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SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
1
JOSÉ AUGUSTO FIORIN (ORG.)

sapiens editora
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
2
2007,Sapiens Editora
Obras da série Estudos da Sociedade:
Volume 1 A organização das sociedades na história da 
humanidade
Volume 2 O pensamento Humano na história da Filosofia
Volume 3 O desenvolvimento brasileiro – Colônia, Império e 
República
Volume 4 A Humanidade em seu transcurso histórico
Volume 5 Sociologia Rural: Breve Introdução
Catalogação na Fonte
FIORIN, José Augusto (org.). Sociologia 
rural: Breve Introdução Ijuí: Sapiens 
Editora, 2007. 160 p.
1.Sociedade 2.História 3.Sociologia 4.Cultura 
5.Estado I.Título II.Série
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
3
UMA INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA
Disciplina que se distingue das demais ciências sociais pela 
abrangência de seu objeto, a sociologia busca conhecer, mediante 
métodos científicos, a totalidade da realidade social como tal, sem 
proposta de transformação.
Sociologia é a ciência que estuda a natureza, causas e 
efeitos das relações que se estabelecem entre os indivíduos organizados 
em sociedade. Assim, o objeto da sociologia são as relações sociais, as 
transformações por que passam essas relações, como também as 
estruturas, instituições e costumes que têm origem nelas. A abordagem 
sociológica das relações entre os indivíduos distingue-se da abordagem 
biológica, psicológica, econômica e política dessas relações. Seu interesse 
focaliza-se no todo das interações sociais e não em apenas um de seus 
aspectos, cada um dos quais constitui o domínio de uma ciência social 
específica. As preocupações de ordem normativa são estranhas à 
sociologia e não lhe cabe a aplicação de soluções para problemas sociais 
ou a responsabilidade pelas reformas, planejamento ou adoção de 
medidas que visem à transformação das condições sociais.
Vários obstáculos impediram a constituição da sociologia 
como ciência, desde que ela surgiu, no século XIX. Entre os mais 
importantes citam-se a inexistência de terminologia clara e precisa; a 
tendência a subjetivar os fatos sociais; a multiplicidade de temas de seu 
interesse e aplicação; as afinidades partilhadas com outras ciências 
sociais; a dificuldade de experimentação, já que os elementos com que 
lida são seres humanos; e a proliferação de métodos, técnicas e escolas 
que tentaram elaborar uma teoria sociológica unificada como instrumento 
adequado de análise, descrição e interpretação dos fenômenos sociais.
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
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Antecedentes. O interesse pelos fenômenos sociais já existia 
na Grécia antiga, onde foram estudados pelos sofistas. Os filósofos 
gregos, porém, não elaboraram uma ciência sociológica autônoma, já 
que subordinaram os fatos sociais a exigências éticas e didáticas. Assim, 
a contribuição grega à sociologia foi apenas indireta.
Um pensamento social existiu na Idade Média, mas sob uma 
forma não-sistemática de raciocínio e análise dos fenômenos sociais, pois 
se baseava na especulação e não na investigação objetiva dos fatos. 
Além disso, nesse período anulou-se a distinção entre as leis da natureza 
e as leis humanas e impôs-se a concepção da ordem natural e social 
como decorrência da vontade divina, que não seria passível de 
transformação. Assim, eivado de conotações ideológicas, éticas e 
religiosas, o pensamento social medieval pouco evoluiu.
As profundas modificações econômicas, sociais e políticas 
ocorridas na sociedade européia nos séculos XVIII e XIX, em decorrência 
da revolução industrial, permitiram o surgimento do capitalismo e 
libertaram pensamento dos dogmas medievais. Assim, as ciências 
naturais e humanas fizeram rápidos progressos.
Os principais antecedentes da sociologia são a filosofia 
política, a filosofia da história, as teorias biológicas da evolução e os 
movimentos pelas reformas sociais e políticas, que ensaiaram um 
levantamento das condições sociais vigentes na época. Nos primórdios da 
sociologia, foram mais influentes a filosofia da história e os movimentos 
reformistas.
A história permitiu o acesso ao conhecimento de dados 
objetivos sobre a sociedade, acumulados ao longo do tempo. Além disso, 
a evolução da historiografia contribuiu em parte para o aperfeiçoamento 
dos métodos empíricos de compilação de dados e a análise dos fatos 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
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sociais. Em relação aos movimentos reformistas, a sociologia partilhou 
com eles sua preocupação com os problemas sociais e não mais aceitou 
como fato natural condições como a pobreza, seqüela da industrialização. 
Incorporou também os procedimentos dos reformistas, que se basearam 
nos métodos das ciências naturais para fazer levantamentos sociais, 
numa tentativa de classificar e quantificar os fenômenos sociais.
A pré-história da sociologia situa-se, assim, num período 
aproximado de cem anos, de 1750 a 1850, entre a publicação de L'Esprit 
des lois (O espírito das leis), de Montesquieu, e a formulação das teorias 
de Auguste Comte e Herbert Spencer. Sua constituição como ciência 
ocorreu na segunda metade do século XIX.
O termo sociologia foi consagrado por Auguste Comte na 
obra Cours de philosophie positive (1839; Curso de filosofia positiva), em 
que batizou a nova "ciência da sociedade" e tentou definir seu objeto. No 
entanto, a palavra sociologia continuou suscetível de inúmeras 
interpretações e definições no que diz respeito à delimitação de seu 
objeto, pois cada escola sociológica criou suas próprias definições, de 
acordo com as perspectivas teóricas, filosóficas e metodológicas 
adotadas. Todas essas definições, no entanto, partilhavam um substrato 
comum: o estudo das relações e interações humanas.
Abrangência. As ciências sociais se constituem a partir de 
dois pilares: a teoria e o método. A teoria se ocupa dos princípios, 
conceitos e generalizações; o método proporciona os instrumentos 
necessários para a pesquisa científica dos fenômenos sociais.
A sociologia subdivide-se em disciplinas especializadas: a 
sociologia do conhecimento, da família, dos meios rurais e urbanos, da 
religião, da educação, da cultura etc. A essa lista seria possível 
acrescentar um sem-número de novas especializações, como a sociologia 
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da vida cotidiana, do teatro, do esporte etc., já que os interesses do 
pesquisador se orientam para a compreensão e explicação sistemática, 
mediante a utilização das teorias e dos métodos mais adequados, dos 
aspectos sociais de todos os setores e atividades da vida humana.
Teorias sociológicas. Na sociologia, a teoria é o instrumento 
de entendimento da realidade, dentro da qual se enunciam as leis gerais. 
Difere, por isso, da doutrina social, de cunho normativo e ideológico, e a 
ela se opõe.
As teorias sociológicas enunciadas ao longo dos séculos XIX 
e XX centralizaram-se em algumas questões básicas. Entre elas 
distinguem-se a determinação do que representam a sociedade e a 
cultura; a fixação de unidades elementares para seu estudo; a 
especificação dos fatores que condicionam sua estabilidade ou sua 
mudança; a descoberta das relações que mantêm entre si e com a 
personalidade; a delimitação de um campo; e a especificação de um 
objeto e de métodos de estudos próprios à sociologia.
O desenvolvimento da teoria sociológica pode ser analisado 
de acordo com três grandes temas: os tipos de generalização 
empregados, os conceitos e esquemas de classificação e os tipos de 
explicação.
São seis os tipos de generalização geralmente aceitos: (1)correlações empíricas entre fenômenos sociais concretos; (2) 
generalizações das condições sob as quais surgem as instituições e 
outras formas sociais; (3) generalizações que afirmam que as mudanças 
que determinadas instituições experimentam estão regularmente 
associadas às mudanças que ocorrem em outras instituições; (4) 
generalizações sobre a existência de repetições rítmicas de vários tipos; 
(5) generalizações que enumeram as principais tendências evolutivas da 
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humanidade; e (6) elaboração de leis sobre as repercussões e hipóteses 
relacionadas ao comportamento humano.
A sociologia se mostrou mais fecunda no campo da 
elaboração de conceitos e esquemas de classificação. No entanto, e 
apesar de terem sido criados muitos conceitos, as definições existentes 
continuam ainda insatisfatórias, o que impede a classificação adequada 
das sociedades, dos grupos e das relações sociais, assim como o 
descobrimento de conceitos centrais que permitam a elaboração de uma 
teoria sistemática. Verifica-se que numerosos conceitos foram utilizados 
com significados distintos por diferentes sociólogos. Mais ainda, 
tentativas recentes de aperfeiçoar a base da conceituação atribuíram 
importância excessiva à definição do conceito e relegaram a segundo 
plano sua finalidade fundamental, a utilização.
As teorias de explicação dividem-se em dois tipos principais, 
a causal e a teleológica. A primeira, que seria uma ciência natural da 
sociedade, indaga o porquê dos fenômenos sociais, qual a causa de sua 
ocorrência. A segunda indaga a finalidade dos fenômenos sociais, com 
que objetivo eles ocorrem, e tenta interpretar o comportamento humano 
em termos de propósitos e significados.
Métodos sociológicos. Distinguem-se sete métodos na 
sociologia: histórico, comparativo, funcional, formal ou sistemático, 
compreensivo, estatístico e monográfico. O método histórico ocupa-se do 
estudo dos acontecimentos, processos e instituições das civilizações 
passadas para proceder à identificação e explicação das origens da vida 
social contemporânea.
