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Estruturalismo. In: MARTELOTTA, M. E. (Org.) Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2008. ESTRUTURALISMO Estruturalismos: não podemos falar de um conceito único para o termo estruturalismo. Na linguística, há mais de uma escola que se apresenta sob orientação de uma teoria estruturalista. Em comum, elas apresentam concepções e métodos que implicam o reconhecimento de que a língua é uma estrutura ou sistema, e a tarefa do linguista é analisar a organização e o funcionamento dos seus elementos constituintes. Trataremos aqui: escola estruturalista com ênfase nas propostas de Ferdinand de Saussure e Leonard Boomfield. Obs.: a noção inicial proposta por Saussure era a de „sistema‟ – a noção de „estrutura‟ se desenvolveu do termo saussureano: uma vez estabelecido que a língua constitui um sistema, cumpre estabelecer como se estrutura esse sistema. SISTEMA, ESTRUTURA, ESTRUTURALISMO Sistema (de uma forma geral): a aproximação e organização de determinadas unidades resulta em um sistema. Tais unidades constituem um todo coerente e coeso por possuírem características semelhantes e obedecerem a certos princípios de funcionamento. Ex.: sistema solar, sistema circulatório, sistema... Descrever o sistema significa revelar a organização de suas unidades constituintes e os princípios que orientam tal organização. A Língua (para Saussure, precursor do estruturalismo) é um sistema, i.e. um conjunto de unidades que obedecem a certos princípios de funcionamento, constituindo um todo coerente. Os sucessores dessa linha de investigação passaram a observar detalhadamente como o sistema se estrutura. Daí o termo „estruturalismo‟ para designar a nova tendência de se analisar as línguas. O estruturalismo entende a língua como uma organização/sistema/estrutura, uma vez que é formada por elementos coesos, inter-relacionados e que funcionam a partir de um conjunto de regras. A organização dos elementos se estrutura seguindo leis internas, estabelecidas dentro do próprio sistema. O desenvolvimento da linguística estrutural: acontecimento dos mais significativos para o pensamento científico do séc. XX. Pensadores que evidenciam em suas obras as contribuições de Saussure: Jacques Lacan, Claude Lévi- Strauss, Louis Althusser, Roland Barthes. Curso de Linguística Geral: ideias de Saussure (ponto de partida da linguística moderna) organizadas por seus alunos a partir dos cursos ofertados por ele entre 1907 e 1911, na Universidade de Genebra. Publicação em 1916 (póstuma). Curso: conceitos fundamentais do modelo teórico estruturalista. Metáfora – jogo de xadrez: o valor de uma peça unitária não é determinado por sua materialidade, não existe em si mesmo. O valor é instituído no interior do jogo: as peças tem valor na relação e oposição às outras peças. Jogo de xadrez: independentemente da materialidade das peças (madeira, plástico, ouro, marfim), o andamento do jogo se dá à medida que compreendemos como as peças se relacionam entre si, as regras que as governam e a função estabelecida para cada peça em relação às demais. O valor das peças depende unicamente das relações/oposições entre as unidades (e não da materialidade). Da mesma forma, a comunicação (=jogo de xadrez) é estabelecida porque os falantes conhecem as regras da gramática de uma determinada língua, ou seja, conhecem as unidades (=peças) disponíveis na língua (=jogo) e suas regras (=possibilidades de movimento) de combinação, como se organizam e se distribuem. Importante: „regra de gramática‟ não se confunde com regra prescritiva (norma padrão); do contrário, quem não domina a norma padrão não poderia se comunicar (falar). As unidades que compõem o sistema linguístico são reguladas por normas internalizadas muito cedo e que começam a se manifestar na fase de aquisição da linguagem. Esse conhecimento é adquirido no social, ou seja, na relação mantida com o grupo de falantes do qual o aprendiz faz parte. A substância não determina as regras do jogo linguístico, as regras são independentes do suporte físico em que se realizam (som, movimento labial, gestos, etc.). Ex.: pessoa surda que aprende a língua a partir de sensações visuais (e não sonoras). A abordagem estruturalista: 1. entende que a língua é forma (estrutura) e não substância (a matéria a partir da qual se manifesta). 