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1 ECONOMIA Professor: Lauro Aloysio Marmitt Aluno: _______________________________________________ Esta Apostila contém uma compilação de textos e exercícios de diversos autores e foi elaborado com o objetivo específico de servir como material de apoio didático para o aluno em sala de aula. 2 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL O SFN é o conjunto de instituições intermediadoras de recursos na economia, que visam a transferência de recursos dos agentes econômicos superavitários para os agentes econômicos deficitários da economia. Bancos Comerciais: Os Bancos Comerciais são intermediários financeiros que transferem recursos dos agentes superavitários para os agentes deficitários, mecanismo esse que acaba por criar moeda através do efeito multiplicador. Os Bancos Comerciais podem descontar títulos, realizar operações de abertura de crédito simples ou em conta corrente, realizar operações especiais de crédito rural, de câmbio e comércio internacional, captar depósitos à vista e a prazo fixo, obter recursos junto às instituições oficiais para repasse aos clientes, etc. AUTORIDADES MONETÁRIAS Conselho Monetário Nacional: O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão deliberativo máximo do Sistema Financeiro Nacional. Ao CMN compete: • Estabelecer as diretrizes gerais das políticas monetária, cambial e creditícia; • Regular as condições de constituição, funcionamento e fiscalização das instituições financeiras; • Disciplinar os instrumentos de política monetária e cambial. O CMN é constituído pelo Ministro da Fazenda, pelo Ministro do Planejamento e Orçamento e pelo Presidente do Banco Central do Brasil. O CMN reúne-se ordinária e/ou extraordinariamente para discutir assuntos de interesse do SFN e suas decisões são tomadas através de Resoluções. É presidido pelo Ministro da Fazenda. 3 Entre suas principais atribuições podemos destacar as seguintes: • Adaptar o volume de meios de pagamento às reais necessidades da economia e de seu processo de desenvolvimento; • Regular o valor interno da moeda, prevenindo ou corrigindo os surtos inflacionários ou deflacionários de origem interna ou externa, as depressões econômicas e outros desequilíbrios oriundos de fenômenos conjunturais; • Regular o valor externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos do País, tendo em vista a melhor utilização dos recursos em moeda estrangeira; • Orientar a melhor aplicação dos recursos das instituições financeiras públicas e privadas nas diferentes regiões do País, gerando condições favoráveis ao desenvolvimento da economia nacional; • Zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; • Coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária, fiscal e da dívida pública interna e externa, em conjunto com o Congresso Nacional; • Autorizar as emissões de papel-moeda pelo BACEN e as normas reguladoras do meio circulante; • Fixar diretrizes e normas da política cambial; • Disciplinar o crédito em suas modalidades e as formas das operações creditícias; • Determinar as taxas do recolhimento compulsório das instituições financeiras. Banco Central do Brasil: É uma autarquia federal criada pela Lei 4.595, de 31.12.64, competindo-lhe cumprir e fazer cumprir as disposições que lhe são atribuídas pela legislação em vigor e as normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional. O BACEN é o órgão responsável pela execução das normas que regulam o SFN. São suas atribuições agir como banco dos bancos, gestor do SFN, executor da política monetária, banco emissor e banqueiro do Governo. 4 Principais atribuições: • Emitir moeda de acordo com condições do CMN; • Executar os serviços do meio circulante; • Receber os recolhimentos compulsórios dos bancos; • Realizar operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras preservando a liquidez do sistema bancário; • Regular a compensação de cheques e outros papéis; • Efetuar política monetária através da compra e venda de títulos federais; • Exercer o controle de crédito; • Fiscalizar as instituições financeiras; • Autorizar o funcionamento e operacionalidade das instituições; • Controlar o fluxo de capitais estrangeiros; • Administrar as Reservas Internacionais; • Atuar como regulador do mercado cambial. COPOM – Comitê de Política Monetária O Comitê de Política Monetária foi criado em junho de 1996, com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária brasileira e definir o nível de taxa de juros da economia. A criação do Copom tinha como premissa básica proporcionar maior transparência e ritmo adequado aos processos decisórios das autoridades monetárias. Os objetivos do Copom são estabelecer as diretrizes de política monetária, definir a meta da Taxa Selic e seu viés e analisar o relatório de Inflação. A taxa de juros fixada nas reuniões do Copom é a meta para a taxa Selic, a qual vigora até a realização da próxima reunião. Entretanto, o Copom pode também definir o viés da taxa de juros, que é a prerrogativa dada ao Presidente do Banco Central para alterar a taxa Selic a qualquer momento, antes da próxima reunião. Se o viés for de baixa, significa que o Presidente do Bacen pode baixar a taxa de juros Selic antes da data marcada para a próxima reunião. Se for de alta, o 5 Presidente do Bacen pode elevar a taxa Selic. E se o viés for neutro, somente quando da realização da próxima reunião é possível alterar a taxa de juros Selic. Atualmente, as reuniões do Copom ocorrem a cada 45 dias, iniciando-se numa terça-feira e terminando ao final da quarta-feira, quando então é anunciada a decisão sobre a taxa de juros Selic, ocorrendo, portanto, 8 reuniões anuais. No primeiro dia da reunião, os chefes de departamento do Bacen apresentam uma análise da conjuntura econômica, abrangendo inflação, nível de atividade, evolução dos agregados monetários, finanças públicas, balanço de pagamentos, ambiente externo, mercado doméstico de câmbio, situação da liquidez bancária, mercado monetário, operações de mercado aberto e avaliação das tendências de inflação. No segundo dia, o diretor de Política Monetária do Bacen apresenta propostas de diretrizes de política monetária e alternativas para a taxa de juros, baseadas na avaliação da conjuntura econômica. Em seguida, os demais membros da Diretoria fazem suas ponderações e apresentam suas proposições. Ao final, ocorre a votação das propostas, buscando-se, sempre que possível, o consenso. Ao final da reunião, em torno de 18 horas da quarta-feira, o Bacen informa a nova taxa Selic e seu eventual viés. Oito dias após a reunião, o Bacen divulga a Ata da Reunião, onde consta a decisão tomada pelo Comitê, tendo como foco a transparência e o compromisso de prestar contas à sociedade. Para reforçar o compromisso com a transparência, se a decisão do Copom não tiver sido por consenso, as opiniões alternativas dos membros da Diretoria são destacadas. O Copom é composto pelos oito membros da Diretoria Colegiada do Banco Central do Brasil, com direito a voto, sendo presidido pelo Presidente do Banco Central, que tem o voto de qualidade. Também participam das reuniões sem direito a voto, os chefes de departamento da instituição. Portanto, são nove os membros do Colegiado do Bacen que constituem o Copom: o Presidente do Bacen e os diretores de Política Monetária, de Política 6 Econômica, de Estudos Especiais, de Assuntos Internacionais, de Normas e Organização do Sistema Financeiro, de Fiscalização, de Liquidações e Desestatizaçãoe de Administração. A partir de junho de 1999, a política monetária passou a adotar o conceito de “Inflation Targeting”, ou Meta de Inflação, como diretriz. Desde então, as decisões do Copom passaram a ter como um dos objetivos cumprir as metas para a inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional. As metas de inflação são definidas anualmente pelo Conselho Monetário Nacional por proposta do Ministro da Fazenda. O índice oficial adotado pelo Brasil é o IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado e apurado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Este índice mede a variação nos preços de produtos e serviços consumidos pelas famílias com renda entre zero e quarenta salários mínimos, apurado entre o primeiro e o último dia de cada mês. A coleta dos dados abrange as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba e Distrito Federal, além do município de Goiânia. A divulgação do IPCA ocorre até o dia 15 do mês seguinte. A cada trimestre civil, o Bacen divulga um Relatório de Inflação. Este relatório aborda o desempenho do sistema de metas, os resultados das decisões anteriores de política monetária e uma avaliação futura de tendência de inflação. Havendo necessidade, o Bacen utiliza estas informações para correção de sua trajetória na busca do controle da inflação. Para o sistema financeiro, a política monetária é de fundamental importância, visto que pelos seus canais de transmissão que todas as decisões se refletirão na economia. Todos os instrumentos de política monetária são transferidos para a sociedade por meio do sistema financeiro. A meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional para os anos de 2017 e 2018 foi fixada em 4,50%. Para o ano de 2016, o intervalo de tolerância estabelecido era de 2% para cima ou para baixo. Para o ano