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Psicanálise e a História da Loucura

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Universidade Estácio de Sá
Caroline Trautmann Ferreira Azevedo
Teorias e Sistemas Psicológicos II
Niterói
09 de Outubro de 2018
Universidade Estácio de Sá
Aluna: Caroline Trautmann Ferreira Azevedo
Professora: Ana Lucia Ribeiro
Curso: Psicologia
3º Período
Fichamento do cápitulo 1 e 2 da apostila referente a disciplina.
Capitulo 1 
Freud e a Psicanálise
Sigismund Schlomo Freud, mais conhecido como Sigmund Freud, foi um médico neurologista criador da psicanálise. Freud nasceu em uma família judaica, em Freiberg in Mähren, na época pertencente ao Império Austríaco. Nasceu em 6 de maio de 1856, Příbor, República Checa e faleu em 23 de setembro de 1939, Hampstead, Reino Unido.
Nos tempos de Freud, foi a partir das manifestações histéricas que uma teoria da neurose foi sendo construída. Mas o que a histeria tem a ver com a neurose?
O surgimento da psicanálise que o texto Estudos sobre a Histeria, escrito entre 1893 e 1895, constituiu o primeiro texto freudiano de cunho psicanalítico. Para entender o contexto social e histórico em que se delinearam estes estudos e as descobertas, terá que voltar para o passado, aos anos finais do século XIX. Naquele final de século, a Europa é varrida por uma epidemia: a grande maioria das mulheres de diferentes classes sociais apresentava uma série de estranhos
sintomas: Convulsões que simulam epilepsia; Falas delirantes; Paralisias em regiões do corpo que não eram explicadas pela neurologia; Alterações de sensibilidade de fala; Situações de nudismo; Alterações de visões, entre outros. Neste período, esses quadros clínicos já eram atendidos nas clínicas e nos hospitais, ao contrário de séculos anteriores quando essas mulheres eram interrogadas pela inquisição e classificadas de bruxas. Durante a Idade Média, morreram aproximadamente 50 mil delas por terem um “pacto com o demônio”.
Freud, a partir do atendimento das mulheres que apresentavam esses quadros clínicos, esboçou uma teoria do inconsciente e construiu o que seria depois a psicanálise. 
O que se tem, nessa época, é a consciência da diferença entre o louco e o não louco. Tinha-se então uma diferença que servia como uma denúncia da loucura, mas não uma definição que justificasse sua especificidade e suas formas de aparição. Foi o filósofo francês Renée Descartes que elaborou um entendimento inicial, gerando não somente um conceito de loucura, mas uma visão do mundo que impõe o irredutível. Foucault diz que a loucura é uma produção do século XVIII, por meio dos seus saberes, das suas práticas, das suas instituições. E que o louco é o efeito da convergência de, principalmente, duas séries: a série asilar e a série médica. No entendimento de Foucault, com o saber psiquiátrico, a produção da loucura acabou criando não somente um conjunto de práticas de dominação e controle, como a elaboração de um saber. O saber, nesse caso, não funcionava no sentido de encontrar alguma razão que explicasse porque o homem enlouquecia, mas de apontar quem era louco e quem não era. Nesse sentido que o diagnóstico psiquiátrico era absoluto e verdadeiro e não tinha a intenção de ser um diagnóstico diferencial. O louco passou a ser interrogado, já que não apresentava uma doença no corpo, tinha que encontrar alguma pista hereditária, localizada na família do louco. 
Enquanto a maioria dos médicos da época se recusa a tratar a histeria acreditando tratar-se de simulação, Sigmund Freud faz avanços usando a hipnose. Sua principal paciente é uma jovem (Susannah York) que não bebe água e é atormentada diariamente pelo mesmo pesadelo. Huston conseguiu articular as descobertas de Freud com as próprias experiências pessoais do psicanalista como, por exemplo, a teoria sobre o Complexo de Édipo com base na relação com o seu pai morto. O caminho percorrido por Freud conjugou teoria e prática, ou seja, a psicanálise se constituiu como efeito de uma série de articulações entre saberes e práticas. 