O método comparativo, considerado durante muito tempo o 
método sociológico por excelência porque permitia a realização de 
correlações tanto restritas como gerais, estabelece comparações entre 
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diversos tipos de grupos e fenômenos sociais com o fim de descobrir 
diferenças e semelhanças.
O método funcional estuda os fenômenos sociais do ponto 
de vista de suas funções. O sistema social total de uma comunidade seria 
integrado por diversas partes inter-relacionadas e interdependentes e 
cada uma delas desempenharia uma função necessária à vida do 
conjunto. Nessa abordagem são evidentes as analogias entre a sociedade 
e um organismo, o que levou seus partidários a tentativas de diferenciar 
o funcionamento normal das instituições e sistemas sociais de seu 
funcionamento patológico.
O método formal, ou sistemático, analisa as relações sociais 
existentes entre os indivíduos, sobretudo no que diz respeito às diversas 
formas que essas relações podem assumir independentemente de seu 
conteúdo. Em completa oposição ao formal, o método compreensivo 
atribui uma importância fundamental ao significado e aos motivos das 
ações sociais, isto é, a seu conteúdo. O método estatístico enfatiza a 
medição matemática dos fenômenos sociais. No entanto, como a maior 
parte dos dados sociológicos é do tipo qualitativo, não se pode adotar 
tratamento estatístico rígido.
Por último, o método monográfico centraliza-se no estudo 
aprofundado de casos particulares: um grupo, uma comunidade, uma 
instituição ou um indivíduo. Cada um dos objetos de estudo deve 
necessariamente representar vários outros para que seja possível 
estabelecer generalizações.
Técnicas sociológicas. Antes de mais nada, é preciso 
estabelecer a diferença entre métodos e técnicas sociológicas. Os 
métodos representam uma opção estratégica e não devem ser 
confundidos com os objetivos da investigação, enquanto as técnicas 
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constituem níveis de etapas práticas de operação limitada, ligadas a 
elementos concretos e adaptadas a uma finalidade determinada. O 
método é, portanto, uma concepção intelectual que coordena um 
conjunto de técnicas.
Entre as principais técnicas utilizadas na investigação 
sociológica figuram as entrevistas, as experiências de grupo, as histórias 
de vida ou de caso e os formulários ou questionários, que podem ser de 
tipo fechado, que oferecem alternativas prévias de resposta, ou aberto, 
que permitem ao entrevistado uma liberdade maior de expressão. Tais 
técnicas não são necessariamente excludentes, pois permitem a 
utilização simultânea e complementar.
Principais correntes sociológicas. De acordo com as 
classificações geralmente aceitas, são cinco as correntes principais da 
sociologia: organicismo positivista, teorias do conflito, formalismo, 
behaviorismo social e funcionalismo.
Organicismo positivista. Primeira construção teórica 
importante surgida na sociologia, nasceu da hábil síntese que Comte fez 
do organicismo e do positivismo, duas tradições intelectuais 
contraditórias.
O organicismo representa uma tendência do pensamento 
que constrói sua visão do mundo sobre um modelo orgânico e tem 
origem na filosofia idealista. O positivismo, que fundamenta a 
interpretação do mundo exclusivamente na experiência, adota como 
ponto de partida a ciência natural e tenta aplicar seus métodos no exame 
dos fenômenos sociais. Assim, os primeiros conceitos da nova disciplina 
foram elaborados de acordo com analogias orgânicas, três das quais são 
fundamentais para a compreensão dessa corrente sociológica: (1) o 
conceito teleológico da natureza, que implica uma postura fatalista, já 
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que as metas a serem alcançadas estão predeterminadas, o que impede 
qualquer tentativa de alterá-las; (2) a idéia segundo a qual a natureza, a 
sociedade e todos os demais conjuntos existentes perdem vida ao serem 
analisados e por isso não se deve intervir em tais conjuntos. Essa noção 
leva, em conseqüência, à adoção de uma atitude de laissez-faire; e (3) a 
crença de que a relação existente entre as diversas partes que compõem 
a sociedade é semelhante à relação que guardam entre si os órgãos de 
um organismo vivo.
Os fundadores da nova disciplina adaptaram essa síntese ao
ambiente social e intelectual de seus países: Auguste Comte, na França, 
Herbert Spencer, no Reino Unido, e Lester Frank Ward, nos Estados 
Unidos. Os três eram partidários da divisão da sociologia em duas 
grandes partes, estática e dinâmica, embora tenham atribuído 
importância maior à primeira. Algumas diferenças profundas, porém, 
marcaram seus pontos de vista.
Comte propôs, para o estudo dos fenômenos sociais, o 
método positivo, que exige a subordinação dos conceitos aos fatos e a 
aceitação da idéia segundo a qual os fenômenos sociais estão sujeitos a 
leis gerais, embora admita que as leis que governam os fenômenos 
sociais são menos rígidas do que as que regulamentam o biológico e o 
físico. Comte dividiu a sociologia em duas grandes áreas, a estática, que 
estuda as condições de existência da sociedade, e a dinâmica, que 
estuda seu movimento contínuo. A principal característica da estática é a 
ordem harmônica, enquanto a da dinâmica é o progresso, ambas 
intimamente relacionadas. O fator preponderante do progresso é o 
desenvolvimento das idéias, mas o crescimento da população e sua 
densidade também são importantes. Para evoluir,o indivíduo e a 
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sociedade devem atravessar três etapas: a teológica, a metafísica e a 
positiva.
Comte não aceitou o método matemático e propôs a 
utilização da observação, da experimentação, da comparação e do 
método histórico. Para Comte, a sociedade era um organismo no qual a 
ordem não se realiza apenas automaticamente; é possível estabelecer 
uma ordem planejada, baseada no conhecimento das leis sociais e de 
sua aplicação racional a problemas e situações concretas.
Spencer, o segundo grande pioneiro, negou a possibilidade 
de atingir o progresso pela interferência deliberada nas relações entre o 
indivíduo e a sociedade. Para ele, a lei universal do progresso é a 
passagem da homogeneidade para a heterogeneidade, isto é, a evolução 
se dá pelo movimento das sociedades simples (homogêneas), para os 
diversos níveis das sociedades compostas (heterogêneas). Individualista 
e liberal, partidário do laissez-faire, Spencer deu mais ênfase às 
concepções evolucionistas e usou com largueza analogias orgânicas. 
Distinguiu três sistemas principais: de sustentação, de distribuição e 
regulador. As instituições são as partes principais da sociedade, isto é, 
são os órgãos que compõem os sistemas. Seu individualismo expressou-
se numa das diferenças que apontou: enquanto no organismo as partes 
existem em benefício do todo, na sociedade o todo existe apenas em 
benefício do individual.
Ward compartilhou das idéias de Spencer e Comte mas não 
incorreu em seus extremos -- individualismo e conservadorismo utópico. 
Deu grande ênfase, porém, ao aperfeiçoamento das condições sociais 
pela aplicação de métodos científicos e a elaboração de planos racionais, 
concebidos segundo uma imagem ideal da sociedade.
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JOSÉ AUGUSTO FIORIN
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Depois da fase dos pioneiros, surgiu o chamado período 
clássico do organicismo positivista, caracterizado por uma primeira etapa, 
em que a biologia exerceu influência muito forte, e uma segunda etapa 
em que predominou a preocupação com o rigor metodológico e com a 
objetividade da nova disciplina.
O organicismo biológico, inspirado nas teorias de Charles 
Darwin, considerava a sociedade como um organismo biológico em sua 
natureza, funções, origem, desenvolvimento e variações. Segundo essa 
corrente, praticamente extinta, o que é válido para os organismos é 
aplicado aos grupos sociais. A segunda etapa clássica do organicismo 
positivista, também chamada de sociologia analítica, foi marcada por 
grandes preocupações metodológicas e teve em Ferdinand Tönnies, 
Émile Durkheim e Robert Redfield seus expoentes máximos.
Para Tönnies, a sociedade e as relações humanas são fruto 
da vontade humana, manifesta nas interações. O desenvolvimento dos 
atos individuais permite o surgimento de uma vontade coletiva. A 
Tönnies deve-se a distinção fundamental entre "sociedade" e 
"comunidade", duas formas básicas de grupos sociais que surgem de 
dois tipos de desejo, o natural e o racional. Segundo Tönnies, não são 
apenas tipos de grupos mas também etapas genéticas -- a comunidade 
evolui para a sociedade.
O núcleo organicista da obra de Durkheim encontra-se na 
afirmação segundo a qual uma sociedade não é a simples soma das 
partes que a compõem, e sim uma totalidade sui generis, que não pode 
ser diretamente afetada pelas modificações que ocorrem em partes 
isoladas. Surge assim o conceito de "consciência coletiva", que se impõe 
aos indivíduos. Para Durkheim, os fatos sociais são "coisas" e como tal 
devem ser estudados.
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
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Provavelmente o sociólogo que mais se aproximou de uma 
teoria sistemática, Durkheim deixou uma obra importante também do 
ponto de vista metodológico, pela ênfase que deu ao método 
comparativo, segundo ele o único capaz de explicar a causa dos 
fenômenos sociais, e pelo uso do método funcional. Afirmou que não 
basta encontrar a causa de um fato social; é preciso também determinar 
a função que esse fato social vai preencher. Sociólogos posteriores, como 
Marcel Mauss, Claude Lévi-Strauss e Mikel Duffrenne, retomaram de 
forma atenuada o realismo sociológico de Durkheim.
