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LIVRO DIDÁTICO GRADUAÇÃO EAD CIÊNCIA, INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO 1 - Ciência, inovação e empreendedorismo Rodrigo von Mengden Tomasi1 Introdução A Universidade Luterana do Brasil, em seu processo de reestruturação pedagógica, realizou uma ampla discussão sobre o seu papel na sociedade e a adequação de suas práticas as necessidades atuais de todos os envolvidos em seu DNA de formação acadêmica e profissional. Foram avaliados diversos aspectos referentes a pesquisa, a extensão e ao ensino, sempre considerando o como influenciamos a sociedade e o quanto é importante considerarmos o feedback recebido daquilo que fazemos com total dedicação em nossas salas de aula e fora delas. Esse amplo debate, com os mais diferentes stakeholders2 da Instituição, resultou no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) para os próximos cinco anos. O documento gerado apresenta as estratégias escolhidas para que possamos formar profissionais capazes de compreender a realidade social, debater as suas variáveis e qualificar ainda mais o desenvolvimento do país. Conforme afirmou o Pró-reitor Acadêmico Pedro Hernández durante a Formação Continuada de Fevereiro de 2018, quando o PDI foi entregue a comunidade acadêmica: “A Ulbra irá buscar fora dos seus muros a realidade da comunidade e o resultado deste estudo será a base do ensino. Estamos construindo uma aprendizagem significativa e transformadora, onde os alunos serão autogestores do conhecimento e o professor, um orientador”. Sendo assim, nesse contexto de evidente transformação, a disciplina que agora apresentamos foi concebida, relacionando três importantes conceitos de necessária compreensão para atingir a nova missão institucional: Ser comunidade de aprendizagem eficaz e inovadora. Abordaremos o conceito de Ciência, de Inovação e de Empreendedorismo, iniciando por este capítulo que tem como objetivo principal apresentar a 1 Mestre em Administração com ênfase em Tecnologia e Produção pelo PPGA/UFRGS. Professor dos cursos de graduação e pós-graduação, nas modalidades presencial e a distância da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) desde 2004. 2 Stakeholders são as partes de alguma forma interessadas ou afetadas pelos projetos, processos e ações de uma instituição, podendo ser pessoas físicas ou jurídicas. importância da compreensão dos mesmos, bem como sua relação, para a formação acadêmica e seu alinhamento com o PDI e toda a filosofia da ULBRA. Para tal, discutiremos nessa abordagem introdutória a importância da Ciência como base para o processo de Inovação e por consequência o fomento a adequada atitude Empreendedora embasada no conhecimento científico. Esse primeiro capítulo foi dividido da seguinte forma para facilitar a compreensão do que se propõe: 1.1 A importância da Ciência 1.2 A importância da Inovação 1.3 A importância do Empreendedorismo 1.1 A importância da Ciência Parece algo óbvio afirmarmos a existência de relação direta da Ciência com o universo acadêmico. Porém será que é tão óbvio assim? Você já se perguntou de onde veio o último conceito debatido em sala de aula? Ele tem embasamento científico, foi concebido de forma empírica, teve a devida testagem e aplicação avaliada? Muitas áreas de estudo são denominadas como ciência por seus integrantes, provavelmente com a intenção de trazer credibilidade às suas práticas, no sentido de tentar comprovar que os métodos utilizados em suas áreas são embasados em conhecimento científico e não apenas em observações diversas. Nesse material abordaremos o conceito entendendo que ciência não diz respeito apenas às ciências exatas, mas também àqueles outros domínios do saber que tratam das relações humanas, da ética, da cultura, da educação, enfim, todo o saber nascido do exame sistemático e cuidadoso dos temas referentes ao ser humano e a sociedade. Mas o que é ciência afinal? Afirmamos que a ciência não tem a intenção de estabelecer verdades absolutas ou de traçar uma compreensão plena da realidade, apesar de necessariamente partir do conhecimento científico para suas conceituações e teorias. Conhecimento científico por sua vez, pode ser denominado também como conhecimento provado. Ou seja, conhecimento derivado de métodos específicos, esses sim variáveis para cada área do saber. O método científico demanda regramentos claros para a obtenção dos dados e suas interpretações experimentais, podendo ampliar sua percepção e uso de diferentes formas, com coletas de dados, simulações, testagens, excluindo de sua prática as opiniões pessoais e os possíveis pré conceitos e preferências. Conforme Chalmers (1993) “A ciência é objetiva. O conhecimento científico é conhecimento confiável porque é conhecimento provado objetivamente.” Porém complementa dizendo que ao analisar trabalhos de diferentes epistemólogos e filósofos da ciência, percebeu que os limites da ciência e o significado das suas dimensões sociais e políticas são muito mais amplos, ao considerarem a ciência, não como uma estrutura rígida e fechada, mas como uma atividade aberta que está em contínua construção. Nessa perspectiva, Rosenthal (1989) apresenta uma série de aspectos relativos a ciências que poderiam ser abordados nos currículos de diferentes áreas que não apenas as exatas, como questões de natureza: 1. Filosófica – que incluiria, entre outros, aspectos éticos do trabalho científico, o impacto das descobertas científicas sobre a sociedade e a responsabilidade social dos cientistas no exercício de suas atividades; 2. Sociológica – que incluiria a discussão sobre as influências da ciência e tecnologia sobre a sociedade