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Normas fundamentais no Código de Processo Civil.

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2018 - 04 - 15 
Revista de Processo
2017
REPRO VOL. 271 (SETEMBRO 2017)
TEORIA GERAL DO PROCESSO
Teoria Geral do Processo
1. Normas fundamentais no Código de Processo Civil
brasileiro
Norme fondamentali del Codice di Procedura
Civile brasiliano
(Autor)
ARLETE INÊS AURELLI
Doutora e mestre em Direito Processual Civil pela PUC-SP.Professora de direito processual civil
nos cursos de graduação e pós-graduação stricto sensu da PUC/SP. Professora nos cursos ESA/SP.
Membro do IBDP e CEAPRO. Advogada. - arlete.aurelli@gmail.com
Sumário:
1 Introdução
2 Normas fundamentais no Código de Processo Civil
2.1 Princípios da demanda e impulso oficial
2.2 Princípio do acesso à justiça
2.3 Princípio da duração razoável do processo e da primazia do mérito e da
efetividade da tutela
2.4 Princípio da boa-fé
2.5 Princípio da cooperação/colaboração
2.6 Princípio da isonomia e contraditório participativo
2.7 Princípio da dignidade da pessoa humana e proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência
2.8 Ordem cronológica
3 Conclusão
4 Bibliografia
Área do Direito: Constitucional
Resumo:
O texto apresenta uma análise crítica sobre as normas fundamentais, constantes do
Código de Processo Civil editado em 2015 pela Lei 13.105/15, especificamente do artigos 1º
ao 11.
Riassunto:
Il texto presenta uma analisi critica delle norme fondamentali stabiliti nel codice
diprocedura civile pubblicato nel 2015 dalla Legge13.105/15, in particolare articoli da 1 a
11.
Palavra Chave: Normas fundamentais - Acesso à justiça - Duração razoável do processo -
Primazia do mérito - Boa-fé - Cooperação - Contraditório - Isonomia - Dignidade da pessoa
humana - Publicidade e eficiência.
Parole Chiave: Norme fondamentali - L'accesso alla giustizia - Ragionevole durata del
processo - Primato di merito - Buona fede - Cooperazione - Garanzia del contraddittorio -
Isonomia - La dignità umana - Pubblicità e l'efficienza.
1. Introdução
No presente texto, pretendemos discorrer sobre as normas fundamentais constantes do
código de processo civil editado em 2015 pela Lei 13.105/15. Antes de tudo, é preciso dizer
que o novo diploma processual inovou ao trazer capítulo inicial, com previsão de
princípios que foram escolhidos pelo legislador como normas fundantes de todo o direito
processual. Dentro da sistematização levada a efeito pelo legislador há normas que
decorrem ou se consubstanciam nos próprios princípios constitucionais, insertos
expressamente tanto no artigo 5º quanto em outros dispositivos da Magna Carta, bem
como há outras que, previstas infraconstitucionalmente, decorrem implicitamente do
modelo constitucional do processo e atendem ao Estado Democrático de Direito.
Na verdade, quando se fala de normas fundamentais estabelecidas no código de processo
civil, a primeira pergunta que surge é a de saber qual seria a necessidade dessa
normatização se a própria Constituição Federal já contém a previsão de direitos e
garantias fundamentais ao jurisdicionado. Em nossa opinião, a intenção do legislador foi a
de reafirmar a importância das normas fundamentais objetos de sua escolha, a fim de
que, com o realce, não fossem deixadas de lado, mas sim efetivamente respeitadas.
Analisar essa escolha do legislador é de suma importância porque revela a base fundante
das normas processuais1, muito embora se possa vislumbrar que algumas das normas
selecionadas podem englobar outras tantas constantes da constituição federal e
igualmente importantes.
As normas fundamentais insertas no novo CPC seriam, assim, a viga mestra, a base, a
fundação sobre as quais devem estar alicerçadas todas as demais normas que compõem o
sistema processual e que deverão orientar os profissionais do direito na interpretação das
mesmas. Pode-se dizer que se constitui um mínimo necessário para realização da justiça
com a devida manutenção do Estado Democrático de Direito.
É preciso também lembrar que normas compreendem regras e princípios, como atesta
José Joaquim Gomes Canotilho2, o qual sugere os seguintes critérios para estabelecer a
necessária distinção entre eles, a saber: a) enquanto os princípios são normas com um
grau de abstração relativamente elevado, as regras possuem uma abstração reduzida;b)
aponta diferença pelo grau de determinabilidade, pois os princípios são vagos,
indeterminados e precisam de concretização, enquanto as regras são de aplicação
direta;c)além disso, salienta que os princípios são normas de natureza estruturante ou
com um papel fundamental no ordenamento jurídico em razão de sua posição hierárquica
no sistema das fontes;d) afirma, ainda, que os princípios são standards juridicamente
vinculantes radicados na ideia de justiça ou de direito. Ao contrário, as regras podem ser
normas vinculativas com um conteúdo meramente funcional;e) por fim, afirma que os
princípios são fundamentos das regras, isto é, são normas que estão na base ou constituem
a ratio de regras jurídicas, desempenhando uma função normogenética fundamentante.
Assim, as regras são normas jurídicas com alto grau de determinação, que descrevem uma
hipótese fática, induzindo aos efeitos nela previstos quando ocorrer os fatos dela
constantes. É a chamada fattispécie normativa. Já os princípios possuem um grau maior de
indeterminação, constituindo normas amplas, com alto grau de generalização e, em geral,
são constituídas de conceitos vagos e, ainda, de caráter fundante. Exemplo deste último
seria o art. 5º,inciso LV da CF, enquanto a regra poderia ser exemplificada pela norma
que estabelece que os prazos dos recursos serão de 15 dias.3
Nesse mesmo sentido, Celso Antonio Bandeira de Mello 4 define princípio como o:
mandamento nuclear de um sistema, disposição fundamental que se irradia sobre
diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata
compreensão e inteligência por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no
que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico.
De acordo com essa visão, pode-se chegar à conclusão de que as normas fundamentais
insertas nos artigos 1º a 11 do CPC/15 constituem-se princípios fundamentais5,
alicerces do ordenamento jurídico como um todo e assim devem ser interpretados. Por
isso, violar um princípio deverá ser considerado mais grave que a ofensa a uma regra.
Conclui-se, portanto, que, quando o legislador houve por bem nomear o primeiro capítulo
do CPC/15 de Normas Fundamentais, fez a opção pela teoria que vê os princípios como
normas de estruturação, de alicerce de todo o ordenamento jurídico. Com isso, verifica-se
que a vontade do legislador foi a de que as normas fundamentais por ele estabelecidas
influenciassem as demais constantes do sistema processual, bem como fossem observadas
por todos os sujeitos do processo e auxiliares da justiça, ou seja, por todos que participam
da atividade processual.
Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero afirmam que as
normas fundamentais “são eixos normativos a partir dos quais o processo civil deve ser
interpretado, aplicado e estruturado”.6
Além disso, as normas fundamentais têm por missão a caracterização do sistema
processual, configurando mais ou menos proteção aos direitos fundamentais das partes e
estabelecendo mais ou menos poderes ao órgão julgador, por exemplo.
Dworkin7 afirma que os princípios conferem coerência e justificação ao sistema jurídico e
permitem ao juiz interpretar de maneira mais conforme com a constituição quando se
deparar com os chamados hard cases.
Assim, temos aqui, mais uma função para os princípios, que é a de atuarem como base
para a interpretação das normas.
Por fim, é preciso deixar assente que o estudo das normas fundamentais do processo deve
ter como pressuposto o modelo constitucional do processo.
Vejamos, pois, quais foram as escolhas do legislador para compor as normas
fundamentais.
2.Normas fundamentais no Código de Processo Civil
No art. 1º do CPC/15, o legislador impõe a obediência do direito processual civil
aos valores e normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa
do Brasil. Além disso, enfatiza a coerência do sistema porque determina que deve haver
relação entre as normas constitucionais e as normas constantes do Código de Processo
Civil.