2. reconhece a necessidade da análise da substância afim de formular hipóteses acerca do sistema a ela relacionado. Essa concepção de linguagem tem como consequência um princípio do estruturalismo: a língua deve ser estudada em si mesma e por si mesma. Estudo imanente da língua = abstração de toda preocupação extralinguística (exclusão das relações entre língua e sociedade, cultura, distribuição geográfica, literatura ou qualquer outra relação que não seja absolutamente relacionada com a organização interna dos elementos que constituem o sistema linguístico). GRUPO DE DICOTOMIAS Grupo de dicotomias (dicotomia = divisão lógica de um conceito em dois, obtendo um par opositivo) 1) língua e fala 2) sincronia e diacronia 3) significado e significante 4) motivado e arbitrário 5) paradigma e sintagma 6) forma e substância (dicotomia desenvolvida nos desdobramentos do estruturalismo; Escola de Copenhage) 1. Língua e Fala Linguagem tomada como objeto duplo “o fenômeno linguístico apresenta perpetuamente duas faces que se correspondem e das quais uma não vale senão pela outra” (SAUSSURE, 1975, p. 15). Língua (langue) – lado social Fala (parole) – lado individual Língua: sistema supraindividual utilizado como meio de comunicação entre os membros de uma comunidade. Corresponde à parte essencial da linguagem e constitui um sistema gramatical depositado virtualmente no cérebro de um conjunto de indivíduos pertencentes a uma mesma comunidade linguística. A existência do sistema gramatical (língua) decorre do contrato implícito estabelecido entre os membros de uma comunidade – caráter social. O indivíduo sozinho não pode criar nem modificar uma língua. Fala: uso individual do sistema que constitui a língua. “um ato individual de vontade e de inteligência” (SAUSSURE, 1975, p. 22). ... corresponde a dois momentos: 1) combinações realizadas pelo falante entre as unidades que compõem o sistema da língua, objetivando exprimir o pensamento. 2) mecanismo psicofísico que permite exteriorizar essas combinações. É de caráter individual. A língua é condição da fala. Objeto de estudo da linguística estrutural: a língua. (fala: secundário) Motivação: a essência da atividade comunicativa está no que é comum a todos: a língua. Há uma estreita relação entre língua e fala; não se pode estudar a língua independentemente da fala: a) a língua só se estabelece a partir das manifestações concretas de cada ato linguístico efetivo. b) para que a fala seja compreensível e possa atingir seus propósitos comunicativos, a língua é necessária. 2. Sincronia e Diacronia Dicotomia relacionada ao método de investigação. Método histórico-comparativo. Semelhanças encontradas em determinadas línguas = parentesco entre elas. (início séc. XIX) Objetivo: agrupamento das línguas em famílias. Ex.: família indo-europeia: maior parte das línguas europeias e as do grupo indoirânico (persae sânscrito). Século XIX: caráter histórico de investigação da linguagem (método histórico-comparativo) pelos neogramáticos. A partir de 1870: constatação de que a mudança nas línguas possui regularidade, independentemente da vontade dos homens. Desenvolvimento de teoria das transformações linguísticas baseada em método científico. Manutenção do caráter histórico: estudo das transformações das línguas para explicar e formular as regras das línguas. A simples descrição de uma língua representaria unicamente a constatação de um fato - de forma alguma uma ciência. Rompimento: separação da linguística evolutiva da linguística estática – a partir da distinção entre a investigação diacrônica e a sincrônica. Ou seja... Diacronia e sincronia para distinguir a linguística evolutiva (uma fase de evolução da língua) da linguística estática (um estado da língua). Estudo sincrônico: (finalidade) descrição de um determinado estado da língua em um determinado momento no tempo. Estudo diacrônico: (finalidade) estabelecer uma comparação entre dois momentos da evolução histórica de uma língua. Exemplo: 1. Estudo sincrônico: análise da variação de „ter‟ e „haver‟: coexistem as duas variedades na mesma época. 2. Estudo diacrônico: análise da trajetória de mudança pane > pãe > „pão‟ Prioridade: sincrônico – para os falantes, a realidade da língua é o seu estado sincrônico. A descrição linguística sincrônica tem por tarefa formular as regras sistemáticas da língua conforme operam num determinado momento (estado) específico, independentemente das mudanças já ocorridas. Argumentos: 1) Embora não sejam muitos os falantes conhecedores profundos da evolução histórica da língua que utilizam, todos nós demonstramos dominar, ainda na infância, os princípios sistemáticos, as regras da língua que ouvimos à nossa volta. 