e dessa última sobre o progresso científico e tecnológico; e as limitações e possibilidades de se usar a ciência e a tecnologia para resolver problemas sociais; 3. Histórica – que incluiria discutir a influência da atividade científica e tecnológica na história da humanidade, bem como os efeitos de eventos históricos no crescimento da ciência e da tecnologia; 4. Política – que passa pelas interações entre a ciência e a tecnologia e os sistemas público, de governo e legal; a tomada de decisão sobre ciência e tecnologia; o uso político da ciência e tecnologia; ciência, tecnologia, defesa nacional e políticas globais; 5. Econômica – com foco nas interações entre condições econômicas e a ciência e a tecnologia, contribuições dessas atividades para o desenvolvimento econômico e industrial, tecnologia e indústria, consumismo, emprego em ciência e tecnologia, e 6. Humanística – aspectos estéticos, criativos e culturais da atividade científica, os efeitos do desenvolvimento científico sobre a literatura e as artes, e a influência da humanidades na ciência e tecnologia. A importância da Ciência para todas as áreas do conhecimento se evidencia facilmente dessa forma, explicitando um pouco mais a justificativa da inclusão desta disciplina nos currículos de todos os cursos. A ULBRA em seu PDI, propõe a articulação de sua Missão com a formação de profissionais comprometidos eticamente com a sociedade. Conforme o PDI, nestas propostas, as concepções basilares (o Conhecimento, a Formação Pessoal, o Empreendedorismo e a Empregabilidade), alinhadas aos princípios estratégicos e Diretrizes Curriculares Nacionais, emanam o fortalecimento da identidade confessional e seu compromisso social e comunitário. A instituição busca promover uma ação pedagógica que dinamize o desenvolvimento de competências cognitivas, técnicas, pessoais e sociais necessárias a uma inserção social éticae a uma atuação profissional emancipatória e transformadora. A prática da indissociabilidade, Extensão, Pesquisa e Ensino, é elemento integrante e modernizador dos processos de ensino-aprendizagem. Fonte: PDI ULBRA 2017-2022. Em complemento a essa proposta, o Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI postulou quatro pilares da educação do futuro: saber conhecer, saber fazer, saber ser e saber conviver. Realizando uma analogia entre competências, entendida como a sinergia de conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA)3, e os pilares da educação do futuro tem-se que: o saber conhecer trata dos conhecimentos, o saber fazer, das habilidades e o 3 CARBONE, Pedro Paulo; BRANDÃO, Hugo. P; LEITE, João B. D; VILHENA, Rosa M. P. Gestão por competências e gestão do Conhecimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. saber ser e o saber conviver representam as atitudes. O saber conhecer refere-se ao processo de aprendizagem que nunca está finalizado, um aprender a aprender contínuo. O saber fazer refere-se à articulação e combinação do preparo técnico, às aptidões pessoais e relacionais. O saber conviver depende da descoberta do outro como sujeito e da construção coletiva de projetos comuns. Por fim, o saber ser implica agir com ética, responsabilidade e compromisso social na relação com a sua realidade. Dessa forma podemos inferir que nem sempre se pode solucionar problemas com o mesmo tipo de pensamento que os criou, sendo necessário “pensar fora da caixa”, ampliar o espectro de variáveis e dos fatores que podem auxiliar na tomada de decisão e aplicá-los inclusive na abordagem de métodos científicos inovadores. Assim, justifica-se a escolha da Universidade Luterana do Brasil em ser inovadora até em sua missão, e a importância da compreensão do conceito de inovação para as mais diversas formações profissionais oferecidas na ULBRA. 1.2 A importância da Inovação Da mesma forma que comentamos sobre a obviedade da relação da Ciência com a Universidade, podemos afirmar que é obvio que a inovação é necessária para qualquer área atualmente? Conforme Simantob (2008)4 a inovação, de uma maneira geral, é percebida como essencial para a sobrevivência num cenário cada vez mais competitivo e globalizado, entretanto, ainda afirma que poucas organizações exercem algum tipo de iniciativa concreta para colocar os princípios da inovação em prática. Comenta ainda que existem duas causas principais para que isto não ocorra com tanta freqüência: a visão ultrapassada sobre inovação e o desconhecimento de ferramentas que ajudam a colocá-la em prática. Ao contrário do que muitos podem pensar, inovação não é um assunto recente. Seu conceito vem sendo estudado e suas ferramentas exploradas desde o início do século XX. Borchardt e Santos (2014) afirmam que na visão de Barney e Hesterly (2008), como também de Carvalho, Santos e Barros Neto (2011), a essência do gerenciamento do processo de inovação consiste na mobilização e coordenação dos recursos/capacidades (financeiros, físicos, humanos e organizacionais) e atores internos à empresa, bem como dos 4 Moysés Simantob, professor da FGV, co-fundador e coordenador do Fórum de Inovação, em entrevista para a Fundação Nacional da Qualidade - FNQ. recursos/capacidades e atores externos à empresa (clientes, fornecedores, instituições de pesquisa, instituições de fomento), para neutralizar ameaças e, sobretudo, explorar oportunidades alinhadas às prioridades estratégicas da empresa. Ao perceber que a mudança é algo inevitável, as organizações necessitam de uma “análise em profundidade dos valores, crenças e padrões de comportamentos que guiam o dia a dia do desempenho organizacional” (Martins e Martins, 2002) para definirem se vão se manter como estão, correndo o