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CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATERIAIS CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO CRISTIANO DA SILVA FRANCISCO DAS CHAGAS ALVES DE OLIVEIRA MANUAL PRÁTICO CARACTERIZAÇÃO DE ESTRUTURAS CRISTALINAS E AMORFAS ATRÁVES DAS TÉCNICAS DE DIFRAÇÃO DE RAIOS X E ESPECTROSCOPIA RAMAN Profº Msc: Francílio de Carvalho Oliveira SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 2. O QUE SÃO MATERIAIS CRISTALINOS 3. CARACTERIZANDO MATERIAIS CRISTALINOS 3.1 DIFRAÇÃO DE RAIOS X 3.2 ESPECTROSCOPIA RAMAN 4. O QUE SÃO MATERIAIS AMORFOS 5. CARACTERIZANDO MATERIAIS AMORFOS 5.1 DIFRAÇÃO DE RAIOS X 5.2 ESPECTROSCOPIA RAMAN REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO 1. Introdução Este manual é composto por duas partes. A primeira parte apresenta os requisitos teóricos à cerca das estruturas cristalinas e amorfas. O objetivo é o de proporcionar uma melhor compreensão sobre o que é cada uma dessas estruturas, suas características, propriedades e demais itens que se julgar relevante. As informações referentes à parte conceitual foram elaboradas para possibilitar uma comparação entre as diversas características de diferentes composições, bem como deixa o leitor muito bem familiarizado com o tema a ser tratado, desse modo se conseguirá traçar um paralelo entre as peculiaridades, seja ela química ou física, microscópica ou macroscópica com os resultados a serem obtidos em cada uma das analises a serem realizadas. A segunda parte é composta por duas seções, onde será verificada a consistência do enunciado teórico através das características das duas estruturas, cristalinas e amorfa, por meio das duas principais técnicas de cristalografia, a Difração de Raios X e a Espectroscopia Raman. Este manual é voltado para a disciplina de Ciência e Tecnologia de Materiais, que envolve a investigação das relações entre as estruturas e as propriedades dos materiais. Em contraste, a Engenharia de Materiais consiste, com base nessas correlações estrutura-propriedade, no projeto ou na engenharia da estrutura de material para produzir um conjunto de propriedades predeterminadas. Assim, devemos ter atenção para as relações entre as propriedades dos materiais e os elementos de estrutura. Estrutura de um material se refere, em geral, ao arranjo dos seus componentes internos, já as propriedades consistem em uma peculiaridade de um dado material em termos do tipo e da intensidade da sua resposta a um estimulo especifico que lhe é imposto. Este trabalho visa atender a estes dois pontos. 2. O que são materiais cristalinos Num sólido cristalino, o arranjo dos átomos, moléculas ou íons é tal, que a soma das forças atrativas globais tem um valor máximo. Estes sólidos apresentam uma organização interna uniforme. Nestes sólidos, as unidades estruturais constituintes da matéria (átomos, moléculas ou íons) podem ligar-se por meio de ligações químicas. No processo de solidificação dos sólidos cristalinos, os átomos ou moléculas fundamentais que os compõem se dispõem espacialmente numa forma geométrica ordenada. Os micro-cristais básicos, células componentes das redes cristalinas do sólido, assumem formas cúbicas, rômbicas, tetragonais, hexagonais ou prismáticas irregulares. O retículo espacial, ou rede, unidade do sistema de cristalização do sólido, repete-se indefinidamente nas três direções do espaço até alcançar as suas bordas exteriores. Dessa forma, ao fraturar-se um sólido de cristalização perfeita, deve reproduzir em cada um dos seus fragmentos a geometria do corpo no mesmo sistema cristalino. Os átomos ou moléculas do cristal situam-se ou no vértice de cada retículo, ou no centro do retículo, ou ainda no centro de cada uma de suas faces. Essa disposição interna foi determinada mediante observação a partir da difração dos raios X, ou seja, do desvio sofrido pelos feixes dessa natureza que se fazem incidir sobre os sólidos. A partir de uma perspectiva geral, distinguem-se quatro tipos de sólidos cristalinos: metais e ligas metálicas, cristais iônicos, cristais covalentes e cristais