Na verdade, não haveria a menor necessidade dessa disposição porquanto é sabido que
todo o sistema processual deve obedecer à pauta de conduta, o modelo de processo
estabelecido e ditado pela Constituição Federal.
Conforme afirma Cassio Scarpinella Bueno, o dispositivo é inócuo porque não haveria
escolha para o direito processual civil ser ordenado, disciplinado e interpretado de acordo
com a Constituição Federal, ou não, pois ele, o processo civil, sempre deverá ser assim
desempenhado.8
De fato, mesmo que não houvesse qualquer lei processual que determinasse a necessidade
de obediência aos ditames constitucionais, no que tange a direitos e garantias
fundamentais, ainda assim o Judiciário, ao cumprir sua função social, estaria obrigado a
tal observância. É o que o §1º do art. 5º da Magna Carta determina de forma expressa.
Podemos asseverar que o art. 1º do CPC/15 permite incluir entre as normas
fundamentais o princípio do devido processo legal, que, no dizer de Nelson Nery Jr., é a
viga mestra, que assegura e do qual decorrem todos os demais direitos e garantias
constitucionais9.Trata-se de um princípio que estabelece o dever de conformação do agir
do Estado com o modelo constitucional do processo.
De fato, o princípio que é a base e o sustentáculo de todos os demais princípios está
previsto no inciso LIV, art. 5º, e dispõe: “ninguém será privado da liberdade ou de seus
bens sem o devido processo legal”.
Nelson Nery Júnior ensina que
Genericamente, o princípio do "due process of law” caracteriza-se pelo trinômio vida-
liberdade-propriedade, vale dizer, tem-se o direito de tutela daqueles bens da vida em seu
sentido mais amplo e genérico. Tudo o que disser respeito à tutela da vida, liberdade ou
propriedade está sob a proteção da “due process clause”.10
E prosseguindo adverte:
A cláusula due process of law não indica somente a tutela processual, como àprimeira vista
pode parecer ao intérprete menos avisado. Tem sentido genérico, como já vimos, e sua
caracterização se dá de forma bipartida, pois há o substantive due process e o procedural
due process, para indicar a incidência do princípio em seu aspecto substancial, vale dizer,
atuando no que respeita ao direito material, e, de outro lado, a tutela daqueles direitos por
meio do processo judicial ou administrativo.”11.
Como se vê, é perfeitamente possível concluir que o princípio do devido processo legal nos
garante o direito a um processo justo, com sentença justa, no sentido de que todos os
direitos e garantias fundamentais, expressas na carta magna, sejam respeitados pelo
órgão julgador. Para manutenção do Estado Democrático de Direito é fundamental a
observação rigorosa da garantia constitucional do devido processo legal.
A palavra devido não consta da nomenclatura do princípio à toa, eis que a norma não
contém palavras inúteis. O jurisdicionado não espera um processo realizado de qualquer
maneira pelo Poder Judiciário, mas exige que esse preste a devida tutela jurisdicional a
que está obrigado de maneira célere, justa e eficiente. Então, dentro do princípio do
devido processo legal estão incluídos os princípios da isonomia, acesso àjustiça, juiz
natural, contraditório e ampla defesa, proibição da prova ilícita, razoável duração do
processo, fundamentação das decisões judiciais e outros direitos e garantias
fundamentais, sendo que tudo isso deve ser realizado com eficiência, já que o
jurisdicionado espera também a efetividade da tutela.
Assim, por exemplo, o princípio da proibição da prova ilícita, que não consta das normas
fundamentais escolhidas pelo legislador processual, também deve ser considerado como
incluído entre tais normas, em decorrência do que determina o princípio do devido
processo legal e da previsão constante do art. 1º do CPC.
Dinamarco, nesse sentido, ensina que
direito ao processo justo é, em primeiro lugar, o direito ao processo tout court –
assegurado pelo princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional que a Constituição
impõe mediante a chamada garantia da ação. Sem ingresso em juízo não se tem a
efetividade de um processo qualquer e muito menos de um processo justo. Garantido o
ingresso em juízo e até mesmo a obtenção de um provimento final de mérito, é
indispensável que o processo se haja feito com aquelas garantias mínimas: a) de meios,
pela observância dos princípios e garantias estabelecidas; b) de resultados, mediante a
oferta de julgamentos justos, ou seja, portadores de tutela jurisdicional a quem
efetivamente tenha razão. Os meios, sendo adequadamente empregados, constituem o
melhor caminho para chegar a bons resultados. E, como afinal o que importa são os
resultados justos do processo (processo civil de resultados), não basta que o juiz empregue
meios adequados se ele vier a decidir mal; nem se admite que se aventure a decidir a
causa segundo seus próprios critérios de justiça, sem ter empregado os meios ditados pela
Constituição e pela lei. Segundo a experiência multissecular expressa nas garantias
constitucionais, é grande o risco de erro quando os meios adequados não são cumpridos.
Eis o conceito e conteúdo substancial da cláusula due process of law, amorfa e enigmática,
que mais se colhe pelos sentimentos e intuição do que pelos métodos puramente racionais
da inteligência.12
Por fim, uma questão que surge seria saber qual instrumento manejar para a hipótese de
descumprimento das normas fundamentais pelo órgão julgador. Se a violação ocorrer no
primeiro grau, caberá recurso de apelação, com vistas a anulação do processo a partir do
ato praticado em desacordo com as normas fundamentais. No caso, de infringência
praticada pelo acórdão, entendemos que caberá recurso extraordinário e também recurso
especial por ofensa tanto à constituição federal como à própria lei federal. Assim, não
concordamos com entendimento firmado pelo STJ no sentido que, nessa hipótese, haveria
violação reflexa à constituição federal, pelo que não seria cabível recurso extraordinário.
2.1. Princípios da demanda e impulso oficial
O art. 2º do CPC/15 determina que o processo começa por iniciativa da parte e se
desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. Referida norma impõe,
em primeiro lugar, o princípio da demanda, que estabelece que o Poder Judiciário não
poderá se recusar a julgar as demandas que lhes são submetidas à apreciação, mas, no
entanto, deve ser inerte, agindo somente mediante provocação do interessado. De outro
lado, o referido dispositivo legal estabelece o princípio do impulso oficial, que determina
que cabe ao órgão julgador promover o andamento do processo, de fase em fase, até o seu
final. Embora caiba às partes a prática de atos processuais, o fato é que compete ao órgão
julgador determinar o encaminhamento até que o processo atinja o final.
A própria norma estabelece a possibilidade de a lei trazer exceções ao disposto, sendo isso
o que se vê nas execuções de obrigações de fazer, não fazer ou de entrega de coisa,
fundadas em título executivo judicial, em que o juiz poderá dar início ao cumprimento de
sentença, de ofício, conforme preveem os artigos 536 e 537 do CPC/15. Além disso,
verificamos a atuação oficiosa no disposto nos arts. 712, 947 §1º, 951 e 977,I, que tratam da
restauração de autos, assunção de competência, conflito de competência arguição de
inconstitucionalidade., incidente de resolução de demandas repetitivas.
Também pode ser considerada uma exceção ao princípio do impulso oficial a permissão
dos artigos 190 e 191 paraas mudanças no procedimento negociadas pelas partes. Seria
uma espécie de impulso privado, por exemplo, a calendarização que é estabelecida pelas
partes em conjunto com o juiz.13
2.2. Princípio do acesso à justiça
O art. 3º estabelece o princípio do acesso à justiça, consagrado no art. 5º, inciso XXXV da 
CF, mas o faz pelo chamado sistema multiportas. De fato, além de garantir o acesso ao
Judiciário, para defesa de qualquer lesão de direito individual ou coletivo, ou ainda a
ameaça, a norma também garante o acesso à justiça por intermédio de outros meios
alternativos de solução de conflitos, como é o caso da arbitragem e da mediação.