risco de não se adaptarem as mudanças, ou proporem práticas inovadoras. Se a cultura de inovação é parte da cultura maior de uma organização, para que ela se desenvolva, faz-se necessário lidar com aspectos restritivos à cultura nesse contexto (Mclean, 2005). Para Carvalho, Reis e Cavalcante (2011), “a resposta às pressões surge na forma de consolidação ou adoção de práticas de gerenciamento, como gestão de qualidade, planejamento estratégico, gestão financeira, marketing, gestão de projetos, gestão da produção, gestão de pessoas e, mais recentemente, gestão da inovação”. Contudo, quando lemos ciência e tecnologia de inovação, é comum imaginarmos que se trata de estudos relacionados à melhoria da produção de uma grande empresa, construção de máquinas modernas ou mesmo a criação de novos programas de computadores. Porém o que pouca gente sabe é que hoje em dia, a ciência e tecnologia de inovação, se tornou uma ferramenta importantíssima na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros (QUILICI e STADLER, 2004). Lemos (2000) dispõe que “dessa forma, noções lineares sobre o processo inovativo como aquelas que o tratavam como resultado das atividades realizadas na esfera da ciência, que evoluiria unidirecionalmente para a tecnologia, até chegar à produção e ao mercado já não se colocam mais no centro do debate. Adicionalmente, na mesma medida que a ciência não pode ser considerada como fonte absoluta de inovações, também as demandas que vêm do mercado não devem ser tomadas como o único elemento determinante do processo de inovação”. Interessante observar que temos exemplos de inovação nas mais diferentes áreas. Entre eles, as inovações sociais, na área da saúde, no poder público, nas tecnologias de comunicação, entre diversas outras que viabilizaram as tantas melhorias experimentadas em nossos dias atuais. Na educação podemos destacar a invenção da imprensa como inovação precursora e atualmente percebemos uma grande oferta de tecnologias educacionais inovadoras inseridas nos processos de ensino aprendizagem, aproveitadas por instituições que buscam a melhoria contínua através de propostas inovadoras baseadas no espírito empreendedor, ou seja, em ações executadas por não aceitarem a possibilidade de acomodação, por entenderem que devem sempre estar em busca de uma situação futura com mais qualidade. 1.3 A importância do Empreendedorismo Bom, mas como relacionar agora os três conceitos? De que forma o empreendedorismo se encaixa nessa relação proposta? Segundo Hernandez (2017)5, o conjunto de fatores em questão faz com que os recursos humanos a serem formados na Ulbra tenham a capacidade de serem agentes de transformação social, e quando se fala em agentes de transformação social, isto significa profissionais capazes de compreender a realidade social, de estrutura, de desenvolvimento, de tecnologia existentes, e, através da Universidade ou dentro do contexto universitário, discutir estas variáveis e saírem profissionais capazes de qualificar ainda mais o desenvolvimento do país. Deve-se buscar entender que o empreendedor nesse contexto acadêmico é aquele que inova, é o agente de mudanças. Porém as mudanças que buscamos são aquelas pensadas e implantadas através de método científico, de análises completas e que podem gerar propostas consistentes e duradouras. Segundo Gomes (2005) “há muitas definições do termo empreendedor, principalmente, porque são propostas por pesquisadores de diferentes campos do conhecimento, que utilizam os princípios de suas próprias áreas de interesse para construir o conceito. Duas correntes principais tendem, no entanto, a conter elementos comuns à maioria delas. São as dos pioneiros do campo: os economistas de corte liberal, que associaram empreendedor à inovação, e os psicólogos, que enfatizam aspectos atitudinais, como a criatividade e a intuição. Em um primeiro momento,os economistas identificaram no empreendedorismo um elemento útil à compreensão do desenvolvimento. Depois, os comportamentalistas tentaram compreender o empreendedor como pessoa. Atualmente, o assunto está em processo de expansão para quase todas as disciplinas.” Complementando o conceito, afirma-se no PDI da ULBRA que, 5 Fala do Pró-reitor Acadêmico Pedro Hernandez, disponível em: http://www.ulbra.br/muda- com-voce (...) “tem-se como destaque o enfoque no empreendedorismo, que na organização didático-pedagógica constitui-se como referencial fundamental para que o estudante durante a sua formação universitária, desde o início da sua vida acadêmica, para que o docente contribua neste processo de forma progressiva e pertinente ao momento do currículo no qual o aluno se encontra. E, ao conciliar os saberes legitimados pelas práticas sociais com o saber produzido pela comunidade científica que sustentam a formação de diferentes perfis profissionais, torna-se necessário aprimorar constantemente as ações na Instituição, visando ao crescimento pessoal e profissional dos estudantes, como agentes de suas aprendizagens” (PDI 2017-2022) Ou seja, o empreendedorismo se encaixa nesse contexto como o impulsionador da pesquisa científica com a finalidade de geração de inovação. O empreendedor na Universidade, e também fora dela, deve ser identificado como aquele que, interagindo com os demais, aproveita-se de um ambiente propicio ao empreendedorismo, à proposição de mudanças, à implantação de novas práticas e com abertura para novas ideias e sugestões. Deve-se reconhecer a importância de se promoverem as condições ideais para estimular a mentalidade empreendedora, a inquietação, a busca pela melhoria contínua. Pode-se afirmar que o espírito empreendedor tende a ser melhor desenvolvido