Um dos principais teóricos do organicismo positivista, 
Redfield analisou a diferença existente entre as sociedades consideradas 
em sua totalidade e sugeriu a utilização da dicotomia sagrado/secular. 
Em suas análises utilizou, de forma mais avançada e profunda, a grande 
tipologia do organicismo positivista clássico, basicamente 
sociedade/comunidade, e suas diversas configurações.
Teorias do conflito. Segunda grande construção do 
pensamento sociológico, surgida ainda antes que o organicismo tivesse 
alcançado sua maturidade, a teoria do conflito conferiu à sociologia uma 
nova dimensão da realidade. A partir de seus pressupostos, o problema 
das origens e do equilíbrio das sociedades perdeu importância diante dos 
significados atribuídos aos mecanismos de conflito e de defesa dos 
grupos e da função de ambos na organização de formas mais complexas 
de vida social. O grupo social passou a ser concebido como um equilíbrio 
de forças e não mais como uma relação harmônica entre órgãos, não-
suscetíveis de interferência externa.
Antes mesmo de ser adotada pela sociologia, a teoria do 
conflito já havia obtido resultados de grande importância em outras áreas 
que não as especificamente sociológicas. É o caso, por exemplo, da 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
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história; da economia clássica, em especial sob a influência de Adam 
Smith e Robert Malthus; e da biologia nascida das idéias de Darwin sobre 
a origem das espécies. Dentro dessas teorias, cabe destacar o socialismo 
marxista, que representava uma ideologia do conflito defendida em nome 
do proletariado, e o darwinismo social, representação da ideologia 
elaborada em nome das classes superiores da sociedade e baseada na 
defesa de uma política seletiva e eugênica. Ambas enriqueceram a 
sociologia com novas perspectivas teóricas.
Os principais teóricos do darwinismo social foram o polonês 
Ludwig Gumplowicz, que explicava a evolução sociocultural mediante o 
conflito entre os grupos sociais; o austríaco Gustav Ratzenhofer, que 
utilizou a noção do choque de interesses para explicar a formação dos 
processos sociais; e os americanos William Graham Sumner e Albion 
Woodbury Small, para os quais a base dos processos sociais residia na 
relação entre a natureza, os indivíduos e as instituições.
O darwinismo social assumiu conotações claramente racistas 
e sectárias. Entre suas premissas estão a de que as atividades de 
assistência e bem-estar social não devem ocupar-se dos menos 
favorecidos socialmente porque estariam contribuindo para a destruição 
do potencial biológico da raça. Nesse sentido, a pobreza seria apenas a 
manifestação de inferioridade biológica.
Formalismo. A terceira corrente teórica do pensamento 
sociológico, que definiu a sociologia como o estudo das formas sociais, 
independente de seu conteúdo, legou à sociologia um detalhado estudo 
sobre os acontecimentos e as relações sociais. Para o formalismo, as 
comparações devem ser feitas entre as relações que caracterizam 
qualquer sociedade ou instituição, como, por exemplo, as relações entre 
marido e mulher ou entre patrão e empregado, e não entre sociedades 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
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globais, ou entre instituições de diferentes sociedades. O interesse pela 
comparação entre relações permitiu à sociologia alcançar um nível mais 
amplo de generalização e conferiu maior importância ao indivíduodo que 
às sociedades globais. Essa segunda característica abriu caminho para o 
surgimento da psicologia social.
Os dois ramos principais dessa corrente são o formalismo 
neokantiano e o fenomenológico. O primeiro, baseado na divisão 
kantiana do conhecimento dos fenômenos em duas classes -- o estudo 
das formas, consideradas a priori como certas, e dos conteúdos, que 
seriam apenas contingentes -- teve grandes teóricos nos alemães Georg 
Simmel, interessado em determinar as condições que tornam possível o 
surgimento da sociedade, e Leopold von Wiese, que renovou a divisão 
kantiana entre forma e conteúdo quando a substituiu pela idéia de 
relação.
Em oposição à interpretação positivista e objetiva do 
formalismo kantiano, o ramo fenomenológico contribuiu com uma 
perspectiva subjetivista. Concentrou-se não nas formas ou relações que a 
priori determinam o surgimento de uma sociedade e sim nas condições 
sociopsicológicas que a tornam possível. Tem grande importância, 
portanto, o estudo dos dados cognitivos, isto é, das essências que podem 
ser diretamente intuídas, para cuja análise o filósofo alemão Edmund 
Husserl propôs um método de redução a fim de alcançar diversos níveis 
de profundidade.
Behaviorismo social. Surgida entre 1890 e 1910, o 
behaviorismo social se dividiu em três grandes ramos -- behaviorismo 
pluralista, interacionismo simbólico e teoria da ação social -- e legou à 
sociologia preciosas contribuições metodológicas. O behaviorismo 
pluralista, formado a partir da escola de imitação-sugestão representada 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
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pelo francês Gabriel Tarde, centralizou-se na análise dos fenômenos de 
massas e atribuiu grande importância ao conceito de imitação para 
explicar os processos e interações sociais, entendidos como repetição 
mecânica de atos.
Os americanos Charles Horton Cooley, George Herbert Mead 
e Charles Wright Mills são alguns dos teóricos do interacionismo 
simbólico que, ao contrário do movimento anterior, centralizou-se no 
estudo do eu e da personalidade, assim como nas noções de atitude e 
significado para explicar os processos sociais.
O alemão Max Weber foi o expoente máximo do terceiro 
movimento do behaviorismo, a teoria da ação social. Com seu original 
método de "construção de tipos sociais", instrumento de análise para 
estudo de situações e acontecimentos históricos concretos, exerceu 
poderosa influência sobre numerosos sociólogos posteriores.
Funcionalismo. A reformulação do conceito de sistema foi o 
centro de todas as interpretações que constituem a contribuição do 
funcionalismo, última grande corrente do pensamento sociológico e 
integrada por dois importantes ramos: o macrofuncionalismo, derivado 
do organicismo sociológico e da antropologia, e o microfuncionalismo, 
inspirado nas teorias da escola psicológica da Gestalt e no positivismo. 
Entre os adeptos do funcionalismo estão os antropólogos culturais 
Bronislaw Malinowski e A. R. Radcliffe-Brown.
O macrofuncionalismo se caracteriza pela unidade orgânica 
que considera fundamental: os esquemas em larga escala. Foi o italiano 
Vilfredo Pareto quem permitiu a transição entre o organicismo e o 
funcionalismo, quando concebeu o conceito de sistema, conferindo-lhe 
correta formulação abstrata. A forma da sociedade, segundo ele, é 
determinada pela interação entre os elementos que a compõem e a 
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interação desses elementos com o todo, o que implica a existência de 
uma determinação recíproca entre diversos elementos: a introdução de 
qualquer mudança provoca uma reação cuja finalidade é a recuperação 
do estado original (noção de equilíbrio sistêmico).
O microfuncionalismo desenvolveu-se na área de análise dos 
grupos em sua dinâmica e não na área do estudo da sociedade como um 
sistema. O americano Kurt Lewin, com a teoria sobre os "campos 
dinâmicos", conjuntos de fatos físicos e sociais que determinam o 
comportamento de um indivíduo na sociedade, abriu novos caminhos 
para o estudo dos grupos humanos.
COMO SURGIU A SOCIOLOGIA?
A sociologia, ciência que tenta explicar a vida social, nasceu 
de uma mudança radical da sociedade, resultando no surgimento do 
capitalismo. 
O século XVIII foi marcado por transformações, fazendo o 
homem analisar a sociedade, um novo "objeto" de estudo. Essa situação 
foi gerada pelas revoluções industrial e francesa, que mudaram 
completamente o curso que a sociedade estava tomando na época. A 
Revolução Industrial, por exemplo, representou a consolidação do
capitalismo, uma nova forma de viver, a destruição de costumes e 
instituições, a automação, o aumento de suicídios, prostituição e 
violência, a formação do proletariado, etc. Essas novas existências vão, 
paulatinamente, modificando o pensamento moderno, que vai se 
tornando racional e científico, substituindo as explicações teológicas, 
filosóficas e de senso comum.
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
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Na Revolução Francesa, encontra-se filósofos a fim de 
transformar a sociedade, os iluministas, que também objetivavam 
demonstrar a irracionalidade e as injustiças de algumas instituições, 
pregando a liberdade e a igualdade dos indivíduos que, na verdade, 
descobriu-se mais tarde que esses eram falsos dogmas. Esse cenário leva 
à constituição de um estudo científico da sociedade.
Contra a revolução, pensadores tentam reorganizar a 
sociedade, estabelecendo ordem, conhecendo as leis que regem os fatos 
sociais. Era o positivismo surgindo e, com ele, a instituição da ciência da 
sociedade. Tal movimento revalorizou certas instituições que a revolução 
francesa tentou destruir e criou uma "física social", criada por Comte, 
"pai da sociologia". Outro pensador positivista, Durkheim, tornou-se um 
grande teórico desta nova ciência, se esforçando para emancipa-la como 
disciplina científica.