Voltando ao século XIX, o esforço da psiquiatria ainda estava voltado a encontrar um critério seguro para distinguir a loucura da simulação. Afinal, o psiquiatra era capaz de identificar a loucura, mas não sabia o que ela era;
A Hipnose
 Anton Mesmer, doutor em medicina pela Universidade de Viena, pressupos de que os seres animados eram sujeitos às influências magnéticas porque os corpos, dos animais e do homem eram dotados das mesmas propriedades que o ímã. Mesmer experimentou clinicamente a eficácia do magnetismo e substituiu o ímã, que era usado para fins terapêuticos, pelo seu próprio corpo. Acreditou que não havia necessidade de ímãs, bastando o contato de sua mão para que o efeito terapêutico fosse alcançado, o que lhe atribuiu muito êxito e reconhecimento. Anton Mesmer propunha a magnetização em grupo e, para isso, colocava várias pessoas dentro de uma tina com água, magnetizando-as em conjunto, para que o fluido magnético que se espalhava pela tina atingisse todos os que nela se encontravam mergulhados? Essa técnica se popularizou como fluidismo e foi condenada pela comunidade científica da época que levou às ultimas consequências suas decisões (muito às cegas) chegando a condenar Mesmer ao charlatanismo. 
A conclusão da comissão foi que não existia nenhum fluido magnético e que a cura se dava por efeito da imaginação. Ou seja, o efeito de sugestão, que atribuiu o fator charlatanismo à terapêutica
do mesmerismo vai se constituir no princípio da técnica hipnótica empregada inicialmente por Freud. Com isso, abandonam o mesmerismo e, a partir da metade do século XIX, surge a hipnose como uma nova técnica, que inventada por James Braid, ficou durante muito tempo conhecida por braidismo. Nessa nova técnica, o efeito obtido depende apenas do estado físico e psíquico do paciente. E quando obtido o efeito hipnótico, o médico exerce todo o poder e passa a dispor inteiramente do corpo do paciente. O psiquiatra passa a dispor de um controle sobre a mente e sobre o corpo do doente e esse domínio sobre o corpo permite tanto a eliminação de sintomascomo a domesticação do comportamento. É a domesticação do comportamento reforçada pelos estudos neurológicos que chamará a atenção de Charcot. Ele ficará atento ao fato de que a existência ou não de lesão anatômica relativa a determinados sintomas compunha, para a psiquiatria do século XIX, um fator de extrema importância. É nesta época que se formam dois grandes grupos de doenças: aquelas com uma sintomatologia regular e que remetiam a lesões orgânicas identificáveis pela anatomia patológica, e aquelas outras – as neuroses – que eram perturbações sem
lesão e nas quais a sintomatologia não apresentava a regularidade desejada. No início, Charcot entendeu o problema da histeria com essa visão de um correlato orgânico das suas manifestações, e posteriormente, modifica seu ponto de vista ao afirmar que a histeria é, como tantas outras esfinges, uma doença que escapa às mais penetrantes investigações anatômicas. 
Foi o fator sugestivo da terapêutica hipnótica que colocou em dúvida os aspectos de sintomatologia bem definida e regular da histeria, já que o médico podia obter um conjunto de sintomas por meio de seu poder de sugestão sobre o paciente. Para superar esse impasse Charcot elaborou a teoria do trauma, conduzindo a uma terapêutica hipnótica idêntica ao desempenhado na situação traumática, com a diferença apenas de não ser o estado traumático permanente. O que aconteceu foi surpreendente para as pesquisas da época. O fato de que o trauma em questão não é de ordem física, gerou a necessidade de o paciente narrar sua história pessoal para que o médico pudesse, então, localizar o momento traumático responsável pela histeria. Foi assim que Freud partiu para a construção da teoria do trauma psíquico. Oque não durou muito tempo, pois logo percebeu que, se ficasse sustentando uma terapêutica fundamentada no trauma e na ab-reação, conforme Joseph Breuer havia desenvolvido e acreditado em seu potencialcatártico e libertador, não avançaria na elaboração de uma teoria psicanalítica que repercutisse sua experiência clínica.
