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A soberania do mundo moderno Ferrajoli, Luigi CAP 1

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Autora do fichamento: Bianca Previatti 
Obra Fichada:
Ferrajoli, Luigi, A Soberania no mundo moderno: nascimento e crise do Estado Nacional. Trad. Marcio Lauro Filho, Carlos Coccioli, São Paulo, Editora Martins fontes, 2002.
Sobre o autor:
Luigi Ferrajoli nascido em 1940 é um jurista italiano e um dos principais teóricos do Garantismo, se definido a si próprio como um juspositivista crítico. Atuou como juiz entre 1967 e 1975, período em que esteve ligada ao grupo "Magistratura democrática", uma associação de juízes de orientação progressista. A partir de 1970, foi professor de Filosofia do Direito e Teoria Geral do Direito na Universidade de Camerino, onde também foi diretor da Faculdade de Direito. Desde 2003, leciona na Universidade de Roma Tre, publicou diversas obras, com especial:
Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal _ 1990.
 Princípios de Direito “Principia Iuris”- 2007.
Soberania no mundo moderno: nascimento e crise do estado nacional- 2002.
Capitulo 1 – As origens jusnatruralistas da idéia de soberania.
1.1 As três aporiam na idéia de Soberania.
 Soberania é o conceito, ao mesmo tempo jurídico e político, em torno no qual se adensam todos os problemas e as aporias da teoria juspositiva do direito e do Estado. (p.1) 
A primeira aporia diz respeito ao significado filosófico da idéia de soberania. Como categoria filosófico-jurídica, a soberania é uma construção de matriz jusnaturalista, que tem servido de base á concepção de base juspositiva do Estado e ao paradigma do direito internacional moderno. (p. 2)
A segunda aporia diz respeito à história. Essa história corresponde a dois eventos paralelos e divergentes: aquele da soberania interna que é a história de sua progressiva limitação e dissolução paralelamente à formação dos Estados constitucionais e democráticos de direito; e aquela soberania externa, que é a historia de sua progressiva absolutização, que alcançou seu ápice na primeira metade do século XX, com as catástrofes das duas guerras mundiais. (p.3)
E a terceira aporia diz respeito, por fim, à consistência e à legitimidade conceitual da idéia soberania. È aquela de uma antinomia irredutível entre soberania e direito: uma antinomia não apenas no plano do direito interno dos ordenamentos avançados, em que a soberania está em contraste com o paradigma do estado de direito e de sujeição de qualquer poder a lei, mais também de plano do direito internacional, em que esta já está contrariada pelas cartas constitucionais internacionais hodiernas e, em particular, pela carta da ONU 1945 e pela declaração universal dos direitos Humanos 1948. (p.3)
1.2 A communitas orbis (comunidade mundial) como sociedade de Estados soberanos no pensamento de Francisco de Vitoria.
A origem jusnaturalista da dimensão de soberania externa remonta ao pensamento de Francisco de Vitoria, depois a Gabriel Vasquez de Menchaca, a Baltazar de Ayala e a Francisco Suarez, que anteciparam a reflexão de Hugo Grotius. Essa origem tem como objetivo oferecer um fundamento jurídico para a conquista do Novo Mundo, logo após seu descobrimento.
Francisco de Vitoria defendeu, em suas prelações apresentadas na Universidade de Salamandras, todos os títulos de legitimação originalmente feitos pelos espanhóis, dentre eles: o direito de descobrimento, a idéia da soberania do Império e da Igreja, a infidelidade e o comportamento pecaminoso dos índios, sua submissão voluntária e finalmente à concessão divina dada aos espanhóis para tal dominação. 
A esses títulos ilegítimos, Vitoria contrapõe aqueles que ele considera únicos títulos legítimos da conquista, reelaborando velhas doutrinas, dando fundamento ao direito internacional moderno e do conceito moderno de Estado soberano. São três esses títulos:
“A configuração da ordem mundial como sociedade natural de Estados soberanos”. A primeira mais importante dessas teses é a representação da ordem mundial como communitas orbis,ou seja,como sociedades repúblicas ou estados soberanos, igualmente “sujeitos externamente a um mesmo direito das gentes e internamente às leis constitucionais que eles mesmo deram”.(p.7)
“A teorização de uma série de direitos naturais dos povos e dos Estados”. A idéia da soberania estatal externa, identificar com um conjunto de direitos naturais dos povos, que permite, de um lado, oferecer o alicerce ideológico do caráter eurocêntrico do direito internacional, dos seus valores colônias e até mesmo de suas vocações balísticas. (p.10)
 “A reformulação da doutrina cristã da ‘guerra justa’, redefinida como sanção jurídica às ofensas sofridas” A guerra é licita e necessária, afirma Vitoria, justamente porque os Estados estão submetidos ao direito das gentes e, na falta de um tribunal superior, seus argumentos não podem ser impostos senão com guerra. (p.13)
1.3 O aperfeiçoamento da idéia de soberania na época do Absolutismo: Grotius, Hobbes e Locke
Esta três doutrinas – a idéia de uma sociedade de estado igualmente soberana, porém sujeitos ao direito, a afirmação de uma serie de direitos naturais desses Estados e a teoria da guerra justa como sanção- estão na base da doutrina da soberania estatal externa e, mais em geral, da teoria internacionalista moderna como um todo. (p.15)
No século XVII o modelo vitoriano entra em crise definitivamente. A secularização e a absolutização envolvem tanto a soberania interna como a externa. (p.16)
Grotius torna o direito das gentes autônomo em relação ao jusnaturalismo, “definindo-o o que por vontade de todas ou de muitas gentes assume a força de obrigação”, ou seja, como aquele cuja força obrigatória depende do consenso de todos, ou da maior parte dos Estados e, mais exatamente, daquele que Grotius Chama de moratiores (mais civis).(p.17-18)
““Hobbes em particular, que remonta a primeira formulação das idéias do Estado-pessoa e da personalidade do Estado, que servirão para oferecer um firme ancoradouro ao atributo da soberania”.” Querendo dar uma definição de Estado”, escreve Hobbes no De Cive*;
“devemos dizer que este é uma única pessoa, cuja vontade, em virtude dos pactos contraídos reciprocamente por muitos indivíduos; e, portanto, pode servir-se das forças e dos haveres individuais para a paz e para a defesa comum” (p.19)
Locke também compartilha da mesma visão de Hobbes da sociedade internacional. A única diferença (tanto em Hobbes como em Locke) é que o estado de natureza não é composto mais por “homens comuns”, mas por “homens artificiais” (Estados).
“A superação do estado de natureza, internamente, e a sua conservação (ou melhor, instauração), externamente, tornam-se, assim, as duas coordenadas ao longo das quais se desenrola a história teórica e prática dos Estados soberanos modernos, ambas inscritas nos códigos genéticos de tais Estados pela filosofia política jusnaturalista. (p.25)

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