de 2017 e 2018, 7 este intervalo de tolerância foi alterado para 1,50%. Portanto, o teto máximo de inflação estabelecido pelo CMN para 2017 e 2018 foi fixado em 6% ao ano. Em junho de 2017 o CMN definiu a meta de inflação para os anos seguintes. Ano Meta Tolerância Piso Teto 2016 4,50% 2,00% 2,50% 6,50% 2017 4,50% 1,50% 3,00% 6,00% 2018 4,50% 1,50% 3,00% 6,00% 2019 4,25% 1,50% 2,75% 5,75% 2020 4,00% 1,50% 2,50% 5,50% 8 INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA Ao Bacen, como depositário dos recursos da União, compete a emissão de moeda, com exclusividade. Emite títulos de responsabilidade própria, de acordo com as condições estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional e também realiza operações de compra e venda de títulos públicos federais, como instrumentos para a execução da Política Monetária. Através dos instrumentos de política monetária, o Governo controla a oferta de moeda em nível suficiente para adequar o desenvolvimento econômico e a liquidez do sistema financeiro. Existem quatro instrumentos, pelos quais o Banco Central realiza a política monetária: Operações de Mercado Aberto, Depósito Compulsório, Taxa de Redesconto e Controle e Seleção do Crédito. O Banco Central muitas vezes se encontra em situações nas quais necessita por determinadas razões expandir ou contrair a base monetária, entendida como a quantidade de moeda que circula na economia. Muitas vezes, o Governo tem o interesse de fomentar a atividade econômica interna e, para isso, pode utilizar uma política monetária expansionista, que estimule o crescimento econômico. Da mesma maneira, quando o interesse do Governo é frear a atividade econômica, o Banco Central pode, através de determinados instrumentos de política monetária, contrair a base monetária. Quando o Governo deseja expandir o crescimento econômico, pode realizar um deles ou todos simultaneamente. Uma prática comum é combinar tais políticas monetárias com políticas fiscais. 9 Operações de Mercado Aberto, ou Open Market Consiste na compra e venda de títulos públicos pelo Bacen. Quando o Governo objetiva aumentar a oferta de moeda, realiza operações de resgate dos títulos em circulação. E quando deseja reduzir a oferta de moeda, realiza operações de colocação de títulos no mercado. O Banco Central muitas vezes entra no mercado para comprar ou vender títulos. Este instrumento de política monetária é conhecido por open market, ou operação de mercado aberto. Quando o Banco Central tem o objetivo de expandir a base monetária, entra no mercado comprando títulos. Ao fazer isto, ele coloca em circulação um determinado montante de dinheiro que estava em seu poder. Com um volume maior de dinheiro na economia, ou seja, com uma renda maior, a população irá gastar mais. Isso tem um efeito muito positivo para o crescimento econômico, já que os vendedores irão encomendar mais de seus fornecedores, estes irão por sua vez comprar mais mercadorias das fábricas. Os empresários irão contratar mais pessoas para realizar a produção e por sua vez encomendar mais matéria prima. Isto contribui de forma significativa para o crescimento do nível de empregos. A situação contrária ocorre quando o Banco Central coloca títulos à venda. Ao vender títulos, o Banco Central recolhe dinheiro das mãos da população. As pessoas se sentem menos estimuladas a gastar e com isso o nível de atividade da economia tende a diminuir. 10 O esquema abaixo ilustra de forma simplificada a situação onde o Bacen vende títulos ao mercado: BACEN vende títulos A compra é paga em R$ REDUZ o volume de moeda em circulação REDUZ a oferta de moeda Consequência: Aumenta a Dívida Pública Com uma quantidade maior de títulos em circulação, o Governo terá que pagar os juros referentes a estes papéis e com isso a dívida pública é afetada diretamente. As operações de Open Market constituem-se no mecanismo mais utilizado pelo BACEN para fazer frente ao controle diário de oferta de moeda. Depósito Compulsório Percentual sobre os depósitos recolhido pelos Bancos ao Bacen. Poderoso instrumento de controle do efeito multiplicador da moeda. O depósito compulsório é uma taxa fixada pelo Banco Central, que determina que uma parte dos depósitos à vista feita pela população nos bancos comerciais vai para o caixa do Banco Central. O Bacen pode aumentar ou diminuir a taxa do depósito compulsório, de acordo com seus interesses. Quando o Banco Central diminui a taxa do compulsório, o montante que os bancos comerciais devem enviar para o Banco Central diminui. Com isso, eles conseguem reter um montante maior para emprestar. Ou seja, a quantidade de crédito disponível à população aumenta. Com isso, mais dinheiro fica disponível para a população e a base monetária se expande, e a partir daí, os gastos aumentam e a economia cresce como um todo. Quando o Banco Central aumenta a taxa do compulsório, ocorre a situação inversa. Os bancos comerciais vão dispor de menos recursos para emprestar. O crédito disponível para a população diminui e a base monetária se contrai, 11 desacelerando a economia. A elevação do compulsório também eleva a taxa de juros dos empréstimos, em função da escassez de recursos disponíveis para empréstimos. Taxa de Redesconto ou Empréstimo de Liquidez Linha de crédito do Bacen destinada a suprir eventuais necessidades de caixa dos Bancos. A taxa de redesconto é a taxa de juros cobrada pelo Banco Central nos empréstimos aos bancos comerciais. Muitas vezes os bancos comerciais necessitam de empréstimos de curto prazo para cumprir alguns compromissos que, por falta de liquidez no período, não teriamcomo cumprir. O Banco Central funciona como uma espécie de emprestador de última instância para os bancos comerciais. Para compensar perdas de reservas, as instituições recorrem ao mercado interbancário. Em último caso, recorrem ao redesconto junto ao Bacen, que atua como o Banco dos Bancos. Quando o intuito do Banco Central é injetar dinheiro no mercado, ou seja, expandir a base monetária, ele reduz a taxa de redesconto. Os bancos comerciais se sentirão mais estimulados a pegar mais empréstimos com o Banco Central e com isso, irão reservar uma parte maior de seus recursos para empréstimos e reservarão uma menor parte para as necessidades de curto prazo. Como consequência, o crédito disponível aumenta e a economia é aquecida. Uma taxa de redesconto menor que a taxa Selic, por exemplo, permitiria aos Bancos captar esses recursos para financiar suas operações e com isso aumentaria a liquidez do sistema. Entretanto, normalmente a taxa de redesconto é superior à taxa de juros praticada pelo mercado, razão pela qual os bancos só recorrem ao redesconto em última instância. 12 A utilização da linha de Redesconto tem um caráter punitivo, pois sinaliza uma situação de desequilíbrio da instituição financeira tomadora e sendo assim, possui um custo mais elevado. O Bacen monitora o acesso a esta linha de financiamento. Se determinada instituição financeira acessá-la com determinada frequência, poderá ser interpelada pelo Bacen. Portanto, existem dois tipos de redesconto: Redesconto de Liquidez: visa socorrer os bancos quando ocorrer eventual saldo negativo na conta de depósitos, em função de estar com problemas de liquidez; Redesconto Especial: utilizado para incentivar setores específicos da economia. O Bacen abre uma linha de crédito especial aos bancos comerciais, cujos recursos somente podem ser canalizados para esta finalidade específica, como por exemplo, incentivo aos exportadores. Controle e Seleção do Crédito Este instrumento estabelece de forma direta os controles do volume e o preço do crédito. O controle e a seleção do crédito impõe, de certa forma, algumas restrições ao livre funcionamento das forças de mercado. Quando o Governo restringe o crédito, está controlando o volume e seu destino; está também controlando o nível de taxas de juros e fixando limites e condições para o crédito. Com este tipo de medida, o Governo reduz as possibilidades dos agentes econômicos efetuarem compras e vendas através da utilização do crédito. Por outro lado, quando o Governo aumenta o volume de crédito no mercado, está incentivando a demanda por bens e serviços. Esse mecanismo gera uma maior oferta de bens e serviços na economia, podendo resultar em aumento dos preços e consequentemente pode gerar um aumento da inflação. Portanto, este instrumento pode ser utilizado com a finalidade de inibir os efeitos inflacionários na economia. 