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Flavia Lages Castro Historia do Direito Geral Brasil

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F l á v i a L a g e s d e C a s t r o 
M ostro om H is tó ria Social
H is t ó r ia d o D ir e ito 
G e r a l e B r a s il
5a edição
E d i t o r a L u m e n J u r is 
Rio d e Janeiro 
2007
Sumário
P re fá c io ........................................................................................................... xv
IN T R O D U Ç Ã O : H IS T Ó R IA E H IS TÓ R IA DO D IR E ITO
1. H is tória ............................................................................................... 1
2. D ire ito ................................................................................................. 2
3. H istória do D ire ito ............................................................................ 3
4. O b jetivos do Estudo d e H istória do D ireito ............................... 4
5. Este L iv r o .......................................................................................... 5
C A P ÍT U L O I: O D IR E ITO DOS PO VO S SEM E SC R ITA
1. Características G ora is dos D ireitos dos Povos A g ra fo s ......... 8
2. Fontes dos D ireitos dos Povos Á g ra fo s ....................................... 9
3. lYansm issão das R eg ra s ................................................................. 9
C A P ÍTU LO II: AS P R IM E IR A S LEIS ESCRITAS E O CÓDIGO DE 
H A M M U R A B I
1. O C rescente Fértil e as Prim eiras L e is E scr ita s ...................... 11
2. A lgum as Considerações Sobre as L e is Anteriores a Ham m u­
ra b i........................................................................................................ 12
3. A Babilônia d e H am m urab i............................................................ 13
4. Sociedade e Econom ia da Babilônia I-Iam m urabiana............ 15
4.1. Q uestões A ce rca dos E s c ra vo s ............................................ 16
5. A lgu n s Pontos do C ód igo de H am m urabi.................................. 17
C A P ÍT U L O III: D IR E ITO H EBRAICO
1. In trodução........................................................................................... 27
2 . A Sociedade e a V ida E conôm ica.............................. ;................. 28
3. A L e i M osa ica .................................................................................... 29
4. A Form ação do D ire ito H ebra ico - da L e g is la çã o M osa ica
aos D ias de H o je ............................................................................... 31
5. A lgu m as L e is do D eu teronôm io................................................... 32
C A P ÍT U L O IV: O CÓDIGO DE M A N U
1. In trodução........................................
2. Contexto H is tó r ic o ........................
VÜ
3. S o c ied a d e ........................................................................................... 44
4. R e lig ião .............................................................................................. 45
5. A lgu n s Pontos do C ód igo d e M a n u ............................................. 47
C A P ÍT U L O V : G R É C IA
1. In trodu ção .......................................................................................... 55
2. E sp a rta ............................................................................................... 56
2.1. S o c ied a d e .................................................................................... 67
2.2. E conom ia ..................................................................................... 69
2.3. P o lít ic a ......................................................................................... 71
2.4. Cultura e Id e o lo g ia ................................................................... 71
3. A te n a s ................................................................................................ 72
3.1. D rá co n ......................................................................................... 73
3.2. S ó lo n ............................................................................................. 74
3.2.1. E co n o m ia ......................................................................... 74
3.2.2. S oc ied ad e ......................................................................... 75
3.2.3. P o lít ica .............................................................................. 75
C A P ÍT U L O V I: R O M A E O D IR E ITO R O M A N O
1. In trodu ção ......................................................................................... 77
2. H istória d e Roma: D ivisão P o lít ic a ............................................... 78
2.1. A R ea leza e suas Institu ições P o lít ic a s .............................. 79
2.2. A Repúb lica e suas Institu ições P o lít ic a s .......................... 79
2.3. O Im pério e suas Institu ições P o lít ic a s .............................. 82
2.4. A s M udanças em Rom a A p ó s as C onqu istas ................... 83
3. O D ireito R om an o .............................................................................. 83
3.1. D e fin ições e C a rac te r ís ticas .................................................. 83
3.2. P eriod ização do Direito R om ano........................................... 84
3.2.1. Período A rc a ic o .............................................................. 84
3.2.2. Período C láss ico ............................................................. 85
3.2.3. Período P ó s -C lá ss ico .................................................... 85
3.3. Fontes do D ireito R om an o...................................................... 86
3.3.1. C os tu m e........................................................................... 86
3.3.2. L e is e P leb isc ito s ........................................................... 87
3.3.3. E d ito dos M ag is trad os ................................................. 88
3.3.4. Jurisconsu ltos................................................................ 89
3.3.5. Senatus-Consultos......................................................... 90
3.3.6. Constitu ições Im p e r ia is .............................................. 91
3.4. D iv isão do D ireito Rom ano..................................................... 92
3.4.1. D ivisão Baseada na O rigem ........................................ 92
v i i i
3.4.2, D iv isão Baseada na A p lica b ilid a d e .......................... 93
3.4.3. D iv isão Baseada no Su jeito ......................................... 93
3.5. C apac idade Jurídica d e G o zo ............................................... 93
3.5.1. S ta tu s L ib c r ta t is ............................................................. 94
3.5.2. S ta tus C iv ita tis ............................................................... 95
3.5.3. S ta tu s F a m iü a c ............................................................... gg
3.5.4. C au sas R es tr it iv a s d a C a p a c id a d e Ju ríd ica de
G o zo .............................................................................. ‘ gy
3.6. D ireito d e F am ília ...................................................................... gy
3.6.1. O Pátrio P o d e r ................................................................ gg
3.6.2. O C asam en to .................................................................. gg
3.6.3. O D ivó rc io ........................................................................ 103
3.6.4. O D o te ............................................................................... 104
3.6.5. A A d o ç ã o ......................................................................... 104
3.7. Tutela e C úratela ....................................................................... 105
3.7.1. T u te la .............................................................................. 105
3.7.2. C ú rate la ............................................................................ 105
3.8. Su cessão ...................................................................................... 107
3.8.1. H eran ça ............................................................................ 108
3.8.2. T es ta m en to ...................................................................... 108
3.9. Posse e P rop ried ad e ................................................................. 109
3.10. D e lito s ....................................................................................... HO
3.10.1. C au sa lidade .................................................................. 112
3.10.2. Im pu tab ilid ade ............................................................. 112
3.10.3. Extinção da P u n ib ilid ade .......................................... 113
3.10.4. C o -D e lin qü ên c ia .......................................................... 113
3.10.5. R etroativ idade da L e i P en a l................................... 114
3.10.6. A lgu n s D e lito s ................................ :............................ 114
3.11. O Estudo do D ireito e os A d vo ga d o s em R om a.............. 115
C A P ÍT U L O V II: A E U R O P A M E D IE V A L
1. In trodução........................................................................................... l i g
2. Sistem a F eu d a l.................................................................................. 120
2.1. C aracterís ticas ........................................................................... 120
2.2. Contrato Feudo-Vassálico....................................................... 122
2.2.1. Os E feitos do Contrato Feudo-Vassálico................. 123
2.2.2. O Fim do Contrato Feudo-Vassálico......................... 124
2.2.3. O s D ire ito s d e U so e P ro p r ie d a d e n o C on tra to
Feudo-Vassálico.............................................................. 125
2.3. A s R e lações Feudo-Vassálicas e a Ju stiça ........................ 126
3. Os D ireitos da Id ad e M é d ia .......................................................... 127
3.1. D ireito G erm ân ico ..................................................................... 127
3.1.1. O R eino V â n d a lo ............................................................ 129
3.1.2. O R eino O strogod o ......................................................... 130
3.1.3. O R eino V is ig o d o ............................................................ 130
3.1.4. O R eino d os Burgúndios............................................... 131
3.1.5. O R eino dos F rancos..................................................... 131
3.2. O D ireito C a n ôn ico ................................................................... 132
3.3. O D ireito R om an o ...................................................................... 135
4. A Inqu is ição ...................................................................................... 137
4.1. O Tribunal d o Santo O ficio e os Tribunais S ecu la res ..... 138
C A P ÍT U L O V IÜ : O IS LÁ
1. In trodução ........................................................................................... 145
2. O A m b ien te do Surgim ento do Is lã ............................................. 146
3. A Fundação do Is lam ism o ...................................................... 147
4. O Direito d o s M u çu lm an os........................................................... 150
5. O A lcorão ............................................................................................ 152
5.1. A lgu ns Pontos do A lco rã o ...................................................... 154
C A P ÍT U L O IX : O D IR E ITO ING LÊS
1. In trodução......................................................................................... 181
2. D ireito In g lês - A H istória e a Formação do SCatute L a w .... 182
3. A D ivisão do D ireito In g lê s .......................................................... 196
C A P ÍT U L O X: D A M O N A R Q U IA AB SO LU TA A O IL U M IN IS M O
1. 0 Absolu tism o M o n á rq u ico ......................................................... 199
1.1. A França d e Luís X IV ............................................................... 200
2. O Ilum inism o e as C ríticas ao Estado A bso lu tis ta ................ 205
3. Cesare B ecca r ia ............................................................................... 210
3.1. A s Id é ias d e C esare B eccaria ................................................ 212
4. Outros Pensadores - Crim inalistas do Ilum in ism o................ 222