em ambientes colaborativos, que permitem interações diversas e ampliação das possibilidades de aprendizado. “Uma das questões centrais que se colocam sobre esse tema é a ampliação da capacidade empreendedora, a qual, até recentemente, foi associada estritamente à qualificação formal de indivíduos (capital humano). Evidencia- se entretanto, cada vez mais, que tal capacidade não se resume ao aprimoramento de pessoas e empresas isoladamente, por meio do incremento da dotação de trabalhadores qualificados e treinados. Reconhece-se, com maior intensidade, que ambientes mais propícios ao empreendedorismo são aqueles em que ocorrem processos interativos e cooperativos de aprendizado e de inovação; daí a importância de se promover a capacitação local em inovação e aprendizado de forma coletiva e sistêmica. Nesse contexto, assumem novo papel os sistemas de relações entre os diferentes atores, cuja densidade e caráter inovador podem favorecer processos de crescimento e mudança, em que se desenvolve a atividade empreendedora, produtiva e inovadora” (ALBAGLI e MACIEL, 2002). Vivemos em um período marcado pela inovação tecnológica cuja velocidade da tomada de decisão pode ser fundamental para a diferenciação entre sucesso ou fracasso. Não podemos perder oportunidades de buscar vantagem competitiva, seja no meio acadêmico, seja no ambiente profissional. O empreendedorismo deve ser estimulado, porém com o devido cuidado de seguir um processo adequado, de análises bem feitas, de simulações consistentes, de testagens fundamentadas e com critérios objetivos. Voltamos assim ao método científico e o destaque de sua importância para a busca do embasamento científico como base para o desenvolvimento de propostas empreendedoras adequadas. Resgatando também a inovação, pode-se afirmar que essas propostas empreendedoras com base na ciência, quando direcionadas a inovação, tendem a ter mais sucesso no contexto atual. As mais recentes definições de inovação aceitas globalmente, dividem as atividades de inovação em algumas etapas, podendo ser: científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais, desde que conduzam, ou visem conduzir, à implementação de inovações. Algumas atividades de inovação são em si inovadoras, outras não são atividades novas mas são necessárias para a implementação de inovações6. Relacionando com o empreendedorismo, algumas propostas podem parecer empreendedoras, mas nem todas serão apenas por serem novidade no cenário onde foram aplicadas. É necessário o cumprimento de algumas fases para que o processo empreendedor seja realmente efetivo e para que possamos afirmar que o mesmo teve a adequada fundamentação anterior a sua implantação. Encerramos esse capítulo com a necessidade de aprofundarmos os três conceitos que formam essa disciplina, a fim de podermos utilizar o conhecimento desenvolvido para os estudos necessários em nossas áreas de formação. Sendo assim, no próximo capítulo iniciaremos com a ampliação do conceito definido como base necessária para nossos objetivos, a Ciência. 6 Manual de Oslo, 3ª Edição, 2005. Recapitulando Neste capítulo apresentamos os conceitos de Ciência, Inovação e Empreendedorismo, sua relação e os principais critérios para sua diferenciação e compreensão. Destacou-se a importância de cada um dos conceitos no contexto atual e sua identificação direta com a proposta de formação objetivada pela ULBRA para reforçar o seu papel na sociedade, buscando formar profissionais capazes de impactar na melhoria da qualidade de vida e contribuir para o desenvolvimento do país. Para tal, discutimos a importância da Ciência como base para o processo de Inovação e por consequência o fomento a adequada atitude Empreendedora embasada no conhecimento científico utilizando-se de um ambiente adequado e propício para tal. Referências e Obras Consultadas ALBAGLI, S., MACIEL, M. L. Capital social e empreendedorismo local. Disponível em: http://www.ie.ufrj.br/redesist/NTF2/NT%20SaritaMLucia.PDF BORCHARDT, P., SANTOS, G. V. Gestão de Ideias para Inovação: da ideação à implantação. ANPAD 2014. CARVALHO, H. G.; REIS, D. R.; CAVALCANTE, M. B. Gestão da inovação. Curitiba: Aymará, 2011. CHALMERS, A. F. A fabricação da ciência. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1994. CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? Tradução: Raul Filker. Editora Brasiliense 1993. GOMES, A. F. O empreendedorismo como uma alavanca para o desenvolvimento local. Disponível em: http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rea/article/view/192/44 LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento. Disponível em: http://seer.cgee.org.br/index.php/parcerias_estrategicas/article/viewFile/104/97 MARTINS, E., MARTINS, N. An organizational culture model to promote creativity and innovation. Journal of Industrial Psychology, 28(4), 58-65, 2002. MCLEAN, L. D. Organizational culture´s influence on creativity and innovation: a review of the literature and implications for human resource development. Advances in Developing Human Resources, 7(2), 226-246. doi: 10.1177/1523422305274528, 2005. QUILICI, R. F. M., STADLER, C. C. A importância da ciência e tecnologia de inovação na saúde pública brasileira: Novos conceitos e diretrizes. Disponivel em: file:///C:/Users/aqdmin/Downloads/748-quilici_RFM_A_importancia_da_ciencia%20(1).pdf ROSENTHAL, D. B. Two approaches to science – technology – society (STS) education. Science Education, v. 73, n. 5, p.581-589, 1989. SIMANTOB, M. Disponível em: http://www.fnq.org.br/informe-se/artigos-e- entrevistas/entrevistas/a-importancia-da-inovacao-para-a-sobrevivencia-das-organizacoes Atividades 