moleculares. Os metais e ligas metálicas caracterizam-se principalmente por apresentarem elevada condutividade da eletricidade e do calor. Essas características explicam- se pela relativa liberdade de movimentos dos elétrons (partículas elementares de carga negativa) que ficam livres na rede ao se configurarem as ligações entre os átomos do metal. Os cristais iônicos são agregados de íons: átomos ou moléculas que, durante transformações químicas, perderam ou capturaram elétrons e ficaram eletricamente carregados. Os íons positivos e negativos distribuem-se de forma intercalada, razão pela qual as ligações resultantes se fundamentam nas forças compensadas de atração eletrostática existente entre eles. A rede dos cristais iônicos constitui um sal cuja condutividade elétrica e calorífica normalmente aumenta de forma proporcional à temperatura. Os cristais covalentes, como o diamante, o silício e o germânio, apresentam alta dureza e, freqüentemente, brilho. Ao contrário dos cristais iônicos ou salinos, comportam-se em geral como isolantes elétricos devido à ausência parcial ou total de cargas elétricas na sua estrutura. Os cristais moleculares são substâncias que procedem de fases gasosas de acentuada estabilidade (como o dióxido de carbono, por exemplo). Exemplos deste tipo de cristais são o hélio seco e o dióxido de carbono solidificado, as formas sólidas dos gases nobres e numerosos compostos orgânicos constituídos basicamente por átomos de carbono e hidrogênio. Alguns cristais moleculares e covalentes, assim como certas ligas metálicas e sais iônicos, são substâncias isolantes, não-condutoras de corrente elétrica a baixas temperaturas. Ao aumentar-se a temperatura acima de certo valor, contudo, a sua condutividade aumenta sensivelmente. Esses materiais, que constituem intrinsecamente conectores e interruptores elétricos, em função da temperatura a que são submetidos, recebem o nome de semicondutores. Desde a segunda metade do século XX, estes materiais alcançaram importância transcendental na tecnologia eletrônica e cibernética. É importante frisar alguns termos a serem utilizados neste manual, trata-se das estruturas cristalinas que são a maneira segundo a qual os átomos, íons ou molécula estão arranjados; também o conceito de célula unitária, que por sua vez consiste num pequeno grupo de átomos que formam um modelo repetitivo ao longo da estrutura tridimensional (analogia com elos da corrente), a célula unitária é escolhida para representar a simetria da estrutura cristalina; e por fim os sistemas cristalinos, que incluem todas as possíveis geometrias de divisão do espaço por superfícies planas contínuas, sendo que só existem 7 tipos de células unitárias que preenchem totalmente o espaço, são elas, a cúbica, tetragonal, ortorrômbica, romboédrica, hexagonal, monoclínica e triclínica. Dos 7 sistemas cristalinos podemos identificar 14 tipos diferentes de células unitárias, conhecidas como redes de Bravais. Cada uma destas células unitárias tem certas características que ajudam a diferenciá-la das outras células untarias. Além do mais, estas características também auxiliam na definição das propriedades de um material particular. 3. Caracterizando os materiais cristalinos No tópico anterior analisaram-se alguns pontos inerentes aos materiais cristalinosbem como algumas de suas peculiaridades microscópicas, no item a seguir se identificará algumas particularidades desses materiais por meio das duas técnicas de cristalografia, a difração de raios X e a espectroscopia Raman. 