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Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil NORMAS FUNDAMENTAIS NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Fundamental rules in the new Civil Process Code Revista de Processo | vol. 290/2019 | p. 95 - 132 | Abr / 2019 DTR\2019\26182 _______________________________________________________________________ Eduardo Cambi Pós-Doutor em Direito pela Università degli Studi di Pavia. Doutor e Mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) e da Universidade Paranaense (UNIPAR). Membro da Academia Paranaense de Letras Jurídicas. Assessor da Procuradoria-Geral de Justiça do Paraná. Coordenador do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF) do Ministério Público do Paraná. Promotor de Justiça no Estado do Paraná. eduardocambi@hotmail.com. Adriane Haas Mestre em Direito Processual Civil pela Universidade Paranaense (UNIPAR). Professora da Universidade Paranaense (UNIPAR). Analista Judiciária do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. adrianehaas@prof.unipar.br. Nicole Schmitz Mestranda em Direito Processual e Cidadania pela Universidade Paranaense (UNIPAR). Bolsista do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares – PROSUP/CAPES. nika.schmitz@hotmail.com. Área do Direito: Constitucional; Civil; Processual Resumo: O Código de Processo Civil de 2015 disciplinou, no Capítulo I, as normas fundamentais do processo civil, com a finalidade de fazer com que o novo código e todos os operadores do direito observem os valores e princípios constitucionais. A legislação infraconstitucional aprofunda a abordagem dos direitos fundamentais, buscando atribuir validade a todo direito processual, como efeito produzido pelo neoconstitucionalismo e pelo neoprocessualismo. A interpretação constitucional de todo o sistema jurídico deve sobrepor os direitos previstos na legislação infraconstitucional, a fim de que se possam efetivar as garantias processuais fundamentais. Palavras-chave: Código de Processo Civil – Direitos fundamentais processuais – Neoprocessualismo – Princípios do processo civil – Hermenêutica Abstract: The Code of Civil Procedure of 2015 disciplined in Chapter I the fundamental norms of civil procedure, consecrating the design of making the new code and all the operators of the law observe the constitutional values and principles. The infraconstitutional legislation deepens the approach to fundamental rights, seeking to assign validity to all procedural law, as an effect produced by neo-constitutionalism and Página 1 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil neoprocessalism. The constitutional interpretation of the entire legal system must override the rights set forth in the new version of the civil procedure, so that fundamental procedural guarantees can be realized. Keywords: Code of Civil Procedure – Fundamental procedural rights – Neoprocessalism – Principles of civil procedure – Hermeneutics Sumário: 1 Introdução - 2 A construção do novo processo civil na vigência da Constituição Federal de 1988 - 3 Conclusão - 4 Referências 1 Introdução O Novo Código de Processo Civil foi elaborado na égide do Estado Constitucional. A Constituição Federal de 1988 traça as diretrizes mais importantes para a construção do processo civil, as quais constituem regras valorativas, interpretativas e assecuratórias de direitos processuais mínimos, e que devem ser materializadas indistintamente em um Estado que se coaduna com os ideais democráticos. A nova legislação processual apresenta referidas garantias no Capítulo I, que aborda as normas fundamentais do processo civil. Porém, a consagração de tais institutos também pode ser verificada ao longo do texto, uma vez que a parte inicial do CPC/2015 não contempla, exaustivamente, todas as garantias processuais. Por isso, correto o Enunciado 369 do Fórum Permanente de Processualistas Civis ao concluir: “O rol de normas fundamentais previsto no Capítulo I do Título único do Livro I da Parte Geral do CPC não é exaustivo”. Às partes têm assegurado o direito de participar ativamente do processo, desde o exercício da ação, resguardado o contraditório e a ampla defesa. O CPC/2015 ressalta a importância da boa-fé e amplia o caráter colaborativo do processo, vinculando os magistrados, que devem cooperar com as partes, evitar provimentos surpresas e motivar adequadamente as decisões judiciais. Os contornos principiológicos, inseridos no novo CPC, permitem o desenvolvimento processual em um ambiente favorável à promoção da democracia e da paz social. O processo também possui um caráter pedagógico, devendo-se intensificar as interpretações que atribuem efetividade aos princípios do processo civil, os quais devem ser ponderados na utilização de qualquer norma integrante do sistema jurídico brasileiro, o que acaba por potencializar tanto o neoconstitucionalismo quanto o neoprocessualismo. 2 A construção do novo processo civil na vigência da Constituição Federal de 1988 O processo civil foi moldado, no CPC/73, para resolver conflitos individuais, principalmente causas referentes à propriedade, às relações contratuais e familiares, ainda sob a égide do Estado Liberal. No entanto, após a promulgação da Constituição Página 2 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil Federal de 1988, considerada “Constituição Cidadã”, já fruto de um Estado Social, o processo tornou-se um espaço para a efetivação dos direitos fundamentais1. Mudanças nos planos normativos, científicos, tecnológicos e sociais ensejaram a elaboração do Código de Processo Civil de 2015. Alterações jurídicas ocorreram principalmente com a entrada em vigor de diplomas como a Lei do Divórcio (Lei 6.515/1977), a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/1985), a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990), o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) e o Código Civil (Lei 10.406/2002). O aperfeiçoamento científico foi resultado do crescimento do ensino jurídico no País, a partir da década de 80 do século passado, que, com a entrada em vigor da nova Constituição da República, destacou a força normativa dos princípios e a expansão da jurisdição constitucional. A revolução tecnológica das últimas décadas, impulsionada pela disseminação dos computadores, dos smartphones e da internet, transpassaram o processo civil, tornando imprescindível a criação de instrumentos eletrônicos para a tramitação de processos e para a prática de atos processuais. A mais rápida comunicação também foi acompanhada pela universalização do acesso à Justiça, em decorrência do crescimento econômico, da sociedade de consumo e da massificação social2. Os direitos fundamentais sofreram a interferência de mudanças das condições históricas, isto é, dos interesses de classes, das relações de poder e dos meios disponíveis à sua efetivação. Por exemplo, o direito à propriedade, que foi considerado direito absoluto no século XVIII, precisou ser ajustado para que pudesse atender a sua função social. O direito está em permanente transformação. Constantemente, emergem novas pretensões, como o direito de respeitar a vida dos animais e não só dos homens3. Em um Estado Constitucional, o Código de Processo Civil deve ter como viés a máxima realização dos direitos fundamentais processuais. Por conseguinte, as técnicas processuais devem concretizar o direito fundamental à tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva4. Qualquer legislação deve se coadunar aos parâmetros trazidos na Constituição. O sistema do processo civil brasileiro está construído em uma concepção de unidade, que provém da noção de processo justo, estatuído pela máxima efetivação dos direitos fundamentais processuais5. Todavia, para que cumpra esseescopo6, é necessário que as normas processuais estejam orientadas para consagrar a proteção desses direitos, por meio de técnicas abrangentes, como a dos precedentes vinculantes, e, de maneira particular, com a resolução das controvérsias de forma justa, célere e efetiva7. O direito ao processo justo impõe deveres de natureza legislativa, judiciária e executiva. A legislação infraconstitucional precisa densificar o direito ao processo justo, ou seja, Página 3 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil deve estruturar um processo apto a efetivar os direitos constitucionais. Já à Administração Pública, incluindo a judiciária, compete interpretar e aplicar a legislação civil em conformidade com a garantia fundamental ao processo justo8. Para que se observe a garantia do “devido processo legal” (art. 5º, LIV, da CF), compreendida como a garantia-síntese do processo