C A P ÍT U L O X I: A S R E V O LU Ç Õ E S - ESTADOS U N ID O S E F R A N Ç A 
N O SÉCULO X V III
1. A Independência dos E U A ........................................................... 225
1.1. In trodução................................................................................... 225
1.2. O In ício do P rocesso de Independência e a D eclaração
do D ireitos do Bom Povo da V irg ín ia .................................. 230
1.3. A D eclaração d e Independência ......................................... 235
1.4. A Constitu ição N orte -A m erican a ......................................... 237
1.5. A E q u ity e a C om m on L a w nos Estados U n id os ............. 243
2. A R ovolução Francesa.................................................................... 245
2.1. In trodução................................................................................... 245
2.2. Conjuntura Político Econôm ica P ré-R evo lu c ionária ......... 245
2.3. A A ss em b lé ia C onstitu in te o a D ec laração d o s D ireitos
do Hom em e do C idadão ......................................................... 247
2.4. A D eclaração dos Diroitos da M ulher o d a C id a d ã ......... 251
2.5. A s Constitu ições Revo lucionárias........................................ 259
2.6. Era N apo leõn ica e o C ód igo C iv il......................................... 260
C A P ÍT U L O X II: A S LEIS PO R TU G U E SA S
1. O s Prim eiros H ab itan tes e a R om an ização .............................. 267
2. Os M uçulm anos na Penínsu la...................................................... 269
3. O N asc im en to d e P o rtu ga l............................................................ 270
4. A Era d as O rden ações .................................................................... 272
4.1. A s O rdenações A fon s in as ...................................................... 272
4.2. A s O rdenações M anu elinas................................................... 277
4.3. A s O rdenações F ilip in as ......................................................... 281
5. O Período Pom balino........................................................................ 291
6 . A s C onstitu ições Portuguesas..................................................... 293
C A P ÍT U L O x n i : B R A S IL C O LÔ N IA
1. Sem Fé, som Lei, sem R e i .............................................................. 297
2. Os TYatados A n tes do Brasil e L im ites d e T erras .................... 300
3. O A n tig o S istem a Colonial e os Prim eiros D ocum entos Jurí­
d icos na C o lôn ia ................................................................................ 302
4. O M unicípio, o G overno Geral e a M ontagem d e um A p a ra ­
to Juríd ico na C o lôn ia ...................................................................... 304
5. O D ireito sob o Domínio I-Iolandôs no N ordeste Brasileiro.... 311
6 . A L eg is la ção E specífica da R eg ião das M in a s ......................... 314
C A P ÍT U L O X IV : B R AS IL REINO
1.In trodu ção .......................................................................................... 319
2 . A C orte Portuguesa no Brasil e a Subordinação à Inglaterra . 321
2.1. A C h egada da Corte o a Abertu ra dos Po rto s .................. 321
2.2. A L iberação d e M anufaturas................................................. 324
2.3. A Reorgan ização do Estado Português no Brasil o a En­
trega do M ercado Brasileiro................................................... 327
2.4, A Justiça no Período J oan in o ................................................ 333
2.5. A E levação do Brasil á Condição d e R eino U n id o ........... 341
C A P ÍT U L O XV : B R A S IL IM PÉ R IO
1. A In dependência do Brasil e a Constitu inte d e 1823 ............ 345
2. A Constitu ição O utorgada do 1824............................................. 354
2.1. A lgu n s Pontos da Constitu ição de 1824............................. 355
3. O C ód igo Crim inal d e 1830............................................................ 371
4. O C ód igo d e P rocesso Crim inal d e 1832 e o A to A d ic ion a l
do 1834................................................................................................ 381
4.1. O C ód igo d e P rocesso C rim inal............................................ 382
4.2. O A to A d ic io n a l......................................................................... 384
4.3. Outras L e is do Período Im peria l........................................... 385
5. N ascim ento da Trad ição Jurídica Brasileira.............................. 385
6 . A Escravidão e a Le i: C ond ições e A bo lição ........................... 387
G.l. A s L e is A b o lic ion is ta s ............................................................. 394
6.1.1. A Le i Euscb io do Q u e iro z ........................................... 397
6.1.2. A L e i do Ventre L iv re .................................................... 398
6.1.3. A L e i d os S exagen ários ................................................ 402
6.1.4. A L e i Á u r o a ..................................................................... 405
C A P ÍT U L O X V I: R E P Ú B L IC A V E L H A
1. A Proclam ação d a Ropública e a Constitu ição d e 1891......... 407
1.1. A lgu n s Pontos da Constitu ição de 1891............................. 415
1.1.1. A R ep ú b lica F ed era tiva dos E s tad os U n id os do
Brasil.................................................................................. “115
1.1.2. O Poder E xecu tivo ......................................................... 416
1.1.3. O Poder Judiciário......................................................... 416
1.1.4. O Poder L eg is la tivo ....................................................... 420
1.1.5. O S istem a E le ito ra l....................................................... 422
1.1.6. A s N ov id ad es d a Constituição d e 1891 .................. 424
2. O C ód igo Penal d e 1890.................................................................. 427
2.1. A lgu n s Pontos do C ód igo Penal de 1890............................ 428
3. O C ód igo C iv il d e 1916................................................................... 434
C A P ÍT U L O X V II: E R A V A R G A S - 1930 A 1946
1. A R e v o l u ç ã o d e 1930 e o G overno Provisório .................................................. 439
1.1. A O rgan ização das C ortes de A pe lação do D istrito Fe­
deral e a Criação da Ordem dos Advogados Brasileiros .. 442
1.2 . O C ód igo E leitoral do 1932.................................................... 443
2. A Constitu ição de 1934.................................................................. 444
2.1. C aracterísticas Gerais d o Estado B rasile iro ..................... 446
2.2. A C om petencia para a E laboração de Leg is la ção ......... 447
2.3. M u n ic íp io s .................................................................................. 44g
2.4. Poder Executivo F edera l.......................................................... 450
2.5. Poder L eg is la tivo F edera l....................................................... 452
2.6. Poder Judiciário ......................................................................... 455
2.7. Conselhos T é c n ic o s ................................................................. 457
2.8. O Voto e o S istem a E le ito ra l.................................................. 458
2.9. Garantias In d iv id u a is .............................................................. 459
2.10. 'IYabalho..................................................................................... 460
2.11. A "Justiça" do 'IYaba lho .......................................................... 462
2.12. N ac ion a lism o ........................................................................... 462
2.13. E ducação ................................................................................... 454
2.14. A ss is tênc ia do Estado o C asam en to ................................ 467
2.15. A M udança da C a p ita l.......................................................... 46B
3. A Constitu ição de 1937 e a Ditadura E s tad on ov is ta ............. 469
3.1. A n te c e d e n te s ............................................................................. 46g
3.2. A Constitu ição de 1937........................................................... 475
3.2.1. A Justificativa da C on stitu ição ................................. 477
3.2.2. U m a C o n s titu içã o do D itadu ra : T od o P o d e r ao
E xecu tivo Federa l........................................................... 473
3.2.3. O Conselho da Econom ia N ac ion a l........................... 482
3.2.4. O Poder Judiciário.......................................................... 433
3.2.5. Voto .................................................................................... 484
3.2.6. Os "D ireitos o Garantias In d iv id u a is "...................... 484
3.2.7. Educação e Fam ilia........................................................ 408
3.2.8. IY ab a lh o ........................................................................... 490
3.3. O C ó d ig o P en a l do 1940 o o C ó d ig o de P ro c e s s o de
1941............................................................................................... 491
3.4. A Po líc ia , a Justiça e Outras In stitu ições d a E ra Var­
g a s ................................................................................................ 492
4. O M ovim en to Operário: Da D écada do 20 a C LT...................... 496
C A P ÍT U L O X V III: B R AS IL - DE 1946 Â D ITA D U R A M IL IT A R
1. O Fim do Estado N ovo o a Constitu ição de 1946..................... 505
1 .1. A Constitu ição de 1946.......................................................... 506
1.1.1. O Poder E xecu tivo .......................................................... 505
1.1.2. O Poder L eg is la tivo ....................................................... 508
1.1.3. O Poder Judiciário.......................................................... 5J0
1.1.4. M in is tér io Pú b lico .......................................................... 516
1.1.5. E stados e M u n ic íp ios ................................................... 517
1.1.6. O s D ire itos ....................................................................... 519
2. A D itadura M ilita r ............................................................................ 523
2.1. A n te c e d e n te s ............................................................................. 523
2.2. O A to Institucional ( o n « l ) .................................................... 528
2.3. O Ato Institucional na 2 ........................................................... 534
2.4. O A to Institucional na 3 ........................................................... 543
2.5. O A to Institucional no 4 e a Constitu ição d e 1967.......... 544
2.6. O A to Institucional n= 5 ........................................................... 550
2.7. Outras L e is do R eg im e M ilitar e a Em enda C onstitu c io ­
nal na 1 d e 1969......................................................................... 557
C A P ÍTU LO XDC - A R E D E M O C R ATIZAÇ ÃO E A C O N ST ITU IÇ Ã O 
D E 1988
1. O Fim do R eg im e M ilita r ................................................................ 561
2. A Constitu in te d e 1987................................................................... 562
3. C aracterísticas Gerais da Constitu ição de 1988...................... 563
Referências B ib lio g rá fica s ......................................................................... 565
INTRODUÇÃO 
HISTÓRIA E HISTÓRIA DO DIREITO
O qu e é H istória? O qu e é H istória do D ireito? Quais pon tos H is­
tória e D ireito têm em com um ? Qual o ob jetivo do estudo d e H istória do 
D ireito? A o responder a es tas perguntas, estarem os m ais aptos a 
com preender de fato a H istória do D ireito dos Povos e das Culturas que 
estudarem os a seguir.
Esta n ecess idade do conhecim ento do ob jeto an tes d e um a aná­
lise d e seus pontos é a base para a com preensão g lob a l do ob jeto de 
estudo d e qualquer ciência.
1. H is tó r ia
Quando se p en sa em H istória a pa lavra "p a ssa d o " lo g o nos vem à 
m ente. O passado seria h istória? Todo o passado? Tudo no passado? 
Um a b e la frase p od e in iciar nosso raciocínio:
"A história é a memória da humanidade, mas não 
é suficiente recordar para ser historiador."!
Sem dúvida, o tem po é a d im ensão do trabalho d o historiador, mas 
analisem os:
- é poss íve l "h istória das ba le ias "?
