Buscar

PIDESC_O Brasil e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais_Relatório da Sociedade Civil_ abril de 2000

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 87 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 87 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 87 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

RELATÓRIO - O BRASIL E O PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS
ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS
 
O Brasil e o Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais
 
 
 
 
Relatório da Sociedade Civil sobre o Cumprimento,
pelo Brasil,
do Pacto Internacional de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais
 
 
 
 
 
Brasília, abril de 2000
 
Este Relatório foi produzido coletivamente por dezenas de colaboradores voluntários, 17
audiências públicas estaduais
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
1 de 87 18/06/13 09:52
e consultas a mais de 2.000 entidades em todo o país
 
 
Coordenação
Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados
Movimento Nacional de Direitos Humanos
Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão
 
 
Sistematização do Documento Final
Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase)
 
 
Apoio
Processo de Articulação e Diálogo entre Agências Protestantes Européias
e suas Entidades Parceiras no Brasil - PAD
Coordenadoria Ecumênica de Serviços - CESE
 
Dedicatória
 
Aos milhões de brasileiros e brasileiras cujos direitos fundamentais são diariamente
violados; que este Relatório, ao chamar a atenção para esta situação inaceitável, possa
constituir um instrumento valioso na sua luta pelo pão, pelo trabalho e pela liberdade.
Agradecimentos
 
Às inúmeras pessoas e instituições que, de um modo ou de outro, participaram da
elaboração deste Relatório em suas diversas fases.
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
2 de 87 18/06/13 09:52
 
SUMÁRIO
Apresentação
Metodologia
Direitos humanos são indivisíveis e universais
Perfil Geral do País
OS DIREITOS CONTEMPLADOS PELO PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS
ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS
1. Povos indígenas, remanescentes de quilombos e outras minorias
2. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável
3. Discriminação e desigualdades
4. Gênero
5. Situação Agrária
6. Desenvolvimento econômico próprio
7. Trabalho e sindicalização
8. Previdência Social
9. Descanso e lazer
10. Família
11. Saúde
12. Alimentação
13. Criança e adolescente
14. Educação
15. Cultura
16. Moradia
Relação de entidades e colaboradores do relatório
Anexo: texto do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
 
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
3 de 87 18/06/13 09:52
 
Apresentação
Ao apresentarmos o presente Relatório ao Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da
Organização das Nações Unidas e à sociedade brasileira, mais do que resgatar um compromisso
assumido pela V Conferência Nacional de Direitos Humanos, oferecemos o resultado de um projeto
generoso, destinado a contribuir para o conhecimento, promoção, proteção, respeito e implementação
de direitos pertencentes a todas as pessoas, mas desconhecidos por uns e negligenciados por outros. O
trabalho envolveu a cooperação voluntária de mais de duas mil pessoas, desde a realização de
audiências em 17 Estados do Brasil, passando pelo levantamento rigoroso de dados oficiais, por
animadas discussões metodológicas, pela síntese cuidadosa de volumosas informações, até chegar a
edição e apresentação deste Relatório.
Com o suporte de organizações atuantes na área de direitos humanos no Brasil, muitos de seus mais
qualificados técnicos e ativistas colaboraram em diferentes fases do trabalho, todos movidos pela
mesma intenção de difundir um debate que não é novo mas que precisa ser revitalizado em nosso país
sob um enfoque humanista. Se os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais pertencem - como de resto
todos os direitos humanos - a toda a humanidade, quanto mais gente participar de sua discussão e do
clamor por sua implementação, mais tenderemos a nos aproximar de sua concretude.
O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) foi adotado pela
Organização das Nações Unidas (ONU) em 1966, juntamente com o Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos, com o objetivo de conferir obrigatoriedade aos compromissos estabelecidos na
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Desta forma, passou a haver responsabilidade
internacional dos Estados signatários em caso de violação dos direitos consagrados pelo Pacto. A
situação desses direitos deve ser acompanhada pelos Estados-partes, mediante elaboração de relatórios
periódicos, avaliando o grau de sua implementação, e as dificuldades para fazê-lo, enquanto a
supervisão do Pacto cabe ao Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU.
Organizações da sociedade civil podem oferecer ao Comitê seus próprios relatórios - chamados
relatórios paralelos ou contra-relatórios - que são acolhidos como subsídio.
O presente Relatório contém indicadores obtidos no Brasil por instituições oficiais ou dignas de
elevada credibilidade, sobre 17 dos 18 tópicos de direitos contemplados pelo PIDESC (os dos povos
indígenas e outras minorias étnicas, meio ambiente, desenvolvimento sustentável, discriminação e
desigualdades, questões de gênero, situação agrária, desenvolvimento econômico próprio, trabalho e
sindicalização, previdência social, descanso e lazer, família, saúde, alimentação e nutrição, criança e
adolescente, educação, cultura e moradia).
No país, a Constituição Federal, em seu artigo 5°, parágrafo 2°, consagra que os direitos e garantias
nela expressos "não excluem outros decorrentes do regime e princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte". Portanto, a Carta Magna
consubstancia no rol dos direitos protegidos, aqueles enunciados nos tratados internacionais nos quais
o Brasil é signatário, incluindo-se, evidentemente, os direitos humanos. Neste sentido, há que se
provocar o Poder Judiciário brasileiro para que, paulatinamente, insira as normas internacionais de
proteção dos direitos humanos em sua jurisprudência, aplicando-as direta e efetivamente nas sentenças
de suas Cortes.
Seguindo o modelo proposto pelo Manual de Preparação de Informes sobre os Direitos Humanos, das
Nações Unidas, este Relatório apresenta, em cada um dos 16 capítulos referentes aos direitos (foram
reunidos, num só capítulo, meio ambiente e desenvolvimento sustentável), informações sucintas sobre
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
4 de 87 18/06/13 09:52
o ordenamento jurídico, medidas adotadas e progressos realizados pelo país, além da indicação de
fatores que prejudicam o pleno cumprimento das obrigações, quer no campo administrativo, quer no
legislativo, tanto por esforço próprio do país quanto mediante cooperação e assistência internacional.
Considerou-se que o PIDESC preconiza que o esforço de implementação pelos Estados-parte deve ir
até o máximo de seus recursos disponíveis, a fim de assegurar os direitos de forma progressiva, sem
discriminação de qualquer natureza, com equilíbrio de gênero e independente da disponibilidade de
recursos.
A decisão de elaborar o presente Relatório foi da IV Conferência Nacional de Direitos Humanos,
realizada em 13 e 14 de maio de 1999 pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados,
em parceria com diversas entidades de âmbito nacional e a participação de representantes de 300
instituições públicas, igrejas, movimentos sociais e organizações não-governamentais. Mais
representativo evento da área de direitos humanos que tem sido realizado no Brasil, a força de suas
deliberações advém da legitimidadepolítica, do espaço institucional e da capacidade de fiscalização e
implementação de seus participantes, originários de todas as regiões do país e segmentos de atividade
em direitos humanos.
Com esse perfil representativo e diversificado, a IV Conferência Nacional de Direitos Humanos
construiu um consenso em torno do objetivo de priorizar, no período 1999/2000, a atuação de todos os
participantes no resgate pelo Brasil das obrigações que contraímos ao assinar o Pacto Internacional de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC). Tal decisão levou em conta a indivisibilidade dos
direitos humanos e, tendo em vista que os direitos civis e políticos já dispõem de uma estrutura oficial
e um monitoramento no país, torna-se necessário agora maior valorização dos direitos econômicos,
sociais e culturais.
A Carta da IV Conferência Nacional de Direitos Humanos destacou, entre suas recomendações, a de
"que as entidades de âmbito nacional participantes elaborem e apresentem à ONU relatório
não-governamental do Brasil sobre a implementação no país do Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e o
Movimento Nacional de Direitos Humanos ficam responsáveis pela realização de pesquisa e
seminário destinado a fundamentar o relatório".
Desde que aderiu ao PIDESC, em 1992, até a apresentação do presente documento, o Estado brasileiro
não produziu nenhum relatório periódico a que se comprometeu a apresentar à ONU ao assinar o
Pacto. Os objetivos da IV Conferência Nacional de Direitos Humanos ao deliberar pela produção e
apresentação deste Relatório da Sociedade Civil foram:
estimular o Estado brasileiro a apresentar o Relatório Oficial do Brasil e a avançar no
cumprimento de suas obrigações com o Pacto;
1.
informar à comunidade internacional e a própria opinião pública brasileira sobre a situação do
país no campo dos direitos econômicos, sociais e culturais, incorporando-os no Programa
Nacional de Direitos Humanos;
2.
difundir na sociedade brasileira e no movimento em prol dos direitos humanos no país a
existência do PIDESC e dos compromissos assumidos pelos Estados-parte, bem como
proclamar a exigibilidade do Pacto. Conseqüentemente, desejamos que o documento seja
instrumento da legítima pressão e do diálogo construtivo no sentido da implementação de
medidas capazes de resgatar o PIDESC no Brasil.
3.
Volta ao sumário
Metodologia
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
5 de 87 18/06/13 09:52
Uma das decisões mais prudentes da IV Conferência Nacional de Direitos Humanos foi, certamente, a
de criar uma Coordenação Nacional para assegurar o encaminhamento de suas deliberações. O grupo
foi formada por entidades que têm participado ativamente, desde 1996, ao lado da Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, da organização desses eventos - Movimento Nacional
de Direitos Humanos, Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, Ordem dos Advogados do
Brasil, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e organismos associados, Centro de Proteção
Internacional de Direitos Humanos, Anistia Internacional, Instituto de Estudos Econômicos e Sociais,
Fórum pela Criança e Adolescente, Marcha Global contra o Trabalho Infantil, Federação de Órgãos de
Assistência Social e Educacional (Fase) e Ágora. Outras entidades integraram-se posteriormente na
dinâmica da produção do Relatório.
Essa Coordenação definiu o cronograma de trabalho e a metodologia do relatório, de acordo com as
orientações do Comitê da ONU e consultas a outros parceiros. Também acompanhou a produção dos
relatórios temáticos, acompanhou as audiências públicas nos Estados, sistematizou o texto final do
Relatório, a partir dos dados e análises obtidos, e planejou a divulgação do resultado.
Para realizar as audiências públicas, foram constituídos Grupos de Trabalho em 17 Estados - São
Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Pará, Acre, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Em 2 outros Estados, Espírito Santo e Tocantins, embora não tenham sido realizadas audiências
públicas, foram reunidos dados e coletadas informações entre as entidades setoriais que foram
consideradas na produção do Relatório. Participaram desses Grupos de Trabalho as Comissões de
Direitos Humanos das Assembléias Legislativas, as Procuradorias Regionais dos Direitos do Cidadão,
as seções estaduais da Ordem dos Advogados do Brasil e centros ligados ao Movimento Nacional de
Direitos Humanos. Eles organizaram as audiências, produziram as atas, sistematizaram as informações
obtidas por todas as fontes disponíveis no Estado e as encaminharam à Coordenação Nacional.
 