justo, a técnica processual precisa respeitar garantias como a do contraditório, da imparcialidade do juiz, da publicidade e da motivação das decisões judiciais. É, pelo cumprimento dessas garantias, que o exercício da jurisdição se legitima9. Desse modo, o intérprete da legislação processual deve ter como standard hermenêutico os valores e os princípios constitucionais, pois o processo é o espaço de materialização dos fundamentos inerentes ao Estado Democrático de Direito e de comportamentos que devem orientar a relação entre as partes e da própria função jurisdicional10. O novo Código de Processo Civil reproduz e especifica vários princípios e garantias constitucionais em sua Parte Geral, mas não esgota o assunto, uma vez que, ao longo de todo o seu texto, é possível identificar seus efeitos11. O CPC/2015 concretiza uma abordagem neoconstitucional do processo civil, concepção esta que pode ser extraída logo de seu primeiro dispositivo, que apresenta o processo civil ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e normas fundamentais estampados na Constituição Federal. Trata-se de regra que, expressamente, imprime a construção de um processo civil enraizado com os direitos fundamentais12. A nova legislação processual foi moldada pelo caráter dirigente da Constituição de 1988, ao contrário do CPC/73, implementado durante a ditadura militar no Brasil (período entre 1 de abril de 1964 até 15 de março de 1985). O neoprocessualismo é uma concepção metodológica que procura incluir e efetivar as disposições constitucionais acerca dos direitos e das garantias fundamentais no processo civil, a fim de que irradie seus valores a todo ordenamento jurídico, além de buscar construir uma pedagogia de aplicação do direito processual civil para abalizar a justa atuação do Estado-juiz e dos demais sujeitos processuais13. Por isso, o CPC/2015 inaugurou um capítulo inicial especialmente destinado às normas fundamentais do processo civil. A alusão expressa aos direitos fundamentais corresponde ao desejo do legislador de atribuir maior eficácia ao processo brasileiro, buscando superar a sua morosidade e ineficácia14. Não se trata somente de novos artigos dispostos no começo do vigente código, mas da tentativa de provocar mudanças culturais, com a finalidade de alcançar alterações estruturais nos órgãos judiciários e na filosofia processual dos sujeitos que atuam no processo, além de promover a inserção de valores e princípios constitucionais como alicerces dos institutos e das técnicas processuais15. Portanto, o novo Código de Processo Civil foi estruturado para que os dispositivos iniciais emanem a direção que deve tomar a interpretação das regras seguintes, de cunho Página 4 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil especialmente procedimental, para fazer com que todos os artigos estejam condizentes com a estrutura principiológica fundamental16. Os direitos fundamentais processuais possuem extensões subjetiva e objetiva. Em seu aspecto subjetivo, atribuem posições jurídicas de vantagem a seus titulares, enquanto que na concepção objetiva são entendidos como valores básicos que devem ser consagrados na ordem jurídica, influenciando tanto na interpretação quanto na aplicação do direito processual civil17. Acrescenta-se que os princípios que disciplinam direitos fundamentais têm aplicação imediata, conforme prevê o art. 5º, § 1º, da CF, razão pela qual se extrai que o legislador deve elaborar regras processuais em consonância e suficientes para garantir a tutela das relações jurídicas. Com efeito, o legislador optou por deixar os direitos fundamentais processuais em evidência no CPC/2015, positivando princípios e garantias que representam os valores mais importantes para a coletividade18. As normas fundamentais devem ser lidas antes de qualquer outro dispositivo da codificação, a fim de que isso possa influir na resolução dos casos concretos. Interpretar as normas processuais exige ultrapassar o formalismo e adentrar nos problemas da vida. Diante disso, deve-se considerar o litígio apresentado que necessita ser solucionado pela norma jurídica, juntamente com os valores constitucionais. Afinal, a hermenêutica surge da integração entre os fatos, os valores e as normas, a serem interpretados e aplicados para a justa solução dos casos concretos. O CPC/15 também deixa claro que o processo civil deve ser inteiramente compreendido à luz da Constituição Federal19, para que se possa efetivar o direito à igualdade (art. 5º, I, da CF), o acesso à tutela jurisdicional adequada, célere e efetiva (art. 5º, XXXV, da CF), do juiz natural (art. 5º, LIII, da CF), o devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF), o respeito ao contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, da CF), bem como assegurar a razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, da CF)20 -21 . Logo, o CPC/2015, ao promover o neoconstitucionalismo, possibilita a extinção de lacunas normativas, ontológicas e axiológicas, tornando o novo regramento processual um centro instrumental e inspirador para a justa solução dos processos22. 2.1 Neoconstitucionalismo O Brasil, juntamente com outros países, como Portugal e Espanha, teve seu processo de democratização tardiamente e, por isso, o fenômeno do neoconstitucionalismo ocorreu apenas nas últimas décadas. Em 1988, a Constituição Federal passou a ser o centro do ordenamento jurídico, possuindo, além de superioridade formal, hierarquia axiológica, em decorrência da normatividade dos princípios, do pluralismo de concepções e da abertura do sistema jurídico23. Do centro do sistema foi retirado o Código Civil, que perdeu a unidade diante de suas diversas áreas de especialização, o que possibilitou o surgimento de inúmeras leis Página 5 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil específicas e de microssistemas autônomos, como em matéria relacionada ao direito do consumidor, às sociedades empresariais e nas questões atinentes à criança e adolescente. O neoconstitucionalismo alterou a teoria das fontes do direito e a teoria da norma jurídica, ocasionando significativas modificações na forma de interpretar e aplicar o direito. Em razão da lei não ser a única fonte do direito e ocupar posição inferior à Constituição, cabe ao intérprete a construção da norma jurídica. Essa transformação repercutiu no modo de interpretação do Direito, ganhando primazia os princípios constitucionais24. Os princípios são normas genéricas, indeterminadas (necessitando ser interpretados para que haja sua efetivação), de caráter programático, que detêm posição elevada em comparação às outras fontes do Direito e ocupam localização fundamental. São, pois, as normas “fundantes” do sistema jurídico25. No estágio jusnaturalista, não se concedia força normativa aos princípios, apesar de já existir a concepção de princípios gerais do direito, que nadamais eram do que verdades objetivas provenientes da lei divina e humana, e dogmas que continham o ideal de justiça. Já na era juspositivista, os princípios eram fontes subsidiárias e constituíam orientações que provinham da própria lei. De igual modo, não tinham normatividade e seu valor era extraído abstratamente das leis26. No neoconstitucionalismo ou pós-positivismo, os princípios tornam-se base do sistema jurídico e passam a ser compreendidos como valores normativos, inseridos predominantemente nas Constituições e, por isso, possuem eficácia suprema27. A constitucionalização do direito ocorreu, sobretudo, em virtude de três fatores: o reconhecimento da força normativa da Constituição, a nova hermenêutica constitucional e a expansão da jurisdição constitucional (por meio do controle de constitucionalidade difuso e concentrado). Esse fenômeno disseminou a aplicação das normas constitucionais, promovendo a difusão de sua noção axiológica para todo o direito nacional. O cumprimento dos princípios constitucionais gera a validade e atribui sentido à ordem jurídica28. Compreender a lei a partir dos direitos fundamentais significa inverter a lógica da ideia de que esses direitos dependem da lei, pois são as leis que têm a sua validade circunscrita aos direitos fundamentais, além de só admitirem interpretações que a eles estejam adequadas29. A lei deve ser interpretada de acordo com a Constituição, ou seja, se o julgador se deparar com mais de uma interpretação ao mesmo dispositivo legal, deverá escolher a que conceda maior efetividade aos preceitos constitucionais. Assim, trata-se de uma forma de filtrar as possíveis interpretações sobre uma mesma regra jurídica, para que sobressaia a que melhor se ajuste à Constituição. Tal atividade