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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 630-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
DEFENSORIA PÚBLICA 
 Defensor Público não precisa de inscrição na OAB para exercer suas funções. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CONCURSO PÚBLICO 
 Surgimento de novas vagas + necessidade do provimento + inexistência de restrição orçamentária = direito subjetivo 
à nomeação. 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
 São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu em razão de 
perseguição política praticada na época da ditadura militar. 
 
DIREITO CIVIL 
USUCAPIÃO 
 É possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel com a implementação do requisito temporal no curso da 
demanda. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA 
 Validade do repasse da comissão de corretagem ao consumidor pela incorporadora imobiliária mesmo no Programa 
Minha Casa, Minha Vida. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
SOCIEDADES 
 Legitimidade passiva da Telebrás, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas), para a ação de 
complementação de ações. 
 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
ATO INFRACIONAL 
 Superveniência da maioridade penal. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 
 Qual é o recurso cabível contra o pronunciamento que julga a impugnação ao cumprimento de sentença? 
 
RESTAURAÇÃO DE AUTOS 
 Tribunal de Justiça não pode editar provimento fixando prazo para a propositura da ação de restauração de autos. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO 
 As autoridades listadas no art. 105, I, “a”, da CF/88 somente terão foro por prerrogativa de função no STJ para os 
crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. 
 Iminência da ocorrência da prescrição fez com que o STJ permanecesse competente para julgar Desembargador que 
praticou crime fora do exercício de suas funções. 
 
TRIBUNAL DO JÚRI 
 Jurado que fala “é um crime” durante a sessão de julgamento viola o dever de incomunicabilidade acarretando a 
nulidade absoluta da condenação. 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
PREVIDÊNCIA PRIVADA 
 Não é possível incluir, nos cálculos dos proventos de complementação de aposentadoria pagos por entidade fechada 
de previdência privada, as horas extraordinárias habituais incorporadas por decisão da Justiça trabalhista à 
remuneração do participante. 
 Em ação de revisão de benefício de previdência privada, o patrocinador não possui legitimidade passiva para figurar 
em litisconsórcio com a entidade previdenciária. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
DEFENSORIA PÚBLICA 
Defensor Público não precisa de inscrição na OAB para exercer suas funções 
 
Importante!!! 
Os Defensores Públicos NÃO precisam de inscrição na OAB para exerceram suas atribuições. 
O art. 3º, § 1º, da Lei 8.906/94 deve receber interpretação conforme à Constituição de modo a 
se concluir que não se pode exigir inscrição na OAB dos membros das carreiras da Defensoria 
Pública. 
O art. 4º, § 6º, da LC 80/94 afirma que a capacidade postulatória dos Defensores Públicos 
decorre exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo público, devendo esse dispositivo 
prevalecer em relação ao Estatuto da OAB por se tratar de previsão posterior e específica. 
Vale ressaltar que é válida a exigência de inscrição na OAB para os candidatos ao concurso da 
Defensoria Pública porque tal previsão ainda permanece na Lei. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.710.155-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 01/03/2018 (Info 630). 
 
O candidato ao cargo de Defensor Público precisa de inscrição na OAB? O candidato precisa ser 
advogado? 
Em regra, sim. Essa é uma exigência prevista na LC 80/94 (Lei Orgânica da Defensoria Pública) para os 
cargos de Defensor Público Federal e de Defensor Público do Distrito Federal. Veja: 
Art. 26. O candidato, no momento da inscrição, deve possuir registro na Ordem dos Advogados do 
Brasil, ressalvada a situação dos proibidos de obtê-la (ex: o candidato é Delegado), e comprovar, 
no mínimo, dois anos de prática forense, devendo indicar sua opção por uma das unidades da 
federação onde houver vaga. 
(...) 
§ 2º Os candidatos proibidos de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil comprovarão o 
registro até a posse no cargo de Defensor Público. 
 
Obs: o art. 26 trata sobre a DPU. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
 
Essa mesma disposição é encontrada no art. 71, caput e § 2º, que versa sobre a Defensoria Pública do 
Distrito Federal: 
Art. 71. O candidato, no momento da inscrição, deve possuir registro na Ordem dos Advogados do 
Brasil, ressalvada a situação dos proibidos de obtê-la, e comprovar, no mínimo, dois anos de 
prática forense. 
(...) 
§ 2º Os candidatos proibidos de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil comprovarão o 
registro até a posse no cargo de Defensor Público. 
 
No caso das Defensorias Públicas estaduais, a LC 80/94 não traz uma exigência semelhante porque, na 
época da sua edição, entendeu-se que exigir ou não OAB do candidato (requisito para a posse) seria uma 
decisão relacionada com a autonomia de cada Defensoria Pública estadual, a ser definida em lei estadual. 
Logo, uma lei federal não poderia impor essa determinação. 
Assim, se você observar as leis estaduais das Defensorias Públicas, algumas exigem do candidato a 
inscrição na OAB e outras, não. 
• Exemplo que exige: DPE/AC, DPE/AL, DPE/SP, DPE/AM e a imensa maioria. 
• Exemplo que não exige: DPE/RJ. 
 
Editais dos concursos 
Diante disso, vários editais de concursos para o cargo de Defensor Público exigem a inscrição na OAB como 
sendo um dos requisitos da posse. Exemplos: 
DPU 2017 
3 DOS REQUISITOS BÁSICOS PARA A INVESTIDURA NO CARGO 
(...) 
3.7 Estar inscrito na OAB, ressalvada a situação dos candidatos que exerçam atividade 
incompatível com a advocacia 
 
DPE MA 
2.1 O candidato deverá declarar, na solicitação de Inscrição Preliminar: 
(...) 
d) estar inscrito na OAB, na data da posse, dispensado deste requisito os incompatibilizados com 
o exercício da advocacia; 
 
DPE AC 2017 
3 DOS REQUISITOS BÁSICOS PARA A INVESTIDURA NO CARGO 
(...) 
3.11 Possuir registro na Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, ressalvada a situação dos proibidos 
de obtê-la, comprovado mediante cópia autenticada da carteira de advogado ou certidão emitida 
pelo órgão, nos termos do art. 15 da Lei Complementar Estadual nº 158/2006. 
 
O Defensor Público precisa ter inscrição na OAB para exercer as suas funções? O Defensor Público, para 
exercer suas atribuições, precisa ser advogado? 
1ª corrente: SIM 2ª corrente: NÃO 
Se a LC 80/94 exige a inscrição na OAB como um 
requisito para a posse, isso significa que se trata 
de um requisito para o exercício do cargo. 
A capacidade postulatória do Defensor Público 
decorre diretamente da Constituição Federal. 
Assim, não é necessária a inscrição na OAB para o 
exercício das funções. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
Além disso, essa primeira corrente sustenta que o 
Defensor Público exerce advocacia, razão pela 
qualdeve ser inscrito na OAB, conforme prevê o 
art. 3º, § 1º da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB). 
O Defensor Público não é um advogado. 
Desse modo, o Defensor Público está obrigado a se 
inscrever na OAB apenas para tomar posse, mas 
não para o exercício de suas funções. 
Principal dispositivo invocado: 
Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no 
território brasileiro e a denominação de advogado 
são privativos dos inscritos na Ordem dos 
Advogados do Brasil (OAB). 
§ 1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando-
se ao regime desta lei, além do regime próprio a 
que se subordinem, os integrantes da Advocacia-
Geral da União, da Procuradoria da Fazenda 
Nacional, da Defensoria Pública e das 
Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos 
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das 
respectivas entidades de administração indireta e 
fundacional. 
Principal dispositivo invocado: 
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria 
Pública, dentre outras: 
(...) 
§ 6º A capacidade postulatória do Defensor 
Público decorre exclusivamente de sua nomeação 
e posse no cargo público. (Incluído pela LC 
132/2009) 
É a corrente defendida pela OAB. É a tese institucional defendida pelas associações 
de Defensores Públicos. 
 
Qual foi a posição adotada pelo STJ? 
A 2ª corrente. Os Defensores Públicos NÃO precisam de inscrição na OAB para exerceram suas atribuições. 
 
