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Administração e Planejamento Social Professora conteudista: Maria Augusta Pontes Cardoso Sumário Administração e Planejamento Social Unidade I 1 REVENDO CONCEITOS DE ADMINISTRAÇÃO ...........................................................................................1 1.1 Teorias administrativas, suas ênfases e seus principais enfoques .......................................1 2 ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO E RESPONSABILIDADE SOCIAL DO ADMINISTRADOR .................3 3 AUTOGESTÃO E ECONOMIA SOLIDÁRIA ................................................................................................. 10 4 CONTROLE SOCIAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS ..................................................................................... 24 Unidade II 5 GESTÃO SOCIAL: A ADMINISTRAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR ................. 29 6 A UTILIZAÇÃO DA ARTE EM PROCESSOS DE INCLUSÃO SOCIAL ................................................. 34 7 DEFINIÇÃO DE PLANEJAMENTO ................................................................................................................ 39 8 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO .................................................................................................................. 40 9 PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO ............................................................................................................... 42 10 PLANEJAMENTO: UMA DISCIPLINA IMPRESCINDÍVEL À FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL .................................................................................................................................................. 46 11 DESENVOLVIMENTO E INCLUSÃO SOCIAL: O PLANEJAMENTO COMO ESTRATÉGIA DE INCLUSÃO SOCIAL ............................................................................................................................................... 50 1 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Unidade I 5 10 15 20 1 REVENDO CONCEITOS DE ADMINISTRAÇÃO A administração é o conjunto de normas e funções que visa a disciplinar os elementos de produção, submetendo a produtividade a um controle de qualidade, com vista a uma maior eficácia. Assim, administrar envolve a elaboração de planos, projetos, pareceres, relatórios e laudos em que é exigida a aplicação de conhecimentos inerentes às técnicas de administração. O êxito do desenvolvimento administrativo de uma empresa é resultado, em grande parte, da atuação e da capacidade dos seus gerentes, que devem cumprir o papel de orientar e facilitar os esforços dos seus subordinados para se desenvolverem. 1.1 Teorias administrativas, suas ênfases e seus principais enfoques Quando abordamos a história da administração, podemos afirmar que seu início teve por base a Administração Científica de Taylor, cuja ênfase era a divisão de tarefas. Tal escola foi seguida pela Teoria da Administração Científica desenvolvida por Fayol, cuja ênfase passou a ser a estrutura. Podemos citar ainda, a Escola Burocrática de Max Weber e, posteriormente, a sistematização da Teoria Estruturalista. Mais tarde surgem escolas administrativas baseadas nas teorias comportamentais e nas teorias do desenvolvimento 2 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 organizacional, que apresentam como diferencial, a ênfase nas pessoas. As duas escolas que se seguiram, com ênfase no ambiente e na tecnologia, são oriundas da Teoria dos Sistemas e da Teoria da Contingência e levaram, finalmente, a ênfase na tecnologia. É importante destacar que o desenvolvimento de cada uma destas teorias marcou e compôs a história da teoria geral da administração e, cada uma a seu tempo, privilegiou um enfoque, em detrimento dos demais. 1. Ênfase em tarefas: administração científica que buscava a racionalização do trabalho no nível operacional. 2. Ênfase na estrutura: teoria clássica e teoria neoclássica são norteadas pela organização formal, pelos princípios gerais da administração e pelas funções do administrador. • Teoria da burocracia: baseada na organização formal burocrática e na racionalidade organizacional. 3. Ênfase nas pessoas: teoria das relações humanas é baseada na organização informal, buscando a motivação, liderança, comunicações e dinâmica de grupo. • Teoria do desenvolvimento organizacional: mudança organizacional planejada, abordagem de sistema aberto. 4. Ênfase no ambiente: teoria estruturalista e teoria neoestruturalista enfocam a análise intraorganizacional e a análise ambiental; abordagem de sistema aberto. • Teoria da contingência: análise ambiental (imperativo ambiental); abordagem de sistema aberto. 5 10 15 20 25 3 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 5. Ênfase na tecnologia: teoria dos sistemas foca na administração da tecnologia (imperativo tecnológico). 2 ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO E RESPONSABILIDADE SOCIAL DO ADMINISTRADOR Para falarmos sobre a responsabilidade social das empresas, precisamos ter claro que tal conceito está diretamente relacionado aos conceitos éticos que norteiam seus administradores e, para fazermos esta análise, precisamos inicialmente de alguns conceitos. Moral e ética A moral está relacionada com a escala de valores de cada pessoa, grupo ou empresa. Quando falamos de valores, estamos nos referindo ao que consideramos importante, ou, em outras palavras, dos propósitos que irão definir o direcionamento da nossa vida e do sentido que daremos a ela. Envolve ainda, nossos conceitos de certo e errado, de bem e mal, de bom e ruim. São estas definições que determinarão nossas ações na busca pela plenitude da vida, que será atingida à medida que consigamos compatibilizar nossas ações com os valores preestabelecidos. A moral, sendo a ordenação de valores, orienta as decisões que tomamos a cada instante de nossa vida, o que produz um efeito em nossas relações sociais. Por sua vez, a ética está relacionada com a forma como agimos norteados pela escala de valores que consideramos adequados para nossas vidas, ou seja, é o resultado da influência de nossos valores morais na