é conhecida como interpretação de acordo com a Constituição Federal30. Página 6 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil Por outro lado, a técnica de interpretação conforme a Constituição Federal tem a finalidade de eliminar uma interpretação inconstitucional e instituir interpretação que outorgue constitucionalidade à norma. Portanto, trata-se de técnica de controle de constitucionalidade31. Isso não significa que o juiz pode decidir com base em critérios que não os legais, mas livres ou alternativos. Pela hermenêutica constitucional, cabe ao juiz: a) realizar o controle in concreto de constitucionalidade das leis, podendo deixar de aplicar a regra que considere inconstitucional; b) interpretar a lei de maneira a atribuir um sentido que a faça atender aos fins sociais a que se dirige e às exigências do bem comum32. Lenio Streck afirma que para interpretar é preciso inicialmente compreender a lei, e que a compreensão é adquirida aplicando-a. Logo, a interpretação não é mais feita com a finalidade de compreender o significado e o alcance de dispositivos legais, o que gera a conclusão de que a interpretação é um trabalho de produção e não de mera reprodução33. O ativismo judicial adota uma maneira de interpretar que coloca a consciência ou a convicção pessoal como elemento norteador do juiz. Por isso, na prática forense, estão cada vez mais frequentes interpretações subjetivistas da lei, a visão de que a sentença é um ato de vontade do magistrado, a crença de que o juiz deve fazer a ponderação de valores segundo os seus próprios valores e a cisão estrutural entre regras e princípios, permitindo o preenchimento do caso concreto por meio do “sentido” extraído pelo intérprete34. Lenio Streck entende que o protagonismo judicial aprova teses pelas quais a interpretação do direito depende de um sujeito cognoscente, isto é, o julgador, que utiliza nesta atividade o seu próprio senso de justiça e os valores sociais de determinada época35 para obter uma solução de suprimento de lacunas e o significado para cláusulas gerais36. Para que o ativismo judicial seja superado, é preciso reprimir o primado epistemológico do sujeito e o solipsismo teórico da filosofia da consciência, assim como impedir que o juiz faça correções morais de leis “defeituosas”. Apesar disso, o Poder Judiciário não deve aplicar lei contrária à Constituição, já que o controle de constitucionalidade dos atos normativos é inerente à jurisdição (art. 5º, inc. XXXV, da CF)37. Entretanto, quando os juízes averiguam a inconstitucionalidade de uma norma, concretizam um princípio jurídico, preenchem uma omissão jurídica ou mesmo quando fiscalizam o exercício de uma política pública não usurpam funções de outros agentes públicos38, quando estão respaldados pela Constituição, especialmente quando tais decisões estão sedimentadas em precedentes construídos legitimamente pelo debate público e institucionalizados pela interpretação da Corte Constitucional39. Página 7 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil Desse modo, o Poder Judiciário possui legitimidade para atribuir efetividade aos direitos fundamentais; caso contrário, seria ignorar o papel da jurisdição constitucional na concretização do Estado Democrático de Direito. Contudo, a liberdade do juiz não é absoluta, pois encontra-se balizada pela interpretação sistemática da Constituição e das leis. Em julgamento de casos difíceis, os chamados hard cases, não havendo regra estabelecida no ordenamento, o juiz está autorizado a agir, com a finalidade de descobrir a resposta satisfatória para o caso concreto. Ademais, a jurisdição constitucional é igualmente capaz de consertar os atos inconstitucionais emanados das autoridades políticas, o que confere inclusive a sua função contramajoritária, já que a maioria não pode amesquinhar os direitos das minorias. Portanto, a legitimação da jurisdição surge do próprio sistema jurídico, que não exclui a possibilidade de os juízes deixarem de aplicar uma lei, para poderem fazer prevalecer o império da Constituição40. 2.2 Normas fundamentais do processo civil 2.2.1 Inércia da jurisdição e impulso oficial O processo inicia-se pela busca da parte pela tutela jurisdicional. A demanda é a primeira expressão do exercício do direito de ação, uma vez que até então a jurisdição encontrava-se inerte. O princípio da inércia da jurisdição é a outra face do princípio da demanda, encontrando- se ambos os princípios positivados no art. 2º do CPC/2015. Assim, havendo a provocação pelas partes, o processo prosseguirá por impulso oficial41. Esse art. 2º do CPC/2015 provém do princípio da autonomia da vontade das partes, considerando que depende unicamente de sua escolha e conveniência submeter os litígios que participe ao Estado-juiz. O magistrado, dessa forma, não pode iniciar a ação de ofício e, consequentemente, proceder a prévios juízos de valor, tornando-o um princípio garantidor da imparcialidade do juiz42. Não há como um processo existir sem que a parte submeta ao Poder Judiciário seu conflito de interesse. O processo não se inicia sozinho, mas por meio da manifestação de interesse da parte43. Contudo, há previsão no direito brasileiro da instauração de incidentes de ofício, como em relação ao conflito de competência (art. 951), ao incidente de resolução de demandas repetitivas (art. 976) e a arguição de inconstitucionalidade (art. 948)44. Tendo em vista que o Estado-Juiz, como regra, não possui poder de postulação, sua intervenção como fomentador da atividade jurisdicional é excepcional. Porém, o Judiciário não deve ser absolutamente indiferente e inerte, uma vez que poderá, por exemplo, agir de ofício para conceder tutela cautelar, como decretar a separação de corpos do casal até a solução do divórcio, ou determinar as medidas necessárias à Página 8 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil satisfação do exequente, no cumprimentode sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou não fazer, para a efetivação de tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente (art. 536). A manifestação ex officio é verificada quando se busca resguardar o direito de postulação da parte que se encontra em posição desfavorecida no processo45 ou para assegurar a efetividade da decisão judicial. 2.2.2 Garantia da inafastabilidade da jurisdição A Constituição Federal preconiza que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV). Em vista disso, compete aos órgãos jurisdicionais a efetiva e adequada administração da Justiça, sendo que toda ação judicial deve ser analisada por uma autoridade competente e dela auferir um pronunciamento acerca da existência e da possibilidade de promoção do direito apontado46. Além de assegurar o acesso às vias judiciais, tal garantia igualmente assevera a prestação de tutela adequada e efetiva, sem prejudicar a autocomposição dos conflitos, demonstrando-se eficiente quanto à satisfação do direito material. Essa garantia foi contemplada no art. 3º do CPC. O CPC/2015 permite a escolha de outros caminhos além da via judicial, como a arbitragem (art. 3º, § 1º) e de métodos consensuais (art. 3º, §§ 2º e 3º). O novo CPC, contudo, prevê e regulamenta apenas alguns exemplos de formas de autocomposição, mas não exclui outros meios atípicos de pacificação social (como a justiça restaurativa, constelações sistêmicas, dispute boards, partening etc.)47. Dessa forma, deve-se prestigiar e incentivar todos os instrumentos de soluções equilibradas de controvérsias, por provocar menor desgaste emocional às partes e economia de tempo para o desfecho da desavença48. Por exemplo, havendo homologação por sentença de acordo sobre partilha de bens em divórcio consensual, não há violação à coisa julgada se as partes, maiores e capazes, posteriormente ao ajuste consensual, convencionam de forma diversa sobre a partilha de seus bens privados e disponíveis, sendo descabível a ação anulatória quando ausente litígio, erro ou vício do consentimento. Isso porque a desjudicialização dos conflitos e a promoção do sistema multiportas de acesso à justiça deve ser incentivado, inclusive como forma de estimular a solução consensual, os métodos autocompositivos e o uso de mecanismos adequados de solução de controvérsias49. No art. 3º, § 1º, do CPC/2015, o legislador incluiu a arbitragem como forma de exercício da jurisdição. Optando as partes em apresentar seu problema à arbitragem, não se viola a garantia constitucional do acesso à justiça (art. 5º, inc. XXXV, da CF)50, uma vez que os próprios demandantes escolhem a arbitragem e, consequentemente, não se trata de limitação provocada pelo Poder Judiciário51. Outro exemplo de manifestação da garantia em análise é a fixação de taxas em valor Página 9 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil exagerado52. Para facilitar o acesso à tutela jurisdicional adequada, o sistema jurídico pátrio se vale da garantia da assistência judicial gratuita, consagrada no art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal. Por força dela, os hipossuficientes têm assegurado seu acesso à jurisdição, mediante a isenção de custas processuais e a superação de eventuais obstáculos financeiros ou de informação53. 