1) O Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da ULBRAé: I) Um documento que apresenta as estratégias escolhidas pela Universidade para orientar a formação dos alunos; II) A representaçao de como a ULBRA propõe a articulação de sua Missão com a formação de profissionais comprometidos eticamente com a sociedade; III) A definição do Ministério da Educação, através das Diretrizes Curriculares Nacionais, que determinam como fortalecer a identidade confessional e seu compromisso social e comunitário. A partir das assertivas acima, escolha a alternativa que representa de forma correta seu conteúdo: a) Apenas a afirmativa I está correta b) Apenas a afirmativa II está correta c) Apenas a afirmativa III está correta d) Apenas as afirmativas I e II estão corretas e) Apenas as afirmativas II e III estão corretas 2) A importância da Ciência para todas as áreas do conhecimento se evidencia facilmente. Aspectos relativso a diversas áreas podem ser abordados, como por exemplo: a) Filosófica e Sociológica b) Histórica c) Política e Econômica d) Humanística e) Todas as alternativas acima e muitas outras áreas ainda. 3) O Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI postulou quatro pilares da educação do futuro. Entre eles, qual implica agir com ética, responsabilidade e compromisso social na relação com a sua realidade. a) saber conhecer b) saber fazer c) saber ser d) saber conviver e) saber aprender 4) Inovação usualmente é relacionada com melhoria. Tomando essa afirmação como verdadeira, por que ainda poucas organizações exercem algum tipo de iniciativa concreta para colocar os princípios da inovação em prática 5) Assinale a alternativa que completa a frase corretamente: O ___ na Universidade, e também fora dela, deve ser identificado como aquele que, ____ com os demais, aproveita-se de um ____ propicio ao empreendedorismo, à proposição de mudanças, à implantação de ____ práticas e com abertura para novas ideias e sugestões. a) professor, interagindo, negócio, diferentes b) empreendedor, interagindo, ambiente, novas c) professor, avaliando, ambiente, novas d) empreendedor, definindo, empreendimento, outras e) aluno, estudando, auditório, diferentes Gabarito 1) D 2) E 3) C 4) Existem duas causas principais para que isto não ocorra com tanta freqüência: a visão ultrapassada sobre inovação e o desconhecimento de ferramentas que ajudam a colocá-la em prática. 5) B 2. Desenvolvimento da Pesquisa Científica Patrícia Noll de Mattos, Msc.7 Introdução Iniciamos este capítulo falando sobre ciência, como ela é produzida e sua relação com a universidade. Além disso, para explicar como o conhecimento científico é gerado, abordaremos também a pesquisa científica. 2.1 O que é ciência? Antes de iniciarmos a apresentação sobre o processo de desenvolver pesquisa científica, falemos um pouco sobre ciência. Atualmente, a ciência é altamente considerada, mencioná-la em uma argumentação ou pesquisa, atribui a ela um sentimento de confiabilidade ou de mérito associado. É comum nos depararmos com anúncios de produtos que asseguram que seu efeito foi cientificamente comprovado, insinuando que sua afirmação é bem fundamentada. Existe uma crença de que a ciência e seus métodos são especiais e que asseguram a veracidade das afirmações, que a ciência é sempre exata e precisa. Mas será que ela é sempre assim nos diversos ramos de saberes? Segundo FONSECA (2002, p. 11-12), a ciência é um conjunto de saberes provenientes da associação de experiências práticas com o raciocínio lógico. Essa associação é constituída a partir da observação, identificação, descrição e investigação experimental, além da aplicação de teorias. No entanto, a ciência não tem a intenção de estabelecer verdades absolutas ou de traçar uma compreensão plena da realidade. Ela constitui-se em verdades provisórias, que facilitem a compreensão da realidade presente e permita prever acontecimentos futuros, permitindo que intervenções sobre os mesmos possam ser realizadas. Contudo, estamos em constante evolução, novos conhecimentos são agregados aos já existentes, novas experiências são vividas, o que nos remete ao fato de que ciência é um processo que está sempre em movimento. Na medida em 7 Possui graduação em Bacharelado em Informática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1991) e mestrado em Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996). Atualmente é professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e professor adjunto com mestrado da Universidade Luterana do Brasil. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Software Básico, Projeto de Interfaces, educação a distância e metodologia científica. que novos conhecimentos forem sendo descortinados, novas perspectivas vão sendo geradas, ampliando-se o conhecimento sobre determinada realidade. É importante que observemos que a ciência é um processo em movimento, mas que sua produção ocorre a partir do método científico, o qual envolve técnicas exatas, objetivas e sistemáticas. Nesse contexto, o método científico envolve regras fixas para a formação de conceitos, para a condução de observações, para a realização de experimentos e para a validação de hipóteses explicativas. É com base nele que novos saberes vão sendo construídos. A palavra ciência deriva do latim scientia, cujo significado é “conhecimento” ou “saber”. Ela contempla vários conjuntos de saberes adquiridos através do estudo ou da prática, segundo procedimentos específicos, ou métodos científicos. A curiosidade é um dos ingredientes base para o desenvolvimento da ciência. Ela promove no indivíduo a necessidade de saber mais, de observar, de analisar, de refletir sobre o objeto da curiosidade. Através da curiosidade e da observação o homem explora a natureza das coisas e conhece o comportamento das pessoas e dos fenômenos. Um exemplo de conjunto de saberes é o que descreve, ordena e compara os fenômenos naturais, ou seja, da natureza e seus processos, estabelecendo a relação existente entre eles e formulando regras. A esse conjunto de saberes chamamos de ciências naturais. Existes outros conjuntos de saberes, como as ciências exatas, ciências sociais, ciências contábeis, dentre outras. 