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Ciência e conhecimento

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F.J. Roteiros de iniciação científica. Palhoça: Ed Unisul, 2015.
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CIÊNCIA E CONHECIMENTO
io,!rior Dr irrcrrtio rrrÍIIrrtl
Este capítul0, que se dedica à ciência e ao conhecimenro, loi dividido em quatro
Lsecões. Na primeiÍa secã0, apresentam-se 0s ilpos de conheciment0, desde 0 po-
pular ou de senso comum, passand0 pelo aní$ico, religioso, filosóÍico, até 0 cientíÍico,
técnico etecn0lógico. Na segunda secã0, volmdaa0 conceit0 de cÉmia, distinguem-se
carâclerísticas do conhecimento em ciéncias lormais e factuais. Na lerceiÍa seção,
relacionada à dirnensão epistemológica da ciência, discutem se a 0Íigem, a essência e
a possibilidade do conhecimento, bem como a noção de verdade e 0s m0d0s de saber
em ciência. Na úttima seçã0, rala-se da relação entre Íatos e IeoÍias, desde as n0ç0es
de Íatos e Íenômenos, passando pelâs noções de leis, conceilos, construtos e teoÍias,
alé a n0çã0 de quadÍ0s teórlcos ÍeÍerenciais.
1.1 Conhecimento
Deliicão- Por mnhecinento definese o mnjunto de competêncras e hahilidades
oblidas pela experiêncra ou pela educação e deconentes de procesos complexos de
peÍcepçã0, aprendizagem, comunicaçã0, associaqão e raciocÍnio. que permte ao sujei-
10 a compreensão teóÍica ou prática de seres, ohjetos, íatos ou Íenômenos e a açã0
reÍlexiva com Íinalidade especíÍica diante de uma demanda ou pmblema da realidadel
Elementos.0 ato de conhecer implica três elemenlos: 0 cognosceme ou sujeilo
do conhecimenlo, o cognoscÍvel ou objeto do conhecimento e a relação necesária
do cognoscenle com o cognoscí'rel. D tugnl ette é o indúduo rye possui a capaci
dade intelectiva e racional de conhecer.0 cognoscluelé aquilo que é pasÍvel de ser
conhecido e desâíia a inteliqência e a racionalidade do súeiÍl. A relacã| d0 fltkil7
chgnlscente cqn o 1bjet| cognwfuel é a condição que permile 0 conhecimeaú d0
objeto pelo sujeito.
Para Aranha e Martins 11999, p. 481, 'o conhecimenlo É 0 ato 0! o pÍocesso pelo
qual o sujeito se coloca no mund0 e com ele eslabelece uma lqaçã0.' Deste m0d0,
conÍorme 8ârr0s e LehÍeld l'1990, p. 91, o conhecimento não se c0n$ilui como "uma
I I p.h{r'olÉhglro'C.úÉÍ do wüo blilo ar@.. {dtendD 'drlEr 0€lâ q0EiM, 1!,adc/ D kb.í M!i!6úrEncpDónd!úEii!qqo7relç&,ef {lntuú-tBiFo'!J @dEi*rlD'lriúÚÚ ÔFhú.út'ÍiÉaí,'qa$,'Ft.@:l
iÁrro Joit rruir
mem expÍessão de imagens cognitivas, mas é, antes, uma coexislência do sujeito
cgm 0 0bieto numa dada realidade; é 0 suieito c0gnoscente envolvid0 com o mundo
cognoscível.'
0bserve-se um bebê que peÍcebe sua imagem em um espelho pela primeira vez.
Neste momento singular em que 0 espelh0l0mou-se conhecid0 para 0 bebê, pelo menos
em sua ÍunÉo básicâ de ÍeÍletir sua magem, houve uma transÍormação da realidâde-
Neste pr0cesso, o bebê, suieito c1gn1scente, modíicou sua realidade, estabelecendo
uma relaÉo cognitva com o Épelho, objeÍo cogttlscivel.
Apropriaçã0. Segundo iuckesi et alii 12003, p. 137-1381, 0 suieÍs pode apropÍiaÍ-
se do conhecimemo de íorma direta oú indiela. Na aprlpriaçãl ot: experíência direta
ot inediata,o suieito opeÍa com e sobre a realidade- Na aprlpríacãl ou experiéncia
indireta ou nediata, a apropriaÉo d0 conhecimenl0 é mediada p0r outro sujeito ou por
aneÍatos cuhurais produzid0s p0r este 0utr0 sujeilo e que dispensam a interaçã0 drreta
com 0 obieto leste livro, por exemplol.
0u1ra ÍoÍma de pôr esla queslã0 é aÍirmar ser possível apropriar se do conhe
cimento de modo sensível 0u de modo intelectual. 0 cnnhecinentl sensÍvel, mais
básico. provém da percepção sensoÍial d0 sr1eito.0 conhecinent1 inteleclüal, mais
complexo, provém da capacidade que têm 0s seres humanos de operar racionalmente
com objelos abslÍatos.
1.1-1 Tipos de conhecimento
tÍagmentaçáo. Weil, D'Ambrósio e Crema {1993, p. 17-lgl argumentam que a
disociação suieito/objel0 rompeu com uma suposta Íase predisciplinar, caracteriada
por um equilíbri0 entre as Íuncões de sensaçã0, senlimenl0, razã0 e intuicã0, tais c0m0
descritas por Jung 11991). Para 0s autorcs, esta dissociação Íez com que 0 conheci,
mell0 se Íragmenlasse em quatr0 Íamos disciplinares: ane, religiã0, íilosofla e ciência.