Defensor Público não é advogado 
A Defensoria Pública é disciplinada pela Constituição Federal dentro das “Funções Essenciais à Justiça”, ao 
lado do Ministério Público, da Advocacia e da Advocacia Pública. 
A Defensoria Pública não deve ser considerada como Advocacia Pública, dada a nítida separação entre as 
funções realizada pela Carta de 1988. 
Os Defensores Públicos exercem atividades de representação judicial e extrajudicial, de advocacia 
contenciosa e consultiva, o que se assemelha bastante à Advocacia, tratada em Seção à parte no texto 
constitucional. Apesar disso, não se pode dizer que os Defensores Públicos sejam advogados. Há inúmeras 
peculiaridades que fazem com que a Defensoria Pública seja distinta da advocacia privada e, portanto, 
mereça tratamento diverso. 
Alguns pontos que diferenciam a carreira da Defensoria Pública: 
• está sujeita a regime próprio e a estatutos específicos; 
• submete-se à fiscalização disciplinar por órgãos próprios (e não pela OAB); 
• necessita de aprovação prévia em concurso público, sem a qual, ainda que possua inscrição na Ordem, 
não é possível exercer as funções do cargo; 
• não precisa apresentar procuração para atuar. 
 
CF/88 não exigiu inscrição na OAB 
A Constituição Federal não previu a inscrição na OAB como exigência para o exercício do cargo de Defensor 
Público. Ao contrário, o § 1º do art. 134 proibiu o exercício da advocacia privada: 
Art. 134 (...) 
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos 
Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, 
providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus 
integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições 
institucionais. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
 
Art. 3º, § 1º da Lei nº 8.906/94 x o art. 4º, § 6º da LC 80/94 
Existe uma antinomia entre o art. 3º, § 1º da Lei nº 8.906/94 e o art. 4º, § 6º da LC 80/94. 
A antinomia entre normas da mesma hierarquia deve ser resolvida pelo critério da especialidade (lex 
specialis derrogat generalis) e da cronologia (lex posterior derrogat priore). 
No caso, o art. 4º, § 6º da LC 80/94 foi incluído no ordenamento jurídico pela LC 132/2009, sendo, 
portanto, posterior ao art. 3º, § 1º, da Lei nº 8.906/94. Além disso, trata-se de dispositivo mais específico, 
considerando que rege a carreira de Defensor Público e a sua atuação. 
Logo, deve prevalecer o art. 4º, § 6º da LC 80/94, que diz que a “capacidade postulatória” do Defensor 
Público decorre exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo público. Em outras palavras, a sua 
capacidade de pedir e de responder em juízo (capacidade postulatória) surge e depende unicamente de 
sua nomeação e posse. Não depende de mais nada (nem de inscrição na OAB). 
 
Isso significa que a Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB) não se aplica para nada relacionado com a 
Defensoria Pública? 
Não foi isso que se quis dizer. 
É necessário fazer um diálogo das fontes e alguns dispositivos do Estatuto da Advocacia são sim aplicáveis 
aos Defensores Públicos, dada a semelhança de suas atividades com aquelas que são exercidas pela 
advocacia privada. 
Um exemplo é o art. 2º, § 3º, da Lei nº 8.906/94, que assegura a inviolabilidade por atos e manifestações. 
Outro é o sigilo da comunicação (art. 7º, III). Tais dispositivos são perfeitamente aplicáveis aos Defensores 
Públicos. 
 
Em suma: 
Os Defensores Públicos NÃO precisam de inscrição na OAB para exerceram suas atribuições. 
O art. 3º, § 1º, da Lei 8.906/94 deve receber interpretação conforme à Constituição de modo a se 
concluir que não se pode exigir inscrição na OAB dos membros das carreiras da Defensoria Pública. 
O art. 4º, § 6º, da LC 80/94 afirma que a capacidade postulatória dos Defensores Públicos decorre 
exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo público, devendo esse dispositivo prevalecer em 
relação ao Estatuto da OAB por se tratar de previsão posterior e específica. 
Vale ressaltar que é válida a exigência de inscrição na OAB para os candidatos ao concurso da Defensoria 
Pública porque tal previsão ainda permanece na Lei. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.710.155-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 01/03/2018 (Info 630). 
 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
CONCURSO PÚBLICO 
Surgimento de novas vagas + necessidade do provimento + inexistência de restrição 
orçamentária = direito subjetivo à nomeação 
 
O candidato aprovado em concurso público fora do número de vagas tem direito subjetivo à 
nomeação caso surjam novas vagas durante o prazo de validade do certame, haja manifestação 
inequívoca da administração sobre a necessidade de seu provimento e não tenha restrição 
orçamentária. 
STJ. 1ª Seção. MS 22.813-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/06/2018 (Info 630). 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
O candidato aprovado dentro do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação? 
SIM. O candidato aprovado dentro do número de vagas previstas no edital do concurso público possui 
direito subjetivo de ser nomeado e empossado dentro do período de validade do certame. 
 
O candidato aprovado fora do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação? 
Em regra, não. 
 
Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas, mas durante o prazo de validade do concurso 
foram criados novos cargos, ele terá direito subjetivo à nomeação? 
Em regra, não. 
 
Imagine que a Administração fez um concurso para 10 vagas, tendo nomeado e dado posse aos 10 
primeiros. Alguns meses depois são criadas 5 novas vagas. O prazo de validade do concurso ainda não 
expirou. Apesar disso, o Poder Público decide fazer um segundo concurso. Os candidatos aprovados no 
primeiro certame fora do número de vagas inicialmente previsto poderão exigir sua nomeação? 
Em regra, não. 
 
A situação pode ser assim definida: 
REGRA: o surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo durante o prazo 
de validade do certame anterior não geraautomaticamente o direito à nomeação dos candidatos 
aprovados fora das vagas previstas no edital. 
 
EXCEÇÃO: 
Haverá direito à nomeação se o candidato conseguir demonstrar, de forma cabal: 
• que existe inequívoca necessidade de nomeação de aprovado durante o período de validade do certame; e 
• que está havendo preterição arbitrária e imotivada por parte da administração ao não nomear os 
aprovados. 
 
Hipóteses nas quais existirá direito subjetivo à nomeação 
O STF listou as três hipóteses nas quais existe direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em 
concurso público: 
1) Quando a aprovação do candidato ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital; 
2) Quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação; 
3) Quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do certame anterior, e 
ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte da administração. 
 
Tese fixada pelo STF em repercussão geral 
O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante o prazo de 
validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à nomeação dos candidatos aprovados 
fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de preterição arbitrária e imotivada por parte 
da administração, caracterizada por comportamento tácito ou expresso do Poder Público capaz de revelar 
a inequívoca necessidade de nomeação do aprovado durante o período de validade do certame, a ser 
demonstrada de forma cabal pelo candidato. 
Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público exsurge nas seguintes 
hipóteses: 
a) quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital; 
b) quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação; e 
c) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do certame anterior, e ocorrer 
a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte da administração nos termos acima. 
STF. Plenário. RE 837311/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/12/2015 (repercussão geral) (Info 811). 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João foi aprovado no cargo de Procurador na 20ª posição. 
O edital do concurso oferecia apenas 15 cargos. 
Assim, João foi aprovado fora do número de vagas. 
Os 15 primeiros colocados tomaram posse e começaram a exercer a função. 
Durante o prazo de validade do concurso, 5 Procuradores se aposentaram, ou seja, surgiram 5 novas vagas. 
Apesar disso, a Administração Pública não fez mais nenhuma nomeação. 
Quase no fim do prazo de validade do certame, o Procurador-Geral encaminhou um expediente ao Chefe 
do Poder Executivo relatando a existência das 5 vagas e afirmando que precisava de autorização para a 
realização de novo concurso porque a quantidade de Procuradores estava muito abaixo do necessário 
para o órgão. No expediente, o Procurador-Geral afirmou que havia dotação orçamentária para a 
nomeação desses novos Procuradores. 
João e os outros 4 aprovados conseguiram cópia deste expediente e impetraram mandado de segurança 
alegando que tinham direito de ser nomeados. 
 
O STJ concordou com o pedido dos candidatos? 
SIM. 
O candidato aprovado em concurso público fora do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação 
caso surjam novas vagas durante o prazo de validade do certame, haja manifestação inequívoca da 
administração sobre a necessidade de seu provimento e não tenha restrição orçamentária. 
STJ. 1ª Seção. MS 22.813-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/06/2018 (Info 630). 
 
O STJ entendeu que essa hipótese (surgimento de novas vagas + necessidade do provimento + inexistência 
de restrição orçamentária) foi prevista pelo STF como uma hipótese na qual surge o direito subjetivo à 
nomeação. Trata-se de situação descrita no final da ementa do julgado do STF no RE 837311. Confira: 
(...) reconhece-se, excepcionalmente, o direito subjetivo à nomeação aos candidatos devidamente 
aprovados no concurso público, pois houve, dentro da validade do processo seletivo e, também, logo após 
expirado o referido prazo, manifestações inequívocas da Administração piauiense acerca da existência de 
vagas e, sobretudo, da necessidade de chamamento de novos Defensores Públicos para o Estado. (...) 
STF. Plenário. RE 837311, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/12/2015. 
 