Em nossa opinião, o legislador quis deixar claro que na arbitragem há exercício da
jurisdição. Não há que se falar aqui que haveria violação ao princípio da inafastabilidade
do controle jurisdicional porque são as partes que optam pela resolução dos conflitos
perante a arbitragem. A sentença arbitral deve ser respeitada pelas partes, devendo ser
promovido o cumprimento de sentença, perante o Poder Judiciário. A norma também
abarca a mediação como forma alternativa de solução consensual de conflitos.
A mediação é um método de solução de conflitos em que um terceiro, neutro e imparcial
chamado mediador facilita a comunicação entre pessoas envolvidas no conflito, na busca
de seus interesses e na identificação de suas questões, visando obter uma composição
satisfatória para ambas. Nesse sentido, Roberto Portugal Bacellar ensina que
o respeito à vontade dos interessados, ressaltando os pontos positivos de cada um dos
envolvidos na solução da lide, para ao final extrair, como consequência natural do
processo, os verdadeiros interesses em conflito.14.
Conforme, o §3º do artigo 165 do CPC/15
O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior
entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em
conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por
si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.
Também é preciso asseverar que o art. 3º garante o acesso à justiça a todos, inclusive aos
necessitados. Desta forma, o acesso à justiça é permitido com assistência judiciária
gratuita.
Por outro lado, o órgão julgador não pode deixar ao desamparo, sob pena de ferir também
o princípio que garante o acesso à justiça, inúmeros conflitos de interesses simplesmente
porque o jurisdicionado, com evidente impedimento de defesa de direitos, não poderá
arcar com os altos custos do processo. O inciso LXXIV, art. 5º da Carta Magna, garante o
direito aos necessitados de obter a integral assistência judiciária gratuita.
Não podemos nos conformar com um formal acesso à justiça, mas sim devemos exigir
acesso efetivo e pleno, em que se possibilite o acesso à justiça e em que o Estado cumpra
seu dever de prestar assistência integral e gratuita aos declaradamente pobres, dentre
outras garantias constitucionais.15
Assim, compete ao Estado-Judiciário dar efetividade não somente ao art. 5º, inciso XXXV,
da CF, mas também ao princípio da isonomia, consagrado no caput do mesmo
dispositivo constitucional e também ao art. 3º, da CF/88, que preceitua que dentre
os objetivos fundamentais da República estão a redução das desigualdades sociais e a
discriminação.
Percebe-se, pois, que esses princípios se completam, garantindo o irrestrito acesso ao
Judiciário, propiciando a efetividade dos valores fundamentais do Estado de Direito e a
busca da Justiça Social.
Além disso, não pode o juiz deixar de prestar a tutela jurisdicional quando estiver em
dúvida quanto à ocorrência dos fatos discutidos na causa ou quanto à existência do direito
e, muito menos, pode deixar de julgar sob o argumento de que inexiste lei que regule a
matéria posta em juízo. Se não há provas suficientes para atestar a veracidade dos fatos
alegados, deve-se usar a regra do ônus da prova. Além disso, tanto quanto possível deve o
órgão julgador deixar sua atitude passiva e tomar à frente de sua missão, determinando,
ainda que de forma supletiva à atividade das partes, a realização das provas necessárias
para a elucidação dos fatos, inclusive com a efetivação da inspeção ocular, tão deixada de
lado na prática forense. Se não há norma regulando a hipótese constante dos autos, deve o
juiz, por meio do sistema de preenchimento de lacunas, produzir a lei reguladora do caso
concreto, baseando-se não somente nas regras de hermenêutica, mas também, e
principalmente, na realidade social.
E mais, para se garantir o acesso à justiça de forma efetiva, a sentença deve ser
fundamentada nos termos previstos no art. 489 do CPC/15, conforme abaixo será
demonstrado.
2.3. Princípio da duração razoável do processo e da primazia do mérito e da efetividade da tutela
O art. 4º consagra, na lei infraconstitucional, o princípio da razoável duração do processo,
previsto no art. 5º,inciso LXVIII, da CF.
A Emenda Constitucional 45/2004 trouxe a previsão do princípio da razoável duração do
processo, previsto no art. 5º, LXXVIII, que reza: “A todos, no âmbito judicial e
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam
a celeridade de sua tramitação” e, a partir de então, a preocupação do Estado passou a ser
apenas com a busca da celeridade processual.
Mas urge que se passe a refletir se, em nome desse princípio, devemos deixar de lado os
demais direitos e garantias processuais insertos na constituição federal. É mais vantajoso
ter um processo rápido ou um processo em que se possa ter segurança jurídica de que um
mínimo de garantias constitucionais será respeitado.A celeridade a qualquer preço não
deve ser o objetivo a ser alcançado pelo Poder Judiciário. De fato, não se pode admitir que
a tutela jurisdicional seja prestada de qualquer maneira, com desapego total à forma e
deixando de lado a garantia de um processo justo apenas para obtê-la de forma célere.
Na verdade, buscar a razoável duração do processo é tarefa muito mais árdua e complexa
do que simplesmente pretender obter um processo célere apenas com o enxugamento de
incidentes e técnicas processuais garantidoras do acesso à justiça e do contraditório e
ampla defesa. O Judiciário deve primar por garantir a eficácia dos direitos e garantias
fundamentais, proferindo decisão rápida e justa e, assim, cumprindo o princípio da
duração razoável do processo para, em consequência, buscar a harmonização social. É
preciso entender que um processo moroso, prolongado indevidamente além do tempo
necessário, é processo também injusto.
Nesse sentido, temos a experiência italiana, em que um processo que se arrastou por
longos anos deu início a uma série de processos contra o Estado, em que os cidadãos
apoiados na Corte Europeia pleitearam reparação de danos causados pela demora
inadmissível. Depois de vários processos com esse objetivo, primeiro foi modificada a
Constituição da República Italiana, alterando-se a redação do art. 111, que
teve feição de política legislativa, dirigida mais ao legislador do que à criação de direito
novo ao cidadão, bem como de permitir aos juízes interpretarem a lei de forma a
considerar inconstitucionais quaisquer atividades inócuas e que representassem atraso na
atividade jurisdicional, além de dar aspecto constitucional ao direito de "duração razoável
do processo".16
Conforme afirma Paulo Hoffman, em estudo sobre a experiência italiana,
Diante da necessidade de se introduzir lei específica no ordenamento interno italiano
sobre o dever de indenizar aquele que sofra prejuízo em decorrência da duração
exagerada do processo, após uma primeira tentativa infrutífera, em 24 de março de 2001,
foi aprovada lei com a previsão da justa reparação em caso de violação do prazo razoável
de duração do processo e de modificação do artigo 375 do Código de Processo Civil.
Divididaem dois capítulos e composta de sete artigos, a Lei Pinto trata em seu capítulo
primeiro, denominado "Definizione immediata del processo civile", somente da
modificação da redação do artigo 375 do Código de Processo Civil italiano, enquanto no
capítulo segundo, intitulado "Equa Riparazione", apresenta o escopo da lei, o
procedimento, o prazo e as condições de interposição da ação que vise à reparação, a
forma de publicação e ciência da sentença, norma transitória e a disposição orçamentária
dirigida à previsão de verbas para pagamento das futuras eventuais condenações.17
Andolina, ao tratar do tema, define comos marginais os danos advindos da injustificada
demora do processo que venha a prejudicar as partes18.
No entanto, é preciso ter presente que o órgão julgador, em nome da celeridade
processual, não pode deixar de lado as garantias fundamentais consagradas na
Constituição Federal, assegurando o devido processo legal, o contraditório e a ampla
defesa, a igualdade das partes, a imparcialidade e a efetividade da tutela, mas sem usar do
arbítrio para a sua obtenção.