A íigura a seguÍ apresenta a matriz de Íraqmenlação dos aulores, tomando-se a
liberdade de colocaÍ fl0 seu celtro, em vez d0 conhecimento predisciplinar proposto
por eles, o conhecimento popular, uma vez que, nesrc lipo de conhecimenlo, 0 sujeito
apreende o objeto de mod0 espontâneo e integrado, Veja-se:
FIGUBA | 
- 
Malnz da kagmentaÇão de conhecimentos
ElGrofe
AÍte. c,nrorme rr;.;;;;ase entreasensaçã. e 0senliment.- Esta
Iiguraçã0 quer indicar que prevalece na arte a atribuição de senlimenl0s lg0s10 0u prazer
esÉticol a aÍIeÍatos culturas que afelam 0s senlidos la visã0, c0m0 na pinlura; a audi
çâ0, c0m0 na música; a cinestesia, como na dança; eotre outlosl lsto nã0 mplica que
se ignorem na produção anHica aspectos intuitivos Ía inspiÍaÇão que move a obra de
anel ou aspectos racionais lpor exemplo, 0 rig0r de méúicâ e Íima na poesia parnasianal.
Beligiã0. A religião p0sici0na se e re a intuiçâo e o semimento Neste tipo de co-
nhecimenlo, prevalece a inspiÍaÉ0 e a intuicã0 los dogÍrEs religiosos sã0 supostameme
insprrados pelo c0ntat0 dÍetu de alguns indiúduos com as dÚindadesl, e 0 conhecimento
é validado pelo sentimenlo de Íé. Também aqui nã0 se nega 0 papel dos ÍunÚamen'
tos racionais dâ exisÍência divina Ia le0logia cÍjstã é um c0nhecimento sistemático, por
exemplo) nem a necessidade de manÍestações sensíveis (imagens, templ0s, Íilos, entre
outrasl.
FilosoÍia. A ÍilosoÍia, por sua vez, posrciona-se enÍe a intuição e a ra7ã0. A í10s0Íia
sustenta se s0bre argumentos racionais. cuja 0rigem 0ã0 é aÍibuída a divindades, mas
à própria intuiçã0 humana. E$e tip0 de conhecimento não é veriÍiúvel lvi$o que nã0 se
pauú pela experiência sensoriall, e o uso da razão minimiza a inteÍvenÇã0 dos sentimen-
I0s-
Ciência. Por Ím, a ciência positiona se entre a ra2ã0 e a sensacão- [tevalece n0
coúeciment0 cie íico a b0sm racional de explicaçõe§ explhias, obierivas e ÍoÍÍradoras
de uma leoía oígànica, além üa compatrqão constame desEs explitações com dad0s
sensóÍi0s lÍelomo constante à expeíência empiacal. A inluição e 0 sentimemo, sempÍe
contingertes, sã0 c0locádos em segundo plano ou negados.
Vejam-se 0s tip0s de [0lhecimenl0 mais detidamente.
1.1.2 Conhecimento popular
DeÍiniçã0. Por mnhecinentl plpukr, addenbl, clnun, enpíicz, espnntânel,
lrdináÍil, ácitl, vulgaÍ ou sens7 runun deíne-se 0 c0niunto de c0mp0rtâmentos,
coslumes, hábitos, n0rmas e tÍadiÇoss que se âdquiÍem n0 trato dircto com a realidade,
0 "viveÍ-eaprendef, 0u n0 tÍalo indiÍeto, a paÍtir da expeÍiência de outra pessoa, o
"owÍ e aprendeí, geralmente de diírcil Íormalbso ou exphcaÉo em fuÍÉo de ser
pnípno das habilidades e competências dos indrviduos,o kn1w'hqw.
Exemplos. 0uando o bebê deu-se conta da existência d0 espelh0, a0 ver sua imagem
reÍletida nele, p0uc0 lhe inleresaram as lers Íhicas envolvidas no processo de reflexão de
imagens íquala natureza da luz, por exemplo). Por experiência sensorial direla, ele sirn
plesmente conheceu a Íunção básica do espelho, reÍletir imagens, e se c0ntent0u com §t0
Eis oulros exemplos de conhecimenl0 populaÍ. 0 c0nhecimenlo da pesoa comum
para andar de bicicleta 0u atravessar a rua. 0 cOnhecimento de um pescadOr s0bre que
ondas conlêm peixes. 0 toque pesoal do tempero da cozinheÍa experiente. A noção da
mudançâ d0lempo pelo 0bseÍvar das nuvens. 0 c0nhecimento de indigenassobÍe plantas
e animais da Íloresta.
35
eqdzã. lnluiÉo
",u*o@- ffi; S,r,,n,,"
Filosfiã Setrlimenl.
e
Arte
f0llTE: Ádspbdo de ll,el, Illnàró6io e Cflnu, lS3, p 17-
34
Fontes 0onÍorme Laville e Dionne 11999, p. 17'22l,, as Íonles do conhecimento
popuiar sáo a intuição e a tndiçao-
por rntuição deline se a percepção lmediab que drspensa 0 uso da Íazã0. Apesar de
ser útil para as necesidades cotidianas, a percepcãoimediata pode Íundamenlar opiniões
discuríveis, e$eÍeóIipos e preconceitos e c0nslruiÍ ob§ácul0s paÍa 0 saber [ientíírco, por
se raGr de um conheciment0 replelo de Íalhas e lacunâs.
