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trabalho saude mental: 1conferênia nacional de saude mental 1987

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Graduação em Enfermagem
1° Conferência Nacional de Saúde Mental de 1987
Rio de Janeiro
2015
 
1° Conferência Nacional de Saúde Mental 1987.
Trabalho apresentado como exigência da disciplina de Saúde Mental do Curso de Graduação em Enfermagem da turma 731 Ministrado pela Professora do Centro Universitário Celso Lisboa. 
Rio de Janeiro
2015
INTRODUÇÃO
A história tenta nos ajudar a compreender nossas imperfeições. Olhar para o nosso passado como nação e para o de nossa especialidade pode nos auxiliar refazer caminhos assim como na psiquiatria do passado, que buscava respostas desde seus tempos primeiro. O grande passo para o progresso cientifico da psiquiatria ocorreu apenas no século XVIII com os estudos do médico francês Philippe Pinel, o qual instituiu reformas humanitárias para o cuidado com os doentes mentais.
No caminho do grande desenvolvimento cientifico a psiquiatria teve um ritmo mais lento. Não podemos deixar de citar algumas civilizações antigas tais como: Babilônia e Egito que descrevem alguns transtornos mentais, mesclando explicações místicas e religiosas em suas descrições. Na Grécia antiga algumas doenças mentais eram vistas como sendo vinganças dos DEUSES, porém com o materialismo grego.
Durante o período medieval e a inquisição da igreja católica romana os doentes mentais eram torturados e queimados, sob a alegação de que necessitavam serem destruídos, pois estariam possuídas por demônios.
Hipocrates (460-377 A.C) por muitos chamado o pai da medicina, foi o primeiro a afirmar que a epilepsia era uma doença cerebral e, sabiamente, dizia que a cura das doenças se dá coma participação principal da própria natureza, sendo os médicos apenas auxiliares para os processos de cura. Para ele o cérebro era o órgão central e principal do corpo humano, de onde provinham os pensamentos e as emoções.
O primeiro momento de preocupação efetiva com o doente mental no Brasil foi em 1841,quando se autorizou, por decreto, a construção de hospício. Em 1852,onze anos depois foi inaugurado o hospício Pedro II,o qual recebeu, de imediato,144 pacientes. No século XX, o estado Brasileiro optou por delegar grande parte do atendimento hospitalar ao doente mental a iniciativa privada, cabendo a ele, estado, pagar e fiscalizar. Não fiscalizou e, a semelhança do ocorrido no resto do mundo, boa parte destes serviços superlotaram e se deterioraram.
DESENVOLVIMENTO
Em junho de 1987, como desdobramento da histórica 8a Conferência Nacional de Saúde de 1986, ocorreu, na cidade do Rio de Janeiro, a I Conferência Nacional de Saúde mental (CNSM).
A Conferência foi realizada em um clima de intensas discussões e o seu relatório final ficou para a história do movimento da reforma psiquiátrica, que fez prevalecer suas teses em praticamente todos os temas.
No tema I – Economia, Sociedade e Estado: impactos sobre a saúde e doença mental, o relatório analisa apontando para a necessidade de se ampliar o conceito de saúde, considerando em seus determinantes as condições materiais de vida. Destacamos o seguinte trecho:
Situando a saúde mental no bojo da luta de classes, podemos afirmar que seu papel tem consistido na classificação e exclusão dos ‘incapacitados’ para a produção. É urgente pois o reconhecimento da função de dominação dos trabalhadores de saúde mental e a sua o modelo econômico altamente concentrador brasileiro, apontando em junho de 1987, como desdobramento da histórica 8a conferência nacional de saúde de 1986, ocorreu, na cidade do rio de janeiro, a i conferência nacional de saúde mental (CNSM) revisão crítica, redefinindo seu papel, reorientando a sua prática e configurando a sua identidade ao lado das classes trabalhadoras.
No tema II – Reforma Sanitária e reorganização da assistência à saúde mental, o relatório reafirma as teses do Movimento Sanitário, introduzindo a especificidade da saúde mental no contexto de suas diretrizes e princípios, apontando para a constituição de um Sistema Único de Saúde, com garantia da participação popular. No plano assistencial, aponta para os mesmos princípios já consagrados, tais como reversão da tendência hospitalocêntrica, com prioridade para o sistema extra hospitalar.
Por fim, no tema III – Cidadania e Doença mental: direitos, deveres e legislação, o relatório reafirma, também, teses do Movimento Sanitário, sugerindo inclusões no texto constitucional no que se refere ao direito à saúde e propondo reformulações da legislação ordinária que trata especificamente da saúde mental, ou seja: Código Civil; Código Penal e legislação sanitária; propõe, ainda, modificações na legislação trabalhista, considerando a interface trabalho/ saúde mental.