nossa prática cotidiana, seja na vida pessoal ou profissional. Podemos dizer ainda, que a ética está diretamente relacionada à busca da compatibilização 5 10 15 20 25 4 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 entre os valores que estabelecemos para nossa vida e nossa prática. Assim, ao longo de nossa vida, em diversos momentos, nos vemos diante de questionamentos éticos, ou seja, nos questionamos se de fato estamos agindo de acordo com a escala de valores que adotamos. Tais questionamentos também atingem o mundo empresarial, com algumas dificuldades maiores que envolvem questões gerenciais, de mercado, etc. Ética no mundo empresarial Os valores que estabelecemos para nossas vidas vão determinar a forma como nos relacionamos com o mundo a nossa volta. Quando pensamos na ética que norteia estas relações, destacamos duas atitudes como possíveis: 1. A ética voltada para nosso próprio interesse, ou seja, quando agimos movidos unicamente pelo atendimento daquiloque consideramos importante para nossa vida. No mundo empresarial, esta visão é traduzida pela certeza de que o único objetivo da empresa é perseguir o lucro em detrimento de qualquer outro valor, seja em relação à qualidade de vida dos empregados, ao impacto ambiental ou a possíveis danos causados à comunidade. Assim, as ações voltadas para questões como: qualidade de vida dos empregados, impacto ambiental ou danos causados à comunidade somente são consideradas por imposição legal, ou em função de retornos econômicos. 5 10 15 20 25 5 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 2. A ética voltada para o bem estar do coletivo, ou seja, quando prioriza a valorização e o crescimento comum, por acreditar que desta forma se atinge o crescimento da empresa. Assim, a empresa deixa de ver as pessoas como instrumentos para seu crescimento e passa a ver o sucesso como uma consequência do sucesso das pessoas que executam o trabalho e da comunidade na qual está inserida. Nesta perspectiva, a ética que se imprime na empresa tem na solidariedade um de seus pilares mestres. Acredita que o crescimento somente será possível e duradouro quando for coletivo, ampliando esse conceito a todos os envolvidos diretamente no trabalho, ou que sofrem seus efeitos, como é o caso da comunidade mais próxima. A relação entre ética, moral e lei Já conceituamos que “moral” é a escala de valores que estabelecemos para nossas vidas, e “ética” é a forma como traduzimos nossos atos em consonância com a escala de valores que estabelecemos. Quando falamos em convívio social, existem valores considerados consensuais, sendo as “leis” criadas para normatizar regras de conduta, baseadas em tais valores. Assim, a “lei” é uma regra que determina uma conduta ética baseada em um valor consensual. Uma nova visão de empresa Partindo dos pressupostos apresentados, podemos concluir que a empresa não é um fim em si mesmo e sim um instrumento na consecução de um objetivo maior. Este objetivo pode ser exclusivamente o de produzir lucro, mas este não poderá ser um objetivo final, pois mesmo que o 5 10 15 20 25 6 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 empresário guarde todo o lucro numa conta bancária ou no colchão, em algum momento estes lucros acabarão produzindo riquezas que se espalharão pela sociedade. Numa visão moderna, o sucesso da empresa está diretamente relacionado ao conhecimento tecnológico e ao seu desenvolvimento organizacional que, como consequência, gerarão a acumulação de capital. Assim, a propriedade dos meios de produção por si só, não será capaz de gerar o crescimento da empresa, já que o conhecimento tecnológico e organizacional implica no investimento e no crescimento de seu principal capital, o ser humano. Estes conceitos implicam em uma série de compromissos que a empresa assume, tanto com a sociedade em que se insere, quanto com as pessoas que a integram: a comunidade, os clientes, os fornecedores, os investidores públicos ou privados, o governo, etc. São compromissos que dizem respeito às condições de trabalho, à capacitação dos seres humanos ligados a empresa, à utilização de métodos participativos, entre outras ações. No entanto, é necessário cuidado para que não se transfira para empresa o conjunto de obrigações sociais definidas constitucionalmente como de responsabilidade do Poder Público. A via correta a ser seguida é a que respeita e se baseia no tripé administrativo que valoriza as questões econômicas, humanas e sociais. Um fato, porém, é certo e de fundamental importância, em face do tempo que todas as pessoas, de todas as condições e níveis sociais, dedicam hoje à atividade nas empresas, o ambiente que encontram influirá fortemente sobre sua maneira de ver o mundo. 5 10 15 20 25 30 7 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Assim, o comportamento ético da empresa, representado pelo comportamento ético de seus administradores, terá uma influência decisiva sobre o comportamento de todos os que a ela estão ligados. Neste sentido, de alguma forma, a posição assumida pelos administradores das empresas terá um impacto não apenas dentro da própria empresa, mas também em relação ao comportamento de toda a sociedade. A relação entre ética e responsabilidade social Diante dos conceitos já apresentados, podemos concluir que a ética da empresa e a responsabilidade social são condutas que não se contradizem, pelo contrário, se complementam. Na gestão dos negócios, o administrador se vê constantemente premido a tomar decisões, nas quais o posicionamento ético da empresa é fundamental. Hoje, muitas empresas procuram facilitar tais decisões, definindo códigos de ética, em que estes valores básicos se encontram esclarecidos e traduzidos em todo um instrumental de trabalho. Fica bastante claro que, quando o valor principal e exclusivo, em termos de responsabilidade social da empresa, é o de ter lucro, qualquer outro que venha a atrapalhar – relativo aos seres humanos, à ecologia, etc. – passará, automaticamente, ao segundo plano. Há, ainda, um outro critério de valor que influencia nas nossas decisões, refere-se a natureza que atribuímos à empresa. Se a nossa ética for a da solidariedade, a empresa será a comunidade de pessoas, como vimos antes. Se, por outro lado, for a ética da sobrevivência, a empresa tenderá a se transformar em mercadoria a ser comercializada pelo melhor preço possível. 