Além das audiências nos Estados, foram distribuídos pela Coordenação e preenchidos por entidades
setoriais ligadas aos tópicos dos direitos questionários informando sobre diagnóstico e principais
demandas em cada um dos setores.
Foram designados pela Coordenação Nacional técnicos e representantes de entidades que atuam nas
áreas correspondentes aos direitos contemplados no PIDESC. Para isso, foram identificados
colaboradores em seus respectivos setores, a partir de um duplo critério, que privilegiou tanto no
conhecimento técnico como a trajetória de atuação no setor. O trabalho desses colaboradores setoriais
consistiu em proceder a uma análise das audiências públicas, questionários preenchidos por
organizações civis e dados oficiais ou de fontes de alta credibilidade sobre o respectivo direito.
Durante todo o processo, procurou-se divulgar entre diferentes segmentos da sociedade a elaboração
do Relatório e instruções sobre como uma entidade ou cidadão poderia subsidiar o trabalho. O
objetivo estratégico dessa divulgação foi não só o de obter retorno com informações que pudessem vir
a compor o documento. Também se buscou difundir tão amplamente quanto possível os direitos
econômicos, sociais e culturais, o esforço da sociedade civil em valorizá-los e a própria existência do
PIDESC, processo este tão ou mais importante do que o relatório em si. Tratou-se, portanto, de um
esforço inédito, no qual se tem muito a aprender. Entende-se assim este relatório como um primeiro
instrumento desta natureza no Brasil, a ser constantemente aprimorado, enriquecido e atualizado no
seio deste rico processo que ele próprio contribuiu para desencadear.
A entrega deste relatório ao Comitê da ONU que supervisiona o Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, em sua reunião ordinária em abril de 2000, em Genebra, é
simultânea à divulgação do documento no Brasil e sua entrega ao governo brasileiro, em Brasília.
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
6 de 87 18/06/13 09:52
Uma nova versão mais detalhada do relatório será preparada e divulgada posteriormente no Brasil,
dentro de uma perspectiva de mobilização de entidades da sociedade civil organizada no sentido de
instaurar, a partir do relatório, um processo de constante monitoramento dos vários grupos de direitos
constantes no Pacto.
 