13 I N F L A Ç Ã O A inflação pode ser conceituada como o aumento contínuo e generalizado no nível geral de preços. É um fenômeno dinâmico e de natureza monetária, caracterizado por uma elevação apreciável e persistente do nível geral de preços. Dito de outra forma: elevação apreciável e persistente do nível geral de preços. A inflação é um sintoma do mau funcionamento do dinheiro na economia. A inflação representa a elevação no preço de todos os bens produzidos na economia e não o aumento do preço de determinado bem específico, por isso dizemos que a inflação é o aumento generalizado e contínuo no nível de preços. Na atualidade são 356 itens medidos para cálculo da inflação. Os movimentos inflacionários representam elevação de preços em todos os bens produzidos pela economia, de forma contínua, depreciando o valor da moeda à medida que o tempo vai passando. A inflação representa um conflito distributivo existente na economia mal administrada e a disputa dos agentes econômicos pela distribuição da renda representa a questão básica no fenômeno inflacionário. Um dos maiores desafios dos governos é o controle da inflação, que é medida através de índices. Os índices de inflação correspondem à média das variações dos preços dos produtos consumidos pelas famílias, cuja medição difere da entidade responsável pela coleta dos dados e da região abrangida. O processo inflacionário pode resultar de outros tipos de conflito. Um extremamente importante está relacionado às relações entre salários e preços, onde ocorre uma disputa entre trabalhadores e empresários, tornando instável a relação entre salários e preços. Outro problema do processo inflacionário pode ter origem nas transações comerciais internacionais. A crise do petróleo na década de 1970 foi responsável 14 pela elevação da inflação no Brasil, em função da necessidade de importação do produto. Outra variável a ser considerada refere-se ao fator tempo. Talvez uma elevação de preços durante um curto período de tempo está muito mais relacionada a uma oscilação pontual do mercado do que a inflação. Podemos aqui citar o caso da economia dos Estados Unidos, no período de 1957 a 1967, quando os índices acumularam 14,8% nos onze anos, ou 1,26% ao ano, ou ainda 0,104% ao mês. Neste caso, é possível concluir que houve apenas uma insignificante variação de preços atribuível a fatores não inflacionários. A variação média dos preços durante o prolongado período de tempo considerado não foi expressiva para caracterizar o que se entende por inflação. Em função disso, alguns economistas preferem conceituar a inflação como uma elevação apreciável nos níveis de preços. Mais uma vez é possível verificar que fica difícil determinar a magnitude mínima da taxa de elevação dos preços, a partir da qual estará caracterizado o processo inflacionário. Os 25 países integrantes da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) conseguiram manter o nível de aumento dos preços no intervalo entre 1,81% e 2,43% ao ano nos últimos 50 anos, o que pode ser considerado razoável. No Brasil, a meta de inflação nos últimos anos estabelecida pelo CMN é de 4,50% ao ano. Para os anos de 2017 e 2018, a meta continua em 4,50% ao ano, com intervalo de tolerância de 1,50% para cima ou para baixo. A tabela abaixo mostra a série histórica de nossa inflação, a partir de 1986. Vale relembrar que o índice oficial adotado pelo Brasil para medição da inflação é o IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Ampliado. 15 ANO IPCA IGP-M INPC IPC-FIPE 1986 79,65 59,22 68,08 1987 363,41 394,62 367,12 1988 980,22 993,29 891,67 1989 1.972,91 805,76 1.863,56 1.635,85 1990 1620,96 1.699,87 1.585,18 1.639,08 1991 472,69 458,38 475,11 458,61 1992 1.119,09 1.174,67 1.149,05 1.129,45 1993 2.477,15 2.567,34 2.489,11 2.490,99 1994 916,40 869,74 929,32 941,25 1995 22,41 15,23 21,98 23,17 1996 9,56 9,18 9,12 10,04 1997 5,22 7,73 4,34 4,83 1998 1,65 1,78 2,49 -1,79 1999 8,94 20,10 8,43 8,64 2000 5,97 9,95 5,27 4,38 2001 7,67 10,37 9,44 7,12 2002 12,53 25,31 14,74 9,92 2003 9,30 8,71 10,38 8,17 2004 7,60 12,41 6,13 6,56 2005 5,69 1,21 5,05 4,53 2006 3,14 3,83 2,81 2,54 2007 4,46 7,75 5,16 4,38 2008 5,90 9,81 6,48 6,16 2009 4,31 -1,72 4,11 3,65 2010 5,91 11,32 6,47 6,40 2011 6,50 5,10 6,08 5,81 2012 5,84 7,82 6,20 5,10 2013 5,91 5,51 5,56 8,56 2014 6,41 3,69 6,23 6,91 2015 10,67 10,54 11,28 12,58 2016 6,29 7,17 6,58 8,11 2017 2,85 - 0,53 2,07 2,27 OBS.: No período de julho a dezembro/1994, quando iniciou o Plano Real, a inflação medida pelo IPCA foi de 18,57%. O IGP-M começou a ser calculado a partir de junho/1989. 16 O quadro abaixo mostra a composiçãodos principais índices de medição da inflação brasileira. INDICE INSTITUTO RENDA ABRANGÊNCIA COLETA DIVULGAÇÃO IPCA IBGE 1 a 40 SM 11 maiores regiões metropolitanas Dia 1º ao dia 30 do mês Até dia 15 do mês seguinte INPC IBGE 1 a 8 SM 11 maiores regiões metropolitanas Dia 1º ao dia 30 do mês Até dia 15 do mês seguinte IGP-M FGV 1 a 33 SM 12 maiores regiões metropolitanas Dia 21 do mês anterior ao dia 20 do mês em referência. 1ª prévia: 21 a 30 2ª prévia: 21 a 10 Até o dia 30 do mês referência. 1ª prévia: até dia 10 2ª prévia: até dia 20 IPC- FIPE FIPE 1 a 20 SM Município de São Paulo Dia 1º ao dia 30 do mês de referência Até dia 10 do mês seguinte O IPCA é o índice oficial da inflação brasileira. O INPC é muito utilizado nos dissídios salariais, por representar a variação de preços das famílias que ganham até 8 salários mínimos, faixa onde se situa a maioria dos trabalhadores brasileiros. O IGP-M é muito utilizado para reajuste de contratos, principalmente aluguéis comerciais e residenciais. O IPC-FIPE é calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (USP) e mede a inflação das famílias paulistanas que ganham de um a vinte salários mínimos. 17 A Inflação de Demanda A inflação de demanda, considerada o tipo mais clássico de inflação, refere-se ao excesso de demanda agregada, em relação à produção disponível de bens e serviços. Intuitivamente, pode ser entendida como dinheiro demais à procura de poucos produtos disponíveis no mercado. A inflação de demanda é causada por um excesso de procura em relação à oferta disponível. O Governo pode agir tanto direta como indiretamente para reduzir o processo de inflação de demanda. A atuação direta acontece pela redução dos próprios gastos, com efeito imediato e eficaz sobre a demanda agregada. Já a atuação indireta ocorre por meio de políticas que desencorajam o consumo e o investimento privado. Como exemplo, podemos citar uma política monetária que restrinja o crédito, ou então uma política fiscal que aumenta a carga tributária das famílias e das empresas. A inflação de demanda tem origem basicamente em três fatores: • Aumento no nível de Renda dos trabalhadores originária de reajustes salariais; • Redução da carga tributária, aumentando o poder aquisitivo dos trabalhadores, o que pressiona o consumo em níveis superiores à capacidade produtiva, induzindo a uma elevação dos preços; • Redução das taxas de juros, que incentivam as compras parceladas e acabam estimulando a inflação. 18 A Inflação de Custos A inflação de custos pode ser associada a uma inflação de oferta. O nível de demanda permanece praticamente o mesmo, mas os custos dos insumos necessários para a elaboração do produto final aumentam e acabam sendo repassados aos preços dos produtos. O preço dos bens e serviços estão relacionados com seu custo de produção. Se os custos de produção aumentam, mais cedo ou mais tarde o preço de venda do bem tende também a aumentar. Uma das razões mais frequente para o aumento dos custos são os reajustes salariais. Se o aumento salarial for maior que o nível de produtividade, os custos de produção vão aumentar, resultando em inflação de custos. Algumas razões que contribuem para o aumento dos custos e podem elevar o nível de preços, gerando inflação: • Desvalorização cambial: muitos processos produtivos utilizam matéria- prima importada. O aumento da taxa de câmbio torna estes produtos mais caros dentro do território nacional e com isso os custos aumentam e tendem a ser repassados; • Aumento do custo da mão-de-obra: quando ocorre aumentos salariais, os custos se elevam; • Aumento de impostos: o aumento das alíquotas dos impostos provoca aumento dos custos de produção, tendendo a serem repassados; • Aumento da taxa de juros: dado que a maioria das empresas são tomadoras de crédito, o aumento dos juros resulta em aumento de custos; • Preços externos: os produtos importados podem subir de preços em dólares, ampliando os gastos com os insumos necessários para a produção. Por outro lado, a inflação de custos pode ocorrer pela formação de monopólio, ou oligopólio. Essas empresas têm condições de elevar seus preços acima do 19 aumento dos custos de produção e com isso elevar suas margens de lucro. Nesse caso, a inflação de custos também é conhecida como inflação de lucros. Muitos economistas acreditam que o fenômeno da estagflação (recessão econômica com inflação) esteja associado ao processo de inflação de lucros. A estagflação ocorre quando se tem paralelamente taxas significativas de inflação e recessão econômica com considerável nível de desemprego. O nível de produto e de empregos está reduzindo e mesmo assim os preços estão subindo, muitas vezes impulsionados pelo poder do monopólio ou oligopólio. Deflação Conceituada como a queda persistente do nível geral de preços, ou seja, é o oposto da inflação. Caracteriza-se pela baixa oferta de moeda em relação à oferta de bens e serviços ou pela queda na demanda agregada, que pode ser associada, por exemplo, a um maior índice de poupança por parte dos consumidores. O excesso de oferta de bens, ou carência de demanda, aumenta o índice de capacidade ociosa na economia e causa um acirramento da concorrência entre os produtores, que disputam os poucos consumidores disponíveis, o que leva a uma rápida queda nos preços. Como consequência, o nível de investimentos é reduzido e ocorre queda no produto real e aumento no desemprego. A deflação pode acabar provocando depressão. Normalmente, combate-se a deflação por meio de um aumento nos gastos públicos e um maior grau de endividamento público, como forma de aumentar a demanda agregada. 