2.2.3 Garantia da razoável duração do processo A garantia da razoável duração do processo constitui desdobramento da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF), uma vez que a tutela realizada pelo Poder Judiciário deve ser capaz de realizar o que o ordenamento jurídico garante à parte54. Foi incluída no art. 5º, LXXVIII, da CF, pela Emenda Constitucional 45, de 2004, pois a tutela jurisdicional deve ser capaz de outorgar, com celeridade, aquilo que a parte tem razão de obter55. No CPC/2015, tal garantia está prevista no art. 4º. Entretanto, ressalta-se que o magistrado não pode ferir garantias fundamentais consagradas na Constituição Federal, como o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa, a igualdade das partes, a imparcialidade e a efetividade da tutela, para buscar a qualquer custo a celeridade na tramitação da demanda56. A duração razoável do processo é o tempo necessário para que o magistrado, seguindo o procedimento previsto em lei, possa proferir decisão e, posteriormente, vê-la cumprida, disponibilizando de período necessário para que proceda a atividade cognitiva, além de permitir que as partes usufruam de todas as prerrogativas que o ordenamento jurídico lhes concede. É preciso superar a demora na prestação jurisdicional, porque ela causa sacrifício do direito das partes e o enfraquecimento político do Estado. Contudo, perante à complexidade da matéria e ao comportamento das partes, a celeridade nem sempre é possível, como também nem sempre é saudável para a qualidade da prestação jurisdicional. Diante disso, não se deve confundir duração razoável do processo com celeridade do procedimento, porque a solução rápida, mas não criteriosa, pode prejudicar os direitos fundamentais das partes, bem como comprometer o bom resultado da prestação jurisdicional57. A garantia da razoável duração do processo deve servir para combater o abuso do direito processual. Nesse sentido, o Ministro Dias Toffoli, no ARE 1.049.903, aplicando a garantia fundamental da razoável duração do processo, concedeu tutela da evidência, fundada no abuso do direito de defesa (art. 311, I, do CPC/15), diante da reiteração de recursos protelatórios pela defesa quando o direito pleiteado já encontrava-se reconhecido em primeira e segunda instância e em diversas decisões do STF, preocupando-se com a gestão do tempo de sua tramitação e com o “dano marginal” do processo58. O art. 4º do CPC/15 assegura que a resolução da demanda e também a atividade satisfativa aconteçam em prazo razoável, porque não basta que o processo prossiga em prazo razoável até a prolação da sentença, mas igualmente na fase seguinte, de Página 10 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil concretização do direito reconhecido judicialmente, a prestação jurisdicional seja demorada59. Por conseguinte, procura-se resolver o mérito das demandas que são submetidas à apreciação do Poder Judiciário, utilizando-se, para este fim, do máximo saneamento dos vícios existentes (CPC/15, arts. 139, inc. IX, 317 e 938, § 1º)60. Ademais, a nulidade do processo ou a resolução sem julgamento do mérito devem ser decretadas apenas quando não houver a menor possibilidade de correção dos atos processuais61. Essa orientação está consagrada no art. 282, § 2º, do CPC/15, ao prever que o juiz, sempre que puder decidir no mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da nulidade, deve ignorar o vício formal e proferir decisão de mérito. O dispositivo demonstra a prevalência do julgamento de mérito aliada ao princípio da instrumentalidade das formas62. Ainda, destaca-se o art. 1.013, § 3º, do CPC/15, pelo qual o tribunal, ao reformar sentença que não analisou a res in iudicium deducta, consiga superar as questões de ordem meramente formal, para, uma vez que a matéria não tenha sido examinada em primeiro grau de jurisdição, proceder o julgamento do mérito. Nesse sentido, o Enunciado 309 do Fórum Permanente de Processualistas Civis estabelece, nos termos do art. 1.013, § 3º, do CPC/15, que reconhecida a insuficiência da fundamentação sentença, que o tribunal decretará a sua nulidade e, estando o processo em condições de imediato julgamento (isto é, não sendo necessária a produção de provas; CPC/15, art. 355), decidirá desde logo o mérito da causa. De igual modo, o art. 1.021, § 1º, do CPC, ao exigir que, na petição do agravo interno, o recorrente impugne especificamenteos fundamentos da decisão agravada, sob pena do recurso ser declarado manifestamente inadmissível e ser aplicado ao agravante multa entre um e cinco por cento do valor da causa (art. 1.021, § 4º, do CPC), é um corolário da garantia da razoável duração do processo63. O Conselho Nacional de Justiça, por sua vez, editou a Resolução 202, de 27.10.2015, para, em conformidade com o disposto no art. 940 do CPC/2015, reafirmar que o prazo para a devolução dos processos (judiciais e administrativos) com pedido de vistas é de, no máximo, vinte dias, sob pena de o presidente do órgão fracionário requisitar os autos, incluí-lo na pauta e se o julgador ainda assim não se sentir habilitado para votar, convocar o seu substituto legal. Em decorrência da garantia da duração razoável do processo, menciona-se também o art. 1.048, I, do CPC/2015, que confere prioridade de tramitação aos processos em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 anos ou portadora de doença grave. 2.2.4 Princípio da boa-fé processual A boa-fé objetiva representa “uma norma de conduta”, de observância a todos que participam da relação processual, consistindo em “um agir pautado pela lealdade” 64. O art. 5º do CPC/2015 traz o princípio em seu bojo65. Página 11 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil O CC/2002 passou a exigir um comportamento ético e leal das partes e do próprio Estado-juiz, sendo importante a sua consagração no novo Código de Processo Civil66. O princípio em questão manifesta-se por meio de uma cláusula geral, de conteúdo jurídico aberto, exigindo, portanto, maior atividade interpretativa para sua adequação ao caso concreto67. A boa-fé objetiva não necessita da demonstração de intenção ou propósito do agente68, pois está baseada na expectativa de comportamento do homem médio acerca de determinada circunstância. Portanto, se refere a um padrão comportamental esperado do ser humano que atua com honestidade, lealdade e probidade69. O princípio da boa-fé objetiva não pode ser afastado por iniciativa das partes e não tolera o abuso do direito processual. Por isso, consagra a proibição de comportamento contraditório (nemo potest venire contra factum proprium), seja pelo magistrado, seja pelas partes. A título de exemplo, tem-se que o magistrado não pode indeferir a produção de provas e posteriormente julgar a ação improcedente pela ausência de demonstração dos fatos constitutivos do direito do autor. De igual modo, a parte que escolhe o foro para a propositura da ação e recorre da decisão que declinou da competência de ofício não pode, posteriormente, pugnar pela modificação da competência territorial por ela própria fixada e defendida70. Decorre também do princípio da boa-fé objetiva o dever de mitigar o próprio prejuízo (duty to mitigate the loss). Assim, cabe ao credor tomar as medidas necessárias e possíveis para que os danos gerados à outra parte não sejam ainda mais agravados pela sua inércia, impondo gravame desnecessário e evitável ao patrimônio da outra parte71. Por exemplo, deve o credor indicar outros meios de adimplemento ou não dificultar a prestação do devedor, impedindo o crescimento exorbitante da multa, após ser constatado que o apenamento não logrou êxito em compelir quem deve a realizar a prestação devida, sob pena de perder sua posição de vantagem (Cfr. Enunciado 169 das Jornadas de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal72)73. Sempre que um dos sujeitos processuais violar a boa-fé e praticar um ato gerador de prejuízo a outrem, surgirá o dever de reparar o dano processual causado. Assim, se o agente retém os autos por tempo prolongado ou não dispõe ao juízo documentos que foram solicitados, estará configurada a litigância de má-fé (art. 80, IV, do CPC), ensejadora de sanção processual74. Diante disso, a boa-fé no processo não se trata de um conceito vago, a ponto deixar de dele sobressair os seguintes efeitos: i) estabelecer comportamentos probos e éticos aos diversos personagens do processo (incluindo membros do Ministério Público, juízes e advogados, que devem seguir os atos normativos reguladores de cada profissão); e ii) restringir ou proibir a prática de atos considerados abusivos75. 