Sumário
Direitos humanos são indivisíveis e universais
Chamada segunda geração de direitos por alguns especialistas, essa conceituação dos direitos
econômicos, sociais e culturais é rejeitada por outros face ao caráter indivisível dos direitos humanos,
atributo reconhecido de forma incontestável pela Conferência Mundial de Direitos Humanos, de
Viena, em 1993. Tal relação indissociável entre os aspectos econômico, social e cultural com o civil e
político dos direitos humanos foi objetode eloqüente advertência do professor Antônio Augusto
Cançado Trindade, presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, em memorável palestra
na IV Conferência Nacional de Direitos Humanos, proferida nos seguintes termos:
- "De que vale o direito à vida sem o provimento de condições mínimas de uma existência digna, se
não de sobrevivência (alimentação, moradia, vestuário)? De que vale o direito à liberdade de
locomoção sem o direito à moradia adequada? De que vale o direito à liberdade de expressão sem o
acesso à instrução e educação básica? De que valem os direitos políticos sem o direito ao trabalho?
De que vale o direito ao trabalho sem um salário justo, capaz de atender às necessidades humanas
básicas? De que vale o direito à liberdade de associação sem o direito à saúde? De que vale o direito
à igualdade perante a lei sem as garantias do devido processo legal? E os exemplos se multiplicam.
Daí a importância da visão holística ou integral dos direitos humanos, tomados todos conjuntamente.
Todos experimentamos a indivisibilidade dos direitos humanos no quotidiano de nossas vidas. Todos
os direitos humanos para todos, é este o único caminho seguro para a atuação lúcida no campo da
proteção dos direitos humanos. Voltar as atenções igualmente aos direitos econômicos, sociais e
culturais, face à diversificação das fontes de violações dos direitos humanos, é o que recomenda a
concepção, de aceitação universal em nossos dias, da interrelação ou indivisibilidade de todos os
direitos humanos".
Com efeito, os próprios direitos civis e políticos - tão confundidos com a própria totalidade dos
direitos humanos - parecem ameaçados diante da incapacidade de se implementar de forma
harmoniosa o conjunto dos direitos humanos. Ainda que se ponha de lado doutrinas e interesses
políticos, não há como deixar de notar que a globalização econômica e o progresso no conhecimento e
na comunicação dos últimos anos não correspondeu à universalização dos bens materiais e culturais
gerados por esse processo. Pelo contrário, o triunfo da globalização econômica está associado,
inclusive no Brasil - como se verá pelos dados oficiais constantes neste Relatório - à supressão de
conquistas sociais, à exclusão de vastas parcelas da sociedade dos benefícios do progresso e a
consolidação de profundas desigualdades sociais e econômicas. Face a estas circunstâncias, os direitos
humanos, com seus atributos de universalidade e indivisibilidade, devem ser evocados como
referências para a esperança de todos os que aspiram por uma vida mais digna e feliz.
Ao defender a exigibilidade e justiciabilidade de todos os direitos humanos, inclusive dos direitos
econômicos, sociais e culturais, o Dr. Cançado Trindade ponderou que "jurídica e
epistemologicamente nada impede, em razão e decorrência da própria indivisibilidade de todos os
direitos humanos, que determinados direitos econômicos, sociais e culturais básicos possam no futuro
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
7 de 87 18/06/13 09:52
vir a compor um núcleo mais enriquecido de direitos fundamentais e inderrogáveis".
Em sua visão, "tal núcleo seria constituído pelos direitos ao trabalho, à saúde e à educação". E
acrescentou o jurista brasileiro, "o próprio direito à vida, tido como o mais fundamental de todos os
direitos, tomado em sua ampla dimensão, a abarcar também as condições de vida (direito de viver,
com dignidade), por exemplo, pertence a um tempo tanto ao domínio dos direitos civis e políticos,
como ao dos direitos econômicos, sociais e culturais. Não podemos, naturalmente, nos limitar somente
aos chamados `direitos de subsistência': há que ir muito mais além. A experiência na promoção e
proteção dos direitos humanos não se tem confinado à satisfação das necessidades humanas básicas,
que constitui tão somente o mínimo, o passo inicial; tem ela vislumbrado um horizonte bem mais
amplo, através da capacitação em matéria de direitos humanos, do exercício pleno do direito de
participação em todos os domínios da atividade humana. Os mecanismos internacionais de proteção
dos direitos econômicos, sociais e culturais pouco lograrão sem modificações profundas
concomitantes no seio das sociedades nacionais, ditadas pelos imperativos da justiça social, para que
todos possam se beneficiar do progresso social. Cabe situar a pessoa humana no centro de todo
processo de desenvolvimento, o que requer um espírito de maior solidariedade em cada sociedade
nacional, e a consciência de que a sorte de cada um está inexoravelmente ligada à sorte de todos".
Sumário
Perfil Geral do País
Localizado ao leste da América do Sul, com uma área equivalente a 8.547.403,5 Km2 e clima que
varia do equatorial, passando pelo tropical, tropical de altitude, tropical atlântico, subtropical e
semi-árido, o Brasil é o maior e mais populoso país do sub-continente. Com uma população estimada
em 166 milhões de habitantes, o Brasil tem a seguinte composição étnica: brancos (55,2%), pardos
(38,2%), negros (6%), amarelos (0,4%), indígenas (0,2%). Vale ressaltar que esta composição étnica
do país é questionada constantemente pelos movimentos sociais e, mais especificamente pelo
Movimento Negro, visto que a metodologia usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), órgão governamental responsável pelo Censo Populacional, permite que haja distorções já
que, para estes movimentos, negros e pardos viriam de um mesmo grupo populacional, os
descendentes de escravos trazidos para o Brasil no período colonial. Assim, hoje estes movimentos
lutam para que o governo brasileiro reconheça a terminologia "afro-descendente" e deixe de separar a
população entre negros e pardos.
Estrutura política geral
Regido pelo sistema presidencialista, o Brasil vem mantendo desde 1989 eleições diretas para todos os
cargos do Executivo e do Legislativo. Há, entretanto, incômodos por parte da população com aquilo
que é chamado muitas vezes de "casuísmo" como, por exemplo, a proposição e aprovação da emenda
que permitiu a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, caso inédito na história do país. Ou, ainda, as
graves acusações de corrupção feitas a parlamentares e representantes do poder judiciário que acabam
não sendo investigadas e, consequentemente, não sendo punidas. Assim, apesar de haver hoje um grau
de satisfação alto da população com relação ao fato de a democracia estar cada vez mais consolidada
no país, existe, paradoxalmente, um frequente descrédito desta mesma população com relação aos
órgãos constituídos e aos representantes eleitos.
O Brasil se organiza a partir de um Governo Federal que é chefiado pelo Presidente da República,
eleito de 4 em 4 anos por todos os maiores de 16 anos. O Presidente nomeia seus ministros e com eles
estabelece seu plano de governo e suas linhas de ação. O mesmo ocorre nos 26 Estados da Federação
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
8 de 87 18/06/13 09:52
e no Distrito Federal, com a eleição dos governadores, e nos 5.506 municípios com a eleição dos
prefeitos.
No Legislativo existem duas casas: o Senado e a Câmara dos Deputados. Há momentos em que
matérias legislativas são votadas pelas duas casas em conjunto, é quando se constitui o Congresso
Nacional. Os deputados têm mandato de 4 anos e os senadores mandato de 8. Nos estados e
municípios são eleitos, respectivamente, deputados estaduais para as assembléias legislativas e
vereadores para as câmaras de vereadores.
O Poder Judiciário é organizado em Poder Judiciário da União e Poder Judiciário dos Estados. O da
União compreende ramos especializadosda justiça nas áreas eleitoral, de direito do trabalho, de
direito penal militar, e em razão da presença de entidades do governo federal no processo,
constituindo o ramo da justiça federal. O Supremo Tribunal Federal é o órgão de cúpula do sistema, e
é corte constitucional. O Superior Tribunal de Justiça é órgão de uniformização do direito federal, no
âmbito das leis não constitucionais e corte recursal para os Tribunais Regionais Federais e Tribunais
de Justiça (estaduais). Há ainda tribunais superiores especializados (Tribunal Superior do Trabalho,
Tribunal Superior Eleitoral e Superior Tribunal Militar), e cortes regionais e juízos locais tanto da
justiça especializada quanto da justiça comum estadual.
Os municípios não interferem nem participam da organização da justiça. Dependendo da questão
versada, utilizam-se de órgão da justiça comum (federal ou estadual, dependendo do interesse
atingido) ou especial.
O Poder Judiciário é organizado em Poder Judiciário da União e Poder Judiciário dos Estados. O
Poder Judiciário da União compreende ramos especializados da justiça nas áreas eleitoral, de direito
do trabalho, de direito penal militar, e em razão da presença de entidades do governo federal no
processo, constituindo o ramo da justiça federal.
Para os tribunais, 3/5 dos membros provêm da carreira da magistratura, alternando a promoção entre
antigüidade e merecimento; 1/5 provém da classe dos advogados, mediante indicação da Ordem dos
Advogados do Brasil, e 1/5 da carreira do ministério público com atuação naquele ramo de justiça, por
lista organizada a partir dos integrantes da carreira. A nomeação desses últimos é por parte do
Presidente da República.
Os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em número de 11, são de livre nomeação do Presidente da
República, após aprovação do Senado Federal. Essa aprovação também é exigida para nomeação nos
órgãos superiores da justiça do trabalho, militar, e no Superior Tribunal de Justiça.
Características econômicas, sociais e culturais
Com relação à religiosidade o Brasil é constituído de cristãos, espiritas, cultos afro-brasileiros, judeus
e um sem número de movimentos religiosos de origem oriental, outros de caráter esotérico e
naturalista.
O crescimento demográfico brasileiro no período de 1991-1996 foi da ordem de 1,38% ao ano.
O grau de analfabetismo, a partir dos dados oficiais, é de 14,7%, já os analfabetos funcionais somam
34,1%.
Em 1997 o Brasil ocupava a posição 0,739, na escala 0-1, do Índice de Desenvolvimento Humano da
ONU.
Com relação aos aspectos econômicos o PIB brasileiro em 1998 foi da ordem de US$ 777 bilhões,
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
9 de 87 18/06/13 09:52
divididos nos seguintes setores:
PIB agropecuária – 8,4%
PIB indústria – 34%
PIB serviços – 57,6%
A renda per capita em 1998 foi da ordem de US$ 4,802.00. Sendo que em 2000 o governo brasileiro
anunciou que a renda per capita ultrapassou a casa dos US$ 5,000.
 
Sumário
 
 
OS DIREITOS CONTEMPLADOS PELO
PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS ECONÔMICOS,
SOCIAIS E CULTURAIS
 
 
 