20 Estagflação A estagflação ocorre quando se tem paralelamente taxas significativas de inflação e recessão econômica com considerável nível de desemprego. O nível de produto e de empregos está reduzindo e mesmo assim os preços estão subindo, muitas vezes impulsionados pelo poder do monopólio ou oligopólio. HIPERINFLAÇÃO Fala-se em hiperinflação normalmente quando a taxa de inflação supera algo em torno de 30% ao mês, ou algo ao redor de 1% ao dia. A acumulação desse nível elevado de inflação ao longo de vários meses resulta num aumento incrível no nível geral de preços. Os custos da hiperinflação são significativos para a sociedade. Quando o dinheiro perde valor rapidamente, os executivos acabam dedicando muito tempo e esforço na administração do caixa das empresas, em detrimento de atividades mais importantes, como por exemplo, decisões de produção e novos investimentos. Isso torna a economia menos eficiente. A velocidade com que as empresas necessitam reajustar os preços impede a elaboração de catálogos com preços dos produtos. Durante a hiperinflação na Alemanha nos anos 20, o garçom tinha que ir à mesa a cada 30 minutos para anunciar os novos preços. Numa economia onde os preços mudam muito rapidamente, fica muito difícil para os consumidores pesquisar melhores preços e perde-se o referencial. Outro episódio ocorrido durante a hiperinflação alemã relata que quando os clientes entravam no bar, costumavam pedir duas cervejas, pagando imediatamente. Assim, ainda que a segunda cerveja perdesse um pouco de valor por esquentar na mesa, esta perda era menor do que a do dinheiro da carteira deste cliente. 21 A arrecadação tributária dos governos também acaba sendo prejudicada em regime de inflação elevada,pela defasagem de tempo entre o cálculo do imposto e a data de recolhimento. O valor real da receita tributária acaba se reduzindo significativamente. Ninguém deve subestimar o grande inconveniente de viver num regime de hiperinflação. Quando carregar dinheiro ao mercado fica tão difícil quanto trazer as compras para casa, é sinal de que o sistema monetário não está cumprindo seu papel de facilitar as transações comerciais. O Governo tenta contornar esse problema adicionando mais zeros às cédulas e não consegue conter a explosão do nível de preços. Os custos da hiperinflação se tornam insuportáveis. Com o tempo, a moeda perde seu papel de meio de troca e reserva de valor, dando lugar à fixação de preços a moedas não-oficiais, como por exemplo, o dólar. Isso aconteceu no Brasil, notadamente no período entre 1988 a 1993, onde a inflação mostrou-se extremamente elevada, conforme mostrado na tabela anterior. As Causas da Hiperinflação A hiperinflação é causada pela excessiva expansão da oferta monetária, quando o Banco Central emite moeda aceleradamente. Para frear esse processo, bastaria que o Banco Central reduzisse a taxa de crescimento da oferta de moeda. Entretanto, esta resposta é incompleta, pois não explica o motivo que leva o Banco Central a emitir tanta moeda. A maior parte dos casos de hiperinflação começa quando o Governo precisa emitir moeda para cobrir seus gastos, o chamado déficit público. Ainda que o setor público possa financiar seu déficit orçamentário via colocação de títulos públicos no mercado, isto talvez possa se tornar inviável, pois os credores observam neste endividamento um risco de crédito crescente. 22 Na dificuldade de colocação de seus títulos no mercado, então só resta ao Governo a opção de emitir moeda, acelerando a expansão monetária e causando a hiperinflação. Enquanto a hiperinflação está a caminho, o desequilíbrio fiscal aumenta, pela defasagem temporal na arrecadação, perdendo valor real. Assim, cresce a necessidade do Governo de recorrer à prática da senhoriagem (receita do Governo levantada através da emissão de moeda). A aceleração da emissão de moeda leva à hiperinflação, conduzindo a um déficit público maior, resultando em novas emissões de moeda, e assim sucessivamente. O fim da hiperinflação quase sempre coincide com uma reforma fiscal de cunho recessivo, onde o Governo consegue apoio político necessário para reduzir gastos e aumentar os impostos. Essa reforma fiscal reduz a necessidade de senhoriagem, permitindo diminuir a emissão monetária. Portanto, mesmo que a inflação sempre seja um fenômeno monetário, o fim da hiperinflação acaba sendo também um fenômeno fiscal. 23 PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) As economias modernas produzem uma imensa variedade de bens e serviços. Para medir a produção total, os economistas combinam em uma única medida de produção as quantidades de produtos agrícolas (como, trigo, feijão, arroz, soja, frutas), de bens industrializados (como vestuário, calçados, eletrodomésticos, automóveis) e os serviços (cabeleireiros, faxineiras, serviços médicos) dentre tantos outros. Esta medida é relevante, pois além de refletir o nível de produção de um País, permite avaliar seu grau de crescimento, ao comparar a produção de dois períodos. Esta medida é o PIB – Produto Interno Bruto. O PIB de um País representa o valor monetário de todos os bens e serviços finais produzidos para o mercado em um período de tempo, normalmente um ano, dentro das fronteiras de um País. Valor monetário: Os bens e serviços que integram o PIB não são medidos em quantidades produzidas e sim no valor em moeda corrente do País. Isso se justifica porque como existem muitos tipos diferentes de bens e serviços e cada um é mensurado por uma unidade diferente (metros, toneladas, unidades, litros), seria difícil encontrar uma unidade comum para somá-los. Porém, ao utilizar o valor monetário é possível combinar todos os produtos e serviços em um único valor. Bens e Serviços Finais: a medição do PIB é limitada aos bens e serviços finais, ou seja, os bens e serviços disponíveis ao consumidor final. Essa limitação existe para evitar o problema da dupla contagem. Desse modo, no cálculo do PIB considera-se o valor agregado em cada estágio de produção. Entende-se por valor agregado, a diferença entre o valor da produção e o valor dos bens intermediários utilizados nesta produção. Produzidos para o mercado: No PIB são computados apenas os bens e serviços produzidos. Assim, compras de terrenos e de ativos financeiros como 24 ações e títulos não são incluídos, pois são um direito de propriedade e de recebimento futuro, mas não representam bens e serviços. Também não entram no cálculo do PIB compras de segunda mão, como por exemplo, automóveis usados, uma vez que já foram produzidos em períodos anteriores e computados no cálculo quando da primeira venda. O PIB ainda inclui apenas os bens e serviços que serão destinados à venda, ou seja, que são produzidos para o mercado. Se você mesmo limpa sua própria casa, está produzindo um serviço final: a faxina, mas você está produzindo este serviço para si e não para vendê-lo no mercado, por isso não entra no cálculo do PIB. Agora se você contratar uma faxineira para executar o serviço, então o serviço deve ser incluído, pois passa a representar uma transação de mercado. Em um período de tempo, normalmente um ano: O PIB é uma variável fluxo, ou seja, reflete o processo que se desenvolve no decorrer do tempo. Por exemplo, se perguntarmos a uma empresa qual o seu nível de lucro, sua resposta não será a mesma se a pergunta fizer referência ao mês ou ao ano. O mesmo acontece com o PIB: é importante definir o período de tempo considerado e, por tradição, usa-se o horizonte temporal de um ano. Dentro das fronteiras de um País: O PIB mede o que foi produzido dentro das fronteiras de um País, independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras destes bens e serviços. Um exemplo é o que acontece com os jogadores de futebol brasileiros: muitos vão jogar em times fora do Brasil. Os serviços destes jogadores brasileiros em um time da Espanha, por exemplo, formam parte do PIB espanhol e não do Brasil, pois o serviço foi gerado dentro do território espanhol. A dupla contagem: Na economia existem os bens finais, que chegam ao consumidor final, e os bens intermediários, que são utilizados no processo de produção de outros bens. O valor dos bens intermediários já está incluído no preço dos bens finais. 