5 10 15 20 25 30 8 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Empresas que têm na lucratividade seu principal valor e que consideram a sociedade e os empregados meras unidades econômicas de produção estão perdendo a credibilidade. Além de atingir seu principal objetivo, o lucro, as instituições estão cada vez mais condicionadas a promover o desenvolvimento de forma sustentável, investindo nas pessoas e na sociedade em que estão inseridas. Empresas que investem em responsabilidade social recebem, cada vez mais, reconhecimento no mercado, além de conquistarem mais credibilidade e maior poder competitivo, agregando valor aos seus produtos e serviços e tornando-se referência perante a sociedade. A empresa e seu papel social Atualmente, a maioria das empresas percebeu a sua função como partícipe no contexto das mudanças sociais e, com isso, o setor privado tomou consciência da importância de sua participação no ambiente social e comunitário, até porque como parte integrante dele depende de seu correto funcionamento. Os resultados obtidos por diversas empresas no âmbito social indicam que o empresário é também parte multiplicadora deste ambiente. Destacamos o cenário empresarial que investe socialmente e está modificando seu próprio conceito, pois melhora a qualidade de vida de seus funcionários, apresenta maior produtividade, melhor acesso ao capital investido e promove desenvolvimento de forma sustentável. Desenvolvimento No atual contexto econômico, não pensar somente na lucratividade, mas também aumentar a preocupaçãocom as pessoas e com o bem-estar da coletividade é um 5 10 15 20 25 30 9 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 desafio colocado às empresas, que devem estar atentas para acompanhar e até se antecipar às mudanças sociais, produzindo, dessa forma, diferenciais que lhe garantam uma vantagem competitiva e sustentável em longo prazo. Há de se manter a preocupação com a qualidade e até com a apresentação dos produtos, mas a preocupação com a gestão ambiental, com a produtividade sem agressão ao meio ambiente, com o respeito à coletividade e aos consumidores e com as responsabilidades sociais tornam-se, cada vez mais, os verdadeiros diferenciais no mercado, diante da relevância de assuntos como consciência e cidadania. Responsabilidade social hoje, pode ser a diferença entre sobreviver ou não no mercado. É, portanto, um conceito estratégico. A prática da responsabilidade social pela empresa tem como objetivos: • proteger e fortalecer a imagem da marca e sua reputação, favorecendo a imagem da organização, pois a credibilidade passa a ser uma importante vantagem, um diferencial; • visão positiva da empresa, uma vez que passa a satisfazer não só seus acionistas, mas principalmente os consumidores; • geração de mídia espontânea com a formação de seu mercado futuro, quando contribui para o desenvolvimento da comunidade, está formando os futuros consumidores; • fidelização dos clientes ao oferecer mais do que é sua obrigação, a empresa conquista o cliente; • atrair e manter talentos. Os profissionais preferem as empresas que os valorizam, onde se sentem respeitados, o que os leva a conhecer os objetivos da empresa, fazendo o máximo para atingi-los. 5 10 15 20 25 30 10 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Portanto, empresas com responsabilidade social são aquelas que, com criatividade, gerenciam e contribuem com projetos sociais bem administrados, atuando ao lado de entidades da sociedade civil e do Poder Público, na busca de alternativas para a melhoria da qualidade de vida. Essas empresas são, por isso, duplamente beneficiadas: primeiro, porque consolidam sua imagem como uma empresa moderna e, segundo, porque a produtividade e a competitividade estão diretamente relacionadas à qualidade de vida da comunidade na qual a organização está inserida. Seguindo esse conceito, desenvolvem projetos voltados à educação empresarial e à interação da sociedade, à formação de pessoas e de empresas sólidas e competitivas, porém socialmente responsáveis, promovendo, assim, a sustentabilidade econômica. 3 AUTOGESTÃO E ECONOMIA SOLIDÁRIA Ao tratarmos de economia solidária, estamos falando de diversas experiências que incluem: diferentes formas de agricultura familiar; assentamentos do MST; empresas industriais ou rurais recuperadas por meio da autogestão; redes de catadores e recicladores; incubadoras de empresas; cooperativas populares; inúmeras experiências de finanças solidárias; clubes de trocas, etc. Essa nova forma de pensar a economia traz em seu bojo uma grande diversidade. Tais práticas já ocorriam há muito tempo, mas se encontravam dispersas e fragmentadas. A partir da consolidação do conceito “economia solidária”, na última década, iniciou-se um processo aglutinador de diversas experiências e de diversos campos de atividades, possibilitando articulá-los com outras experiências em torno dum amplo movimento social. Neste contexto, um fruto do movimento da economia solidária é o surgimento da Secretaria Nacional da Economia 5 10 15 20 25 30 11 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Solidária (SENAES), vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego. É fundamental compreender que os empreendimentos de economia solidária se encontram inseridos no mercado e, por isso, estão sujeitos às regras mercadológicas, sendo necessário cuidar do design dos produtos e do marketing da empresa. Ressaltamos tais aspectos para reforçar que não estamos nos referindo a um setor não mercantil, ou não monetário, como a economia da benemerência, assim como não estamos falando de um setor não lucrativo, como o terceiro setor. O que caracteriza e diferencia a economia solidária não é a sua não lucratividade, até mesmo porque o lucro existe e está presente na sua atividade, ainda que renomeado como resultado, sobras ou excedente. No entanto, é preciso realçar que um elemento novo introduzido pela economia solidária é estar e se manter no mercado, sem se submeter à busca do lucro máximo, como se evidencia na prática do preço justo pelos seus empreendimentos. Desta forma, observamos que o novo campo das finanças solidárias nos permite ver que a preocupação com a rentabilidade econômica está presente nas suas atividades mercantis, mas suas operações se pautam pelo respeito aos valores éticos e humanistas. Quando um empreendimento econômico abre mão da possibilidade de ampliar o lucro em função de uma perspectiva social e ecológica, mostra que a empresa tem uma postura solidária dentro da troca mercantil. Essa é a novidade da economia solidária. 