Uma vez que se admÍe a peÍtinência de.um saber, mesmo que incomplet0, organi-
zam se in$iluções sociais para sua manuÍencão e difusâ0, onde atuam autoridades d0
conhecimento. Com0 rcm t0d0s 0s indivídu0s de uma c0munidade podem organizar sa-
heres espOnlâneos úteis, eles se conlentam com saberes pronl0s determinad0s p0Í estas
âutoídades lsacerdoles, bruxos, xamãs, proÍesores, inslnrtores, entre omrasl dentro das
in$ituições de tÍadicã0 {igreias, escolas, institutos, enÍe 0uúas). Dizem os autores: 'o
valor do saber imposto repousa, portitnto, em n0ss0 consentiÍnemo em recebêlo, e esse
consentimento Íepousa, por sua vez, na conÍança que temos naqueles que o veiculam.'
Características. 0 conhecimento popular é limitado, impreciso, inÍormal, por vezes
inc0eÍenle e aúhÍário. Tmla-se de um conhecimento ulilitaríÍa, Íagmentado, práti[o e
válido somenre para um individuo e seus inlereses pesoais.
Conforme Ander-Egg l'1978, p '13-141, o conhecimenlo popular é superÍicial, sensi-
livo, subjetivo, assistemárico e acrítico. 0 conhecimento é supe cial, porque a expeÍi.
ência do sujeito, 'eu vi', ou o relato da experiência de outras pessoas, "me disemm",
é síiciente como critério de aÍericão rh veÍdade- tle é sensitivo, porque decore de
estados mefiais d0 individuo.i subjetivo, porqte as explicações são Írur0 da experiência
indiuidnl. E assiiEnáticl, porque é espontâneo e nã0 visa â uma reoria oÍgânbdora d0
conhecimento. Por Íim, 0 conhecimemo popular é acrÍic?, porque nã0 lE preocupacão
com o exercírio da crftica de omros pesquisadores para validá 10.
Para l-akalos e Marconi {1986, p. 201, o conhecimenro popuhr é:
al yabratiyz, pois se Íundamenta em estados de ânimo, e as emoções e 0s valores
do sujeito impregnam o objeto conhecido;
bl rellexiyo, emboÍa se ressalle que, com um Íp0 de conhecimemo restÍío à ÍamF
liaridade com os objetos, não se possa obter uma teoria geÍâl;
cl assisÍeniiÍicl. pois se tmta de uma oÍganiação particuhr das experiências do
sujeito, e não de uma sisemalizacão das ideias para se pÍoduziÍ uma íoÍmulacão
geml que explique os íenômenos, íato que d;ficulta sua transmissã0;
dl verifrável, no sentido de que se limita e dz respeito ao cotidiano; e
el íalitel e inexato, pois o sujeito se conÍorma com a aparência e com o que ouviu
dizer a respeilo dos objetos.
Segundo Bosas 120031, o critério de verdade para o conhecimento popular é a cuhura
étjca e moral, e a tradição cultural é a sua condiqão de obietvação. Pam 0 autor, a
relacão sujeilo/obiet0 é de oÍdem inteÍpess0al, e a ideologia se e$abelece pelos discursos
dominantes e pelos poderes estabelecidos,
t,t.s connecimento ];;':
1efniçáo- Po( c1nhecinenÍ? aní$ic1 defrne.se 0 conjunt0 de comp0Ílamenlo§,
costumes, hábitos, n0rmas e tradições 0btido da relação subjetiva d0 suieit0 c0m um
objelo lratad0 por esle suieilo como um afleÍato cultural pasível de ser belo, harmÔ
nic0 0u pÍazeruso p0r suas características estélica§.'?
CaracterÍsticas. 0 conhecimento ârtis1ico dec0rre de uma combinação especial
de intuicáo e emoção. TÍata-se de uma intuição emocional que lraníere a0 obielo
de arte 0 prazer esté1ic0,0u seja, é uma interpretação marcada pela sensibilidade.
Neste sentido, criadores e observadores estão empenhados em aspeclos emocionais,
e flão Íacionais, uflto na elaboração c0m0 nâ recepção desles a eÍatos- Para 0liveiÍa
Neno {2005, p- 5), "a preocupação do anlsÍa nã0 é com 0 tema, mas com 0 modo de
traú-10."
C0nÍorme Heerdl e Leonel {2006, p. 301,'a ane combina a habilidade desen'
volvlda n0 trabalho lprátical com a imaginâçã0 (criaçãol. 0ualquer que seia sua
Íoma de expressã0, cada obra de ane é sempre perceplívelcom identidade própÍia,
dando-lhe também comp0nenles de maniÍestaçã0 d0s senlimentos human0s."
0 conhecimento arthfuo é:
al valoratfu1, pois se Íundamenla n0 senso e$Aic0 que distingue o belo, o har'
mônico e o prazeroso do Íeio, do desarmônico e d0 não prazeroso;
bl intuitivo pob a obn de arte unerge do íuxo de inspirafro de seu pmdutor;
cl assistenátic1, p]is não há como pÍever em detalhes c0m0 ocorre a criação 0u
a recepção do objeto de ane, muilo embora se possam lransmitir Imdições de
criação e de Íecepcão;
dl não veníicável, pois, embora a obra de ane possa ser copiada, sua criação e
sua rccepção é alg0 Únic0 e nã0 repetível; e
el in[alível e de exatidão inaplíaável, pois o ohjeto de arte símplesmenle é 0 que
é e agrada como agrada.
Segundo Bosas 120031, o criléri0 de verdade no conhecimenlo artístico, se é
que se aplira, é 0 da eslélica, e sua objetivaqão dec0rÍe d0 g0st0. A met0dologia
é subjetiva, e a relacão sujeito/objeto é de ordem pessoal, englobando a percepgão
criadora de anisEs e inlérpretes e a sensibilidade receptiva de contempladores 0u
observadores.