2.2.5 Princípio da cooperação processual Todos os sujeitos processuais devem interagir e dialogar no processo, a fim de que não se torne um “campo de batalha”. Mesmo que as partes possuam interesses opostos, Página 12 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil devem agir com respeito e boa-fé para que construam um bom relacionamento no decorrer do processo. A tutela jurisdicional prestada não necessita ser célere, quando isso custa o sacrifício da Justiça, mas sim efetiva76. O princípio da cooperação processual foi trazido no art. 6º do CPC/2015: Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. A cooperação processual é uma via de mão dupla: deve existir das partes para com o magistrado, e também do magistrado para com as partes77. Por isso, o órgão judicial deve auxiliar as partes e esclarecê-las sobre os efeitos de seus atos jurídicos, uma vez que ao juiz são impostos os deveres de esclarecimento, prevenção, consulta e auxílio78. Pelo dever de esclarecimento, entende-se que o julgador deve fazer com que as partes elucidem eventuais dúvidas sobre as pretensões ou os argumentos levantados em juízo. Já o dever de prevenção consiste em advertir os litigantes acerca da frustração de seus requerimentos, nos casos, por exemplo, de erro de procedimento ou ausência de pressupostos processuais79. O dever de consulta, por sua vez, traduz-se no diálogo que deve ser criado entre as partes e o juiz, a fim de evitar decisões surpresas (art. 10 do CPC). Ainda, ao juiz cumpre auxiliar as partes, reduzindo os obstáculos que impeçam o exercício de direitos e a observância de deveres processuais80. A cooperação processual é um desdobramento da garantia do contraditório e impõe aos julgadores e às partes um procedimento dialético e dialógico, que assegura aos litigantes o direito de serem ouvidos sobre todas as questões relevantes do processo, mesmo aquelas que podem ser conhecidas de ofício pelo magistrado81. O CPC/2015 visa à construção de decisão judicial a partir da colaboração entre os participantes do processo, porque abandonou a ideia de que o juiz desenvolve isoladamente as atividades de reflexão e julgamento. O trabalho cognitivo deverá ocorrer com interação das partes e com a análise de todos os argumentos do processo82. As partes passam a exercer um contraditório efetivo, com a finalidade de influenciar o julgador na tomada de decisões e, por isso, devem ser realmente ouvidas. O juiz possui o dever de considerar todos os argumentos fáticos e jurídicos capazes de influenciar na decisão, sob pena dela não ser considerada fundamentada (art. 489, § 1º, IV, do CPC)83. A cooperação também atua como forma de fazer com que os órgãos judiciais não decidam diversamente das decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade, enunciados de súmula vinculante, acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos, enunciados de súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, bem como a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados (art. 927 do CPC). Com efeito, deve existir uma cooperação entre os próprios magistrados para a observância dos precedentes judiciais84. 2.2.6 Princípio da igualdade e da paridade de armas Página 13 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil Corolário do art.5º, caput, da CF, o dispositivo previsto pelo art. 7º do CPC/2015 assegura às partes paridade no tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, ao ônus, aos deveres e aplicação de sanções processuais, cabendo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Para tanto, o magistrado deve atuar de maneira imparcial, isto é, deve ser indiferente aos interesses das partes. O princípio da isonomia não deve se restringir a assegurar o tratamento igualitário somente no texto da lei, isto é, não está assegurada apenas a igualdade formal. Essa é insuficiente para assegurar isonomia na complexidade da vida, diante de uma série de circunstâncias que podem ser constatadas nos casos concretos e das transformações sociais. O CPC/2015 retrata a igualdade material em diversas regras jurídicas, com o objetivo de promover maior equilíbrio entre as partes, por exemplo, na distribuição dinâmica do ônus da prova (art. 373, § 1º). Diante da igualdade material, tanto o autor quanto o réu devem ser tratados pelo Estado-juiz de forma paritária, considerando as características e qualidades de cada um85. A igualdade material requer tratamento isonômico na aplicação do direito e não apenas na previsão genérica e abstrata da lei. Isso significa que, se houver distinções relevantes entre as partes, no que diz respeito à sua capacidade financeira, ônus de prova ou de defesa de seus pontos de interesse, a aplicação da paridade levará a um tratamento propositadamente desigual a fim de se garantir o necessário equilíbrio. O tratamento isonômico, sob o ponto de vista material, implica tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, no limite de suas desigualdades. O sistema paritário não permite a injustificada discriminação, porque sempre quando se fizer necessária, deverá ocorrer motivadamente, em sintonia com os valores, princípios e regras constitucionais. A paridade de armas deve ser considerada para assegurar tratamento diferenciado quando assim o exigirem as circunstâncias das partes. Por exemplo, a prioridade na tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, dos procedimentos judiciais em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 anos ou portadora de doença grave (art. 1.048, inc. I, do CPC)86. Privilegiar a simetria entre os direitos, deveres, ônus e faculdades atribuídos às partes ao longo do debate processual, bem como a atribuição de igualdade de tratamento entre autor e réu, servem como parâmetro para a compreensão do significado da paridade de armas87. Por isso, o art. 91 do CPC equiparou a Defensoria Pública ao Ministério Público e a Fazenda Pública, isentando-a do pagamento das despesas processuais, as quais devem ser custeadas ao final pelo vencido. 2.2.7 Princípios da proporcionalidade, razoabilidade, legalidade e eficiência Todos esses princípios foram consagrados no art. 8º do CPC/2015. A proporcionalidade pode ser desmembrada em três elementos: adequação, exigibilidade e proporcionalidade Página 14 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil em sentido estrito. A adequação se manifesta na necessidade de fazer com que a norma jurídica alcance o objetivo pela qual foi criada, enquanto que a exigibilidade se traduz na escolha, para atingir esse escopo, do meio que cause o menor prejuízo possível, entre todos os caminhos disponíveis. Já a proporcionalidade em sentido estrito considera se os benefícios do ato superam os danos por ele gerados88. A proporcionalidade realiza a apuração dos valores que são discutidos na demanda para analisar qual a norma deve incidir sobre a controvérsia, uma vez que muitos casos requerem uma ponderação de interesses para que a prestação jurisdicional seja condizente com as exigências de adequação e necessidade89. A razoabilidade implica a análise do que se pode justificadamente esperar em termos de reação do Poder Judiciário. Por vezes, o efeito jurídico previsto na legislação não é razoável e proporcional e, em vista disso, deve-se recorrer aos valores e aos princípios jurídicos para que essa reação seja suficiente para a resolução eficaz do mérito90. A razoabilidade não se confunde com a proporcionalidade: esta é adotada como critério de solução quando ocorrem conflitos entre direitos fundamentais, ao passo que aquela é entendida como técnica que compatibiliza os meios e fins de um ato. Por exemplo, na verificação das sanções impostas pela prática de ato de improbidade administrativa, cabe ao juiz observar o art. 5º, inc. XLVI, da CF, que exige estreita correspondência entre a responsabilização da conduta do agente e a sanção a ser aplicada, sob pena de violação do princípio da razoabilidade91. Por outro lado, não há razoabilidade nos atos imoderados e abusivos92. O princípio da legalidade deve nortear a atuação do poder público. Entretanto, o império da lei, sem a reflexão crítica, torna