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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO JUIZ DE FORA PSICOLOGIA MONTSERRAT GASULL SANGLAS RESENHA DOS CAPÍTULOS 1,2 E 3 DO LIVRO COMPREENDER O BEHAVIORISMO DE W.M. BAUM JUIZ DE FORA 2018 CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO JUIZ DE FORA PSICOLOGIA MONTSERRAT GASULL SANGLAS RESENHA DOS CAPÍTULOS 1,2 E 3 DO LIVRO COMPREENDER O BEHAVIORISMO DE W.M. BAUM Resenha apresentada ao Centro Universitário Estácio Juiz de Fora, como requisito de avaliação da disciplina Teorias e Sistemas Psicológicos I. Professor: Dr. Leonardo Fernandes Martins JUIZ DE FORA 2018 Baum nos apresenta a ideia central do behaviorismo que é: “pode haver uma ciência do comportamento”. Quando o pensamento racional surgiu só existia o pensamento filosófico como meio para interpretar o mundo e seus fenômenos sem a influência do pensamento mítico, mas com o passar do tempo, novos conhecimentos e novas demandas levaram a novas formas de se aproximar aos fenômenos naturais e ao nascimento progressivo de diversas ciências. Se bem a ciência e a filosofia tentam entender o mundo ao redor, as aproximações destas são diferentes. Enquanto a filosofia parte de premissas as quais levam a inferir verdades absolutas, sejam estas do entorno tangível ou intangível, a ciência parte da observação para chegar a conclusões relativas e temporárias que servem para entender o mundo natural e como se organiza. O Renascimento, com a valorização do racionalismo, contribuiu a facilitar o processo de separação entre alguns conhecimentos científicos e a filosofia. Assim figuras como Galileu e Newton foram importantes para a astronomia e a física; Harvey para fisiologia e Lavoisier para a ciência química. Não obstante este desenvolvimento, quando Darwin lançou a teoria da evolução por seleção natural teve um grande alvoroço, pois significava uma mudança de paradigma radical já que a seleção natural era um processo mecânico no qual não participava nenhuma força sobrenatural. Todavia hoje a teoria da seleção natural moderna causa controvérsia. A separação da psicologia da filosofia é historicamente um fato recente, por volta de 1940, e por isso algumas considerações, sobre o que realmente é a psicologia como ciência, ainda estão sendo levantadas. Entre estas discussões encontramos a questão de “qual é o método científico a ser usado?”. Inicialmente foi utilizada a introspeção, herança da filosofia, mas alguns psicólogos acharam este método pouco objetivo e mais falho que os métodos de outras ciências e começaram a procurar novos procedimentos mais fidedignos, próprios de uma ciência autêntica, surgindo a psicologia objetiva e a psicologia comparativa. Para a psicologia objetiva sugerem oposição com o método introspectivo que possuía um cunho bastante subjetivo de análise. Donders foi um dos pioneiros da psicologia objetiva, ele acreditou que o tempo de reação das pessoas era uma medida objetiva para tentar entender qual era o processo mental dos sujeitos ao fazer uma escolha. Dentro desta línea Fechner criou o conceito de diferença apenas perceptível, Ebbinghaus estudos sobre aprendizagem e memoria mediante listados de sílabas sem sentido e Pavlov trouxe o reflexo condicionado. Por outro lado, a teoria da evolução levou ao conceito de continuidade da espécie. Os seres humanos e outros animais eram vistos como um continuum fisiológico e mental, e comparações entre as espécies foram habituais. A final do s. XIX e inicios do XX, os psicólogos comparativos realizavam experimentos com animais, e os analisavam mediante observações rigorosas, porém que incluíam conjeturas sobre os estados mentais, pensamentos e emoções dos animais, sendo estas especulações subjetivas. Watson (fundador do behaviorismo) se vinculou ao método da psicologia objetiva e desacreditava na introspeção ou a psicologia comparativa como métodos científicos válidos. Para Watson o quid da questão era o objeto de estudo da psicologia, para ele a psicologia era a ciência do comportamento e não da consciência. Sua intenção era conseguir uma ciência completamente objetiva que estudaria o comportamento observável de todas as espécies animais (inclusive o homem entre elas). Conceitos como objetivo ou comportamento precisavam ser esclarecidos. Esta versão do behaviorismo, focada nos métodos das ciências naturais é conhecida como behaviorismo metodológico, em contraste com o behaviorismo radical criado por Skinner, e baseada na explicação científica realista. Além de pequenas nuances, os seguintes enunciados reúnem todos os behavioristas: uma ciência do