Foi dentro desse contexto que surgiu a sociologia, ciência 
que, mesmo antes de ser considerada como tal, estimulou a reflexão da 
sociedade moderna colocando como "objeto de estudo" a própria 
sociedade, tendo como principais articuladores Auguste Comte e Émile 
Durkheim.
SOCIOLOGIA: FUNCIONALIDADES
A partir do momento em que um ser humano aceita o acordo 
de viver e trabalhar em comum com outros seres humanos, passa a fazer 
parte de uma sociedade. As sociedades humanas podem ser muito 
diversificadas: abrangem uma gama ampla que varia desde as mais 
simples, que sobrevivem até a atualidade no interior remoto de florestas 
e desertos quase inacessíveis, até as mais complexas, como as que 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
19
existem nos países de grande prosperidade econômica e múltiplas 
manifestações culturais.
Nas sociedades mais simples, que se acham em avançado 
processo de extinção, um grupo reduzido de pessoas enfrenta o mundo 
utilizando meios tecnológicos muito primitivos e apoiando-se em 
instituições sociais de extrema singeleza. As sociedades mais complexas 
têm características opostas. Entre elas encontram-se as diversas 
sociedades nacionais e, no grau máximo de complexidade, acha-se a 
sociedade global, planetária, que tem adquirido um perfil cada vez mais 
nítido nas últimas décadas do século XX.
Nessa época, a sociedade global mostrava-se como uma 
realidade que, embora incompleta, englobava praticamente a totalidade 
dos seres humanos numa rede muito técnica e rica de relações 
interpessoais, que abrangem desde os códigos do direito civil às 
convenções internacionais de saudação entre estranhos de diferentes 
nacionalidades que partilham um mesmo elevador; desde o respeitoaos 
sinais de trânsito e a observância dos códigos telefônicos até os tratados 
internacionais políticos, comerciais ou culturais. 
Apesar da evidência dessa realidade, continuava-se a 
considerar a sociedade nacional como a sociedade complexa por 
excelência, à qual se atribuía, provavelmente por inércia, uma 
importância excessiva, ignorando o fato óbvio de que a sociedade global 
ganhava a cada dia mais coesão, independentemente das resistências 
que os antigos interesses nacionalistas opunham a sua consolidação e 
apesar da imensa pluralidade de interesses, vivências, hábitos e visões 
culturais e religiosas de seus elementos constituintes.
A sociologia é a ciência que estuda o homem como ser 
social. O objeto dessa ciência é, portanto, o comportamento social 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
20
humano. A sociologia analisa, por sua natureza, as causas e os efeitos 
das relações entre indivíduos e grupos de indivíduos, como membros de 
uma mesma sociedade.
Evolução histórica da sociologia
Assim que o ser humano começou a refletir sobre o mundo 
que o cercava, sem dúvida teve que observar que vivia junto com outros 
indivíduos, partilhando com eles trabalhos e alimentos, formando 
famílias, clãs e tribos em cujo interior cada pessoa desempenhava um 
papel determinado, definido por sua idade, sexo, relações de parentesco, 
trabalho etc. A reflexão sobre as formações sociais humanas, portanto, 
ocorreu em momento bastante precoce da vida inteligente da 
humanidade. No decorrer da história, os pensadores enfocaram o tema 
social em todas as épocas, a partir de pontos de vista muito diversos: 
analisando, recolhendo conhecimentos anteriores e reestudando-os à luz 
de novas interpretações ou teorizando sobre especificidades políticas, 
jurídicas, filosóficas, históricas e demográficas das diversas sociedades. 
Mas a sociologia, como ciência da sociedade, surgiria apenas depois de 
muitos séculos. A palavra "sociologia" é de criação relativamente recente. 
Em sua concepção moderna, a sociologia deve seu nome a Auguste 
Comte, que o empregou pela primeira vez na década de 1830.
A filosofia clássica grega produziu reflexões sobre a natureza 
e os fins da sociedade. Platão e Aristóteles dedicaram boa parte de sua 
vida e obra ao estudo da estrutura e funcionamento da sociedade na 
qual viveram. Platão até mesmo se permitiu projetar uma formação 
social utópica que considerava perfeita e chegou a fazer algumas 
tentativas fracassadas de pô-la em prática. É de Aristóteles a famosa 
definição do homem como "animal social". Filósofos helênicos, doutores 
da Igreja Católica, teólogos e pensadores medievais, europeus e 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
21
muçulmanos, juristas e geógrafos, todos contribuíram para a criação e o 
desenvolvimento de um rico acervo de pensamento social ao longo de 
mais de vinte séculos.
A partir do Renascimento, e muito especialmente no período 
do Iluminismo, diversos autores europeus aproximaram-se aos poucos e 
cada vez mais do pensamento propriamente sociológico, a partir de 
análises políticas, históricas ou de natureza jurídica ou econômica. As 
ciências experimentais começavam a progredir solidamente e nasceu a 
aspiração de introduzir a utilização do método ciêntífico nas ciências 
humanas. No começo do século XIX, Henri de Saint-Simon defendeu a 
criação de uma consciência positiva que estudasse os fenômenos sociais. 
Mas o criador do termo "sociologia" haveria de ser um de seus discípulos, 
Auguste Comte, um dos fundadores da sociologia científica.
Desde sua origem, a sociologia se nutriu, portanto, de 
contribuições de personalidades que, em princípio, obedeciam a impulsos 
de índole política, como é o caso de John Locke ou Jean-Jacques 
Rousseau, e de critérios tomados de empréstimo a outras áreas do 
saber, como os demográficos, de que Thomas Malthus é um exemplo, e 
os econômicos, como fez Adam Smith.
Comte e os "fundadores": Durkheim, Weber e Pareto
A sociologia chegou à maioridade no período que abrangeu 
as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX. Três 
grandes autores foram os principais responsáveis pelo crescimento e 
consolidação da nova ciência: o francês Émile Durkheim, o alemão Max 
Weber e o italiano Vilfredo Pareto. Durkheim é tido como fundador da 
sociologia moderna. Foi o criador e incentivador da principal escola 
sociológica de seu tempo e seu magistério doutrinário e metodológico 
ainda se estende sobre a produção sociológica de autores do mundo 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
22
inteiro um século depois do surgimento de sua obra capital, As regras do 
método sociológico. Pareto chegou ao domínio da sociologia a partir de 
uma disciplina muito próxima, a economia, e Weber desbravou os 
caminhos do conhecimento próprios das ciências humanas, que nem 
sempre coincidem com os utilizados habitualmente nas ciências 
experimentais.
Desde seus primórdios, o saber sociológico progrediu em 
direções muito distintas e formaram-se escolas muito diversas. As 
tendências do pensamento humanístico geral se incorporaram às teorias 
sociológicas, impondo "modismos" científicos, como o evolucionismo e o 
psicologismo, que deram lugar a interpretações muitas vezes grosseiras, 
forçadas e parciais dos fatos sociais. Assim, por exemplo, as teorias do 
evolucionismo, originalmente estabelecidas nas ciências biológicas, não 
tardaram a ser aplicadas às realidades sociais. Tais colaborações 
desfrutaram de certo prestígio, durante algum tempo, entre os indivíduos 
mais radicalmente tradicionalistas e sectários.
As contribuições e progressos doutrinários e práticos 
adotados por escolas sociológicas se viram afetados profundamente pelas 
distintas concepções políticas, econômicas e filosóficas sobre o ser 
humano e suas construções sociais imperantes em cada época e lugar.
Sociologia contemporânea
Ao contrário da tendência generalizada entre os sociólogos 
europeus, voltada para a elaboração de grandes sistemas teóricos para 
explicar o conjunto dos fenômenos sociais ou pelo menos os fenômenos 
correspondentes a extensos setores da vida social, a obra dos sociólogos 
americanos foi desde o começo orientada para a prática, dotada de 
grande concretude nos temas tratados e capaz de efetuar uma análise 
minuciosa e exaustiva, baseada no estudo direto, de fatos e temas 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
23
específicos. A sociologia empírica, que fez grandes progressos nos 
Estados Unidos nas décadas de 1930 e 1940, alcançou o apogeu na 
Europa ocidental depois da segunda guerra mundial.
Com referência ao empirismo dominante em todo o mundo 
nos estudos sociológicos, difundiram-se frases pretensamente 
engraçadas, como a que diz que "um sociólogo é um cientista que gasta 
cada vez mais dinheiro para estudar segmentos cada vez mais 
irrelevantes na realidade social". Brincadeiras à parte, na segunda 
metade do século XX o trabalho dos sociólogos foi dominado, sem 
dúvida, pelas tendências empíricas. Apesar disso, outras antigas escolas 
sociológicas continuavam ativas nas últimas décadas do século.
A nota mais destacada do progresso sociológico talvez tenha 
sido a fragmentação da sociologia em numerosas ciências especializadas: 
é comum falar de sociologia do trabalho, da marginalização, da vida 
cotidiana, da religião, sociologia eleitoral, sociologia das organizações e 
outras. Mais ainda, a tendência que a sociologia empírica mostra para a 
realização de pesquisas, das quais se extraem dados em grande número, 
obrigou os sociólogos a utilizar com freqüência as estatísticas em seus 
trabalhos.A popularização do uso do computador encontrou na análise 
de dados sociológicos uma de suas aplicacões mais prósperas e 
consistentes.
