Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MASC TEORIA DO CONFLITO Ms. Adriana Borghi Universidade São Judas Tadeu 1 Crise do sistema judiciário incapacidade de atender aos interesses dos jurisdicionados / percepção de injustiça prevalece explosão de litigiosidade na sociedade brasileira Vetores que contribuem estrutura que não acompanha o ritmo das interações sociais (globalização/internet/quantidade de operadores do direito, servidores, etc.) legislação processual truncada e de cunho probatório uso “distorcido” da tutela jurisdicional (pelos sujeitos passivos e ativos, bem como pelos membros do aparato estatal) Costuma-se afirmar que a função do Direito é a de promover a paz social “harmonizar as relações sociais intersubjetivas, a fim de ensejar a máxima realização dos valores humanos com o mínimo de sacrifício e desgaste" (DINAMARCO, Cândido Rangel ; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo ; GRINOVER, Ada Pellegrini . Teoria geral do processo) O que introduz o tema? 2 ALGUNS SENTIDOS POSSÍVEIS de CONFLITO ligados a cenários de violência: “1. Embate dos que lutam. 2. Discussão acompanhada de injúrias e ameaças; desavença. 3. Guerra (1). 5. Colisão, choque” (Aurélio) ligados a disputas pela sobrevivência “Uma forma de interação entre indivíduos, grupos, organizações e coletividades que implica choques para o acesso à distribuição de bens escassos”. (BOBBIO) Metáforas orientais... - “O conflito é luz e sombra, perigo e oportunidade, estabilidade e mudança, fortaleza e debilidade. O impulso para avançar e o obstáculo que se opõe a todos os conflitos contêm a semente da criação e da desconstrução” (Sun Tzu) - I Ching: Acima, o Criativo - céu / Abaixo, o Abismal - água. Sociedade composta por grupos que lutam por seus interesses, o que configura potencial para o conflito análise das tensões entre grupos dominantes e desfavorecidos (como se estabelecem e perpetuam as relações de controle) autoridade e poder - diferença de interesses entre governantes e governados 4 Nesta perspectiva, os conflitos sociais são destacados como socialmente importantes. São formas prevalecentes nas interações de convivência social. Simmel aponta uma das virtudes do conflito. Este atributo positivo residiria no fato de que ele, - o conflito - cria um patamar, um tablado social, à semelhança de um palco teatral, espaço onde as partes podem encontrar-se em um mesmo plano situacional e, desta maneira, impõe-se um nivelamento. Uma condição necessária para que as partes, às vezes, ásperas e díspares possam, de fato, efetuar a trama que ele encerra. JOSÉ OLIVEIRA ALCÂNTARA JÚNIOR Importância do Conflito 5 espaço social, em que o próprio confronto é um ato de reconhecimento produtor de um metamorfismo entre as interações e as relações sociais daí resultantes ele (re)cria novas estruturas, ou, as mantém sob determinadas condições JOSÉ OLIVEIRA ALCÂNTARA JÚNIOR Importância do Conflito 6 O conflito pode ser definido como um processo ou estado em que duas ou mais pessoas divergem em razão de metas, interesses ou objetivos individuais percebidos como mutuamente incompatíveis. Em regra, intuitivamente se aborda o conflito como um fenômeno negativo nas relações sociais que proporciona perdas para, ao menos, uma das partes envolvidas. ser homem é ser em conflito Pode-se dizer que os conflitos são inerentes à vida e a partir deles podemos nos constituir Teoria do conflito Perceber o conflito de forma negativa desencadeia uma reação denominada “retorno de luta ou fuga (ou apenas luta ou fuga) ou resposta de estresse agudo = teoria de que animais reagem a ameaças com uma descarga ao sistema nervoso simpático impulsionando‑o a lutar ou fugir Despolarização = O ato ou efeito de não perceber um diálogo ou um conflito como se houvesse duas partes antagônicas ou dois polos distintos (um certo e outro errado) Distinção técnica entre uma disputa e um conflito - “Um conflito se mostra necessário para a articulação de uma demanda. Um conflito, todavia, pode existir sem que uma demanda seja proposta. Assim, apesar de uma disputa não poder existir sem um conflito, um conflito pode existir sem uma disputa” (Manual de Mediação Judicial – PG. 54) paz A paz é um conceito dinâmico, que está sempre em mudança, que nos leva a provocar, enfrentar e resolver os conflitos da vida de forma não-violenta e criativa Uma educação para a paz explora o conflito como um catalisador de mudança. Não busca a eliminação dos conflitos, mas procura modos criativos e não-violentos de abordá-los. É lembrar que sempre existem escolhas a serem feitas; a lidar com as diferenças e promovem compreensão de si e do outro o conflito se desenvolve em espirais e essa escalada de conflito é importante na gestão de disputas. UM conflito pode melhorar ou piorar dependendo da forma com que se opta perceber o contexto conflituoso. processos destrutivos de resolução de disputas - esmaecimento da relação social preexistente à disputa e acentuação da animosidade decorrente da ineficiente forma de endereçar o conflito. processos construtivos - fortalecimento da relação social preexistente à disputa. Formas des(cons)trutivas/ineficientes de lidar com conflito (Gomma) embate ganhar/perder enfraquecem ou rompem relação social preexistente à disputa (conflito manifesto como demanda) espiral da violência durante o processo perde-se o fio da meada impossibilita a coexistência Manual de Mediação Judicial, 2016 Formas construtivas/participativas de lidar com conflito (Gomma) perspectiva não culpabilizante permitem reformular questões diante do impasse abordam todas as questões em jogo (identifica interesses subjacentes ao conflito) fortalecem relação social preexistente promovem compreensão buscam soluções criativas ganha-ganha educam para a compreensão mútua Implicação com a responsabilidade e a ética profissional O ordenamento jurídico processual está voltado à pacificação social Manual de Mediação Judicial, 2016 Conc.: deixa eu explicar uma coisa pro senhor, existe uma coisa chamada abandono material... o juiz vai condenar o senhor a meio salário mínimo Sr.: deixa eu falar com ela? Conc.: quem tem filho tem que trabalhar todo dia! Sr.: mas deixa eu falar uma coisa... (voz começa a embargar)... eu sei, eu tô procurando emprego... Conc.: o senhor tem 3 filhos! Sr.: se quiser me mandar prender agora, amanhã, ou depois, tudo bem, mas eu não tenho dinheiro... (voz embargada) Sra.: eu estou... Conc.: a senhora fica quieta, por favor, e o senhor fica quieto... O Sr. tem que ter consciência, o Sr. vai abandonar os seus filhos? O Sr. tem que pagar alguma coisa... o juiz vai decretar no mínimo R$250,00 ... (silêncio) Conc.: o Sr. não quer acordo, então vamos fazer instrução, o Sr. procura advogado, o Sr. vai ser processado, vai ser preso... ... (silêncio) 13 Conc.: vou dar um conselho pro senhor, para aliviar pro seu lado, o Sr. tem que pagar pelo menos R$200,00... Filho primeiro, depois reforma da casa, outras coisas... ... (silêncio) Conc.: o Sr. já sai daqui intimado!... se o senhor cedesse um pouquinho, ela cederia também... ... (sons de teclado e impressora: providências burocráticas, intimação e tal) Sr.: sai pedindo desculpas por não ter feito acordo... Conc.: vai com Deus... Sra.: obrigada. Conc.: imagine... Durante toda a conciliação, a voz de quem concilia é incisiva e a fala, rápida, garantindo seu turno de fala, salvo na despedida. Depois dessa conciliação, momento de descontração entre conciliador@ e funcionári@ do Forum 14 Exercício Diante do conflito Cada pessoa pode reagir/agir frente à mesma situação de muitas maneiras diferentes, de acordo com seu humor, a qualidade de sua presença, sua história, seu ponto de vista, seu repertório... Um pouco de psicologia social O homem é homem pela socialização (Berger e Luckmann, Mead...) Indivíduo não nasce ser social: trata-se deum processo temporal em que compreende os semelhantes e apreende o mundo como realidade dotada de sentido, que passa a se tornar seu próprio mundo O homem se constitui na relação com o Outro. Ele não se conhece enquanto homem isolado, sozinho, ele precisa do Outro para se reconhecer enquanto tal A socialização do indivíduo se dá comunicativamente e mais firmemente quando acompanhada de uma experiência emocionalmente significativa Personagens cristalizados O “delinqüente” O “aluno-problema” A “professora-sacana” O “juiz-autoritário” O “advogado-mercenário” O “advogado-litigioso” O “pai-ausente” A “mãe-vítima” Os “manifestantes-arroaceiros” A liberdade existe quando podemos transitar pelos diversos personagens, permitindo a seqüência desse processo de metamorfose, transformações. Parar para refletir E escrever... Que papéis/personagens interpreto no meu dia à dia? Que papéis/personagens já interpretei e já descartei? Todos esses papéis/personagens constituem minha identidade “A identidade do eu pode se confirmar na capacidade de construir, em situações conflitivas, novas identidades, harmonizando-as com as identidades anteriores agora superadas, com a finalidade de organizar – numa biografia peculiar – a si mesmo e às próprias interações[...].” (Habermas, 1983) Etapas da Mediação 1. e 2. acolhimento, apresentação-chegada, combinados, propósitos 3. caucus, histórias pessoais, sentimentos, interesses, necessidades 4. prioridades, agente de realidade 5. levantamento, agente de realidade 6. acordos ao longo do processo e acordo final Feedbacks a cada encontro Mediador responsável pelo processo Todos responsáveis pelo resultado Referências Bibliográficas ALCÂNTARA JUNIOR, José Oliveira.Georg Simmel e o conflito social.In: Caderno Pós Ciências Sociais. V.2..n.3.. jan;jul. São Luis, 2005. GUIDDENS, Anthony. O que é Sociologia? Disponível em: http://www.joinville.udesc.br/portal/professores/ivocosta/materiais/Anthony_Giddens_Sociologia.pdfy ROSEMBERG, Marshall. Comunicação Não Violenta. Disponível em: http://www.icomfloripa.org.br/wp-content/uploads/2016/03/Comunicac%CC%A7a%CC%83o-Na%CC%83o-Violenta.pdf MEAD, George. Mind, self & society: from the standpoint of a social behaviorist. Chicago:The University of Chicago Press, 1995.f
Compartilhar