Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ FACULDADE DE PSICOLOGIA DANIELE SOUZA E SILVA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA GOIÂNIA 2018/2 FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ FACULDADE DE PSICOLOGIA DANIELE SOUZA E SILVA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA Trabalho apresentado como requisito parcial de avaliação da disciplina Psicologia Comunitária, ministrada pela Prof. Ms. Daniela Cristina Campos. GOIÂNIA 2018/2 1. REFERENCIAL TEÓRICO O presente trabalho refere-se à disciplina Psicologia Comunitária que apoiando nos conceitos apresentados através das aulas, obteve-se um referencial teórico sobre a história da psicologia social e comunitária, os pilares que a constituem, exclusão social, ideologia, relações sociais, entre outros. A partir desses conceitos foi proposto um trabalho de campo com objetivo de integrar a teoria e a pratica profissional. Dessa forma esse estudo trata-se de uma pesquisa em campo que tem por objetivo identificar uma instituição comunitária que prestasse algum tipo de serviço à comunidade. A partir disso, realizar três visitas com o intuito de analisar a dinâmica do local, observar os grupos que se beneficiam do trabalho ofertado, identificando as possíveis demandas do local. Segundo Campos (2012), os primeiros trabalhos comunitários que surgiram no Brasil foram realizados nas décadas de 1940 e 1950 e tinham como principal objetivo o assistencialismo, provenientes das práticas norte-americanas. O período do golpe militar, o contexto político-econômico da ditadura permeado pela repressão, onde a “elite” decretava seus desejos e expropriava o poder da população, gerando sofrimento e injustiça, despertou em alguns estudiosos questionamentos quanto a posição da psicologia nesse contexto, refletindo sobre responsabilidade social e o compromisso ético social da psicologia. Esse despertar abriu oportunidades para debates e contribuiu para a constituição da psicologia comunitária (SCARPARO, 2005). A Psicologia Comunitária surge a partir de grandes transformações da área de saúde mental e social. Colocando em discussão as questões relacionadas aos problemas sociais (ORNELAS, 1997). Pode-se entender a Psicologia comunitária como a área da psicologia que se dedica a estudar, compreender aspectos psicossociais presentes no contexto das relações humanas, buscando a identificação e resolução de problemas ou demandas emergentes, o que torna possível promover mudanças na comunidade (AZEVEDO, 2014). Uma obra de referência sobre Psicologia Comunitária foi publicada em 1977, por Julian Rappaport, da Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos, onde propõe um novo paradigma para a intervenção em Psicologia, com foco na mudança social, relevância das alterações e ajustamentos de serviços em relação as populações em situação de maior vulnerabilidade, propondo estratégias de empoderamento para facilitar a participação social ativa. Com esta abordagem, a principal preocupação e objeto de estudo dos Psicólogos Comunitários passa a ser a compreensão e intervenção nos processos que tenham maior potencialidade de melhorar o estado psicológico das pessoas nos contextos onde habitam e circulam (ORNELAS, 2014). Baseando nestas premissas, a Psicologia Comunitária tem vindo a afirmar-se como um campo específico das ciências sociais e humanas, procurando incorporar a investigação e a ação focalizando-se, por um lado, na promoção da mudança, da justiça social, no bem-estar individual e na ligação dos indivíduos com os contextos sociais ou comunitários (ORNELAS, 1997). Existem quatro pilares na Psicologia Comunitária sendo eles: empoderamento, cidadania, luta contra a pobreza e saúde mental. O empoderamento consiste em identificar, facilitar ou criar contextos em que as pessoas isoladas ou silenciadas possam ser compreendidas, ter uma voz e influência sobre as decisões que lhes dizem diretamente respeito ou que de algum modo, afetem a sua vida (ORNELAS, 1997). A cidadania está ligada à democracia, concebendo os indivíduos com direitos e deveres, cumprir suas obrigações e reclamar os seus direitos, promovendo qualidade de vida. No que diz respeito à luta contra a pobreza pode-se dizer que tem se desencadeado graves desigualdades sociais, e tido uma forte influência sobre o desenvolvimento de competências, aptidões individuais e coletivas. Ultrapassar a pobreza torna-se essencial para o desenvolvimento humano saudável. A saúde mental é considerada um