2.2 Universidade e a ciência A maioria dos alunos ingressam na universidade com a intenção de cursar um conjunto de disciplinas que compõem o conjunto básico dos saberes necessários para atuar em uma determinada área profissional, e entendem que isso é o suficiente, ou seja, que aí se encerra o papel da universidade. Porém, esse compõe apenas um dos pilares da universidade, o do ensino. Os outros dois pilares são o da pesquisa e o da extensão. Assim como vimos a constante evolução da ciência, podemos dizer também que ela é sustentada por informação, por teorias e regras já pesquisadas em algum momento. A universidade, em seu pilar de ensino, tem como função reunir as informações e conhecimentos que dão base aos diversos saberes. Porém, ela não se estingue apenas no ensino, ela tem o compromisso de educar, de proporcionar aos seus alunos não apenas o alcance à informação, mas o desenvolvimento de um pensamento crítico, que seja capaz de absorver as informações, promover relações com experiências já vividas e com necessidades percebidas, provocando novas descobertas e vislumbrando novos caminhos. Na universidade, professores elaboram projetos de pesquisa e extensão dos quais os alunos podem participar. Os alunos podem participar dos projetos de pesquisa através da iniciação científica, voluntariamente,ou com bolsa, de acordo com os editais publicados pela universidade. Através desses projetos, os alunos têm a possibilidade de estudar temas mais profundamente ou mesmo novos temas, não abordados em sala de aula, além de terem um primeiro contato com o método científico. Os projetos de extensão fazem a ligação dos saberes acadêmicos oriundos do ensino e da pesquisa, com as necessidades da comunidade, faz com que se percebam as necessidades sociais, culturais, econômicas, dentre outras. Eles proporcionam a interação da universidade com a sociedade, promovendo a interação entre a teoria e a prática (FIGUEIREDO 2015). 2.3 Conhecimento científico Desde que nascemos somos levados a conhecer, de forma natural, o que está no nosso cotidiano, ao nosso redor. Seja por observação, seja por instigação de nossa família ou meios de comunicação, vamos recebendo as informações e adquirindo uma compreensão sobre as coisas do mundo, sobre o que acontece em nosso entorno, nas diversas áreas, humanas, sociais, políticas, econômicas e culturais. Para que exista o ato de conhecer, é fundamental a relação entre o sujeito e o objeto. O sujeito, no caso que nos interessa aqui, é o ser humano que construiu a faculdade da inteligibilidade, construiu um interior capaz de apropriar-se simbólica e representativamente do exterior, conseguindo, inclusive, operar de forma abstrata com seus símbolos e representações. O objeto é o mundo exterior ao sujeito, que é representado em seu pensamento a partir da manipulação que executa com eles. (LUCKESI, 1995, p. 16) Dessa forma, o conhecimento pode ser definido como a compreensão inteligível da realidade exterior, formada no interior do homem como um pensamento abstrato, de maneira que lhe possa expressar a realidade. A realidade pode ser descrita de diversas formas, determinadas situações podem ser interpretadas sob diferentes aspectos: religiosos, cotidianos, filosóficos, científicos, dentre outros. Para cada ótica, ou aspecto, um tipo de conhecimento é gerado. Sob a ótica do cotidiano, nasce o senso comum, conhecimento adquirido pelo homem a partir de suas vivências e experiências, e da observação do mundo. São conhecimentos empíricos, passados de geração para geração. Trata-se de uma herança cultural, não baseada em métodos ou conclusões científicas, mas na assimilação espontânea de conhecimentos úteis para o dia a dia. É através do senso comum que uma criança aprende o que pode ou não comer, o que é seguro ou perigoso e, mesmo, o que é justo ou injusto. Sob outra ótica, o conhecimento científico deve ser baseado em observações e observações, que servem para atestar a veracidade ou não de determinada teoria. A razão deve estar atrelada a lógica da experimentação científica, caso contrário, se configuraria como conhecimento filosófico. Segundo GIL (2008), o conhecimento científico é: • Objetivo: descreve a realidade, independente da opinião do pesquisador; • Racional: baseia-se na razão e não em sensações ou impressões para chegar aos resultados; • Sistemático: preocupa-se com a construção de um sistema de ideias, organizadas racionalmente, e em incluir conceitos parciais em totalidades cada vez mais amplas. • Geral: possui a preocupação com a elaboração de leis ou normas gerais, as quais, explicam todos os fenômenos de certo tipo; • Verificável: apresenta sempre a possibilidade de demonstrar a veracidade das informações apresentados; • Falível: reconhece a própria capacidade de errar. O conhecimento pode ser encarado como o resultado do aprimoramento do senso comum, através da investigação científica, com o objetivo de comprová-lo ou refutá-lo. Trata-se de um conhecimento passível de demonstração e comprovação, objetivo, metódico e sistematizado. Como ele pode ser, através do método científico, constantemente testado, reformulado e atualizado, o que o atribui