 
1. Povos indígenas, remanescentes de quilombos e
outras minorias
O que diz o Pacto:
Artigo 1º. 2. Os Estados-partes no presente Pacto comprometem-se a garantir que os direitos nele
enunciados se exercerão sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião,
opinião política ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica,
nascimento ou qualquer outra situação.
Legislação existente no país referente aos direitos expostos no Pacto
Há na Constituição Federal um capítulo destinado aos índios, composto pelo artigo 231 e seus
sete parágrafos e pelo art. 232 .
São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os
direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União
demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens (art. 231 da Constituição Federal).
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
10 de 87 18/06/13 09:52
Quanto às demais minorias, a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, "define os crimes
resultantes de preconceitos de raça ou de cor". A Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997,
modificou o art. 1º da Lei nº 7.716, de 1989, para punir, também, os crimes resultantes de
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Projeto de Lei nº 1.239, de 1995, de autoria do Deputado Paulo Paim, "garante a reparação com
indenização para os descendentes dos escravos no Brasil". Encontra-se na Comissão de Defesa
do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, da Câmara dos Deputados, desde 20 de maio de
1999.
Projeto de Lei nº 4.370, de 1998, de autoria do Deputado Paulo Paim, "dispõe sobre a
representação racial e étnica nos filmes e peças publicitárias veiculadas pelas emissoras de
televisão". Encontra-se na Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática, com
parecer favorável, desde 10 de junho de 1999.
Análise das ações governamentais para aplicação do direito
Para efeito de relatar o cumprimento das obrigações do Brasil em decorrência do Pacto Internacional
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o conceito de minoria será, a grosso modo, o
genericamente aceito pelas Nações Unidas: grupos distintos dentro da população do Estado, possuindo
características étnicas, religiosas ou lingüísticas estáveis, que diferem daquelas do resto da população;
em princípio numericamente inferiores ao resto da população; em uma posição de não dominância;
vítima de discriminação.
No Brasil isto compreende os índios; os ciganos; as comunidades negras remanescentes de quilombos;
comunidades descendentes de imigrantes; membros de comunidades religiosas.
Essa a primeira dificuldade. O censo classifica a população brasileira em brancos, negros, pardos,
indígenas (apenas recentemente), amarelos e outros. Indaga sobre a religião a que pertencem, e o país
de nascimento. Nada mais.
A única minoria a ser identificada como tal no Brasil são os índios. E os dados populacionais são
desencontrados. Os índios eram 251.422, em contagem de 1996, do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE. Para a Fundação Nacional do Índio - FUNAI, órgão oficial de assistência e
proteção aos índios, os índios são 325.652.
Para todas as minorias o Brasil historicamente adota uma política de assimilação. Curiosamente, para
os negros e seus descendentes, a política é historicamente de apartação.
É verdade que essas posições tanto assimilacionista e unificadora, quanto de apartação foram
radicalmente alteradas pela Constituição de 1988. Esta determinou a proteção a todas as manifestações
culturais, fazendo respeitar expressamente as culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, bem
como as de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
O Estado não tem uma política em favor das minorias, pois não há identificação da problemática
referente às minorias (ou seja, aspectos de educação, saúde, inserção econômica que dizem respeito ou
afetam mais intensamente minorias e seus membros); nem elaboração de um programa para atuar
sobre as comunidades e grupos identificados; muito menos execução desse programa; e sua avaliação.
Povos indígenas
São 246 povos indígenas no Brasil, segundo a FUNAI – Fundação Nacional do Índio. O quantitativo
populacional varia de um grupo para outro, como também varia o modo de organização social. Os
povos que vivem com menor interação e fricção com a sociedade majoritária conseguem permanecer
com o modo de organização social mais tradicional, valorizando representantes e líderesespirituais,
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
11 de 87 18/06/13 09:52
mantendo conselhos tribais, e preservando modos de manutenção da ordem e coesão interna.
O Brasil celebra os 500 anos do assim chamado "Descobrimento". Comemora-o como sendo um
"encontro" entre os navegadores portugueses e os índios, que aqui já habitavam. O discurso oficial
narra, como fato restrito ao passado, matanças de índios, invasões e tomadas de suas terras e riquezas,
destruição de suas culturas e grupos. Mas o que se vê é a repetição desses mesmos fatos, nas novas
fronteiras de expansão econômica, e a perpetuação do problema nas áreas em que a convivência entre
índios e não-índios tem sido mais intensa, desde a época da chegada dos primeiros europeus.
Para facilitar a compreensão, serão abordados aspectos referentes às terras indígenas e sua
demarcação, à educação e à saúde indígena.
O Governo Federal não tem com clareza uma política indigenista. Examinando-se, por exemplo, os
recursos orçamentários para as populações indígenas de 1995 a 1998, verifica-se que o orçamento de
1995, no montante de R$ 67.843.000,00 foi reduzido a R$ 39.450.000,00 no orçamento de 1998, tanto
mais grave quando se identifica que mesmo esse valor reduzido não foi inteiramente realizado. Em
1998, a execução orçamentária restringiu-se a R$ 28.215.000,00.
Durante os anos de 1995 a 1998 foram gastos, em média, 70,39% dos recursos orçamentários
destinados às populações indígenas.
Os índios e a demarcação de suas terras
A Constituição Federal de 1988 deu grande impulso ao processo de demarcação de terras indígenas no
Brasil. Basta dizer que 2/3 (dois terços) da extensão total das áreas delimitadas e registradas no país
foram feitas a partir do Decreto Presidencial nº 22/91 que, ao criar um novo procedimento para
demarcação administrativa de terras indígenas, estimulou a demarcação de grande parte das áreas
indígenas hoje existentes no país, permitindo a regularização fundiária e o reconhecimento oficial das
terras delimitadas anteriormente por critérios e regulamentos distintos.
Para a FUNAI, as terras indígenas do Brasil ocupam 929.209 km2, correspondentes a 10,87% do
território nacional. Das 561 áreas indígenas reconhecidas pela FUNAI, 315 já se encontram
demarcadas, homologadas e registradas, perfazendo 738.344 km2 de extensão. Existem, ainda, 54
terras delimitadas, 23 identificadas e 169 a identificar.
A grande maioria da população indígena atual, cerca de 60%, vive no Centro-Oeste e Norte do país
(Amazônia e cerrados) com direito a 98,75% da área das terras indígenas na Amazônia Legal. Os 40%
restantes da população indígena do país habitam as regiões mais ocupadas do Nordeste, Leste e Sul do
Brasil, confinados a apenas 1,25% do total da extensão das terras indígenas. Isso é fruto da expansão
das fronteiras econômicas. E do esbulho historicamente sofrido, sem direito a qualquer restituição ou
indenização.
Por outro lado, embora cerca de 80% da área dos territórios indígenas estejam demarcados, os 20%
restantes de área pertencem a quase 50% do número das terras indígenas, que permanecem sem
demarcação, grande parte das quais no Nordeste e Sudeste, onde a pressão dos interesses econômicos
é enorme.
Violência contra os povos indígenas
As terras indígenas são freqüentemente invadidas por garimpeiros, madeireiras, fazendeiros,
provocando destruição em suas formas de organização tradicional, destruição ambiental, e levando
doenças e morte.
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
12 de 87 18/06/13 09:52
Ao se opor às violações a suas terras, direitos e bens, os índios são cada vez mais vítimas de violência
e agressões.
O CIMI – Conselho Indigenista Missionário – tem monitorado e mapeado a violência contra os índios,
de modo sistemático, desde 1993. De 1993 a 1998 foram mais de 194 homicídios. Além desses, há
casos gravíssimos de massacres, como o do povo Tikuna, em 1988, conhecido como "Massacre do
Capacete", com morte de 14 índios, praticado por posseiros e madeireiros. Os responsáveis continuam
impunes. Também o genocídio dos Yanomami em Haximu, em 1993, praticado por garimpeiros,
matando 16 índios, dos quais 14 eram mulheres ou crianças.
As violações graves ainda incluem tentativas de homicídio (mais de 300 casos) e ameaças de morte
(mais de 2.000 casos), sem falar em prisões com abuso de autoridade (mais de 3.000 casos) e
constrangimento ilegal (mais de 1.600 casos). A principal causa é a luta pelo reconhecimento dos
direitos originários às terras de ocupação tradicional.
Os índios e a saúde
Desde 1994 ficou estabelecido que as ações de prevenção em saúde nas áreas indígenas seria
atribuição do Ministério da Saúde, por meio de sua Fundação Nacional de Saúde – Funasa, e não mais