3.1 Difração de Raios X A base de toda compreensão do fenômeno de difração de raios X em materiais cristalinos e a Lei de Bragg é a análise das relações de fase entre as ondas espalhadas. Essa análise se concentra na observação da diferença de caminho entre ondas, medida em comprimentos de onda, como explicado a seguir por meio da figura abaixo. A Figura 1 mostra planos de um cristal (A, B, C,...) com seus átomos dispostos periodicamente, espaçados a uma distância “d”. Suponha um feixe de raios x perfeitamente paralelo, monocromático de comprimento de onda l, incide sobre este cristal, descrevendo um ângulo ᶿ em relação ao plano cristalino. Figura 1: Representação da difração de raios X por um cristal Os raios incidentes 1 e 1a atingem os átomos K e P respectivamente no plano A e tornam-se os feixes espalhados 1´ e 1a´. Estes feixes dispersos estarão completamente em fase, já que a diferença de caminho percorrido entre as frentes de onda XX´ e YY´ for igual à QK – PR = PK cos ᶿ = 0, vamos chamá-la de equação I. Este fato será aceito para todos os raios espalhados, por átomos do primeiro plano, que estejam em uma direção paralela a 1´. Sendo assim, os feixes estarão em fase e contribuirão construtivamente ao feixe difratado. Isto poderá ser observado em todos outros os planos separadamente, encontrando sempre a condição de um reforço dos raios espalhados por átomos no mesmo plano ou até em planos diferentes. Um exemplo de reforço de feixes dispersos oriundos de planos diferentes, pode ser visto pelos raios 1 e 2. Esses, são espalhados (1´ e 2´ ) por átomos K e L, respectivamente, e a diferença de caminhos para os raios 1K1´ e 2L2´ será ML + LN = d´ sen ᶿ + d´ sen ᶿ, vamos chamá-la de equação II. Note-se que os raios espalhados por S e P estarão sobrepostos, visto que não haverá diferença de caminhos para esses raios. O mesmo é válido para P e K. Os raios espalhados 1´ e 2´ estarão completamente em fase, se esta diferença de caminho for igual a um número “n” inteiro de comprimento de onda, ou se nl = 2 d´ sen ᶿ, vamos chamá-la de equação III. Esta relação (equação III) é conhecida como a Lei de Bragg. Foi formulada por W. L. Bragg e afirma que essa – equação III – é a condição essencial para ocorrer a difração. O “n” é chamado de ordem de reflexão, que pode assumir qualquer valor inteiro de acordo com sen ᶿ e é igual ao número de comprimentos de onda presente na diferença de caminho entre os raios espalhados por planos adjacentes. Portanto, para valores fixos de l e “d”, podem existir vários ângulos de incidência (ᶿ1, ᶿ2, ᶿ3, ᶿ4, ...) nos quais a difração pode ocorrer, correspondendo a n = 1, 2, 3. Os feixes espalhados por todos os átomos em todos os planos que estão, completamente em fase, reforçam-se mutuamente (interferência construtiva de ondas) para formar um feixe difratado na direção mostrada. Existem, porém, feixes espalhados em outras direções que estão fora de fase e, desta maneira, se anulam mutuamente (interferência destrutiva). Por exemplo, numa reflexão de primeira ordem (n = 1), os raios espalhados 1´ e 2´ da Figura 2.6 difeririam em relação a fase por um comprimento de onda, já os raios 1´ e 3´ por dois comprimentos de onda, os raios 1´ e 4´ por três comprimentos de onda, e assim por diante através dos planos do cristal. Podem, ainda, ocorrer diferenças de fase intermediárias, resultando num reforço parcial, ou seja, a onda resultante irá ter uma amplitude também intermediária. Para concluir, difração de raios X é um fenômeno de espalhamento desses, devido à cooperação de um grande número de átomos organizados periodicamente em planos, o que vemos exatamente nos materiais cristalinos, com relações de fase entre eles. Relações tais que a interferência destrutiva ocorre na maioria das direções de dispersão, mas, em alguns sentidos a interferência construtiva ocorre e raios difratados são formados. O resultado final para caracterizar os materiais cristalinos por meio desta técnica se resume no difratograma, que é fornecido pelo aparelho de difração de raios X após a análise. Nos materiais cristalinos será visível o aparecimento de picos totalmente lineares, ou seja, inexiste formatos ondulares não-lineares, o que caracterizará por sua vez os materiais amorfos como veremos mais tarde. Figura 2: Perfil de difração de um material cristalino, com picos estreitos A equação de Bragg é deduzida considerando-se o espaçamento interplanar uniforme, característica dos materiais cristalinos. Se os arranjos de átomos planos ou os espaçamentos entre os planos paralelos tornam-se irregulares, os padrões de difração não serão bem definidos. É o que ocorre nos líquidos e materiais amorfos, os padrões de difração não produzem picos estreitos. 