25 Por exemplo, se uma fábrica produz papel que a outra usará para fazer um caderno, o papel é chamado de bem intermediário, e o caderno é o bem final. Se considerarmos toda a produção de cadernos e de papel no cálculo do PIB, estaremos contando duplamente a produção de papel, já que seu valor está embutido na produção de cadernos. PIB x PNB: É importante distinguir a diferença entre PIB e PNB (Produto Nacional Bruto). O PIB representa a produção interna do País, enquanto o PNB representa a produção realizada apenas por nacionais. A diferença entre eles é denominada de Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLE), a qual se divide em Renda enviada ao exterior e renda recebida do exterior. Podemos definir a seguinte relação: PIB = PNB + RLE Uma multinacional instalada no Brasil gera produção interna (incluída no PIB), mas como uma parte da remuneração dessa empresa será enviada ao exterior a título de remessa de lucros, esta remessa não faz parte do PNB porque não é remuneração dos fatores de produção de propriedade nacional. Como o Brasil é receptor de capitais internacionais, seja como investimentosou empréstimos, a renda líquida enviada ao exterior é maior do que a recebida e por isso o PNB brasileiro é menor que o PIB. Como o PIB é medido? O PIB mede três coisas ao mesmo tempo: o total produzido, a renda total de todas as pessoas da economia e a despesa total com os bens e serviços produzidos na economia, uma vez que a renda total e a despesa total têm na verdade o mesmo valor. Com base nisso, existem três formas de medir a atividade econômica de um País, dentre elas podemos destacar: 26 Ótica da Produção: Pela ótica da produção, é possível chegar ao PIB somando os valores monetários de todos os bens e serviços finais produzidos pela economia em determinado período de tempo. Assim, PIB = QaPa + QbPb + QcPc +... QnPn Para chegarmos ao valor monetário total de cada produto, é preciso multiplicar a quantidade vendida pelo seu preço. Isso deve ser feito para todos os produtos e devem ser somados para encontrar o valor produzido pelo País. Vale lembrar que somente devem ser considerados os produtos finais para evitar o problema da dupla contagem. Exemplo: Numa economia que produz somente cinco tipos de produtos, o PIB pode ser calculado de acordo com a fórmula acima: Produto Medida Preço Unitário R$ Quantidade PIB A Quilos 50 1.000 50.000 B Arrobas 100 30 3.000 C Litros 25 200 5.000 D Metros lineares 5 2.000 10.000 E Metros cúbicos 75 200 15.000 O PIB desta economia corresponde a R$ 83.000,00 27 Ótica das Despesas O PIB pode ser medido como sendo a despesa total com a produção final da economia, ou seja, é possível considerar todas as despesas de cada setor para adquirir e produzir os bens e serviços. O valor monetário total das despesas é igual ao valor monetário total da produção. A Despesa pode ser dividida em: gastos pessoais em consumo; gastos com investimentos efetuados pelas empresas; gastos do Governo e exportações líquidas. • Despesas das famílias = Consumo (C) As despesas com consumo efetuadas pelas famílias se constituem no maior componente da demanda agregada e podem ser divididos em: Bens duráveis, como geladeiras, móveis, carros, etc.; Bens não duráveis, como alimentos, bebidas, combustíveis, roupas, etc.; Serviços, como educação, assistência médica, salão beleza, etc. • Despesas das empresas = Investimentos (I) O Investimento é a despesa com bens que aumentam a capacidade produtiva da economia, pois esses bens são utilizados para produzir outros bens e serviços. Inclui despesas em edificações e novos equipamentos e também a variação nos estoques de bens mantidos pelas empresas. Os bens produzidos e não vendidos constituem o estoque, que representam bens que foram produzidos no período e por isso devem ser incluídos no PIB. Quando as empresas acumulam estoques de seus produtos, os mesmos são considerados como bens comprados pela própria empresa, fazendo com que o produto que assume a forma de estoque seja igual a uma despesa no valor do produto. Isso é chamado de investimentos em estoques e deve ser computado no PIB. • Despesas do Governo (G) As despesas do Governo em bens e serviços também se constituem em um componente da demanda agregada da economia. Neste item entram despesas com educação, segurança, infraestrutura (estradas, hospitais, aeroportos, etc.) 28 • Exportações líquidas: Exportações (X) menos as importações (M) As exportações representam os gastos do setor externo na compra de bens e serviços produzidos por empresas brasileiras. As importações representam a compra de brasileiros no exterior, ou seja, quanto é gasto com o resto do mundo e representa uma saída de renda. Desse modo, temos a seguinte equação: PIB = C + I + G + (X – M) Esta relação também é chamada de Demanda Agregada ou ainda de Despesa Nacional. Demanda Agregada: Quantidade demandada de bens e serviços de consumo pelas famílias (C), pela demanda de Investimentos por parte das Empresas (I), demanda do Governo (G) e pela demanda líquida do setor externo (X – M). Ótica da Renda A ótica da renda consiste na análise dos fatores que recebem para produzir o produto total. O total do produto pode ser calculado computando-se as despesas de cada setor e, como as despesas de um setor constituem renda para outro, o valor total do produto pode ser analisado computando-se a renda de todos os setores da economia. PIB = S + J + L + A + T + D - Subsídios Salários S Remuneração do Trabalho Juros J Remuneração do proprietário do Capital financeiro Lucros L Remuneração da capacidade empresarial, representando o ganho das empresas e a renda de seus proprietários. Aluguéis A Renda da cessão do uso de propriedade, como por exemplo, terras, lojas, residências, fazendas, etc. Tributos Indiretos Ti Arrecadação do Governo Depreciação D Consumo de parte do estoque de Capital Subsídios S Ajuda do Governo 29 Produto Nacional Bruto (PNB) x Produto Nacional Líquido (PNL) O PN Líquido representa a produção líquida total gerada na economia de um País no período de um ano. Quando o PNB está sendo produzido, está sendo consumido parte do estoque de capital existente na economia, que nada mais é do que a depreciação. Dessa forma o PN Líquido considera o efeito da depreciação do capital. PNB = PNL + Depreciação. Do mesmo modo, ao considerarmos o investimento (I) da economia, estamos nos referindo ao investimento total, incluindo as despesas necessárias para repor os bens de capital consumidos na produção. O investimento líquido é o investimento bruto menos a depreciação do capital e também é chamado de formação de capital de uma Economia. Renda Nacional (RN) Para chegarmos à renda nacional, partindo do PNL, é preciso diminuir os impostos indiretos e somar os subsídios. Renda Nacional = PNL – impostos indiretos + subsídios Produto Interno Líquido (PIL) O produto Interno Líquido é obtido subtraindo-se do Produto Interno Bruto a Depreciação. PIL = PIB - Depreciação A nomenclatura abaixo ajuda a melhor interpretar os conceitos econômicos aqui abordados: 30 Produto Interno Bruto (PIB) ( - ) Renda enviada ao Exterior ( + ) Renda recebida do Exterior ( = ) Produto Nacional Bruto (PNB) ( - ) Depreciação ( = ) Produto Nacional Líquido (PNL) ( - ) Impostos indiretos ( + ) Subsídios ( = ) Renda Nacional (RN) 31 PIB per capita: Quando se divide o PIB pelo número de pessoas na economia teremos o resultado do PIB per capita, indicando a proporção de riqueza gerada correspondente a cada habitante do País. PIB Nominal X PIB Real O PIB nominal mede o valor total da produção durante o período a preços correntes. Quando o PIB cresce de um ano para outro temos duas possibilidades: • a economia está produzindo uma quantidade maior de bens e serviços, ou • os bens e serviços estão sendo vendidos a preços mais elevados, existindo inflação nesta economia. Para que estes dois efeitos sejam separados, os economistas devem isolar o efeito das variações de preços desses bens e serviços. Por isso os economistas utilizam a medida do PIB Real. O PIB Real apresenta o valor dos bens e serviços produzidos este ano caso fossem avaliados aos preços vigentes em algum outro ano específico do passado. Para obter uma medida do montante produzido que não seja afetada pelas variações dos preços, é usado o PIB Real, que é a produção dos bens e serviços avaliada a preços constantes. Para calcular o PIB Real, é preciso primeiro selecionar um ano como ano-base. Utiliza-se então os preços de um bem no ano-base para calcular o valor dos bens e serviços em todos os anos. Em outraspalavras, os preços do ano-base fornecem a base para comparar quantidades em diferentes anos. Portanto, o PIB Real representa o PIB descontando-se o efeito da inflação. Como o PIB Real não é afetado pela variação dos preços, as variações do PIB Real refletem apenas mudanças nas quantidades produzidas, e, portanto, é uma medida da produção de bens e serviços da economia. 32 Exercícios 1. A contabilidade de determinado País apresentou os dados abaixo. PIL 650.000 Impostos indiretos 75.000 Subsídios 20.000 Depreciação 35.000 Renda Líquida enviada ao Exterior 12.000 Calcular o PIB; PNB; PNL e RN 2. A contabilidade de determinado País apresentou os dados abaixo: PNL 260.000 Impostos indiretos 80.000 Subsídios 20.000 Depreciação 80.000 Renda Líquida enviada ao Exterior 50.000 Calcular: PIB; PNB; PNL; RN. 3. A contabilidade de determinado País apresentou os dados abaixo: PNB 510.000 Renda Líquida enviada ao Exterior 75.000 Impostos Indiretos 120.000 Subsídios 30.000 Depreciação 90.000 Calcular o PNL e a RN deste País. (420.000 e 330.000) 33 O MODELO “IS-LM” NA POLÍTICA MONETÁRIA O modelo IS-LM foi desenvolvido por John Hicks em 1937. Este modelo se fundamenta num conjunto de equações através do qual se estabelecem as condições necessárias para o equilíbrio no mercado de bens e serviços e no mercado monetário, visando o equilíbrio geral da economia. Posteriormente, a análise de John Hicks foi ampliada por Alvin Hansen. Para a maioria dos economistas, o modelo IS-LM ainda representa um elemento constitutivo básico que capta grande parte do que ocorre na economia no curto e médio prazo. Por isso, esse modelo é ensinado e utilizado até hoje. A origem das letras IS-LM se referem a: • I: Investimentos; • S: corresponde a poupança (saving); • L: corresponde a liquidez (liquidity); • M: corresponde a moeda (money). O Governo utiliza-se de diversos instrumentos de políticas macroeconômicas, executados pela política monetária, política fiscal, política externa e política de rendas. Cada uma dessas políticas tem sua própria dinâmica na condução das atividades econômicas, porém todas estão identificadas com a política global do País. Os principais objetivos macroeconômicos a serem atingidos com a execução da política monetária são os seguintes: • Promoção do crescimento e desenvolvimento econômico; • Promoção do nível de emprego e manutenção de sua estabilidade; • Estabilidade dos preços via controle da inflação; • Melhor distribuição da riqueza e da renda dos trabalhadores; • Equilíbrio do balanço de pagamentos com o exterior, principalmente as transações correntes. 