1.1-4 Conhecimento religioso
DeÍiniçã0. Por conheúnentl religioso ot teológico detine-se 0 conjunto de
c0mponamenlos, costumes, hábil0s, n0rmas e lmdições obtid0 pela aceilaçã0 de
2 Á p.hv6 trrE' pÍown do !6lanrNo hrtu ,/I@ lnomiÉrio nl, rgnili..Ído -lBhlihrh adMl- A oÍilen trE rmE é 0gEÍo, 
*nitundo "@paúhde Í,e ÍmdútuÍ, moldaí oú ai6laÍ a mlé,iá"- tm !6 Epçáo mb ampb, a ú latia e , ÍMt
se,náiú ríduÚ a idâa & psdú 0u Dabilidãde adqui,i& pelo Ei;nre eMicio e úhdá pra un lh 6âim, élÍú o! úiÍúáÍi!
dggmas revelados p0r inspiíação sobre a 0rigem, 0 signiÍicado, a Íinalidade e 0
destin0 d0 univeÍs0 c0m0 pr0dut0 da 0bra de um criador divino'3
0rigem. 0 conheciment0 religi0s0 decorre de um conjunto de Iacunas relacio
nadas com angústras e medos próprios de seres conscientes, as quais não Íoram
respondrdas p0r outÍas Í0rmas de c0nheciment0. 0 medo da mone. A finitude da
vida 0 vazio existencial. 0s vários tipos de s0frimento e trarma. Para dar conla
destas questoes. o homem projetou explicacões mágicas e mitológicas que, passo
a passo, desenvolveram se nas mais diversas religiões e seitas m0deínas.
Conhecimento mágico. ConÍorme o conhednento nágico ou nirac oso, os
seres humanos atribuem a causa da consecução de um evento à deliberação de
um indivÍduo. seja por si mesmo, seja através de arleÍalos que permitam mobilizar
intervenções s0brenaturais. 0 alÍinetar de um boneco gerando dores no indivíduo
que eÍe boneco representa. 0 despacho de umbanda ou candomblé. A Íé na inter
vencã0 de sa[Ios 0u espiritos, A torcida com os olhos, após uma tacada no golÍe.
ConÍorme Alves i'1981, p. 12), "a crença na magra, como a crença no milagre,
nasce da visão de um universo no qual os desejos e as emocões podem alteÍar 0s
Íatos,"
C0nhecimento mítico. 0 c0nheciment0 milic0 é aquele obtido da explicação
dos Íenômenos naturais e humanos por meio de seres, histórias ou ÍepíesentacOes
sobrenalurais ou fantásticas. 0 mito de Aquiles_ 0s doze trabalhos de Hércules_
0 martelo de Thor, A peÍegÍinação dos judeus no deseno e a abenura do Mar
Vermelho. As diversas cosmologias de povos indígenas. Sã0 exempl0s de mitiÍica
ção moderna as representações ideológicas de personalidades políticas, artísticas
e desportivas. 0 mito de Tiradentes Ímánir da Bepúblical ou de Getúlio Vargas
{defensor do povo). A imagem de lideres como Stálin, Hirler, Mao Tsé.Tung ou Fidel
Caslr0. 0 íascíni0 de anistas com0 Elvis Presley, J0hn Lenn0n 0u MichaelJackson.
0u de desp0rtislas c0m0 Ayrton Senna, Pelé ou Maradona.
Características- Embora o conhecimento religioso se íundamente na fé, usa,
se o raciocínio dedutiv0 para sustentá la, de modo que a realidade universal dá
sentido â realidâdes paniculaÍes_ Por exemplo, se todo o universo Íoí criado por
Deus e o ser humano é pane do universo, então 0 ser humano foi criado por 0eus.
ConÍorme as religiões, a verdade divina pode ser revetada aos seres humanos
por inspiraçâo- 0 homem nã0 precísa compÍeenderestes dogmas, apenas aceitá-los
por Íé e ser fiel àqueles que os proÍessam como intermediários da vontade divina.
ConÍorme Lakaros e Marconi {1986, p, 211, o conhecimenro religioso é:
al [alzÍativl, pois se apoia em doutrinas que conÍêm proposições sagradas
para aqueles que neÍas creem {dá-se crédito àquilo que se valorizal;
bl intuitivo, pois é revelad0 pel0 sobrenaÍuÍal por inspiraçã0;
d infalível, pois, sendo reveladas pelo divino. as aÍirmacões são indiscutíveis e
exams por deÍiniÇão;
dl sistenáÍic1, pois dá c0nta da 0rigem, d0 signiÍicado, da finalidade e do destino
d0 mundo c0m0 0bÍa de um cÍiador divino; e
el não veriíicável, pois as evidências são suslentadas pela crença
Segund0 Bosas {20031, o critério de verdade para 0 c0nhecmento Íeligioso é a Íé,
e a sua objetivação dá-se pel0 d0gmatismo, pela doutrina e pelo proselitismo (conquis
ta de n0v0s adeplosl 0 mét0d0 de oblenÉo deste conheciment0 é a expeiêmia pes
soal, e a relaçã0 suieito/objeto é de ordem suprapessoal, p0is 'a revelação do sagrado
se maniÍesta lrevelal sobrenaturalmente ao proÍano, através do rÍto ldramatiação do
mrto,0u sela, da lituÍgia religiosal.'