Se Freud tivesse persistido na teoria do trauma, os aspectos da sexualidade infantil e do Édipo não poderiam fazer sua entrada em cena, porque no trauma os sintomas neuróticos permanecem dependentes de um acontecimento traumático real que os produziu, e isso não é o que acontece nas fantasias edipianas da criança. O entendimento do sofrimento por meio do trauma poderia eliminar o sintoma, mas não conseguiria remover a causa. Então, Freud tenta encontrar uma solução e propõe que empregasse o método elaborado por Joseph Breuer, que consistia em fazer o paciente remontar, sob efeito hipnótico, à pré-história psíquica da doença a fim de que fosse possível localizar o acontecimento traumático que originou o distúrbio. Freud acrescenta uma novidade à técnica empregada por Breuer, qual seja: em vez de manter-se passivo diante da torrente de fatos narrados pela sua paciente não procurando influenciá-la em nada, mas apenas esperando que ela própria chegasse às suas retenções e produzisse a ab-reação, Freud passou a empregar a sugestão diretamente como meio terapêutico. Freud assim o fez por entender que assim chegaria aos fatos traumáticos, tal como fazia Breuer, porém, fazendo uso da sugestão poderia eliminá-los ou pelo menos debilitar sua força patogênica. 
Os estudos de Freud prosseguiram ao ponto de descobrir novos entendimentos. Um desses entendimentos que se tornou fundamental na elaboração da teoria psicanalítica foi a noção de defesa. Porém, provocou o afastamento de Breuer. Algo importante de observar é que Freud só teve pleno acesso ao fenômeno da defesa quando abandonou a técnica da hipnose. Todos os indícios que poderiam ter-lhe sugerido a existência de algo ficavam vedados pelo próprio método que empregava, e esses indícios só se transformariam em evidência após o abandono desse método.
Assim, sem que Freud soubesse, o procedimento hipnótico tinha se tornado um obstáculo ao fenômeno que iria ser um dos pilares da teoria psicanalítica, ou seja, a defesa. Mais tarde Freud atribuirá a este termo o conceito de recalcamento. E acrescentará que o recalcamento, como a parte mais essencial da psicanálise, nada mais é senão uma formulação teórica a respeito de um fenômeno que somente pode ser observado quando em análise, sem que se recorra à hipnose. A partir dessa nova técnica que dispensa a hipnose que inicia a história da psicanálise propriamente dita. É quando Freud abandona a hipnose e entende que seus pacientes precisam valer-se da lembrança do fato traumático, causador dos sintomas, que se depara com o fator resistência, tanto a respeito de sua insistência quanto dos esforços do paciente em lembrar. A resistência impedia que as ideias patogênicas se tornassem conscientes.
Freud entende que a própria concepção de terapia deveria ser modificada, que seu objetivo não poderia mais consistir simplesmente em produzir a ab-reação do afeto, mas em tornar conscientes as ideias patogênicas e possibilitar a elaboração. E é nesse momento que começa a se operar a passagem do método catártico para o método psicanalítico.
A sexualidade obteve tamanha importância, tanto para a compreensão da
neurose como para a compreensão do indivíduo normal, torna-se cada vez mais
central em Freud, tendo sido este um dos motivos de seu rompimento com Breuer.
Recalcamento
Freud diz que, recalcamento é o pilar fundamental sobre o qual descansa o edifício da psicanálise; muitos autores traduziram o recalcamento como a pedra angular da psicanálise.
Quanto ao termo repressão refere-se a uma ação que é exercida sobre alguém, a partir da exterioridade; enquanto que recalque designa aquele que seria um processo intrínseco ao próprio eu. Por isso, o termo que mais corresponde ao sentido proposto por Freud como correspondente a um processo interno, seria recalque ou recalcamento. No entanto, devemos ter em mente que embora o processo seja interno, não prescinde de forma alguma dos acontecimentos externos pelos quais passa o sujeito ao longo da sua vida. E os aspectos externos ao sujeito seriam representados pela censura e pela lei.
A resistência foi interpretada por Freud como sendo um sinal externo de uma defesa (abwer), com o intuito de que se mantivesse fora da consciência a ideia ameaçadora. A defesa é exercida pelo Eu sobre um conjunto de representações que despertariam sentimentos de vergonha e dor.
Com a publicação de A Interpretação do Sonho, que será o momento em que o conceito de recalcamento adquire um posicionamento mais preciso por meio da distinção entre inconsciente e consciente, ambos entendidos como sendo sistemas psíquicos.