o caráter de provisório. (FONSECA, 2002, p. 11) 2.4 Pesquisa científica Quando estamos na escola, muitos professores pedem como tarefa a realização de uma pesquisa sobre determinado tema. Nesse caso, buscamos materiais sobre o tema, escolhemos os tópicos mais importantes e montamos um documento ou uma apresentação narrando o que descobrimos sobre o assunto. Logo, a pesquisa pode ser definida como um conjunto de atividades orientadas para a busca de um determinado conhecimento. O que difere esse tipo de pesquisa da pesquisa científica? O caráter investigativo e questionador, ou seja, a problematização. Segundo GIL (2008), é pela observação que o homem adquire grande parte do seu conhecimento. A pesquisa científica parte de um problema proposto pelo pesquisador, implicando na observação, análise, reflexão crítica, síntese e aprofundamento de conceitos sobre determinado tema, com base no método científico. Dessa forma, o conhecimento científico, obtido a partir da pesquisa científica, se baseia na formulação de problemas, ou seja, na capacidade de elaborar questões para as quais se vai buscar respostas e, nesse processo, elaborar novos questionamentos. Para LAKATOS E MARCONI (2010, P. 139), a pesquisa “é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”. Segundo GIL (2008, p. 26), a pesquisa pode ser definida como “o processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos. É importante ressaltar que, independente da natureza da pesquisa, ao aplicar a metodologia científica, ela contribui para a aquisição de novos conhecimentos, na medida que promove reflexão e discussão sobre o assunto pesquisado. Se produz novo conhecimento, está produzindo ciência. DEMO (1987, p.20) menciona que “a ciência propõe-se a captar e manipular a realizada assim como ela é. A metodologia desenvolve a preocupação em torno de como chegar a isto.” Segundo GIL (2010), algumas características sociais e intelectuais do pesquisador são fundamentais para a obtenção do êxito na pesquisa, são elas: • curiosidade • criatividade • conhecimento sobre o que deve ser pesquisado • integridade intelectual • atividade corretiva • sensibilidade social • imaginação disciplinada • perseverança e paciência Além dessas qualidades, GIL (2010) ressalta a importância da construção de um projeto que planeje e norteie a pesquisa. O desenvolvimento de uma pesquisa pode ser dividido em três etapas principais, a de planejamento, a de execução e a de divulgação. A etapa de planejamento consiste na construção do projeto de pesquisa, através da realização de revisão literária, busca do problema, definição da hipótese, objetivos, justificativa, referencial teórico e definição da metodologia. Uma pesquisa bem planejada, possui maior probabilidade de ser seguida e de se obter êxito. A etapa de execução corresponde ao desenvolvimento da pesquisa, onde se coloca em prática o que foi planejado no projeto. Consiste na aplicação dos métodos e técnicas definidas na metodologia: realização de experimentos, construção de protótipos, realização de entrevistas e dentre outros. Nesta etapa, os resultados são obtidos através da aplicação da metodologia definida no projeto, são analisados, testados e validados. A etapa de divulgação consiste em divulgar os achados de pesquisa, através da publicação de um relatório final, artigo científico, resumos ou apresentação em eventos científicos. 2.4.1 Tipos de pesquisa, método, natureza e abordagem Iniciaremos esta seção classificando a pesquisa científica quanto a seu tipo, como pesquisa pura ou aplicada. A pesquisa pura, ou básica como também échamada, tem seu foco na melhoria de teorias científicas, para melhor prever ou compreender os fenômenos naturais ou de outro tipo. Normalmente, esse tipo de pesquisa é puramente teórico e tem a intenção de ampliar a compreensão de certos fenômenos ou comportamento, sem procurar tratar ou resolvê-los. Pesquisa aplicada, por sua vez, usa pesquisas científicas para desenvolver tecnologias ou técnicas com a intenção de alterar fenômenos ou comportamentos e intervir nos mesmos. A pesquisa pura serve como base para a pesquisa aplicada. A escolha do método depende do paradigma de pesquisa adotado, ou seja, deve ser apropriado ao tipo de estudo que se pretende realizar e, principalmente, à natureza do problema e ao nível de aprofundamento que se pretende adotar. Existem os métodos qualitativos e os métodos quantitativos. O método qualitativo abrange o paradigma fenomenológico, voltado à interpretação e descrição; ele preocupa-se em descrever a realidade investigada e não com medidas e fórmulas matemáticas. Ele é bem empregado em descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, ideal para entender particularidades de comportamento de indivíduos, processos, entidades, motivações de um grupo, interpretar a opinião e as expectativas dos indivíduos de uma população. O método quantitativo abrange o paradigma positivista, voltado à quantificação e mensuração. Ele tem como intenção de garantir a precisão dos resultados, através da utilização de técnicas estatísticas. Pode ser bem empregado para medir relações causa/efeito entre variáveis e avaliar o resultado de um sistema ou projeto. O próximo item que devemos considerar é o nível de pesquisa. A pesquisa pode ser classificada como exploratória, descritiva ou explicativa. Uma pesquisa pode ser classificada individualmente em um desses níveis ou pode associar mais de um, dependendo do objetivo do estudo. A pesquisa exploratória busca compreender um determinado problema ao aprimorar seu conhecimento. Ela propicia a obtenção de novos conhecimentos e pode ser planejada de forma bastante flexível. Estudos