mecânica a atuação dos operadores jurídicos. A jurisdição contemporânea não está adstrita a busca do sentido concreto da lei (subsunção dos fatos às normas), mas deve ser norteada pela legalidade em sentido substancial com a finalidade de concretizar os direitos fundamentais93. Assim, a lei deve ser interpretada e aplicada a partir dos valores, princípios e regras constitucionais. Nesse sentido, o julgador está autorizado a utilizar do princípio da proporcionalidade quando efetua o controle da constitucionalidade das leis94. Por exemplo, o STF considerou que a reserva legal de 20% para pessoas negras em concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos, no âmbito da Administração Pública federal direta e indireta, observa o princípio da proporcionalidade95. A eficiência é um dos princípios da Administração Pública, a qual é exigida devido a utilização dos recursos da coletividade e por atuar em prol do bem comum. Por ser o Direito Processual Civil um ramo do Direito Público, este também deve atuar em prol da eficiência da atuação jurisdicional, e, para tanto, utiliza-se de técnicas diferenciadas para realizar o direito material, como a cognição sumária e os precedentes judiciais96. Ainda, nesse sentido, o STF, no Tema 660, sob o argumento da eficiência da prestação jurisdicional, concluiu pela ausência de repercussão geral da questão relativa à suposta violação das garantias do contraditório e da ampla defesa, quando o julgamento da Página 15 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil causa depende da prévia análise da adequada aplicação das normas infraconstitucionais97. 2.2.8 Garantia do contraditório A Constituição Federal, no art. 5º, LV, dispõe que aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes98. Referida garantia foi consagrada nos artigos 9º e 10 do CPC. O direito de ser ouvido, de acordo com o art. 9º do CPC/2015, é a manifestação da garantia fundamental do contraditório e pode ser entendido como direito de receber informações sobre as questões discutidas no processo e de se manifestar sobre elas, trazendo argumentos, produzindo provas e valendo-se dos recursos se assim desejar99. Porém, a compreensão da garantia do contraditório evoluiu, não mais sendo entendido somente como a possibilidade de se manifestar diante do pronunciamento do juiz ou da argumentação da parte contrária, para ser reconhecido como um método dialético e dialógico, voltado a assegurar a participação efetiva dos litigantes na elaboração da decisão judicial. Apesar do desenvolvimento da garantia do contraditório ser inquestionável sob a égide da Constituição Federal de 1988, o processo em sua concepção dialogal se mostrou timidamente nas decisões judiciais na vigência do CPC/1973, pois prevaleceu o entendimento de que o magistradonão era obrigado a se posicionar perante todos os argumentos apresentados pelas partes100. Diante disso, o novo CPC foi aperfeiçoado para afirmar que tanto as partes quanto o órgão julgador estão vinculados à garantia do contraditório. O parágrafo único do art. 9º do CPC aborda o contraditório diferido, isto é, quando o magistrado profere decisão sobre o mérito de plano, a parte afetada pelo ato judicial tem o direito de se manifestar posteriormente. Em contrapartida, se o juiz entender pela necessidade de contraditório prévio, deverá justificar a postergação da análise liminar (Enunciado 30 do Fórum Permanente de Processualistas Civis). Assim, a garantia do contraditório não impede a concessão da tutela provisória de urgência (art. 9º, parágrafo único, I, do NCPC), da tutela de evidência (i) quando as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante ou (ii) quando se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa (art. 9º, parágrafo único, II, do NCPC), nem tampouco obsta a decisão prevista no art. 701, atinente ao procedimento monitório (art. 9º, parágrafo único, III, do NCPC)101. O art. 10 do CPC/2015 salienta que o juiz não pode decidir com base em fundamento a respeito do qual as partes não puderam se manifestar. Na vigência do CPC/73, Página 16 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil compreendia-se que o magistrado poderia apreciar matérias de ordem pública de ofício, como os pressupostos processuais e condições da ação, sem dar prévia oportunidade para que os litigantes se manifestassem a respeito102. O novo CPC enfatiza a garantia do contraditório como forma de impedir decisões judiciais surpresa, posto que o juiz tem o dever de incitar o debate entre as partes a respeito das questões pendentes de julgamento, mesmo aquelas que pode conhecer de ofício. As decisões judiciais não podem decorrer unicamente da atuação valorativa do juiz sem que antes tenha conferido às partes a possibilidade de influenciá-lo em relação aos fundamentos fáticos e jurídicos inerentes à causa103. Com efeito, as decisões que possam gerar surpresa para as partes são expressamente vedadas, devido ao caráter dialógico e cooperativo adotado pelo CPC/2015, ainda que se tratem de questões cognoscíveis de ofício. Dessa maneira, apesar de o julgador possuir liberdade para invocar o direito aplicável, ele só poderá assim decidir se possibilitar às partes a prerrogativa de se manifestar previamente104. A título de exemplo, o art. 487, parágrafo único, do CPC/2015 estatui que a prescrição e decadência somente podem ser reconhecidas se dada às partes oportunidade de manifestar-se anteriormente. Outro exemplo, o Tribunal em segunda instância não pode decidir o recurso de apelação, valendo-se de fundamento não cogitado, explícita ou implicitamente, pelas partes; portanto, não pode contrariar a sentença monocrática e julgar extinto o processo sem julgamento de mérito por insuficiência de provas, sem que as partes tenham tido oportunidade para exercitar sua influência na formação do convencimento do julgador105. 2.2.9 Princípios da publicidade e o dever de motivação das decisões judiciais Trata-se de uma reafirmação do preceito constitucional disposto no art. 93, IX e X, da CF106. Na parte inicial do CPC/2015, o princípio da publicidade e o dever de motivação das decisões judiciais estão consagrados no art. 11. A publicidade é um atributo essencial da atuação do Estado (art. 37, caput, da CF)107 e, por isso, são raras as hipóteses de confidencialidade de processos e de decisões judiciais. As exceções são admitidas no direito pátrio sempre com previsão legal, como ocorre devido ao interesse público ou social e a preservação da intimidade ou da vida privada, presentes nas ações de estado e também na arbitragem, quando houver cláusula de confidencialidade108. Entretanto, a restrição de acesso aos autos não atinge às partes e seus advogados, defensores públicos ou membros do Ministério Público, uma vez que podem presenciar a prática dos atos processuais. O art. 11 do CPC, igualmente, traz o dever de motivação, exigindo a adequada fundamentação de todas as decisões judiciais em contrapartida a maior liberdade conferida aos magistrados. As razões que levaram o julgador a proferir a decisão devem Página 17 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil ser esclarecidas às partes e a toda sociedade109. Os litigantes devem compreender o resultado da demanda que lhes dizem respeito para exercer, de forma apropriada, o direito de ampla defesa (impugnação das decisões judiciais), bem como a sociedade deve conhecer o ato decisório, tendo em vista que seus fundamentos podem constituir futuras regras de conduta, o que foi ampliado pelo sistema de precedentes judiciais adotado no CPC (arts. 489, § 1º, incs. V e VI, 926 e 927)110. O art. 489, § 1º, do CPC, elenca situações que acarretam a nulidade da decisão por não estarem devidamente fundamentadas; porém, o rol das hipóteses de decisões não fundamentadas ali previsto é meramente exemplificativo111. A decisão interlocutória ou final não poderá ser motivada com a reprodução do texto legal ou citação doutrinária que não demonstre a subsunção concreta quanto ao seu cabimento. A finalidade do dispositivo, especialmente quanto ao inciso I, do art. 489, § 1º, é impedir a mera reprodução do texto legal como motivação. Assim, as decisões devem conter a explicação clara sobre a correlação entre a norma jurídica e os fatos relevantes para o julgamento da causa112. Da mesma forma, também não será lícito citar o texto legal com as próprias palavras, o que caracteriza a indevida paráfrase normativa. O inciso II, do art. 489, § 1º, do CPC requer que o juiz, por exemplo, ao conceder tutela cautelar, não apenas cite o dispositivo legal, com menção ao perigo de dano e risco ao resultado útil do processo, mas também descreva