A ideia de que o sistema psíquico é dinâmico está presente nesta questão, quando
se entende que o caminho em direção à satisfação pode acabar produzindo mais
desprazer do que propriamente prazer. A respeito da satisfação da pulsão, é preciso levar em conta a "economia" presente no processo. Assim, se levar em conta a presença das instâncias psíquicas, você poderá notar que aquilo que dá prazer em algum lugar, pode vir a ser extremamente desprazeroso em outro, sendo que desta forma fica estabelecida a "condição para o recalque": é preciso que a potência do desprazer seja maior do que o prazer da satisfação. Aprendemos com Freud que o recalque está a serviço da satisfação pulsional e não contra ela. O recalque impede a passagem da imagem à palavra, embora isso não elimine a representação, não destruindo, inclusive, a sua potência significante. 
Em outras palavras: o recalque não elimina progressivamente o inconsciente, ao contrário, o constitui. E esse inconsciente constituído pelo recalque continua insistindo no sentido de possibilitar uma satisfação da pulsão. Assim o recalque é ao mesmo tempo um mecanismo do sistema pré-consciente-consciente, contra os efeitos do inconsciente, bem como o mecanismo responsável pela divisão do aparato psíquico em inconsciente e pré-consciente-consciente.
Capítulo 2
A descobera Freudiana: o inconsciente
Freud é responsável pela substituição da noção descritiva de inconsciente pelo conceito de
inconsciente sistemático. Além deste momento fundamental, Freud apresentará uma construção topológica do aparelho psíquico, constituindo a primeira tópica freudiana, isto é, a concepção do aparelho psíquico formado por instâncias ou sistemas: o sistema inconsciente, o pré-consciente/consciente.
Propõe então como metáfora para o aparelho psíquico, o modelo de um microscópio composto: uma máquina fotográfica. Ao imaginar o aparelho psíquico como uma máquina fotográfica, Freud nomeia as diferentes lentes de instâncias ou sistemas, esclarecendo que não precisamos fazer a suposição de um arranjo espacial, basta que estabeleçamos uma sequência fixa, uma direção que demarque, durante certos processos psíquicos, os sistemas sejam percorridos pela excitação num encadeamento temporal determinado. É atribuído ao aparelho psíquico uma extremidade sensível e uma motora. Na extremidade sensível, há um sistema que recebe as percepções, pois nossa atividade psíquica parte de estímulos (internos ou externos), e na extremidade motora há outro que abre as comportas da motilidade, de modo que as setas indicam a direção dos processos psíquicos. As percepções, contudo, não são imediatamente encaminhadas para as vias motoras, daí a metáfora da máquina fotográfica: existem várias lentes, várias instâncias que se interpõem nesse percurso.
O primeiro sistema do aparelho recebe os estímulos perceptivos, mas nada conserva deles. P absolutamente não tem memória, tampouco pode conservar quaisquer marcas para associação, pois P seria impedido em sua função de receptor se o resto de uma ligação anterior se afirmasse contra uma nova percepção. Por trás dele, há um segundo sistema que transforma a excitação momentânea, recebida por P, em traços permanentes ou mnêmicos (Mn), nas palavras de Freud.
Freud elucida que a memória conserva não só o conteúdoque chega pela percepção, mas também uma associação de traços mnêmicos, a partir de uma possível simultaneidade.
Assim, tal como postulado a partir da noção de trilhamentos, vemos que a
memória não se configura apenas por traços isolados (modificações permanentes),
mas por ligações, conexões, trilhas, associações que não estão em P, que nada conserva,
mas sim no próprio sistema mnêmico. As associações se fariam também de acordo com as facilitações ou trilhamentos já existentes no sistema mnemônico. Os traços mnêmicos fariam parte da instância denominada inconsciente, estado em que – como Freud observa – podem produzir os mais diversos efeitos.
Subsequente ao sistema inconsciente, estaria o pré-consciente, instância que guarda o registro do que é passível de se tornar consciente e que tem a chave da atividade motora. Entre inconsciente e pré-consciente há uma forte censura pela qual cada representação terá que passar para chegar à consciência (o inconsciente não tem acesso à consciência exceto pelo pré-consciente), porém, essa é uma passagem que obriga seu processo excitatório a tolerar alterações. Para passar pela censura, muitas vezes a representação mnêmica terá que passar por grandes alterações, para não ser reconhecida pela consciência. O pré-consciente submete o material inconsciente a uma crítica, resultando disso uma exclusão da consciência. Ele se encontra entre o inconsciente e a consciência como um anteparo a esta última, mantendo com ela íntima relação. Esta instância crítica é identificada como aquilo que guia nossa vida de vigília e decide sobre nosso agir consciente, voluntário, estando situada na extremidade motora.