3.2 Espectroscopia Raman Tendo em vista a falta de referencial teórico significativo que substancie as nossas pesquisas de um modo mais geral, optou-se por realizar uma análise dos materiais cristalinos através da técnica de Espectroscopia Raman em seus dois espectros, tanto na luz visível como no campo infravermelho, tendo como item principal as análises de materiais carbonosos cristalinos, ponto onde a técnica é bem mais eficiente e conclusiva. Para a caracterização dos compostos cristalinos em geral foi-se analisado o comportamento de um material cristalino já bem conhecido, o diamante. A Figura 3 mostra as curvas do espectro do diamante. Figura 3: Espectros Raman de diamante, excitado com três diferentes comprimentos de onda Podemos observar a presença bem nítida do pico do diamante, aproximadamente a 1332 cm−1 para os três comprimentos de onda de excitação, referente à ligação C-C do tipo sp³. As bandas que aparecem com a excitação no infravermelho próximo (785 nm), região de 1287 e 1374 cm−1 estão associadas à presença de carbono não-diamante, não detectados no espectro quando excitados no visível. Para o espectro coletado no sistema de 1064 nm observam- se bandas características centradas em 1234 e 1554 cm−1, que podem estar relacionadas com as bandas D e G de materiais grafíticos. É possível facilmente identificar se um material carbonoso será cristalino por meio da técnica de Espectroscopia Raman devido à forma das bandas. Se estivéssemos analisando um material amorfo à linha do espectro Raman seria bem mais larga, já que desta forma existiria menos coerência dos fótons espalhados durante o processo Raman, devido à falta de cristalinidade. Materiais carbonosos cristalinos, dependendo da sua forma alotrópica (diamante ou grafíticos) exibem espectros Raman´s bem característicos entre a região de 1000 até 2000 cm−1 que podem diferenciá-los. Diamantes apresentam um pico muito bem definido em 1332 cm−1, o qual não varia com o comprimento de onda. Materiais grafíticos apresentam D, G, D´ e um ombro, sendo apenas a posição da G não dependente do comprimento de onda de excitação. Em materiais grafíticos altamente ordenados, como HOPG (High Ordered Pirolutic Carbon), a banda G é bem mais evidente do que a D e D´ em comprimento de onda de excitação no espectro visível. Vamos analisar também o caso do Silício Cristalino e do Silício Amorfo no espectro Raman, conforme Figura 4.Figura 4: Espectro Raman do Silício Cristalino e Amorfo Os fenômenos observados na interação da luz com a matéria durante os experimentos Raman são: espalhamento elástico e espalhamento inelástico. O que se observa no espalhamento Raman e na fotoluminescência é a emissão de luz decorrente da interação entre o feixe incidente e a matéria. Para compreendermos a análise das amostras cristalinas e amorfas neste tipo de analise cristalográfica é importante antes sabermos como funciona essa técnica. Para a análise espectral desta radiação emitida é utilizado o arranjo experimental esquematizado na Figura 5. O arranjo é composto de uma fonte de excitação, geralmente um laser, de um sistema de focalização do laser na amostra, feito através de um microscópio óptico que permite obter uma resolução espacial de 1 mícron, de uma câmera de vídeo, que recebe a imagem da amostra através do microscópio e a transfere para a tela de vídeo permitindo a escolha da região que se deseja medir. Figura 5: Descrição do equipamento de medidas de espectroscopia Raman O sinal espalhado pela amostra é coletado no microscópio e transferido para o espectrômetro, composto por prisma, espelhos, lentes, filtro e grade de difração. Este sinal é analisado nas diferentes freqüências que o compõem, e em seguida é convertido de sinal luminoso para sinal elétrico no sistema de detecção. Ainda deve ser calculado, no caso pelo software do sistema, o deslocamento Raman que é a diferença da freqüência do sinal espalhado pela amostra em relação à freqüência do laser incidente na amostra. Assim, a intensidade da radiação espalhada pode ser analisada