da FUNAI.
Em 23 de setembro de 1999 foi sancionada a chamada Lei Arouca ( Lei 9.936/99), definindo regras
para um subsistema de saúde indígena.
O novo subsistema de atenção à saúde indígena é de competência federal (Ministério da Saúde),
vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS), devendo respeitar os princípios aplicáveis a este, e ter
como base os distritos sanitários especiais indígenas, que prestará serviços de saúde junto às aldeias
indígenas e será responsável pela articulação junto ao SUS.
O subsistema deverá levar em consideração a realidade e as especificidades das culturas dos povos
indígenas, levando em conta, igualmente, os aspectos de assistência à saúde, saneamento básico, meio
ambiente, demarcação de terras, educação sanitária e integração institucional.
Ora, se estes fatos produzem esperança para o futuro, os dados atuais são desanimadores. Segundo
pesquisa do Instituto de Medicina Tropical de Manaus (1995), a expectativa de vida dos índios é de
apenas 42,6 anos, em média. Já a expectativa de vida média do brasileiro não índio é de 64 anos para
os homens e 72 para as mulheres.
Os índios e a educação
A política nacional para educação escolar indígena foi definida pelo Ministério da Educação e Cultura
e expressas em documento(Diretrizes para a Política Nacional de Educação Escolar Indígena, MEC,
1993). São princípios para sua prática a diferenciação, a especificidade, o bilingüismo e a
interculturalidade.
Vários projetos de formação e capacitação de professores indígenas e estruturação de escolas
indígenas, que atendam aqueles propósitos, têm sido desenvolvidos por iniciativas da FUNAI, de
Secretarias de Estado da Educação, do CIMI, do Instituto Socioambiental como os mais
representativos.
A educação escolar indígena no Brasil ainda é caracterizada por experiências pulverizadas e
descontínuas, sem articulação regional ou nacional.
A Resolução Nº 3 (10.11.1999) da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação,
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
13 de 87 18/06/13 09:52
estabelece a estrutura e o funcionamento das Escolas Indígenas, reconhecendo-lhes a condição de
escolas com normas e ordenamento jurídico próprios, e fixando as diretrizes curriculares do ensino
intercultural e bilíngüe, visando à valorização plena das culturas dos povos indígenas e à afirmação e
manutenção de sua diversidade étnica.
Ciganos
O Executivo brasileiro não despertou para a existência dos ciganos, como membros de uma minoria
étnica com especificidades socioculturais, lingüísticas e econômicas próprias, a merecer uma ação
desenhada para suas necessidades básicas. Os ciganos continuam à margem do desenvolvimento da
sociedade envolvente, sofrendo mesmo interferências desse desenvolvimento, à medida em que a
urbanização e a industrializaçãoretira seus espaços tradicionais de vida e atuação.
A não ser por algumas iniciativas isoladas de órgãos governamentais em defesa dos direitos dos
ciganos, como intervenção da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados para facilitar
aos ciganos do Paraná a obtenção de registros de nascimento, e do Ministério Público Federal na
Paraíba, para assegurar às crianças ciganas no Município de Sousa acesso à escola, nada mais tem sido
feito pelo Estado brasileiro em prol desta população.
Quais são os problemas que mais afetam os ciganos?
Não têm acesso ao registro civil de nascimento, nem de óbito. O nomadismo serve de pretexto
aos titulares dos cartórios para dificultar e mesmo impedir sejam lançados os nascimentos dos
filhos e filhas de ciganos.
Não têm direito de estacionar caravanas, e estabelecer acampamentos provisórios, sem serem
molestados pelas polícias e autoridades locais.
As crianças não têm direito de freqüentar escolas, por conta da sua maneira de viver. E quando
se sedentarizam, vêem os filhos serem tratados como cidadãos de segunda classe, porque os
valores culturais não são conhecidos nem respeitados.
Quilombos e negros
O censo demográfico no Brasil classifica sua população baseada em critério de cor. De acordo om tal
critério os brasileiros são brancos, negros, pardos, amarelos ou índios.
Negros e pardos no Brasil, segundo o censo, são cerca de 45% da população. A questão cultural e
étnica passa longe das estatísticas. É a maior população negra fora da África. E a segunda maior do
mundo, só inferior numericamente à população do mais populoso país africano, a Nigéria.
As conseqüências de séculos de exploração e crueldade produzem efeitos ainda hoje. A população
negra (incluídos os negros e pardos, segundo os dados do IBGE) são os mais pobres entre os pobres,
os com menor nível educacional, com trabalhos mais duros e pior remunerados. Essas estatísticas,
porque examinadas unicamente à luz do critério cor ou raça, reforçam o preconceito e a
discriminação.
O Governo Federal tem a Fundação Cultural Palmares, para tratar da questão dos afro-brasileiros.
Entretanto, a Fundação Cultural Palmares não dispõe de um orçamento compatível com a magnitude
do desafio de sua missão. Ainda assim, segundo ela, a identificação e reconhecimento oficial, em
1995, da comunidade de Rio das Rãs, município de Bom Jesus da Lapa, Bahia, a teria credenciado
para o desempenho dessa função.
Houve criação de Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), com o objetivo de apresentar propostas
que viessem implementar o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. De prático
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
14 de 87 18/06/13 09:52
estão sendo desenvolvidos alguns projetos. O projeto "Quilombo: Terras de Preto" resultou na
identificação e posterior reconhecimento das áreas remanescentes de Riacho de Sacutiaba e Sacutiaba,
município de Wanderley, Bahia; Mocambo, município de Porto das Folhas, Sergipe; Castainho,
município de Guaranhuns, Pernambuco; Jamary dos Pretos, município de Turiaçu, Maranhão.
Contudo, há mais de quinhentas comunidades negras, remanescentes de quilombos, em todo o país,
que esperam pelo reconhecimento da propriedade da terra.
Além da falta de recursos, há uma visível falta de sintonia entre a Fundação Palmares e o órgão
fundiário do país: INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma agrária). Enquanto a
Fundação Palmares, que está vinculada ao Ministério da Cultura, procedeu ao reconhecimento de 30
(trinta) áreas de remanescentes de Quilombos e obteve, em favor daquelas comunidades a titulação e a
regularização de sua terras, em processo paralelo, porém mais eficaz, o INCRA, autarquia federal
vinculada ao Ministério da Reforma Agrária, titulou 17 (dezessete) áreas de remanescentes de
Quilombos com base em Portaria interna, sem que esses processos de regularização fundiária tivessem
tramitado pela Fundação Palmares.
Cabe ainda ressaltar, em que pesem as tentativas de se estabelecer uma política para os remanescentes
de quilombos, essas encontram dificuldades na sua aplicação em função da ausência de um diálogo
entre os orgãos governamentais e os representantes legítimos do Movimento Negro, que poderiam
contribuir para sua eficácia.
Imigrantes e seus descendentes
O Brasil não se caracteriza por ser um país que estimule a imigração. Ao contrário, quando adotou
políticas de estímulo à vinda de estrangeiros, o fez de modo bastante controlado, e para atender
objetivos específicos. Segundo Decreto republicano, mão-de-obra branca, européia, deveria ser trazida
para substituir a mão-de-obra escrava, em razão da abolição, mas também para "embranquecer" o país.
Desde a Constituição de 1934, a regra é dispersar os imigrantes, uma vez ingressos no território
nacional. A política oficial pretendia impedir a reprodução dos traços culturais de origem, e sua
organização social, forçando os que aqui chegavam a uma assimilação.
Há inúmeras comunidades que podem ser consideradas de italianos, alemães, holandeses, japoneses,
chineses, sírios, libaneses, ucranianos, poloneses, que mantêm tradições comuns, histórias vividas em
comum, e um sentimento de ancestralidade. A essas correntes migratórias anteriores, acrescentam-se
dezenas de milhares de coreanos, bolivianos e outros grupos sul-americanos, que reproduzem aqui
práticas e costumes trazidos em sua bagagem de vida. O Estado brasileiro não leva em conta essa
diversidade cultural e étnica.
Propostas
É necessário que os direitos culturais, lingüísticos e religiosos deixem de ser mera retórica
política e passe a receber apoio e suporte do Estado de uma maneira compatível com o nível de
apoio e suporte conferido à maioria da população;
Que os responsáveis pela implementação de políticas públicas e aplicação das leis no Brasil
passem a ouvir e interagir com juristas e cientistas sociais - geógrafos, lingüistas, historiadores,
sociólogos, antropólogos etc. e, principalmente, com os representantes dos movimentos
representativos dos diversos segmentos da população -, para compreenderem de modo plural a
realidade das minorias étnicas, lingüísticas e religiosas. Para, ao fim e ao cabo, compreenderem
que uma democracia pluralista é feita também de minorias, diferentes da sociedade envolvente,
menores em número mas não em direitos.
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
15 de 87 18/06/13 09:52
 