Um estado psíquico que chega à pré-consciência ainda não é consciente, mas pode tornar-se objeto da consciência ao ultrapassar a resistência entre pré-consciente e consciência; resistência essa que é menos rigorosa, mais frágil que a existente entre inconsciente e pré-consciente.
Há um movimento linear e unívoco pelas instâncias psíquicas, pois a censura existente entre inconsciente e pré-consciente faz muitas das representações não continuarem seu caminho pelo sistema, ou seja, em estado inconsciente são barradas pela censura, não alcançando a consciência. Há uma regressão no interior do aparelho psíquico que se articula ao princípio do prazer em uma tentativa de satisfazer-se no interior do aparelho – não visando ao mundo externo – e evitando qualquer possibilidade de desprazer. Embora seja uma forma imediata de aliviar a tensão, ele pode gerar desprazer, pois ao retornar ao psiquismo ele encontra desamparo, porque o objeto da suposta satisfação não está mais lá, só restaram suas marcas. A esse retorno ao aparelho psíquico, que nega a entrada da ideia na consciência, Freud nomeia recalque, esclarecendo que a ideia apenas não chega a ser consciente, mas continua a produzir efeitos. Freud nos ensina também que, para que
a ideia chegue à consciência e burle a censura, são estabelecidas transformações, como disfarces que possibilite a ideia passar pela censura sem que seja reconhecida.
Freud vale-se do sonho para nos falar das vias de alterações possíveis, destacando
a condensação e o deslocamento. No deslocamento, as intensidades (ou o afeto) de cada representação se tornam capazes de escoamento e passam de uma representação a outra, formando algumas representações dotadas de grande intensidade.
Com a repetição desse processo, a intensidade de toda uma cadeia de ideias pode se reunir em um único elemento representacional. Já na condensação, a intensidade de uma representação é movida para outra, que ganha assim o poder de representá-la, ao mesmo tempo em que a encobre. 
Assim, a consciência terá acesso a um material distorcido que vem revelar e velar algo da memória inconsciente, onde se encontram os ancoramentos subjetivos de cada sujeito, que são colhidos na cultura que o circunda. Podemos dizer que o pré-consciente também traz uma memória, porém uma memória sustentada em vestígios da memória inconsciente e profundamente marcada pela distorção. Essa memória pré-consciente que se assemelha à noção de inconsciente da psicologia como aquilo que está fora do campo da consciência, mas acessível a ela, nos indica uma memória enquanto função do aparelho psíquico e não em seu caráter radical de fundação e estruturação do psiquismo. Quando falamos em memória na psicanálise, não nos referimos àquilo que o sujeito consegue se lembrar pela via da consciência (como pré-consciente, por exemplo), mas a uma dimensão que mesmo sem o conhecimento ganha o estatuto de ato, memória impregnada na própria experiência; não se trata, portanto, de um conhecimento a que se está consciente, mas de uma dimensão que funciona encarnada em quem dela se apropria. Dimensão de memória viva, que constitui um sujeito, que é ao mesmo tempo efeito dela e responsável por ela.
O inconsciente consiste de representantes pulsionais coordenados entre si, que coexistem sem influência mútua, não contradizendo uns aos outros. Freud nomeia de representante pulsional a soma da ideia (representação) ao afeto (intensidades psíquicas), destacando que apenas a ideia é passível de recalque, pois o afeto mantido livre associa-se a outra representação ou é transformado em angústia, chegando à consciência ainda que deslocado da ideia originária ou qualitativamente transformado. Aqui se faz primordial citarmos uma importante definição que pinçamos no texto O inconsciente e que muito nos interessa: ideias são investimentos – de traços mnemônicos, no fundo –, enquanto os afetos e sentimentos correspondem a processos de descarga, cujas expressões finais são percebidas como sensações.