O texto do relatório demonstra uma estreita vinculação entre o Movimento Sanitário e o Movimento da Reforma Psiquiátrica. Ambos tratam a saúde como uma questão revolucionária, no eixo da luta pela transformação da sociedade. Aponta, especificamente, aos trabalhadores de saúde mental, a necessária revisão de seu papel de agentes de exclusão e de dominação, para reorientá-lo na direção de uma identidade com os interesses da classe trabalhadora. Estão presentes nesse documento oficial, não apenas propostas técnicas, mas argumentos e proposições que engajam o processo de transformação de um setor especifico da saúde, a saúde mental, em uma luta que transcende essa especificidade, vinculando-a à luta pela transformação da sociedade. Mas foi apenas mais um documento oficial, talvez o primeiro que colocou a questão da saúde mental nessa perspectiva da luta entre os interesses de classes. 
O Modo Psicossocial e a I Conferência Nacional de Saúde Mental conceitua o Modo Psicossocial de acordo com quatro parâmetros fundamentais, que podemos definir, sucintamente, nos seguintes termos:
 em relação à concepção do objeto e dos meios de trabalho preconiza a implicação subjetiva do usuário, o que pressupõe a superação do modo de relação sujeito-objeto característico do modelo médico e das disciplinas especializadas que ainda se pautam pelas ciências positivas. Preconiza-se, ao mesmo tempo, a horizontalização das relações interprofissionais como condição básica para a horizontalização das relações com os usuários e a população da área;
 no que diz respeito às formas de organização das relações intrainstitucionais preconiza-se a sua horizontalização, com a distinção obrigatória entre as esferas do poder decisório, de origem política e as esferas do poder de coordenação, de natureza mais operativa. Esta reorientação das relações intrainstitucionais vai na mesma direção das relações especificamente interprofissionais e faz parte dos requisitos necessários para o exercício da subjetivação singularizada que é meta cara ao Modo Psicossocial;
 quanto à forma como a instituição se situa no espaço geográfico, no imaginário e no simbólico o Modo Psicossocial preconiza antes de tudo a integralidade das ações no território. Além disso ao preconizar o posicionamento da instituição como espaço de interlocução, como instância de ‘suposto saber’ e, ao fazer dela um espaço de absoluta e intensa porosidade em relação ao território, praticamente subverte a própria natureza da instituição como dispositivo. A natureza da instituição como organização fica modificada e o local de execução de suas práticas desloca-se do antigo interior da instituição para tomar o próprio território como referência.
A instituição, enquanto equipamento, posiciona-se num foco em que se entrecruzam as diferentes linhas de ação no território e para onde podem remeter-se as primeiras pulsações da Demanda;
 destacando a ética dos efeitos das práticas em saúde mental, o Modo Psicossocial preconiza a superação da ética da adaptação, que tem seu suporte nas ações de tratamento como reversibilidade dos problemas e na adequação do indivíduo ao meio e do ego à realidade. Ao propor suas ações na perspectiva de uma ética de duplo eixo, que considera por um lado a relação sujeito-desejoe por outro a dimensão carecimento-Ideais1, deixa firmada a meta da produção de subjetividade singularizada, tanto nas relações imediatas com o usuário propriamente dito, quanto nas relações com toda a população do território.
Retornando às proposições da I CNSM, em primeiro lugar merece destaque a proposta de ampliação do conceito de saúde, incluindo em seus determinantes as condições gerais de vida. Além de sua sintonia com os princípios gerais da Reforma Sanitária, podemos indicar, ainda, o alinhamento dessa preocupação com as do campo da Atenção Psicossocial, que insistem, de modos diversos, na reformulação da concepção do ‘objeto’ das práticas em saúde mental. Essa ampliação da definição é sem dúvida um bom ponto de partida para tal reformulação.
Outra proposição que deve ser sublinhada diz respeito à exigência da participação popular na saúde mental. Além de uma proposta coerente com a ética da participação geral do cidadão na vida social, é fundamental percebermos sua coerência com a ética da Atenção Psicossocial. Uma série de evidências apontam as relações diretas existentes entre as formas da organização intrainstitucional e as formas como essa instituição (através de seus agentes) se dirige e se relaciona com a clientela e a população de sua área de ação. Se nas práticas da Atenção Psicossocial a exigência da superação do paradigma sujeito- objeto é um objetivo fundamental parece mais do que justificado que a participação popular nas instituições seja elevada à categoria de dispositivo necessário, não apenas contingente. Por outro lado, o Modo Psicossocial propõe que a ética da implicação subjetiva e sociocultural dos usuários das instituições de saúde mental nos conflitos e contradições que os atravessam, fazendo-os procurarem ajuda, seja um componente essencial da Atenção. Essa implicação do sujeito na sua situação específica nunca poderia ser realizada se, no contexto mais amplo da sua existência, o exercício dessa implicação lhe fosse negado. No Modo Psicossocial o engajamento subjetivo e sociocultural são indissociáveis da definição de saúde mental.
