilação-minuto. 476 Berne e Levy Fisiologia músculos esqueléticos da laringe e controlam a ativa- ção de fi bras musculares, bem como outros músculos esqueléticos. Receptores Sensoriais e Refl exos Existem três tipos principais de receptores sensoriais situados na árvore traqueo-brônquica. Eles respondem a vários estímulos e resultam em alteração das proprie- dades mecânicas pulmonares, alterações no padrão respiratório e no desenvolvimento de sintomas respi- ratórios. Receptores de irritação na traqueia e nas grandes vias aéreas são estimulados pela inalação de pó, de gases nocivos ou de fumaça de cigarro. Eles transmitem informações por meio de fi bras aferentes vagais mielinizadas. A estimulação desses receptores resulta em aumento da resistência das vias aéreas, ap- neia refl exa e tosse. Eles também são conhecidos como receptores de estiramento pulmonares de adaptação rápida. Os receptores de estiramento pulmonares de adaptação lenta respondem a estímulos mecânicos, e são ativados pela insufl ação pulmonar. Eles também transmitem informação pelas fi bras aferentes vagais mielinizadas. O aumento do volume pulmonar, em indi- víduos com doença pulmonária obstrutiva, estimula esses receptores de estiramento pulmonares e retarda o início do próximo esforço inspiratório. Isso explica o longo e demorado esforço expiratório em pessoas que têm a doença. É essencial minimizar a compressão das vias aéreas expiratórias nesses pacientes. Por fi m, re- ceptores sensoriais especializados, localizados no pa- rênquima pulmonar, respondem a estímulos químicos ou mecânicos no interstício do pulmão. Esses recepto- res são chamados de justamedulares ou receptores J. Eles transmitem seus impulsos aferentes por fi bras va- gais C não-mielinizadas. Podem ser responsáveis pela sensação de dispneia (perda de fôlego anormal) e pe- los padrões ventilatórios breves e superfi ciais que ocorrem quando existe edema intersticial pulmonar ou em alguns casos de infl amação pulmonar. Os receptores somáticos também estão situados nos músculos intercostais, nas articulações das costelas, nos músculos acessórios da respiração e nos tendões, e respondem a variações do comprimento e da tensão dos músculos respiratórios. Apesar de não controlarem diretamente a respiração, coletam informações a res- peito do volume pulmonar e participam do término da inspiração. São especialmente importantes em indiví- duos com aumento da resistência das vias aéreas e diminuição da fl exibilidade pulmonar, já que podem aumentar a força muscular durante a inspiração ou a expiração. Receptores somáticos também ajudam a mi- nimizar a distorção da parede torácica em recém-nas- cidos, cuja caixa torácica é muito fl exível. EXERCÍCIO A capacidade de se exercitar depende da capacidade dos sistemas cardíaco e respiratório de aumentar a entrega de O2 aos tecidos e da retirada de CO2 do organis- mo. A ventilação aumenta imediatamente após o início Ve nt ila çã o (L/ mi n) PaCO2 (mmHg) QuedaAumento FCE [H+] ! Figura 24-6. A resposta ventilatória à PCO2 é afetada pela [H+] no FCE e no fl uido intersticial do tronco cerebral. Durante acidose metabólica crônica (p. ex., cetoacidose diabética) a [H+] no FCE está aumentada e a resposta ventilatória à PCO2 também (curva mais íngreme). Inversamente, durante a alca- lose metabólica (condição relativamente incomum) a [H+] no FCE está diminuída, e a resposta ventilatória à PCO2 também (curva reduzida). As posições das linhas de resposta também estão alteradas, indicando limiares alterados da resposta. ! Tabela 24-2. Refl exos e Nervos Sensoriais no Trato Respiratório Refl exo Estímulos Localização do Órgão-Alvo Tipo de Receptor Refl exo de insufl ação de Hering-Breuer Refl exo de desinsufl ação de Hering-Breuer Broncodilatação Taquicardia Hiperpneia Insufl ação do pulmão Células do músculo liso das vias aéreas Receptor vagal, mielinizado, de adaptação lenta Tosse Secreção de muco Broncoconstrição Refl exo de desinsufl ação de Hering-Breuer Hiperinsufl ação do pulmão Agentes endógenos e exógenos Histamina Prostaglandinas Células epiteliais entre as vias aéreas Receptores vagais mielinizados, de adaptação rápida (receptores irritantes) Apneia seguida de taquipneia Broncoconstrição Bradicardia Hipotensão Secreção de muco Hiperinsufl ação exacerbada Agentes endógenos e exógenos Capsaicina Fenilbiguanida Histamina Bradicinina Serotonina Prostaglandinas Espaço intersticial pulmonar Próximo à circulação pulmonar Próximo à circulação brônquica Receptores vagais não-mielinizados, com término em fi bras C (receptores J) Capítulo 24 Controle da Respiração 477 do exercício, e esse aumento da ventilação-minuto é quase igual ao aumento de consumo de O2 e da produ- ção de CO2 que ocorre no exercício (Fig. 24-7). A venti- lação está linearmente relacionada com a produção de CO2 e com o consumo de O2 em níveis baixos a mode- rados de exercício (Fig. 24-7). Durante um exercício muito intenso o indivíduo em forma pode atingir con- sumo de O2 de 4 L/min com volume-minuto de 120 L/ min, quase 15 vezes mais do que no repouso. A atividade física é impressionante devido à não- ocorrência de alterações signifi cativas dos níveis dos gases sanguíneos. Exceto no exercício muito intenso, alterações da PCO2 e PO2 arteriais, durante a atividade física, são mínimas. O pH arterial se mantém em níveis normais durante o exercício moderado. Durante o exer- cício intenso o pH arterial começa a diminuir, à medida que o ácido láctico é liberado pelos músculos devido ao metabolismo anaeróbico. Essa queda do pH arterial estimula a ventilação, que estava desproporcional à intensidade do exercício. O nível de exercício em que a acidose (láctica) metabólica sustentada tem início é chamado de limiar anaeróbico (Fig. 24-7). ANORMALIDADES DO CONTROLE DA RESPIRAÇÃO Alterações do padrão respiratório podem ocorrer por causas primárias e secundárias. Durante o sono apro- ximadamente um terço dos indivíduos normais tem breves episódios de apneia ou de hipoventilação, que não têm efeitos signifi cativos na PO2 ou na PCO2 arterial. A apneia normalmente dura menos que 10 segundos e ocorre nos estágios mais leves de sono de ondas lentas e de movimentos rápidos dos olhos (REM, rapid eye movement). Nas síndromes de apneia do sono a dura- NA CLÍNICA A história clínica de pessoas com apneia obstrutiva no sono (AOS) é muito semelhante em todos os pacientes. O cônjuge usualmente relata que o pacien- te ronca. Esse roncar aumenta, progressivamente, de intensidade e, de repente, para, enquanto o paciente continua a realizar esforços respiratórios vigorosos (Fig. 24-8). O paciente, então, acorda e volta a dormir, continuando esse processo, repetitivamente,por toda a noite. As pessoas com AOS acordam quando a hi- poxemia e a hipercapnia arteriais estimulam os qui- miorreceptores centrais e periféricos; a respiração é restaurada, por pouco tempo, até que ocorra novo episódio apneico. As pessoas com AOS podem ter centenas desses episódios a cada noite, que interrom- pem o sono. As complicações da AOS incluem a privação do sono, policitemia, falência cardíaca direita (cor pulmonale) e hipertensão pulmonar secundária aos episódios hipóxicos recorrentes. A AOS é comum em pessoas obesas e nas com complacência excessiva da hipofaringe, edema e com anormalidades estrutu- rais, das vias aéreas superiores VO2 (L/min) . 1 1,5 2 VCO2 . PaCO2 pH Ventilação PaO2 Lactato A Apneia do sono central Apneia obstrutiva do sono Fluxo de ar Fluxo de ar Pressão pleural B Pressão pleural ! Figura 24-8. Os dois principais tipos de apneia do sono. A, Na apneia obstrutiva do sono as oscilações na pressão pleural crescem enquanto o nível de CO2 aumenta. Isso indica que a resistência ao fl uxo de ar está alta, como resultado de obstrução nas vias aéreas superiores. B, A apneia do sono central é caracterizada por não ocorrer tentativa de respirar, como demonstra a falta de oscilações na pressão pleural. ! Figura 24-7. Consumo de O2 (V . O2) como função das alterações metabólicas que ocorrem durante o exercício. O limiar anaeróbico (seta) é o ponto onde as variáveis ilustradas se alteram devido à acidose láctica. ção da apneia é anormalmente prolongada, e modifi ca a PO2 e a PCO2 arteriais. Existem duas principais catego- rias de apneia do sono (Fig. 24-8). A primeira é a apneia 478 Berne e Levy Fisiologia obstrutiva do sono (ASO). É a mais comum das síndro- mes de apneia do sono e ocorre quando a via aérea superior (normalmente, a hipofaringe) fecha durante a inspiração. Apesar de ser processo similar ao que acon- tece durante o ronco, é mais grave, obstrui a via aérea e causa a parada do fl uxo de ar. A segunda síndrome de apneia do sono é chamada de apneia do sono central. Essa variante da apneia ocorre quando o controle ventilatório dos neurônios motores respiratórios diminui. Os indivíduos com ap- neia do sono central têm episódios repetidos de ap- neia a cada noite, durante os quais não realizam qualquer esforço respiratório (Fig. 24-8). O grau de hipercapnia e hipoxemia em indivíduos com apneia do sono central é menor do que o de indivíduos com ASO, mas as mesmas complicações (policitemia etc.) po- dem ocorrer quando a apneia do sono central é recor- rente e grave. A ventilação de Cheyne-Stokes é outra anormalida- de do controle ventilatório caracterizada pela variação do volume corrente e da frequência ventilatória (Fig. 24-9). Após período de apneia, o volume corrente e a frequência respiratória aumentam progressivamente