1.1.5 Conhecimento filosóÍico
Definição- Por conhecinento lilosóliu detine-se 0 coniunto de compelências e
hahilidades que se obtêm da análse râcional e metódica de um problema com 0s
recursos exclusivos dâ menle humana.4
Superaçã0. A íilosofia, em esência, suÍge da desconÍiança da validade das er-
plicaçoes mágicas e superstici0sas âdvindas da tradiçã0 e d0 senso c0mum. Segund0
Chauí {2002, p. 59-601, o conhecimefio filosófico tem oÍigem na tenlativa humana
de supeÍar qualro componamemos: a ihtsão que decorre da aparência das c0isas, as
enoçdes qre decorem de paixões e sentimentos,a crença que decoírc da religiâo e 0
êxtase ninico qte dec0íe da exlrapolação dos eslad0s c0nscientes.
Espelhament0- Com o conhecimento Íil0sóÍico, pode'se reÍletir sobre o mais
geral e elaboÍar uma compreensão unificada e uniÍicante da Íealidade- 0 0bietiv0
do Íazer ÍilosóÍico são as ideias, e nã0 as Íelações maleíais. Trata se de uma
busca que pane do mateÍial para 0 univeÍsal, através de um métod0 raci0nal, em
vez de experimental- Deste modo, com o conhecimento ÍilosóÍic0, constrót-se uma
Íorma especulativa de ver 0 mund0.5 Logo, o conhecimento filosófico é um saber
elaboíado alravés do exercício exclusivo do pensamento, qre visa a espelhar a
realidade.
Caracteríslicas- ConÍorme Aranha e Manins ll999l, a reflexão Íilosófra é radical,
rigorosa e integÍal, motivo pelo qual visa a analisar, de f0rma sistemática, metódica e
planeiada, 10d0s os ángulos e aspectos de um problema até suas m2es mais proÍun-
das. Por e$e m0dv0, Leonel e M0tta 12007, p- 251 destacam que a rellexão e a con
cepcão ÍilosóÍica implicam usar o poder da razão para pensar e Íalar ordefladamente
sobre as coisas.
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 Fhr. '*Ei-ão p|lrún do tuutEllir blim ,qEer, lüilbido '6dh0 .
1ô
Para lakatos e Marconi(1986, p 20 211, o conhecimento Íilosóíico é:
al valorarivo, p0rs paÍte de hipóteses experienc-nis que não podem ser submeti
das à exPerimenlaÇão;
hl não verificável, p0is seus enunciados não podem ser conÍirmados ou reÍutados
emPiricamente;
cl racional, pois a Íilosofia consiste num coniunt0 de enunciados logicamente
coÍelacionados;
d) sistenátic7, p0rs seus enunciados visam a representar a realidade de modo
coerenle, para apreendéJa em sua toralidade; e
el infalivele exat7, pois seus enunciadBs não sã0 submetidos a0 teste decisivo da
observação ou da expeÍimenEção-
ConÍorme Rosas 12003), 0 criléÍio de verdade flo conhecimento ÍilosóÍico é a mzã0,
e a objetivação do conhecimenlo dá-se, dialeticamenle, pel0 discuÍs0, motrvo pelo qual
a metodologia empregada é a razã0 discursiva. Neste tipo de conhecimenlo, a relacã0
suieilo/obje10 é de ordem transpessoal. '0 mundo se maniÍesla pelos lenômenos e é
dizível aúavés do logos-"
1,1.6 Conhecimento científi co
Defrúçâr- Por mnhuinmto cientÍficl defnl§, §gundo Koche 11984, p. l7l, o
coniunto de competências e tubilidades que, Ínrto da invàstigâção cienúfica, 'suÍge nã0
apenas da necessidade de encontrar soluções para os problemas de ordem pÍática da úda
diária, mracteÍística eÍa d0 conhecimemo ordinári0, mas d0 desejo de fomecer explica
ções sistemáticas que possám ser testadas e criticadas através de provas empíricas.a
Características- A ciência surgiu somente no Benasciment0 c0m0 uma n0va f0rma
de pensar a realdade, em decorrência da desconÍiança das explicações advindas ta[10
da tradição c0m0 da especulação íil0sóÍica. Nesta nova poslura, 0 homeB preocupa-se
com a observaçã0, a experimenlação e a mensuração de Íatos para, posteriormeme,
lidar com a sua inlerprelaÉo. A Íeílexão da imagem do hebê no espelho, por exemplo,
não pode ser reduzida a0 mero íalo de que 0 espelho reÍlete a imagem paÍa constiluir,
se em conhecimenlo cientíico. Neste caso, é flecesário descrever como isto ocore e
explicar quais sã0 as leis envolvidas n0 píocesso de reflexão de imagens-
0 conhecimeno cienlííic0 pane da identiÍicação de um problema, uma dúvida ou
uma questã0 para a quâl nã0 se rem uma resposta. Passa pela avaliacão da capacidade
que 0 [onheciment0 atual tem de Íornecer resp0stas e. caso este conhecimenlo seja
insuÍiciente, pela proposição e leste de uma solução que oÍereçâ provas objetivas,
seguras e c0nÍiáveis que peÍmitam aceitá-la com0 adequada e, possivelmente, correla.
A objetividade d0 conhecimemo cientíllco está Íundamentada em dois Íal0Íes inlerde-
pendentes: de um lado, a posibilidade de uma hipóIese ser le$ada alravés de provas
'l-
Íactuais; de 0utr0, a p0sibilidade de a comunidade tiefllíÍim avaliaÍ cÍiticamenG tanlo
a testagem c0m0 seus ÍeslJlados,a chamada crÍtica inteÍsrblbiva.