em função deste deslocamento como na Figura 5, onde se apresenta o espectro típico do Silício Cristalino e observam-se ligações Si-Si com um pico centrado em 519 cm−1. Também para o caso de um filme de Silício Amorfo se observam as ligações Si- Si só que dispersas na rede amorfa com uma banda em 480 cm−1. O espalhamento elástico do feixe incidente na superfície da amostra deve ser filtrado para não mascarar o sinal Raman. O sinal Raman é constituído de fótons com energias hv diferentes, porém com valor médio bem próximo à do laser utilizado. Para separar o sinal Raman do espalhamento elástico do feixe incidente utiliza-se um filtro especial. A função do filtro é que passem todas as freqüências exceto àquela que é barrada em uma freqüência central de um determinado comprimento de onda, a do laser utilizado, dessa forma se elimina uma única banda estreita de freqüência permitindo outras com informações que sofreram espalhamento Raman. A amplitude de uma resposta do filtro é fixa em todas as freqüências exceto para parar a bando de ambos os lados do centro da faixa de freqüência. O sinal de fotoluminescência coletado é analisado com o auxílio do mesmo software que se utiliza para a medida Raman. Assim, o espectro é fornecido em função do Raman shift em cm−1 da radiação incidente e conseqüentemente deverá ser transformado para a energia ou para o comprimento de onda do fóton emitido. Os compostos cristalinos podem facilmente ser identificados nesta técnica através dos seus picos bem definidos o que é completamente diferente dos compostos amorfos quando submetidos na mesma análise, eles apresentam uma ondulação, embora apresentem picos estes não é tão centrado quanto nos cristalinos. No momento da análise dos compostos amorfos através desta técnica voltaremos a abordá-la, entretanto, o ponto principal aqui é fazer com que o leitor entenda sobre como se processa a técnica de cristalografia Raman e como os seus resultados podem nos levar a indicar se tal amostra é cristalina ou amorfa, ou seja, não apresenta forma definida, uma constituição fixa, e que após serem analisados por meio do laser os seus espectrômetros mostrarão picos a ondas bem distintas, sendo que as ondas em certas bandas vão indicar amorfos e os picos bem definidos em certas bandas vão reportar a compostos cristalinos. 4. O que são materiais amorfos Vamos observar a Figura 6. Figura 6: Vidro sendo moldado Se até neste momento você tinha conhecimento de apenas três estados físicos: sólido, líquido ou gasoso, conheça agora uma variação do estado sólido da matéria, conhecido como amorfo. Material amorfo ou substância amorfa é a designação dada à estrutura que não têm ordenação espacial a longa distância (em termos atômicos), como os sólidos regulares. Para um material ser considerado como sólido regular é preciso que tenha uma estrutura cristalina definida, que corresponde a um posicionamento dos átomos que o compõe. Os materiais amorfos não apresentam forma geométrica definida, podem apresentar até certa rigidez como os sólidos comuns, mas seus átomos não se encontram em organização espacial (a nível microscópico). Exemplos de substâncias amorfas: parafinas, sabões, vidro, vários polímeros (poliestireno, por exemplo). Os materiais amorfos são obtidos de materiais derretidos, o resfriamento reduz a capacidade de mobilidade das moléculas. Também chamadas de estruturas vítreas, as características amorfas são formadas por arranjos atômicos aleatórios e sem simetria ou ordenação de longo alcance. Esse tipo de estrutura pode ser encontrado em gases, em líquidos e em certos sólidos representados basicamente pelo vidro. Os dois primeiros são fluídos e da maior importância em engenharia, já que incluem muitos dos nossos combustíveis, o ar necessário à combustão, e também a água. Conforme dizemos no início desta definição, um material apresenta estrutura amorfa se quando resfriado a partir do líquido exibir um aumento contínuo de sua viscosidade, Figura 7. Figura 7: Variação da viscosidade com temperatura para materiais vítreos e cristalinos Quando o material atinge uma determinada temperatura, definida como temperatura de transição vítrea, 𝑡𝑣, o valor da sua viscosidade é da ordem de 1012 e 1013 P (poise, IP = 1 g. 