comportamento é fatível e pode ser a psicologia e a posição determinista. O determinismo considera que leis universais ligam fenômenos organizadamente, inclusive o comportamento humano, que por tanto pode ser previsto e controlado. O conceito de livre-arbítrio e liberdade humana ficam sem espaço dentro esta visão. Para os defensores do livre-arbítrio as pessoas são livres para escolher livremente quais serão seus comportamentos, este conceito passou a ser chamado livre-arbítrio libertário. Alguns filósofos beberam dos dois conceitos para criar teorias dentro do marco do “determinismo brando” e “teorias compatibilizadoras”. Para Donald Hebb o livre-arbítrio depende de fatores pouco perceptíveis no ambiente atual do individuo, mas o comportamento continua a ser determinado. Já Daniel Dennet propôs a teoria compatibilizadora na qual o fato de reflexionar antes de atuar seria considerado livre- arbítrio bem que, se o comportamento que se segue vem determinado por esta reflexão, só estaria seguindo o fluxo das causalidades a partir de experiências anteriores. Verificar a hipótese do livre-arbítrio implicaria ter uma relação de todos os fatores determinantes de um comportamento, e, ainda assim, o comportamento fosse contrário do previsto, mas este detalhamento de fatores completo não é possível. Serão as consequências destas teorias, sociais ou estéticas, que vão definir a aceitação de uma ou outra. Os argumentos sociais contra o determinismo apontam uma possível desestabilização da estrutura moral da sociedade, se o livre-arbítrio não for aceito, no âmbito político, judiciário e ético-moral. Sem direito a uma escolha real qual seria o sentido da democracia? Os behavioristas respondem que basta que os indivíduos estejam disponíveis à determinantes ambientais de curto prazo, como a influência e persuasão, para que as eleições tenham sentido democrático. Consideram a liberdade política como a capacidade de afetar as decisões dos políticos eleitos. Enquanto aos valores morais, apontam que a maior parte da humanidade não é guiada pela noção de livre-arbítrio e não por isso deixam de ter senso moral. Também remarcam o fato da escola estar assumindo a educação moral das crianças. A justiça não deve ser colocada só no âmbito moral, mas olhada de um modo prático de proteger a sociedade e os sujeitos são considerados responsáveis dos seus comportamentos na medida em que os atos são atribuídos a eles. Preconizam as vantagens de usar a ciência do comportamento para obter mais liberdade política, tratar e prevenir a criminalidade e fazer as crianças virarem cidadãos produtivos e felizes. Olhando de um ângulo estético surge a reflexão do paradoxo entre o livre- arbítrio humano e um Deus onipotente. A solução teológica a este conflito é dizer que o livre-arbítrio é um mistério, todavia esta não é uma resposta científica. O livre- arbítrio denota imprevisibilidade, mas esta não indicao oposto, então não podemos considerar a falta de conhecimento dos determinantes do comportamento como livre-arbítrio. Outro ponto metafísico questionado é como um evento não natural (o livre-arbítrio) leva a um evento natural (comportamento limitado no tempo e espaço). Finalmente, existe um impasse entre a teoria da evolução e o livre-arbítrio. Por um lado fica sem resposta a descontinuidade evolutiva que teria feito aparecer o livre- arbítrio nos humanos sem anteceder as outras espécies, e do outro lado acontece o mesmo, pois se considerarmos que os animais tivessem dotados do livre-arbítrio como seria possível que traços naturais evoluíssem até um evento não natural (livre- arbítrio). Tanto o behaviorismo metodológico como o radical concordam que pode realizar-se uma ciência do comportamento, mas ambos assumem um conceito de ciência divergente. Os primeiros behavioristas compreendem o mundo desde o realismo enquanto os radicais aceitam a visão pragmática. O realismo dá uma perspectiva desde a qual existe um mundo real fora do sujeito que dá origem as experiências (que se encontram dentro do sujeito), isso pressupõe que os objetos existem além da nossa percepção deles, e estes podem vir a ser entendidos conforme vão sendo analisados, bem que, por mais que nossa compreensão sobre os objetos mude, eles permanecem iguais. Considerando que este mundo é objetivo, se deduz que é possível alcançar a verdade sobre ele se fizer um estudo científico a respeito, porém o único modo de apreensão do mundo é através das nossas sensações e não por um contato real, e baseando-se nestas considerações George Berkeley questionou o axioma que o mundo afora realmente existe. Poucos foram