34 A Política Monetária pode ser definida como o controle da oferta de moeda e do nível de taxas de juros, visando garantir a liquidez para cada momento da economia. Para melhor entendimento do mercado de moeda, vamos analisar a curva LM, que representa a relação existente entre a taxa de juros e o nível de renda que se estabelece no mercado monetário. A taxa de juros é o custo de oportunidade de guardar moeda, ou seja, é o que se perde quando se guarda moeda que não rende juros, ao invés de aplicá-la no mercado financeiro. Quando os juros se elevam, as pessoas e as empresas desejam manter uma menor quantidade de sua riqueza em forma de moeda. Sempre que possível, a maior parte é canalizada para aplicações financeiras que rendem juros, visando a manutenção do poder de compra da moeda. A curva LM mostra o nível da taxa de juros que equilibra o mercado de moeda a cada nível de renda dado. A teoria da preferência pela liquidez mostra que a taxa de juros de equilíbrio depende da oferta de moeda. Se o Banco Central altera a oferta de moeda, a curva LM vai se deslocar. A teoria da preferência pela liquidez indica que uma redução na oferta de moeda resulta no aumento da taxa de juros. Por outro lado, um aumento na oferta de moeda provoca uma redução na taxa de juros. A curva LM representa o equilíbrio no mercado monetário, enquanto a curva IS representa o equilíbrio no mercado de bens e serviços. Em conjunto, o modelo IS-LM determina a renda nacional no curto prazo. Neste capítulo, vamos procurar entender as causas das flutuações da renda nacional, ou seja, como essas variáveis afetam a economia no curto prazo. A curva LM mostra a relação existente entre a taxa de juros e o nível de renda que ocorre no mercado monetário. 35 O gráfico abaixo representa o ponto de equilíbrio no mercado monetário, onde “Y” representa a renda e “i” o nível de taxa de juros. A interseção das curvas IS- LM representa o equilíbrio simultâneo nos mercados de bens e serviços e de saldos monetários. Ocorrendo um aumento na oferta de moeda pelas autoridades monetárias, a curva LM se deslocará para a direita, ou para baixo. O novo ponto de equilíbrio se desloca do ponto “A” para o ponto “B”. A renda aumenta de “Y” para “Y1” e a taxa de juros reduz de “i” para “i1”. É importante notar que a colocação de maior volume de moeda na economia provoca um crescimento dos meios de pagamentos e consequentemente da liquidez da economia. Esse movimento caracteriza uma Política Monetária Expansionista, influenciando positivamente o nível de consumo da população, visto que acarreta uma evolução no nível da atividade econômica. A diminuição da taxa de juros combinado com o aumento do nível de renda eleva os investimentos e o nível geral de empregos. 36 Vamos agora analisar um exemplo de Política Monetária Recessiva. Uma política monetária restritiva por parte do Governo afeta negativamente a atividade econômica. Supondo que o Governo resolva reduzir a oferta de moeda na economia, essa medida acarreta numa política monetária recessiva, ou restritiva. A redução da oferta de moeda provoca o aumento da taxa de juros e a redução do nível de renda. A curva LM se desloca para a esquerda e para cima, conforme demonstrado no gráfico anterior. O novo ponto de equilíbrio passa do ponto “A” para o ponto “B”. A taxa de juros se eleva do ponto “i” para o ponto “i1 “ e a renda diminui do ponto “Y” para o ponto “Y1”. 37 O MODELO “IS-LM” NA POLÍTICA FISCAL A política fiscal está ligada à arrecadação tributária e aos gastos do Governo. Os principais objetivos da política fiscal são: • Acelerar ou desacelerar o ritmo de crescimento econômico; • Acelerar ou desacelerar o ritmo de crescimento do consumo, via política tributária; • Estimular as exportações, através de incentivos fiscais; • Desestimular as importações, através de tarifas alfandegárias. A política fiscal representa todos os instrumentos de que o Governo dispõe para a arrecadação de tributos (política tributária) e o controle de suas despesas (política de gastos). Entende-se por política fiscal a atuação do Governo no que diz respeito à arrecadação dos impostos e administração dos seus gastos. A forma como as políticas tributárias e de gastos são utilizadas afeta diretamente o comportamento da economia. Quando o Governo tem por objetivo estimular o crescimento econômico e a criação de empregos, adota medidas fiscais para elevar a demanda agregada da economia, ou seja, adota uma política fiscal expansionista, caracterizada por um aumento nos gastos públicos e/ou redução nos impostos. Quando o Governo tem por objetivo o controle da inflação, as medidas fiscais vão no sentido inverso: é adotada uma política fiscal contracionista, recessiva ou restritiva, com a ampliação da carga tributária, inibindo o consumo das famílias e o investimento dasempresas e/ou a redução dos gastos públicos. Se o objetivo for melhorar a distribuição da renda, esses instrumentos são usados de forma seletiva, em benefício das pessoas menos favorecidas, como por exemplo, gastos públicos concentrados em regiões mais pobres da cidade, ou a cobrança de impostos proporcional à renda das pessoas (quem ganha mais pagaria mais impostos e quem ganha menos, pagaria menos). A curva IS está diretamente ligada à política fiscal utilizada pelo Governo. Representa o mercado de bens e serviços. 38 A curva IS mostra a relação existente entre taxa de juros e o nível de renda que se estabelece no mercado de bens e serviços. A curva IS é traçada para uma determinada política fiscal. Alterações na política fiscal que aumentem a demanda por bens e serviços deslocam a curva IS para a direita. Por outro lado, alterações na política fiscal que reduzem a demanda por bens e serviços deslocam a curva IS para a esquerda. Uma redução nas despesas governamentais ou um aumento na carga tributária reduzem a renda, deslocando a curva IS para a esquerda. Já um aumento nas despesas do Governo ou uma redução dos impostos reduz a poupança nacional, qualquer que seja o nível de renda. É importante lembrar que a curva IS não determina nem a renda, nem a taxa de juros. A curva IS apenas apresenta a relação existente entre a renda e o nível de taxa de juros no mercado de bens e serviços. Para melhor entendimento dos efeitos da curva IS na política fiscal, vamos analisar os gráficos abaixo. No primeiro exemplo, vamos considerar um aumento nas despesas do Governo. Esse é um típico caso de política fiscal expansionista, considerando que o aumento das despesas por parte do Governo deve gerar um aumento na renda dos trabalhadores. Será que isso ocorre realmente? 39 O aumento nas despesas do Governo desloca a curva IS para a direita, ou para cima. O novo ponto de equilíbrio passa do ponto “A” para o ponto “B”. A renda aumenta de “Y” para “Y1”. Entretanto, observe que a taxa de juros aumenta de “i” para “i1 “. Quando a taxa de juros sobe, o nível de investimentos na economia tende a se reduzir. Portanto, uma expansão fiscal aumenta a taxa de juros e reduz o investimento. Agora, vamos analisar um modelo de política fiscal recessiva, ou restritiva. Nesse caso, a curva IS se desloca para a esquerda, ou para baixo, provocando uma redução no nível de renda e também uma redução da taxa de juros. 