5 10 15 20 25 O lucro é uma dimensão que permite auferir e avaliar a eficiência das atividades econômicas mercantis. Sua presença significa a capacidade de um empreendimento de reinvestir em si mesmo, renovar-se e expandir, ou seja, define a sustentabilidade de uma atividade econômica e sua vida dinâmica. 12 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 É característico das atividades econômicas solidárias o fato de a acumulação material estar submetida a limites, sem deixar de buscar e possibilitar a reprodução ampliada da vida, ou seja, a melhoria das condições de vida de todos os envolvidos no processo. Neste aspecto, é importante frisar que não se trata da reprodução simples de mercadorias, de atividades meramente de subsistência, que buscam rebaixar as expectativas dos cidadãos. Trata-se de uma outra forma de economia que contribui para o avanço civilizatório pelo desenvolvimento das forças produtivas, de modo sustentável e a longo prazo. Nas economias internas se traduz pela eliminação de atravessadores, obtendo-se menores custos de produção e maior capacidade de acumulação, possibilitando um novo padrão de relacionamento humano. A novidade, a força e o diferencial da economia solidária giram em torno da ideia de “solidariedade”. Na economia solidária, “solidariedade” não é um mero adjetivo, mas é fundamental e dá nova forma à lógica do pensamento econômico. A expressão economia solidária aponta para a compreensão de que a economia não é um fim em si mesmo, ou o objetivo fundamental da ação, mas apenas um instrumento que tem por finalidade o sustento da vida e a melhoria da condição humana. A economia solidária nos leva à reflexão de que a empresa moderna não é mais a empresa capitalista voltada, exclusivamente, para seus interesses. Ao contrário, esta empresa passou a ser vista como ultrapassada, já que o mercado atual exige que uma empresa seja cidadã,que tenha responsabilidade social e ambiental, que persiga o bem-estar e a qualidade de vida, em detrimento da maximização das margens de lucro. 5 10 15 20 25 30 13 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 As experiências de cooperação entre produtores e/ou consumidores que, cada vez mais, se apresentam como alternativas para redução de custos, na medida em que eliminam os atravessadores, pautam-se na mudança da lógica das relações mercantis e no rompimento com a lógica estabelecida nas relações capitalistas tradicionais. Se assim não fosse, acabariam por ficar prisioneiras da visão que pretendem combater. Ainda que necessários, os valores da autonomia, cooperação, democracia ou mesmo do consumo solidário não são suficientes para quebrar o espírito capitalista e subordinar, assim, o mercado às finalidades supremas da sociedade. O que vem provocando a mudança gradativa da visão do mercado é o desafio ético de construir novos estilos de vida, de assumir a prática do consumo solidário incorporando o valor da austeridade, de buscar uma economia que articule eficiência com suficiência. Da perspectiva da economia solidária, é fundamental perceber que esta é impulsionada pelas novas tecnologias e pela crescente afirmação de uma sociedade em rede. Trata- se de uma lógica econômica que necessita da adesão e da criatividade dos trabalhadores, que estimula formas de trabalho associativo e solidário, favorecendo também o papel das redes de pequenas e médias empresas. Como a produção econômica e a reprodução da vida tendem a se tornar indissociáveis, a economia solidária passa a ser uma forma de enfrentar os desafios atuais sem subterfúgios, configurando-se em uma economia vinculada diretamente à reprodução ampliada da vida de seus membros e da sociedade como um todo e não mais a serviço da lei do valor econômico, como seu maior objetivo. Mais que ser uma alternativa econômica, uma busca de novas maneiras de produzir e acumular, a economia solidária 5 10 15 20 25 30 14 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 está construindo uma nova experiência econômica e social, pautada na ética, na responsabilidade social, na preocupação com a ecologia e com a auto-sustentabilidade. Cada vez mais, a economia solidária se configura como um modo de vida, ajustando-se a uma nova perspectiva de mudança social, na qual a dimensão dos valores tem um papel fundamental. Em algumas situações, essa economia pode levar até mesmo à renúncia de algum ganho monetário ou da conquista de algum benefício individual, em prol do coletivo, da natureza ou da sociedade na qual se está inserida. É assim que se pode visualizar atualmente o rompimento com a lógica capitalista de tipo produtivista e consumista. Ela se alinha com uma economia da simplicidade, que busca a satisfação dos desejos, compatibilizando-os com a qualidade. Para interromper a corrida ao consumo, não basta oferecer a todos a oportunidade de participar. Se a noção de finitude não for reintroduzida na agenda da vida, pouco se conseguirá, ainda que se adotem as medidas redistributivas mais radicais. Construir uma economia mais justa implica em construir novos estilos de vida, significa reestruturar o referencial econômico de forma a romper com a cobiça excessiva e com o ídolo do mercado, e, para isso, deve-se construir novos referenciais que rompam com a visão econômica vigente. Os limites da autogestão Ao considerarmos a crescente divisão do trabalho, percebemos que grande parte das atividades especializadas é predeterminada, e, por isso, dificilmente poderemos suprimir completamente as regras preestabelecidas do processo econômico. Atualmente, o trabalho profissional envolve saberes especializados e se insere numa cultura cada vez mais técnica com complexas divisões de tarefas. 