As representações pulsionais não contradizem umas às outras, o que equivale a dizer que no inconsciente vigora a lógica do paradoxo. Não há contradição e sim diferentes ideias e afetos que se afirmam ao mesmo tempo, sem que um anule o outro. Amor e ódio, alegria e tristeza, prazer e desprazer e uma infinita rede de pares antitéticos convivem e coexistem lado a
lado. Com isso, vemos que o princípio da unidade e da contradição se aplica apenas à consciência, de forma que toda construção de uma identidade, que afirma determinados atributos em detrimento de outros, parte da lógica segregacionista da consciência.
A representação permanece inconsciente, recalcada, viva, ativa, produzindo efeito, se articulando a novas representações e experiências, até encontrar uma representação que não seja reconhecida pela censura, e que possa assim ter livre acesso a consciência.
No inconsciente existem apenas conteúdos mais ou menos investidos em busca de descarga.
A negação é efeito do trabalho da censura, pois o conteúdo recalcado de uma ideia pode abrir caminho até a consciência sob a condição de ser negado. Freud explica que a negação é um levantamento do recalque, uma forma de tomar conhecimento do recalcado sem precisar aceitá-lo e se haver com ele.
Ao adjudicar ou recusar uma coisa, o juízo admite ou contesta a uma representação
a existência na realidade consciente. Apropria-se dela como parte de si, ou a lança para fora, não a reconhecendo como íntima. Daí a premissa de que o reconhecimento do inconsciente pode se exprimir numa fórmula negativa.
 O sujeito nega algo que nele se afirma no inconsciente, sem, contudo, suportar tal verdade.
Há mobilidade nos processos de investimento, ou seja, a energia é livre podendo circular entre as representações. Desse modo, por meio do processo de deslocamento, uma representação pode ceder à outra todo o seu montante de investimento e pelo de condensação pode acolher todo o investimento de várias outras representações em si. Isso equivale a dizer que no inconsciente vigora o processo primário, o afeto que está originalmente ligado a uma representação recalcada
pode unir-se a outra ideia, passando a ser tido pela consciência como manifestação desta última, ou ainda, pode produzir diversos derivados e organizações, cadeias associativas que permanecem inconscientes.
Assim, um objeto fóbico pode condensarem si uma série de afetos que, por vezes, o próprio sujeito reconhece como estranho. Como no caso Hans, citado anteriormente, em que a fobia de cavalos aparecia em substituição ao pai, há uma impossibilidade intelectual de justificar o medo e angústia que surgem diante do objeto (ou da possibilidade de seu encontro), evidenciando a articulação que
esse afeto mantém com a representação inconsciente. Do mesmo modo vemos na cultura manifestações brutais contra alguns grupos minoritários, como assistimos ainda, por exemplo, com relação aos homossexuais. Alguns atos de extrema violência pautados em um discurso de ódio e intolerância à diferença irrompem no tecido social. Embora muitas agressões direcionadas ao homossexual sejam realizadas por um sujeito, elas revelam o retorno da outra cena velada e camuflada pela cultura, que ergue um tabu, impossibilitando que a sexualidade e suas diversas
possibilidades de vivência sejam acolhidas como parte integrante da cultura. 
O processo primário se opõe ao processo secundário. O processo secundário, próprio dos mecanismos conscientes, trabalha com fixação, ligando afeto e representação como se fossem dois lados de uma mesma moeda. A morte de um objeto amado evidencia isso, pois o afeto se mostra fixado ao objeto impossibilitando possíveis deslocamentos e novos investimentos. Os processos do sistema inconsciente são atemporais, isto é, não são ordenados temporalmente,
não são alterados pela passagem do tempo e não têm nenhuma relação com o tempo. De modo que a referência ao tempo também se acha ligada ao trabalho do sistema consciente. Então, o dito popular “nada como o tempo” ou “o tempo cura todas as feridas” não se aplica à realidade
inconsciente. Pode ser que no curso do tempo seja possibilitado um novo rearranjo psíquico, uma ressignificação daquilo que acomete o sujeito, mas a passagem de tempo em si não traz nenhum efeito nos encadeamentos e intensidades psíquicas.