Nesse sentido, Luiz Guilherme Marinoni ensina que
(...)quando se pensa na técnica processual capaz de garantir a efetividade da tutela do
direito, não é possível esquecer da esfera jurídica do réu. Se é possível escolher a técnica
processual capaz de dar proteção ao direito, não há como admitir que essa escolha possa
prejudicar o demandado. Isso quer dizer que a utilização da técnica processual, diante da
norma processual aberta, tem a sua legitimidade condicionada a um prévio controle, que
considera tanto o direito do autor, quanto o direito do réu.19
Portanto, um conflito de interesses não deve ser, de forma alguma, resolvido pelo órgão
julgador primando apenas pelo princípio da celeridade processual. Não adianta de nada
justiça rápida que não traga efetividade para a tutela, de forma justa, em que se
desprezem as demais garantias constitucionais e os direitos fundamentais, notadamente o
princípio do devido processo legal.
Realmente, jamais o princípio da celeridade processual deve ser visto como desvinculado
dos demais direitos fundamentas como a igualdade das partes, contraditório e ampla
defesa, imparcialidade, fundamentação das decisões judiciais, entre outros. Portanto, não
podem ser aceitas e devem ser consideradas nulas quaisquer normas processuais que
autorizem o órgão julgador a, em nome da celeridade, afastá-las das demais garantias
previstas na Carta Magna.
Assim, devemos compreender como duração razoável para a prestação jurisdicional
efetiva o tempo que for estritamente necessário para que o processo chegue a seu termo,
com a decisão devidamente executada. Deve-se permitir, assim, que o órgão julgador
tenha tempo suficiente para realizar adequada cognição, bem como para que permita que
as partes tenham pleno exercício de sua defesa. O que não se pode admitir é que o tempo
adequado seja extrapolado, uma vez que quanto maior o tempo para que o processo
chegue a seu término, maior será a instabilidade das partes, gerando insegurança jurídica
que depõe contra o estado democrático de direito.           
Além do princípio da razoável duração do processo, o artigo 4º consagra também o
princípio da primazia do mérito.
Esse princípio prevê que o Judiciário deve procurar, ao máximo, resolver o mérito das
demandas que lhes são submetidas à apreciação. Para tanto, devem determinar o
saneamento dos vícios existentes, ainda que considerados insanáveis. A nulidade do
processo ou a extinção sem julgamento do mérito devem ser decretadas apenas quando
não exista a menor possibilidade de saneamento.
Esse princípio deixa claro que o instrumento não é mais importante que o direito
material. No entanto, o desapego completo à forma no processo não é recomendado, sob
pena de se permitir juízos autoritários. Por isso, deve haver um limite para que se deixe a
forma de lado. Esse limite é o princípio da instrumentalidade das formas. A nulidade
somente será deixada de lado se o ato processual viciado tiver atingido sua finalidade,
bem como se não houver prejuízo para as partes.
Um exemplo disso foi a novidade trazida pelo CPC/15 nos artigos 338 e 339, que
permitem a correção da ilegitimidade passiva. Veja-se que, antes considerada nulidade
insanável, que causaria de imediata a extinção do processo, sem resolução do mérito, a
ilegitimidade passiva poderá ser corrigida pela técnica trazida por esses dispositivos,
permitindo ao autor trocar o polo e, inclusive, trazer terceiro para responder
conjuntamente com o réu. Outros exemplos da aplicação do princípio da primazia do
mérito são a norma constante do art. 139, IX, pelo qual o juiz, na condução do processo,
poderá determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros
vícios processuais, os arts. 321, 319,§§2º e 3º, 811, 932, parágrafoúnico, 968,§5º, II,
1.007,§7º, 1.032,bem como o art.1.029, § 3º,o STF ou o STJ poderá desconsiderar vício
formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave.
De outra parte, o art. 4º também retrata o princípio da efetividade, que é decorrente do
princípio do devido processo legal. O Estado tem o dever de prestar a tutela jurisdicional
de modo eficiente, ou seja, deve proporcionar ao jurisdicionado a tutela que foi pleiteada,
na forma como foi requerida.
2.4. Princípio da boa-fé
O artigo 5º do CPC/15 estabelece o princípio da boa-fé processual, em decorrência
do princípio da boa-fé estabelecido pelo direito material no art. 422 do Código
Civil.
O conceito de boa-fé objetiva decorre do art. 3º, I, da CF, e impõe norma de
conduta aos sujeitos do processo. Trata-se, na verdade, de considerar se a conduta das
partes ou do juiz está de acordo com o direito.
O princípio da boa-fé processual foi inspirado no conceito de boa-fé trazido pelo código de
defesa do consumidor, bem como pelo Código Civil, notadamente na seara do direito
das obrigações e contratos.
De fato, Fredie Didier afirma que se deve trazer o conceito de boa-fé do direito material e
analisá-lo como norma objetiva. Afirma que “não se pode confundir o princípio (norma)
da boa-fé com a exigência de boa-fé (elemento subjetivo) para a configuração de alguns
atos ilícitos processuais, como o manifesto propósito protelatório, apto a permitir a tutela
provisória prevista no inciso I do art. 311 do CPC. A boa-fé subjetiva é elemento do
suporte fático de alguns fatos jurídicos; é fato, portanto. A boa-fé objetiva é uma norma de
conduta, impõe e proíbe condutas, além de criar situações jurídicas ativas e passivas. Não
existe princípio da boa-fé subjetiva. O art. 5º do CPC não está relacionado à boa-fé
subjetiva, à intenção do sujeito processual: trata-se de norma que impõe condutas em
conformidade com a boa-fé objetivamente considerada, independentemente da existência
de boas ou más intenções”.20
O fundamento constitucional do princípio da boa-fé é o próprio princípio do devido
processo legal21, que inclui, como visto, todos os direitos e garantias fundamentais, mas
também abarca a eficiência na prestação da tutela jurisdicional e o comportamento ético
pelas partes, terceiros e, enfim, todos que participam do processo, inclusive os auxiliares
da justiça. Todos eles são destinatários da norma. Além disso, o princípio da boa-fé está
implicitamente contido no princípio da dignidade da pessoa humana, que exige que os
valores éticos e morais sejam observados para obtenção de uma sociedade justa e
solidária.
No dever de boa-fé em relação a partes e terceiros inclui-se o dever de dizer a verdade, de
não criar embaraços e atitudes procrastinatórias.
Entendemos que o juiz deve ser alcançado por esse princípio, pois o Estado tem o dever de
agir com lealdade e boa-fé. Um bom exemplo de descumprimento desse princípio pelo
Estado-Juiz é a chamada jurisprudência defensiva. O Judiciário, no lugar de cumprir suafunção de prestar a tutela jurisdicional, com eficiência, prefere consagrar jurisprudência
que tem a única e exclusiva finalidade de impedir o acesso à justiça para assim desafogar
os tribunais.
A boa-fé prevista no art. 5º do NCPC impede comportamentos e alegações incongruentes e
contraditórios da mesma parte em relação a processos distintos, o chamado venire contra
factum próprio, porque seriam comportamentos contraditórios e ilícitos. Um exemplo
seria a parte admitir sua ilegitimidade ad causam num processo e impugnar tal alegação
da outra parte em outro processo.
Portanto, podemos concluir com Humberto Theodoro Junior que o princípio da boa-fé
consiste “em exigir do agente que pratique o ato jurídico sempre pautado em valores
acatados pelos costumes, identificados com a ideia de lealdade e lisura”.Com isso, confere-
se segurança às relações jurídicas, permitindo-se aos respectivos sujeitos confiar nos seus
efeitos programados e esperados.22
Uma questão que surge é saber em que medida a boa-fé objetiva prevista no art. 5º pode
constituir um limite ao exercício do direito ao contraditório. Entendemos que agir de boa-
fé não leva necessariamente a uma limitação do contraditório. Existe uma linha muito
tênue que separa o direito de defesa do abuso do direito de defesa. Assim, se a parte usa
atitudes procrastinatórias, temerárias, tecendo alegações mentirosas, está, com isso,
abusando do direito de defesa. Então, se o princípio da boa-fé traz limites, não há que se
falar que o princípio do contraditório em si estaria sendo limitado.
2.5. Princípio da cooperação/colaboração
O art. 6º do CPC/15 traz importante inovação, estabelecendo o princípio da
cooperação.