ConÍ0rme Lakatos e Marconi 11986, p. 2l l, o conhecimento cientíÍico é:
I Á FhE tiàIí !úin ú shãrÍiD lríD dnÉ, rFrÉdo -úÉiglo l& a$f, @ b r Fbú ri6 bitú
!iríd, Fliin Fdo do wto !@r, qJifãÉo'sls' !, hi, úsiuhBn!, 'eF6 úrE ari! ô oírd ú'díiEÍ'.
g|Éo 6l. qm é ehdodo M !te., úniturdo '6í.r o 'dtíii lde údê pmtúr a Fb,. tiiú/,.
40
a)
b)
reale fatttal, p0is lida com ocoÍências e Íatos manifestos;
clntingente, pois §$ enunciad0s têm sua veÍacidade 0u Íalsidade c0nhECidas
através da experimentação, e nã0 apenas pela razã0, crmo ocorre no conheci-
meflto ÍilosóÍiro;
sistenátic?, pois se trata de um saber 0rdenad0 l0gicamente, qu€ se 0rganiza
em um sistema de ideias, a leorla;
verificável, pois hipóteses que nã0 podem ser observadas não perlencem a0
ámbito da ciéncia;
falítlel, pois este conhecrmento não é deíinitivo, absolüo 0u Íinal;e
apnxinadanenle eíatl, pois novas proposições e o desenvolvimento de novas
téc0icas p0dem re'0rmular o conhecimento existenle.
e)
Íl
Conforme Hosas {20031,0 critério de verdade no c0nhecimento cientííico é, p0r
excelência, a expeímenlaÇã0, e sua objetivaÇã0 decorre da c0mpÍovaçã0 sisteÍnática
de certa tese. A metodologia empregada é a da 0bservâqão e, emboÍa se admita que
a neutralidade cientíÍica seja um mito, a relação sujeito/objeto á, por ideal. de ordem
impessoal.
As caraclerísticas dss lipos de conhecimenlo podem serresumidas no qlndro apre
senlado na página seguinte.
1.1.7 Coexistência
Vale deslacar que os vários tipos de conhecimento c0existem e se compleÍnentam
num mesm0 indivíduo. Uma dona de casa,na maioÍra das ve7es, atua com base n0
conhecimenlo popular- lsto nã0 a impede de apreciar sua novela, 0râr paÍa seu santo
de devoqão, questi0nâr 0 sentido da vida 0u mesmo âjudâr sua Íilha a Íazer a lição
de matemática, Da mesma Íorma, um geneticista pode ÍazeÍ parte de uma orquestra,
apresentar uma palestra rn casa espÍita e mergulhaÍ em discussões sobÍe polil-lca 0u
élica.
P0r outro lad0, é importante observar que o conhecimento ciefllíÍico í]em sempre
é 0 mais adequado para determinada situaçã0. 0 conhecimenlo de genélica p0uco é
úlil para manejar uma bicicÍeta ou para atravessar uma âvenida movimenlada. Nestes
casos. 0 conhecimento popular é mais do que suÍiciente-
Além disto, concorda*e com Lakat0s e Mârc0ni {1986, p. 18), segundo as quals
é necessáÍio reconhecer que "a ciência nâo é o único caminho de acesso ao conhe
cimento e à verdade" e q[e "um mesmo 0bje10 0u Íenômeno [-..] pode ser matéria
de observacão tanto para 0 cientista como para o homem comum." A diferença
entÍe a apreensã0 de um conhecimenlo científico ou popular decorre da forma de
observaçã0.
4',|
: , : I . uxplica 0 desenv0lviment0 expOnencial lant0 da ciência c0m0 da lecn0logia. bem
Vin.ú aráo úm í Valocriva Valúariv? Val0mrivâ Val0Íaúva Fâctual
rr,r0 rDsi R^uIÍ RorrrBos 0t rrrrr^çÀ! lrirtirr.^
TrãÍlirãD
0Í qenrdos dddos tupeÍié]]lE msptrdçao
SÊnsaqão Sendmeno línu{ao R&ào
Semimenlo lÍÍuiqêo Bâáo Sen$cão
lnexalo Não se aplicâ txalo
ÍoNÍE: lÍspnado en AppolináÍio, 20 06, p 13, cDm complemenlaçóes de Bosas,2003, e Íeilerões inédias d0 âúoÍ,
TÍadíção
CUIúÍal
2015-
üoenéncÉ Feão obieÍv?ciio
Pessoal 0isrüuilã trpeÍimenraÉo
Delinição. Pot mnhecinent\ tecnulógic| deÍine se o coniunto de competências lÓgica entre ciéntia e técnica' mas e a essência da tecnoloqia é
e habilidades com as quais 0 ser humano objetiva 0 domínio da natureza através da a sua coniugação com as teorias cie ção é rào Ícne que não há
apllcaçã0 prática e da 0 peÍacionalizacáo d0 c0nheciment0 cienlíÍic0-7 cíiléÍio algum para se estabeleceÍ d e lécnica' deixand0 de ter
segund0 Ortega y Gasser {1957, apud VARGAS, 1s85, p. 6sl, em vez de ser a senlid0' para muiÍ0s' a separação clássica entre ciência pura' de um lado' e ciência
adaptaçã0 d0 sujeit0 a0 meio, a técnica e, mais modernamente, a tecnologia c0nsiste aplicada 0u mesmo aplicacões técnicas de ciência' de oulro-
1.1.8 Ciência, tecnologia e Donhecimento tecn0lógic0 Conrinuidade_ Segundo Leonele Mona 12007, p,431, nã0 há Íuprura epistemo
0bservaqão
ápeÍimeniação
Doomãlamo oÉlél-E
na adaptaçã0 d0 meio ao suje[o- Trata-se, em essência, de uma açã0 antes hislórica
que biológica. 1.2 Conceito de ciência
HistóÍico. E possível divisar duas Íases históricas dislintas d0 desenvolvimento
tecnológico: uma Íase arcaica e uma Íase cientíÍica DeÍiniçã0. por ciência deÍine-se um conjunÍo organizado e racional de conhe,
0bs€Ír€cáo
que ampliaram sua relaqão com a naturezô, utilizaldo se do conhecimento de serso tados {dimensão epislem.lógical, criad.s 0u ,blid,s met,dicamente e passíveis de
romum. Com o advento da ciência, a Íase arcaica Íoi substituída pela Íase cientíÍica, dem,nstracã, 0u de veriÍicacão {dimensâo mel,d,lógical.