na decisão quais foram as condições que o convenceram sobre o cabimento da liminar. Nesse sentido, os dispositivos legais que fazem menção à “boa-fé objetiva”, por se tratar de conceito jurídico indeterminado, pressupõem a justificação de seu enquadramento, ou seja, o juiz deverá indicar as circunstâncias fáticas que levam a conduta a coincidir ou não com esse padrão de comportamento113. De igual modo, a motivação deve ser expressa e de acordo com as questões de fato e de direito trazidas em juízo, uma vez que o magistrado deve revelar como interpretou e aplicou a lei ao caso concreto, entregando, ao jurisdicionado, decisão que expressa as razões de seu convencimento. Dessa forma, dado provimento judicial somente estará devidamente motivado quando as razões de decidir estiverem expressas em seu teor (inciso III do § 1º do art. 489 do CPC)114. No que se refere ao inciso IV do § 1º do art. 489 do CPC, impõe-se o dever ao magistrado de analisar e refletir sobre todos os argumentos pertinentes e relevantes trazidos pelas partes e capazes de influenciar no julgamento da causa. Por sua vez, o inciso V do § 1º do art. 489 do CPC atua para que o acúmulo de processos não possa servir de justificativa para que decisões genéricas, padronizadas ou dotadas de motivação extremamente concisa sejam proferidas. Não se pretende condenar a prática de utilização de modelos de julgamento, mas exige-se que o magistrado demonstre a aderência da sua fundamentação com as especificidades do caso concreto115. Página 18 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil Em virtude de o CPC/2015 passar a adotar um sistema de precedentes obrigatórios (art. 927), o inciso VI do § 1º doart. 489 do CPC preconiza que o afastamento da jurisprudência vinculante apenas será possível se houver a distinção entre o caso julgado e o paradigma (distinguishing), ou mediante a demonstração da superação do entendimento por legislação superveniente ou novo entendimento do próprio Tribunal, em julgamento devidamente motivado (overruling)116. Acrescente-se que a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-lei 4.657/1942), no art. 20, que foi incluído pela Lei 13.655/2018, afirma que não se pode decidir – nas esferas administrativa, controladora e judicial – com base em valores jurídicos abstratos, sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão. Ainda, o órgão estatal deve, na motivação, demonstrar a necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas. Com efeito, a adequada motivação das decisões judiciais é importante, pois assegura que os argumentos trazidos pelas partes e que são relevantes para o julgamento da causa foram analisados pelo Estado-juiz, o que assegura o caráter democrático do Poder Judiciário brasileiro, cujos integrantes são técnicos, escolhidos por concurso público, não pelo voto popular. O dever de motivação das decisões judiciais também garante a imparcialidade dos juízes, evitando indevidas influências políticas. Dessa forma, a motivação permite que as decisões possam ser controladas pelas partes, legitimando-se socialmente117. 2.2.10 . Ordem cronológica de julgamento Ao estabelecer a ordem cronológica de julgamento, buscou-se assegurar o tratamento processual igualitário e não discriminatório. O art. 12 do CPC assevera que os juízes e tribunais deverão observar, preferencialmente, a ordem cronológica de conclusão, para proferir sentença ou acórdão. Além disso, também prevê a elaboração de lista pública de processos que estão prontos para julgamento, a ser elaborada pelo escrivão ou chefe de secretaria118. O § 2º elenca uma série de exceções à regra da ordem cronológica de julgamento, por exemplo: as sentenças de improcedência liminar, sentenças proferidas em audiência e homologatórias de acordos, os julgamentos em blocos em razão de casos repetitivos, as decisões em embargos de declaração e agravo interno etc. Ademais, o inciso IX prevê uma cláusula geral, permitindo a não observância à ordem cronológica em casos de urgência, desde que provenha de decisão fundamentada119. O Enunciado 486 do Fórum Permanente de Processualistas Civis estabelece que o desrespeito à ordem cronológica não acarreta a nulidade da decisão, mesmo se o magistrado incorra em apuração disciplinar, com a finalidade de garantir um sistema célere e adequada prestação jurisdicional120. O texto original da regra determinava que os magistrados observassem “obrigatoriamente” a ordem cronológica; contudo, a Lei 13.256/2016 alterou sua Página 19 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil redação e substituiu o mandamento por “preferencialmente”. Por conseguinte, as garantias de isonomia e de paridade de tratamento121 continuam dando causa ao dispositivo, como forma de evitar a escolha aleatória de processos encaminhados a julgamento. A alteração implica somente em que, fundamentadamente, o juiz pode modificar a ordem legal. Dessa forma, o magistrado não sofrerá nenhuma sanção por descumprir o seguimento da ordem cronológica de julgamento, posição esta que é incentivada pelo Enunciado 34 da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM)122, que não atribui nulidade para os processos apreciados fora da ordem, tampouco o comportamento configura a parcialidade do julgador ou serventuário. Entretanto, referida alteração reduz a eficácia do dispositivo, no sentido de se promover a razoável duração do processo e a isonomia processual123. 3 Conclusão O neoconstitucionalismo coloca a Constituição Federal no cerne do ordenamento jurídico e, com isso, promove a expansão dos direitos e garantias fundamentais para todos os ramos do direito. Essa percepção metodológica ampliou o caráter normativo dos princípios jurídicos, valorizou a jurisdição constitucional e exigiu a reformulação das técnicas processuais para que se pudesse assegurar maior efetividade à tutela dos direitos substanciais. A hermenêutica contemporânea busca extrair o sentido das regras jurídicas a partir dos valores e princípios basilares do Estado Democrático de Direito, com a finalidade de buscar interpretações que ampliem os direitos e garantias fundamentais. O CPC/2015 conferiu uma nova visão para o processo civil, já que a previsão das garantias trazidas na Constituição Federal de 1988 foram potencializadas no novo Código. Compreender as normas fundamentais do CPC/2015 favorece a construção do neoprocessualismo no Brasil, pois ajuda o operador do direito a bem interpretar e aplicar as regras processuais em conformidade com os valores e normas fundamentais estabelecidos na Constituição Federal. Isso é importante para se construir uma cultura que valorize o processo como um instrumento ético, adequado, célere e eficiente para a promoção da justiça e da paz social. 4 Referências V Congresso Nacional da FEPODI, 2017, Campo Grande, Mato Grosso do sul. O princípio da eficiência processual e a adequação procedimental para efetividade da tutela jurisdicional. Anais do V Congresso Nacional da FEPODI: FEPODI, 2017. ARRUDA ALVIM, Teresa et al. Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Ed. RT, 2015. ARRUDA ALVIM, Teresa et al. Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil: artigo por artigo. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2016. Página 20 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil ARAÚJO, Aldem Johnston Barbosa. O princípio da não surpresa instituído pelo novo Código de Processo Civil e sua aplicabilidade aos processos administrativos. Revista dos Tribunais, v. 974, dez. 2016. ARAÚJO, Fábio Caldas. Curso de processo civil: parte geral. São Paulo: Malheiros, 2016. AURELLI, Arlete Inês. Normas fundamentais no Código de Processo Civil Brasileiro. Revista de Processo, v. 271, set. 2017. BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito (o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil). Revista de Direito Administrativo, v. 240, abr.-jun. 2015. BARROSO, Luís Roberto. A razão sem voto: o Supremo Tribunal Federal e o governo da maioria. Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 5, 2015. BARROSO, Luís Roberto; MELLO, Patrícia Perrone Campos. 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Teoria do Processo Civil. São Paulo: Ed. RT, 2016. p. 573. 6 ROSA, Viviane Lemes da; PUGLIESE, William Soares. Normas fundamentais do novo Código de Processo Civil: considerações teóricas e hipóteses de aplicação pelo exame do contraditório. Revista Iberoamericana de Derecho Procesal, v. 3, jan-jun. 2016. 7 MADUREIRA, Claudio; ZANETI JUNIOR, Hermes. Formalismo-valorativo e o novo processo civil. Revista de Processo, v. 272, out. 2017. p. 85-125. 