Reza o art. 6º que “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se
obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”.
O princípio da cooperação tem por base a junção dos princípios do devido processo legal,
da boa-fé processual e do contraditório e da ampla defesa, além de se relacionar com
todas as demais normas fundamentais previstas no CPC/15. Colaboração entre as
partes não significa que uma ajudará a outra no sentido de produzir as provas, cujo ônus
caberia a cada qual. Longe disso, o que se quer é que cada parte contribua o máximo
possível, produzindo as provas de suas alegações. Exige-se que as partes tenham
comportamento ético, que não falseiem a verdade, que não pratiquem atitudes
procrastinatórias e temerárias, que ajam com boa-fé, deixando de praticar atos
contraditórios, como o venire contra factum próprio. Na verdade, o princípio da
cooperação está intimamente ligado, garantindo às partes um maior protagonismo na
realização do processo, proporcionando a elas oportunidades e participação ativa na
solução dos conflitos e efetividade da tutela. Um exemplo é a permissão de as partes
poderem alterar o procedimento por meio dos negócios jurídicos processuais.
Quanto ao órgão julgador, o princípio da cooperação determina que tem ele o dever de
propiciar para as partes a efetividade da tutela a ser assim prestada com eficiência. O juiz
deve fornecer os meios necessários para a localização do réu, mandando expedir ofícios
para as repartições públicas, por exemplo. Deve fazer o mesmo, na fase de cumprimento
de sentença, no sentido de localizar bens a serem penhorados. Deve ser diligente na
prolatação dos pronunciamentos que lhe cabem, evitando a morosidade. Deve colaborar,
no que toca ao direito probatório, de forma ativa (e não ativista), no sentido de tentar
chegar o mais próximo possível do que seria a verdade, mas de forma subsidiária à
atividade das partes. Com isso quer se dizer que as partes devem requerer as provas, mas
o juiz, dentro dos requerimentos feitos, pode determinar todos os meios de provas
adequados para a busca da verdade.
Portanto, tal princípio preconiza a cooperação de todos os sujeitos do processo para a
efetiva busca pela justiça, redimensionando o princípio do contraditório com a
participação efetiva das partes na busca da verdade, as quais terão o direito de influenciar
na convicção do juiz. E mais, por ele, o juiz deixa de ser mero espectador do conflito entre
as partes, para passar a ter uma participação mais ativa como sujeito do diálogo
processual. Assim, há um redimensionamento do contraditório que passará a ser mais
valorizado porque deixará de ser apenas uma regra formal para ser instrumento
indispensável no aprimoramento da decisão judicial. Busca-se uma condução cooperativa
do processo pelo juiz e pelas partes, sem que haja destaques entre um ou outro, mas com
vivo e intermitente diálogo a ponto de se poder dizer que a sentença será fruto das
discussões travadas ao longo de todo o processo.Todavia, não haverá paridade no
momento de proferir a decisão, eis que as partes não decidem com o juiz, pois esta
atividade é manifestação do poder.
Em nosso sentir, o princípio da colaboração funciona como alternativa ao antagonismo
garantismo processual e ativismo judicial23. De fato, não concordamos com o
entendimento de parcela da doutrina24 no sentido de que o princípio da boa-fé em
consórcio com o da cooperação incrementaria práticas judiciais ativistas, possibilitando
atitudes discricionárias e arbitrárias. O juiz, como sujeito da cooperação no processo, não
exerce poder, mas sim dever de prestar a tutela jurisdicional de modo eficiente. Assim,
jamais o juiz poderá, em nome da colaboração, agir com discricionariedade ou abuso de
poder. Primeiro que o juiz deve agir com imparcialidade, zelar pela paridade de armas e
proporcionar o contraditório participativo. Então, sua atividade encontra limites nas
próprias garantias constitucionais. O agir do juiz se dá, como exposto acima, no sentido de
contribuir, dentro dos limites impostos pela constituição federal, com o dever de
proporcionar tutela jurisdicional eficiente.
2.6. Princípio da isonomia e contraditório participativo
O art. 7º assegura às partes o princípio da isonomia, igualdade ou paridade de tratamento,
devendo o juiz zelar pelo efetivo contraditório.
Como se vê, o legislador entrelaçou de forma sistemática e integrativa os princípios da
cooperação, isonomia e contraditório.
Assim, para ser efetivo o contraditório é preciso que o órgão julgador garanta a paridade
de armas, a qual não pode ser estabelecida de forma meramente formal, mas sim zelar
pelo efetivo equilíbrio processual.
O princípio da isonomia tem perfil constitucional, estando consagrado no art. 1º da
Constituição Federal. Todos têm direito ao tratamento igualitário no âmbito judicial. Antes
de tudo, é preciso lembrar que esse direito fundamental deve ser analisado em suas duas
subdivisões, quais sejam, igualdade formal, que estabelece direitos iguais aos iguais e a
igualdade substancial, que garante direitos iguais aos iguais e direitos desiguais aos
desiguais na exata medida de suas desigualdades. Assim, algumas normas do Código de
Processo Civil, como os artigos 53, inciso II e III, alínea e, 180 e 229 do NCPC, além de
normas constantes de legislação esparsa, como a previsão de tratamento prioritário ao
idoso, inserta no Estatuto do Idoso, são manifestações da igualdade substancial.
A norma consagra também o contraditório participativo, em que as partes devem ter o
direito de influir na decisão judicial. Um exemplo da aplicação da norma que manda o juiz
zelar pelo efetivo contraditório é aquela inserta no art. 139, VI, que reza:
O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: VI –
dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de  prova,
adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do
direito.
Portanto, esse princípio deve ser interpretado de modo sistemático e, por isso, analisado
juntamente com os arts. 9º e 10 do CPC/15. Esses dispositivos contêm normas
que se complementam. Senão, vejamos.
O art. 9º estabeleceque o juiz não poderá proferir qualquer pronunciamento contra uma
das partes sem que ela seja previamente ouvida. Já o art. 10 determina que o juiz não pode
decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se
tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a
qual deva decidir de ofício.
Referidos dispositivos nada mais estabelecem do que o contraditório participativo. As
partes têm o direito de influir na decisão judicial e tais normas deixam isso assente.
O art. 10 obstaculiza as chamadas decisões surpresa, aquelas que são tomadas pelo juiz
sem dar qualquer oportunidade de as partes se manifestarem e trazerem fundamentos
capazes de influenciar na decisão que o juiz proferirá. Cria-se, assim, para o juiz, um
dever de consulta. 
Uma questão que surge seria saber se o exercício do contraditório participativo, na forma
como prevista nos arts. 9º e 10 do CPC/15, contraria o princípio da duração
razoável do processo previsto no art. 4º do mesmo diploma legal.  Em nosso sentir, não
contraria porque o princípio da duração razoável do processo não significa celeridade a
qualquer preço, deixando de lado garantias constitucionais como o contraditório acima
salientado. O processo não tem que ser rápido. Deve demorar o tempo adequado à solução
do caso. Ao contrário, ambos os princípios devem ser entendidos como complementares. O
processo deve terminar no menor tempo possível, mas sempre respeitando as garantias
constitucionais. O contraditório é reflexo do princípio democrático na estruturação do
processo. Democracia é participação. Exigência para o exercício democrático de um poder:
é participação e possibilidade de influir na decisão.
O parágrafo único do art. 9º traz as seguintes exceções, que, parecem-me, são também
exceções ao disposto no art. 10, a saber:
I – à tutela provisória de urgência;
Obviamente, para que as tutelas provisórias de urgência tenham eficiência e atinjam o seu
desiderato, é imprescindível que sejam deferidas de imediato. Não há como esperar pela
resposta do réu. Assim, devem ser deferidas sem ouvir a parte contrária. Imagine-se o
caso de o pedido se referir a uma cirurgia de urgência. Se for dado o direito ao
contraditório, o dano poderá ser irreparável porque a pessoa poderá vir a falecer, caso
não se realize a cirurgia. Então, entre dois direitos igualmente relevantes, o juiz deverá
optar por aquele de maior envergadura.
