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Direito constitucional I Capítulo 1 Direito constitucional: é o ramo do direito público que organiza, sistematiza, estrutura e normatiza o Estado e estuda a defesa dos direitos e garantias fundamentais. Seu objeto de estudo é a constituição. O papel da constituição é estabelecer a organização do Estado, definir os direitos fundamentais e estabelecer metas e programas para o futuro do Estado. Como parte do Direito Público, o Direito Constitucional se caracteriza pela existência de normas cogentes, impositivas que não admitem disposição em contrário, ainda que haja acordo entre as partes. Portanto, só se pode fazer o que está autorizado no texto da lei. Constituição = Vontade coletiva Organização do Estado Objetivos Direitos Fundamentais Direitos Sociais Direitos Políticos (Democracia) Divisão dos Poderes Tributos Constitucionalismo: movimento social, jurídico e político que tem como principal característica a limitação do exercício do poder do Estado por meio do texto constitucional, com o objetivo de preservar os direitos fundamentais do povo. No século XVIII, dois documentos reforçaram a noção do Constitucionalismo: • A Constituição Norte Americana de 1787, e • A Constituição Francesa de 1791. Constitucionalismo social: o movimento que passou a prever na constituição os direitos sociais, como por exemplo, o direito à saúde, à educação, à moradia, à alimentação. No Estado Liberal, o indivíduo tinha seus direitos individuais e o Estado não interferia nas relações privadas; ou seja, as lutavam pela sobrevivência. No Estado Social, a postura do Estado é mais ativa, visando a defender os direitos sociais. Transconstitucionalismo: movimento que coaduna o direito interno com o direito internacional (por meio de tratados e dispositivos internacionais) para melhor tutelar os direitos fundamentais. Neoconstitucionalismo: tem como objetivo buscar uma maior eficácia da constituição, em especial dos direitos fundamentais. Segundo Konrad Hesse, teórico neoconstitucional, toda constituição possui força normativa e deve, portanto, ser efetivada, limitando o poder do Estado e exigindo dele o cumprimento integral do que está prescrito no texto constitucional. Conceitos de constituição segundo os teóricos Niklas Luhmann A constituição é uma conciliação entre Direito e Política, sendo portanto responsável pelo diálogo entre as duas áreas enquanto estruturação das vontades populares no Direito. Ferdinand Lassale (Constituição em Sentido Sociológico) Constituição real: é a soma dos fatores reais de poder que emanam do povo, sendo definida pelas forças políticas, econômicas e sociais atuantes e pela maneira como o poder está distribuído entre os diferentes atores do processo político. Constituição folha de papel: aquela que, quando não cumprida, apresenta-se apenas como uma mera folha de papel. Cal Schmitt (Constituição em Sentido Político) É uma decisão do povo, um reflexo das escolhas, decisões, tomadas para a gestão do Estado. Schmitt divide sua classificação em duas partes: 1. A Constituição: somente normas que são essenciais para as decisões políticas do Estado. 2. Leis constitucionais: são as demais normas presentes no texto constitucional, mas que podiam estar previstas em matéria infraconstitucional. Nesta teoria, a “constituição” é o que é fundamental à existência política do Estado, ao passo que “lei constitucional” é a escolha de se defender regras no texto constitucional. Hans Kelsen (Constituição em Sentido Jurídico) O ordenamento jurídico é um sistema hierárquico de normas, no qual a norma principal é a constituição., estando no topo da pirâmide. Toda norma retira sua validade de outra que lhe é imediatamente superior. Para Kelsen, a Constituição existe em dois planos. 1. Plano lógico-jurídico: ideal da norma hipotética fundamental. O legislador vai se basear nela para elaborar a norma positivada. 2. Plano jurídico-positivo: a constituição já apresentada como norma suprema positivada. Marcelo Neves (Constitucionalização Simbólica) A partir do momento que as constituições asseguram direitos que não são cumpridos, há uma intenção de utilizar-se do texto da constituição como uma forma de defesa democrática simbólica, que não tem o objetivo de sair do papel, apenas de dominar ideologicamente o povo. As normas que não são aplicadas de fato e só servem para abrandar o clamor social são chamadas de legislação-álibi do Estado. Classificação das constituições Quanto à origem Promulgada, democrática ou popular: elaborada com a participação do povo por meio da democracia direta ou representativa. Outorgadas ou impostas: elaborada unilateralmente pelos governantes sem a participação do povo. Cesaristas: elaboradas unilateralmente pelo Estado sem a participação popular, mas passam por aprovação popular posterior em plebiscito. Pactuadas: elaboradas por meio de um pacto entre o Legislativo e o Executivo, sujeitando o monarca às leis constitucionais. Ex.: Magna Carta de 1215. Quanto à forma Escritas: materializadas em documento escrito. Não escritas: baseadas em costumes e tradições. Ex.: Common Law britânica. Quanto ao modo de elaboração Dogmática: elaborada em um único período, de uma vez só, sofrendo influências da época em que foi