- não parece m enos estranho "h istória d a caça às ba le ias” ?
A h istória das b a le ia s " não é possíve l porque as ba le ias não 
transformam, não se transformam... A transform ação é a essência da 
H istória o som ente o ser hum ano pode executar ta l tarefa. Por isso a 
H istória da caça às ba le ia s " parece soar m enos estranho aos nossos 
ouvidos. Quem caça é o hom em , e es ta atitude (que hoje em d ia é um 
tan to estúp ida ) mudou no tem po.
1 KMRAHDE o PALMADE npud CHAUNIJ, Pierre. A história como cicncia social Hio do 
Janeiro: Zaliar, 1976, p. 23.
1
A transformação é a essência da História o somente o ser humano pode executar tal tarefa.
Flávia Lages dc Castro
Pode-se, en tão, ch egar à prim eira conclusão acerca da História: 
seu ob je to é o hom em , isto é, o estudo da H istória concentra-se no Ser 
Iium ano e a sucessão tem pora l de seus a tos .2
O Ser Hum ano estudando o ser humano, qua l o ob jetivo? Por que 
isto nos é tão caro? Por qu e ó tão im portante m esm o para pessoas 
com uns? Paul Veyne apresen ta dois m otivos:
"Primeiramente, o fato de pertencerm os a um 
grupo nacional, familiar... pode fazer com que o 
passado desse grupo tenha um atrativo parti­
cular para nós; a segunda razão é a curiosidade, 
seja anedótica ou acompanhada de uma exi­
gência da in telig ib ilidade .” 3
2. D ire ito
A pa lavra "D ire ito ", b em com o e le próprio no sen tido amplo da 
C iênc ia do D ireito, v em dos Roínanos an tigos e é a som a da palavra DIS 
(m u ito ) + R E C T U M (roto, justo, certo ), ou seja, D ireito em sua origem 
s ign ifica o qu e é m uito justo, o qu e tem justiça.
Entende-se, em sen tido com um , o D ireito com o sendo o conjunto 
d e norm as para a ap licação d a justiça e a m in im ização d e conflitos de 
um a d ad a soc ied ad e .4 Estas norm as, estas regras, esta soc iedade não 
são p o ss íve is sem o Hom em , porqu e é o Ser Humano qu em faz o Direito 
e é p a ra e le que o D ireito é feito.
E sta d epen dên c ia do fa tor hum ano é exteriorizada por V icen te Ráo 
d a segu in te maneira:
"O direito pressupõe, necessariamente, a exis­
tência daquele ser e daquela atividade. Tanto va­
le d izer que pressupõe a coexistência social, que 
é o próprio homem . "5
2 BLOCH, Marc. Introdução à história. Sintra: Europa-América, | 19- - |. CARR. E. H. Que 
ó história? Rio do Janeiro: Paz o Terra, 1976. BESSELAAR. J. V. D. Introdução aos 
estudos históricos. 3. cd. São Paulo: Herder, 1970.
3 VEYNE, Paul. Como se escreve a história: Foucault revoluciona a história. 4. ed. Brasília: 
Universidade de Brasília, 1998, p. 69.
-1 Não se pretende aqui oíerecer a melhor definição do Direito, mas, só o suficiente para 
uma análise que possibilite a compreensão de História do Direito.
5 RÁO, Vicente. O direito e a vida dos direitos. 5. ed. São Paulo: 1999. p. 51.
2
inteligibilidade
Compreensão 
História do Direito Coral c Brasil
O Jurisconsulto rom ano U lp iano nos dá uma lição do que é o 
Direito, ind icando os tipos do d ire ito e definindo-os. Vale a pena en­
cerrar es ta de fin ição com a lição, d ed icada aos estudantes d e Direito, 
des te m estre da An tigu idade:
"Os que se vão dedicar ao estudo do Direito 
devem com eçar por saber donde vem a palavra 
'ius'. Na verdade, provem de 'iustitia': pois (re­
tomando uma elegante definição d e Celso) o 
direito ó a arte do bom e do eqüitativo. § 1. Pelo 
que há quem nos chame de sacerdotes. N a ver-( 
dade, cultivamos a justiça e, utilizando o conheci­
mento do bom e do eqüitativo, separamos o justo 
do injusto, distinguimos o lícito do ilícito... § 2. Há 
duas partes neste estudo: o direito público, que 
d iz respeito ao estado das coisas d e Roma; e o 
privado, relativo à utilidade os particulares, pois 
certas utilidades são públicas e outras, privadas. 
O direito público consiste (nas normas relativas) 
às coisas sagradas, aos sacerdotes e m agistra­
dos. O direito privado é tripartido: é, de fato, coli- 
g ido de preceitos naturais, ou das gentes, ou 
c iv is .” 6
3. H is tó r ia d o D ire ito
Já foi p oss íve l p erceber que H is tória e Direito têm a lg o em comum: 
o Hom em . A ss im , partindo do Ser Hum ano, é necessário salientar al­
guns pontos prim ordiais.
O H om em é naturalm ente produtor d e Cultura. N ão som en te aqui­
lo que cham am com um ente d e cultura, com o saber sobre autores c lás­
6 ULPIANO. Diynsta do Justiniano. Liber Primus. I: DE IUSTITIA ET IURI. "Iuri operam 
daturi prius nossa oportet undo nomen iuris decendat. Est autem a iustitia appelatum- 
nam (ut olugantor Celsus delinit) ius est ars boni et aequi. SI. Cujus mórito quis nos 
sacerdotes appellet. Justitiam nanque collimus, et boni et aequi notitiam profitemur 
aequum ab iniquo separantes, licitum ab illicitum discernentes... 52. Hujus sutdii duaé 
sunt positiones: publicum jus est. quod ad statum rei romane spectat; privatum , quod a 
singulori utilitatem: sunt enim quaedam publico utilia, quaedam privatim. Publicum jus 
in sacris, in sacerdotibus, in magistratibus consistit. Privatum jus tripertitum est: 
collectum etenim est ex naturabiluspraecoptibus, aut gentium, aut civilibus."
eqüitativo
Em que há julgamento justo 
Flãvia Lages rie Castro
sicos, vinhos caros e literatos, m as a Cultura no sen tido correto da 
palavra.
E n tende-se por Cultura "o p rocesso pelo qua l o hom em acumula 
as experiências qu e va i sendo capaz d e realizar, d iscern e entre elas, 
fixa as d e e fe ito favoráve l e, com o resu ltado da ação exerc ida , converte 
em idé ias as im agens e lem branças ( . . . ) . "7 Isto é, tudo o q u e o hom em 
produz fa z parte d a cultura do homem.A cultura ó tem poral, h istórica. E la depen de do m om ento em que 
determ inado ind ivíduo ou com unidade es tão v iven d o para te r as 
características q u e a definem . A ss im com o afirm a o ve lh o professor 
Bloch basean do-se em um d itado árabe:
“ O Hom em se parece mais com seu tem po que 
com seus país . "8
Pode-se concluir, portanto, que, sendo o D ireito um a produção 
humana, e le tam b ém é cultura e é produto do tem po h istórico no qual 
a soc ied ad e que o produziu ou produz es tá inserida. P lag ian do o d itado 
árabe, poderíam os afirm ar qu e o d ire ito s e parece com a n ecess idade 
h istórica da soc iedade qu e o produziu; é, portanto, um a produção 
cultural e um re flexo das ex igên c ia s d esta sociedade.
C onform e as b e la s pa lavras d e Jaym e d e A ltav ila :
"O s direitos dos povos esquivalem precisamente 
ao sou tem po o se explicam no espaço de sua 
gestação. Absurdos, dogmáticos, lúcidos e li­
berais - foram, todavia, os anseios, as conquistas 
e os baluartes de milhões de seres que. para eles. 
levantariam as mãos. em gesto do súplica ou de 
enternecido reconhecimento. "9
4. O b je t iv o s d o E s tu d o d o H is tó r ia d o D ire ito
A História do Direito é primordial para o estudante d e Direito na m e­
d ida em qu e o auxilia na com preensão das conexões qu e ex is tem entre
7 PINTO, V. apud ARANHA. M. L. do A. Martins. M. H. R Filosofando: introdução à filosofia 
São Paulo: Moderna. 1986.
8 BLOCH. Marc. Op. cit.. p. 36.
9 ALTAVILA, Jaymo do. Origem do direito dos povos. 7. ed. São Paulo: ícone, 1989. p. 16.
4
Direito
O Direito precisa ser um produto da sociedade em que ele está inserido, portanto tem que se adaptar a seu tempo e espaço.
História do Direito Ccral c Brasil
a sociedade, suas características, e o d ireito que produziu, "treinando-o" 
para uma m elhor visualização o en tend im en to do próprio direito.
A H istória em s i tem muito d es te ob jetivo ; ela é, nas pa lavras de 
C ollinqw ood , para “ au toconhecim ento" não som ente pessoa l ou social, 
m as tam bém no exercício de tarefas profissionais.
"Conhecer-se a si mesm o significa saber o que se 
pode fazer. E como ninguém sabe o que pode 
antes de tentar, a única indicação para aquilo que 
o homem pode fazer é aquilo que já fez. O valor da 
história está então em ensinar-nos o que o homem 
tem feito e, deste, modo, o que o homem é . " 10
Portanto, o va lo r do estudo da H istória do D ireito não está em 
ensinar-nos não som ente o que o d ireito tem " fe ito " , m as o qu e o d ireito 
é. Tendo isto em m ente, podem os avançar neste estudo, buscando 
com preender não som ente as regras de povos q u e v iveram no passado, 
mas sua ligação com a sociedade que a produziu para assim , e som ente 
assim , en ten der o "n osso " Direito.