40 Vamos analisar agora um exemplo de aumento da carga tributária: O aumento nos impostos desloca a curva IS para a esquerda, ou para baixo. O novo ponto de equilíbrio passa do ponto “A” para o ponto “B”. A renda diminui de “Y” para “Y1” e a taxa de juros baixa de “i” para “i1 “. Quando a taxa de juros baixa, o nível de investimentos na economia tende a se elevar. É preciso saber que é muito difícil para as autoridades do Governo trabalhar isoladamente com a política fiscal ou com a política monetária, porque uma medida acaba refletindo ou interferindo entre as políticas. Por isso, o ideal é a utilização conjunta das políticas monetária e fiscal, assunto que será abordado no próximo item. 41 POLÍTICAS MONETÁRIA E FISCAL: O MODELO “IS-LM” O uso conjunto das políticas monetária e fiscal é conhecido como a combinação das políticas. Às vezes as políticas monetária e fiscal são utilizadas com um objetivo comum. Entretanto, em certas ocasiões a combinação dessas políticas é causada por tensões ou mesmo desacordos entre o Governo (encarregado pela condução da política fiscal) e do Banco Central, responsável pela política monetária. Para entendimento da conjugação das políticas monetária e fiscal, vamos analisar uma situação hipotética, mas que poderia ser utilizada como realidade para os governantes. Por exemplo, se o Governo lançar um pacote fiscal, para reduzir o déficit público via aumento de impostos. Qual seria o impacto dessa medida sobre a economia? A resposta depende muito da reação do Banco Central a esse aumento de impostos. Na realidade, são três os resultados possíveis, os quais serão analisados mediante interpretação dos modelos gráficos adiante: No gráfico acima, o Banco Central manteve constante a oferta de moeda, ou seja, não modificou a política monetária. O aumento dos impostos desloca a 42 curva IS para a esquerda, ou para baixo, reduzindo a renda e a taxa de juros. Já no próximo gráfico, o Banco Central mantém constante a taxa de juros. Neste caso, quando a taxa de juros desloca a curva IS para a esquerda, o Bacen deve reduzir a oferta de moeda para garantir a permanência da taxa de juros em seu nível original. Isto desloca a curva LM para a esquerda, ou para cima. A taxa de juros não se reduz, mas a renda cai muito. O exemplo acima pode ser considerado uma combinação de uma política fiscal recessiva com uma política monetária também recessiva, ou restritiva. No próximo gráfico, o Banco Central procura impedir a queda da renda da população, decorrente do aumento dos impostos. Por isso, aumenta a oferta de moeda. Neste caso, o aumento dos impostos não chega a provocar uma recessão, mas causa uma grande redução nas taxas de juros. A renda não sofreu alteração. Enquanto o aumento dos impostos reduz o consumo, a queda das taxas de juros estimulam novos investimentos, gerando novas oportunidades de emprego. 43 O exemplo acima pode ser considerado uma combinação de uma política fiscal recessiva com uma política monetária expansionista. A combinação de uma política monetária expansionista com uma política fiscal recessiva provoca uma redução na taxa de juros e mantém a renda constante. A partir dos exemplos analisados, é possível verificar que o impacto de uma mudança na política fiscal depende da política monetária adotada pelo Banco Central, ou seja, depende de se procurar manter constante a oferta de moeda, a taxa de juros ou o nível de renda. Sempre que analisarmos as mudanças decorrentes de uma política, devemos verificar sua repercussão ou impacto sobre a outra política. As diversas hipóteses sobre o caminho mais adequado a ser adotado dependem da situação concreta e das diversas variáveis que estão por trás da formulação da política econômica. Portanto, vários fatores podem provocar flutuações econômicas, deslocando tanto a curva IS como a curva LM. Entretanto, se as alterações nas políticas forem tempestivas, os choques nas curvas IS e LM podem inibir flutuações na renda ou no emprego. A tabela abaixo mostra os efeitos das políticas monetária e fiscal na economia, através do modelo IS-LM. 44 Deslocamento IS Deslocamento LM Flutuação na Renda Variação Taxa Juros Aumento Impostos Esquerda Nenhum Redução Diminui Diminuição Impostos Direita Nenhum Aumento Aumenta Aumento Gastos Públicos Direita Nenhum Aumento Aumenta Diminuição Gastos Públicos Esquerda Nenhum Redução Diminui Aumento oferta Moeda Nenhum Direita Aumento Diminui Redução oferta Moeda Nenhum Esquerda Redução Aumenta 45 POLÍTICA CAMBIAL e BALANÇO DE PAGAMENTOS Na política cambial, a determinação da taxa de câmbio no mercado envolve diversas variáveis, com ênfase para as exportações e importações. O mercado de câmbio envolve a negociação de moedas estrangeiras. No Brasil, as operações de câmbio não podem ser praticadas livremente e devem ser conduzidas através de um banco autorizado a operar com câmbio. Os participantes do mercado de câmbio se dividem nos produtores e nos cedentes de divisas. Os que produzem divisassão principalmente os exportadores, enquanto que os que cedem divisas são os importadores. No mercado de câmbio existe também os corretores de câmbio, que são os intermediários nas operações, pois funcionam como um elo de ligação entre os clientes e os bancos autorizados a operar neste mercado. A principal função dos corretores é procurar no mercado o melhor negócio com as melhores taxas para seu cliente efetuar o fechamento do câmbio. Atualmente, o mercado de câmbio no Brasil está dividido em: • Mercado de Taxas Livres – Dólar Comercial: Destinado às operações comerciais de exportação e importação de mercadorias e também as operações financeiras de empréstimos e investimentos externos. • Mercado de Taxas Flutuantes – Dólar Turismo: Criado para legitimar um segmento de mercado destinado a clientes que viajam para o exterior. As operações de câmbio são basicamente a troca da moeda de um País pela moeda de outro País. Todas as operações de câmbio têm um enorme reflexo sobre o Balanço de Pagamentos do País. O Balanço de Pagamentos é o registro sistemático de todas as transações econômicas que os residentes do País fazem com o resto do mundo durante o ano. É uma espécie de contabilidade, ou livro-caixa da nação, envolvendo tanto transações com bens e serviços bem como transações com capitais físicos e 46 financeiros. A Estrutura do Balanço de Pagamentos está abaixo: BALANÇO DE PAGAMENTOS A – BALANÇA COMERCIAL Exportações Importações B – BALANÇA DE SERVIÇOS E RENDA Viagens Internacionais (turismo, negócios) Transportes (fretes) Seguros Juros Lucros e Dividendos Royalties e Licenças Serviços Governamentais (embaixadas, consulados) Outros Serviços C – TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS Donativos enviados e/ou recebidos D – BALANÇA DE TRANSAÇÕES CORRENTES Soma dos itens (A + B + C) E – BALANÇA DE CAPITAIS AUTÔNOMOS Investimento Direto Líquido (Participação no capital de firmas estrangeiras no País) Reinvestimentos (Reinvestimento de firma estrangeira já instalada no País) Empréstimos e Financiamentos Amortizações de Empréstimos e Financiamentos F – ERROS E OMISSÕES G – SALDO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS Resultado Líquido (D + E + F) H – VARIAÇÃO DE RESERVAS Balança de Capitais Compensatórios, que corresponde a ( - G) 47 Vamos analisar as principais contas do Balanço de Pagamentos, para melhor entendimento do assunto, conhecido como Transações Correntes. Nesta primeira parte do Balanço de Pagamentos, a Conta de Transações Correntes envolve a Balança Comercial, a Balança de Serviços e as Transferências Unilaterais. A Balança Comercial registra os valores das exportações e das importações. Registra as operações de compra e venda de mercadorias, ou seja, inclui as exportações e as importações de mercadorias. As Exportações correspondem à venda para outros países de mercadorias produzidas internamente, isto é, corresponde à demanda de não residentes por mercadorias produzidas no País. Representam uma entrada de capital, uma receita em moeda estrangeira. As Importações correspondem à compra de mercadorias produzidas em outro País. Representam uma saída de capital, uma despesa em moeda estrangeira. Se o total das exportações superar o das importações, a balança comercial apresenta um superávit. Se acontecer o contrário, teremos um déficit. Uma série de fatores influi sobre a ocorrência de um déficit ou superávit na balança comercial. Entre os mais importantes, podemos citar a evolução dos preços das exportações e importações de um País e a evolução dos volumes importados e exportados. A Balança de Serviços e Rendas registra as receitas e despesas de diversos tipos de transações, destacando-se os transportes, fretes, seguros, turismo, royalties, lucros, juros recebidos e enviados ao exterior. • Fretes e Seguros: As mercadorias transacionadas com o exterior envolvem despesas com fretes internacionais e seguros. Se o frete e o seguro for realizado por uma empresa brasileira, então ocorre entrada de divisas. • Juros: Representa os juros devidos por empréstimos realizados no 48 exterior. O Brasil é tomador de empréstimos no exterior e com base nisso esta conta apresenta saldo negativo, representando saída de divisas da nação. • Lucros: Representam os lucros auferidos por empresas multinacionais instaladas no País e enviados ao exterior. • Viagens Internacionais: Saldo líquido dos gastos efetuados pelos brasileiros em viagens ao exterior, menos os gastos efetuados pelos estrangeiros em viagens ao Brasil. No caso de países endividados, a Balança de Serviços e Rendas apresenta-se geralmente deficitária, devido ao pagamento de juros e pela remessa de lucros e dividendos de empresas multinacionais. Os serviços que representam remuneração aos fatores de produção externos, como juros, lucros, royalties e assistência técnica são a Renda Líquida Enviada ao Exterior, resultando na diferença entre PIB e PNB. As Transferências Unilaterais envolvem doações, donativos, remessas e outros valores que não terão retorno para o País. Registram o saldo de todas as transações que não envolvem obrigações de retorno em contrapartida. São contabilizados nesta conta, além dos donativos e doações, os alimentos e medicamentos destinados a populações afetadas por desastres naturais, recursos destinados a reparações de guerras, dentre outros. Essa conta também é chamada de Rendas Secundárias, de acordo com nova metodologia. Balança de Transações Correntes: O saldo da conta de Transações Correntes resulta do somatório da Balança Comercial + Balança de Serviços e Rendas + Transferências Unilaterais, 49 podendo ser positivo ou negativo. O ideal para a nação é que este saldo seja positivo. Se