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11/11/2018 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL CONFLITO INTERTEMPORAL DE LEIS ocorre quando duas leis que tratam do mesmo tema, porém de modo distinto, sucedem-se. Nestes casos, qual lei prevalece? Em regra, deverá ser aplicada a lei que estava em vigor na data do fato, contudo, existem algumas exceções. Princípio da irretroatividade da lei penal. É veda a alteração das normas penais em detrimento da situação jurídica preexistente; ou seja, uma lei nova não pode agravar a situação de um agente em face de um ilícito já cometido. Princípio da retroatividade da lei penal benéfica (art. 5º, XL, da CF e art. 2º do CP). Os efeitos benéficos e favoráveis de uma lei penal retroagem ilimitadamente e indiscriminadamente para todos os fatos anteriores à sua entrada em vigência. 11/11/2018 2 XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Abolitio criminis. Se uma pessoa comete um delito na vigência de determinada lei e, posteriormente, surge outra lei que deixa de considerar o fato como crime, deve-se considerar como se essa nova lei já estivesse em vigor na data do delito (retroatividade) e, dessa forma, não poderá o agente ser punido (art. 107, III, do CP). Art. 107 - Extingue-se a punibilidade III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; Atenção! Além de conduzir à extinção da punibilidade, a abolitio criminis faz cessar todos os efeitos penais da sentença condenatória, permanecendo, contudo, seus efeitos civis. • A lei nova mais benéfica pode ser aplicada durante a sua vacatio legis? • Não, pois a lei somente tem vigor após o decurso de seu prazo de vacatio; ademais, pode acontecer de ser revogada antes mesmo do término deste prazo. Por fim, se o juiz reconhecer a abolitio criminis durante o período de vacatio legis e a nova lei for revogada antes de entrar em vigor, não mais poderá ser revista a decisão que extinguiu a punibilidade. 11/11/2018 3 O reconhecimento da abolitio criminis ou a aplicação de benesses decorrentes da novatio legis in mellius é automático? Quem tem competência para reconhecer tais benesses? Vide art. 66, I, da LEP e Súmula 611 do STF. Art. 66. Compete ao Juiz da execução: I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado; Súmula 611 Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna. O que o magistrado deve fazer se ficar em dúvida entre qual das leis (a nova ou a antiga) é mais benigna? Em tais hipóteses, pode e deve aceitar que o próprio acusado, por intermédio de seu defensor, aponte qual das duas leis aplicáveis lhe parece ser a mais favorável. Leis excepcionais são aquelas feitas para vigorar em épocas especiais, como tempos de guerra, de grave crise econômica etc. São aprovadas para vigorar enquanto perdurar o período excepcional. Ultratividade Leis temporárias são aquelas feitas para vigorar por tempo determinado, estabelecido previamente na própria lei. Em tais casos, a lei traz em seu texto a data de cessação de sua vigência. Ultratividade 11/11/2018 4 Nessas hipóteses, determina o art. 3º do Código Penal que, embora cessadas as circunstâncias que a determinaram (lei excepcional) ou decorrido o período de sua duração (lei temporária), aplicam-se seus dispositivos aos fatos praticados durante sua vigência. São, portanto, leis ultrativas, pois regulam atos praticados durante sua vigência, mesmo após sua revogação. Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Ultratividade Como ficam os crime permanentes? Caso se trate de crime permanente cometido na vigência da lei menos grave (lex mitior), mas cuja execução se prolongue até a entrada em vigor da lei mais grave (lex gravior), poderá ser aplicada esta última. Segundo a Súmula 711 do Supremo Tribunal Federal, “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. CONCLUSÕES A norma penal, em regra, não pode atingir fatos passados/retroagir. A norma penal benéfica retroage para atingir fatos pretéritos; e A lei penal revogada pode ser aplicada após sua revogação, quando o ilícito praticado durante sua vigência for sucedido por lei mais severa. TEMPO DA CONDUTA LEI POSTERIOR (IR)RETROATIVIDADE Fato atípico Fato típico