5. E s te L iv r o
O Principal ob je tivo d es te livro é dar ao le itor um espectro g e ra l da 
H istória do D ireito a partir da com preensão da soc iedade que envolveu 
a e laboração das leis. Tom ando por pressuposto lóg ico que não são as 
le is qu e form am um a sociedade, m as qu e estas , históricas em si, são 
fe itas a partir do qu e uma soc iedade pensa ou d ese ja de si.
Para q u e isto pudesse ser feito, dada a abrangência do tem a, fo ­
ram esco lh idos cronologicam ente alguns povos e respectivas le g is ­
lações qu e pu dessem contribuir para a com preensão da ligação en tre o 
p ovo e suas le is e/ou para o en tendim ento da leg is lação brasileira e sua 
história.
Tom ando por base fontes secundárias d e história e Direito, bem 
com o fontes prim árias relativas às leis propriam ente ditas, analisam os 
porm enorizadam ente, sem pre que possíve l, a conexão soc io lega l ex is ­
tente.
10 COLUNGWOOD, 1!. G. A idéin <lc história Lisboa: Presença. 1972, p. 17.
5
Flavia Lagcs de Castro
A ss im podem os p ensar de fato em uma H istória do Direito. N ão 
com um olhar d escr it ivo sobre leis do passado qu e parecem ter surgido 
do nada, m as a partir do caráter, intenção e noções d e m oral e ob jetivos 
dos povos qu e acharam por b em escrever suas normas.
6
CAPÍTULO I 
O DIREITO DOS POVOS SEM ESCRITA
Em bora algum as v e z e s as pessoas confundam D ire ito e L e i escri­
ta, s e partirm os do pressuposto d e que um conjunto de regras ou nor­
m as qu e regu lam entam um a soc iedade p o d e ser cham ado (ainda que 
hum ildem ente) d e d ireito , todas as com unidades hum anas que existem 
ou ex istiram no m undo — ind iferen tem ente d e quaisquer características 
que tenham - produziram ou produzem seu “D ireito” .
Só podem os estudar H istória e, portanto, H istória do D ireito a par­
tir do adven to da escrita (qu e varia no tem po de povo para povo), antes 
d isso cham am os d e Pré-h istória. •
A Pré-h istória do d ire ito é um longo cam inho d e evo lu ção jurídica 
que p ovos percorreram e, apesar de poderm os supor qu e foi uma e s ­
trada bastan te rica, tem os a d ificu ldade, p e la falta d a escrita, de ter 
acesso a ela.
Esta riqueza p od e ser com provada pe lo fato d e as sociedades ao 
s e u tilizarem pela prim eira v e z d a escrita (e do d ireito escr ito ) já terem 
institu ições qu e d epen dem m uito d e conceitos jurídicos, com o casa­
m ento. poder paternal ou m aternal, propriedade, contratos (ainda que 
verba is ), h ierarqu ia no p od er púb lico etc.
A s o rigen s do D ireito situam -se na form ação das soc iedades e isto 
rem onta a épocas m uito anteriores à escrita o o que se m ostra mais 
in teressante neste estu do espec ificam en te ó que, d ep en d en d o do povo 
d e qu e tratam os, esta "é p o c a " ainda é hoje.
Povos sem escrita ou ágra fos (a = n egação + g ra fo s= escrita ) não 
têm um tem po determ inado. Podem ser os hom ens d a caverna de 3.000 
a.C. ou os índios brasile iros até a ch egada d e Cabral, ou a té m esm o as 
tribos da floresta A m azôn ica que ainda hoje não entraram em contato 
com o hom em branco.
D ian te desta m u ltip lic idade d e povos e tem pos podem os somente 
com entar a lgum as características gera is d es tes grupos. Em geral, não 
têm gran de d esen vo lv im en to tecn o lóg ico e som ente um a minoria d es ­
tes tem agricultura. São, em sua m aior parte, caçadores-colctores e co ­
m o ta is sem inóm ades ou nôm ades. Os povos ágra fos q u e possuem
7
Flávia Lages de Castro
agricultura são seden tários e todos e les, sem exceção , baseiam seu dia 
a d ia em uma re lig ios id ad e profunda.
Pela quan tidade d es tes d ireitos e a d ivers idade d estes buscam os 
então, com o in trodução ao estudo d e H istória do Direito, apontar ca ­
racterísticas e fon tes do d ireito com uns qu e auxiliam na com preensão 
d e um todo tão d istin to.
1. C a ra c te r ís t ic a s G era is dos D ire ito s dos P o v o s A g r a fo s 11
V São A bstraeos: com o são d ireitos não escritos, a possib ilidade 
de abstração fica lim itada. A s regras d evem ser decoradas e 
passadas d e pessoa para pessoa d a form a m ais clara possíve l.
V São N um erosos : cada com unidade tem seu próprio costum e e 
v iv e iso lada no espaço e, m uitas ve zes , no tem po. Os raros con-
, tatos en tre grupos vizinhos (qu e porven tura v iv em no m esm o 
tem po e d iv id em o m esm o esp aço ) têm com o ob jetivo a guerra.
V São R e la tiva m en te D iversificados: E sta d istância (no tem po e no 
espaço ) fa z com qu e cada com unidade produza m ais disse- 
m elhanças do qu e sem elhanças em seus direitos.
V São Im p regn a d os deR elig iosidade: com o a m aior pa rte dos 
fenôm enos são exp licados, por es tes povos, através d a relig ião, 
a regra ju ríd ica não foge a e s te contexto. N a m aior parte das 
vezes a d is tin ção entre regra re lig iosa e regra jurídica torna-se 
im possível.
V São D ire itos em N ascim ento: a d iferença entre o qu e é juríd ico o 
o que não é m uito difícil. E sta d istinção só se torna poss íve l
. quando o d ire ito passa do com portam ento inconsciente (d eri­
vado d e puro reflexo) ao com portam ento consciente, fruto de 
reflexão.
11 Neste ponto seguiremos do perto os apontamentos de GILISSEN, J. Introdução históri­
ca ao direito. 2. ed. Lisboa: Calouste Gulbokian, 1995, p. 31ss.
H is tó r ia d o D ú e i lo G e ra l c B r a s i l
2. F on tes d os D ire ito s d os P o v o s A g r a fo s
Entendem os com o "fon tes d e d ire ito " tudo aquilo que é u tilizado 
com o base ou "in sp iração ” para a feitura d e regras ou cód igos.
Os povos ágra fos bas icam en te utilizam os Costum es com o fonte 
d e suas normas, ou seja, o que é trad icional no v iv e r e con v iver d e sua 
com unidade torna-se regra a ser segu ida .'2
Entretanto, o costum e não é a única fon te do d ireito d es tes povos. 
N os grupos socia is on de se pode d istingu ir pessoas que d e têm algum 
tipo d e poder es tes im põem regras d e com portam ento, dando ordens 
q u e acabam tendo caráter ge ra l e perm anente.
O preceden te tam bém é u tilizado com o fonte. A s pessoas que 
ju lgam (chefes ou anciãos) ten dem a, voluntária ou involuntariam ente, 
ap licar soluções já u tilizadas anteriorm ente.
3. T ra n sm issã o das R eg ra s
M uitos grupos utilizam o proced im ento de, em in torvalos regu- 
lares do tem po, terem suas regras enunciadas a todos pe lo ch e fe (ou 
ch e fes ) ou anciãos. Outras form as são os P rovérb ios e A dág ios q u e d e -1 
sem penham pape l d ec is ivo na tarefa d e fa zer conhecer as norm as da 
com unidade.
12 O costume, om maior ou menor grau, é fonte de todo Diieito. Urna sociedade. por mais 
avançada tecnologicamente que soja nao pode descartar sua tradiçâo o sua moral como 
baso de suas normas.
CAPÍTULO II 
AS PRIMEIRAS LEIS ESCRITAS E 
O CÓDIGO DE HAMMURABI
1. O Crescente Fértil e as Prim eiras Leis Escritas
Há um lugar no m undo onde qu ase tudo que consideram os "c iv i­
lizad o " nasceu: o C rescen te Fértil, on de hoje está o Iraque, uma parte 
do Ira e parte de seus vizinhos. E ste lu gar tem este nom e por causa da 
fertilidade que os rios T ig re e Eufrates dão a uma reg ião que é s e ­
m elhante a uma lua crescen te de ca b eça para baixo.
N es ta reg ião o hom em prim eiro d iv id iu as horas, os m inutos e os 
segundos em sessenta, ie z tijo los e erig iu grandes construções com 
eles, criou (para a fe lic idade dos o lhos e d a alm a) a jard inagem , in ven ­
tou o Estado e o Governo, fez as prim eiras escolas, inventou a cerveja...
M as, a m ais grand iosa invenção d essa gen te d a M esopo lâm ia foi 
passar para um a superfíc ie sím bolos qu e expressavam idéias; a isso 
cham am os d e escrita . 13 O tipo d e escrita qu e inventaram foi a cunei- 
form e .14
N ão se p od e estranhar, portanto, q u e tenham sido estas pessoas 
as prim eiras a terem le is escritas. T em -se notíc ia de um ch e fe da c idade 
d e L agas d e nom e Urukagina, no terce iro m ilên io antes d e Cristo, ser 
apresentado pe los textos de época com o um grande leg is lador e 
reformador. Bouzon informa, contudo, qu e as inscrições d e Urukagina 
não transm item le is ou norm as lega is , m as m edidas socia is adotadas 
para co ib ir abusos e corrig ir in justiças vigentes.ü>
O corpo d e le is m ais an tigo qu e s e conhece é o d e Ur-Nammu 
(fundador da terce ira d inastia d e Ur, 2111-2094 a.C.) do qual chegou até
13 Mesopotamia (*= entre rios) íoi o nome dado pelos gregos ã região entro os rios Tigre o 
Euírates.