5 10 15 20 25 30 15 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Já concordamos que o excesso de divisão de trabalho provoca sempre uma certa alienação que não pode, simplesmente, ser eliminada, já que faz parte da cultura produtiva. Assim, percebemos que a alienação do trabalho não se reduz a sua condição de mercadoria, nem seria revogada, se esta pudesse ser abolida. Dessa forma, as normas que regem o mercado produtivo terão de ser observadas, inclusive, nas atividades produtivas autônomas, pois estarão predeterminadas por um sistema, não podendo ser livremente redefinidas. O trabalho em grupos autônomos não suprime as normas, apenas as desloca. Em outras palavras, no contexto da vida moderna, não há a possibilidade de autogestão do processo social de produção em seu conjunto nem mesmo nas grandes unidades técnicas que o compõem. Como não existimos independentes do nosso entorno, a autonomia sempre é relativa, é autonomia dependente. Autonomia e submissão às normas coexistem. É o paradoxo da auto-organização com a limitação de que para ser autônomo é necessário depender do mundo externo. Uma sociedade inteiramente regida pelo princípio da autogestão certamente se conduziria à inconsistência e ao despotismo, já que nela o poder coincidiria totalmente com a sociedade, formando uma unidade que não consideraria as diferenças, negando a pluralidade, a fragmentação e a heterogeneidade dos processos de socialização. A impossibilidade de eliminar a alienação do trabalho e de alcançar a liberação aponta para os limites de restringirmos o sonho da emancipação humana ao mundo do trabalho. Não cabe imaginar que o projeto de uma economia solidária englobe e realize todas as possibilidades de uma vida livre e 5 10 15 20 25 30 16 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 digna. Isso significa que se trata de lutar também pela liberação do trabalho e pela ampliação do tempo livre, por meio da redistribuição da quantidade residual de trabalho socialmente necessário entre o conjunto da população, devendo-se desvincular trabalho e renda. Não se pretende reafirmar a utopia de uma sociedade plenamente comunitária, simples, homogênea e transparente, nem tentar retomar a velha aspiração do trabalho enquanto atividade sem alienação, completamente autônoma. Assim como a sociedade não pode coincidir com o mercado, também não pode ser absorvida pelo mundo da vida cotidiana. Neste novo milênio, em função dos seus trágicos resultados, parece que estamos mais vacinados contra os riscos da utopia da coincidência entre trabalho e vida, da completa autogestão social. É preciso reconhecer a incompletude e os limites do humano, e que as normas do mercado não estão excluídas da lógica solidária. Assim, percebemos que há um amplo leque de atividades econômicas centrais à vida moderna e que não podem ser autogeridas. Seria impossível imaginar a autogestão de um aeroporto, de um porto, da força policial e militar, de um tribunal, de uma central hidrelétrica, dentre outras, mas isso não exclui essas atividades de uma lógica solidária, já que mesmo elas podem e devem se desenvolver sem exploração, sendo eficientes sem se guiarpela busca da maximização do lucro. Podem e devem promover a coesão social, possibilitando a inserção de pessoas desfavorecidas, ser sustentáveis, respeitar a diversidade de culturas, assumir uma dinâmica de territorialização e de desenvolvimento local e ser sensíveis à dimensão de gênero. Então, nesses casos, essas atividades também deveriam ser denominadas economias solidárias, pois, ao incorporarem o espírito da solidariedade para com o outro, com o diferente e 5 10 15 20 25 30 17 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 com o todo, propiciam o surgimento de um comportamento gerencial solidário. A autogestão não é suficiente para romper com o comportamento capitalista tradicional, que busca o lucro a qualquer custo. É importante observar que mesmo as atividades autogeridas, apesar de serem democráticas, não têm garantias de escapar à lógica do capital. Essa é uma das grandes lições históricas dos movimentos cooperativistas e autogestionários. A natureza não capitalista de uma organização econômica não se mede pelo caráter coletivo do seu sistema de propriedade, assim como a existência formal da propriedade coletiva e/ou estatal de um empreendimento não garante a eliminação de relações de classe e a exploração. Em inúmeros casos, a igualdade jurídica na propriedade da empresa e seus mecanismos formais de representação e participação encobrem uma imensa desigualdade interna entre gestores e trabalhadores, visualizada nos grandes desníveis dos rendimentos. O fato de uma atividade ser economicamente sustentável e autogerida não a qualifica como parte de um outro modo de produção nem a torna mais desejável ou aceitável. O trabalho emancipado não se reduz ao efetuado associadamente. Além disso, as atividades coletivas não esgotam todas as possibilidades da emancipação humana. Isso decorre não apenas do fato de que os vínculos sociais são híbridos, compostos de doses variadas de altruísmo, pragmatismo e utilitarismo. Também não existe uma única resposta aos desafios da gestão econômica, que admite uma pluralidade de formas e princípios, entre as quais o trabalho autônomo. Se limitarmos os empreendimentos solidários aos constituídos grupalmente, excluiremos a crescente parcela de técnicos, artistas, consultores e operários que atuam individualmente. 5 10 15 20 25 30 18 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Critérios para avaliar a solidariedade numa empresa Como vimos, o aspecto central da economia solidária não é a autogestão, ainda que seja essa uma característica importante e sem a qual, na maioria dos casos, a economia solidária fica irreconhecível. Mas, se a autogestão não é condição para constituir o campo da economia solidária, para avaliarmos a efetividade da solidariedade dentro da economia, faz-se necessária a construção de indicadores em nível ambiental/social – de forma a avaliar o vínculo entre as pessoas e, econômico – de modo a vislumbrar o funcionamento interno da empresa, bem como o sentido da sua vida econômica. 1. Indicadores ambientais: • sustentabilidade, como a gestão de água e resíduos; • uso eficiente dos recursos conforme sua capacidade de reposição, no caso de atividades extrativas. 