durante muitos esforços respiratórios e, depois, dimi- nuem progressivamente até a ocorrência da apneia. Esse padrão respiratório irregular é observado em al- guns indivíduos portadores de doenças do sistema ner- voso central que tiveram traumatismo craniano e aumento de pressão intracraniana. Também ocorre, ocasionalmente, em indivíduos normais dormindo em grandes altitudes. O mecanismo da respiração de Chey- ne-Stokes não é conhecido. Em alguns pacientes parece ser causado por uma lentifi cação do fl uxo sanguíneo cerebral, associado a períodos de grande aumento e diminuição do esforço respiratório que ocorrem devido às respostas às alterações da PCO2. A respiração apnêustica é outro padrão respiratório anormal caracterizado por longos períodos de inspira- ção separados por breves períodos de expiração (Fig. 24-10, C). O mecanismo desse padrão ventilatório pare- ce ser a perda das atividades inibitórias da inspiração, resultando no aumento da pulsão inspiratória. O pa- drão ocorre, ocasionalmente, em indivíduos com le- sões do sistema nervoso central. Volume PaCO2 PaO2 Tempo Vo lu m e pu lm on ar Tempo Remoção dos estímulos provenientes do córtex, tálamo e nervos vagos Respiração normal A B C Remoção dos estímulos sensoriais originados no pulmão ! Figura 24-9. Na respiração de Cheyne-Stokes o volume corrente e consequentemente os gases do sangue arterial oscilam. Em geral a respiração de Cheyne-Stokes é sinal de insta bilidade vasomotora, particularmente de baixo débito cardíaco. ! Figura 24-10. Alguns padrões da respiração. A, Respi- ração normal (aproximadamente 15 ciclos respiratórios/min). B, O efeito da remoção dos estímulos sensoriais vindos de diversos receptores pulmonares (principalmente de estira- mento) é o prolongamento da duração de cada ciclo respira- tório e o aumento do volume corrente para que a ventilação alveolar não seja afetada signifi cativamente. C, Quando estí- mulos do córtex cerebral e do tálamo também são eliminados junto com um bloqueio vagal o resultado é a atividade inspi- ratória prolongada, interrompida após muitos segundos por expirações curtas (apneuse). NA CLÍNICA Hipoventilação alveolar central (HAC), também conhecida como maldição de Ondina, é uma condi- ção rara na qual a respiração voluntária está intacta, mas existem anormalidades na respiração automáti- ca. É a mais grave das síndromes de apneia do sono central. Como resultado, os portadores de HAC con- seguem respirar enquanto estiverem acordados. Para esses indivíduos a ventilação mecânica ou, mais re- centemente, o marca-passo diafragmático bilateral (parecido com o marca-passo cardíaco) pode salvar suas vidas. Capítulo 24 Controle da Respiração 479 # CONCEITOS-CHAVE 1. O controle ventilatório é composto do centro de con- trole respiratório, de quimiorreceptores centrais, quimiorreceptores periféricos e mecanor recep tores pulmonares/nervos sensoriais. O prin ci pal fator que infl uencia a ventilação é a PCO2 arterial. 2. O centro do controle respiratório é composto pelo grupo respiratório dorsal e pelo grupo respiratório ventral. A respiração rítmica depende de estímulo inspiratório (tônico) contínuo, proveniente do grupo respiratório dorsal, e de estímulo expirató- rio (dividido em fases) intermitente proveniente do cérebro, do tálamo, dos nervos cranianos e dos tratos sensoriais da medula espinal ascendente. Os quimiorreceptores centrais e periféricos respon- dem às alterações da PCO2 e do pH. Os quimiorre- ceptores periféricos (corpos carotídeos e aórticos) são os únicos quimiorreceptores que respondem às variações da PO2. 3. Hipóxia aguda e hipóxia crônica afetam a respira- ção de modo diferente, porque na hipóxia crônica os ajustes mais lentos da [H+] do FCE alteram a sensibilidade ao CO2. 4. Receptores de irritação protegem o trato respirató- rio inferior de partículas, vapores químicos e fatores físicos principalmente pela indução de tosse. Recep- tores J das fi bras C, nas unidades respiratórias ter- minais, são estimulados pela distorção das paredes alveolares (por congestão pulmonar ou edema). 5. As duas anormalidades respiratórias mais impor- tantes são a apneia do sono obstrutiva e a apneia do sono central. NA CLÍNICA A síndrome da morte súbita infantil (SMSI) é a causa mais comum de morte infantil, no primeiro ano de vida, após o período perinatal. Apesar de sua causa ser desconhecida, anormalidades do controle ventila- tório, particularmente da responsividade ao CO2, são implicadas na doença. Fazer com que as crianças durmam em decúbito dorsal (diminuindo o potencial de reinspiração do CO2 expirado) diminuiu dramati- camente (mas não extinguiu) a incidência de morta- lidade dessa síndrome.
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