Sumário
2. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável
O que diz o Pacto:
Artigo 6º - 2. As medidas que os Estados-partes no presente Pacto deverão adotar, com o fim de
assegurar o pleno exercício desse direito, incluirão as medidas que se façam necessárias para
assegurar:
A diminuição da mortinatalidade e da mortalidade infantil, bem como o desenvolvimento são
das crianças.
A melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente.
 
Legislação existente no país referente aos direitos expostos no Pacto
artigo 225 da Constituição Brasileira declara que: "Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações."
Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 306, de 1995, "dispõe sobre os instrumentos de controle e do
acesso aos recursos genéticos do país e dá outras providências". Na Câmara dos Deputados,
recebeu o número PL nº 4.842, de 1998. É de autoria da Senadora Marina Silva. Possui duas
proposições anexadas, o PL nº 4.579, de 1998, e o PL nº 4.751, de 1998, do Poder Executivo.
Lei 4.771, de 15 de Setembro de 1965, institui o Código Florestal;
Decreto-Lei Nº 221,de 28 de Fevereiro 1967, dispõe sobre a proteção e estímulos à pesca e dá
outras providências.
Lei 6.943, de 31 de Agosto de 1981, dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente;
Lei 7.661, de 16 de Maio de 1988, Dispõe sobre o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro;
Lei 9.605, de 12 Fevereiro de 1998, dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas
de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
Análise das ações governamentais para aplicação do direito
Em 1999, para efetivar o compromisso assumido na UNCED, o governo brasileiro, sob a
responsabilidade da Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 - CPDA21,
desencadeou positivamente, com a participação da sociedade civil, o processo de redação e
negociação da Agenda 21 Brasileira. Porém, ao mesmo tempo, lançava o Plano Plurianual (PPA), que
talvez se constitua no exemplo mais acabado da distância entre o Direito na sua mais alta expressão e
a realidade. O CPDA21 tem por finalidade principal formular uma estratégia de desenvolvimento que
visa a assegurar para o país, segundo a nossa interpretação, "a ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, (que) tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:... VI - defesa do
meio ambiente" (artigo 170 da Constituição). O PPA relega o meio ambiente a um lugar específico,
mas não o considera como categoria capaz de reorientar o conceito de desenvolvimento, que passaria
a ser caracterizado como "sustentável" e, portanto, não propõe um desenvolvimento para o país que
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
16 de 87 18/06/13 09:52
possa preservar os direitos da população, hoje e no futuro, e um meio ambiente que contribua para
garantir a qualidade de vida.
A profunda dicotomia e a desigualdade de tratamento entre o PPA e o processo de elaboração da
Agenda 21 é patente. O PPA reuniu na sua confecção todas as competências do serviço público e
mereceu a mais ampla publicidade. Por outro lado, parcos recursos foram consagrados à feitura dos
primeiros documentos da Agenda 21. A sua discussão foi confinada a setores restritos e secundários
do Estado.
Se lembrarmos que em 1999 o governo consagrou o essencial das suas energias à gestão e superação
da crise cambial e à continuação do seu ajuste, em particular através de negociações com o Congresso,
visando a assegurar maioria nas votações do seu interesse, a discussão da legislação ambiental aparece
como objeto de barganha, em particular com a chamada bancada ruralista, ligada aos interesses de
grandes fazendeiros.
Por outro lado, ressalta-se, positivamente, a votação da Lei º 9.605, de 12 Fevereiro de 1998,
conhecida como Lei de Crimes Ambientais, ainda que tenha sofrido atenuações lesivas ao bem
comum, como é o caso das alterações sobre poluição sonora. Nota-se no entanto que o decreto que
regulamenta essa lei possibilita o perdão das multas administrativas, quando o infrator compensar o
prejuizo causado ao meio ambiente - o que o premia, em detrimento da sociedade.
No capítulo da legislação federal, constitui-se em grave atentado ao patrimônio nacional a Medida
Provisória que propõe alterar o Código Florestal, possibilitando aos proprietários rurais, por vários
artifícios, reduzir a cobertura vegetal natural das suas propriedades. Sob pretexto de essas medidas
favorecerem em particular os pequenos produtores que vêem suas atividades econômicas prejudicadas
por uma lei nem sempre apropriada à sua realidade, a Medida Provisória abre a possibilidade ao
latifúndio e às médias e grandes empresas rurais, que já são os grandes destruidores do meio ambiente,
de expandir sem freios suas atividades, causando danos incalculáveis aos ecossistemas, à
biodiversidade e às águas, em prejuizo do conjunto da população.
O que acontece em relação à legislação reflete o que acontece de modo geral no país: os recursos
naturais e o meio ambiente são postos a serviço de uma minoria e subordinados aos seus interesses e o
poder público abre mão da sua função e do seu poder regulador.
Em vários Estados, nota-se que "não existem ações sistemáticas dos órgãos do governo brasileiro
visando promover o direito ao ambiente sadio" e denuncia-se o desaparelhamento dos órgãos públicos
ambientais.
Verifica-se, na Região Norte, que prossegue a destruição da floresta tropical, através dos
desmatamentos, dos incêndios e da atividade madeireira. Os recursos consagrados à educação
ambiental, à prevenção e à fiscalização são irrisórios. Poucos recursos e esforços foram investidos no
chamado "PPG7", destinado à proteção da Florestas Tropicais e dos seus habitantes. Em contrapartida,
a ocupação dos Cerrados amazônicos e áreas degradadas pela agricultura de grãos, em particular a
soja, altamente mecanizada e quimificada, e por isso em nada apropriada aos trópicos e à
sustentabilidade dos ecossistemas (e, a medio prazo, da própria agricultura), é encorajada pelas
políticas e órgãos públicos voltados para a exportação. Isso se dá em detrimento de uma perspectiva
de manejo sustentável dos recursos da Amazônia, das suas populações tradicionais e dos seus
pequenos produtores. Tal política, hegemônica no Ministério da Agricultura e em outros setores tais
como a CAMEX, leva também os Cerrados brasileiros da Região Centro Oeste a uma situação de alto
risco e as suas populações tradicionais à migração.
A destruição da vegetação nativa de cerrado, inclusive em áreas de solos extremamente sensíveis, que
afeta a biodiversidade e a capacidade de armanezamento das águas, vital numa região em que nasce
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
17 de 87 18/06/13 09:52
boa parte dos principais cursos de água do país, a erosão, a concentração da propriedade, a migração
acelerada, a irrigação intensiva, o assoreamento da nascente do rio Araguaia e de parte do entorno do
Pantanal, bem como a tentativa de viabilização da hidrovia Araguaia/Tocantins a tudo custo, com
falsificação de laudos técnicos do EIA-Rima, são altamente preocupantes.
Os povos indígenas e remanescentes de quilombos aparecem como as primeiras vítimas. Têm
dificuldades de acesso a projetos de auto-sustentação e manejo e/ou recuperação ambiental. No Estado
do Mato Grosso, 80%das suas terras já demarcadas sofrem invasões. Denuncia-se a exploração
irregular de madeira no Nordeste do mesmo Estado, além do Pará e do Acre.
Destacamos no Mato Grosso do Sul a situação dramática dos índios da região de Parambizinho. Numa
área de 1.260 ha, onde apenas 60 ha se destinam aos índios, 13 deles se suicidaram, ingerindo o
agrotóxico deixado na beira dos rios pelos fazendeiros, que assim descumpriam lei ambiental.
A irresponsabilidade do Estado está diretamente relacionada à falta de assistência e controle nas
Unidades de Conservação. De modo mais amplo, o Poder Executivo não parece envidar grandes
esforços para assegurar a mais ampla discussão e votação dos Projetos de Leis do SNUC – Sistema
Nacional de Unidades de Conservação, do Estatuto das Sociedade Indígenas e de Acesso aos Recursos
Genéticos.
São numerosas as queixas referentes à negação ao direito à àgua. Se a Lei de Recursos Hídricos,
aprovada em 1998, representou um grande avanço, a ausência de regulamentação se fez sentir
fortemente, embora caiba salientar que as agressões ao direito da população à agua são fruto de
comportamentos históricos, tanto da população coletivamente quanto dos setores produtivos e do
poder público.
O modelo de produção agrícola calcado nos padrões daRevolução Verde, encorajado historicamente
pelo Ministério da Agricultura e pelos principais órgãos públicos de pesquisa e extensão, leva ao
consumo desenfreado de agrotóxicos. Este consumo leva à poluição de rios e lagoas que afeta as
populações ribeirinhas, os consumidores de pescado e os consumidores urbanos de àgua à jusante. Os
mesmos sofrem os efeitos dos rejeitos e efluentes urbanos, industriais e agrícolas, em particular o
vinhoto, como se vê em Alagoas. Menciona-se os rios Cóxipo e Cuaibá, no Mato Grosso, rios,
barragens e reservatórios em Pernambuco, em Alagoas e Sergipe.
O mesmo modelo e os mesmos atores, acrescidos de consumidores industriais de lenha e carvão
vegetal, são responsáveis pelo desmatamento crescente das matas ciliares e outras áreas protegidas e
pela destruição da vegetação nativa em áreas que cumprem papel importante na manutenção do
volume de água no país e no abastecimento dos rios, lençois freáticos e das cidades. Salienta-se o
desmatamento, já mencionado, dos cerrados e o de áreas protegidas da Mata Alântica; e o colapso de
água experimentado pela cidade de Recife, com mais de 3 milhões de habitantes, atribuído em parte
ao desmatamento da mata nativa, especificamente da caatinga, estimulado pelas indústrias que
consomem lenha e carvão vegetal, cerâmicas, mineradoras, indústria de bebidas etc.. Freqüentemente,
as conseqüências sobre a população e determinado rio ou lagoa provêm de causas múltiplas, como o
mostra o caso da degradação do complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba, em Alagoas,
provocada pela agroindústria canavieira, pela pesca predatória e pela ocupação desordenada do solo.
Em São Paulo, é o Rio Tietê e a população urbana que são especialmente afetados pela descarga de
poluentes no rio.
Na área da agricultura, nota-se a precipitação do Ministério da Agricultura, da Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, em