2) Jogo de xadrez: não importa o caminho percorrido, “o que acompanhou toda a partida não tem a menor vantagem sobre o curioso que vem espiar o estado do jogo no momento crítico; para descrever a posição, é perfeitamente inútil recordar o que aconteceu dez segundos antes” (SAUSSURE, 1975, p. 105). O movimento de uma pedra no tabuleiro implica a constituição de uma nova sincronia (tal movimento repercute em todo o sistema). Porém, o conjunto de regras é mantido: elas situam-se fora do tempo do jogo e são prévias à sua existência e realização (=langue). Ponto divergente da analogia: a ação do jogador ao deslocar um pedra e exercer uma alteração no sistema é intencional, diferentemente da língua, em que “é espontânea e fortuitamente que suas peças se deslocam – ou melhor, modificam-se” (SAUSSURE, 1975, p. 105). 3. O signo linguístico: significante e significado Natureza dos elementos linguísticos: a língua é um sistema de signos. Signo = unidade constituinte do sistema linguístico. Signo é formado de significante e significado (duas partes inseparáveis: impossível conceber uma sem a outra). Ambas são psíquicas e estão ligadas no nosso cérebro por um vínculo de associação. 1. Significante (imagem acústica, mas como realidade mental e não material): impressão psíquica, a representação enquanto fato de língua virtual, estando a fala excluída dessa realidade (não confundir com o som material, algo puramente físico). 2. Significado (também chamado de conceito): representa o sentido que é atribuído ao significante. Signo = associação do conceito a uma imagem acústica. Ex.: sequência de fonemas de „linguagem‟ = significante Sentido atribuído a „linguagem‟ (capacidade humana de comunicação verbal) = significado 4. A arbitrariedade do signo linguístico: motivado e arbitrário Na Grécia antiga, debatem se os recursos linguísticos (por meio dos quais as pessoas descrevem o mundo) são arbitrários ou sofrem motivação natural. Há duas correntes: a) Convencionalistas: tudo na língua é convencional, resultado de costume e tradição. b) Naturalistas: as palavras são relacionadas, por natureza, às coisas que significam. Signo linguístico: motivado x arbitrário Para Saussure, o signo linguístico é arbitrário: não existe uma relação necessária e natural entre imagem acústica (significante) e conceito/sentido (significado). Portanto, o signo linguístico não é motivado, mas sim cultural, convencional, resultado do acordo implícito realizado entre os membros de uma comunidade. Trata-se de uma convenção. A arbitrariedade é melhor compreendida na observação da diversidade das línguas. Obs.: não se trata de livre escolha de um falante (é acordo social). 5. Relações sintagmáticas e relações paradigmáticas: paradigma e sintagma Forma como as unidades constitutivas do sistema estão relacionadas umas às outras. Descrição dessas relações: explicitar a organização dos elementos constituintes da estrutura linguística; reconhecimento do funcionamento do sistema O signo linguístico representa uma extensão: ao ser transmitido, constitui uma sequência cuja dimensão só pode ser mensurável linearmente. Caráter linear da linguagem articulada. Ex.: frase = certo número de signos linguísticos apresentados em linha, no tempo, em sequência. A distribuição dessas palavras na frase não é aleatória: mas sim dada pela exclusão de outros possíveis arranjos distribucionais. Trata-se da composição de sintagmas. Composição de sintagma: combinação de unidades da língua. Relações sintagmáticas dizem respeito à distribuição linear das unidades na estrutura sintática. Relações sintagmáticas (decorrentes do caráter linear da linguagem): articulações entre os sintagmas, ou seja, possibilidades de combinação entre as unidades. Relações sintagmáticas (in praesentia) entre dois ou mais termos presentes (antecedentes e subsequentes) em um mesmo contexto (sintático), ocorrendo nos níveis: 1. Nível fonológico: unidades se combinam para formar sílabas. Ca-sa bar ↓ ↓ ↓↓↓ C V CVC Português: não admite sílaba sem som vocálico 2. Nível morfológico: morfemas se unem para formar palavras. Menin – o in – feliz – mente ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ Rad VT Pref Rad Suf Prefixos antecedem o radical; sufixos sucedem o radical 3. Nível sintático: palavras se combinam para formar frases. O menino gosta de bolo ↓ ↓ SN SV * De gosta bolo menino o. Regras que dizem respeito à formação dos sintagmas e à combinação dos sintagmas para formar frases. Relações paradigmáticas são as relações associativas que dizem respeito à associação mental entre a unidade linguística que ocupa um determinado contexto (posição na frase) e todas as outras unidades ausentes que poderiam estar nessa posição (por pertencerem à mesma classe da unidade que está presente). Relações paradigmáticas (in absentia) caracterizam a associação entre um termo que está presente em um determinado contexto sintático com outros que estão ausentes desse contexto, mas que são importantes para sua caracterização em termos opositivos. Os elementos da língua são armazenados