 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu em 
razão de perseguição política praticada na época da ditadura militar 
 
Importante!!! 
São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu 
em razão de atos de exceção praticados durante o regime militar. 
Ex: João era servidor da ALE/PR. Em 1963, João foi demitido em razão de perseguição política 
perpetrada na época da ditadura militar. Em 2011, João ajuizou ação ordinária contra o Estado 
do Paraná pedindo a sua reintegração ao cargo. Esta pretensão é considerada imprescritível 
considerando que envolve a efetivação da dignidade da pessoa humana. 
Vale ressaltar, contudo, que a imprescritibilidade da ação que visa reparar danos provocados 
pelos atos de exceção não implica no afastamento da prescrição quinquenal sobre as parcelas 
eventualmente devidas ao autor. Não se deve confundir imprescritibilidade da ação de 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
reintegração com imprescritibilidade dos efeitos patrimoniais e funcionais dela decorrentes, 
sob pena de prestigiar a inércia do Autor, o qual poderia ter buscado seu direito desde a 
publicação da Constituição da República. Em outras palavras, o recebimento dos “atrasados” 
ficará restrito aos últimos 5 anos contados do pedido. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.565.166-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 26/06/2018 (Info 630). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João era servidor da Assembleia Legislativa do Paraná. 
Em 1963, João foi “desligado” de seu cargo (demitido) em razão de perseguição política perpetrada na 
época da ditadura militar. 
Em 2011, João requereu o reconhecimento de anistiado político à “Comissão de Anistia”, órgão do 
Ministério da Justiça que tem a finalidade de examinar os requerimentos formulados e assessorar o 
Ministro de Estado em suas decisões. 
Também em 2011, João ajuizou ação ordinária contra o Estado do Paraná pedindo a sua reintegração ao cargo. 
O pedido de João foi baseado no art. 8º do ADCT da CF/88 e na Lei nº 10.599/2002, que regulamentou 
este dispositivo constitucional: 
ADCT 
Art. 8º. É concedida anistia aos que, no período de 18 de setembro de 1946 até a data da 
promulgação da Constituição, foram atingidos, em decorrência de motivação exclusivamente 
política, por atos de exceção, institucionais ou complementares, aos que foram abrangidos pelo 
Decreto Legislativo nº 18, de 15 de dezembro de 1961, e aos atingidos pelo Decreto-Lei nº 864, de 
12 de setembro de 1969, asseguradas as promoções, na inatividade, ao cargo, emprego, posto ou 
graduação a que teriam direito se estivessem em serviço ativo, obedecidos os prazos de 
permanência em atividade previstos nas leis e regulamentos vigentes, respeitadas as 
características e peculiaridades das carreiras dos servidores públicos civis e militares e observados 
os respectivos regimes jurídicos. 
 
Lei nº 10.599/2002 
Art. 1º O Regime do Anistiado Políticocompreende os seguintes direitos: 
(...) 
V - reintegração dos servidores públicos civis e dos empregados públicos punidos, por interrupção 
de atividade profissional em decorrência de decisão dos trabalhadores, por adesão à greve em 
serviço público e em atividades essenciais de interesse da segurança nacional por motivo político. 
Parágrafo único. Aqueles que foram afastados em processos administrativos, instalados com base 
na legislação de exceção, sem direito ao contraditório e à própria defesa, e impedidos de conhecer 
os motivos e fundamentos da decisão, serão reintegrados em seus cargos. 
 
Vale ressaltar que João foi formalmente reconhecido como anistiado político por Portaria do Ministro da 
Justiça. 
A Procuradoria Geral do Estado, entre outras matérias defensivas, suscitou a ocorrência de prescrição. 
Segundo este órgão, a Lei nº 10.599/2002 promoveu uma renúncia tácita ao prazo prescricional. Isso 
significa que todas as pessoas prejudicadas poderiam ingressar com ações pedindo a reintegração, mas 
desde que o fizessem no prazo de até 5 anos (art. 1º do Decreto nº 20.910/1932) contados da publicação 
da Lei nº 10.599/2002. 
 
O STJ concordou com a tese da PGE? A pretensão veiculada por João encontra-se realmente prescrita? 
NÃO. Não houve prescrição porque essa pretensão é imprescritível. Veja o que decidiu o STJ: 
São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu em razão 
de atos de exceção praticados durante o regime militar. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.565.166-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 26/06/2018 (Info 630). 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
 
A Constituição Federal não prevê prazo prescricional para o exercício do direito de agir quando se trata de 
defender o direito inalienável à dignidade humana, sobretudo quando violados durante o período do 
regime de exceção. 
É certo que a prescrição é a regra no ordenamento jurídico. Assim, em regra, para uma pretensão ser 
considerada imprescritível deverá haver um comando expresso no texto constitucional, como é o caso do 
art. 37, § 5º da CF/88. 
O STJ, no entanto, excepcionalmente, afirma que, mesmo sem uma previsão expressa, é possível 
considerar que as pretensões que buscam reparações decorrentes do regime militar de exceção são 
imprescritíveis considerando que envolvem a concretização da dignidade da pessoa humana. Nesse 
sentido: 
(...) 1. A dignidade da pessoa humana, valor erigido como um dos fundamentos da República Federativa 
do Brasil, experimenta os mais expressivos atentados quando engendradas a tortura e a morte, máxime 
por delito de opinião. 
(...) 
4. À luz das cláusulas pétreas constitucionais, é juridicamente sustentável assentar que a proteção da 
dignidade da pessoa humana perdura enquanto subsiste a República Federativa, posto seu fundamento. 
5. Consectariamente, não há falar em prescrição da ação que visa implementar um dos pilares da 
República, máxime porque a Constituição não estipulou lapso prescricional ao direito de agir, 
correspondente ao direito inalienável à dignidade. 
 (...) 
12. A exigibilidade a qualquer tempo dos consectários às violações dos direitos humanos decorre do 
princípio de que o reconhecimento da dignidade humana é o fundamento da liberdade, da justiça e da 
paz, razão por que a Declaração Universal inaugura seu regramento superior estabelecendo no art. 1º que 
"todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos". 
13. A Constituição federal funda-se na premissa de que a dignidade da pessoa humana é inarredável de 
qualquer sistema de direito que afirme a existência, no seu corpo de normas, dos denominados direitos 
fundamentais e os efetive em nome da promessa da inafastabilidade da jurisdição, marcando a relação 
umbilical entre os direitos humanos e o direito processual. 
(...) 
STJ. 1ª Turma. REsp 1165986/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16/11/2010. 
 
Assim, é pacífico o entendimento no STJ no sentido de que: 
As ações de indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o Regime 
Militar de exceção são imprescritíveis. 
Não se aplica o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/6/2013 (Info 523). 
 
Mas, no caso de João, ele não está pedindo indenização por danos morais e sim a reintegração no cargo... 
Mesmo assim. O STJ afirmou que a ação buscando a reintegração ao cargo público deve seguir o mesmo 
regramento das ações de indenização. Isso porque a causa de pedir também decorre da violação de 
direitos fundamentais perpetrada durante o regime militar. 
Ora, o retorno ao serviço público representa uma forma de reparação, estando intimamente ligada ao 
princípio da dignidade humana, tendo em vista que o trabalho representa uma das expressões mais 
relevantes do ser humano. 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
Entendi... isso significa que João, além de voltar ao cargo público que ocupava, terá direito a toda 
remuneração retroativa, desde 1963, data em que ele foi demitido? 
NÃO. Não se deve confundir imprescritibilidade da ação de reintegração com imprescritibilidade dos 
efeitos patrimoniais e funcionais dela decorrentes, sob pena de prestigiar a inércia do autor, que poderia 
ter buscado seu direito desde a publicação da Constituição da República. 
Isso significa dizer que: 
• João terá direito de ser reintegrado; 
• ele terá direito à remuneração retroativa, mas limitada aos últimos 5 anos, contados para trás, tendo marco 
o ajuizamento. Como o pedido foi formulado em 2011, ele terá direito à remuneração retroativa desde 2006. 
 