A sociologia no contexto das ciências humanas
Como sucede com as demais ciências humanas, o domínio 
de estudo da sociologia apresenta muitas coincidências com o de outras 
disciplinas. A sociedade, as relações sociais e a troca social podem ser 
estudadas de pontos de vista propriamente sociológicos, mas também 
podem sê-lo em suas características econômicas, antropológicas, 
psicológicas etc. Por isso, não podem ser inteiramente dissociados os 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
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enfoques de caráter propriamente sociológico daqueles adotados por 
outras ciências afins que complementam sempre o trabalho do sociólogo.
Os autores antigos tinham uma visão predominantemente 
política da sociedade, já que consideravam-na como produto de uma 
união de vontades. Para o sociólogo moderno, no entanto, a concepção 
de sociedade é mais complexa e se dá dentro de uma abordagem 
organicista: considera-se que ela funciona de acordo com uma lógica que 
lhe é própria.
A sociedade se compõe de grupos distintos de indivíduos: 
percebemos em seu interior membros muito diferentes por sua idade, 
trabalho, posses, poder que detêm sobre os demais, tipo físico, 
características raciais e outras inúmeras manifestações da diversidade 
humana. Uma sociedade complexa, como as atuais sociedades nacionais, 
compõe-se de grande variedade de grupos humanos, formados de 
maneiras muito diversas: grupos raciais, econômicos, de poder etc. Um 
mesmo ser humano pode pertencer a vários desses grupos, entre os 
quais as relações são complexas e se acham sempre em equilíbrio 
dinâmico e cambiante.
Uma das divisões em grupos da sociedade que mais gerou 
controvérsias no decorrer da história ainda breve da sociologia refere-se 
às classes sociais. Enquanto alguns autores negam até mesmo sua 
existência, outros baseiam na mecânica das classes sociais sua 
concepção global da sociedade e seus mecanismos, sua evolução 
histórica e seu futuro.
Mudança social
As sociedades não são permanentes. No decorrer da história 
existiram formações sociais nas quais as mudanças, em muitas épocas, 
foram imperceptíveis. Assim, prolongados períodos da história do Egito 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
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25
faraônico parecem, do ponto de vista do observador atual, ter sido
presididos por uma estrutura social estática, sem mudanças, invariável 
em suas forças e componentes institucionais internos. No entanto, 
mesmo as sociedades mais conservadoras e aparentemente imutáveis 
experimentaram sempre tensões e movimentos de mudanças em seu 
interior, que no final conseguiram transformar os alicerces sociais. Se 
essa afirmação é verdadeira em relação às sociedades da antiguidade, 
aplica-se com maior rigor ainda às sociedades contemporâneas, nas 
quais o extraordinário progresso impôs um ritmo de transformação e de 
surgimento e desencadeamento de novos problemas internos, gerou 
tensões e reforçou fatores de mudança social com uma intensidade 
jamais conhecida em outras etapas históricas.
Tornou-se lugar-comum afirmar que a sociedade atual está 
em crise. Entretanto, apesar de trivial e repetitiva, essa afirmação não é 
menos verdadeira. A sociedade do terceiro milênio é com certeza mais 
aberta às transformações, e as forças que a impulsionam a mudar são 
mais poderosas do que as que existiram em qualquer outro momento da 
história.
O progresso tecnológico influiu poderosamente sobre as 
mudanças sociais em nível mundial, mas suas conseqüências não têm 
sido as mesmas em todas as sociedades, nem os processos tiveram a 
mesma intensidade. Assim, o desenvolvimento econômico parece estar 
fortemente enraizado, de forma irreversível, nos países industrializados e 
mais ricos, nos quais, apesar de ocasionais crises econômicas, o avanço é 
quase contínuo. Muitas sociedades mais pobres do Terceiro Mundo, pelo
contrário, experimentam grandes dificuldades para encontrar o caminho 
do progresso.
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
26
As causas que provocam um grau diferente de mudança 
social entre as diversas sociedades são muito complexas. Basta no 
entanto apenas um exemplo para mostrar o nível diferente de impacto 
que um aperfeiçoamento tecnológico pode ter, de acordo com o tipo de 
formação social sobre o qual incida. O surgimento dos antibióticos 
aumentou a duração e a qualidade da vida nos países industrializados; 
quando seu emprego se generalizou nas sociedades subdesenvolvidas, o 
grande número de vidas humanas que tais medicamentos salvaram 
originou como reação problemas adicionais às dificuldades de 
alimentação e emprego que as massas humanas desses países sofrem 
devido à explosão demográfica que contribuíram para criar. Assim, pois, 
a conformação de uma sociedade, seus recursos e organização interna 
podem originar, para as mesmas causas, efeitos de mudança social muito 
diferentes.
Uma sociedade ingressa numa dinâmica intensa de mudança 
social quando os laços tradicionais que seus componentes mantêm entre 
si, sejam eles representados por instituições econômicas, religiosas ou 
culturais, se enfraquecem a tal ponto que os indivíduos se mostram 
dispostos a construir novas relações, adotar outras instituições e 
modificar seu modo de vida e sua conduta. São perceptíveis, em todos os 
países modernos, as mudanças na estrutura familiar, na forma com que 
as crenças se materializam na prática religiosa, na estrutura ideológica 
dominante e, muito particularmente, na realidade econômica. Um 
processo muito intenso de mudanças sociais teve lugar, no final do 
século XX, na quase totalidade do mundo.
Movimentos ideológicos de transformação social
A consciência de que a organização social, num momento 
dado, não é a melhor possível, isto é, que não proporciona o máximo de 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
27
bem-estar e de possibilidades de auto-realização aos componentes da 
sociedade, é comum a todos os períodos históricos. Entretanto, parece 
ter se tornado mais aguda a partir do momento em que a revolução 
industrial despertou nos homens a idéia de "progresso", isto é, a 
concepção de que a sociedade é um todo dinâmico, em permanente 
transformação, e que os recursos materiais de que dispõe aumentam de 
forma indefinida, possibilitando maior bem-estar aos seres humanos e 
um aperfeiçoamento contínuo da sociedade.
A noção de "progresso", ao se incorporar à ideologia dos 
europeus a partir do século XVIII, levou-os a repelir as idéias, antes 
dominantes, de estratificação social, de que as injustiças são inevitáveis, 
de convivência perpétua com a escassez, da pobreza ixexorável da maior 
parte dos seres humanos. A industrialização demonstrou que, do ponto 
de vista material, era possível construir "o paraíso na Terra" e evitar de 
forma permanente a escassez e a fome.
Não foi sem tensões que a idéia de uma sociedade mais 
justa e equitativa se plasmou paulatinamente na realidade. De fato, em 
qualquer progresso social produzem-se desajustes e injustiças. A rápida 
evolução da sociedade industrializada provocou uma série de conflitos, 
nos quais certas camadas sociais reivindicaram -- e algumas vezes 
conquistaram -- novos e melhores níveis de qualidade de vida. A história 
recente da maior parte das sociedades contemporâneas encerra um ou 
mais movimentos revolucionários, que em alguns casos ameaçaram 
romper o tecido social e implantar condições radicalmente novas de 
relacionamento entre pessoas e classes sociais.
Sociedade atual
O intensoprocesso de mudança social que se iniciou na 
Europa há vários séculos continua em fermentação. As atuais sociedades 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
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desenvolvidas -- última etapa, por enquanto, desse processo de mudança 
social -- têm características muito positivas em alguns casos: extensão 
generalizada da alfabetização, previdência social universal, média elevada 
de duração da vida, incorporação da mulher ao mercado de trabalho e a 
outras atividades sociais em desvantagem cada vez menor em relação ao 
homem, estabilidade social e econômica no caso dos países de 
"capitalismo avançado" e bem-estar material de amplas camadas sociais.
Entretanto, em sua complexidade, as sociedades 
desenvolvidas se revestem também de características que não podem 
deixar de ser consideradas negativas. Uma delas é que, embora 
englobem apenas uma parcela minoritária da humanidade, as sociedades 
desenvolvidas, em função precisamente das necessidades de seu 
desenvolvimento ou da tecnologia de que dispõem, detêm a quase 
exclusividade da exploração dos recursos naturais do planeta. Essa 
situação ocorre em detrimento daquelas sociedades que possuem tais 
recursos, mas carecem dos meios de se beneficiarem deles.
No final do século XX, o modelo econômico e social a que 
aspirava a maioria dos habitantes do planeta era, em linhas gerais, 
representado pelos países capitalistas mais desenvolvidos. Entretanto, as 
sociedades mais ricas tentam encontrar soluções para os problemas que 
surgiram em seu interior, como a delinqüência, a violência urbana, o uso 
de drogas, a marginalização de amplos setores, o racismo, o consumismo 
descontrolado e a falta de solidariedade social.
Embora a "mão invisível" do sistema de mercado tenha 
demonstrado sua eficácia para a conquista do crescimento econômico ao 
longo de muitas décadas, tem ainda que oferecer soluções melhores para 
o problema global que se apresenta com intensidade cada vez maior: a 
limitação das reservas dos recursos de toda ordem: matérias-primas, 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
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energia, espaço, alimentos, atmosfera, água potável etc. Outro grave 
problema para o qual o sistema social não soube ainda oferecer solução 
plenamente satisfatória é o da acelerada automação e robotização, que 
dispensa cada vez maiores contingentes de mão-de-obra humana. As 
sociedades desenvolvidas, porém, baseiam grande parte da justificação 
da existência humana no trabalho. Como tornar compatível a escassez do 
trabalho com a necessidade psicológica, social, ideológica, econômica e 
moral que dele sente o indivíduo é um tema no qual as sociedades 
modernas começam a dar os primeiros passos, encaminhando-se para 
um mundo no qual exista um equilíbrio entre trabalho e lazer.