na memória em termos de traços que os caracterizam (e não isoladamente), como estrutura, classe gramatical, tipo semântico. Essaorganização dos elementos linguísticos na memória é importante na caracterização da frase. Ex.: noção intuitiva que temos da classe gramatical das palavras, como verbos, por exemplo (sem necessariamente ser conhecida a linguagem técnica da gramática/metalinguagem). Relação paradigmática: (além da) possibilidade de ocorrência em um mesmo contexto; (tem-se também a) semelhança de significação, semelhança sonora ou de qualquer outra situação em que a presença de um elemento linguístico suscita no falante/ouvinte a associação com outros elementos ausentes. As relações sintagmáticas e paradigmáticas ocorrem concomitantemente. ASSIM... Perspectiva estruturalista: o que permite o funcionamento da língua é o sistema de valores constituído pelas associações, combinações e exclusões verificadas entre as unidades linguísticas. As ideias de Saussure formaram os alicerces da linguística estrutural e fundaram a linguística moderna. DESDOBRAMENTOS DO ESTRUTURALISMO Primeira metade do século XX, desenvolvem-se (pelo menos) três importantes grupos: 1. Escola de Genebra e de 2. Praga: além do estudo formal da linguagem (um sistema formal), adotam a visão de que a língua é um sistema funcional, cuja finalidade é a comunicação. 3. Escola de Copenhage: foco no aspecto formal (função: aspecto secundário), língua como sistema autônomo, trabalhando os conceitos de forma e substância (expressão e conteúdo). Teóricos principais: - Praga: Troubetzkoy/ Jakobson - Copenhage: Hjelmslev/ Glossemática - Praga + Copenhage: Martinet/ Funcionalismo Hjelmslev elabora a distinção forma x substância: i. Forma: aquilo que uma determinada língua institui como unidade através de oposição. ii. Substância: suporte físico da forma – tem existência perceptiva mas não necessariamente linguística. Linguística moderna sob o rótulo de estruturalismo, reconhece duas vertentes principais: 1. Corrente europeia Principalmente: linguística funcional desenvolvida pela Escola de Praga. 2. Corrente norte-americana Apresentada de maneira independente à propagação das ideias de Saussure na Europa; apesar de algumas diferenças, são muitos os pontos em comum (por isso concebida como uma vertente do estruturalismo). Leonard Bloomfield: distribucionalismo ou linguística distribucional. Dominante nos EUA até primeira metade do século XX. Desenvolvimento da teoria cujo objetivo era a elaboração de um sistema e de conceitos aplicáveis à descrição sincrônica de qualquer língua. Pressupostos: 1. cada língua apresenta uma estrutura específica; 2. essa estruturação é evidenciada a partir dos três níveis – o fonológico, o morfológico e o sintático – que constituem uma hierarquia, com o fonológico na base e o sintático no topo; 3. cada nível é constituído por unidades do nível imediatamente inferior: as construções são as sequências de palavras; as palavras, sequências de morfemas; os morfemas, sequências de fonemas; 4. a descrição de uma língua deve começar pelas unidades mais simples, prosseguindo, então, à descrição das unidades cada vez mais complexas; 5. cada unidade é definida em função de sua posição estrutural – de acordo com os elementos que a precedem e que a seguem na construção; 6. na descrição, é necessária absoluta objetividade, o que exclui o estudo da semântica do escopo da linguística. Pressuposto: processo de combinação de unidades para formar construções de nível superior é guiado por leis próprias do sistema linguístico → enquanto determinadas construções são permitidas, outras são totalmente bloqueadas na língua: *Linguística aluno de gosta estudar o. Segundo a Linguística distribucional, para o estudo da língua, é necessário: 1. a constituição de um corpus, isto é, da reunião de um conjunto, o mais variado possível, de enunciados efetivamente emitidos por usuários de uma determinada língua em uma determinada época; 2. a elaboração de um inventário, a partir desse corpus, que permita determinar as unidades elementares em cada nível de análise, assim como as classes que agrupam tais unidades; 3. a verificação das leis de combinação de elementos de diferentes classes; 4. a exclusão de qualquer indagação sobre o significado dos enunciados que compõe o corpus. IMPORTANTE: essa postura mecanicista foi apoiada na psicologia behaviorista fortemente difundida nos EUA a partir de 1920 (um dos maiores teóricos: Skinner). Objeto de estudo da psicologia: o comportamento humano, totalmente explicável e previsível a partir das situações em que se manifesta independentemente de qualquer fator interno. Compreendido como conjunto de excitação/estímulo