elaborada. Histórica: elaborada aos poucos, surgindo com o passar do tempo e a evolução da sociedade. Quanto à extensão Prolixas ou analíticas: além de versar sobre os conteúdos básicos de uma Constitucional, optam por abordar outros assuntos e por isso são mais extensas. Concisas ou sintéticas: se restringem a versar sobre o que é apenas estritamente necessário. Quanto à finalidade Constituição-garantia: pretende garantir os direitos fundamentais frente ao Estado, limitando a atuação deste. (Limita-se a fixar os direitos e garantias. É uma carta declaratória) Constituição dirigente ou programática: além de fixar direitos e garantias, fixa metas estatais, fixa uma direção para o Estado (normas programáticas). Quanto à estabilidade Imutáveis: não permitem qualquer tipo de modificação, não podendo ser atualizadas frente às novas demandas. Rígidas: admitem modificação de seu texto, mas que exigem que a alteração ocorra somente após um processo legislativo mais dificultoso que o utilizado para a elaboração de leis ordinárias. Semirrígidas: propõem um processo legislativo mais complexo para a modificação da constituição apenas para parte de seu texto, sendo o restante modificado nos mesmos critérios de modificação de lei ordinária. Super-rígidas: além de permitir modificação apenas por meio de um processo dificultoso, possui também dispositivos imutáveis (cláusulas pétreas). Flexíveis: permitem a modificação do texto constitucional sob os mesmos critérios das leis ordinárias. Quanto ao conteúdo Materiais: versam apenas sobre conteúdos constitucionais e reservam à legislação infraconstitucional outros conteúdos. Formais: além da matéria constitucional, versa sobre demais assuntos que poderiam estar previstos noutras normas. Quanto à sistemática Codificadas: contidas num só texto. Variadas: compostas por mais de um texto ou código. A constitução brasileira: é promulgada, escrita, dogmática, prolixa, dirigente, rígida, formal e codificada. Elementos das constituições Elemento orgânico Organiza a estrutura do Estado. Elemento limitativo: restringe o exercício do poder do Estado de forma a não atentar contra os diretos humanos Elementos sócio- ideológicos: tratam de diferentes ideologias. Art. 3o e 170 da Constituição da República de 1988 (liberalismo econômico).Elementos de estabilização constitucional: preveem maneiras de estabilizar a segurança nacional. Ex.: Art. 34 (intervenção federal), art. 137 (estado de sítio) e art. 136 (estado de defesa). Elementos formais de aplicabilidade: estabelecem regras e orientam na aplicação do texto constitucional. Ex.: preâmbulo na constituição e disposições constitucionais transitórias. Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais Segundo José Afonso da Silva Normas de eficácia plena Podem produzir efeitos desde o momento em que são editadas e entram em vigor, não dependendo de outras normas. Aplicabilidade direta, imediata e integral. Ex.: Ex.: Art. 1º da CF/1988, configuração dos entes federativos Normas de eficácia contida Têm eficácia direta e imediata, mas pode ser restrita pelo legislador após sua entrada em vigor (costuma vir acompanhada da frase “salvo em disposição em lei”). Normas de eficácia limitada Aplicabilidade direta, mediata e diferida (postergada), pois só poderá produzir efeito a partir de uma norma posterior. (costuma vir acompanhada da frase “a lei disporá...”). Ex.: Art 9º § 1 da CF/1988, o direito de greve dos servidores públicos As normas de eficácia limitada podem se subdividir em: Normas de princípio institutivo (organizacionais): Dizem respeito à instituição, criação, estruturação ou organização de órgãos ou entidades. Ex.: Art. 33: “a lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios” (art. 33). Normas de princípio programático: Estabelecem programas e diretrizes para a atuação futura dos órgãos estatais. Ex. Art 6° (direito à alimentação, art. 196 (direito à saúde) etc. Segundo Maria Helena Diniz Normas constitucionais de eficácia absoluta (supereficazes) Referem-se às matérias protegidas por cláusulas pétreas (art. 60, §4º CF/1988). Normas de eficácia plena São plenamente eficazes desde sua promulgação na constituição. Diferem-se das absolutas por poderem ser alteradas mediante emenda na constituição Normas de eficácia relativa restringível Caracterizam-se por serem plenamente executáveis desde a sua promulgação, mas guardarem a possibilidade de terem seu âmbito de aplicabilidade reduzido (equivalem às normas de eficácia contida para José Afonso da Silva). Normas de eficácia relativa complementável Dependentes de complementação legislativa, pois podem produzir todos os seus efeitos desde o momento de sua promulgação, necessitando da edição de normas integrativas (correspondem às normas de eficácia limitada para José Afonso da Silva). Hermenêutica = interpretação ou explicação da norma constitucional. Exégese = clarificar o significado do conteúdo normativo. Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais Princípio da Unidade: quando houver conflito entre normas constitucionais, elas devem se compatibilizar. Nenhuma norma constitucional é mais importante que a outra. Princípio da Máxima Efetividade (ou Eficiência): o intérprete deve extrair das normas constitucionais a maior eficácia, eficiência, possível, mesmo que sejam normas programáticas. Princípio da Força Normativa da Constituição: a constituição deve durar o máximo possível, evitando-se ao máximo as reformas constitucionais, o que gera uma estabilidade e segurança jurídica (envisionada por Konrad Hesse). Princípio da Concordância Prática (ou Harmonização): no conflito de direitos fundamentais, eles devem se harmonizar na sua aplicabilidade. Princípio da Justeza (ou conformidade funcional): o intérprete não pode alterar as competências constitucionais. Princípios da Integração (força integradora): em conflitos de normas constitucionais, o intérprete deve prestigiar a norma que busca uma maior integração política e social do Estado. Princípio de Presunção de Constitucionalidade das leis: As leis presumem-se constitucionais até que haja prova em contrário. Princípio da Razoabilidade: analisa-se se o ato praticado pelo poder público é razoável, caso contrário não será constitucional. Princípio da proporcionalidade: trata da verificação da limitação dos direitos fundamentais por meio da legislação. Subdivisões da Constituição Preâmbulo: introdução do texto constitucional. Não é um elemento obrigatório nas constituições. Parte permanente: o corpo do diploma Ato de disposições constitucionais transitórias: estão presentes no texto da constituição, após a parte permanente, ou seja, após o artigo 250 da constituição. Diferem-se da disposição permanente por não terem um caráter permanente, ou seja, são aplicados de forma transitória, por um tempo determinado. Capítulo 2 Poder constituinte: poder uno de origem e titularidade popular, possibilitando a elaboração e modificação da constituição. A convocação para o exercício do poder constituinte se dá, via de regra, pela convocação de uma assembleia constituinte. Subdivide-se em Originário, Derivado, Difuso e Supranacional: Poder constituinte originário Capacidade de criar uma constituição, que fará nascer um novo Estado do ponto de vista jurídico-formal. A natureza do poder constituinte originário é fática ou extrajurídica; só a consequência do exercício desse poder que é jurídico ou normativo, pois produz uma nova constituição. Portanto, o poder constituinte é um poder fático, pois não se baseia no direito, mas em fatores político, sociais e econômicos. Suas características são: Características do poder constituinte originário Inicial: Inaugura a existência do ordenamento jurídico e do Estado. Soberano: não reconhece nenhuma força superior a si próprio. Autônomo: pode organizar a constituição como bem entender, de forma autônoma. Incondicionado: não se vincula à ordem jurídica anterior. Ilimitado juridicamente: não possui limite temático, pode tratar de quaisquer temas. O poder constituinte originário pode ser histórico (fundacional) – quando cria a 1ª constituição do Estado – ou revolucionário – quando vem substituir uma constituição anterior, rompendo a ordem então vigente. Poder constituinte derivado (ou instituído) No momento da elaboração da constituição, o legislador determinará como o poder constituinte derivado será exercido quando se desejar alterá-la. As características dele são: Características do poder constituinte derivado Subordinado: sujeita-se à ordem jurídica implementada na constituição. É, portanto, um poder jurídico e não de fato. Limitado: a constituição impõe limites para a sua modificação, que são os limites de seu exercício. Ex.: limitação de conteúdo (cláusulas pétreas) Condicionado: está vinculado a condições para fins de seu exercício. Seu exercício é limitado e está vinculado a condições. O poder constituinte derivado, por sua vez, pode ser dividido em: Poder Constituinte Derivado Reformador: É o criado pelo Poder Constituinte Originário para modificar as normas constitucionais já estabelecidas. Tal modificação é operada através das Emendas Constitucionais. Ao mesmo tempo, ao se elaborar uma nova ordem jurídica, o constituinte imediatamente elabora um Poder Derivado Reformador para garantir a reforma da Carta após um determinado período onde haja tal necessidade. Mas há limites para a alteração: quando o Estado passa por um período de Estado de Legalidade Extraordinária, não poderão ser discutidas emendas constitucionais. As situações que não permitem a reforma do texto constitucional são: Estado de Defesa (Art. 136), Estado de Sítio (Art. 137) e Intervenção Federal (Art. 34). Além disso alguns conteúdos não podem ser restringidos ou abolidos (cláusulaspétreas). As cláusulas pétreas só podem ser expandidas e nunca restringidas. Poder Constituinte Derivado Decorrente: também obra do Poder Constituinte Originário. É o poder investido aos Estados Membros para elaborar sua própria constituição, sendo assim possível a estes estabelecer sua auto-organização. Poder constituinte derivado revisional: Destina-se a adaptar a Constituição à realidade atual da sociedade. É via extraordinária de modificação da constituição por meio de emendas constitucionais amplas, que visam a analisar a adaptação do novo texto constitucional à sua aplicação prática, fazendo-se ajustes. A revisão está prevista no artigo 3o do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias: “Art. 3º. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral”. (não distinguindo o Senado Federal da Câmara dos Deputados). Limitações subjetivas ao poder constituinte derivado reformador: tratam de quem pode reformar a constituição. Segundo o art. 60, só se poderá emendar a constituição mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. No artigo 61, §2º, da constituição também há previsão da iniciativa popular para a apresentação de um Projeto de Lei, tendo como requisito a presença de 1% do eleitorado nacional, distribuído em 5 estados da federação, cada um deles representados por 3/10% de seus eleitores. Entretanto, a doutrina majoritária e o STF entendem que o povo NÃO pode propor PEC, pois haver restrição na interpretação do artigo para a proteção do texto constitucional, sem analogias. Limitações objetivas ao poder constituinte derivado reformador: outras condições que a constituição impõe para permitir a mudança de seu texto, por meio de emendas constitucionais. A PEC deve ser discutida e votada, em cada casa do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), e em cada uma das duas casas a votação tem que se dar em 2 turnos; ou seja, 4 votações ao todo: vota-se duas vezes na Câmara e, se aprovada, vota-se duas vezes no Senado. Considerar-se-á aprovada se obtiver em ambos 3/5 dos votos dos respectivos membros É possível sanção de emenda à constituição? NÃO! A PEC não é submetida à aprovação do Chefe do Executivo!!! Não há participação do Presidente da República na promulgação e publicação de PEC. Diferenças entre as Emendas Constitucionais de Revisão e Reforma: Emenda de Revisão Emenda de Reforma Quórum Maioria absoluta 3/5 em dois turnos de todos os deputados e senadores Sistema de votação Congresso nacional (sessão unicameral) Câmara dos deputados + Senado Federal (sessão bicameral) Limite temporal 5 anos Não tem Poder Constituinte Difuso Modifica o conteúdo e ao alcance das normas constitucionais, mas sem alteração do texto formal. Muda o sentido das disposições constitucionais para que se adaptem às novas realidades, sem alterar o texto. Diz-se que, portanto, que a constituição sofreu uma MUTAÇÂO, pois sua interpretação alterou-se, mas não o texto do seu dispositivo. "Enquanto o poder originário é a potência, que faz a Constituição, e o poder derivado, a competência, que a reformula, o poder difuso é a força invisível que a altera, mas sem mudar-lhe uma vírgula sequer" - Professor Uadi Lammêgo Bulos Poder Constituinte Supranacional Poder exercido além das fronteiras territoriais dos Estados nacionais, por meio da união de Estados, em prol da elaboração de uma constituição comunitária que englobe mais de um Estado. Ex.: União Europeia Quando uma nova constituição surge, as normas da anterior pode ter três destinos diferentes: Revogação A norma anterior perde a validade (é a regra no Brasil). Desconstitucionalização A norma anterior deixa de ser constituição e permanece no ordenamento jurídico como norma infraconstitucional, continuando em vigor no que estiver de acordo com a nova constituição (não se aplica no Brasil). Recepção A norma constitucional anterior continua em vigor e mantém seu status hierárquico constitucional, sendo recepcionada no que for materialmente compatível e nos pontos em que a nova constituição determina que a constituição anterior será mantida. Ex: Art. 34 do ADCT, que recepcionou as regras de 1967 do sistema tributário nacional por tempo determinado. Teoria da constitucionalidade superveniente: uma norma que nasceu inconstitucional passa a ser constitucional devido a mudanças formais ou mutação na constituição. Não se aplica no Brasil! Teoria da repristinação: quando uma lei revogada volta a ter validade. A repristinação em regra não é aplicada no Brasil, exceto quando a lei ou o STF determinam expressamente a volta do vigor da lei antes revogada. Capítulo 3 – direitos e garantias fundamentais: Direitos humanos: são aqueles ligados à liberdade e à igualdade de cor, sexo, etnia, raça etc. Eles estão positivados no plano internacional, independentes da anuência dos Estados. Direitos fundamentais: são os direitos humanos positivados na Constituição Federal. Assim, o conteúdo dos dois é essencialmente o mesmo, o que difere é o plano em que estão consagrados. Concepções constitucionalistas Jusnaturalismo O direito é natural e independente da vontade humana, ele existe antes mesmo do homem e acima das leis do homem. Juspositivismo Só pode existir o direito e consequentemente a justiça através de normas positivadas, ou seja, normas emanadas pelo Estado com poder coercivo. Três dimensões (ou gerações) dos direitos fundamentais: nada mais são do que novas facetas de um mesmo direito, o direito à vida, só que em momento histórico diferente, resultados de evoluções e lutas históricas. Três dimensões (ou gerações) dos direitos fundamentais 1ª dimensão (Liberdade) Direitos individuais: o Estado não intervém sobre aspectos da vida pessoal de cada indivíduo. Liberalismo clássico e igualdade formal. Art. 5º CF: Direito à vida, integridade física, liberdade (individual, de iniciativa e concorrência, de pensamento e de consciência filosófica e política), propriedade privada, vida privada, intimidade e inviolabilidade de domicílio etc. 2ª dimensão (Igualdade) Direitos sociais: a igualdade assume uma