estado de equilíbrio entre a pessoa e a sociedade, é um conceito amplo, representado pela família, comunidade, escola e trabalho. Possuindo saúde mental, o individuo torna-se mais produtivo, tem melhor qualidade de vida e bem-estar (CAMPOS, 2012). O pilar central da psicologia social comunitária prioriza que relações nas comunidades devem ocorrer a partir do enfoque interdisciplinar, ou seja, a troca e a colaboração de todos bem como a interação. Essa área dá ênfase que a construção do conhecimento deve estar fundamentada na interação entre a comunidade e psicólogo (CAMPOS, 2007). A exclusão social trata-se de um processo coletivo, caracterizado pela exclusão econômica, cultural, politica, étnica etc. O processo de exclusão também inclui discriminação, subalternidade, não equidade, não acessibilidade, etc. Logo, o fenômeno da exclusão é tão vasto que é impossível delimitá-lo. De modo geral pode se definir que "excluídos são todos aqueles que são rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos, de nossos valores" (XIBERRAS, 1993 p. 21). O papel do psicólogo na comunidade é contribuir para a construção de programas inovadores de intervenção social, baseados em metodologias colaborativas de investigação- ação, promotoras de empoderamento e facilitadoras da mudança social. Sendo assim, o psicólogo que trabalha com grupos atendidos pelo Programa de Atenção Integral à Família (PAIF), do Centro de Referência e Assistência Social (CRAS), atua no atendimento à população em situação de vulnerabilidade social. Apoia os grupos e as organizações da comunidade para que funcionem de forma mais eficaz, cumprindo os objetivos a que se propõem ao nível da cultura, do bem-estar físico e do desenvolvimento integral dos grupos que pretendem beneficiar (CAMPOS, 2012). 2. OBJETIVO O presente trabalho teve o objetivo de observar o Serviço de convivência e fortalecimento de vínculos do CRAS de piracanjubae identificar os pontos positivos e possíveis melhorias, para tal, foram realizadas três visitas no local e horário que o grupo se encontra. A partir das demandas encontradas, foram sugeridas melhorias de acordo com os quatro pilares da Psicologia Social Comunitária: Empoderamento, cidadania, luta contra a pobreza e saúde mental. Esse trabalho foi de extrema importância, já que o mesmo viabilizou a correlação da teoria com a prática, analisando o fato que tive a oportunidade de ver na prática a exposição da teoria, trazendo um enriquecimento sobre essa área de campo. Foi possível também ter um vislumbre de como é o trabalho do psicólogo comunitário atuante nessa área, as imensas demandas que a área possui e todas as possibilidades de atendimento que a mesma propõe afim de garantir o bem-estar físico e o desenvolvimento do grupo. Sendo assim, a Psicologia Social Comunitária traz uma proposta inovadora, englobando todas as áreas, gêneros e classes, conscientizando e promovendo mudanças eficientes nas comunidades. 3. METODOLOGIA3.1- Pesquisa participante A pesquisa participante se dá na inserção de um pesquisador num campo de investigação, implica na participação, tanto do pesquisador no contexto, grupo ou cultura que está a estudar, quanto dos sujeitos que estão envolvidos no processo da pesquisa. O termo pesquisa participante pode abrigar a diversidade e a pluralidade de modos de viver e pensar a auto-reflexão na produção do conhecimento sobre a diversidade humana (SCHMIDT, 2006 ; SOARES, 2006). Harguette (2001), por sua vez, aponta a "psicologia social de Kurt Lewin" como a desencadeadora da pesquisa participante. A psicologia social comunitária enfatiza, em termos teóricos, a problematização da relação entre produção teórica e a aplicação do conhecimento, e termos de metodologia, utiliza-se, a metodologia da Pesquisa Participante, e em termos de valores, a ética da solidariedade os direitos humanos fundamentais e a busca da melhoria da qualidade de vida da população focalizada (MACIEL, 2015 ; CAMPOS, 2012). 