2. Indicadores sociais: • os valores predominantes; • a capacidade do empreendimento em permitir o fortalecimento da identidade e do processo de empoderamento local. A capacidade de incorporar as dimensões de etnia e gênero, verificando inclusive se existem diferenças nos rendimentos auferidos. 3. Indicadores culturais: • inserção de pessoas excluídas; • condição de saúde dos trabalhadores; • prevalência de doenças encontradas; • condições de vida dos trabalhadores. 5 10 15 20 25 19 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 4. Indicadores econômicos: • presença de exploração do trabalho; • diferença nos rendimentos entre dirigentes e trabalhadores; • percentagem de trabalhadores assalariados; • ritmo do trabalho; • presença de trabalho infantil; • repartição do excedente, ou lucro; • investimento na formação e qualificação dos trabalhadores; • formação de fundos destinados à educação dos membros do empreendimento; • investimento em projetos voltados para a melhoria das condições de trabalho; • grau de participação dentro da empresa: a propriedade individual ou coletiva; processo coletivo de decisão; circulação de informações; transparência na gestão, bem como rotatividade de funções; funções existentes; • compromisso que a empresa tem com seu território circundante; percentagem de utilização de recursos locais; participação de natureza sociopolítica nas redes locais; • intercooperação: alianças e parcerias político-econômicas existentes; porcentagem da cadeia produtiva vinculada às redes de empreendimentos solidários. • prática de preços justos; prevalência da prática de consumo responsável e solidário. Aqui cabe verificar toda a cadeia produtiva em que se insere a empresa, avaliando se os 5 10 15 20 25 20 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 produtos que ela manipula foram produzidos por meio de trabalho degradante e/ou de espoliação ambiental. A economia solidária não é movida nem pela rentabilidade máxima do capital nem pela exacerbação do interesse individual. Isso permite a ela repor o sentido originário da economia, usar racionalmente os recursos, fazer o melhor com menos tempo e recursos. Esse deveria ser o sentido libertador e civilizatório das economias de tempo advindas do desenvolvimento tecnológico, propiciando trabalhar menos e viver melhor. A prática da economia solidária, ao unir o emocional com o econômico, a competição com a cooperação, está indicando uma outra racionalidade que, ao contrapor-se à lógica capitalista tradicional, permite à sociedade reapossar-se da economia, possibilitando a subordinação desta à sociedade. Em outras palavras, permite expressar a economia não mais como o fim supremo, mas apenas como um instrumento que tem por finalidade o sustento da vida e a melhoria da condição humana. A economia solidária conjuga de forma inovadora os dois sentidos do aspecto econômico: o substantivo e o instrumental. Não se trata apenas da fusão da lógica da competição e da solidariedade, mas da transformação da lógica mercantilista em uma nova lógica econômica que contemple também o social. Ela é uma economia dinâmica e inovadora que possibilita uma reforma social, em direção a uma sociedade mais justa. O crescente processo de racionalização, envolvendo o cálculo, a racionalidade instrumental e o desencantamento do mundo, gerou um conceito capitalista que teve por consequência a produção exacerbada e o consumismo. Por outro lado, podemos dizer que a economia solidária faz parte de uma revisão dos paradigmas que gera um novo estilo de vida e que levará a um novo espírito adequado a uma nova civilização. 5 10 15 20 25 30 21 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n- Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 A economia solidária entrelaça-se com o feminismo, já que nela as mulheres são majoritárias; desperta a agroecologia, já que busca a aplicação de princípios ecológicos no processo de produção agrícola; incentiva a permacultura, que é um método para planejar, atualizar e manter sistemas de escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades) ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis e; também possibilita o revigoramento das formas familiares de produção agrícola, expressões do movimento de defesa da sociedade diante do fundamentalismo de mercado. Todos estes aspectos compõem um processo de transição de paradigmas e de civilização. A economia solidária é sinal de um outro paradigma produtivo, estando em sintonia com as novas possibilidades organizacionais. É portadora de uma outra visão sobre o progresso, de novas formas de viver e de se relacionar com a humanidade e com a natureza. Para que se configure uma outra economia, não basta apenas a organização de processos de autogestão. A economia solidária não diz respeito somente a processos organizacionais intra-econômicos nem aponta somente para o Estado ou para processos políticos. Trata-se de um conjunto de atividades que, simultaneamente, articulam tanto a luta política quanto a geração de renda, repondo a economia política. Entretanto, se não ocorrerem transformações pessoais, culturais, se não rompermos com o espírito do capitalismo tradicional, não haverá condições para uma outra racionalidade econômica senão a capitalista. Cada um de nós é parte do problema e da solução. A economia solidária constrói-se com base na confiança e na mudança de valores, o que não coincide com o ritmo do desespero dos excluídos. A solidariedade só é verdadeira se nasce da adesão voluntária. Ela não pode se dar por decreto, apenas como resultado de políticas estatais. Ela depende, primariamente, 5 10 15 20 25 30 22 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 da adesão das pessoas aos princípios da solidariedade, igualdade, democracia e responsabilidade. Assim, percebemos que, além das frentes política e econômica, há que se enfrentar questões ético-culturais. Muitos que hoje participam do movimento da economia solidária vieram de uma tradição, segundo a qual o central era o aspecto político com foco no Estado. Hoje se fortalece, cada vez mais, a busca da organização econômica de forma diferente, penetrando no campo da cultura e da ética. Aliás, a