perspectiva material (real); ou seja, percebe-se a existência de fatores que podem vir a criar desigualdades entre os homens e a lei busca igualá-los através de tratamentos diferenciados para indivíduos diferentes, visando a promover a justiça social. Arts. 6º e 7º da CF: Direito à educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao transporte, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade e à infância, à assistência aos desamparados etc. 3ª dimensão (Fraternidade) Direitos de fraternidade ou solidariedade. São direitos metaindividuais, difusos ou coletivos, dotados de grande humanismo e universalidade e não se destinam especificamente à proteção de um indivíduo, de um grupo de pessoas ou de um determinado Estado, pois os seus titulares são, via de regra, indeterminados. A rigor, seu destinatário, por excelência, é o próprio gênero humano. Art. 4º, VI, da CF: defesa da paz Art 255 da CF: proteção ao meio ambiente. Direitos fundamentais: são normas de conteúdo declaratório, pois dizem quais são os direitos que os indivíduos têm. Garantiasfundamentais são normas de conteúdo assecuratório, pois asseguram o exercício dos direitos fundamentais na sociedade. Como exemplo, destacam-se os remédios constitucionais, do art. 5º: • Habeas corpus; • Habeas data; • Mandado de segurança; • Mandado de segurança coletivo; • Mandado de injunção e • Ação popular Características dos direitos fundamentais Universais Aplicam-se a todos Concorrentes São exercidos simultaneamente uns em conjunto com outros Relativos Não podem ser aplicados sempre de forma absoluta, sempre existem exceções (ex.: censura, pena privativa de liberdade) Inalienáveis Não podem ser negociados Irrenunciáveis Ninguém pode abrir mão desses direitos Imprescritíveis Não se esgotam com o tempo Eficácia dos direitos fundamentais: Eficácia vertical: É um dever do Estado e um direito do cidadão. O Estado é um devedor, e os cidadãos são os credores (verticalidade). Eficácia horizontal: Os direitos fundamentais também são aplicados nas relações entre particulares. Destinatários dos direitos fundamentais: são destinatários de direitos fundamentais todas as pessoas físicas e jurídicas, nacionais ou estrangeiras, desde que estejam dentro do território nacional. *Aplicabilidade: capacidade de produção de efeitos (eficácia plena, contida ou limitada) *Aplicação: o dever do Estado de implementar o Direito Fundamental previsto e o exercício desse direito. Todos os direitos fundamentais têm aplicação imediata, pois os direitos e garantias fundamentais são dotados de meios e instrumento que efetivam a sua aplicação, mesmo que não estejam ainda devidamente regulados. Mas nem todos têm aplicabilidade mediata. Apenas os direitos regulados por normas de eficácia plena e contida têm aplicabilidade imediata, os de eficácia limitada têm aplicabilidade mediata (são, em sua maioria, direitos sociais, econômicos e culturais). Princípio da dignidade da pessoa humana: dele advêm os direitos que garantem o mínimo necessário para que o indivíduo exista de forma digna dentro de um Estado (art. 3º III da CF). É o parâmetro para a consagração dos direitos fundamentais. Igualdade formal: aquela perante a lei, que dita que não se pode dar tratamento desigual aos cidadãos. Igualdade material: tratar igualmente os iguais, e os desiguais na medida de sua desigualdade. Dela advêm ações afirmativas de inclusão. Ex.: cotas raciais e lei Maria da Penha. Relatividade dos Direitos Fundamentais: Direito à vida: a pena de morte é admitida em caso de guerra declarada. Art. 5º XLVII, a Liberdade de expressão: não é absoluta, pois nenhum direito é absoluto. O anonimato é vedado, para que se possa exigir do manifestante o ressarcimento do dano realizado por outrem, assegurando o direito de resposta. Direito à liberdade religiosa: não é admitida para rituais de sacrifício ou tortura. Caso curioso a respeito da laicidade do Estado Menção de Deus no preâmbulo da Constituição: Permitida pois o preâmbulo não é norma constitucional. A menção a Deus é apenas tradição advinda do momento histórico da elaboração da CF. Ensino religioso nas escolas: Permitido por não ser de matrícula obrigatória. Crucifixo em repartições públicas: Permitido por se tratar de um símbolo histórico. Inviolabilidade domiciliar: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.” Casa porém é interpretado de maneira extensiva, abrangendo qualquer local onde sejam exercidas atividades particulares (escritório, quarto de hotel, consultório). Sigilo de correspondência e comunicação: São protegidos: •O sigilo de correspondência, •Comunicações telegráfica, •De dados •As comunicações telefônicas. Todos, porém, podem ser relativizados exceto o sigilo telefônico, que só pode ser relativizado por ordem judicial para investigação criminal ou processo penal Liberdade de reunião: A reunião não depende de autorização do governo, mas deve-se avisar à autoridade pública a fim de se evitar o conflito de reuniões para o mesmo local. O aviso é para fins de organização do próprio poder público. Limites à retroatividade da lei: “Art. 5º, XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. O direito adquirido é todo aquele de que o indivíduo já dispõe. Esse direito não pode ser prejudicado pela lei. Se