Essa compreensão, inclusive, restou estampada no art. 6º, § 6º, da Lei nº 10.559/2002: 
Art. 6º O valor da prestação mensal, permanente e continuada, será igual ao da remuneração que 
o anistiado político receberia se na ativa estivesse, considerada a graduação a que teria direito, 
obedecidos os prazos para promoção previstos nas leis e regulamentos vigentes, e asseguradas as 
promoções ao oficialato, independentemente de requisitos e condições, respeitadas as 
características e peculiaridades dos regimes jurídicos dos servidores públicos civis e dos militares, 
e, se necessário, considerando-se os seus paradigmas. 
(...) 
§ 6º Os valores apurados nos termos deste artigo poderão gerar efeitos financeiros a partir de 5 
de outubro de 1988, considerando-se para início da retroatividade e da prescrição quinquenal a 
data do protocolo da petição ou requerimento inicial de anistia, de acordo com os arts. 1º e 4º do 
Decreto nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932. 
 
Assim, são imprescritíveis as ações de reintegração a cargo público decorrentes de perseguição, tortura e 
prisão, praticadas durante o regime militar, por motivos políticos, ficando, contudo, eventuais efeitos 
retroativos, sujeitos à prescrição quinquenal. 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
USUCAPIÃO 
É possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel com 
a implementação do requisito temporal no curso da demanda 
 
Importante!!! 
É possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo exigido por lei se complete no curso 
do processo judicial, conforme a previsão do art. 493, do CPC/2015, ainda que o réu tenha 
apresentado contestação. 
Em março de 2017, João ajuizou ação pedindo o reconhecimento de usucapião especial 
urbana, nos termos do art. 1.240 do CC (que exige posse ininterrupta e sem oposiçãopor 5 
anos). Em abril de 2017, o proprietário apresentou contestação pedindo a improcedência da 
demanda. As testemunhas e as provas documentais atestaram que João reside no imóvel desde 
setembro de 2012, ou seja, quando o autor deu entrada na ação, ainda não havia mais de 5 
anos de posse. Em novembro de 2017, os autos foram conclusos ao juiz para sentença. O 
magistrado deverá julgar o pedido procedente considerando que o prazo exigido por lei para 
a usucapião se completou no curso do processo. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/06/2018 (Info 630). 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
 
 
 
Usucapião 
Usucapião é... 
- um instituto jurídico por meio do qual a pessoa que fica na posse de um bem (móvel ou imóvel) 
- por determinados anos 
- agindo como se fosse dono 
- adquire a propriedade deste bem ou outros direitos reais a ele relacionados (exs: usufruto, servidão) 
- desde que cumpridos os requisitos legais. 
 
Modalidades de usucapião 
USUCAPIÃO PRAZO E CARACTERÍSTICAS 
1) EXTRAORDINÁRIA 
(art. 1.238 do CC) 
Prazos: 
• 15 anos de posse (regra) 
• 10 anos 
 
O prazo da usucapião extraordinária será de 10 anos se: 
a) o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual; OU 
b) nele tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo. 
 
Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé. 
Não importa o tamanho do imóvel. 
2) ORDINÁRIA 
(art. 1.242 do CC) 
Prazos: 
• 10 anos (caput) 
• 5 anos (parágrafo único) 
 
O prazo da usucapião ordinária será de apenas 5 anos se: 
a) o imóvel tiver sido adquirido onerosamente com base no registro e este registro foi 
cancelado depois; e 
b) desde que os possuidores nele tiverem estabelecido moradia, ou realizado 
investimentos de interesse social e econômico. 
 
Ex: o indivíduo compra um imóvel sem saber que havia um vício na escritura. Nele 
constrói uma casa ou uma loja. 
 
Essa hipótese do art. 1.242, parágrafo único (prazo de 5 anos) é chamada por alguns 
autores de usucapião tabular (veja item 8 abaixo). 
 
Exige justo título e boa-fé. 
Não importa o tamanho do imóvel. 
3) ESPECIAL RURAL 
(ou PRO LABORE) 
(ou AGRÁRIA) 
 
(art. 1.239 do CC) 
(art. 191 da CF/88) 
 
Requisitos: 
a) 50 hectares: a pessoa deve estar na posse de uma área rural de, no máximo, 50ha; 
b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área por, no mínimo, 5 anos 
ininterruptos, sem oposição de ninguém; 
c) tornar a terra produtiva: o possuidor deve ter tornado a terra produtiva por meio de 
seu trabalho ou do trabalho de sua família, tendo nela sua moradia. Em outras palavras, 
o possuidor, além de morar no imóvel rural, deve ali desenvolver alguma atividade 
produtiva (agricultura, pecuária, extrativismo etc). 
d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem imóvel 
(urbano ou rural). 
 
Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé. 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
4) ESPECIAL URBANA 
(ou PRO MISERO) 
 
(art. 1.240 do CC) 
(art. 9º do Estatuto da 
Cidade) 
(art. 183 da CF/88) 
Requisitos: 
a) 250m2: a pessoa deve estar na posse de uma área urbana de, no máximo, 250m2; 
b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área por, no mínimo, 5 anos 
ininterruptos, sem oposição de ninguém; 
c) Moradia: o imóvel deve estar sendo utilizado para a moradia da pessoa ou de sua 
família; 
d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem imóvel 
(urbano ou rural). 
 
Observações: 
• Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé; 
• Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez; 
• É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for 
calcular se o tamanho do imóvel é menor que 250m2, não se incluirá a área comum, 
como salão de festas etc, mas tão somente a parte privativa); 
• O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, 
ou a ambos, independentemente do estado civil. 
5) ESPECIAL 
URBANA 
COLETIVA 
 
(USUCAPIÃO 
FAVELADA) 
 
(art. 10 do 
Estatuto da Cidade) 
Requisitos: 
a) existência de um núcleo urbano informal; 
b) esse núcleo deve viver em um imóvel cuja área total dividida pelo número de 
possuidores seja inferior a 250m2; 
c) esse núcleo deve estar na posse do imóvel há mais de 5 anos, sem oposição; 
d) os possuidores não podem ser proprietários de outro imóvel urbano ou rural. 
 
Neste caso, poderá haver uma usucapião coletiva da área. 
 
Observações: 
• O possuidor pode, para o fim de contar o prazo de 5 anos, acrescentar sua posse à de 
seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas. 
• A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante 
sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis. 
• Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, 
independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de 
acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas. 
• O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo 
deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de 
execução de urbanização posterior à constituição do condomínio. 
• As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por 
maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais, 
discordantes ou ausentes. 
6) RURAL COLETIVA 
(art. 1.228, §§ e 4º e 
5º do CC) 
O proprietário pode ser privado da coisa se: 
- um considerável número de pessoas 
- estiver por mais de 5 anos 
- na posse ininterrupta e de boa-fé 
- de extensa área 
- e nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços 
considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. 
 
Neste caso, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá 
a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. 
 
Alguns doutrinadores, especialmente civilistas, afirmam que esse instituto tem 
natureza jurídica de “usucapião”. 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
Outros autores, no entanto, sustentam que se trata de uma hipótese de 
“desapropriação”, considerando a posição topográfica (o § 3º do art. 1.228 está 
tratando sobre desapropriação) e o fato de se exigir pagamento de indenização. 
6) ESPECIAL 
URBANA 
RESIDENCIAL 
FAMILIAR 
 
(POR ABANDONO DE 
LAR OU CONJUGAL) 
 
(art. 1.240-A do CC) 
Requisitos: 
a) posse direta por 2 anos ininterruptamente e sem oposição, com exclusividade; 
b) sobre imóvel urbano de até 250m² 
c) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar; 
d) utilização do imóvel para a sua moradia ou de sua família; 
e) não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 
 
Observações: 
• esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez; 
• o prazo de 2 anos é contado do abandono do lar; 
• aplica-se ao casamento e à união estável (hetero ou homoafetiva). 
7) INDÍGENA 
(art. 33 do 
Estatutodo Índio) 
Requisitos: 
a) posse da terra por índio (integrado ou não) 
b) por 10 anos consecutivos 
c) devendo ocupar como se fosse próprio trecho de terra inferior a 50 hectares. 
 
Não é possível a usucapião indígena de: 
• terras do domínio da União; 
• terras ocupadas por grupos tribais; 
• áreas reservadas segundo o Estatuto do Índio; 
• terras de propriedade coletiva de grupo tribal. 
8) TABULAR 
(CONVALESCENÇA 
REGISTRAL) 
(art. 214, § 5º, 
da Lei 6.015/73) 
Trata-se da possibilidade de o réu, em uma ação de invalidade de registro público, 
alegar a usucapião em seu favor. 
O juiz, na mesma sentença que reconhece a invalidade do registro, declara a ocorrência 
de usucapião, concedendo ao réu a propriedade do bem. 
A usucapião tabular tem relação com a usucapião ordinária do art. 1.242, parágrafo 
único, porque exige do possuidor justo título e boa-fé. 
9) DE QUILOMBOLAS 
(art. 68 do ADCT) 
O art. 68 do ADCT da CF/88 confere proteção especial aos territórios ocupados pelos 
remanescentes quilombolas. Confira: 
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando 
suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os 
títulos respectivos. 
 