Irretroatividade (art. 1º do CP) Fato típico Aumento de pena, da prescrição, etc. “novatio legis in pejus”/“lex gravior” Irretroatividade (art. 1º do CP) Fato típico Supressão da figura criminosa “abolitio criminis” Retroatividade (art. 2º, caput, do CP) Fato típico Diminuição da pena (por exemplo) “novatio legis in melius”/“Lex mitior” Retroatividade (art. 2º, caput, do CP) Fato típico Migra o conteúdo criminoso para outro tipo penal Princípio da continuidade normativo-típica 11/11/2018 5 CABE A QUEM RECONHECER OS EFEITOS DA “NOVATIO LEGIS IN MELIUS”/“LEX MITIOR” E DA “ABOLITIO CRIMINIS”? No curso do processo de conhecimento e antes da prolação da sentença Compete ao magistrado que estiver à frente do processo de conhecimento No curso do processo de conhecimento e após a interposição de eventual recurso Compete ao Tribunal de Justiça ou ao Tribunal Superior junto ao qual estiver tramitando o recurso Após o trânsito em julgado Para provas objetivas, simplesmente afirme que cabe ao Juiz da Execução da Penal (Súmula 611 do STF); Para provas subjetivas, lembrem-se que há dois posicionamentos: (1) o primeiro defende que o reconhecimento destas benesses (após o trânsito em julgado da sentença) caberá ao Juiz da Execução Penal em todo e qualquer caso; (2) o segundo afirma que se o reconhecimento da benesse redundar em uma aplicação meramente matemática, caberá ao Juiz da Execução realizar tal ato, mas que, se implicar em juízo de valor, será necessário o ajuizamento de revisão criminal. DIFERENÇA ENTRE ABOLITIO CRIMINIS E CONTINUIDADE NORMATIVO- TÍPICA ABOLITIO CRIMINIS CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA Há supressão formal e material da conduta criminosa; Há supressão formal da conduta criminosa; A conduta não será mais punível; O fato permanece punível, pois a conduta criminosa simplesmente migra p/ outro tipo penal; A intenção do legislador é não mais considerar o fato criminoso; A intenção do legislador é manter o caráter criminoso do fato, mas com outra roupagem; Lei n. 12.015/09 ANTES DEPOIS O art. 213 do CP incriminava o estupro O art. 213 do CP continuou incriminando o estupro O art. 214 do CP incriminava o atentado violento ao pudor O art. 214 do CP foi revogado e o seu conteúdo migrou para o art. 213 do CP. Retroage ou não? Depende da análise do caso concreto. Um crime de extorsão mediante sequestro perdura há meses e, nesse período, nova lei penal entrou em vigor, prevendo causa de aumento de pena que se enquadra perfeitamente no caso em apreço. Nessa situação hipotética, a) A lei penal mais grave não poderá ser aplicada: o ordenamento jurídico não admite a novatio legis in pejus. b) A lei penal menos grave deverá ser aplicada, já que o crime teve início durante a sua vigência. c) A lei penal mais grave deverá ser aplicada, pois a atividade delitiva prolongou-se até a entrada em vigor da nova legislação, antes da cessação da permanência do crime. d) A aplicaçãoda pena deverá ocorrer na forma prevista pela nova lei, dada a incidência do princípio da ultratividade da lei penal. e) A aplicação da pena ocorrerá na forma prevista pela lei anterior, mais branda, em virtude da incidência do princípio da irretroatividade da lei penal. 11/11/2018 6 Rosa Margarida, apaixonada por Carlos Flores, imaginando que se os dois convivessem por alguns dias, ele poderia se apaixonar, resolveu sequestrá-lo. Sendo assim, o privou da sua liberdade e o levou para sua casa. Enquanto Carlos era mantido em cativeiro por Rosa, nova lei entrou em vigor, agravando a pena do crime de sequestro. Sobre a possibilidade de aplicação da nova lei, mais severa, ao caso exposto, assinale a alternativa correta. a) Não se aplica, tendo em vista a irretroatividade da lei penal mais severa. b) É aplicável, pois entrou em vigor antes de cessar a permanência. c) Não se aplica, tendo em vista o princípio da prevalência do interesse do réu. d) É aplicável, pois se trata de crime material e nesses casos deve ser aplicada a teoria da ubiquidade. e) Não de aplica, pois de acordo com a teoria da atividade, a lei a ser aplicada deve ser aquela em vigor no momento do crime.
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