a lei for modificada, não se poderá alterar o direito já adquirido. Direitos sociais: direito à educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. Também é previsto, entre os arts. 8º e 11, os direitos sociais dos trabalh adores, tais como o direito à associação (associação de pessoas sem fins econômicos). Reuniões pacíficas em locais públicos não precisam de prévia autorização do Estado, sendo exigido apenas prévio aviso à autoridade competente. Remédios constitucionais: Habeas corpus É uma garantia constitucional que se destina à proteção do direito de ir e vir. É um pedido direcionado à autoridade judiciária para a proteção contra a prisão indevida, por ilegalidade ou abuso de poder, não sendo necessário um advogado para ingressar com este remédio constitucional. Habeas corpus preventivo - é um salvo conduto que impossibilita a prisão. Habeas corpus repressivo - caso a prisão já tenha ocorrido. Habeas data Seu objetivo é resguardar a liberdade de dados (‘data’). Com ele, os indivíduos têm direito de acesso a informações, retidas em órgãos públicos (logo, não cabe habeas data frente a entidades privadas). Art. 5o, LXXII - conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público (é de natureza personalíssima, só o impetrante pode requisitar); b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo. Em registros privados não caberia habeas data, por não ser entidade pública. Mas bancos privados com caráter público podem ser acionados pelo habeas data como, por exemplo, o SPC, que tem caráter social público. Mandado de segurança Visa a proteger qualquer direito constitucional que esteja sendo violado por ilegalidade (ato vinculado) ou abuso de poder (ato discricionário) , desde que não seja liberdade (habeas corpus) ou dados pessoais em bancos públicos (habeas data). Tal direito pode ser provado de plano e não depende de dilação probatória no processo, pois se tem todos os elementos necessários para pleitear o direito. Exige capacidade postulatória para ser impetrado, ou seja, é necessária a presença de advogado habilitado. Limite de impetração: 120 dias após a ciência da ilegalidade. Pode ser impetrado também contra particular representante do Estado. Mandado de segurança coletivo Idem ao de cima, porém impetrados por partido político (com representação no congresso), organização sindical, entidades de classe e associações. Exige-se a presença do advogado. No caso da associação ela deve existir e estar em funcionamento há pelo menos um ano; não basta ter sido fundada há um ano, deve estar em atuação por esse período. Mandado de injunção Visa a possibilitar o exercício de um direito que não pode ser exercido, pois não foi regulamentado pelo poder público. São as normas constitucionais de eficácia limitada, que dependem de norma infraconstitucional. Quando não há regulamentaçãodo direito e, por esse motivo, não se pode exercê-lo, é cabível o mandado de injunção. Exige-se a presença do advogado. Ex.: Funcionários públicos têm o direito de greve nos termos da lei, mas a lei regulamentadora não foi criada. Logo, sindicatos e servidores impetraram mandados de injunção para buscar esse complemento. Ação popular Pode ser impetrado por qualquer cidadão, com o objetivo de anular atos que lesem o patrimônio público ou questões de ordem pública. A ação popular é isenta de custas, salvo comprovada a má-fé do autor. Direitos fundamentais: são dotados de uma dimensão proibitiva, pois proíbem o legislador de produzir normas que os desrespeitem, e dimensão positiva, pois permitem ao legislador que produza normas que os efetivem e os garantam. Os direitos e garantias fundamentais previstos na constituição são um rol somente exemplificativo e não taxativo, pois não excluem outros direitos da mesma natureza, que tenham o mesmo propósito de proteção do indivíduo diante do Estado. Princípio da legalidade: o particular pode fazer tudo aquilo que a lei não proibir, e o administrador público só pode fazer o que a lei determina. Crimes inafiançáveis (Art. 5º, XLIII): a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos. Atenção! Os crimes de tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os crimes hediondos não são suscetíveis de fiança ou graça ou anistia . Entretanto, eles não se confundem com os crimes que são chamados de imprescritíveis e inafiançáveis, sendo eles o racismo e a ação de grupos armados contra o Estado Democrático de Direito Uso de algemas: só é lícito em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito. (súmula vinculante 11 do STF) Direito à liberdade de manifestação de pensamento: é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato para que se possa exigir do manifestante o ressarcimento do dano realizado por outrem, assegurando o direito de resposta. Limites à retroatividade da lei: a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (Art. 5º, XXXVI). a) Direito adquirido - é todo aquele que o indivíduo já incorporou, ou seja, já pode invocar perante alguém, pois já cumpriu os requisitos legais para exercê-lo. b) Ato jurídico perfeito - é aquele ato praticado nos termos da lei e atendendo todos os requisitos estabelecidos na lei. c) Coisa julgada - preservam-se todas as decisões judiciais que já estão decididas de forma definitiva (trânsito julgado), não se podendo alterar por lei posterior, exceto nos casos estabelecidos na lei. Questão polemica: contribuição do inativo: diante da natureza tributária das contribuições previdenciárias não há que se falar em direito adquirido em face de tributos, pois caso contrário após a delimitação legal dos fatos geradores de determinado tributo não seria mais possível, ainda que por Lei, estabelecer a incidência de determinado tributo sobre novo fato gerador, pois haveria ofensa a direito adquirido daqueles que passariam a figurar como contribuintes. Prisão: ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar (pois aí entraria o código disciplinar dos militares, que prevê a prisão administrativa). Obs: Na prisão em flagrante delito: a) Civis PODEM dar voz de prisão. b) Agentes do Estado DEVEM dar voz de prisão. Tribunal de exceção: Não haverá juízo ou tribunal de exceção. Ninguém será sentenciado e processado senão pela autoridade competente. O condenado tem direito ao devido processo legal, ao contraditório e ampla defesa – defesa técnica (com advogado) e autodefesa Provas: são inamissíveis as provas ilegais (violação do direito material) e ilegítimas (violação do direito processual) Prisão civil (art. 5º LXVII): se dá apenas em duas hipóteses: a) Para o devedor de alimentos b) Para o depositário infiel (revogado pelo Pacto de São José da Costa Rica!!!) Direitos sociais: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. Direito à associação sindical (art. 8º): é livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato. II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial; III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas; IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei; V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato; VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho; VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais; VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. Obs.: É vedada a criação de mais de uma organização sindical na mesma base territorial. Contribuição Sindical Descontada em folha de pagamento de uma só vez no mês de março de cada ano e corresponde à remuneração de um dia de trabalho (a reforma trabalhista suspendeu a obrigatoriedade dessa contribuição!!!). Contribuição Confederativa É o custeio do sistema confederativo e poderá ser fixada em assembleia geral do sindicato, independentemente da contribuição sindical citada acima. Contribuição Assistencial Poderá ser estabelecida por meio de acordo ou convenção coletiva de trabalho, com o intuito de sanear gastos do sindicato da categoria representativa. Nacionalidade: Tipos de nacionalidade Originária (primária ou de origem) Estabelecida no nascimento do indivíduo. (nato) Adquirida (secundária) Advinda da manifestação de vontade do indivíduo que deseja se vincular ao Estado (naturalização). Critérios de aquisição da nacionalidade originária Territorialidade (ius solis) Atribui-se a nacionalidade a quem nasceu no território do Estado. Consanguinidade (ius sanguinis) Estabelece-se que são nacionais os descendentes de nacionais, os que têm vínculo de sangue com os nacionais, e cada estado estabelece seus critérios. São brasileiros natos (nacionalidade primária): • A) Os nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país (territorialidade); • B) Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço do Brasil (consanguinidade); C) Os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente OU venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira (consanguinidade); São brasileiros naturalizados (nacionalidade secundária): • A) os originários de países de língua portuguesa com residência por um anoininterrupto no Brasil e idoneidade moral. (naturalização ordinária, de ato discricionário, podendo o Brasil concedê-la ou não, mesmo que cumpridos os pré-requisitos.) • • B) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. (naturalização extraordinária, de concessão obrigatória pelo Estado) C) aos portugueses com residência permanente no País , se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos na Constituição. Não se pode ter discriminação entre os brasileiros natos ou naturalizados, salvos os casos de diferenciação previstos na constituição, como no caso da extradição. Extradição: nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei. O Brasil não extradita estrangeiro condenado ou acusado por crime político e de opinião, uma vez que concedemos asilo político. Cargos que somente poderão ser ocupados por brasileiros natos: I - Presidente e Vice-Presidente da República; II - Presidente da Câmara dos Deputados; III - Presidente do Senado Federal; IV - Ministro do Supremo Tribunal Federal; V – Cargos de carreira diplomática; VI - Oficial das Forças Armadas; VII - Ministro de Estado da Defesa. Atenção: brasileiros naturalizados podem ser deputados e senadores, mas eles não podem ser presidentes da Câmara ou do Senado. Perda de nacionalidade Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - Tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; II - Adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. Direitos políticos: conjunto de regras que disciplinam o exercício da soberania popular, viabilizando