𝑐𝑚−1. 𝑠−1), que é semelhante aos valores da viscosidade de materiais no estado sólido. Nesta situação, devido ao limitado movimento atômico, o arranjo dos átomos não é possível e a cristalização do material não ocorre. Por outro lado, se durante tal resfriamento a cristalização do material ocorre, a viscosidade do mesmo é abruptamente alterada, atingindo valores próximos de 1012 P. Outra forma de diferenciar o processo de formação da estrutura cristalina (cristalização) da estrutura amorfa (vitrificação) é a medida de variação de volume durante o resfriamento do material líquido conforme explica a Figura 8. Figura 8: Variação do volume específico com a temperatura para materiais vítreos e cristalinos Quando o material cristaliza-se, ocorre uma rápida variação de volume em uma determinada temperatura, definida como temperatura de fusão 𝑡𝑓 . Este fenômeno é resultante da organização dos átomos para formar um cristal do material. Se o material apresenta o processo de vitrificação durante o resfriamento, a variação de volume é contínua, já que a ordenação dos átomos não ocorre totalmente. Portanto, é possível afirmar que o vidro tem estrutura de um líquido “congelado”. Este “congelamento” se dá à temperatura de vitrificação, que é inferior à temperatura de cristalização. As estruturas amorfas são geralmente observadas em materiais que poderiam apresentar estrutura cristalinase solidificados sob condições especiais. Alguns compostos cerâmicos à base de óxidos, silicatos, boratos e aluminetos formam estruturas vítreas em condições normais de solidificação. Logo, é importante entender mesmo que em um formato resumido, como esses materiais amorfos se comportam, como eles se diferenciam dos materiais cristalinos em determinadas situações físicas e químicas, e principalmente, como determinar as suas estruturas e assim poder caracterizá-los usando as técnicas de cristalografia. As duas técnicas a seguir nos ajudarão a caracterizar essas estruturas. 5. Caracterizando materiais amorfos No tópico anterior analisaram-se alguns pontos inerentes aos materiais cristalinos bem como algumas de suas peculiaridades físicas, no item a seguir se identificará algumas particularidades desses materiais por meio das duas técnicas de cristalografia, a difração de raios X e a espectroscopia Raman. 5.1 Difração de Raios X As estruturas dos sólidos amorfos são caracterizadas por pouca ou nenhuma periodicidade. No entanto, apresentam certa tendência para “ordem” somente no sentido de que os átomos mostram uma preferência estatística para uma particular distância interatômica. A equação de Bragg é deduzida considerando-se o espaçamento interplanar uniforme. Se os arranjos de átomos planos ou os espaçamentos entre os planos paralelos tornam-se irregulares, os padrões de difração não serão bem definidos. É o que ocorre nos líquidos e materiais amorfos (vidro, borracha, polietileno, etc.). Vejamos a Figura 9. Figura 9: Perfil de difração: (a) material cristalino e (b) material amorfo No caso de materiais amorfos, os padrões de difração não produzem picos estreitos como nos materiais cristalinos, veja a Figura 9a, e sim, pontos mais largos, veja Figura 9b, pois os arranjos dos átomos são irregulares. A técnica de Difração de Raios X é muito útil em determinar estruturas, um bom exemplo disso é que o “carbono amorfo” foi assim chamado antes que a técnica de difração de raios-X mostrasse que sua estrutura era simplesmente constituída de folhas individuais semelhantes à grafita, paralelas entre si, mas de orientações diferentes, isto é, existia ordem bidimensional, mas não tridimensional. Um diagrama de difração de raios-X (um difratograma) de pós- cristalinos consiste de muitas linhas nítidas. Em contraste, um difratograma de um pó não-cristalino, ou seja, amorfo, apresenta dois ou três halos indicando que a estrutura tem ordem de curto alcance, mas não de longo alcance. Em outras palavras, os átomos se arranjaram dentro das