8 “É, sob esse pressuposto, que se deve tematizar e entender o processualismo constitucional democrático como uma concepção teórica que busca a democratização processual civil, mediante a problematização das concepções de liberalismo, socialização e pseudo-socialização processual e da percepção do necessário resgate do papel constitucional do processo como estrutura de formação das decisões, assimilando o aspecto comparticipativo e policêntrico das estruturas formadoras das decisões” (NUNES, Dierle. Op. cit., p. 03). 9 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Op. cit., p. 489-490. 10 Uma das características do Estado Constitucional é a garantia de proteção dos direitos fundamentais que, a partir da segundametade do século XX, passou a compor o cerne de todos os ordenamentos jurídicos (CUNHA, Leonardo Carneiro da. O processo Página 24 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil civil no estado constitucional e os fundamentos do projeto do novo Código de Processo Civil brasileiro. Revista de Processo, v. 209, jul. 2012. p. 02). 11 “Da mesma forma, o Código de Processo Civil não esgota os princípios fundamentais da matéria, pois a Constituição se revela a primeira e mais importante fonte do processo civil. A ligação do direito processual civil com a Constituição é tão intensa a ponto de ações processuais fundamentais serem disciplinadas, quando aos seus requisitos essenciais, diretamente pelo art. 5º da CF/1988. É o que se observa, por exemplo, quanto ao mandado de segurança individual (art. 5º, LXIX) e coletivo (art. 5º, LXXI), ao habeas corpus (art. 5º LXVIII), ao mandado de injunção (art. 5º LXXI), ao habeas data (art. 5º LXXII) ou à ação popular (art. 5º LXXIII)” (ARAÚJO, Fábio Caldas. Curso de processo civil: parte geral. São Paulo: Malheiros, 2016. p. 102). 12 “O estudo do Direito Processual sofreu a influência dessa renovação do pensamento jurídico. O processo volta a ser estudado a partir de uma perspectiva constitucional (o que não é novidade), mas agora seguindo esse novo repertório, que exige dos sujeitos processuais uma preparação técnica que lhes permita operar com cláusulas gerais, princípio da proporcionalidade, controle difuso de constitucionalidade de uma lei etc.” (DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 9. ed. Salvador: JusPodivm, 2008. p. 27). 13 CAMBI, Eduardo. Neoconstitucionalismo e neoprocessualismo. Direitos fundamentais, políticas públicas e protagonismo judiciário. 2. ed. São Paulo: Almedina, 2018. 14 “O direito processual civil possui uma forte vinculação com o direito constitucional; aliás, todas as regras processuais devem ser interpretadas à luz da Constituição Federal. Isso não é uma novidade do atual sistema. Mesmo sob a égide dos Códigos anteriores isso já ocorria. Em virtude da hierarquia de normas, a Constituição sempre desempenhou um papel de referência e orientação” (CAMBI, Eduardo. et. al. Curso de processo civil completo. São Paulo: Ed. RT, 2017. p. 52-53). 15 “O direito processual civil guarda uma relação profunda com as garantias e os valores constitucionais. Não se pode pensar em processo civil na atualidade sem considerar sua aplicação à luz da Constituição Federal. Por essas razões e, certamente, com o intuito de destacar ainda mais essa constante interação, o art. 1º do Código de Processo Civil afirma que o processo será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais. Na verdade, essa menção nem se fazia necessária. O próprio sistema processual já obedece a uma hierarquia de normas, na qual a Constituição ocupa o mais alto degrau. De qualquer forma, a menção expressa a essa vinculação, aliada ao fato do legislador tê-la feito no primeiro dos artigos do Código, ressalta essa importância” (CAMBI, Eduardo. et. al. Curso de processo civil completo cit., p. 57). 16 ARRUDA ALVIM, Teresa et al. Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil: artigo por artigo. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2016. p. 10). Página 25 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil 17 DIDIER JUNIOR, Fredie. Op. cit., p. 28. 18 “O CPC/2015 abraçou a ideia, que há tempos tem sido difundida, fruto dos movimentos neoconstitucionalista e neoprocessualista, de que as normas que regem o Direito Processual Civil devem consagrar a aplicação dos direitos e garantias fundamentais insertos na Constituição Federal de 1988, de forma que possam, por meio do processo, ser concretizados, contemplando os princípios como norteadores da atuação do julgador, mesmo que não estejam positivados no ordenamento jurídico. Visto isso, o CPC/2015 trouxe um arcabouço principiológico em seu bojo, inserindo, expressamente, princípios informadores do Direito Processual Civil que, de modo geral, já eram aplicados, observando-se, para tanto, o modelo constitucional do processo, com o objetivo de se concretizar os direitos substanciais dos indivíduos e de se obter equilíbrio na convivência em sociedade. Visando à concretização dos fins a que se propôs, o CPC/2015, em seus arts. 1º a 12, dispôs sobre as Normas Fundamentais do Processo Civil, relacionadas aos direitos e garantias constitucionalmente previstos, não deixando de contemplar, no seu corpo, outros, de viés puramente processual, que buscam a implementação dos primeiros. Cabe mencionar, ainda, que existem princípios processuais consagrados pela doutrina e jurisprudência que não foram expressamente inseridos no CPC/2015, mas que, nem por isso, deixam de ser observados” (TJDFT Apelação Cível 20150110485663, Autos 0012040-66.2015.8.07.0018, Relator: Alfeu Machado, DJ 19.04.2017, 1ª Turma Cível, Data da Publicação no DJE: 24.05.2017. p. 449-465). 19 ARRUDA ALVIM, Teresa et al. Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil: artigo por artigo. cit., p. 11. 20 “Entre direito constitucional e direito processual civil existe uma grande e profunda vinculação. Este deve ser lido e estudado a partir do prisma daquele. Daí a noção de direito constitucional processual” (CAMBI, Eduardo. et. al. Curso de processo civil completo. cit., p. 52-53). 22 ARAÚJO, Aldem Johnston Barbosa. O princípio da não surpresa instituído pelo novo Código de Processo Civil e sua aplicabilidade aos processos administrativos. Revista dos Tribunais, v. 974, dez. 2016. p. 344-365. 23 CAMBI, Eduardo. Neoconstitucionalismo e neoprocessualismo. cit., p. 527. 24 LEAL JÚNIOR, João Carlos. Neoconstitucionalismo e o acesso à justiça no estado brasileiro contemporâneo. Revista de Processo, v. 265, mar. 2017. p. 28. 25 “Os princípios são normas que fornecem coerência e ordem a um conjunto de elementos, sistematizando-o. São os princípios que, a rigor, fazem com que exista um sistema. São também normas jurídicas. Mesmo quando implícitos, os princípios jurídicos são obrigatórios, vinculam, impõem deveres, tanto quanto qualquer regra jurídica. Como vetores de organização do sistema, os princípios orientam a elaboração legislativa, a Página 26 Normas fundamentais no novo Código de Processo Civil interpretação e aplicação do direito processual. Por outro lado, na condição de normas jurídicas, os princípios impõem e constituem direitos” (WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Op. cit., p. 69-70). 26 “A centralidade concedida à Constituição representa uma reação contra o princípio da supremacia e contra o absolutismo do legislador. A força normativa dos direitos fundamentais, ao impor o dimensionamento do produto do legislador, faz com que a Constituição deixe de ser encarada como algo que foi abandonada à maioria parlamentar. A vontade do legislador, agora, está submetida à vontade suprema do povo, ou melhor, à Constituição e aos direitos fundamentais” (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sério Cruz; MITIDIETO, Daniel. Op. cit., p. 104). 27 “É necessário estabelecer-se um novo ‘método de pensamento’, do cientista e do profissional do foro, deixando posturas tradicionais puramente técnicas e dogmáticas, típicas da fase sincretista, que já cumpriu o seu importante ciclo de vida, abandonando- se a visão exclusivamente interna para situar o processo em seu verdadeiro patamar, a exemplo dos processual-constitucionalistas, que vêem a Constituição como matriz das normas e princípios que informam o processo e este como instrumento de realização da ordem constitucional, seja sob o ângulo da jurisdição constitucional, seja quanto à jurisdição ordinária, que se sustenta em valores constitucionalmente amparados” (TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. A efetividade do processo e a reforma processual. Doutrinas Essenciais de Processo Civil, v. 1, out.
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