Um terceiro aspecto, que é oportuno sublinhar, refere-se à conclamação dos trabalhadores da área a reverem os riscos, ou mesmo, a efetivação do seu papel de agentes de exclusão e dominação, ao mesmo tempo propondo sua reorientação na direção dos interesses da classe trabalhadora. Esta é mais uma proposição que ultrapassa os interesses ético-políticos globais. Sua tradução nos pressupostos do Modo Psicossocial exige um percurso um pouco mais complexo. Antes de tudo é preciso firmarmos uma conceituação de Sociedade como articulação de interesses contraditórios, num processo político-social que Gramsci denominou Processo de Estratégia de Hegemonia (PEH). A seguir temos de recorrer a uma das proposições importantes do Modo Psicossocial, que conceitua as práticas em saúde mental neste momento histórico, como conjunto articulado (nos mesmos termos do PEH), podendo aí designar-se dois pólos bem configurados e com lógicas contraditórias: o Modo Asilar e o Modo Psicossocial.
 	Uma vez colocados na situação de trabalhadores de saúde mental não há como escapar ao alinhamento com uma dessas lógicas. É fácil demonstrar que a lógica asilar é perfeitamente congruente com a do Modo Capitalista de Produção, na qual os interesses dos usuários são inequivocamente subordinados aos interesses do Hospital. A proposição de se alinhar com os interesses dos usuários é, portanto, uma exigência inadiável dos que pretendem fazer das práticas em saúde mental dispositivos alternativos ao Modo Asilar; ou seja, práticas capazes da produção de subjetividade singularizada, em que os lucros principais das ações de produção de saúde sejam apropriados pelos usuários das instituições, como pólo socialmente subordinado.
Observamos, de modo geral, como parece justo esperar por tratar-se da I CNSM, uma ênfase em proposições na esfera político-ideológica e no âmbito jurídico. Pode-se notar claramente, agora, como ali se tratava de produzir bases para as propostas e experiências práticas que viriam, na seqüência, exercitar outras lógicas contrárias à asilar. Deve-se registrar, ainda, que a proposição antimanicomial, que vai atravessar os passos de boa parte das práticas da Reforma Psiquiátrica, até os dias de hoje, já se apresenta aí bem clara e plenamente afirmada.
CONCLUSÃO
É de extrema importância que a Enfermagem discuta sobre a revisão da formação profissional, com proposta para a reforma curricular dos profissionais da saúde considerando os parâmetros da reforma psiquiátrica. Construção de espaços de acolhimento e cuidado, flexíveis e que façam uma ponte com outros setores, principalmente assistência social, educação, cultura. Trabalhando na perspectiva de uma rede intersetorial. Com uma boa formação o acadêmico de enfermagem pode garantir no futuro um bom cuidado, com intuito de preencher esse espaço na lacuna da história que por muitas vezes marginalizou esse pacientes. Não podemos esquecer que somos futuros formadores de opinião, com avanço da medicina nos trará um cuidado mais especifico que irá ajudar na recuperação social desses pacientes.
" Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: Vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas ajuizadas". 
"É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade..."
Nise da Silveira
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Anexos
REFERENCIAS
http://pensador.uol.com.br/autor/nise_da_silveira/
http://www.scielo.br/pdf/rprs/v29n2/v29n2a02.pdf
http://www.polbr.med.br/ano02/wal0902.php
http://fotonahistoria.blogspot.com.br/2013/06/o-triste-hospital-psiquiatrico-da_8654.html
http://www.psiquiatriageral.com.br/educacaomedica/historia_psiquiatria.htm
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/CNS_mental.pdf
http://www2.assis.unesp.br/revpsico/index.php/revista/article/viewFile/46/88
http://dev-sus20anos.datasus.gov.br/SUS20ANOS/index.php?area=030602
http://www.revispsi.uerj.br/v10n2/artigos/html/v10n2a17.html
http://www.scielo.br/pdf/rprs/v29n2/v29n2a02.pdf
http://www.ipub.ufrj.br
http://www.fundamentalpsychopathology.org/uploads/files/revistas/volume07/n1/o_inicio_da_assistencia_aos_alienados_no_brasil.pdf
http://www.ccs.saude.gov.br/vpc/reforma.html
http://www.ufrgs.br/bioetica/psiqpes.htm
http://portal.fiocruz.br/pt-br/search/site/saude%20mental

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