subunidades de modo ordenado e não aleatório, a ausência de ordem de longo alcance nos sólidos não-cristalinos é devida ao fato de que essas subunidades não se agregam de modo regular em três dimensões. A Figura 10 mostra os difratogramas de raios-X de um mesmo material, a sílica, no estado cristalino quartzo (Figura 10a) e no estado vítreo (sílica vítrea ou vidro de quartzo, Figura 10b). Figura 10: Difratograma da Sílica Cristalina (a) e Vítrea (b) Pelos gráficos é fácil concluir que a análise de estrutura amorfa pela Difração não é possível, pois, uma vez que esses materiais não apresentam uma ordenação fixa sua análise pelo Raio X não irá nos fornecer dados confiáveis que substancie a sua composição, sua estrutura e a interação eletrônica. 5.2 Espectroscopia Raman Assim como foi feito a análise de materiais cristalinos, se analisará os materiais amorfos também através da mesma técnica. Para caracterizar os materiais amorfos por meio desta técnica partiremos da análise espectral de três materiais amorfos provenientes do mesmo elemento químico (alotropia), no caso o carbono, são eles: pó de grafite, nanotubos de carbono de paredes múltiplas (multiwall) e fibras de carbono, respectivamente. Em geral os espectros Raman de todos os materiais grafíticos são muito semelhantes. A posição da banda G tende a ser a mesma para os três comprimentos de onda e a bandas D e D´ tem suas posições deslocadas para números de onda menores, para excitação na região do infravermelho. Nota-se também a presença de ombros na região de 1200 a 1300 cm−1. Quanto à intensidade dos picos, é notável a sua inversão para o grafite e para fibra de carbono, quando utilizamos os comprimentos de onda maiores, ou seja, a intensidade do pico D tornou-se maior que a do pico G. Este fato revela que a eficiência de espalhamento (já falamos sobre isso nos materiais cristalinos) para formas de carbono desordenado é bem maior para comprimentos de onda no infravermelho. Para os nanotubos de carbono analisados o pico D já era maior mesmo para o laser no espectro visível. O fato de a banda D já possuir uma grande intensidade relativa revela alto grau de desordem estrutural, que é a característica principal dos materiais amorfos. Vamos analisar as Figuras 11, 12 e 13. Figura 11: Espectro Raman de grafite, excitado em três diferentes comprimentos de onda Figura 12: Espectro Raman de Nanotubos, excitados em três comprimentos de onda Figura 13: Espectro Raman de Fibra de Carbono, em três diferentes comprimentos de onda Conforme havíamos dito quando da análise dos materiais cristalinos pela mesma técnica de cristalografia empregada aqui é possível facilmente diferenciar formas alotrópicas cristalinas e amorfas por meio da técnica de espectroscopia Raman devido à forma das bandas que esses materiais apresentam. Quanto mais larga a linha do espectro Raman, mais amorfo o material se apresenta, já que desta forma existe menos coerência dos fótons espalhados durante o processo Raman, devido à falta de cristalinidade. Os três gráficos acima nos servem para corroborar a tese de que os materiais amorfos quando submetidos a esta técnica se caracterizarão por uma ausência de picos, diferente dos cristais. REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO L. C. Pardini, Apostila do Curso Tópicos Avançados em Carbonos Estruturais - Física e Química de Materiais Aeroespaciais oferecido no Departamento de Engenharia Aeronáutica e Mecânica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) (2004); Van Vlack, L. - Princípios de Ciência dos Materiais, 3a ed; Corrêa, S. M. Compósito À Base De Resíduos De Concreto E Resíduos De Produção De Cal (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Engenharia. Curitiba, 2005; KAHN, H., 2007, Difração de Raios X. Universidade de São Paulo, Escola Politécnica; GUIMARÃES L. R., 1990, Estudo de Parâmetros Experimentais Envolvidos na Determinação de Macrotensões Residuais, em Tubos de Aço Inoxidável, pelo Método da Difração de Raios – X. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.
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