14 “Cuneiíorme: sistema de escrita, sem dúvida o mais antigo conhecido, o cuneiformo (do 
latim cmicus, “cunha" e luima. forma). íoi inventado pelos sumorianos seguramente sles- 
de o 4= milênio. O termo cuneiíorme caracteriza o aspecto anguloso dos símbolos, im­
pressos em argila úmida ou. raramente, em pedra {...)." AZEVEDO. A. C. do A. Dicionário 
de nomes, termos <■ conceitos históricos. Hio do Janeiro: Nova Fronteira. 1990, p. 119.
15 DOUZON. E. O Código de Hammurabi. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 22.
11
Flávia Lages de Castro
nós som ente do is fragm en tos d e um tab lete d e argila. Em 1948 outras 
le is foram iden tificadas tam bém na m esm a região; são as leis de 
Eshunna.
N o final d e 1901 e in ício d e 1902 d.C. uma exped ição arqueológica 
francesa encontrou um a es te ia (ou pedra ) de d iorito n egro d e 2,25 m de 
altura contendo um conjunto d e le is com 282 artigos, postos d e m a­
neira organizada, ao qua l cham am os hoje de C ód igo do Ham m urabi por 
te r s ido fe ita a m ando do Roí Ham m urabi, que reinou na Babilônia entre 
1792 e 1750 a.C.’ G
2. A lg u m a s C o n s id e ra çõ es S ob re as L e is A n te r io r e s a 
H am m u rab i
A n tes de tratarm os espec ificam en te do C ód igo d e Ham m urabi é 
in teressante que nos detenham os, ainda que rap idam ente, nas ca ­
racterísticas gera is das le is escritas anteriores a Hammurabi.
Tanto Ur-Nam m u qu an to Eshunna foram reis d e C idades Estado 
no C rescen te F é rtil e d ão nom e às prim eiras le is escritas qu e con h e­
cem os; a in fluência qu e U r-Nam m u (re i sum eriano) exerceu sob re as 
le is d e Eshunna são tão g ra n d es quanto a que es tas duas leg is la ções 
p rovocaram no C ó d ig o d e H am m urabi. A qu estão d a justiça , aliás, era 
im portan tíss im a já para os sum erianos, d es ta form a exp lica Kramer:
"A le i e a justiça eram conceitos fundamentais da 
antiga Suméria, que impregnavam a vida social e 
econôm ica sumeriana tanto na teoria como na 
prática. N o decurso do século passado [séc. XIX
d.C.|, os arqueólogos revelaram, à luz do dia, m i­
lhares de tabuinhas de argila representando toda 
espécie de documentos de ordem jurídica: con­
tratos, atos, testamentos, notas promissórias, re­
cibos, acórdãos dos tribunais. Entre os sumérios, 
o estudante mais adiantado consagrava uma 
grande parte de seu tem po ao estudo das leis e 
exercitava-se regularmente na prática de uma 
, term inologia altamente especializada, bem como
1G A podia (ou Estela) podo ser vista hoje om dia no Museu do Louvre, ein Paris.
1?.
História do Direito Gora/ o Brasil
na transcrição dos códigos lega is e dos ju lga­
mentos que tinham formado jurisprudência ." *7
O d ire ito p rivado sum eriano reconhecia a lgum a in depen dên c ia em 
relação ao m arido. O d ivórcio era rea lizado através de d ec isão jud icia l 
e poderia favorecer a qua lquer dos côn juges. O repúdio da mulher 
acarretava uma inden ização pecuniária e som ente era perm itido pelos 
m otivos ind icados pela lei. O adultério era um delito , porém sem 
conseqüências se hav ia o perdão d o marido. O filho qu e ren egasse seu 
pai poderia ou te r a m ão cortada ou ser vend ido com o escravo . A 
esposa ora responsável p e la s d ív idas do marido.
A s le is pena is dos sum érjanos muitas v e ze s substitu íam o Prin­
c íp io da Pena d e 'Ihlião (que será exp licado a segu ir) por m ultas 011 por 
inden izações legais.
3. A B a b ilô n ia d e H a m m u ra b i
Em bora a Babilôn ia m ais fam osa seja a do rei N abucodonosor 
(séc. V a.C .) por causa da partic ipação d es te na H istória dos Hebreus 
contadana B íblia, a H istória da Babilônia rem onta 0 segu n do m ilên io 
da era pré-Cristã, quando um grupo nôm ade (arcad iano) fixou-se em 
uma loca lidade cham ada Babila ou Bab Ilim (Babilôn ia ou B abel - porta 
de deus), às m argens do rio Eufrates.
O xequ e d es te grupo arcadiano, Sumuabum (1894-1881 a.C.). c o ­
m eçou a expansão territorial d a babilôn ia, m as foi seu sucessor, Sumu- 
la ’e l (1880-1845 a.C.), que, com vitórias sucessivas sobre os vizinhos, 
consolidou a independência da cidade.
Os reis posteriores incorporaram a cultura sum éria o som aram -na 
a cultura arcádica; entretanto, 0111 term os de expansão territorial 
som ente em 1792 a.C. com a ascensão ao poder de Ham m urabi a Babi­
lônia cresceu em poder. Esto rei, com im ensa hab ilidade em po lítica de 
alianças, m ais que dobrou o território que seu pa i havia deixado.
O rei Ham m urabi construiu um grande im pério qu e abrangia os 
territórios dom inados anteriorm ente pe la dinastia d e A g a d é — d o mar 
Im ferior e do E lam até a Síria e o litoral do M ed iterrâneo. E le assumiu 
os títu los de rei d e Sumer, rei d e A cad , rei das Quatro R eg iões , rei do
17 KRAMKIt .1 pud GIORDAN!. M. C. História do antiguidade oriental. 11. od. Pctrópolis: 
V070S, 2001. p. 138.
13
Flávia Lages de Castro
U niverso e, o m ais in teressante: "Pa i d e Am urru " (Am urru sign ifica 
O ciden te).
Ham m urabi não fo i apenas um grande conqu istador e um ex ­
ce len te estra teg is ta ; foi, an tes de m ais nada. um exím io administrador. 
C on form e afirma Em anuel Bouzon:
"Seus trabalhos de regu lagem do curso do 
Eufrates e a construção e conservação de canais 
para a irrigação e para navegação incrementaram 
enormemente a produção agrícola c o comércio. 
Em sua política externa Hammurabi preocupou- 
se, sempre, em reconstruir as cidades vencidas e 
em reedificar e ornamentar ricamente os templos 
dos deuses locais ( . . . ) . "18
Em seu território ex is tiam vários p ovos d iferen tes, de línguas, 
raças, culturas d iversas. Para exercer seu poder eram necessários m e­
can ism os d e un ificação em m eio a tanta h eterogeneidade. Hammurabi 
u tilizou-se d e três e lem en tos para em preender esta unificação: a lín­
gua, a re lig ião e o direito.
O acád io tornou-se língua oficial, o pan teão d e deuses fixou-se. O 
C ód igo d e Ham m urabi fo i fe ito u tilizando-se de toda a leg is lação p re­
ceden te . E ste te v e uma penetração e uma utilização surpreendente e 
sem para le los na história: m il anos depo is d e sua redação era ap licado 
a inda na Babilôn ia e em N ín ive , por exem plo.
Ham m urabi não apenas ordenou a feitura do C ód igo. Para uma 
m elhor u tilização do D ireito com o ferram enta de controle e le tam bém 
reorgan izou a Justiça (em m oldes m uito próxim os aos que hoje u tili­
zam os):
“O poder judiciário, na Caldéia anterior ao reina­
do de Hammurabi, era exercido nos templos pelos 
sacerdotes em nome dos deuses. Na Babilônia, 
desde o início da I dinastia, começaram a ser or­
ganizados, à im itação do que já existia em Sumer, 
tribunais civis dependentes diretamente do so­
berano. Hammurabi conferiu à justiça real supre­
m acia sobre a justiça sacerdotal; deu-lhe unifor­
18 nOUZON. E. Op. cic.. P- 20.
14
I Ustòri.i do Direito Goral o Brasil
midade de organização e regulamentou cuidado­
sam ente o processamento das ações, compreen­
dendo nessa regulamentação a propositura, o 
recebim ento ou não pelo juiz, a instrução com­
p letada pe lo depoim ento de testem unhas e 
d iligências 'in loco' e, finalmente, a sentença. Foi 
estabelecida então uma organização judiciária 
que incluía até o ministério público e um direito 
processual. " 13
A p ó s a m orte d e Ham m urabi a dinastia m anteve-se p or aproxi­
m adam ente 150 anos, m as em 1594 os H ititas invadiram e incendiaram 
a Babilônia, abandonando-a em segu ida. A queda d a d inastia de 
Ham m urabi fe z ascender os C assitas qu e iniciaram um n ovo período da 
H istória d a Babilônia.
4 . S o c ied a d e e E co n o m ia d a B a b ilô n ia H a m m u ra b ia n a
A Soc iedade d a Babilôn ia d a época de Ham m urabi é dividida, 
conform e ind ica o próprio cód igo , em três cam adas socia is:
V O s "a w ilu m " : o hom em livre, com todos os d ire itos d e cidadão. 
Este é o m aior grupo d a soc ied ad e ham m urabiana o com preen­
d ia tanto ricos quanto pobres d esd e qu e fossem livres.
V Os "m uskênum ": são um a cam ada que ainda su sc ita muita 
dúvida por parte dos estud iosos. Parecem ter s ido um a camada 
in term ed iária entre os a w ilu m e os escravos, form ada por fun­
cionários públicos, com d iro itos e deveres específicos.