os cientistas a compartilhar este raciocínio sobre o realismo e abordaram o tópico distintamente, como, por exemplo, Bertrand Russell quem deslocou as “ideias” e “sensações” de Berkeley pelos “dados sensoriais” e é mediante o estudo destes que o cientista tenta conhecer o mundo real. O pragmatismo foi concebido durante a segunda metade do século XIX e inicio do século XX por filósofos norte-americanos, principalmente por Charles Peirce e William James. Desde o posicionamento pragmático a potência da ciência radica no que ela nos permite fazer, como dar significado a nossa experiência. James expôs que o pragmatismo seria um método para resolver controvérsias e uma teoria da verdade. Diante disso, uma proposição só merece ser estudada se o resultado possibilita mudanças na atuação científica e as ideias são mais ou menos verdadeiras dependendo da sua capacidade explicativa e sua capacidade de sermos úteis, assim todo conhecimento científico será pura aproximação. Mais contemporaneamente Tomas Kuhn afirmou que a ciência não progride infinitamente até uma verdade última. A ciência passa por diversos ciclos, em cada um o paradigma vigente oferece algumas respostas, mas deixa vários enigmas sem decifrar. Quando as questões sem resolução são uma grande proporção um novo paradigma toma conta, não obstante este novo modelo não seja eficaz para elucidar tudo o que o antigo paradigma explicava. A influência do pragmatismo chegou até Skinner (e o behaviorismo moderno) mediante o físico Ernst Mach, grande amigo de James. Para Mach a ciência estava relacionada com o interesse de significar a experiência e era fruto da necessidade dos sujeitos de se comunicar economicamente. A ciência cria conceitos que nos possibilitam falar sobre elementos naturais e suas inter-relações, nos permitindo a previsão com base na experiência passada, sem longas explicações, nos permitindo uma economia conceitual. Se para o realismo a finalidade da ciência é dar uma explicação para o pragmatismo é procurar termos que relacionem um fenômeno com outro, sem tentar desvendar uma realidade além da nossa experiência. A perspectiva pragmática é subjetiva, pois não tem necessidade de um mundo real fora do sujeito e não diferencia entre descoberta e invenção. O behaviorismo radical encaixa no pensamento pragmático e acredita que uma ciência do comportamento deve oferecer termos que o descrevam e o expliquem. O dualismo mundo interior-exterior contido no realismo faria com que a ciência do comportamento exterior fosse incompleta e nos levaria a questões misteriosas. O nome de behaviorismo metodológico nasce da importância dada aos métodos objetivos, os quais permitiam coletar dados sensoriais sobre a realidade externa ao sujeito, como meio para uma ciência do comportamento. Os psicólogos experimentais se aproximam ao behaviorismo metodológico, pois estudam o comportamento exterior com métodos objetivos, mas eles se diferem, pois, os psicólogos experimentais fazem inferências sobre o mundo interior enquanto os behavioristas não. Não entanto, os behavioristas radicais procuram fazer descrições de comportamento do modo mais útil, incluindo definições que abranjam a função a que servem e razões para atuar certo comportamento. Para os radicais o estudo do comportamento integra todos os eventos sobre os quais podemos falar com nossos termos inventados. Skinner usa o termo “mentalismo” para aquelas explicações que não elucidam nada, já que o behaviorismo radical procura por respostas que nos façam compreender um evento. Os behavioristas distinguem entre explicações validas e explicações falsas. A distinção entre eventos públicos ou privados para os behavioristas radicais é o número de pessoas que podem relatar estes, mas eles possuem as mesmas propriedades e ambos são eventos naturais. A análise comportamental estuda os eventos naturais de organismos vivos e integrais, sejam estes públicos ou privados, pois estes eventos devem ser observáveis por principio (localizáveis no tempo e no espaço), mas não precisam ser observáveis na prática. Se a ciência do comportamento ocupa-se de objetos e eventos naturais, o conceito de mente deve ser refutado, pois não tem as propriedades de um objeto natural, e suas partes e processos são fictícios. São considerados fictícios os elementos e acontecimentos inobserváveis como uma mente, um impulso ou uma personalidade. O mentalismo faz uso das ficções explanatórias para tentar explicar o comportamento. Estas ficções não ilustram realmente o seu objetivo devido às premissas de autonomia e redundância. Autonomia é a capacidade que um organismo