o saldo da conta Transações Correntes for negativo, indica que o País comprou do exterior mais do que vendeu em bens e serviços, aumentando suas obrigações com o resto do mundo. Por outro lado, se o saldo da conta Transações Correntes for positivo, indica que o País vendeu mais bens e serviços do que comprou, resultando em ingresso líquido de reservas. É o item mais importante do balanço de pagamentos, à medida que mostra as necessidades de recursos que o País terá de buscar no exterior para não perder reservas internacionais. Um déficit muito elevado nesta conta torna o País vulnerável a qualquer mudança no contexto internacional. Balança de Capitais Autônomos: É a conta que indica as alternativas de cobertura do déficit em transações correntes, envolvendo as operações que modificam a estrutura de direitos e obrigações de um País em relação ao resto do mundo. É dividida em: • Investimentos e reinvestimentos: Representa o ingresso de capitais estrangeiros (investimentos feitos por não residentes no País - entrada de dólares) e/ou o capital de residentes aplicados no exterior (saída de dólares). Podem ser investimentos diretos, quando o capital estrangeiro migra para o mercado produtivo (por exemplo, o capital entra no País por meio da construção de uma multinacional), ou investimento em carteira, quando o capital estrangeiro migra para o mercado financeiro. • Empréstimos e Financiamentos: Registra empréstimos recebidos do exterior pelo FMI, Banco Mundial, bancos privados no exterior, tanto para o setor público como para o privado e ainda o lançamento de títulos de empresas públicas e privadas no exterior. 50 • Amortizações: Pagamento do principal referente aos empréstimos e financiamentos obtidos no exterior ou ainda, recebimentos do principal feito por não residentes referentes aosempréstimos concedidos pelo País ao exterior. A principal variável a explicar o movimento de capitais entre os países é a taxa de juros. Quanto maior a taxa de juros de um País em relação aos demais, maior o estímulo à entrada de capitais externos neste País. Erros e Omissões: Surge em função de equívocos existentes no registro das operações do País com o exterior. Na verdade, algumas contas são registradas com valores estimados. Este item entra no balanço para corrigir os erros estatísticos e as transações não registradas. Saldo do Balanço de Pagamentos: Somadas todas as contas anteriores temos o saldo do Balanço de Pagamentos. Se negativo, significa que a saída de divisas foi superior à entrada, gerando um déficit. Se positivo, temos um superávit. O resultado nesta conta reflete a variação das reservas internacionais. O superávit significa que há mais divisas do que as necessárias para cobrir as saídas e esta sobra representa um aumento nas reservas internacionais do País. Já o déficit mostra que as entradas não foram suficientes e tal resultado negativo poderá ser coberto por uma saída de divisas do País, reduzindo as reservas internacionais. 51 Exercícios: 1. Um País apresentou os registros abaixo em seu Balanço de Pagamentos em determinado ano: Exportações 200.000 Importações 100.000 Transferências Unilaterais Recebidas 10.000 Saldo Transações Correntes - 50.000 Calcular o saldo da Balança de Serviços. Resposta: ( - 160.000) 2. Um País apresentou os registros abaixo em seu Balanço de Pagamentos em determinado ano: Exportações 300.000 Importações 100.000 Transferências Unilaterais Recebidas 20.000 Juros pagos ao Exterior 80.000 Calcular o saldo da Balança de Transações Correntes. Resposta: (140.000) 3. Um País apresentou os registros abaixo em seu Balanço de Pagamentos em determinado ano: Exportações ............................................220.000 Importações ............................................110.000 Transferências Unilaterais Recebidas .....20.000 Juros pagos ao Exterior ...........................40.000 Fretes e Seguros recebidos ......................10.000 Calcular o saldo da Balança de Transações Correntes. Resposta: (100.000) 4. De acordo com os dados abaixo, informe o saldo de Transações Correntes. Transferências Unilaterais recebidas 350 Viagens Internacionais 100 Lucros enviados 100 Juros pagos 50 Balança Comercial 200 a) 50 b) 400 c) 250 d) 300 52 Mercado de Câmbio e Taxas de Câmbio O mercado de câmbio ou de divisas é o mercado no qual se compram e vendem as moedas dos diferentes países. Por ser um mercado como outro qualquer, existem compradores e vendedores: Compradores de Moeda Estrangeira Vendedores de Moeda Estrangeira Importadores Exportadores Quem viaja ao exterior Viajantes estrangeiros ao Brasil Investidores no exterior Investidores estrangeiros no Brasil Quem precisa pagar dívidas no exterior Quem paga dívidas com o Brasil Quem aposta na valorização da moeda estrangeira Quem aposta na desvalorização da moeda estrangeira A Taxa de câmbio é o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. É o preço de uma moeda expressa em termos de outra. Exemplo: Quando falamos que o dólar americano vale três reais e cinquenta centavos, já estamos expressando a taxa de câmbio entre duas moedas: US$ 1,00 = R$ 3,50. Do mesmo modo que definimos a taxa de câmbio do dólar, existem taxas de câmbio para as diversas moedas estrangeiras (euro, libra, iene, peso, etc.). Quanto maior a oferta de divisas, menor será a taxa de câmbio e, quanto maior a demanda por divisas, maior será a taxa de câmbio. Define-se como valorização cambial ou apreciação cambial, o aumento do poder de compra da moeda nacional perante as outras moedas (quando um real compra mais dólares), ou seja, quando a taxa de câmbio cai (por exemplo, quando o valor do dólar cai). Por raciocínio análogo, uma desvalorização cambial ocorre quando há perda do poder de compra da moeda nacional (quando um real compra menos dólares). Cabe distinguir variações nominais e variações reais na taxa de câmbio. Taxa de câmbio Real é a taxa de câmbio nominal (a divulgada pelo mercado), deflacionada pela razão entre a taxa de inflação doméstica e externa. 53 A taxa de câmbio nominal reflete o valor de uma moeda em relação a outra. Já a taxa de câmbio real oportuniza a comparação de preços em uma única moeda, ou seja, permite saber a quantidade de produtos estrangeiros que se pode adquirir em troca de uma unidade do produto similar nacional. A fórmula para obtenção da taxa real de câmbio é: (E.P*)/P Sendo: E = taxa de câmbio nominal P* = preço do produto estrangeiro P = preço do produto nacional Exemplo 1: Um produto no Brasil custa R$ 90,00 e que nos EUA é vendido por US$ 45,00. Se a taxa de câmbio estiver em US$ 1,00 = R$ 2,40, a taxa de câmbio real entre os dois países será 1,20. Isso significa que nos EUA o produto está 20% mais caro que no Brasil (US$ 45 x 2,40 = R$ 108,00) e R$ 90 + 20% resulta em R$ 108,00. No nosso exemplo, para o preço se igualar, a cotação do dólar deveria estar em R$ 2,00. Com a cotação de R$ 2,40/US$ 1,00 nossa moeda está desvalorizada perante o dólar, tornando os produtos estrangeiros mais caros que os brasileiros. Por outro lado, isso estimula as exportações brasileiras. Exemplo 2: Um produto no Brasil custa R$ 100,00 e nos EUA é vendido por US$ 40,00. Se a taxa de câmbio estiver em US$ 1,00 = R$ 2,00, a taxa de câmbio real entre os dois países será 0,80. Isso significa que nos EUA o produto está 20% mais barato que no Brasil (US$ 40 x 2,00 = R$ 80,00) e R$ 100 - 20% resultam em R$ 80,00. Neste exemplo, para o preço se igualar, a cotação do dólar deveria estar em R$ 2,50. Com a cotação de R$ 2,00/US$ 1,00 nossa moeda está valorizada perante o dólar, tornando os produtos estrangeiros mais baratos para os brasileiros e isso estimula as importações brasileiras. A taxa de câmbio é uma variável muito importante dentro de uma economia, pois pode influenciar o nível de produção e de inflação, além do próprio comércio internacional e dos movimentos de capitais entre os países. Ocorrendo uma desvalorização cambial (aumento na taxa de câmbio), os efeitos serão os seguintes: 54 Exportadores Importadores Aumenta a produção de bens Reduz a importação de produtos para consumo Aumenta o nível de empregos Aumenta o custo de produção dos produtos para produção de outros bens. Desestimula as importações Um aumento na taxa de câmbio faz com que os compradores estrangeiros, com os mesmos dólares comprem mais produtos brasileiros, o que estimula as exportações. Se as exportações subirem de forma representativa, provocará um aumento na produção interna dos produtos brasileiros, o que estimula o emprego nestes mercados exportadores. Em contrapartida, os produtos importados ficam mais caros (são necessários mais reais para pagar um produto em dólar). A importação de produtos destinados aos consumidores finais tende a diminuir, já que os consumidores podem adquirir produtos nacionais similares por um preço mais acessível. Já a importação de bens intermediários (que serão usados como matérias primas na produção de outros bens) não é facilmente retraída. A quantidade importada se mantém, porém a um custo maior, o que tende a ser repassado para os preços, provocando inflação. Uma forma de reduzir a taxa de câmbio é aumentar a taxa de juros da economia. Juros mais altos atraem capital estrangeiro para investir no Brasil, aumenta a oferta de dólares e com isso
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