autorizarem o plantio da soja transgênica Roundup Ready, da multinacional Monsanto, sem
respeitarem o princípio de precaução, sem exigência de Estudo Prévio de Impacto Ambiental.
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
18 de 87 18/06/13 09:52
A venda sem rotulagem da soja transgênica aos produtores de soja e seu plantio em escala comercial
só não foram efetivados graças à mobilização de organizações de consumidores, ambientalistas e de
desenvolvimento sustentável e do Ministério Público, que obtiveram ordem judicial impondo o prévio
estudo de impacto ambiental. Nesse episódio, notou-se bom funcionamento do Código de Defesa do
Consumidor.
Os órgãos de fiscalização, por estarem, em alguns casos, dirigidos por pessoas indicadas por políticos
ligados a setores econômicos implicados nessas questões, por isso omissos ou coniventes, ou por
serem, na sua maioria, totalmente desaparelhados e desencorajados pela não cobrança efetiva das
multas e penalidades teoricamente impostas, não cumprem a contento a sua missão. Há casos em que
órgãos públicos são diretamente promotores da destruição ambiental, como, por exemplo, o INCRA –
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - que muitas vezes promove assentamentos em
áreas impróprias e o desmatamento de áreas de preservação em assentamentos rurais, como ocorreu
em Pernambuco.
Vale notar os conflitos já existentes e potenciais entre os vários usos e usuários da água, exacerbados
por certas políticas governamentais. É o caso da privatização da produção de energia, que dá aos
proprietários de hidroelétricas o poder de comando de fato sobre a vazão dos reservatórios; a
monocultura em grande escala provoca erosão que afeta nascentes e cursos de água e tudos os
usuários a jusante; a irrigação intensiva afeta outros irrigantes e o abastecimento urbano.
A produção hidroelétrica continua sendo objeto de preocupação. O poder público e as empresas
responsáveis pela construção de barragens parecem pensar que resolvem as questões ambientais com
seus programas de levantamento e resgate de animais e de plantas. Continua não se dando um
tratamento adequado à população atingida e à formação de núcleos populacionais nascidos com essas
barragens. A população mal reassentada ou não reassentada não consegue reproduzir com o seu
entorno uma relação tão integrada quanto era em geral antes da barragem.Na maioria dos casos, não
há diálogo com a população e/ou não se leva em conta as suas reivindicações. A crescente construção
pelo setor privado de barragens não exime o poder público de regulamentar essas atividades e de
garantir o bem comum, que é, tanto quanto a produção de energia, o bem estar da população atingida e
a preservação do seu meio ambiente.
É assim que apresentaram problemas em 1999 as seguintes obras: Tucuruí (Estado do Pará), Lageado
e Ipuieras (Tocantins), Fumaça, Emboque, Cachoeiro do Emboque, Irapé e Aimorés (Minas Gerais),
Tijuco Alto e outros Projetos do Vale da Ribeira (São Paulo), Itaparica, Castanhão, Gatos 1 e 2, Pedro
do Cavalo (Região Nordeste), Comunidade Mucambo, de remanescentes de quilombos (Sergipe),
Cana Brava, Serra da Mesa e Porto Primavera (Região Centro-Oeste). Acrescenta-se aqui a abertura
do gazoduto de Urucu, no Amazonas, com prejuizos ambientais e sociais.
A ausência de políticas nacionais de habitação e de saneamento, articuladas com políticas estaduais e
municipais, é apontada como uma causa importante da degradação da saúde, da violência, do meio
ambiente e dos recursos hídricos, da qualidade de vida urbana em geral. Em numerosas regiões
metropolitanas, inclusive na de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, espaços protegidos têm sido
ocupados por moradias sem que se atente para o perigo de estarem em área de risco, de mananciais ou
de reservatórios. A cada temporada de chuvas repetem-se acidentes decorrentes dessa forma
desordenada de ocupação, com expressivo número de mortos, desabrigados e danos materiais, cujas
vítimas são, em geral, pessoas muito pobres.
Também em São Paulo, destaca-se, com grande impacto ambiental, a implementação do Rodoanel
Trecho Oeste, que está destruindo a reserva da biosfera do Cinturão Verde, tombada pela UNESCO.
Estima-se que vai afetar a saúde e a qualidade de vida de mais de 100 mil pessoas, ressaltando-se que
estas questões foram desconsideradas em função da valorização imobiliária que o projeto provocaria à
região.
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
19 de 87 18/06/13 09:52
Em 1999, destaca-se o apoio ostensivo dado pelo Estado, através de financiamentos e múltiplas
vantagens concedidas à indústria automobilística. O meio ambiente e o transporte público são
sacrificados no altar do transporte individual, forçando a realização de obras de infra-estrutura viária e
conseqüente impermeabilização e verticalização do solo, que expande as "ilhas de calor" nas cidades,
provocando alterações climáticas. Essas alterações requerem uso adicional de energia para
condicionamento térmico e refrigeração de ambientes, o que equivale à expansão do parque de
geração de energia elétrica. A opção por privilegiar o transporte privado resulta, portanto, em
degradação ambiental e, também, em exclusão social, ferindo os direitos humanos.
Propostas
Maior compreensão de que os direitos ambientais são direitos humanos e como tais merecem
idêntica promoção e proteção;
afastamento do Estado da defesa de interesses particulares e pela restituição ao Estado do seu
papel de promotor e regulador do bem comum;
articulação e coordenação entre os três níveis de poder;
reaparelhamento dos órgãos de fiscalização e pela combinação de um trabalhopreventivo e
punitivo;
efetiva implementação de Comitês ou Conselhos de Bacias e Sub-Bacias (de cursos d’água),
com a participação de todos os interessados;
integração da educação ambiental no sistema educacional;
implementação da Reforma Agrária, a promoção da agricultura familiar e a implementação de
um modelo de agricultura sustentáveis;
criação de programas voltados especificamente para minorias e grupos sociais situados em áreas
de risco ou submetidos a impactos ambientais;
fortalecimento e maior reconhecimento por parte do Estado das organizações da sociedade
voltadas para as questões socioambientais;
efetivação de mecanismos e instâncias que garantam o mais amplo controle social sobre as
decisões e atividades que afetem potencialmente a população e o meio ambiente.
Sumário
3. Discriminação e desigualdades
O que diz o Pacto
Artigo 2º - 2. Os Estados-partes no presente Pacto comprometem-se a garantir que os direitos nele
enunciados se exercerão sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, religião, opinião
política ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento
ou qualquer outra situação.
Legislação existente no país referente aos direitos expostos no Pacto
No seu art. 3º, inciso IV, a Constituição Federal dispõe que um dos objetivos fundamentais do Brasil é
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.
A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, "define os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de
cor". Sofreu modificações da Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997, para punir os crimes resultantes de
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
20 de 87 18/06/13 09:52
A proteção a idosos e portadores de deficiência física está garantida na Constituição Federal (arts. 227,
§ 1º, inciso II e § 2º; art. 230 e §§ 1º e 2º).
A Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, "dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o Conselho
Nacional do Idoso e dá outras providências". Foi regulamentada pelo Decreto nº 1.948, de 3 de julho
de 1996.
O Decreto nº 1.744, de 8 de dezembro de 1995, "regulamenta o benefício de prestação continuada
devido à pessoa portadora de deficiência e ao idoso, de que trata a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de
1993, e dá outras providências". A Lei nº 8.742, de 1993, "dispõe sobre a organização da assistência
social e dá outras providências".
O inciso XXXI do art. 7º da Constituição Federal protege o trabalho do portador de deficiência.
O Brasil apresenta o mais completo aparato legal de apoio à pessoa portadora de deficiência da Ibero
América, sistematizados na Constituição Federal e outras Leis Complementares.
A Lei Nº 8.213/91, que dispõe sobre os benefícios da Previdência Social, define no Art. 93, que a
empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2/% (dois por cento) a 5%
(cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência,
habilitadas, na seguinte proporção:
I - até 200 empregados..................2%
II - de 201 a 500............................. 3%
III - de 501 a 1.000......................... 4%
IV – de 1001 em diante.................. 5%
Análise das ações governamentais para aplicação do direito
O Brasil possui um padrão de distribuição de recursos extremamente injusto. Levando-se em conta
que mais de 75% da população mundial vive com uma renda per capita inferior à brasileira, é forçoso
reconhecer que as precárias condições de vida de segmentos importantes da sociedade brasileira
advém não de uma escassez absoluta de recursos, mas sim da má distribuição desses. Em
conformidade com o Relatório sobre Desenvolvimento Humano da ONU de 1998, no Brasil 20% dos
mais ricos controlam mais de 64% da renda, enquanto os 20% mais pobres sobrevivem com 2,5% da
renda.
O Relatório sobre Desenvolvimento Humano, versão 1999, aponta que 26 milhões de brasileiros
vivem à margem do desenvolvimento humano, sem as condições mínimas de saúde, educação e
saneamento básico ou serviços essenciais. São os excluídos do processo de crescimento num país que
tem uma das piores distribuições de renda do planeta, somente comparado ao Paraguai. O Brasil é o
campeão mundial em concentração da riqueza: enquanto os 20% mais ricos acumulam bens e capital,
18% da população detém a miséria absoluta, numa diferença de 32 vezes entre os opostos.
De acordo com estudos realizados pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudo sobre Desigualdades da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, se adotássemos como cálculo a razão entre a renda média dos
10% mais ricos e a renda média dos 40% mais pobres, conclui-se que o país, nesta razão, se aproxima
de 30. Calcula-se que 7% das crianças no Brasil sofram de subnutrição, enquanto a produção nacional