crescente junção entre o econômico e o cultural é também outra característica da economia solidária, que se enraíza no artesanato e nas economias com identidades locais e regionais. Isso explica por que em suas atividades de divulgação, como feiras, simpósios, encontros, sempre ocorrem manifestações culturais e artísticas. Podemos afirmar que a economia solidária configura um outro modo de produção, com potencial civilizador superior ao do capitalismo tradicional. Amplia as possibilidades de desenvolvimento, tanto no plano das forças produtivas, quanto no das relações humanas; materializa novas relações produtivas e apoia as novas forças produtivas provenientes da atual revolução tecnológica, sendo assim, um conjunto de atividades econômicas libertas do caráter capitalista tradicional. Isso ocorre porque o modelo de vida dos países ricos não pode ser estendido a toda humanidade, e a economia atual não tem perspectivas de integrar nossas sociedades, sendo, ao contrário, profundamente excludente. Portanto, cabe afirmar que a economia solidária constitui um novo modo de produção, pois se trata de novas relações tanto na produção quanto na repartição do excedente. A economia solidária é parte de uma profunda transformação é uma outra racionalidade, porém ela não é uma solução 5 10 15 20 25 30 23 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 mágica para a humanidade. Há ainda muitos desafios a serem enfrentados para consolidá-la, por ser um movimento ainda extremamente frágil e nascente. Mas sem dúvida é um sinal de esperança. Resumo Nesta unidade vimos alguns conceitos de administração, que é o conjunto de normas e funções que visa a disciplinar os elementos de produção, submetendo a produtividade a um controle de qualidade, com vista a uma maior eficácia. Vimos ainda algumas teorias administrativas, suas ênfases e principais enfoques. Este breve relato se fez necessário para introduzirmos novos conceitos, agora voltados para a administração social. Ao introduzirmos o capítulo ”Ética na administração e responsabilidade social do administrador”, sentimos a necessidade de iniciar nosso trabalho com as definições de ética, moral e responsabilidade social, para então podermos trabalhar a importância da ética e da responsabilidade social na administração, conceitos modernos que centram os objetivos da empresa no bem-estar e na qualidade de vida de todos os envolvidos na cadeia de produção, dos fornecedores de matéria-prima aos consumidores dos bens ou serviços produzidos, passando pela comunidade na qual a empresa está inserida. Trabalhamos, ainda, o tema da economia solidária, sua definição, suas características e principais diferenças com a administração no modo de produção capitalista tradicional. Introduzimos também a questão da responsabilidade social e da autossustentabilidade, temas que vêm sendo trabalhados 5 10 15 20 25 24 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 5 10 15 20 25 30 em outras disciplinas, mas que por sua importância e contemporaneidade deverão ser recorrentes ao longo do curso. 4 CONTROLE SOCIAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Podemos definir que “controle social” é o conjunto de ações desenvolvidas pela sociedade civil organizada e que têm por objetivo fiscalizar, monitorar e avaliar as condições em que a política de assistência social está sendo desenvolvida (a qualidade das ações sociais, a aplicação de recursos públicos e o resultado das ações na vida dos assistidos). Também trata-se da influência que a sociedade civil exerce na formação da agenda governamental para definir as prioridades do município. Ao analisarmos a reforma do Estado em curso no Brasil, visualizamos que esta atende a vários objetivos. Um deles é a descentralização estatal, que parte do pressuposto de que a solução dos problemas deve ser buscada o mais próximo possível de sua origem, facilitando, assim, o controle social sobre a eficiência e eficácia de qualquer programa que se proponha a resolvê-los. Uma vez que a sociedade brasileira está atenta aos problemas, mais participativa e mais preparada para assumir responsabilidades, organizar-se e exercitar seu importante papel no controle social, essa descentralização torna-se uma medida interessante. Até o final da Ditadura Militar não se falava em controle social, já que se tratava de conceitos antagônicos: autoritarismo e participação popular. Somente com o processo de redemocratização do país é que a expressão “controle social” passou integrar o vocabulário do governo e da população. O controle social representaum avanço na construção de uma sociedade democrática e pressupõe alterações profundas nas relações do Estado com a sociedade, mediante a criação de mecanismos capazes de proporcionar a integração dos cidadãos no processo de definição, implementação e avaliação da ação pública. 25 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Por meio do controle social crescente será possível garantir serviços de qualidade, eficientes e eficazes, contando com a participação popular tanto na formulação quanto na avaliação de políticas públicas. Além disso, é uma forma de se estabelecer uma parceria eficaz e gerar, a partir dela, um compromisso entre Poder Público e a população capaz de garantir a construção de saídas para o desenvolvimento econômico e social do país. As comunidades estão se organizando na defesa de seus interesses e trabalhando para diminuir e mesmo corrigir inúmeras desigualdades por meio do acesso a bens e serviços que assegurem a garantia de seus direitos humanos fundamentais. Podemos citar, como exemplo, o “Orçamento Participativo”, que vem sendo adotado em muitos municípios cuja participação popular na elaboração do orçamento municipal tem demonstrado ser uma forma democrática de decidir sobre a aplicação dos recursos públicos em benefício da maioria. Informações são recolhidas e divulgadas, experiências são debatidas, realizam-se pesquisas, congressos e encontros participativos para que se busque um acordo coletivo na melhor distribuição de bens e serviços. Desta forma, estão dadas as condições para a participação da população na gestão pública, para o exercício do controle de instituições e organizações governamentais e para a verificação e o bom andamento das decisões tomadas em seu nome. O ponto fundamental da reforma administrativa é a desburocratização da máquina pública, promovendo meios para que a administração possa prestar serviços mais ágeis e de maior qualidade. Busca-se hoje apresentar uma administração pública que deve ser, acima de tudo, eficiente, ágil, rápida, pronta para atender, adequadamente, às necessidades da população, facilitando o combate à corrupção, primando pela qualidade de seus serviços, buscando economia, transparência e publicidade. 