O que são as terras dos quilombolas? São as áreas ocupadas pelos remanescentes das 
comunidades dos quilombos e utilizadas por este grupo social para a sua reprodução 
física, social, econômica e cultural. 
 
O que são remanescentes das comunidades dos quilombos? Existe uma grande 
discussão antropológica sobre isso, mas, de maneira bem simples, os grupos que hoje 
são considerados remanescentes de comunidades de quilombos são agrupamentos 
humanos de afrodescendentes que se formaram durante o sistema escravocrata ou 
logo após a sua extinção. 
 
Alguns doutrinadores afirmam que esse instituto teria natureza jurídica de 
“usucapião”. Essa, contudo, não é a posição que prevalece, considerando que o 
fundamento jurídico para esse direito de propriedade não é a posse mansa, pacífica e 
por determinado prazo. A fonte desse direito é uma decisão do legislador constituinte. 
A previsão do art. 68 do ADCT foi uma forma que o constituinte encontrou de 
homenagear “o papel protagonizado pelos quilombolas na resistência ao injusto 
regime escravista” (Min. Rosa Weber). 
 
 
 Informativo 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
Ação de usucapião 
O CPC/1973 trazia, em seus arts. 941 a 945, um procedimento especial para a ação de usucapião. 
O CPC/2015 não previu procedimento especial para a ação de usucapião, de forma que a usucapião judicial 
deverá seguir o procedimento comum. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
Em março de 2017, João ajuizou ação pedindo o reconhecimento de usucapião especial urbana, nos 
termos do art. 1.240 do Código Civil: 
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinquenta metros 
quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou 
de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano 
ou rural. 
 
Afirmou que não tem o título de propriedade dessa área, mas lá mora há 5 anos sem oposição de ninguém. 
Vale ressaltar também que ele não tem outro imóvel, seja urbano, seja rural. 
Em abril de 2017, o proprietário apresentou contestação pedindo a improcedência da demanda. 
Foram ouvidas testemunhas. 
As testemunhas e as provas documentais atestaram que João reside no imóvel desde setembro de 2012, 
ou seja, quando o autor deu entrada na ação (março de 2017), ainda não havia mais de 5 anos de posse. 
Em novembro de 2017, os autos foram conclusos ao juiz para sentença. 
 
O magistrado deverá julgar o pedido procedente? 
SIM. 
 
Mas, quando o autor ajuizou a ação, ele ainda não havia preenchido o prazo de 5 anos de posse... 
É verdade. No entanto, como o autor continuou na posse do bem durante a tramitação do processo, esse 
requisito temporal foi atingido no curso da demanda. 
 
E isso é permitido? 
SIM. 
É possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel com a implementação do requisito temporal 
no curso da demanda. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/06/2018 (Info 630). 
 
É possível complementar o prazo de usucapião no curso do processo, tendo em vista que o CPC autoriza 
que o magistrado examine e leve em consideração na sentença fatos ocorridos após a instauração da 
demanda. Veja: 
Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do 
direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a 
requerimento da parte, no momento de proferir a decisão. 
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir. 
 
A decisão deve refletir o estado de fato e de direito existente no momento de julgar a demanda, desde 
que guarde pertinência com a causa de pedir e com o pedido (STJ. 5ª Turma. REsp 1.147.200/RS, Rel. Min. 
Laurita Vaz, julgado em 13/11/2012). 
 
Assim, cabe ao magistrado examinar o requisito temporal da usucapião ao proferir a sentença, permitindo 
que o prazo seja completado no curso do processo judicial. 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
 
Evita-se, com isso, que o autor proponha nova ação para obter o direito que já poderia ter sido 
reconhecido se o Poder Judiciário apreciasse eventual fato constitutivo superveniente, cuja medida se 
encontra em harmonia com os princípios da economia processual e da razoável duração do processo. 
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Roselvand têm a mesma opinião: 
“(...) Porém, se o prazo for complementado no curso da lide, entendemos que o juiz deverá 
sentenciar no estado em que o processo se encontra, recepcionando o fato constitutivo do direito 
superveniente, prestigiando a efetividade processual, a teor do art. 462 do Código de Processo 
Civil [de 1973]. É de se compreender que a pretensão jurisdicional deverá ser concedida de acordo 
com a situação dos fatos no momento da sentença". (FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, 
Nelson. Direitos reais - 6ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, pág. 287 - grifou-se) 
 
Essa linha de raciocínio também é confirmada pelo Enunciado nº 497 da V Jornada de Direito Civil 
(STJ/CJF), segundo o qual “o prazo, na ação de usucapião, pode ser completado no curso do processo, 
ressalvadas as hipóteses de má-fé processual do autor”. 
 
Mas o proprietário apresentou contestação antes de o autor completar o prazo necessário para a 
usucapião. Isso não pode ser considerado como uma “oposição” (art. 1.240 do CC) para fins de impedir 
a constituição do prazo de usucapião? 
NÃO. O STJ entende que a contestação apresentada pelo réu não impede o transcurso do lapso temporal. 
Essa peça defensiva não tem a capacidade de exprimir a resistência do demandado à posse exercida pelo 
autor, mas apenas a sua discordância com a aquisição do imóvel pela usucapião: 
(...) A contestação apresentada na ação de usucapião não é apta a interromper o prazo da prescrição 
aquisitiva e nem consubstancia resistência ao afastamento da mansidão da posse. (...) 
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 180.559/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/12/2013. 
 
A contagem do tempo para usucapião somente seria interrompida se o proprietário conseguisse reaver a 
posse. 
Desse modo, repetindo: é possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo exigidopor lei se 
complete no curso do processo judicial, conforme a previsão do art. 493, do CPC/2015, ainda que o réu 
tenha apresentado contestação. 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA 
Validade do repasse da comissão de corretagem ao consumidor pela incorporadora imobiliária 
mesmo no Programa Minha Casa, Minha Vida 
 
Importante!!! 
Ressalvada a denominada Faixa 1, em que não há intermediação imobiliária, é válida a 
cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão 
de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda do Programa Minha Casa, Minha 
Vida, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com 
o destaque do valor da comissão de corretagem. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.601.149-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas 
Bôas Cueva, julgado em 13/06/2018 (recurso repetitivo) (Info 630). 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
 
Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) 
O “Minha Casa, Minha Vida” é um programa habitacional que tem por objetivo criar mecanismos de 
incentivo à produção e aquisição de novas unidades habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e 
produção ou reforma de habitações rurais, para famílias com renda mensal de até R$ 4.650,00 (art. 1º da 
Lei nº 11.977/2009). 
A Lei nº 11.977/2009, ao instituir o programa, estabeleceu as suas regras gerais, deixando aos 
regulamentos, principalmente aos editados pelo Ministério das Cidades, dispor acerca das normas 
específicas de operacionalização, inclusive as faixas de renda, faixas de valor dos imóveis, padrões 
construtivos e os critérios de seleção dos beneficiários. 
 
Campos de atuação do PMCMV 
O Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV subdivide-se em 4 diferentes faixas de renda familiar 
mensal: 
Faixa 1 - até R$ 1.800,00 (ou R$ 3.600,00, excepcionalmente); 
Faixa 1,5 - até R$ 2.600,00; 
Faixa 2 - até R$ 4.000,00; 
Faixa 3 - até R$ 9.000,00. 
 
Faixa 1: 
• Beneficia famílias com renda mensal bruta de até R$ 1.800,00 (valores da época do julgado) ou famílias 
com renda mensal bruta de até R$ 3.600,00 (desde que, neste segundo caso, estejam em situações 
específicas de vulnerabilidade social, como emergência ou calamidade pública). 
• Nessa faixa do programa, a operação mais se assemelha a um benefício social do que propriamente a 
um contrato de compra e venda de imóvel. 
• Não se estabelece relação de consumo entre o beneficiário e a construtora/incorporadora, como ocorre 
nas outras faixas do programa. 
• O imóvel é incorporado ao patrimônio de um fundo público (Fundo de Arrendamento Residencial - FAR 
ou Fundo de Desenvolvimento Social - FDS), e esse fundo assume a condição de “alienante” do imóvel. 
• A seleção dos beneficiários é realizada pelo Poder Público ou por “entidades organizadoras” previamente 
habilitadas pelo Ministério das Cidades. 
• A subvenção econômica nessa faixa alcança até 90% do valor do imóvel, sendo o restante diluído em até 
120 parcelas mensais (limitadas a 5% da renda bruta), sem juros e sem formação de saldo devedor, 
diversamente do que ocorre num típico financiamento imobiliário. 
• Na Faixa 1 não há venda direta das construtoras aos beneficiários do programa. A seleção, como já dito, 
é feita por meio de critérios sociais, conjugada com sorteio. Logo, não há campo para a intermediação 
imobiliária. 
 