a participação concreta dos indivíduos na gestão do Estado (capacidade de votar e ser vot ado). Há três possibilidades de exercício de direitos políticos: Democracia indireta por meio do voto com a escolha de representantes para que exerçam o poder em nome do povo e os casos de se candidatar para ocupar esses cargos públicos. Democracia direta participação efetiva e individual de cada cidadão em relação a uma temática específica e (no Brasil, ela pode ser exercida por meio do plebiscito, referendo ou iniciativa popular). Democracia semidireta Aquela que mistura as duas formas de exercício da democracia (é o caso do Brasil). É importante distinguir a nacionalidade da cidadania. Nacionalidade Vínculo jurídico e político do indivíduo com o Estado, que se estabelece pelo nascimento ou pela manifestação da vontade. Cidadania É a qualidade que o cidadão adquire, formalmente, após o alistamento eleitoral, para votar e ser votado. O direito de escolha (sufrágio) existe de forma ativa (direito de votar) e de forma passiva (direito de ser votado). Sufrágio Prerrogativa constitucional de exercer o direito ao voto Voto Instrumento pelo qual o cidadão exerce a cidadania ao eleger representantes Eleição Processo pelo qual se escolhe alguém para exercer uma função Escrutínio Ato de coleta e apuração dos votos Soberania popular: será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante plebiscito, referendo e iniciativa popular: Plebiscito Consulta-se o povo previamente a elaboração de lei para depois se ter uma votação no Legislativo. Referendo Após a lei ser elaborada no Legislativo, o povo é consultado Iniciativa popular Prevê a possibilidade de participação do povo para a apresentação de um projeto de lei perante o Legislativo para que coloque em votação e eventualmente venha a aprovar. Os requisitos são: 1% do eleitorado nacional, distribuídos em pelo menos 5 estados da federação e cada um deles representado por 3/10 de seus eleitores. Obs.: a opinião popular não vincula a decisão do Legislativo e vice-e-versa, a ideia é se fazer uma consulta dupla sobre a temática. Direito ao voto: o voto direto, secreto, universal e periódico são matéria de cláusula pétrea, mas a obrigatoriedade do voto, não. Portanto, a obrigatoriedade do voto pode ser modificada por emenda constitucional. O alistamento eleitoral e o voto são: I - Obrigatórios para os maiores de 18 anos; II - Facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de 70 anos; c) os maiores de 16 e menores de 18 anos. Inalistáveis: quem não pode alistar-se como eleitor: a) os estrangeiros b) os conscritos (recrutas), durante o período de serviço militar obrigatório Condições de elegibilidade: I - a nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; VI - a idade mínima de: ➢ 35 anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; ➢ 30 anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; ➢ 21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; ➢ 18 anos para Vereador. Inelegibilidade absoluta: São inelegíveis os inalistáveis (estrangeiros e conscritos) e os analfabetos. Inelegibilidade relativa: a) Nos cargos do Executivo (Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos) só é possível a reeleição por um único período subsequente, aplicando-se a mesma regra aos vices (não há impedimento para mandatos subsequentes). b) Há necessidade de renúncia dos cargos do Executivo, 6 meses ante do pleito, para candidatura a outros cargos políticos (Nos cargos do Legislativo não há limites de reeleição e nem é necessária a renúncia para se candidatar a outros cargos do Legislativo). c) São inelegíveis os cônjuges, parentes consanguíneos ou afins até o segundo grau daqueles que ocupam o cargo de presidente, governador e prefeito do território ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar menos de 10 anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais de 10 anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Brasília: Senado, 1988. Mandato eletivo (tempo que o candidato eleito terá para ficar de posse do seu cargo): pode ser impugnado (contestado), no prazo de 15 dias, contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. Cassação e suspensão dos direitos políticos É vedada a cassação dos direitos políticos pela constituição, pois nenhum nacional pode perder seus direitos políticos. Mas pode ocorrer a suspensão ou perda, que ocorre com a perda da condição de ser titular de direitos políticos, nos seguintes casos. I - Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - Incapacidade civil absoluta; III - Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; V - Recusade cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V - Improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência, para conferir maior estabilidade ao processo eleitoral e uma alteração legislativa que não seja voltada especificamente às eleições correntes. Tratados e convenções sobre direitos humanos equivalentes a emendas constitucionais: precisam ser aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos, conforme estabelece o art. 5º, §3º da Constituição. Única aprovada até então: Decreto 6.949, de 25.8.2009: Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
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