V O s escravos: eram a m inoria da população, g e ra lm en te prisio­
neiros d e guerras .20
A econom ia era bas icam en te agríco la e a m aior pa rte das terras 
era de propriedade do Palácio, ou seja, do governo. M as h a v ia comércio 
e es te era bastan te íorte, principalm ente o externo con form e m ostra o
19 GIORDANI. M. C. História da Antiguidade... Op. c/t., p. 155.
20 O Código de Hammuiabi dú o nome do warduni paia escravos o amtutil para osciavas.
15
Flávla Lages de Castro
próprio C ód igo qu e afirm a existirem inclusive banqueiros qu e finan­
c iavam as exped ições .
O pequ en o com ércio varejista estava nas m ãos d e m ulheres, as 
“ tabern c iras " qu e ven d iam não som en te b eb idas, m as tam bém 
gêneros d e prim eira n ecessidade. O veícu lo d e pagam ento , que hoje 
denom inam os m oeda, era a cevad a ou a prata. A ss im nos indica o 
C ód igo d e Ham m urabi:
“Se uma taberneira não aceitou cevada como 
preço da cerveja, (mas) aceitou prata em peso 
grande ou diminuiu o equivalente de cerveja em 
relação ao curso da cevada, com provarão (isso) 
contra a taberneira e a lançarão na água . "21
4.1. Q u estões A ce rca dos Escravos
A m ed ida qu e utilizarem os am plam ente, p rincipa lm en te na A n ­
tigu idade, a noção d e escravidão, fa z-se necessário em penhar-nos em 
en tender o qu e s ign ifica a Institu ição Escravidão. Is to fa rem os levando 
em con ta a E scrav idão com o um todo , não som ente na Babilônia, qu e é 
o tem a deste Capítu lo.
D efin ir escrav id ão não é som ente considerar que todo aqu e le que 
trabalha sem nada receb er é escravo: muitos de nós seriam os, até m es­
m o os honrados voluntários que existiram e ex istem no m undo, co lo ­
cados nesta pos ição , que não é verdadeira no caso deles.
Escravo é propriedade, b em alienável, ou seja, a lg o qu e p od e ser 
com prado, vend ido , a lugado, dado, elim inado... E scravo é, portanto, 
coisa.
N a A n tigu id a d e não era condição im periosa ser d e outra raça para 
tornar-se escravo. D e fato, a escrav idão orig inava-se d e guerras - quan­
do o ind iv íduo era. após a derrota d e seu grupo, p e g o p e lo s ven ced o ­
res d e d ív idas - quando o ind ivíduo penhorava o próprio corpo ou de 
um m em bro d a fam ília, com o garan tia d e pagam ento e não o faz ia - ou 
por nascim ento.
A ss im de fin e o D icionário de Nom es, Tbrmos e C on ce itos H istóricos:
"Instituição secular caracterizada pela situação 
do indivíduo juridicamente considerado um obje-
21 § 108.
16
História do Direito Cerai e Brasil
to, do qual outra pessoa pode dispor livrem ente 
exercendo direitos de propriedade. A escravidão 
conheceu extraordinária difusão no mundo anti­
go. originando-se, de m odo geral, da guerra - c e ­
leiro inesgotável das dívidas e da heredita­
riedade (,..)."22
O filósofo g re g o A ris tóte les exp lica a escrav idão d esta forma:
"A produção precisa de instrumentos dos quais 
uns são inanimados e outros, animados. Todos os 
trabalhadores são instrumentos animados neces­
sários, porque os instrumentos inanimados não 
se movem espontaneam ente (as lançadeiras não 
tecem panos por si próprias). O escravo, instru­
mento v ivo com o todo trabalhador, constitui 
ademais 'uma propriedade viva '. A noção d e pro­
priedade implica a de sujeição a alguém fora deln 
(...). "23
5. A lg u n s P o n to s d o C ó d ig o d e H a m m u ra b i
a ) A Pena de 'Ihlião
O Princip io da Pena ou Le i d e Talião é um dos m ais u tilizados por 
todos os p ovos an tigos. E apontado por a lguns com o sendo a prim eira 
form a que as soc iedades encontraram para es tab e lecer as penas para 
seus delitos.
E ste princíp io, qu e é exem plificado na B íb lia com a frase "o lh o por 
olho. d en te por d en te ", não é uma lei, m as um a idé ia que ind ica qu e a 
p ena para o d e lito é equ iva len te ao dano causado neste. A ss im sendo, 
n inguém sofre "p en a d e ta lião", mas, baseado neste princípio, sofre 
com o pen a o m esm o sofrim ento que im pôs ao com eter o crime.
22 AZEVEDO. Antonio Carlos do Amarai. Dicionàrio de nomes, termos e conceitos his- 
tóricos Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1090, p. 157.
23 ARISTOTELES apud GORENDER, Jacob. O cscravismo colonial. Sào Paulo: Àtica. 1Ö88. 
p. <16.
17
Flávia Lagos de Casuo
O C ód igo d e Ham m urabi utiliza niuito e s te princip io no tocante a 
danos físicos, ch egan do a aplicá-lo radicalm ente m esm o quando, para 
consegu ir a equ iva lência , pena liza outras pessoas que não o culpado.
"Se um awilum destruiu o olho de um outro 
awilum, destruirão seu olho .” 2,1
"Se um construtor edificou uma casa para um 
awilum, mas não reforçou seu trabalho, e a casa, 
que construiu, caiu e causou a morte do dono da 
casa, esse construtor será morto. "25
"Se causou a m orte do filho do dono da casa, 
matarão o filho desse construtor. "26
O Princíp io d a Pena do Tklião não con tava quando os danos físicos 
eram ap licados a escravos à m ed ida qu e es tes podem ser de fin idos 
com o bens a lien áve is ; o dano contra um bem d eve ter ressarcim ento 
material.
b ) Falso Testem unho
O fa lso testem u nho é tratado com severid ad e pe los povos an tigos 
porque provas m ateria is eram m ais d ifíceis; assim sendo, con tavam — 
na m aior pa rte d o s p rocessos - som ente com testem unhas.
O C ód igo separa um a causa de m orte de uma causa qu e en vo lve 
pagam ento, n esta ú ltim a o ônus do fa lso testem unho é o pagam en to da 
pena do p rocesso. Em outros casos a sanção para falso testem unho ó a 
Pena de M orte.
"Se um awilum apresentou-se em um processo 
com testemunho falso e não pode comprovar o 
que disse: se esse processo é um processo capi­
tal, esse awilum será morto. "27
?A G 19G.
25 Ü 229.
20 G 230.
27 S 03.
1B
História do Direito Coral e Brasil
"Se se apresentou com um testemunho (falso cm 
causa) de cevada ou prata: e le carregará a pena 
desse processo." 28
c ) Roubo e R ecep taçáo
O C ód igo H am m urabiano pena liza tanto o que roubou ou furtou 
quanto o qu e recebeu a m ercadoria roubada.
"Se um awilum com eteu um assalto e íoi preso: 
esse awilum será m orto ."29
"Sc um awilum roubou um bem de propriedade 
de um deus ou do palácio: esse awilum será 
morto; e aquele que recebeu de sua mão o objeto 
roubado será morto . "30
d ) Estupro
O estupro sem pen a a lgum a para a v ítim a era p rev is to neste 
cód igo som ente para "v irgen s casad as " (com o na leg is la ção m osaica), 
ou seja, m ulheres que, em bora tenham o contrato d e casam ento fir­
m ado, a inda não coab itavam com os maridos.
"Se um awilum amarrou a esposa de um (outro) 
awilum. que (ainda) não conheceu um homem e 
mora na casa de seu pai, dormiu em seu seio, e o 
surpreenderam, esse awilum será morto, mas a 
mulher será libertada. "31
e ) Família
O s is tem a fam iliar d a Babilôn ia Ilam m urabiana era patriarcal e o 
casam ento, m onogâm ico, em bora fosse adm itido o concubinato. Esta 
aparen te d iscrepância era resolvida pe lo fato do uma concubina jamais
28 o 04.
29 5 22.
30 S 0C.
31 fi 130.
19
F liv ia Lages de Castro
te r o "status" ou os m esm os d ireitos d e esposa . O casam ento leg ítim o 
era som ente vá lid o se houvesse contrato:
"Se um awilum tomou uma esposa e não redigiu 
o seu contrato, essa mulher não ó esposa . "32
H avia tam bém a possib ilidade d e casam en tos en tre as cam adas 
socia is e o cód igo não som en te adm itia isto com o regu lam entava a 
herança dos filhos nascidos d es te tipo d e casam ento:
"Se um escravo do palácio ou um escravo de um 
muskênum tomou por esposa a filha de um 
awilum e ela lhe gerou filhos, o dono do escravo 
não poderá reivindicar para a escravidão os filhos 
da filha de um aw ilum . "33
O casam ento era no qu e cham am os hoje "reg im e d e com unhão de 
ben s".
“ Se, depois que a mulher entrou na casa de um 
awilum, recaiu sobre e les uma divida, ambos 
deverão pagar ao mercador.” 34
f) Escravos
H avia duas m aneiras básicas d e tornar-se escravo não som ente na 
B ab ilôn ia , m as ta m b ém na A n t ig u id a d e com o um todo . C om o 
prisioneiro de gu erra ou por não consegu ir p a ga r d ívidas e assim ter 
q u e en tregar-se a s i m esm o, a esposa ou aos filhos, m as Ham m urabi 
(ass im como os H ebreus posteriorm en te) va i lim itar o tem po d esta 
escrav idão p or d ív ida .
“ Se uma divida pesa sobre um awilum e ele 
vendeu sua esposa, seu filho ou sua filha ou os 
entregou em serviço pe la divida, durante três 
anos trabalharão na casa de seu comprador ou
32 B 128,
33 s 175.