II – às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;
Entendemos que não há nenhuma inconstitucionalidade nas hipóteses dos incisos II e III
do art. 311 do CPC/15. Nesses casos, o limite ao contraditório se justifica porque,
em nosso sentir, não há necessidade de se aquilatar se as atitudes do réu foram eivadas de
abuso do direito de defesa, se houve prática de ato procrastinatório, bastando ao órgão
julgador verificar a existência de tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em
súmula vinculante, além de prova documental, ou, se se trata de pedido reipersecutório,
fundado em prova documental adequada do contrato de depósito. Portanto, entendemos
que nessas hipóteses é plenamente cabível a concessão de tutela de evidência em caráter
antecedente.25
Portanto, nada do que o réu viesse a alegar poderia modificar a decisão do juiz quanto
àliminar a ser concedida.
III – à decisão prevista no art. 701.
O artigo 701 trata da ação monitória, sendo que a decisão referida na norma é a que
determina a expedição do mandado monitório. Trata-se de verdadeira tutela da evidência,
eis que o mandado somente será deferido mediante prova documental juntada ou
produzida de forma antecipada. Além disso, nesse caso não haverá prejuízo para o réu, eis
que se o mesmo optar por contestar o pedido, no lugar de pagar, a monitória tomaráo
procedimento comum.
2.7. Princípio da dignidade da pessoa humana e proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a
publicidade e a eficiência
No art. 8º vislumbramos vários princípios juntos, relacionados e unificados pela norma.
De fato, reza o referido dispositivo que:
Art. 8ºAo aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do
bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
Essa norma repete o conteúdo do art. 5º da LINDB, que é regra de hermenêutica, ou seja,
de interpretação. Não haveria necessidade de ter essa norma na lei processual, eis que a
própria constituição federal já determina os princípios aqui inseridos para a
administração, em que o Poder Judiciário está incluído. Assim, é evidente que os juízes já
devem observar esses ditames no exercício de suas funções. No entanto, o dispositivo
corrige uma inadequação da norma constante no citado art. 5º da LINDB, substituindo lei
por ordenamento jurídico, o que está correto.
O dispositivo ainda se refere à dignidade da pessoa humana, proporcionalidade e
razoabilidade.
Nelson Nery Jr. afirma que “A regra incide na aplicação, pelo juiz, de todo o ordenamento
jurídico brasileiro, onde estão contidos os princípios gerais do direito, a lei, a súmula
vinculante do STF, a jurisprudência dos tribunais, a analogia e os costumes. O magistrado
deve buscar a aplicação do direito observando os fins sociais e o bem comum, aliado aos
princípios constitucionais mencionados no dispositivo comentado”.26.
Trata-se, na verdade, de regra de decisão e não para o processo.
Conforme já asseveramos em outro artigo27, o juiz, quando presta a tutela jurisdicional,
cumpre uma função social que pode vir a causar grande impacto para a sociedade e, por
isso, deve ter consciência de seu papel. Assim, a finalidade da norma é exortar o juiz a ter
ciência disto. Já o conceito de bem comum é vago, muito relativo. E claro que, como
assevera João Batista Lopes, não se pode converter o processo em instituição de filantropia
ou caridade oficial28, mas deverá sempre fornecer assistência judicial para garantir o
equilíbrio processual com a paridade de armas e meios de defesa.
Conforme leciona Alexandre Freitas Câmara, o princípio da dignidade da pessoa humana,
previsto no art. 1º, III, da Carta Magna, deve ser entendido como a garantia de que cada
pessoa natural será tratada como insubstituível, devendo ser respeitado o valor intrínseco
de cada vida, eis que a mesma será afetada pelo resultado do processo, pelo que as partes
têm direito de estabelecer as melhores estratégias de defesa.29.
A dignidade da pessoa humana deve ser observada pelos órgãos julgadores no momento
de mandar cumprir suas decisões. Assim é que, ao realizar o despejo ou uma reintegração
de posse, o juiz deve evitar a violência, ainda que possa contar com o auxílio de força
policial. Deve, ainda, zelar, para que as pessoas a serem despejadas ou retiradas do local a
ser desocupado não sejam humilhadas, principalmente proporcionando meios para que
seus bens não fiquem jogados na rua, mas sim encaminhados a um lugar por elas
informado ou para um depositário público. A vedação da penhora sobre bem de família
também rende ensejo a esse princípio e, assim, todos os dispositivos que cuidam da
impenhorabilidade. É, em função desse princípio também que os idosos e os acometidos
por doenças como câncer e Aidsdevem ter tratamento prioritário.
Princípio da legalidade tem fundamento constitucional e está previsto no art. 5º, inciso II,
da CF, que reza que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa,
senão em virtude da lei.
Marcelo Magalhães Bonício ensina que “a principal função desse princípio é a de proteger
as pessoas de atos estatais que promovam a limitação de liberdades ou direitos, sem que
exista lei a respeito.”30
Proporcionalidade e razoabilidade, normalmente, são tratadas como se fossem um mesmo
princípio, como alerta LeonardoCarneiro da Cunha31, ao afirmar que:
tudo leva a crer que, em um primeiro exame, não haveria distinção entre
proporcionalidade e a razoabilidade, consistindo num mesmo instrumento de limitação
do Poder Estatal. A diferença entre eles residiria apenas nos fundamentos em que cada
um se apóia. É exatamente por isso que despontam autores que não vêem diferença entre
proporcionalidade e razoabilidade, já que estariam destinados à mesma finalidade: coibir
o arbítrio do Poder Público, invalidando leis e atos administrativos caprichosos, contrários
à pauta de valores encampada pela Constituição (...). A razoabilidade trata da legitimidade
da escolha dos fins em nome dos quais o Estado irá agir, enquanto proporcionalidade
averigua se os meios são necessários, adequados e proporcionais aos fins escolhidos.
E arremata: “na aplicação tanto da razoabilidade quanto da proporcionalidade há um
juízo de ponderação. E a ponderação exige fundamentação detalhada com a demonstração
dos critérios utilizados, tal como exigido pelo art. 489, §2º do CPC/15.”
Assim, podemos dizer que a norma inserta no art. 8º, de certa maneira, fundamenta o
princípio da ponderação.
Quanto à publicidade, decorre do art. 93, inciso IX, da CF, tratando-se de princípio que
também é previsto no artigo 11 do CPC/15.
No que tange à eficiência, o princípio tem assento constitucional no art. 37, que se aplica
também ao Judiciário. Não só a administração dos órgãos que compõem o judiciário deve
ser eficiente, como também a própria prestação da tutela jurisdicional, que deve ser
efetiva, proporcionando meios de se alcançar justamente aquilo que foi pleiteado e não
qualquer outra coisa em seu lugar.
Uma questão que surge seria saber se esse rol de exceções trazidas pelo art. 9º seria
exauriente, ou seja, esgota todas as hipóteses em que o juiz poderia decidir sem dar direito
ao contraditório?
A resposta deve ser afirmativa, eis que o contraditório é direito fundamental previsto na
constituição federal. Assim, o rol de exceções não pode ser interpretado de modo
ampliativo. Na verdade, não poderíamos deixar de fora as liminares previstas nos
procedimentos especiais e nas leis esparsas, como é o caso do mandado de segurança.
Assim, se considerarmos tais liminares abarcadas pelas tutelas provisórias, eis que não
deixam de ser, o rol é exauriente e deve ser considerado taxativo.    
É certo que há os casos de improcedência liminar em que, penso,deve-se dar o direito ao
contraditório. Teresa Arruda Alvim, Rogério Licastro Torres de Mello, Leonardo Ferres da
Silva Ribeiro e Maria Lúcia Lins Conceição consideram que não seja exceção ao art. 9º
porque o réu que não será ouvido é beneficiado32. O fato é que nas decisões de
improcedência liminar o juiz deve dar o direito do autor se manifestar sobre tal
possibilidade de julgamento
Essa norma fundamental também está lastreada no art. 5º da CF, que prevê o
princípio da isonomia.