Freud se depara no trato com seus pacientes adultos com a mesma intensidade e realidade que os acometia quando ainda eram crianças, ou seja, o transcorrer do tempo não alterou a posição infantil do sujeito; ela permanece inalterada até que a experiência da fala em análise produza algum efeito de retroação. Do mesmo modo, a vivência do sonho nos mostra a possibilidade de coexistência do homem adulto e do infantil, retomando a lógica do paradoxo e a impossibilidade de aplica a lógica do tempo cronológico e linear ao psiquismo. Ou ainda os traumáticos de guerra que vivem na repetição incessante de cenas insuportavelmente dolorosas que, embora transcorra o tempo, não podem ser acolhidas nem pela cultura (que apesar de produtora da guerra, muitas vezes nada quer saber de seus horrores), nem pelo sujeito que as vivenciou. Assim, o tempo, enquanto experiência cronológica é resultado de uma adequação do psiquismo ao princípio da realidade,
valendo-se apenas para ordenação consciente do mundo.
Os processos do inconsciente não são regidos pela realidade externa; são sujeitos ao princípio do prazer. Seu destino depende apenas de sua intensidade e de cumprirem ou não as exigências da regulação prazer-desprazer. Vigora no inconsciente a realidade psíquica, realidade constituída pelo encadeamento de memórias inconscientes que se ligam segundo a lógica própria do sistema, ou seja, pela ausência de contradição, processo primário (mobilidade dos investimentos) e atemporalidade. O princípio da realidade vai regular o funcionamento da consciência e a ela caberá a tentativa de conciliar o mundo externo com as exigências psíquicas. As características do inconsciente revelam um modo de funcionamento próprio pelo qual é organizada nossa vida psíquica. Vale lembrar que Freud compara o inconsciente a um enorme iceberg submerso, enquanto a consciência é apenas a ponta do iceberg, porção mínima. A vida psíquica é inconsciente, e essa característica não se altera nem mesmo com anos de análise, pois, a análise não visa a conscientização, poderíamos dizer que ela leva a uma apropriação inventiva dos registros dos quais somos efeitos, e a criação de uma forma de satisfação que não implique tanto sofrimento.
Essa é a hipótese freudiana para o funcionamento do nosso sistema mnêmico e perceptual: o sistema perceptual consciente recebe os estímulos, mas não forma traços permanentes, tal como a superfície de celuloide; já o inconsciente, encoberto pela consciência, tal qual a prancha, registra de modo permanente toda e qualquer inscrição. Há, assim, uma superfície sempre aberta à inscrição de novos traços, mas nada é apagado; as novas inscrições se inscrevem sobre os traços anteriores, ressignificando-os e produzindo representações. Há, simultaneamente, uma capacidade ilimitada para novas percepções e o registro de traços mnêmicos permanentes, mas não inalteráveis. Portanto, para Freud, a memória não é algo acabado, pronto, definitivo. O psiquismo está sempre aberto a novas significações, contudo, o material inscrito exerce influência sobre o que irá se inscrever e pode ser ressignificado pelo que se inscreve posteriormente.
Libido 
é um temo utilizado por Freud para designar a energia psíquica. A libido é uma energia sexual, pois advém do laço com o outro, como pudemos ver desde a fundação do psiquismo. Sexual em psicanálise tem o sentido amplo de referir-se a todo laço amoroso, não se restringindo ao ato sexual estrito senso.
Freud representa as relações estruturais do psiquismo, mas destaca que não devemos imaginar fronteiras bem definidas, como as traçadas artificialmente por uma geografia política; o ideal seriam áreas cromáticas, que se fundissem umas nas outras, e o espaço conferido ao Isso deveria ser infinitamente maior que o do Eu ou do pré-consciente. Último esquema do aparelho psíquico proposto por Freud. Vemos que Eu e Supereu submergem no Isso (inconsciente) e que esse último lida com o mundo externo, via de regra, pelo Eu. O Eu, como uma organização que se faz em
contato com o mundo externo, é responsável pela lógica própria à consciência e que nos parece ser bastante afeita ao modo como se constitui a nossa cultura: lógica da identificação, da tentativa ilusória de definir um si mesmo em detrimento de um outro, que em nada o habita. Lógica dos contrários, em que interno e externo, particular e social se contrapõem como dois universos distintos, que podem até vir a dialogar, contudo, não deixando de se configurar como oposições.

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