de grãos é suficiente para alimentar uma vez e meia a população total. Quanto à erradicação da
pobreza, percebe-se que os recursos necessários para seu fim, estariam na ordem de 5% da renda
nacional para a sua completa eliminação.
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
21 de 87 18/06/13 09:52
Neste contexto, a construção de consensos internacionais e a sua correspondência no ordenamento
jurídico interno, não têm sido suficiente para assegurar a plena efetivação da não discriminação "por
motivo de raça, cor, sexo, religião, opinião política ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou
social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação". A análise dos dados da realidade
brasileira nos leva a afirmar que ainda não logramos a efetiva promoção e proteção dos direitos
humanos econômicos, sociais e culturais.
População Negra
É fato incontestável que existe uma profunda desigualdade racial no Brasil. Essa desigualdade se
expressa nos indicadores sociais de renda, educação, saúde, mortalidade infantil, esperança de vida,
dentre outras que propiciam uma ampla visualização das significativas diferenças existentes para a
apropriação da riqueza gerada, no acesso aos serviços básicos, nas condições de vida e trabalho da
maioria da população brasileira. Em conformidade com a PNAD – Pesquisa Nacional por amostragem
Domiciliar, de 1996, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, existem 68 milhões
de negros no Brasil.
Dados sobre emprego e desemprego constituem-se em elementos importantes, quando se trata da
discriminação racial no país. De acordo com pesquisa realizada, em 1998, pelo Departamento
Intersindical de Estudos Econômicos e Sociais (DIEESE) e a Fundação CEAC, em seis capitais
brasileiras, pode-se aferir a existência de uma significativa distinção entre a população negra e branca,
na medida em que a população negra convive mais intensamente com o desemprego em qualquer
capital do país.
Vejamos os dados obtidos nessa pesquisa sobre a presença da população negra na População
Economicamente Ativa – PEA – em alguns dos principais centros urbanos do país. Em Belo
Horizonte, 51% são negros, deste 17% estão desempregados, contra 13% de brancos; no Distrito
Federal encontramos uma população negra 63%, sendo que 20% estão desempregados, para 17%
brancos; em Porto Alegre, 11% da população é negra, desta 20% esta desempregada para 15% de
brancos; em Recife, 64% é negra, sendo que 23% dos desempregados são negros e 19% brancos; em
Salvador, 81% da população é negra, 25% dos negros estão desempregados e 17% brancos; em São
Paulo 33% dos trabalhadores são negros, destes 22 estão desempregados contra 16% de brancos.
Se avaliarmos o índice de desenvolvimento humano dapopulação negra ou de origem negra no país,
de acordo com um estudo de 1997, produzido pela FASE, poder-se-ia afirmar que o Brasil ocuparia o
63º lugar em qualidade de vida, se fosse adotada a média da população brasileira, negros e brancos
juntos. Por outro lado, estaria em 120º lugar em qualidade de vida se só fosse considerada a população
negra.
A força de trabalho da população afro-descendente está centrada em três grupos ocupacionais básicos:
agropecuária/extrativista vegetal e animal, indústria de transformação/construção civil e na prestação
de serviço. Estas ocupações representam mais de 70% da mão-de-obra negra do país. Os dados
indicam que os trabalhadores negros estão concentrados em áreas dentro da estrutura ocupacional
consideradas de pior remuneração.
O fator educacional não pode ser menosprezado nas discussões sobre o acesso ou não ao mercado de
trabalho no país. Vejamos, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano no Brasil, de 1996,
35,2% dos negros e 33,6% dos pardos são analfabetos, contra 15% dos brancos. Apenas 18% dos
negros e 26% dos pardos com 2º grau têm condições de ingressar em uma universidade, já entre os
brancos essa probabilidade cresce para 43%.
Em nosso país, os homens e mulheres negros são aqueles que se encontram em situação de maior
desigualdade. Apenas 41% dos negros possuem vínculo empregatício, enquanto 58% dos brancos
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
22 de 87 18/06/13 09:52
contam com carteira assinada. Os negros que ganham apenas um salário mínimo representam 79% dos
trabalhadores brasileiros que percebem esse valor salarial.
Em que pese a discriminação racial figurar como crime deste a Constituição de 1998, e do
estabelecido na Lei nº 7.616, de 5 de janeiro de 1989, alterada pela Lei nº 9.459, que trata da definição
dos crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor, não se tem informações sobre a aplicação da
pena de prisão pela prática desse crime. De acordo com documento publicado pelo Ministério do
Trabalho e Ministério da Justiça, em 1998, intitulado "Discriminação: teoria e prática", somente em
São Paulo, no período de junho de 1993 a 1998, dos 250 Boletins de Ocorrência registrados na
Delegacia de Crimes Raciais, cerca de 45% se referiam à discriminação racial no trabalho, sendo que
nenhum foi punido.
Face à situação relatada, propomos que se constitua uma comissão paritária com membros do governo
e do movimento negro para, a partir dos dados existentes, implementar as propostas que compõem o
Plano Nacional de Direitos Humanos, no que se refere à população negra.
Também é urgente a necessidade de implementação dos dispositivos que constam na convenção
Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, resolução 2106A (XX),
anexo, da ONU.
Portadores de Deficiência
A pessoa portadora de deficiência faz parte dos chamados grupos minoritários que são excluídos,
estigmatizados, segregados e marginalizados socialmente. Toda e qualquer discriminação é
considerada crime e passível de sanções previstas em lei. Apesar das garantias legais existentes,
inúmeros casos de discriminação despontam no dia-a-dia. São portadores de deficiência visual, às
vezes portadores de baixa visão que são aprovados em concursos públicos e se defrontam com o
impedimento por meio de laudos médicos julgando-os incapazes de exercer a profissão.
Outros casos existem ainda, em que jovens freqüentam a universidade e, ao concluí-la, não recebem o
diploma, em razão de sua deficiência. Os portadores de deficiência, mesmo aqueles que ascenderam os
degraus mais elevados de escolaridade, têm que se defrontar com o preconceito do empresariado e a
ausência de formas alternativas de trabalho compatíveis com suas características biopsicológicas.
Há que se destacar ainda que o sistema de transporte público no país não está preparado para que os
cidadãos portadores de deficiência em locomoção possam exercer o direito constitucional de ir e vir,
em razão das numerosas barreiras existentes.
A Previdência Social vem se preocupando, preponderantemente, com a reabilitação e reintegração ao
labor produtivo daquelas pessoas que em detrimento de acidentes de percurso, de trabalho, problemas
graves de saúde, entre outros, se sentem impossibilitados de continuar na mesma função que exerciam
anteriormente na empresa.
Mas, existe um contingente de 10% da população, portadoras de deficiências congênitas ou
adquiridas, de ordem sensorial (auditiva e visual), física (paralizados cerebrais, vítimas da poliomielite
ou talidomida), mental e distúrbios psíquicos, que continuam à margem dessa política social.
A prática cotidiana com a educação e a busca incessante de espaços de trabalho para tais pessoas
demonstra que os dispositivos legais em vigor, vêm sendo implementados de forma incipiente pelo
poder público. Mas, os traços culturais do paternalismo e do assistencialismo influenciam familiares e
os próprios portadores de deficiência, que muitas vezes optam pela dependência social ao invés de se
sujeitar à reabilitação física, psicológica, profissional ou se dedicar ao estudo, aprendizado e exercício
de uma profissão.
Sistematização dos capítulos do Pidesc http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Pides...
23 de 87 18/06/13 09:52
Esta tendência reflete resquícios de paradigmas deterministas, que entendiam as pessoas portadoras de
deficiência como incapazes, dependentes e, conseqüentemente, excluídos ou marginalizados do
convívio e participação social.
A atitude do empresariado e do próprio poder público, demonstra a cristalização de tais princípios,
pois relutam em praticar as leis, por considerá-la onerosa. A inserção de um portador de deficiência no
quadro de uma empresa requer, na maioria das vezes, adaptações de materiais, equipamentos, do
próprio espaço físico de trabalho para garantir a acessibilidade, da jornada diferenciada, para aqueles,
cujas características biopsicológicas desfavoreçam o cumprimento das oito horas de labor diário.
Homossexuais
No Brasil vivemos uma grande contradição. Não há nenhuma lei que criminalize a homossexualidade.
A homossexualidade não é crime no País. Por outro lado, não contamos com nenhuma legislação que,
de fato, estabeleça direitos concretos e que proteja os direitos dos homossexuais.
A população integrada pelos gays, lésbicas, travestis, transsexuais e bissexuais, sofrem com o
preconceito e a discriminação na família, na escola, no trabalho, nos meios de comunicação, nos
aparatos de segurança pública e privada, na religião e na sociedade em geral.
Na família, são alvo de perseguição de parentes, são mantidos em situação de cárcere privado, são
forçados a tratamentos psiquiátricos e psicológicos forçados, quando não, em muitos casos, expulsos
de casa, sofrendo agressões morais e físicas.
A pedagogia escolar não estabelece espaços para uma abordagem positiva e respeitosa, capaz de
conviver com a diferença. De acordo com organizações de defesa dos homossexuais no Brasil,
existem inúmeros exemplos de gays, lésbicas e travestis expulsos da escola sem motivo aparente.
Os meios de comunicação social fazem uma abordagem da homossexualidade baseada em
estereótipos, calcada quase sempre em buscas sensacionalistas, apesar de vários órgãos da imprensa já
terem avançado neste sentido. No geral, ainda permanece a piada e as palavras jocosas, que, em boa
parte delas, alimentam o preconceito e arraigam a noção de que é mais do que natural a violência
contra os homossexuais.
A violência e o abuso de autoridade policial contra os homossexuais é alarmante. No ano de 1999, em
Salvador, Estado da Bahia, a Secretária de Segurança Pública, autorizou a prisão de todos os travestis
que estivessem

Continue navegando