5 10 15 20 25 30 26 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Esta eficácia só pode ser assegurada à medida que a sociedade participa ativamente da fiscalização dos serviços. Hoje, ocorre uma maior participação do setor privado em atividades de interesse eminentemente público, substituindo o Estado na obrigação de prestar serviços de forma direta e deixando-o como mero gestor e fiscalizador. Ao mesmo tempo, o Estado cede lugar à sociedade para que esta exerça controle sobre o interesse público que também passou a gerir, dividindo com ela a responsabilidade de fiscalização. Surge, então, um novo padrão de relacionamento entre Estado e sociedade, no qual se constata uma divisão de deveres, principalmente em setores envolvendo moradia, bem-estar social, proteção ambiental, educação e planejamento urbano, de forma a garantir uma maior integração entre os dois. Compartilhar o controle social com a sociedade é governar de modo interativo, buscando equilíbrio de forças e interesses e promovendo maior organização das diversas camadas sociais de forma a buscar melhores padrões de qualidade de vida. Por isso, surgem o momento e o desafio de transformar o Estado num verdadeiro instrumento do exercício e realização da cidadania, para que possa garantir, acima de tudo, maior controle social, a partir da implementação do modelo da administração pública gerencial, sepultando, de uma vez por todas, o modelo burocrático que acompanha a máquina estatal há décadas. Enfim, descentralizar a administração, instituindo mecanismos de controle social e participação popular são maneiras eficazes de garantir a transparência e evitar a corrupção. O controle social deve pressupor uma forma de governar pela qual os cidadãos possam atuar como sujeitos políticos capazes de orientar e fiscalizar a ação do Estado. 5 10 15 20 25 30 27 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 As experiências que estão ocorrendo demonstram que existe por parte da população o interesse em ampliar cada vez mais este espaço de participação. Os conselhos municipais, estaduais e federal, constituídos em diferentes setores, como saúde, educação, segurança, etc., corroboram tal afirmação. Outro aspecto importante diz respeito ao processo de organização, que em geral inicia-se na esfera municipal, por ser o Poder Público mais próximo da população. O que se observa é que tais processos levam à relações mais solidárias entre os participantes e a uma maior consciência da necessidade de uma gestão pública transparente, em que a alocação e a aplicação dos recursos seja fruto de amplo processo de discussão, o que necessariamente resulta na melhoria dos serviços públicos prestados à comunidade. Podemos dizer ainda, que os diferentes conselhos municipais, estaduais e federais de saúde, de educação, de assistência social, etc., desempenham um importante papel no exercício do controle social, já que a eles compete: convocar conferências; deliberar políticas - aprovação do plano de assistência social; fiscalizar o desenvolvimento das ações e a utilização dos recursos, inclusive aprovar ou rejeitar a prestação de contas; normatizar, por meio de resoluções, repasses de recursos, redistribuições de metas, critérios de inscrição de entidades, critérios de avaliação das atividades, reconhecimento quanto ao impacto social de emendas parlamentares, etc.; mobilizar a sociedade civil, por meio de reuniões ampliadas, encontros, seminários, fóruns e conferências, para discutir e propor políticas de assistência a partir das demandas presentes nos municípios, estados e no país. Desafios que se colocam para questão do controle social Para que o processo de controle social não sofra qualquer recrudescimento, é necessário construir novas dinâmicas de gestão, nas quais o interesse público seja a motivação das ações governamentais, tornando a prática 5 10 15 20 25 30 28 Unidade I Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 do privilégio e do clientelismo coisa do passado, e conferir às diferentes áreas da assistência ao cidadão o verdadeiro status de uma política pública, concebida e organizada para assegurar direitos e propiciar novas condições de vida aos seus destinatários. Desta forma, deve ser concebida como direito universal. Fundamentos jurídicos para o controle social Com o fim da Ditadura Militar e de todas as medidas autoritárias editadas em nome da Lei de Segurança Nacional, inicia-se no Brasil um período de grandes manifestações populares e de amplas discussões sobre a democracia que se almejava para o país. A convocação da Assembléia Nacional Constituinte, em 1986, e sua instalação em 01/02/1987, marcou um período de ampla participação da população e de profundos debates no seio da sociedade, preocupada com garantias constitucionais que impedissema volta do autoritarismo. Tal processo culminou com a promulgação, em outubro de 1988, da Constituição Federal que ficaria conhecida como a “Constituição Cidadã”. Uma das principais inovações da Constituição diz respeito à inclusão dos direitos sociais e coletivos dos cidadãos brasileiros. Até então, as únicas leis existentes neste sentido eram a Lei 4.717/65, que regula a ação popular e a Lei 7.347/85, que trata da ação civil pública. A partir de 1988, amparadas pela Constituição Federal brasileira, surgem novas legislações que oferecem garantias à população em diferentes setores. Dentre estas, podemos citar: Código de Defesa do Consumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto do Idoso, Lei de Direito Autoral, Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Lei de Defesa do Meio Ambiente, dentre outras. 5 10 15 20 25 30
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