As origens dâ tecnologia sã0 remotas, N0 inicio, 0 homem construiu arteÍaÍos ,ment.s cen,s 0u pr.vavelmente c€rt,s, de .biet.s {,Ímais 0u materiais delimi-
Nesta Íase, a ciência passou a Íorneceí jntormações essenciais parâ 0 desenvolviment0 para compreender a deÍinição de ciência, é preciso observar que há duas dimen
de n0v0s âfieÍatos, e 0s avanc0s Íecn0lógisos passaram a seÍ c0âdluvantes essen- sões essenciais de estudo, a dimensão eptstem0lógica e a dimensão met0d0lógica,
como a dificuldade de sePará-las.
0s aftefat0s técnicos iniciaram se c0m0 imitações 0u pr0l0rigâment0s d0s Ór
gã0s human0s, sup0stamenle engendrâdos a0 acas0 e desenv0lvid0s p0r tenÍativa e
erro Com o desenvolvtmenlo de instrumenlos mais soÍisticados, alguns indrvíduos,
0s aÍtesã0s, pêssam a ser eficâÍegad0s de seu uso mais especializado. Como o ar-
tesã0 preDisava aprender seu oÍício acompanhando 0 tlabalh0 dos mais experientes,
surgem as categ0rias de meslres 0u saceíd0tes e de apÍendizes ou acólitos e, mais
adianle, s0ciedades Íechadas com seus segred0s e iniciações, um conhecimenlo
revelado e transmitido apenas aos iniciados.
Segundo Vargas 11985, p- 19), esta é origem das Íéthnei gíegas, q)e eulhiraÍn
até a medicina hipocráiica como um saber humano sobre como realizar algo: um
saber dirigido a um determinado fim prátic0. As artes romanas, em especial a me
dicina e a arquiteturâ, nã0 eram diÍerentes das gregas. Na idade média, este saber
preservou-se e desenvolveu-se com o nome latino ars (arquitetura, agricultuÍ4, aÍtes
militares, caça, direito. medicina, nâvegação, enÍre 0utrosl.
A técni[a atuâlsucede â téchne Vega e a aÍs romana e passa a serum saberÍazer
assessorâdo por uma n ova disciplina, a tecnologia, que se apoia nas teorias científicas.
Por temologia deÍine se o estudo cientifico dos materiais e dos processos de conslru-
qã0, Íabricação e 0rganização utilizados pela técnica. ConÍorme Banos e LehÍeld {1986,
úqltéth*te^dl'alksst''Enit"a'\Ào'8túdo' definem-se os aspeclos conlextuais e de conteúdo que permitem à ciência descrever
42 43
p. 71), 'há técnica para conhecer e há lécnica para agií, de m0d0 que esta técnica d€
agir é fru1o do conhecimemo s0bre a Íealidade fornecido pela ciência.
e explrcaÍ 0 mundo. 0 obielivo da ciência é delerminar as leis gerai§ que regem 0s
eventos 0 cientjsta acÍedita que, para cada Íato ou ÍenÔmeno, há uma lei subia-
cenre e é sua tarefa dererminá la' A ciência cabe dewendar uma espécie de ordem
0cu (a rlus se manifesta pelas características comuns aos eventos-
Dimensão metoriológica. Pot dinensã7 nelodológica delinen'se 0s aspeclos
de operacionalizaçã0, isto é, como a ciência deve chegar à dimensã0 epistem0lÓgica
ou compreensiva- A dimensão metodológica lem a veÍ com os procedimentos Iógi-
c0s e técric0s que gaíantem a cienlrficidade da investigaçã0.
Ciências Íormais. As dências lornaís lidam com objetos ideais que se restrin-
gem à mente humana em nívelconceitual, e náo Íisiológico. Trata se dos objetos da
lógica e da matemática, por exemplo.
CiênDias mateÍiais- As dências nateríais ou ciências factuais lidam com seÍes,
coisas, Íatos ou Íenômenos e podem ser divididas em nâturais e sociais. As ciêlcias
nalurais lidam com euentos puramente Iigad0s à natureza e sup0stament€ indepen-
dentes do homem- As tiéncias sociais lidam rom eventos nos quais se apresenta
o trabalho social humano- Desmcam-se, no primeiro caso, a Íisica, a química, a
biologia, p0Í exempl0; e, no segundo, o direito, a sociologia, a história, a educaçã0,
a economia, a linguística, por exemplo.