3.2- Participantes A instituição observada foi o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), da cidade de Piracanjuba-Goiás, cuja coordenadora é a pedagoga Lília Márcia Batista Brandão. O CRAS é responsável pelos serviços socioassistenciais do SUAS nas áreas consideradas vulneráveis e com algum risco social nos municípios. O CRAS foi fundado no município de Piracanjuba há aproximadamente 12 anos, e a inauguração do prédio atual ocorreu no dia 22 de novembro de 2017. É através dele que famílias consideradas em situação de extrema pobreza, têm acesso a serviços para cadastrar e acompanhar os programas de transferência de renda. O CRAS oferta o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV). No CRAS, os cidadãos também são orientados sobre os benefícios assistenciais e inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal. O grupo observado faz parte do serviço de convivência, composto por crianças e adolescentes, cujo objetivo é voltado para o fortalecimento das relações familiares e comunitárias, além de promover a integração e a troca de experiências entre os participantes, valorizando o sentido de vida coletiva. Os participantes têm idade entre 06 e 14 anos, sendo 10 do sexo masculino e 5 do sexo feminino. Todos eles cursam o ensino fundamental na rede pública de ensino. 3.3- Procedimentos No dia 17 de setembro do ano de 2018, foi realizada a primeira visita de campo na unidade do CRAS, em Piracanjuba-GO, no turno vespertino. O grupo observado foi o do SCFV, sendo que estavam presentes 15 crianças/adolescentes e, na equipe de profissionais, dois oficineiros, a coordenadora do serviço e três estagiários. Os usuários do serviço chegaram às 13 horas, foram acolhidos pela equipe, e acomodados para a orientação. Foi proposta a reflexão sobre o tema respeito, esta atividade teve duração de 30 minutos e teve como objetivo dialogar sobre o respeito para com o próximo, com as diversidades e inclusão social. Após isto, cada usuário foi direcionado para a oficina para a qual se inscreveu, sendo elas: pintura e atividades esportivas e educativas. Foi observado que houve maior interesse por esta última oficina, onde são realizados jogos de futebol, queimada, pega-pega, pique esconde, dança, dentre outras. As oficinas prosseguiram até às 15 horas, logo após as crianças/adolescentes lavaram as mãos e foi servido o lanche. Durante este momento, os usuários se reuniram no pátio, onde fizeram a refeição. Percebeu-se que esse foi um momento descontraído e festivo. Ao término do lanche, foram encerradas as atividades do SCFV. No dia 18 de setembro do ano de 2018, foi realizada a segunda visita ao SCFV. Iniciou-se às 13 horas com o acolhimento dos usuários por meio de uma música, e posteriormente partiu-se para o momento de orientação, que é conduzido por uma pedagoga, cujo tema trabalhado foi à importância da amizade – com duração de 40 minutos. A voluntária Luana, professora de Libras, desenvolveu atividade relacionada às cores, sinais em libras, vídeo didático e exercício de fixação (prático e teórico). Todos os usuários inscritos participaram da oficina, totalizando 15 crianças/adolescentes. Atividade esta que prosseguiu até as 15 horas quando foi servido o lanche e as crianças/adolescentes foram dispensados. No dia 19 de setembro do ano de 2018, foi realizada a terceira visita ao SCFV. No início houve a mesma dinâmica em relação à recepção dos usuários, e as oficinas propostas nesse dia foram às seguintes: Crochê, confecção de bonecas feitas com tecido, e atividades esportivo-educativas.O clima entre os usuários durante as oficinas era de animação e entusiasmo; foi possível perceber a capacidade criativa de cada um. Às 15 horas foi servido o lanche, culminando no encerramento das atividades do SCFV. 4. RESULTADOS Pontos positivos: Foi possível perceber que os oficineiros e estagiários buscam trabalhar as relações interpessoais, entre usuário-usuário e entre usuário-equipe; fortalecendo os vínculos familiares e sociais, a convivência comunitária, cidadania e entre outros. Os mesmos são atenciosos e demonstram cuidado e respeito para com as crianças e os demais colegas de trabalho. Na reflexão inicial a pedagoga leva os usuários a refletirem a respeito das temáticas abordadas e interação sobre o que acrescentou para sua vida. As vulnerabilidades relacionais são matéria de intervenção para garantir a segurança de convívio, um aspecto da proteção social, neste sentido está sendo proposta, atualmente, uma oficina que abordará o tema família por meio da técnica do genograma e atividades lúdicas. Pontos de melhoria: Analisando as demandas apresentadas pelos oficineiros e estagiários que desenvolvem atividades com os usuários, foi possível apresentar as seguintes sugestões de melhorias: aumentar a quantidade de oficineiros, ter mais variedade de atividades para desenvolver com as crianças/adolescentes, a compra de materiais para trabalhar nas aulas de pintura e crochê, ter reuniões entre a equipe para discutir as ações e resultados a serem melhorados. 