Demais faixas 
As atividades do PMCMV nessas outras três faixas de renda são muito parecidas com as demais 
modalidades de financiamento imobiliário existentes. Em outras palavras, são praticamente iguais a um 
financiamento imobiliário “comum”. 
 
O que é um contrato de corretagem? 
Pelo contrato de corretagem, o corretor obriga-se a obter para uma pessoa que o contrata (denominada 
“cliente” ou “comitente”) um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas. 
O contrato de corretagem está previsto, de forma genérica, nos arts. 722 a 729 do CC. 
Quando se fala neste contrato, normalmente as pessoas só se lembram da corretagem de imóveis. No 
entanto, existem outras espécies de corretagem, como é o caso do corretor de ações na Bolsa de Valores 
ou o corretor de mercadorias (bens móveis). 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
No caso do corretor de imóveis, a profissão está regulamentada pela Lei n. 6.530/78 e pelo Decreto n. 
81.871/78. Para exercer a profissão de corretor de imóveis, exige-se a aprovação em curso técnico de 
Transações Imobiliárias ou curso superior em Gestão Imobiliária, com registro no Conselho Regional de 
Corretores de Imóveis (CRECI). 
 
Comissão de corretagem 
Como remuneração pelo serviço prestado, o corretor receberá o pagamento de uma quantia, que é 
chamada de “comissão de corretagem”. 
A remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha conseguido o resultado previsto no contrato de 
mediação, ou ainda que este não se efetive em virtude de arrependimento das partes (art. 725). 
 
Qual é o valor da comissão de corretagem? 
O valor da comissão de corretagem deverá estar previsto na lei ou no contrato firmado entre as partes. 
 
E se não estiver previsto na lei nem no contrato? 
Neste caso, este valor será arbitrado segundo a natureza do negócio e os usos locais (art. 724 do CC). 
Não há lei estipulando o valor da comissão de corretagem na venda de imóveis. Aplica-se, portanto, os 
usos e costumes. No dia-a-dia imobiliário, quando não há previsão contratual, deverá ser pago ao corretor 
6% sobre o valor do imóvel urbano vendido, conforme prevê a tabela do CRECI. 
 
É possível que o contrato preveja que a obrigação de pagar a comissão de corretagem será do 
promitente-comprador? 
SIM. O STJ definiu a seguinte tese: 
É válida a cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de 
corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de 
incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade 
autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.599.511-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 (recurso 
repetitivo) (Info 589). 
 
Isso vale também para os imóveis vinculados ao programa “Minha Casa, Minha Vida”? O contrato de 
promessa de compra e venda de imóvel do programa “Minha Casa, Minha Vida” poderá ter cláusula 
prevendo que a obrigação pelo pagamento da comissão de corretagem será do promitente comprador? 
É válido transferir para o consumidor a obrigação de pagar a comissão de corretagem nas promessas 
de compra e venda celebradas no âmbito do programa “Minha Casa, Minha Vida”? 
O STJ fez a seguinte distinção: 
• Se o contrato estiver na Faixa 1: NÃO. Não há que se falar em pagamento da comissão de corretagem. 
• Se o contrato estiver nas demais faixas: SIM. É possível transferir ao promitente-comprador a obrigação 
de pagar a comissão de corretagem. 
 
A tese fixada pelo STJ foi a seguinte: 
Ressalvada a denominada Faixa 1, em que não há intermediação imobiliária, é válida a cláusula 
contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos 
contratos de promessa de compra e venda do Programa Minha Casa, Minha Vida, desde que 
previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da 
comissão de corretagem. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.601.149-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo VillasBôas 
Cueva, julgado em 13/06/2018 (recurso repetitivo) (Info 630). 
 
 
 Informativo 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Faixa 1 
Como vimos acima, na Faixa 1 não há comercialização dos imóveis no mercado. 
A distribuição dos imóveis é realizada por meio das Prefeituras, mediante prévio cadastro das famílias de 
baixa renda e é o próprio Fundo (FAR / FDS) que figura como vendedor do imóvel. 
Desse modo, não há envolvimento de imobiliárias, construtoras, incorporadores e corretores na sua 
venda. 
Logo, é óbvio que não há razão para a cobrança da comissão de corretagem, até porque nem existe 
corretor atuando. 
Repetindo: na Faixa 1, como não há venda direta das construtoras aos beneficiários do programa, mas 
seleção por meio de critérios sociais, conjugada com sorteio, não há campo para a intermediação 
imobiliária, sendo descabida eventual cobrança da comissão de corretagem. 
 
Demais faixas 
Nas demais faixas, a venda dos imóveis se assemelha a um financiamento tradicional pelas regras do 
Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e do próprio Fundo, mas com taxas de juros reduzidas e com a 
possibilidade de amortização de parte do saldo devedor com subvenção da União e/ou a concessão de 
desconto/subsídio do FGTS, dependendo da renda. 
Assim, é igual a uma operação de mercado, sendo que, dependendo da Faixa de Renda, pode haver a 
concessão de um desconto sobre o valor da dívida, bem como redução na taxa de juros e na Taxa de 
Administração. Também há redução de valor no pagamento de emolumentos cartorários. 
Tirando a Faixa 1, nas demais Faixas do programa, as construtoras/incorporadoras é que são as 
proprietárias dos imóveis produzidos e elas vendem, geralmente por meio e corretores, os imóveis para 
os interessados. 
Como nessas Faixas o contrato não difere substancialmente das demais modalidades de financiamento 
imobiliário existentes, deve-se aplicar o mesmo entendimento do STJ firmado no REsp 1.599.511-SP e 
autorizar a cobrança da comissão de corretagem, desde que o adquirente seja previamente informado sobre 
o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem. 
Assim, não há nenhuma razão que impeça a cobrança da comissão de corretagem nestes casos. 
Vale ressaltar que se fosse proibida a cobrança da comissão de corretagem, o custo dela continuaria sendo 
suportado pelo adquirente, considerando que estaria embutido no preço. Essa é a lógica do mercado 
imobiliário, pois a venda só produz lucro à incorporadora se o preço final do imóvel superar os seus custos. 
Significa dizer que, na impossibilidade de transferência da obrigação de pagar a comissão de corretagem 
ao consumidor, esse custo seria embutido no preço dos imóveis. 
 
Não há violação na Lei 
Vale ressaltar, por fim, que não há, nas normas que regulamentam o PMCMV, expressa vedação quanto à 
transferência do custo da corretagem ao consumidor, de modo que não cabe ao Poder Judiciário criar uma 
norma que não existe. 
 
Caso concreto: 
Lucas adquiriu da construtora, por intermédio de uma imobiliária, um apartamento dentro do programa 
“Minha Casa, Minha Vida”. 
O contrato previa que o promitente-comprador (Lucas) deveria pagar R$ 4.500,00 de comissão de 
corretagem. 
O STJ entendeu que a cobrança era legítima, considerando que: 
• Lucas não se encontrava na chamada Faixa 1; 
• o contrato previa essa obrigação do promitente-comprador; 
• a cláusula contratual foi previamente informada ao consumidor, inclusive com o preço total da aquisição 
da unidade autônoma e com o destaque do valor da comissão de corretagem. 
 
 Informativo 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
SOCIEDADES 
Legitimidade passiva da Telebrás, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas), 
para a ação de complementação de ações 
 
Legitimidade passiva da Telebrás, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras 
destas), para a ação de complementação de ações, na hipótese em que as ações originárias 
tenham sido emitidas pela Telebrás. 
A legitimidade passiva para a demanda por complementação de ações é definida de acordo 
com as seguintes hipóteses: 
1) Contrato de participação financeira celebrado com companhia independente não 
controlada pela TELEBRÁS (ex.: CRT S/A): legitimidade passiva da companhia independente, 
ou da sucessora desta (ex.: OI S/A); 
2) Contrato de participação financeira celebrado com companhia local controlada pela 
TELEBRÁS (ex.: TELESC S/A), e emissão originária de ações pela controlada: legitimidade 
passiva da TELEBRÁS, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas); 
3) Contrato de participação financeira celebrado com companhia local controlada pela 
TELEBRÁS, e emissão de ações pela TELEBRÁS: legitimidade passiva da TELEBRÁS, bem como 
das companhias cindendas (ou sucessoras destas). 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.801-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 23/05/2018 
(recurso repetitivo) (Info 630). 
 