As sociedades pouco desenvolvidas, nas quais o sistema 
produtivo é ineficiente e as estruturas sociais em grande parte ainda 
estão por se modernizar, sofrem também de modo peculiar os problemas 
próprios das sociedades ricas mas, sobretudo, enfrentam dificuldades 
ainda maiores advindas das desigualdades sociais que provocam grande 
instabilidade interna e dificultam o funcionamento democrático das 
instituições políticas. Muitas dessas sociedades se encontram divididas 
em duas partes distintas: uma minoria modernizada e uma maioria na 
qual predominam as atitudes e modos de vida tradicionais. Em alguns 
casos o panorama negativo se complementa com a fome generalizada, a 
incapacidade de deslanchar o processo de crescimento econômico, a 
superpopulação e muitos outros problemas de extrema gravidade.
O processo de modernização econômica, por ser incompleto, 
provoca grandes problemas sociais, como a superpopulação das cidades. 
Se a migração de camponeses para os grandes centros urbanos constitui 
sintoma revelador de modernização social, já que pressupõe que grandes 
contingentes da população se inserem nos circuitos econômicos 
modernos e se desligam de seus condicionantes ideológicos tradicionais, 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
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a incapacidade das grandes cidades de absorvê-los cria por sua vez 
subculturas pré-modernas, marginalização, desvinculação dos laços com 
o resto da sociedade e delinqüência. O controle das doenças infecciosas, 
desvinculado de uma mudança na ideologia tradicional favorável a uma 
alta taxa de natalidade ("ter muitos filhos para que pelo menos um 
sobreviva"), provoca uma explosão demográfica que uma economia 
raquítica, lenta em seu ritmo de expansão, não tem condições de 
absorver.
Esses e muitos outros problemas caracterizam a maior parte 
das sociedades pobres e o otimismo que imperava no meado do século 
XX a respeito de sua pronta solução não se confirmou nos anos 
posteriores. Apesar desse quadro negativo, algum avanço foi 
conquistado. No fim da década de 1980, as taxas de crescimento 
populacional começaram a diminuir em muitas regiões do mundo, 
enquanto grandes países asiáticos antes identificados com a fome, como 
a Índia e a China, pareciam ter superado esse problema.
No tratamento dos diversos problemas das sociedades 
atuais, o trabalho do sociólogo e a contribuição das teorias sociológicas 
adquiriram uma importância crescente. Embora não existam medidas 
seguras ou receitas aplicáveis a qualquer caso, os governos podem, 
mediante técnicas sociológicas, intervir em diferentes áreas da vida 
social. Essas técnicas de intervenção tiveram progresso especial nos 
setores da publicidade e da opinião pública, que servem para orientar e 
conhecer as preferências de consumo e as tendências ideológicas.
Até aqui foram abordadas algumas especificidades da 
sociologia, assim como uma visão do mundo atual, contemplado de um 
ponto de vista sociológico. Mas os fenômenos humanos que podem ser 
objeto de estudo da sociologia são muito numerosos e diversos.
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
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Os fenômenos humanos e a sociologia
A sociologia é pois uma forma de abordar o mundo, que 
privilegia certos aspectos e despreza outros, ou seja, seleciona da 
realidade o objeto de seu interesse, da forma mais adequada para esta 
ou aquela finalidade. Encara as pessoas não do ponto de vista de sua 
especificidade, mas como atores de relações sociais, que desempenham 
certos papéis movidos por certos elementos motivadores. As relações 
sociais, por sua vez, podem ser entendidas de maneiras distintas, de 
acordo com o propósito do estudioso: seja no contexto das classes entre 
as quais se estabelecem, seja em âmbitos mais restritos, núcleos 
menores ou microcosmos que se definem dentro da realidade mais ampla 
da sociedade global.
Do que foi dito se deduz, assim, que um traço característico 
que define com maior rigor os estudos sociológicos é precisamente a 
grande diversidade de enfoques e contribuições que se estabelecem em 
seu âmbito. O principal desafio para o sociólogo é portanto a delimitação 
de meios de observação e gestão para compreender uma área concreta 
das sociedades.
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
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32
SOCIOLOGIA RURAL
PECUÁRIA
O pastor nômade que vigia seu rebanho nas planícies 
do norte da África, o cowboy americano que caça e domestica 
mustangues, o peão das grandes fazendas de gado do Centro-
Oeste brasileiro e o lapão que conduz seu trenó acompanhando 
a migração das renas através da tundra ártica praticam a 
pecuária, atividade comum aos mais diversos povos, em todos 
os tempos.
Pecuária é a técnica e a prática da criação, 
manutenção e aproveitamento dos animais domesticados para 
deles obter tração, transporte, carne, leite, lã, couro e outros 
produtos,que podem ser consumidos in natura ou servirem de 
matéria-prima para a indústria. De acordo com a classificação 
internacional das atividades econômicas utilizada pela 
Organização das Nações Unidas (ONU), a pecuária inclui não 
somente a criação dos mamíferos ruminantes conhecidos 
comumente como gado, mas de todos os animais para cuja 
manutenção o homem concorre e deles extrai algum produto. 
Assim, pode-se dividir a pecuária em criação de grandes 
animais (bovinos, eqüinos, suínos, caprinos, ovinos etc.) e 
pequenos animais (aves, coelhos, peixes, bicho-da-seda, 
abelhas etc.). Há animais de criação circunscrita a regiões 
geográficas bem determinadas, como a lhama e a alpaca, na 
região andina; a rena, nas regiões subárticas; o camelo e o 
dromedário, nas regiões desérticas da Ásia e da África; e o 
iaque, nos planaltos do Himalaia.
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA. A atividade pecuária teve 
início no período neolítico, há cerca de dez mil anos. A 
implantação dos primeiros estabelecimentos dedicados à 
pecuária foi fruto da necessidade de obter uma fonte segura e 
perene de alimento em forma de carne, leite etc., assim como 
de muitos outros produtos, como peles, ossos e chifres, usados 
na fabricação de agasalhos e utensílios. Vestígios das primeiras 
experiências de domesticação foram encontrados em 
escavações arqueológicas realizadas no Oriente Médio, onde se 
criaram, entre outras espécies, cabras, ovelhas e vacas. Dessa 
forma, o homem deixou de ser um mero predador, que 
dependia da caça para obter proteínas animais, e transformou-
se em guardião e senhor dos rebanhos de diversas espécies de 
animais herbívoros que até então se mantinham em estado 
selvagem.
A tendência gregária de alguns animais, seus hábitos 
alimentares e sua mansidão favoreceram o empreendimento de 
domesticação, para o qual o homem lançou mão de seus dons 
de observação e sua capacidade de adaptação às condições que 
o meio ambiente lhe impunha. De início, o pastor se limitava a 
seguir os rebanhos em seus deslocamentos periódicos em busca 
de pastos. Nos tempos atuais sobrevivem culturas como as dos 
tuaregues e beduínos da região do Magreb, que são 
basicamente nômades, mas o progresso e a evolução das 
condições de vida tornam essa atividade de subsistência cada 
vez mais rara.
Uma variação do nomadismo é a transumância,
deslocamento temporário e sazonal do gado em busca de novos 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
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34
terrenos onde pastar, que foi importante durante a Idade Média 
em alguns reinos europeus, como o de Castela, onde surgiu, no 
século XIII, uma poderosa e influente corporação pecuarista 
conhecida como Mesta. Na época do estio, o gado era 
transferido das zonas planas, assoladas pelas secas, para os 
pastos de vales montanhosos e planaltos, onde os rebanhos 
podiam obter alimento em quantidade suficiente. O 
deslocamento do gado se fazia pelas canhadas, caminhos 
utilizados estação após estação, que se encontravam sob 
proteção do rei.
Além de fornecer carne e outros produtos, algumas 
espécies domesticadas foram empregadas na execução de 
tarefas agrícolas, com o que se vinculou a pecuária à 
agricultura, numa associação que se consolidou cada vez mais 
com o passar do tempo. Assim, o esterco do gado começou a 
ser usado para adubar as lavouras, e os restos vegetais 
procedentes das colheitas se converteram em alimento para os 
animais nos meses de inverno e períodos de estiagem. As 
atividades de agricultura e pecuária se complementaram 
perfeitamente e juntas passaram a fornecer os meios de 
subsistência básicos à comunidade.
O aperfeiçoamento dos métodos de manutenção, 
alimentação e controle veterinário dos animais, atividades que 
se desenvolveram paralelamente à industrialização, 
favoreceram o aumento da produção pecuária. Esse incremento 
tornou possível satisfazer a crescente demanda de proteínas 
animais que o aumento da população e sua concentração nos 
grandes centros urbanos geraram. Em grandes porções de terra 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
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das antigas colônias européias da América, África e Austrália, a 
pecuária se tornou uma das principais atividades econômicas.