34 § 152.
2 0
História do Direito Geral c Brasil
daquele que os têm em sujeição, no quarto ano 
será concedida sua libertação." 35
Uma escrava, tom ada com o concubina por seu senhor ou dada por 
sua senhora ao m arido, tinha uma situação bastan te in teressante se 
d esse a es te filhos que e le reconhecesse. E la não m ais poderia ser 
vend ida conform e a testa o artiqo 146 do referido Código.
g ) D ivórcio
O m arido pod ia repudiar a mulher nos casos de recusa ou 
n eg lig ên c ia em "seu s d eve res de esposa e dona-de-casa".
Qualquer dos dois côn juges pod ia repudiar o outro por m á con ­
duta, m as neste caso a mulher para repudiar o hom em deveria ter uma 
conduta ilibada.
"Se uma mulher tomou aversão a seu esposo c 
disse-lhe: 'Tu não terás relações com igo', seu 
caso será examinado em seu distrito. Se e la se 
guarda e não tem falta e seu marido é um saidor 
e a despreza muito, essa mulher não tem culpa, 
ela tomará seu dote e irá para casa de seu pai. " 36
h) Adu ltério
Som ente a mulher com etia crim e de adultério, o hom em era. no 
máximo, cúm plice. D esta form a, s e um hom em sa ísse com uma mulher 
casada, e la seria acusada d e adultério e e le d e cúm plice de adultério e 
se a m ulher fosse solteira, não com prom etida, não havia crim e nem 
cum plicidade, m esm o porque e s te ó um povo qu e adm ite concubinato.
Quando pegos, os adúlteros pagavam com a vida, entretanto o 
C ód igo p revê o perdão do m arido:
"Se a esposa de um awilum for surpreendida 
dorm indo com um outro homem, e les os 
amarrarão e os lançarão n'água. Se o esposo
35 fl 117.
36 « 1<12.
21
Flavia Lagos de Castro
deixar v iver sua esposa, o rei também deixará 
v iver seu servo ."37
i) A d oçã o
E sta soc ied ad e foi bastan te hum ana no tocante à adoção, veja:
- S e um a criança fosseadotada logo após seu nascim ento, não 
poderia m ais ser reclamada.
- Se a criança fosse adotada para aprender um o fíc io e o ensi­
nam ento es t ivesse sendo fe ito , e la não poderia ser reclam ada. 
C aso e s te ensino não es tiv e sse sendo feito, o adotado deveria
. vo lta r à casa paterna.
- Se a criança, ao ser adotada, já tivesse m ais id ade e reclam asse 
por seus pais, tinha qu e ser devo lv ida .
- Em outros casos, se o adotado ren egasse sua adoção, seria 
severam en te punido.
- Se o casal, após adotar, t iv esse filhos e d ese ja sse rom per o con­
trato d e adoção, o adotado teria d ire ito a um a parte do patri­
m ôn io d e les a título d e inden ização .38
j) H erança
N o caso da d iv isão d a herança, a soc iedade ham m urabiana não 
p rev ia a prim ogen itura, ou seja, os bens não ficavam som ente com o 
filho m ais ve lho , entretanto e s te poderia, na hora d a partilha, ser o 
prim eiro a esco lher sua parte . A tendência era sem pre d iv id ir em 
partes igu a is ind iferen tem ente de qu em era a m ãe da criança, bastava 
o reconhecim en to do pai.
"Se a primeira esposa de um aw ilum lhe gerou 
filhos e a sua escrava lhe gerou filhos, (se) o pai, 
durante a sua vida. disso aos filhos que a escrava 
lhe gerou: ‘Vós sois meus filhos1 e os contou com 
os filhos da primeira esposa, depois que o pai 
morrer, os filhos da primeira esposa e os filhos da 
escrava dividirão em partes iguais os bens da casa
História do Direito Gerai e Brasil
paterna, mas o herdeiro, filho da primeira esposa, 
escolherá entre as partes e tomará para si."33
E stavam exclu ídas da herança as filhas já casadas, pois estas já 
haviam receb ido o dote. A s filhas solte iras, quando casassem , receb e­
riam seu do te das m ãos dos irm ãos .40
M as os filhos, m esm o reconhecidos, ou frutos d e casam ento, 
pod iam ser deserdados, mas para isto d eve r ia haver um exam e por 
parte dos ju izes.
“Se um aw ilum resolveu deserdar seu filho e 
disse aos juizes: 'Eu quero deserdar meu filho’, os 
juizes examinarão a questão. Se o filho não com e­
teu falta suficientem ente grave para excluí-lo da 
herança, o pa i não poderá deserdar seu filho."41
k) Processo
A s le is bab ilón icas d esta época p erm item e prevêem a m istura do 
sagrado e do profano no ju lgam ento, em bora a justiça le ig a tenha tido 
m aior im portância qu e a sacerdota l à ép o ca de Ham m urabi. Um juiz 
pod ia ser um le igo , um sacerdote e a té forças da natureza com o neste 
caso onde qu em " ju lg a " é o rio:
"Se um aw ilum lançou contra um (outro) awilum 
(uma acusação d e ) feitiçaria, m as não pôde 
comprovar: aquele contra quem foi lançada (a 
acusação de ) feitiçaria irá ao rio e mergulhará no 
rio. Se o rio purificar aquele awilum e ele sair ile ­
so: aquele que lançou sobre ele (a acusação de) 
feitiçaria será m orto e o que mergulhou no rio 
tomará para si a casa de seu acusador. "42
O ju iz le ig o não poderia, contudo, a lterar seu ju lgam en to após o 
encerram ento do processo:
39 S 170.
40 §§ 183 o 184.
41 § 168.
42 § 02.
23
FIAvia ¡.ages do Castro
"So um juiz fez ura julgamento, tomou uma d e ­
cisão, foz exarar um documento solado o depois 
alterou o seu julgamento: comprovarão contra 
esse ju iz a alteração do julgamento que fez; ele 
pagará, então, doze vezes a quantia reclamada 
nesse processo e, na assembléia, fá-lo-ão levan­
tar-se do seu trono de juiz. Ele não voltará a 
sentar-se com os juizes em um processo. "43
1) Trabalho
O C ód igo d e Ham m urabi aborda lois sobre trabalho. Ele, por 
exem plo , p revê e pune o erro m édico:'1'!
"S e um m édico fez em um awilum uma operação 
difícil com um oscapelo de bronze e causou a 
m orte do awilum ou abriu o nakkaptum de um 
awilum com um escapelo de bronze e destruiu o 
olho do awilum, eles cortarão a sua mão . "45
A o m esm o tem po e s te C ód ig o é o prim eiro qu e conhecem os 
ind icar não som en te o p agam en to que um m éd ico d evo ter, m as tam ­
bém o pagam ento d e inúm eros profissionais com o lavradores, pastores, 
tijo leiros. a lfa iates, carp in te iros e tc .46
m ) “ D efesa do C onsum idor"
N a Babilôn ia d e H am m urabi hav ia le is que p ro teg iam os c idadãos 
d o m au prestador de serv iços , p e lo m enos em alguns casos (pode-se 
a tes ta r esta id é ia já no parágra fo 108 - o que trata d a taberneira - 
c itado anteriorm ente):
43 § 05.
44 Se o erro médico foi cometido em nm escravo o ressarcimento ó material.
45 §218.
46 Embora muitas partes destes parágrafos tenham sido apagadas polo tompo, podemos 
conferir esta lista de "honorários" e pagamentos nos parágrafos 215 a 217, 257, 261. 271, 
273 e 274.
24
História do Direito Gerai e Brasil
"Se um pedreiro contruiu uma casa para um 
awilum e não executou o trabalho adequada­
m ente e o muro ameaça cair, esse pedreiro deverá 
reforçar o muro às suas custas." '17
"Se um barqueiro calafetou um barco para um 
awilum e não executou o seu trabalho com cui­
dado e naquele mesmo ano esse barco adernou 
ou sofreu avaria, o barqueiro desmontará esse 
barco, reforçá-lo-á com seus próprios recursos, e 
entregará o barco reforçado ao proprietário do 
barco ."'18
47 § 233.
48 s 235.
25
CAPÍTULO III 
DIREITO HEBRAICO
1. In tro d u çã o
O s Hebreus são um p o vo d e origem sem ita qu e v iv ia na M eso- 
potâm ia (en tre os rios T ig re e Eufrates no C rescen te F értil) no final do 
segu n do m ilên io a.C. Por es ta época iniciaram um deslocam ento que 
term inou por vo lta do sécu lo X V III a.C. na região d a Palestina.
A Palestina p od e ser d iv id id a em várias regiões: um a de p lan ície 
coste ira ao longo do M ed iterrâneo , uma d e picos e le va d os no centro, e 
outra, o curioso va le do Jordão, que fica quase to ta lm en te abaixo do 
n íve l do mar.
A terra dos H ebreus tem , portanto, o mar M ed iterrân eo d e um 
lado, o d eserto d e outro e, o m ais im portante, a qua lidade d e ter s ido o 
loca l d e p assagem en tre a Á fr ica e a Á s ia , isto é, o E g ito e a M esopo- 
tâm ia.
O s Hebreus, com o a m aioria dos povos da reg ião , eram a gr i­
cu ltores - pastores. V iv iam do pastoreio d e ovelhas e, principalm ente, 
cabras, do p lantio d e uvas, trigo, e outros produtos. M a s havia neste 
p ovo um d iferencia l qu e na A n tigu id ad e era único: eram M onoteístas 
(m ono = um, théos = deus). E sta característica m arca tod a a h istória 
d esse povo . b em com o tod a e qualquer produção cultural que tenham 
realizado.