Sistema TELEBRÁS 
Antes da privatização, quem explorava os serviços de telefonia no Brasil era a União, por meio de empresas 
estatais integrantes do chamado sistema TELEBRÁS. 
A TELEBRÁS (Telecomunicações Brasileiras S.A.) era uma empresa estatal pertencente à União, sendo 
responsável por coordenar e controlar outras empresas estatais que atuavam nos Estados prestando os 
serviços telefônicos. Assim, a TELEBRÁS era uma espécie de holding, que abrangia inúmeras outras 
empresas estatais, como a TELEBRASÍLIA (que prestava os serviços de telecomunicações no Distrito 
Federal), a TELECEARÁ (Ceará), a TELEMIG (Minas Gerais), a TELERJ (Rio de Janeiro), a TELESP (São Paulo), 
a TELAMAZON (Amazonas) etc. Os serviços que atualmente são prestados pelas operadoras TIM, VIVO, 
CLARO etc. eram desempenhados por essas empresas estatais. 
Em 1998, as empresas que compunham o sistema TELEBRÁS foram vendidas em leilão internacional para 
empresas privadas, no processo conhecido como “privatização”. 
 
Serviços de telefonia antes da privatização 
Antes da privatização, o serviço de telefonia era muito ruim, caro e a área de abrangência era pequena. 
Para poder ter direito ao serviço de telefonia, o consumidor tinha que comprar uma linha. Para isso, 
pagava antecipadamente e entrava em uma lista de espera que poderia durar meses até chegar a sua vez. 
Além disso, como na época não havia recursos públicos suficientes para a expansão da rede, as empresas 
de telefonia obrigavam os usuários dos serviços a serem seus financiadores. Assim, o consumidor, para 
ter o direito de adquirir o uso de um terminal telefônico, tinha que assinar um contrato de adesão por 
meio do qual era obrigado a comprar ações da empresa de telefonia. Em outras palavras, para ter acesso 
ao serviço de telefonia, o usuário tinha que adquirir uma participação acionária na companhia. Por isso, 
você já deve ter ouvido algumas pessoas mais antigas falarem que tinham ações da TELERJ, da TELESP etc. 
 
 
 Informativo 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Contratos de participação financeira 
Dessa forma, as pessoas interessadas em ter uma linha de telefone eram obrigadas a assinar um contrato 
com as empresas de telefonia, por meio do qual pagavam um valor a título de participação financeira, 
passando a ter acesso a um terminal telefônicoe, além disso, o direito de receber determinado número 
de ações da companhia. Para se ter uma ideia de como isso era caro, algumas pessoas recorriam a um 
financiamento bancário para obter dinheiro e conseguir comprar uma linha telefônica. 
 
Recebimento das ações 
Ocorre que muitas vezes o usuário firmava o contrato com a companhia, recebia o direito de usar a linha 
telefônica, mas não recebia na hora as ações a que teria direito. Tais ações somente eram entregues algum 
tempo depois e o cálculo do número de ações a que teria direito o usuário era feito unilateralmente pelas 
empresas de telefonia, com base em um valor patrimonial da ação (VPA) futuro. A prática revelou que, 
muitas vezes, o cálculo realizado pelas companhias estava errado e, por isso, muitos contratantes do 
serviço de telefonia acabaram recebendo uma quantidade menor de ações do que realmente teriam 
direito. 
 
Ação (demanda) de complementação de ações 
Diante do cenário acima narrado, diversas pessoas que adquiriram ações das companhias telefônicas e 
receberam menos do que seria devido ingressaram com demandas judiciais pedindo a complementação 
das ações. Dessa forma, quando você ouvir falar em “ação de complementação de ações da empresa de 
telefonia”, nada mais é do que a demanda judicial proposta pela pessoa que pagou para ter direito a um 
determinado número de ações da companhia telefônica, mas, apesar disso, recebeu menos do que seria 
devido. Por isso, a pessoa ingressa com o processo judicial pedindo a complementação das ações ou, 
subsidiariamente, o recebimento de indenização por perdas e danos. 
 
Companhias cindendas e sucessoras da Telebrás 
Em 1998, a fim de potencializar a privativatização, a Telebrás foi cindida em 12 empresas: 3 de telefonia 
fixa, 1 de longa distância, e 8 de telefonia móvel. 
Depois da cisão, o Governo fez a desestatização e “vendeu”, por meio de leilão, para empresas privadas 
(exs: OI, Brasil Telecom, TIM etc.), os serviços desempenhados por essas 12 companhias cindendas (Edital 
de Desestatização MC/BNDES 01/98). Em outras palavras, o controle acionário dessas 12 empresas foi 
alienado no leilão público realizado em julho de 1998. 
Assim, essas empresas privadas (exs: OI, Brasil Telecom, TIM etc.) são consideradas empresas sucessoras. 
 
E a Telebrás? 
A Telebrás continuou existindo, com apenas 1,25% de seu patrimônio. Existe até hoje. 
 
Pergunta: essa ação de complementação de ações (que expliquei acima) deverá ser proposta contra 
quem? Quem tem legitimidade para figurar no polo passivo dessa demanda na qual se busca efetivar a 
obrigação de emitir, subscrever e integralizar ações (complementação de ações) em favor do 
consumidor de serviço de telefonia, titular de contrato de participação financeira? 
O STJ definiu a seguinte tese geral: 
Legitimidade passiva da Telebrás, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas), para a 
ação de complementação de ações, na hipótese em que as ações originárias tenham sido emitidas pela 
Telebrás. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.801-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 23/05/2018 (recurso 
repetitivo) (Info 630). 
 
Além disso, detalhou as teses para cada um dos casos concretos. 
 Informativo 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Assim, a legitimidade passiva para a demanda por complementação de ações será definida de acordo com 
as seguintes hipóteses: 
1) Caso o contrato de participação financeira tenha sido celebrado com companhia independente não 
controlada pela TELEBRÁS (ex.: CRT S/A): a legitimidade passiva será da companhia independente, ou da 
sucessora desta (ex.: OI S/A); 
2) Caso o contrato de participação financeira tenha sido celebrado com companhia local controlada pela 
TELEBRÁS (ex.: TELESC S/A), e emissão originária de ações pela controlada: a legitimidade passiva será da 
da TELEBRÁS, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas); 
3) Caso o contrato de participação financeira tenha sido celebrado com companhia local controlada pela 
TELEBRÁS, e emissão de ações pela TELEBRÁS: a legitimidade passiva será da TELEBRÁS, bem como das 
companhias cindendas (ou sucessoras destas). 
 
Este tema é complexo e envolve a análise aprofundada de cada uma das hipóteses listadas. No entanto, 
para fins de concurso, penso que não é necessário avançar tanto e que, se for cobrado algo sobre o tema 
(o que já é improvável), será exigido o que foi explicado acima. 
 
 
 
ECA 
 
ATO INFRACIONAL 
Superveniência da maioridade penal 
 
A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na 
aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto 
não atingida a idade de 21 anos. 
STJ. 3ª Seção. REsp 1.705.149-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/06/2018 (recurso 
repetitivo) (Info 630). 
 
Súmula 605-STJ: A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato 
infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade 
assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos. 
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 14/03/2018, DJe 19/03/2018. 
 
Ato infracional 
Quando uma criança ou adolescente pratica um fato previsto em lei como crime ou contravenção penal, 
esta conduta é chamada de “ato infracional”. 
Assim, juridicamente, não se deve dizer que a criança ou adolescente cometeu um crime ou contravenção 
penal, mas sim ato infracional. 
 
O que é criança e adolescente, para os fins legais? 
• Criança: é a pessoa que tem até 12 anos de idade incompletos. 
• Adolescente: é a pessoa que tem entre 12 e 18 anos de idade. 
 
Quando uma criança ou adolescente pratica um ato infracional, não receberá uma pena (sanção penal), 
considerando que não pratica crime nem contravenção. O que acontece, então? 
• Criança: receberá uma medida protetiva (art. 101 do ECA). 
• Adolescente: receberá uma medida socioeducativa (art. 112 do ECA) e/ou medida protetiva (art. 101). 
 