PECUÁRIA DE GRANDES ANIMAIS
Técnicas de exploração. A pecuária tradicional é de 
tipo extensivo, que demanda grandes áreas destinadas à 
pastagem, onde os animais vagam quase livremente. Na 
pecuária intensiva, o número de cabeças de gado é alto em 
relação ao espaço. Nesse segundo tipo de exploração, muito 
ligado ao setor agrícola, é determinante o emprego da 
tecnologia e de sistemas de racionalização da produção com o 
objetivo de obter alto rendimento. Na pecuária extensiva, é 
habitual o regime de transumância, ou rotatividade dos pastos. 
Na pecuária intensiva, o gado é mantido estabulado e é 
alimentado artificialmente, com ração balanceada, o que 
favorece duplamente a engorda: pela administração dos 
nutrientes adequados e pela limitação imposta à movimentação 
dos animais. Além desses dois tipos básicos de tratamento do 
gado, há outros que reúnem características de ambos.
Alimentação. O gado necessita da ingestão diária de 
uma série de substâncias nutritivas básicas, cuja quantidade 
difere segundo a espécie, raça, idade etc. Tais substâncias são 
carboidratos ou açúcares, gorduras, proteínas, vitaminas e 
minerais, que fornecem ao animal não apenas a matéria-prima 
a ser utilizada na formação de seus tecidos, mas também a 
energia necessária às diversas funções orgânicas, 
deslocamentos e outras atividades.
A proteína é de grande importância, pois a produção 
de carne dependerá do teor protéico do alimento e de sua 
SOCIOLOGIA RURAL: BREVE INTRODUÇÃO
JOSÉ AUGUSTO FIORIN
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assimilação e aproveitamento pelo organismo. As gorduras são, 
antes de tudo, compostos muito energéticos, armazenadas pelo 
corpo como reserva alimentícia; constituem também parte 
fundamental na composição do leite. As vitaminas, necessárias 
em quantidades mínimas, são indispensáveis não só para a 
conservação dos tecidos, mas também para a realização de 
grande número de reações biológicas e metabólicas e para a 
prevenção de certos desequilíbrios.
A necessidade de elementos minerais na alimentação 
dos animais varia: alguns, como o cálcio, o fósforo, o magnésio 
e o potássio, são necessários em maiores quantidades, 
enquanto outros só em concentrações mínimas. Esses últimos 
são elementos biogenéticos que em doses ínfimas atuam como 
catalisadores de determinados processos vitais. Assim, o 
manganês, o zinco e o ferro aceleram algumas reações 
biológicas sem nelas interferir. Alguns minerais, como o cálcio e 
o fósforo, que compõem o esqueleto, são parte integrante da 
estrutura corporal, e outros atuam como ativadores das 
enzimas. Em doses elevadas, muitos minerais se tornam tóxicos 
para o gado.
Utilizam-se diversos produtos como fontes de 
alimento natural na pecuária, principalmente plantas forrageiras 
como a alfafa; cereais em grão como a cevada, o milho e a 
aveia; farelo, procedente da casca de diversos cereais; 
leguminosas; raízes e tubérculos; feno e palha. Empregam-se 
também concentrados protéicos que visam a incluir na dieta, a 
baixo custo, a quantidade recomendável de proteínas. A maior 
parte desses concentrados se compõe de subprodutos de 
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processos industriais, como a extração do óleo de sementes 
oleaginosas. Entre os mais usados pelos pecuaristas vale citar: 
as tortas de soja e de amendoim; a farinha de ossos, com alto 
teorde fósforo, cálcio e outros minerais, além de proteína; e a 
farinha de peixe, obtida pela secagem e trituração de restos de 
peixes e que também possui elevada concentração de sais 
minerais. Também se conseguiu uma notável melhoria na 
alimentação do gado graças à elaboração de rações compostas, 
misturas de substâncias nutritivas de procedência variável a 
que se adicionam diferentes fatores corretores, minerais etc., a 
fim de assegurar a nutrição completa e equilibrada dos animais.
O problema da alimentação envolve grande número 
de questões pois, além da ingestão dos principais elementos 
nutritivos em quantidades ótimas, devem-se levar em conta 
muitos outros fatores fisiológicos, metabólicos, a apresentação 
do alimento etc. A capacidade de digestão dos alimentos, por 
exemplo, varia muito de uma espécie para outra. Os 
ruminantes, como vacas e ovelhas, possuem microrganismos 
que lhes permitem digerir a celulose e, desse modo, aproveitam 
mais a fibra vegetal que outros animais. Há animais que 
mastigam com rapidez, como os porcos, e cuja assimilação de 
nutrientes é favorecida se o alimento for previamente triturado. 
Além disso, ocasionalmente se registram gastos energéticos e 
perdas que variam muito de acordo com a espécie, raça e idade 
do animal. Nos animais jovens, esses gastos são sensivelmente 
maiores, devido ao crescimento e à intensa atividade 
metabólica.
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Tão importante quanto a administração de elementos 
nutritivos é sua proporção correta e adequada. Assim, uma 
alteração na relação de cálcio e fósforo pode ser até mesmo 
mais prejudicial do que a carência de qualquer dos dois 
minerais. No caso dos animais produtores de leite, certos 
alimentos estimulam a secreção láctea, enquanto outros podem 
até provocar alterações na cor do leite e, assim, prejudicar sua 
comercialização, razão pela qual não devem ser incluídos na 
alimentação das vacas leiteiras antes da ordenha.
SELEÇÃO. A seleção, a reprodução do gado e a 
obtenção de raças e variedades mais produtivas também se 
tornaram objeto de grande interesse com a expansão da 
pecuária. A mecanização de certos processos, a inseminação 
artificial, a elaboração de novos métodos de tratamento dos 
animais e a melhoria das condições de confinamento do gado 
produziram altos índices de rendimento em muitos países. A 
seleção dos animais que vão integrar o rebanho matriz, cujas 
características genéticas deverão produzir um modelo fixado, se 
dá de acordo com um dos seguintes processos:
(1) SELEÇÃO DE MASSA. Baseada apenas nas 
características individuais do animal, a seleção de massa ou 
fenotípica consiste em escolher um grupo de animais que 
apresenta a característica que se deseja ver transmitida aos 
descendentes, depois do que se procede ao cruzamento. A 
seleção é repetida na segunda geração. A seleção de massa é o 
processo seletivo mais freqüentemente empregado.
(2) SELEÇÃO POR PEDIGREE. Feita com base nas 
características dos ascendentes de determinado indivíduo, a 
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seleção por pedigree é geralmente falha, pois dois animais 
descendentes dos mesmos antepassados, isto é, de idêntico 
pedigree, nunca possuem as mesmas características genéticas, 
a não ser quando univitelinos.
(3) SELEÇÃO POR FAMÍLIA. Em zootecnia, 
denomina-se família o grupo no qual o inter-relacionamento 
genético é elevado, comparado com o restante dos animais de 
mesma raça que formam o rebanho. Uma família pode ser, 
então, formada por um grupo de parentes colaterais, ou por 
descendentes de um mesmo tronco, mas não pela mesma linha 
de filiação. Como a seleção se faz pelas qualidades de diversos 
indivíduos pertencentes ao mesmo tronco, as características 
não-hereditárias tendem a ser suprimidas, e os indivíduos 
tornam-se geneticamente mais uniformes do que no caso da 
seleção de massa. A seleção por família aplica-se mais 
comumente a animais que possuem, como os porcos, alta taxa 
de reprodutividade.
(4) SELEÇÃO PELA PROGÊNIE. A escolha feita com 
base nas características dos descendentes diretos denomina-se 
seleção por progênie. Animais cujos descendentes apresentam 
características consideradas boas são mantidos no rebanho; em 
caso contrário, são eliminados. A seleção por progênie é lenta, e 
aplica-se principalmente quando se deseja selecionar animais 
com características cuja transmissão hereditária é baixa.
Sistemas de cruzamento. Depois de efetuada a 
escolha do rebanho matriz, decide-se de que forma os animais 
selecionados deverão ser cruzados. Os sistemas de cruzamento 
podem variar desde o acasalamento endogâmico, isto é, entre 
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indivíduos estreitamente aparentados (primos-irmãos, no 
máximo), até o acasalamento híbrido ou heterogâmico, isto é, 
entre animais de raças ou espécies diferentes.
A endogamia perfeita produz geralmente excelentes 
resultados na primeira geração. A endogamia imperfeita precisa 
de alguns anos para produzir modificações distintas nos 
descendentes. Denomina-se cruzamento linear a combinação de 
endogamia, comumente imperfeita, com seleção. Aplica-se para 
preservar e concentrar as boas características de um ancestral, 
pelo cruzamento de indivíduos com ele aparentados. A 
endogamia e o cruzamento linear aumentam a pureza genética, 
dando origem a famílias homogêneas, mas entranha o perigo do 
aparecimento de caracteres recessivos indesejáveis, causando 
um declínio no mérito do indivíduo, o que pode ser evitado 
procedendo-se a seleções intermediárias.
A heterogamia produz, não raramente, uma progênie 
que ultrapassa em vigor e vitalidade os troncos paternos. O 
vigor híbrido pode, no entanto, ser perdido pelo cruzamento 
entre si dos primeiros descendentes. Este inconveniente supera-
se satisfatoriamente pelo cruzamento retrógrado e alternado de 
duas raças, ou pelo cruzamento rotativo de três raças. A 
heterogamia vem sendo usada com sucesso na produção de 
animais para o corte, pois produz resultados mais rápidos e 
econômicos. Quando levado a suas últimas possibilidades, como 
no cruzamento de jumento com égua, produz híbridos estéreis.
INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL. A fecundação de uma 
fêmea, além dos métodos de cruzamento, pode ser feita com 
vantagem por inseminação artificial. O método foi descoberto 
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pelos árabes, que há muitos anos o utilizam na criação de 
cavalos. Na Europa e na América só começou a ser 
intensivamente utilizado na década de 1940. A inseminação 
artificial permite o uso extensivo de machos selecionados, pois 
muitas fêmeas podem ser fecundadas por um mesmo macho. 
Permite também a verificação das qualidades de maior número 
de descendentes de um mesmo reprodutor, em menor espaço 
de tempo e em condições ambientais variadas. Os testes da 
progênie são mais rigorosos se os descendentes pertencerem a 
um maior número de rebanhos.
A inseminação artificial pode ser mais econômica que 
a reprodução natural, e evita ao fazendeiro a tarefa árdua, 
custosa e delicada de manter um reprodutor em boas 
condições. Além disso, devidamente aplicada, é um meio eficaz 
de controle de doenças infecciosas e de certos tipos de 
esterilidade. O largo uso de pequeno número de reprodutores 
de grandes méritos individuais torna possível uma seleção 
bastante mais rigorosa, desde que as fêmeas sejam também 
cuidadosamente escolhidas para o aprimoramento do rebanho. 
O criador, com muito maior rapidez, pode modificar 
completamente as características hereditáriase o mérito de 
toda uma população animal, indo muito além dos limites de 
variação possível da população original. O aprimoramento exige 
o reagrupamento dos animais segundo a nova combinação de 
genes, a fim de tornar coletivas certas características que antes 
apareciam apenas em animais isolados.
PRINCIPAIS REGIÕES DE PECUÁRIA. Na Europa, 
as principais áreas pecuaristas dividem-se entre o Reino Unido, 
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França, Itália, o norte do continente, Polônia e Romênia. A 
Rússia se destaca mundialmente por seus rebanhos de gado 
bovino, eqüino, suíno e ovino.
No continente americano, onde logo se adaptaram 
muitas variedades de espécies européias, a pecuária se tornou 
muito difundida e alguns países se destacam como grandes 
produtores mundiais. Os Estados Unidos, por exemplo, se 
tornaram um dos maiores criadores de gado bovino e suíno, 
assim como o Brasil. A Argentina destacou-se por sua grande 
produção de gado bovino, eqüino e caprino. O México também 
atingiu índices notáveis na produção de gado bovino e suíno.
A China e a Índia são os dois grandes produtores da 
Ásia. A primeira conta com grandes rebanhos de gado suíno, 
caprino, bovino e eqüino, enquanto na segunda são 
especialmente numerosos os rebanhos bovino e caprino. Outras 
regiões que se destacam por suas atividades no setor são a 
Turquia e o Paquistão. No continente africano, a pecuária se 
encontra relativamente pouco desenvolvida e alcançam índices 
significativos apenas a Nigéria, com um numeroso rebanho 
caprino, a Etiópia, com uma notável produção caprina e bovina 
(embora reduzida pela seca), a África do Sul e o Marrocos. Na 
Austrália e na Nova Zelândia a pecuária ovina, seguida da 
bovina, é a mais importante do ponto de vista econômico.
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AGRICULTURA
A posição de domínio da espécie humana na Terra 
seria inconcebível se não lhe tivesse ocorrido, desde seus 
primeiros ensaios de vida em grupo, metodizar e incrementar a 
extração de alimentos que a natureza espontaneamente lhe 
dava. O surgimento de técnicas de plantio e, a seguir, de 
criação de animais foi o pilar central da formação de sociedades 
estáveis em que o homem passou de coletor, ou predador, a 
construtor engenhoso da sobrevivência grupal.
O conjunto dessas técnicas deu forma à mais antiga 
das artes, que iria transformar-se, ao passar dos séculos, numa 
ciência de leis codificáveis e em renovação permanente: a 
agricultura, palavra que deriva do latim ager, agri (campo, do 
campo) e cultura (cultura, cultivo) -- o modo de cultivar o 
campo com finalidades práticas ou econômicas.
ORIGENS E DESENVOLVIMENTO 
Todos os indícios sugerem que a agricultura surgiu 
independentemente em várias regiões do planeta. No tocante 
ao cultivo das principais espécies, acredita-se que tenha 
despontado em três grandes áreas: a China, o Sudeste Asiático 
e a América tropical. Povos europeus e africanos podem ter 
iniciado por conta própria o cultivo de algumas plantas, com 
que complementariam a caça e a pesca. Além das três áreas 
fundamentais citadas, talvez se deva acrescentar o nordeste da 
África, onde prosperou a poderosa civilização egípcia, vários 
milênios antes da era cristã.
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No Velho Mundo, a agricultura surgiu em zonas 
áridas ou semi-áridas, tirando partido das margens úmidas dos 
rios, para lutar contra a escassez das chuvas. Na América, a 
agricultura desenvolveu-se principalmente em planaltos pouco 
chuvosos onde hoje estão a Bolívia, o Peru, o México e o 
extremo sul dos Estados Unidos. Atribui-se a data muito remota 
o início do cultivo de alguns tubérculos no sopé dos Andes. E é 
certo que, do lado oposto, nas huacas peruanas do litoral, 
encontram-se, em níveis arqueológicos que remontam a cerca 
de 2000 a.C., algumas plantas já cultivadas, como a pimenta, a 
abóbora e o feijão.
Na árida costa peruana, a agricultura se fazia e se faz 
em terras regadas por rios provenientes dos Andes. Em época 
posterior teve início o cultivo do milho, o cereal americano por 
excelência, cultivado desde os grandes lagos norte-americanos 
até o Chile. No Brasil, os índios o plantavam também. As 
espigas, na origem, eram pequeníssimas e equivaliam, no 
tamanho, a uma moeda moderna. Na gruta dos Morcegos, no 
Novo México, Estados Unidos, pode-se observar, nas sucessivas 
camadas arqueológicas, como elas se tornaram 
progressivamente maiores, graças à seleção das mais graúdas 
para o plantio. De suma importância para os índios, o milho -- e 
outros vegetais, como a batata, o amendoim, a mandioca e o 
fumo -- foi uma das grandes dádivas que a América 
proporcionou ao resto do mundo.
Em muitas civilizações, o desenvolvimento da 
agricultura não tardou a associar-se ao da criação de animais. A 
existência de excedentes de alimentos permitia manter junto 
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aos núcleos de povoação um número expressivo de cabeças de 
gado, com o que se acelerou o processo de domesticação das 
espécies. Tudo isso acarretou mudanças profundas na vida 
humana, que passou a orientar-se, cada vez mais, pelos ciclos 
agrícolas. A necessidade de registrar a duração dos períodos de 
semeadura, crescimento e colheita estimulou o 
desenvolvimento da astronomia e do calendário, assim como a 
medição dos campos contribuiu para que se fixassem princípios 
de geometria e matemática. Os fatos relacionados à agricultura 
adquiriram significado religioso e festivo, dando origem a 
tradições e ritos.
O MUNDO ANTIGO. Graças ao plantio metódico de 
alimentos floresceram as antigas civilizações da Caldéia, Assíria, 
China, Índia, Palestina, Grécia e Roma. Em 2800 a.C. os 
chineses já usavam o arado, incentivados pelo imperador Cheng 
Nung, tido por fundador de sua agricultura. Os chineses 
cultivavam o arroz, o sorgo, o trigo e a soja, da qual tiravam 
subprodutos, e também criavam o bicho-da-seda para 
empregar seus fios no fabrico de tecidos de grande valor. Com 
o tempo, passaram a exportá-los para o Império Romano, e em 
tal quantidade que Tibério proibiu o uso da seda, para evitar a 
catastrófica evasão do ouro.
Na Índia, Caldéia, Assíria, Arábia, Pérsia, Etiópia e 
outras partes, igualmente remoto foi o início do cultivo de 
outras plantas cuja importância econômica nunca cessou de 
crescer, como mangueira, figueira, pessegueiro, romãzeira, 
pereira, videira, cafeeiro, cravo, pimenta, canela.
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IRRIGAÇÃO. Muitos povos pré-históricos 
aprenderam desde cedo a controlar a água, a fim de distribuí-la 
em seus campos no momento oportuno, ou de ampliar a área 
cultivada. Assim surgiu a irrigação, com técnicas às vezes 
elaboradas: canais, feitos de bambu, de barro cozido ou de 
pedra; comportas; túneis para transposição de bacias; 
aquedutos; noras para elevar a água etc. Em muitas regiões, o 
homem construiu, de longa data, terraços com costados de 
pedra seca. Essa paisagem caracteriza o mundo rural 
mediterrâneo, como também, de modo mais espetacular, os 
Andes peruanos e o Sudeste Asiático.
No Mediterrâneo, onde os verões extremamente 
secos começam entre 15 de junho e 15 de julho, um sistema de 
rotação bienal de terras, implantado na antiguidade, manteve-
se até a época contemporânea graças a seu perfeito 
ajustamento às condições ecológicas da região. A produção de 
cereais em campos arados dá ênfase aos trigos de inverno, 
semeados no outono e que, à chegada da rigorosa estiagem, já 
estão próximos da

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