A H istória des tas p essoas p od e ser acom panhada pe la Bíblia, 
m ais espec ificam en te p e lo A n t ig o Testam ento, que reúne a Torá (ou a 
L e i), os Profetas e os Escritos. O N ovo Testam ento inclui a história (e os 
ensinam entos) d e pa rte dos H ebreus que acreditaram q u e Jesus é o 
M essias que o A n tig o previa.
E les acred itavam em um só Deus, qu e por von tade própria havia 
se reve lado a um Patriarca, A braão , e, a partir deste m om ento, iniciou 
um relacionam ento entre E le e os que cham ava de “ Povo Escolh ido". 
E ste era seu d iferencial, os únicos da face da terra com um Deus, 
in iciando a h istória do m onoteísm o que hoje é dom inante no mundo .49
49 Gon. 12. 1ss.
27
Flávia Lages tio Castro
Este relacionam ento é d e ta l m odo intrincado qu e não s e pode 
com preender e s te povo , sem vislum brar a interferência d e Deus em 
suas vidas. Para e les, Deus escolh ia os líderes, Deus esco lh ia o lugar 
onde ficariam, D eu s dava fartura ou não, Deus, d epen den do d eseu 
m erecim ento, d a va a v itória ou a derrota na guerra.
N ão é d e estranhar, portanto, qu e para e s te p ovo a lei tenha sido 
inspirada por D eus e ir contra ela seria o equ iva len te a ir contra Deus. 
Então, o le igo e o d iv in o in teragem d e ta l m odo qu e pecado e crim e se 
confundem , o d ire ito é imutável, som en te Deus podo m odificá-lo . Os 
rabinos (ch e fes re lig iosos ) podem a té interpretá-lo para adaptá-lo à 
evo lu ção social, en tretan to nunca podem m odificá-lo.
A S o c ie d a d e e a V id a E co n ô m ica
Os hebreus, a princípio, se dividiam em tribos de acordo com os 
números de filhos d e Jacó (12); estas tribos se subdividiam em fam ílias o 
toda a organização po lítica e social g irava em tom o deste sta tus quo.
Das doze tr ib os , on ze cuidavam , basicam ente, da agricu ltura e do 
pastoreio, a d éc im a segu nda não tinha terras, era a tribo dos lev itas 
que tinham fu nções sacerdota is (ou m elhor d izendo, d e auxiliares dos 
sacerdotes qu e d escen d iam de Aaráo).
H av ia tam bém outras duas cam adas socia is: a dos escravos e a 
dos estrangeiros. O s prim eiros pod iam ser d istin tos en tre os escravos 
hebreus (p rovave lm en te tom ados com o escravos pe lo não-pagam ento 
d e um a d ív ida ) e estrangeiros. A m bos tinham tantos d ire itos qu e mui­
tos autores con fessam hesitar em cham á-los d e escravos, pois. em bora 
tenham as princ ipa is características, eram cercados d e m uitas con­
siderações, in c lu s ive direitos.
"A ambos assistiam certos direitos assegurados 
quer pela própria legislação mosaica quer polo 
costume. Assim , por exemplo, entre os direitos 
do escravo estrangeiro sa lvaguardados pela 
tradição judaica, podem os enumerar: casar-se 
com uma escrava, possuir bens, converter-se ao 
judaísmo, receber liberdade, cm determ inadas 
circunstâncias. "50
50 GIORDANI, M. C. História da antiguidade oriental. 11. ed. Pctrópolis: Vozes, 2001, p. 233.
História do Direito Geral c Brasil
O s estrangeiros, livres não gozavam do m esm o d ireito dos he- 
breus. Dois tipos de estrangeiros eram d istin tos: os que tinham algum a 
ligação com algum a tribo de Israel e, portan to, desfrutavam d e a lguns 
d ireitos, e os que não tinham quaisquer ligações não tendo d ire ito 
algum .
A p ós os quarenta anos no deserto , d epo is d e se libertarem da 
escrav idão no E gito , ao chegarem â T e ira Prom etida , os Israelitas pas­
saram d e som en te pastores (com o eram antes, p e lo seu nom adism o) a 
agricu ltores-pastores. Entretanto, se por sécu los estas a tiv idades agro- 
pastoris foram o cern e da econom ia desta soc iedade, a indústria tam ­
bém conheceu um certo desenvolv im en to, principa lm ente aqu ela que 
u tilizava o cobre com o matéria-prima.
O com ércio atingiu seu auge no p eríodo d e Davi e Salom ão e 
sem pre foi presen te na v ida d es te povo, v is to qu e a reg ião que habitam 
é um a verdadeira encruzilhada nas rotas d a M esopotâm ia, E g ito , M ar 
Verm elho e do deserto.
3. A L e i M o sa ic a
Por vo lta d e 1800 a.C. fortes secas obrigaram os Hebreus a sa írem 
d a Palestina em d ireção ao Egito. N es ta ép o ca um povo, cham ado 
H icsos, ten tava conqu istar as p lan íc ies do N ilo ; não se sabe se os H e ­
breus enfrentaram ou s e aliaram aos hicsos; sabem os, entretanto, que 
em 1580 a.C., depo is da expulsão destes , os H ebreus passaram a ser 
p ersegu idos no E gito , passando a p aga r p esa d os im postos e ch egan do 
até m esm o à escrav idão .51
M oisés lideraria e s te povo, aprox im adam ente em 1250 a.C., d e v o l­
ta à Palestina, em um ep isód io cham ado êxodo , ou fuga. Conta a Bíblia 
que M o isés teria sido criado por uma p rin cesa eg ípc ia qu e o havia 
encontrado em um a cesta boiando no rio e que, após chegar à idade- 
adulta, teria tom ado consciência de suas ra ízes hebraicas e, d ep o is de 
um exílio, teria vo ltado ao E gito para liderar a libertação dos Hebreus.
A n tes d e chegarem à Palestina, segu n d o a Bíblia, os H ebreus 
teriam passado quarenta anos no d eserto e aí teriam forjado, sob a 
liderança do M oisés, toda a base de sua c iv ilização , inclusive suas leis.
51 A Bíblia conta a história da ida para o Egito a partir da história do José que teria sido 
vendido pelos seus irmãos como escravo indo parar no Egito o chegando a alto fun­
cionário do faraó (cf. Gen. Capítulos do 37 a 50).
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Flávia Lages do Castro
A cred itam alguns que a Torá (qu e contém a lei dos H ebreus) foi 
criada pe lo p róprio M o isés e, em bora es te dado este ja um tan to d esa ­
cred itado h o je em dia, continuam os denom inando a log ís la ção do 
"M osa ica ", m esm o porque, provavelm ente, foi após a sa ída do E gito 
que es te povo com eçou a estruturar as bases de seu direito.
A base m oral da Leg is lação M osa ica pode ser encontrada nos D ez 
M andam entos, q u e teriam sido escritos “p essoa lm en te" por Deus no 
M onte Sinai, com o form a de A liança entre E le e o Povo Escolhido.
A Torá, tam bém cham ada Pentateuco, é form ada p e lo s cinco 
prim eiros livros d a B íblia: o G ênesis, o êxodo, o Levítico , o N úm eros e o 
Deuteronôm io. Em toda a Torá encontram os leis; en tretanto, há no 
último livro um a reunião m aior de leis, repetindo inclusive alguns 
p receitos v is tos nos outros livros, m esm o porque é es ta a in tenção do 
Deuteronôm io, qu e s ign ifica "segu n da le i".
“ [a simplicidade] se reflete poderosam ente na lei 
mosaica, cuja virtude principal reside no fato de 
ter transform ado num verdadeiro c ó d ig o as 
normas não escritas da prim itiva sociedade de 
nômades.” 52
A m aioria dos autores afirm a não ser a le i d e M o isés um a le g is ­
lação qu e d is tin ga en tre direito sacro e profano, apontado-a com o um 
d ireito re lig ioso . Is to é fato; entretanto, apenas defin ir e s te d ire ito d es ­
ta form a s im p lifica um a visão que p od e ser am pliada e p od e auxiliar-nos 
na com preensão d es ta soc iedade e sua relação com a le i e a relig ião.
Se analisarm os o p ovo hebreu, poderem os constatar, com o já afir­
m ado an teriorm ente, qu e é um p ovo qu e traz em tudo o fa tor re lig ioso 
c isto se dá, principa lm ente, porque sua religião, e a essên c ia desta , o 
m onoteísm o, fo i durante muitos sécu los exclusiv idade do p o vo israe­
lita. D esta form a, ao s e tentar defin ir os hebreus, passarem os, ob riga to ­
riam ente o prim eiram ente, pela qu estão religiosa.
A ss im a re lig ião não é som ente um a das características dos israe­
litas, mas p o d e ser ind icada com o "a " característica, aqu ela qu e d á ali­
coreo o ó o pon to d e convergência d e toda uma sociedade. Tanto fo i as­
sim que, p raticam en te, todas as v e ze s que es te povo descu idou -se da 
relig ião, p rob lem as socia is e políticos aconteceram . E les, obviam ente, 
exp licavam ta is "co in c id ên c ias" com o uma v ingança ou desap rovação
52 RÁO, v. Op. c/c., p. 173.
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Història do Oiruilo Goral o Brasil
da d iv indade; entretanto, qualquer que fo sse a característica primor­
d ial d e um povo, s e fosse desdenhada, desuniria a soc iedade trans­
form ando-a cm a lvo fác il para problem as internos ou externos.
4. A F o rm a ç ã o d o D ir e ito H e b ra ic o — d a L e g is la ç ã o M osa ica 
a os d ia s d e h o je
A trad ição ind ica M o isés com o autor do Pentateuco, portanto 
autor do Deuteronôm io, das cham adas Le is M osaicas. E sta obra deverá 
ter en tão a idade d e seu criador e d eve s e r datada no sécu

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