 Informativo 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
Adulto Adolescente 
Igual ou maior que 18 anos. De 12 até 18 anos. 
Obs: se a pessoa cometer o fato no dia do seu 18º 
aniversário, já é considerada adulta, não sendo 
mais adolescente. 
Comete crime e contravenção penal. Pratica ato infracional. 
Recebe pena (sanção penal). Recebe medida socioeducativa. 
A execução da pena é regulada pela Lei n. 
7.210/84. 
A execução da medida socioeducativa é regulada 
pela Lei n. 12.594/2012. 
 
Quais são as medidas socioeducativas? 
O rol de medidas socioeducativas está previsto no art. 112 do ECA. 
Assim, quando um adolescente pratica um ato infracional, ele poderá receber as seguintes medidas: 
I - advertência; 
II - obrigação de reparar o dano; 
III - prestação de serviços à comunidade; 
IV - liberdade assistida; 
V - inserção em regime de semiliberdade; 
VI - internação em estabelecimento educacional; 
VII - qualquer uma das medidas protetivas previstas no art. 101, I a VI do ECA (exs: orientação, matrícula 
obrigatória em escola, inclusão em programa comunitário, entre outras). 
 
Procedimento aplicável no caso de apuração de ato infracional 
A apuração de ato infracional praticado por criança ou adolescente é regulada por alguns dispositivos do 
ECA. No entanto, como o Estatuto não tratou de forma detalhada sobre o tema, o art. 152 determina que 
sejam aplicadas subsidiariamente as normas gerais previstas na legislação processual pertinente. 
 
No caso de apuração de atoinfracional, aplica-se subsidiariamente o CPP ou o CPC? 
Depende. Aplica-se: 
• o CPP para o processo de conhecimento (representação, produção de provas, memoriais, sentença); 
• o CPC para as regras do sistema recursal (art. 198 do ECA). 
 
Resumindo: 
1ª opção: normas do ECA. 
Na falta de normas específicas: 
• CPP: para regular o processo de conhecimento. 
• CPC: para regular o sistema recursal. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João, com 17 anos e 11 meses de idade, praticou ato infracional equiparado a roubo. 
O Promotor de Justiça ofereceu representação ao Juiz, propondo a instauração de procedimento para 
aplicação da medida socioeducativa (art. 182 do ECA). 
A “representação” de que trata o ECA é como se fosse a “denúncia” do processo penal. 
O Juiz entendeu que não era o caso de rejeição da representação e, assim, designou audiência de 
apresentação do adolescente. 
Na audiência de apresentação, o Juiz ouviu o adolescente e seus pais. 
Em seguida, o magistrado, por entender que não era o caso de conceder remissão judicial, determinou o 
prosseguimento do processo com a realização de instrução. 
Depois da instrução foi realizado o debate entre Ministério Público e defesa. 
 Informativo 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
Chegou o momento de o Juiz proferir a sentença. Ocorre que o magistrado verificou que, em virtude da 
demora na tramitação do processo, João já está, atualmente, com 19 anos. 
 
Diante disso, surgiu a dúvida: é possível que João continue sendo julgado pelo juízo da Vara de Infância e 
Adolescência mesmo já tendo atingido a maioridade penal (18 anos)? É possível que o magistrado aplique 
alguma medida socioeducativa em relação a João mesmo ele já sendo adulto (maior de 18 anos)? 
SIM. A medida socioeducativa pode ser aplicada ao indivíduo maior de 18 anos, desde que o ato infracional 
tenha sido praticado antes, ou seja, quando ele ainda era adolescente. 
A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade 
de medida socioeducativa. Em palavras mais simples: o fato de o adolescente ter completado 18 anos 
durante o curso do processo onde se apura o ato infracional não interfere na sentença. O juiz poderá 
aplicar normalmente a medida socioeducativa. 
 
Outra situação: Pedro, com 17 anos de idade, recebeu medida socioeducativa de internação pela prática 
de ato infracional. Ele está cumprindo medida em uma unidade de internação de adolescentes 
infratores. Ocorre que Pedro completou 18 anos. Ele pode continuar cumprindo a internação? 
SIM. A superveniência da maioridade penal não interfere na aplicabilidade de medida socioeducativa. Em 
palavras mais simples: o fato de o adolescente ter completado 18 anos durante o cumprimento da medida 
socioeducativa não faz com que essa execução tenha que ser encerrada. Ela continuará normalmente até 
que o Juiz entenda que a medida já cumpriu a sua finalidade ou até que o indivíduo complete 21 anos. 
Se o interno completar 21 anos, deverá ser obrigatoriamente liberado, encerrando o regime de 
internação. 
 
Mas o ECA pode ser aplicado para maiores de 18 anos? Existe possibilidade legal para isso? 
SIM. Essa autorização encontra-se prevista no art. 2º, parágrafo único e no art. 121, § 5º do ECA: 
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade 
incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. 
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas 
entre dezoito e vinte e um anos de idade. 
 
Desse modo, um exemplo desse parágrafo único do art. 2º do ECA é justamente a possibilidade de 
aplicação e cumprimento de medida socioeducativa para pessoas entre 18 e 21 anos, desde que o fato 
tenha sido praticado antes de atingida da maioridade penal, ou seja, antes dos 18 anos. 
 
Idade na data do fato 
O que interessa para saber se a pessoa deve responder por ato infracional é a sua idade na data do fato, 
e não na data do julgamento ou do cumprimento da medida (respeitada a idade máxima de 21 anos). Veja 
o que diz o ECA: 
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas 
nesta Lei. 
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do 
fato. 
 
Assim, se na data do fato o adolescente tinha menos de 18 anos, nada impede que permaneça no 
cumprimento de medida socioeducativa imposta, ainda que implementada a sua maioridade penal. 
 
Internação até 21 anos 
Vale ressaltar que o art. 121 do ECA, que trata sobre a internação, prevê expressamente a possibilidade 
de o indivíduo permanecer cumprindo a medida até 21 anos. Confira: 
 Informativo 
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Informativo 630-STJ (31/08/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
Art. 121 (...) 
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. 
 
O art. 121, § 5º dispõe sobre a internação. Essa possibilidade de o indivíduo cumprir medida mesmo até 
os 21 anos vale para a medida de semiliberdade? 
SIM. Existe previsão expressa afirmando que as regras da internação, incluindo o art. 121, § 5º, podem ser 
aplicadas, no que couber, à medida de semiliberdade: 
Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de 
transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas, 
independentemente de autorização judicial. 
(...) 
§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as disposições 
relativas à internação. 
 
O ECA, ao tratar sobre a liberdade assistida, não traz um dispositivo como esse do art. 120, § 2º acima 
transcrito. Em razão disso, vários doutrinadores sustentaram que, para a liberdade assistida, o 
cumprimento deveria ficar restrito até os 18 anos por ausência de previsão legal. Essa tese prevaleceu? 
NÃO. A jurisprudência entendeu que, mesmo sem regra expressa, deve ser permitido o cumprimento da 
liberdade assistida até os 21 anos, assim como ocorre com a internação e a semiliberdade. Não há 
qualquer fundamento jurídico ou lógico que autorize uma diferença de tratamento. Isso porque a 
internação e a semiliberdade são medidas mais gravosas que a liberdade assistida. Desse modo, seria 
ilógico considerar que é possível a incidência das medidas mais gravosas e, ao mesmo tempo, proibida a 
aplicação das mais brandas. 
Assim, o STJ possui o entendimento pacífico de que o art. 121, § 5º do ECA admite a possibilidade da 
extensão do cumprimento da medida socioeducativa até os 21 anos de idade, abarcando qualquer que 
seja a medida imposta ao adolescente. 
 
Posição do STF 
O STF possui o mesmo entendimento manifestado na Súmula 605 do STJ. Confira: 
O disposto no § 5º do art. 121 da Lei 8.069/1990, além de não revogado pelo art. 5º do Código Civil, é 
aplicável à medida socioeducativa de semiliberdade, conforme determinação expressa do art. 120, § 2º, 
do Estatuto da Criança e do Adolescente. Em consequência, se o paciente, à época do fato, ainda não tinha 
alcançado a maioridade penal, nada impede que ele seja submetido à semiliberdade, ainda que, 
atualmente, tenha mais de dezoito anos, uma vez que a liberação compulsória só ocorre aos vinte e um. 
STF. 2ª Turma. HC 94939, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 14/10/2008. 
 
Apenas a título de informação complementar: 
Medidas socioeducativas em meio aberto: 
• Prestação de serviços à comunidade; 
• Liberdade assistida. 
 
Prestação de serviços à comunidade (art. 117 do ECA) 
A prestação

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