Betomando-se a deÍinicã0 de ciência, o conhecimenlo cientíÍic0 pode ser cert0
0ú pÍovavelmente certo- Nas ciências Íormais, prevalece a c0nslruçã0 de modelos
ceÍos, passíveis de validação ou de demonstração dedutiva- Nas ciências materiais
0u Íactuais, prevalece a proposição de modelos de descrição e de explícação prova-
velmente certos, passíveis de veriíicação ou de c0mpr0vaçã0 indutiva ou dedutiva
p0r 0utÍ0s pesquisad0res {crítica inleÍsubjetúa)-
0 c0nhe[imenlo cienlíÍico 0Íganiza-se racionalmenle em sislemas logicamente
encâdead0s de representaçã0 de objelos h0mogeneamente caracterizad0s. as teo-
rias, a Ial ponto que a reÍulacão de uma única hipótese pode invalidar integrâlmente
0 sistema. 0 conhecimento cientíÍico orienta-se por metodologias que pÍescrevem
normas e Iécnicas e deÍinem o planejamenlo da invesligaçã0. Nas ciências Íormais,
o cientista parte de teses 0u hipóteses universais que são sislemalicamente analisa
dâs. Nas ciências mâteriais ou Íactuais, o cientista lipicamente dec0mpõe 0s íenô-
men0s, mé10d0 de análise, para depois integrá,10s em sislemas de representacóes
conceituais de hipóteses e leis, atÍavésde conceitos, juízos e raciocínios, método
de sintese,
1.2.1 Conhecimento nas ciências formais
Abstraçã0. Nas ciências Íormais, os cientistas lidam com objetos ideais abs-
úaidos da realidade. 0 conceito de número decoÍe da absÍacão de coniuntos de
objetos naturais lobserve-se que o sislema decimal provém da existência de dez
dedosl. Por exemplo, nã0 há n0çá0 0u conreilo em si mesmo de'dois'foÍa dos
cérebros humanos. 0bviamenle, p0de-se operaí rom duas coisas quaisqueÍ ílivros,
M
--
casas, pers.nasensr, m,, ;;,,,;,,, ;;;,; ;';:;;, ;,,,.,,,,0 de'dois' hro
implica dizer que os ctitérios de cientiÍicidade aplicados às ciÉncias Íormais tÔm a veÍ
com sua capacidade de va[dação 0u de demonstÍação, e É0 com sua correlação
c0m a Íealidade eneÍna.
Um Donheciment0 em ciência Í0rmâl precisa ser válido e demonstrável. As ci-
éncias formais preocupam se com proposições e aÍgumenlDs. e não com obietos
empiricos- 0s enunciados {0rmais c0nsistem em Íelações entre simbol0s, e ná0 em
relacões c0m seÍes, 0bjetos, Íatos ou ÍenÔmenos- As ciências Íormais sã0 suÍicientes
em Íelaçã0 aos seus conleúd0s e mêtodos de p[0va e c0nlentam-se com a lógica
para demonstrar rigorosamente seus teoremas, a0 passo que as cências Íactuâis
dependem dos Íalos Oestaque se que a demonstraçã0 de uÍn c0nhecimenl0 Í0rmal
é sempÍe complela e Íinal, enquanto a verificaçáo de um conhecimenlo matenal
ou factual é sempre incompleta e temporária- 1090, enqualto se pode obter uma
verdade íormal completa, a 0btencã0 de uma verdade mâterial 0u Íactual é sempre
discutível e passivel de ser D0ntestada por novas evidências.
1.2.2 Conhecimento nas ciências mateliais ou Íactuais
Delimitação. llma ciênca material ou Íactual delimila-se pela descrição e explica
ção de objetos naturais ou sociais, com base na 0bseÍvação e/ou na experimentaçã0;
pelo coniunt0 0rganizado de conhecimenlos que decorre deslas obseruações e/ou expe'
ímentações e que é passivel de n0vas veriÍicações 0u testes; e pelos obietos delimita
dos que permitem especiÍicar ramos ou disciplinas desle corpo qeralde conhecimento
Íbiologia, Íísica, química, linguhtica, sociologia, história, entre outrasl-
CaÍacteÍísticas. Para Lakatos e Marconi 11986, p. 29-391, o conhecimento
cienlífic0 nas ciências íactuais caraúetiza'se por ser: racional,obietivo, Íactüal,
lranscendente aos íatos, analitic0, clato e preciso, comunicável, veriÍicável, depen'
dente de investigaçã0 melódica, sislemátic0. acumulativo, Íalível, geral, explicativo,
preditivo, aberto e útil.
Segue se um resumo da exposi.cão das autoras-i
Racionalidãile. 0 conhecimento é raciofial, poÍq)e se constitui de conceitos,
iuízos e Íaciocíni0s sobre objeI0s materiais 0u Íacluais que se combinam para seÍem
geradas novas ideias, por meio de inÍerências lógico'dedutivas. ls10 peÍmiIe que
sejam organizadas as chamadas le0rias, 0u seia, sistemas de ideias ou conjuntos
ordenados de proposições-
0bietividade. 0 conhecimenlo é, obietivo, porque visa à comordância com 0
0bjeto. A ciência prelende a verdade material 0u ÍacIual. Para verificar a âdequaçã0
de suas hipóteses a0s Íatos, 0 cientisla rec0rre à observação e à erperimenlacã0,
que são atividades conlr0láleis e. em certa medida, reproduríveis.
Empirismo, 0 $nhecimenÍo é lactual, porque 0 ponto de panida e de chegada
sã0 0s fâtos, sejam eles naturais lbrutosl ou produzidos. A rigor, 0 cientlsta usa
I B6ome0d. r. mlatiáml., á leiruÍa ih obÍ, pac ap.ttun&morrd
45

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