e resposta/ação. Comportamento linguístico: uma comunidade ensina um indivíduo a produzir uma determinada resposta verbal (a expressar um termo), provendo estímulos reforçadores quando essa resposta ocorre na presença da coisa para a qual o termo proferido é tomado como referente. Ex.: o indivíduo aprende a dizer “cadeira” na presença de uma cadeira ou objeto similar e não por uma questão da apreensão do significado de “cadeira”, mas porque essa resposta, na presença do objeto, tem uma história de reforço provido pela comunidade verbal. Método de análise distribucionalista: puramente descritivo e indutivo, o que corrobora o entendimento de que todas as frases da língua são formadas pela combinação de construções (os seus constituintes) e não de uma simples sequência de elementos discretos. Pressuposto: as partes de uma língua não se organizam arbitrariamente, mas se apresentam em certas posições particulares relacionadas umas às outras. Para decompor os enunciados do corpus: utilização do método de análise de constituintes imediatos – uma frase é o resultado de diversas camadas de constituintes. 1. Frase → O aluno comprou um livro 2. Sintagmas → O aluno / comprou um livro 3. Palavras → O/ aluno / comprou / um / livro 4. Morfemas → O/ alun/o/ compr/ou /um/ livr/o 5. Fonemas → O/ a/l/u/n/o/ k/õ/p/r/o/u /ũ/ l/i/v/r/o Perspectiva formal acerca do fenômeno linguístico. Tarefa do linguista: ao descrever a língua, classificar os segmentos que aparecem no corpus e identificar as leis de combinação desses segmentos. Formulações de Bloomfield sob inspiração do behaviorismo: oposição às ideias mentalistas que defendiam que a fala deveria ser explicada como um efeito do pensamento (intenções, crenças, sentimentos) do sujeito falante. Ao lado de Bloomfield, Edward Sapir é autor clássico da linguística norte-americana. Entretanto, os estudos de Sapir rompem os limites do estruturalismo saussureano, uma vez que adotam o postulado de que os resultados da análise estrutural de uma língua devem ser confrontados com os resultados da análise estrutural de toda cultura material e espiritual do povo que fala a língua. Ideias relacionadas à hipótese de Sapir-Whorf: 1. cada língua segmenta a realidade à sua maneira e impõe tal modo de segmentação do mundo a todos os que a falam. Nesse sentido, a língua configura o pensamento: as pessoas que falam diferentes línguas veem o mundo diferentemente; 2. os modelos linguísticos relacionam-se aos modelos socioculturais. As distinções gramaticais e lexicais, obrigatórias numa dada língua, correspondem às distinções de comportamento, obrigatórias numadada cultura. Contexto norte-americano Tanto para a análise distribucionalista de Bloomfield quanto para a hipótese de Sapir-Whorf. 150 famílias de línguas ameríndias (≈ 1.000 línguas), apresentadas sob a forma de material linguístico oral ainda não descrito, o que representava um grande problema para os administradores e etnólogos da época. Marca: projeto de descrever exaustivamente as línguas indígenas do continente. Esse contexto marca o estruturalismo norte-americano da época, diferenciando-o da linguística europeia. ILARI, R. O estruturalismo linguístico: alguns caminhos. In: Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos. V. 3. REFLEXOS DO ESTRUTURALISMO NO BRASIL Reflexos do estruturalismo no Brasil A língua passa a ser tomada como objeto de descrição – contrariando uma longa tradição normativa. Adoção de atitude descritiva: permitiu que as variedades não padrão da língua fossem consideradas como objetos legítimos de análise. Lembrete: quando o estudo da língua segue orientação normativa, leva a crer que somente a variedade padrão é sistemática. Porém, quando prevalece a atitude descritiva, descobre- se que as variedades não padrão não têm necessariamente uma estrutura pobre ou ineficiente (como se acreditava); elas têm estruturas igualmente complexas e eficientes, mas diferentes em algum sentido da norma padrão. Aspectos da realidade linguística brasileira ganham dignidade enquanto objeto de estudo, a exemplo das línguas indígenas e das inúmeras variedades do português. Contribuição positiva na renovação do ensino de língua. Essa contribuição se refere à pedagogia da língua materna, mostrando as precariedades da doutrina gramatical tradicionalmente ensinada. Contexto: cada vez maior o número de alunos cujo vernáculo (língua/variedade não monitorada) não é a variedade prestigiada. O estruturalismo criou condições para se aceitar como fato que os alunos falam outra língua (com estrutura, história e condições de uso), e que esse fato não tem relação com limitações de qualquer natureza.
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