O artigo 11 repete norma inserta no artigo 93, inciso IX da CF, prevendo dois
princípios conjuntamente: publicidade e fundamentação das decisões judiciais. Tais
princípios devem ser observados, sob pena de nulidade do processo.
Sobre a publicidade, já foi tratado acima.
Quanto à necessidade de fundamentação das decisões judiciais, verificamos que,
juntamente com a publicidade,énecessária a manutenção do estado de direito. É por
meioda fundamentação que o jurisdicionado poderá controlar a atividade judicial. Não
fosse assim, poderíamos estar sujeitos a um judiciário arbitrário.
Então, essa exigência nada mais é que a própria manifestação do estado democrático de
direito. Veja-se que esse princípio está diretamente relacionado com o princípio da
colaboração, sob o enfoque do órgão julgador.
Fundamentação é a justificação feita pelo juiz dos motivos que o levaram ao
convencimento de como deveria decidir.
O juiz, na fundamentação, analisa todas as questões levantadas, pelas partes, na inicial,
contestação, réplica e demais petições, declarando se as acolhe, ou não, se as considera
infundadas, ou não. O juiz analisa os fundamentos jurídicos envolvidos na questão,
embasando-se na lei, jurisprudência, doutrina, analogia, costumes, princípios gerais do
direito, etc., mesmo que não sejam trazidos pelas partes, a fim de formar sua convicção. É
também na fundamentação que o julgador exterioriza e concretiza o princípio do
convencimento motivado, apreciando as provas produzidas. O juiz fará a valoração das
provas fixando o conjunto fático que embasará a aplicação do direito no caso concreto e
justificará as consequências jurídicas que entenda advindas desses fatos. Sem
fundamentação, a sentença será nula. O dever de fundamentação das decisões, sob pena
de nulidade, está previsto no art. 93, IX, da CF.
O novo CPC delimita expressamente como deve ser feita a fundamentação das decisões
judiciais, a saber:
§ 1ºNão se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, que:
I – se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua
relação com a causa ou a questão decidida;
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V – se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.
As determinações elencadas no art. 489 nada mais são que necessárias para a prestação da
tutela jurisdicional devida. O juiz tem o dever de fundamentar, sendo apenas isso que
exige o dispositivo em comento.
Nesse sentido, Leonardo Carneiro da Cunha afirma que
todas as decisões judiciais devem ser fundamentadas. O dever de fundamentação é
exigência do devido processo legal, decorrendo do princípio do contraditório. Daí a
imbricação entre o dever de fundamentação, o dever de consulta e a vedação à decisão
surpresa. ( CPC, arts. 9º e 10). A concretização da regra constitucional da motivação
é, em nível infraconstitucional, feita no art. 489 do CPC, com detalhamento e
explicitação do que não se considera como fundamentação adequada. A falta de
motivação adequada acarreta a invalidade da decisão.33
2.8. Ordem cronológica
Por fim, mas não menos importante, está o estabelecimento de ordem cronológica,
previsto no art.12, que reza;
Art. 12. Os juízes e os tribunais deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão para
proferir sentença ou acórdão.
§ 1ºA lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição
para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores.
§ 2ºEstão excluídos da regra docaput:
I – as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência
liminar do pedido;
II – o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em
julgamento de casos repetitivos;
III – o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas
repetitivas;
IV – as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932;
V – o julgamento de embargos de declaração;
VI – o julgamento de agravo interno;
VII – as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça;
VIII – os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal;
IX – a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão
fundamentada.
§ 3ºApós elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológicadas conclusões
entre as preferências legais.
§ 4ºApós a inclusão do processo na lista de que trata o § 1º, o requerimento formulado
pela parte não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto quando implicar a
reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em diligência.
§ 5ºDecidido o requerimento previsto no § 4º, o processo retornará à mesma posição em
que anteriormente se encontrava na lista.
§ 6ºOcupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1ºou, conforme o caso, no § 3º, o
processo que:
I – tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade de realização
de diligência ou de complementação da instrução;
II – se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II.
A norma inserta no art. 12 tem por função privilegiar o aspecto da transparência em
relação à atividade do poder judiciário, bem como da isonomia. Por isso, entendemos que
o fundamento constitucional para a ordem cronológica aqui estabelecida está no art. 5º,
caput, da CF, bem como podemos dizer que expressa manifesta aplicação do princípio
da razoável duração do processo.
O problema aqui é colocar em prática. Isto porque há processos que são mais complexos
que outros. Assim, corre-se o risco de processos mais simples, que poderiam ser julgados
em menor tempo, demorarem mais para obter decisão, em razão da demora do órgão
julgador em apreciar o caso mais complexo que estava na frente. Parece que o rol de
exceções não esgota todas as possibilidades práticas que deverão ocorrer na vida real.
Além disso, é certo que o juiz precisa de certa margem de liberdade para organizar seu
cartório. Foi justamente por isso que na versão definitiva do novo CPC constou a
palavra preferencialmente. Isso quer dizer que o juiz pode ter o discernimento de
extrapolar a ordem, quando entender necessário. Mas é evidente que sempre terá que
fundamentar sua decisão. Assim, todas as vezes que a ordem cronológica for alterada pelo
juiz, deverá ele se pronunciar, justificando sua decisão.
Ressalte-se que, como observa Cassio Scarpinella Bueno, a norma em comento não tem a
mesma envergadura das demais normas fundamentais. Diz ele que há certo exagero do
legislador nesse ponto porque o art. 12 deve ser compreendido como regra de organização
do gabinete dos magistrados, com vistas a criar maior publicidade no gerenciamento dos
processos prontos para proferir sentença ou acórdão.34.
Por fim, entendemos que a ordem cronológica de julgamento, tendo sido estabelecida para
o fim de trazer maior isonomia e sendo bem administrada pelo juiz, não seria prejudicial à
efetividade do processo.
3. Conclusão
Podemos concluir, no presente estudo, que as normas fundamentais podem ser princípios
ou regras estabelecidas para que o modelo constitucional do processo civil seja cumprido,
preservando-se o Estado Democrático de Direito.O legislador escolheu 12 delas, posto que
são muitas. A escolha do legislador pelas normas fundamentais retratadas nos referidos
dispositivos se deu por razões políticas, no sentido de deixar claro, até de forma didática,
que urge que se pense o direito processual civil com base na Constituição Federal e no
modelo de processo ditado por ela. Isso fica evidente da análise mais apurada de referidas
normas fundamentais.
Outra conclusão que se extrai do presente estudo é que todas as normas fundamentais
escolhidas pelo legislador estão interligadas de modo que se completam. Uma não coexiste
sem a outra. Todas juntas configuram o mínimo de que o Estado Juiz deve se pautar para
cumprir o dever de prestar a tutela jurisdicional de forma zelosa e eficiente.
 
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MARINONI,Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. O novo processo
civil. São Paulo:Revista dos Tribunais, 2015.
MONNERAT, Fábio Vitor da Fonte. Introdução ao estudo do direito processual civil. São
Paulo: Saraiva, 2015.
NERY JR., Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria de. Código de Processo Civil comentado. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
NERY JR., Nelson.Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. São Paulo:Revista
dos Tribunais, 1995.
PICO I JUNOY, Joan. El debido proceso leal.Revista Peruana de Derecho Procesal, Lima,
2006, v. 9.
SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de direito processual civil.São Paulo: Saraiva, 2015.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Forense,
2015, v.1.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; TORRES DE MELLO,
Rogerio Licastro; SILVA RIBEIRO, Leonardo Ferres da. Primeiros comentários ao Novo
código de Processo Civil:artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
Pesquisas do Editorial
A JURISPRUDÊNCIA DEFENSIVA NO STJ À LUZ DOS PRINCÍPIOS DO ACESSO
À JUSTIÇA E DA CELERIDADE PROCESSUAL, deGustavo Fávero Vaughn -
RePro 254/2016/339
NORMAS FUNDAMENTAIS DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL:
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES DE APLICAÇÃO PELO EXAME DO
CONTRADITÓRIO, de Viviane Lemes da Rosa - RIDP 3/2016/
GARANTIAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO SOB A ÓTICA DA
INFORMATIZAÇÃO JUDICIAL, de Henrique de Moraes Fleury da Rocha -
RePro 267/2017/129
NOTAS DE RODAPÉ
1
Essa parece ter sido a razão da substituição do título do capítulo de Princípios e garantias
fundamentais nos termos que constavam do projeto do Senado pelo título Normas Fundamentais,
presente na versão definitiva do novo CPC, Lei 13.105, de 16.03.2015.
2
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e teoria da constituição. 7. ed, Coimbra:
Almedina, 2004, p. 1.160-1.161.
3
Nesse sentido, MONNERAT, Fábio Vitor da Fonte. Introdução ao Estudo do Direito Processual Civil.
São Paulo: Saraiva, 2015, p. 136-137
4
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 17.
ed. 2004, p. 842.
5
É preciso ressaltar que, em nossa opinião, entre as normas fundamentais escolhidas pelo
legislador, na verdade, temos 11 delas que revelam tratar-se de princípios, mas o art. 12, na
verdade, caracteriza-se como regra.
6
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. O novo processo civil.
São Paulo: RT, 2015, p. 167.
7
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério, São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 39-46.
8
SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 38.
9
Nesse sentido, Nelson Nery Jr. salienta que: “Em nosso parecer bastaria a norma constitucional
haver adotado o princípio do dues process of law para que daí decorressem todas as
consequências processuais que garantiriam aos litigantes o direito a um processo e sentença justa.
É por assim dizer o gênero do qual todos os demais princípios são espécies.” NERY JR., Nelson.
Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. São Paulo: RT, 1995, p. 27.
10
NERY JR., Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. São Paulo: RT, 1995, p. 29-30.
11
NERY JR., Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. São Paulo: RT, 1995, p. 33.
Paulo Henrique dos Santos Lucon, no mesmo sentido, afirma que “A questão que se coloca hoje é
saber como os princípios e as garantias constitucionais do processo civil podem garantir uma
efetiva tutela jurisdicional aos direitos substanciais deduzidos diariamente. Ou seja, não mais
interessa apenas justificar esses princípios e garantias no campo doutrinário. O importante hoje é
a realização dos direitos fundamentais e não o reconhecimento desses ou de outros direitos”, e
ensina que o devido processo legal substancial diz respeito à limitação ao exercício do poder e
autoriza ao julgador questionar a razoabilidade de determinada lei e a justiça das decisões
estatais, estabelecendo o controle material da constitucionalidade e da proporcionalidade. Devido
Processo legal substancial, artigo publicado em 16.06.2005. Disponível em:
www.mundojuridico.adv.br/sis_artigos/artigos.asp?codigo=6.Acesso em: 15.11.2010.
12
DINAMARCO, Candido Rangel. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Malheiros, 2001,
p. 94.
13
Nesse sentido, está a opinião de Paulo Eduardo Alves da Silva, em As normas fundamentais do
novo código de processo civil. In: O Novo Código de Processo Civil, questões controvertidas. São
Paulo, Atlas, 2015, p. 303.
14
BACELLAR, Roberto Portugal. A mediação no contexto dos modelos consensuais de resolução de
conflitos. Revista de Processo. São Paulo, n. 95, p. 122-134, jul./set. 1999, p. 128.
15
GIMENEZ, Vanessa Aparecida Pelhe. Uma reflexão constitucional acerca da revelia e os poderes
do juiz na análise de seus efeitos. In: Os poderes do juiz e o controle das decisões judiciais. São
Paulo: RT, 2008, p. 328.
16
Conforme relata HOFFMAN, Paulo. O direito à razoável duração do processo e a experiência
italiana. Disponível em: [https://jus.com.br/artigos/7179/o-direito-a-razoavel-duracao-do-processo-
e-a-experiencia-italiana]. Acesso em: 07.09.2016, às 19h15.
17
HOFFMAN, Paulo. O direito à razoável duração do processo e a experiência italiana. Disponível em:
[https://jus.com.br/artigos/7179/o-direito-a-razoavel-duracao-do-processo-e-a-experiencia-
italiana]. Acesso em: 07.09.2016, às 19h15.
18
“Ma, per il momento, è opportuno mettere da parte queste considerazioni e concentrare
l’attenzione sul danno che l’attore subisce nelle more del procedimento: esso può
convenientemente definirsi come ‘marginale’, in quanto va progressivamente ad aggiungersi a
quello eventualmente già sofferto anteriormente alla proposizione della domanda". ANDOLINA,
Italo. "Cognizione" ed "esecuzione forzata" nel sistema della tutela giurisdizionale.Milano: Dott. A.
Giuffrè Editore, 1983, p. 17.
19
MARINONI, Luiz Guilherme. A legitimidade da atuação do juiz a partir do direito fundamental à
tutela jurisdicional efetiva. In: Os poderes do juiz e o controle das decisões judiciais. São Paulo: RT,
2008, p. 232.
20
DIDIER, Fredie. Curso de direito processual civil. Salvador: JusPodivm. 18. ed. 2016, p. 108.
21
Nesse sentido, JUNOY, Joan Pico I. El debido proceso leal. Revista peruana de derecho procesal.
Lima: Palestra, 2006, v. 9, p. 345 e ss.
22
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p.
78-79, v. 1.
23
Já tratamos disso em outro artigo intitulado A cooperação como alternativa ao antagonismo
garantismo processual e ativismo judicial.In: Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro.n.
90. Belo Horizonte: Fórum, 2015, p. 73-84.
24
Por todos, DELFINO, Lúcio.Cooperação processual pode incrementar ativismo judicial. Disponível
em: [www.conjur.com.br/2016-mai-02/cooperacao-processual-cpc-incrementar-ativismo-judicial].
25
Conforme já expusemos no texto intituladoTutelas provisórias de urgência no novo CPC:
remanesce a necessidade de distinção entre antecipadas e cautelares?In: BUENO, Cassio
Scarpinella; MEDEIROS NETO, Elias Marques; NETO, Olavo de Oliveira; COZZOLINO DE OLIVEIRA,
Patricia Elias; SANTOS LUCON, Paulo Henrique dos. (coord.).Tutela provisória no novo 
CPC.São Paulo: Saraiva, 2016, p. 43-57.
26
NERY JR. Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria de. Código de Processo Civil Comentado. 16. ed. São
Paulo: RT, 2016, p. 221.
27
AURELLI. Arlete Inês. Função social da jurisdição e do processo. In: ZUFELATO, Camilo;
YARSHELL, Flávio Luiz. (coord.). 40 anos de teoria geral do processo no Brasil, passado, presente e
futuro. São Paulo: Malheiros, 2013.
28
LOPES, João Batista. Tutela Antecipada. São Paulo: Castro Lopes, 2016, p. 73.
29
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2016, p. 13.
30
BONÍCIO, Marcelo Magalhães. Princípios do processo no novo Código de Processo Civil. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 38.
31
CARNEIRO DA CUNHA, Leonardo. Comentários ao Código de Processo Civil. In: STRECK, Lenio
Luiz; NUNES, Dierle; CARNEIRO DA CUNHA, Leonardo; FREIRE, Alexandre (Coord.). São Paulo:
© edição e distribuição da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA.
Saraiva, 2016, p. 48-49.
32
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; TORRES DE MELLO, Rogerio
Licastro; SILVA RIBEIRO, Leonardo Ferres da.Primeiros Comentários ao Novo código de Processo
Civil, artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 66.
33
CARNEIRO DA CUNHA, Leonardo. Comentários ao Código de Processo Civil. In: STRECK, Lenio
Luiz; NUNES, Dierle; CARNEIRO DA CUNHA, Leonardo; FREIRE, Alexandre (Coord.). São Paulo:
Saraiva, p. 56.
34
BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 91.

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