5. CONCLUSÃO Pode se concluir o presente trabalho pautando as seguintes sugestões de melhoria para o SCFV de acordo com os quatro pilares da Psicologia Social Comunitária: Empoderamento, cidadania, luta contra a pobreza e saúde mental. Com relação ao empoderamento, sugere-se a realização de oficinas voltadas para pessoas com deficiência, que vivem situadas em contexto de isolamento e vulnerabilidade social. Pretende-se com a proposta construir um espaço de debate, troca de informações, discussão sobre os direitos e deveres, e promover esses sujeitos à participação comunitária e inclusão social de fato. Para trabalhar o aspecto da cidadania com os usuários pode-se lançar mão de debates sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), visitas a órgãos tais como: Conselho Tutelar, Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Ministério Público (MP), etc., objetivando com que os usuários conheçam o território e tomem conhecimento de que essas instituições atuam para resguardar seus direitos. No que tange a luta contra a pobreza, se faz necessário efetuar visitas frequentes aos usuários do SCFV, averiguando as condições materiais (financeiras) da família, provendo, quando necessário, itens que possam garantir dignidade a essas pessoas. Chega-se a essa sugestão observando que o contexto dessas crianças é permeado por privações. Nesse momento é fundamental um trabalho conjunto envolvendo toda a rede da assistência social para minimizar as consequências da desigualdade social.Quanto à saúde mental, sugere-se a contratação de um psicólogo específico para o SCFV, desenvolvendo rodas de conversa, palestras com temas pertinentes a faixa etária atendida (ex.: bullying, prevenção ao suicídio, etc.), atividades lúdicas com o intuito de apreender a subjetividade de cada sujeito, identificando casos que necessitam da intervenção do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), psicoterapia individual, e outros encaminhamentos que se fizerem necessários. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Adriano Valério dos Santos; PARDO, Maria Benedita Lima. Formação e atuação em psicologia social comunitária. Psicol. pesq., Juiz de Fora , v. 8, n. 2, p. 200- 210, dez. 2014. CAMPOS, R. H. F. ET al. Psicologia Social Comunitária: da Solidariedade a Autonomia. Editora Vozes. 17ª Edição/2012. HARGUETTE, T. M. F. Metodologias qualitativas na sociologia. 8 ed. Petrópolis: Vozes, 2001. MACIEL, Tania Maria de Freitas Barros; ALVES, Monalisa Barbosa. A importância da psicologia social comunitária para o desenvolvimento sustentável. Pesqui. prát. psicossociais, São João del-Rei , v. 10, n. 2, p. 272-282, dez. 2015 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809- 89082015000200005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 nov. 2018. ORNELAS, José. Psicologia comunitária: Origens, fundamentos e áreas de intervenção. Aná. Psicológica, Lisboa, v. 15, n. 3, p. 375-388, set. 1997. Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870- 82311997000300002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 nov. 2018.. ORNELAS, José; VARGAS-MONIZ, Maria. Formação em psicologia comunitária e os seus contributos pedagógicos para a participação cívica. Educ. rev., Curitiba , n. 53, p. 39- 58, Sept. 2014 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602014000300004&lng=en&nrm=iso>. access on 22 Nov. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/0104-4060.36580. SCARPARO, Helena Beatriz Kochenborgerand GUARESCHI, Neuza Maria de Fátima. Psicologia social comunitária profissional. Psicol. Soc. [online]. 2007, vol.19, n.spe2, pp.100-108. ISSN 0102-7182. SCHMIDT, Maria Luisa Sandoval. Pesquisa participante: alteridade e comunidades interpretativas. Psicol. USP, São Paulo , v. 17, n. 2, p. 11-41, June 2006 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 65642006000200002&lng=en&nrm=iso>. access on 20 Nov. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-65642006000200002. SOARES, Leandro Queiroz; FERREIRA, Mário César. Pesquisa participante como opção metodológia para investigação de práticas de assédio moral no trabalho. Rev. Psicol., Organ. Trab., Florianópolis , v. 6, n. 2, p. 85-109, dez. 2006 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984- 66572006000200005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 20 nov. 2018 XIBERRAS, Martine; FREUND, Julien; REGO, José Gabriel. As teorias da exclusão: para uma construção do imaginário do desvio. 1993.
Compartilhar