integral tem de se comportar. Como já indicado no texto, os realistas caracterizam um dentro e um fora do sujeito, induzindo a concluir que existe um “eu” interior que controla o corpo externo. O estudo deste “eu interior” não é factível e se trata de uma ficção para tentar explicar o comportamento a partir da cisão dentro/fora do sujeito. Por outro lado, as explicações mentalistas supõem uma entidade fictícia a partir do comportamento. Estes argumentos são antieconômicos, pois não descrevem os processos com conceitos conhecidos, mas ainda complexificam mais a questão quando reformulam a análise agregando novos conceitos supérfluos e o porquê apontado não é nitidamente correlativo aos eventos observados. Os behavioristas radicais refutam o mentalismo devido a sua origem dualista. Diferentemente de Skinner, o filosofo Gilbert Ryle não quis excluir termos como mente, razão ou crença. Ryle objetou o mentalismo, mas acreditava que era possível usar os termos sempre que usados de um modo lógico, e para isso não deveríamos fazer erros de categoria. Ryle evidenciou os empecilhos lógicos do mentalismo na sua hipótese paramecánica, na qual defendeu que os termos que são rótulos de categorias referem-se a coisas fantasmagóricas. Conforme o seu pensamento não devemos reunir atividadesque são exemplos de categorias com termos que rotulam a categoria. Enquanto Skinner propôs excluir os termos mentalistas da análise do comportamento, Ryle preconizou o seu uso sempre que usados de modo correto (como rótulos e categorias). Sobre as críticas as hipóteses de Ryle se destacam as objeções ao termo “categoria” por ser concebido com caráter demasiadamente extenso e a insistência de Ryle de que uma “sensação pura” precisa de atividades públicas. Os behavioristas molares nasceram em contraposição aos behavioristas moleculares. Desde o inicio do behaviorismo até a metade do século XX as falas sobre o comportamento resultavam inferidas desde conceitos como estímulo, resposta e contiguidade, todos estes eventos instantâneos. A partir de 1930 alguns pensadores indicam que não pode ser compreendido o comportamento só a partir de eventos instantâneos, são os behavioristas molares. Os molares postulam que o comportamento presente é fruto de eventos presentes e passados e estes eventos passados influenciam o presente como um conjunto só. Também entendem que os eventos não podem ser instantâneos, pois eles têm uma extensão no tempo, por mais breve que esta seja. Rachlin apoiou-se nas teorias de Ryle para mostrar que as unidades de comportamento (atividades), se prolongam no tempo. Para Rachlin o que importa é a frequência com que as atividades de certa categoria acontecem para pode aplicar o nome da categoria e se aplica a todos os termos que se referem a causas internas do comportamento, sejam estados da mente ou disposições comportamentais como intenções ou crenças. Assim por exemplo, a dor não pode ser vista como coisa que é sentida, mas sentir dor é uma atividade completa ou um agregado de atividades e ela precisa ser um evento público. Rachlin se interessou, sobretudo, no conjunto de eventos, desconsiderando no seu estudo aqueles eventos isolados e instantâneos, sejam públicos ou privados. Da mesma forma se interessa pelos eventos públicos, não porque ele faça distinção entre objetivo/subjetivo mais porque através das atividades molares podemos estudar eventos mentais. Os eventos privados são naturais e atribuídos ao sujeito e podem ser eventos de pensar ou de sentir. Os eventos de pensar tem relação com a fala pública e o sentir não tem. O sujeito pode exprimir seus pensamentos abertamente ou não, mas os sentimentos são apenas eventos privados. Para o behaviorista radical, sentir e perceber são eventos comportamentais, são atividades nas quais os objetos sensorialmente percebidos são uma qualidade do evento. A recordação é repetição, sendo os eventos recordados ligados no espaço e no tempo, enquanto a experiência modifica a apreensão dos atos sensoriais. Ainda que os behavioristas se interessem em conhecer o uso do termo consciente, o seu significado não tem utilidade para a análise do comportamento. Ao indagar, os behavioristas percebem que as pessoas entendem por “ser consciente” a capacidade de falar do próprio comportamento. Na concepção de Skinner, relatar os próprios atos privados, é o mesmo que relatar os atos públicos. O autoconhecimento se trata deste tipo de discurso. Rachlin compartilha da noção geral de Skinner sobre o autoconhecimento, mas ele dá menos importância aos eventos privados.
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