exploratórios são aqueles em que não se tem informação sobre determinado tema e se deseja conhece-lo. A pesquisa descritiva possui como objetivo a descrição das características de determinado assunto, podendo ser um fenômeno, população ou grupo (distribuição por idade ou sexo, por exemplo). Estudos descritivos são realizados quando se deseja descrever as características de determinado tema, organizando-o ou classificando-o. A pesquisa explicativa possui como objetivo analisar, verificar, avaliar ou explicar um determinado tema, normalmente já existente. Ela costuma explicar o porquê ou a razão de um determinado conceito ou acontecimento. Estudos explicativos são úteis quando se deseja analisar as causas ou consequências de um determinado tema. Agora que já estudamos o tipo, o modelo e o nível de sua pesquisa, estamos prontos para avaliar as estratégias de pesquisa, ou procedimentos que podem ser utilizados no processo de investigação. Recapitulando Neste capítulo refletimos sobre o que é ciência e sua relação com a universidade, o que é conhecimento científico e pesquisa científica. Vimos os diferentes tipos de pesquisa, método e natureza ou nível de pesquisa. Referências e Obras Consultadas DEMO, Pedro. Introdução à Metodologia da Ciência. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1987. FIGUEIREDO, Karen. Experiência Universitária: Os três Pilares da Universidade. Blog InspirAda. 2015. Disponível em: https://inspiradanacomputacao.github.io/academia/experiencia- universitaria-os-tres-pilares-da-universidade/ Acessado em: abril de 2018. FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. _______________. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à Filosofia. São Paulo: Cortez, 1995 Atividades 1. A pesquisa que busca esclarecer a relação entre causa e efeito e costuma explicar a razão de ser de um determinado conceito ou acontecimento, é caracterizada como: a) Exploratória b) Explicativa c) Descritiva d) Bibliográfica e) Experimental 2. A pesquisa qualitativa tem como característica: a) Trabalhar com dados numéricos b) Utilizar técnicas de estatística para o tratamento dos dados c) Utilizar técnicas probabilísticas para obtenção dos dados d) Apresentar o comportamento e a interpretação de fatos, acontecimentos e contextos e) Ser puramente exploratória 3. O desenvolvimento de uma pesquisa pode ser dividido em etapas, a saber: a) Exploratória, descritiva e explicativa b) Qualitativa ou quantitativa c) Pura ou aplicada d) Planejamento, execução e divulgação e) Planejamento, divulgação e execução 4. A construção do projeto de pesquisa, através da realização de revisão literária, busca do problema, definição da hipótese, objetivos, justificativa, referencial teórico e definição da metodologia, correspondem a qual etapa do desenvolvimento da pesquisa? a) Exploratória b) Pesquisa bibliográfica c) Planejamento d) Divulgação e) Execução 5. A pesquisa que busca compreender um determinado problema ao aprimorar seu conhecimento, além disso, propicia a obtenção de novos conhecimentos e pode ser planejada de forma bastante flexível, é caracterizada como: a) Exploratória b) Explicativa c) Descritiva d) Bibliográfica e) Experimental Gabarito 1) b 2) d 3) d 4) c 5) a 3. Métodos e procedimentos de pesquisa Patrícia Noll de Mattos, Msc.8 Introdução Este capítulo abordará as principais técnicas e procedimentos de pesquisa, sua relação com o tipo e a natureza da pesquisa e com os principais métodos de coleta e análise de dados. Abordará também o que é método científico e sua diferença em relação à técnica. 3.1 O que são técnicas e procedimentos de pesquisa? Os métodos descrevem como você desenvolverá sua pesquisa e os procedimentos as ferramentas que você utilizará para desenvolvê-la. Porém, antes de você iniciar a escolha dos métodos e procedimentos, é importante o entendimento do que é “metodologia de pesquisa”. O estudo de metodologia de pesquisa nada mais é do que o estudo de como fazer pesquisa. Vamos ver a definição de metodologia de pesquisa segundo Michel Thiollent, na obra “Metodologia da pesquisa-ação”, 2009: “A metodologia tem como objetivo analisar as características dos vários métodos disponíveis, avaliar suas capacidades, potencialidades, limitações ou distorções e criticar os pressupostos ou a implicação de sua utilização.” GIL (2008) define o método como o caminho para se chegar a determinado fim, e o método científico, o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicas adotadas para se obter conhecimento. Método pode ser visto como a maneira de proceder, a maneira de ordenar a ação de acordo com certos princípios, ou a ordem que se segue na procura da verdade, no estudo da ciência, para procurar um fim determinado. Uma técnica é um procedimento, cujo objetivo é a obtenção de um determinado resultado, seja na ciência, na tecnologia, na arte ou em qualquer outra área. Consiste em um conjunto de regras, normas ou protocolos que se utiliza como meio para chegar a uma certa meta.8 Possui graduação em Bacharelado Em Informática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1991) e mestrado em Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996). Atualmente é professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e professor adjunto com mestrado da Universidade Luterana do Brasil. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Software Básico, Projeto de Interfaces, educação a distância e metodologia científica. Na definição da metodologia, você deverá definir o método a ser utilizado, de acordo com o tipo de pesquisa e sua natureza, ou seja, se a pesquisa é pura ou aplicada; quantitativa ou qualitativa; exploratória, descritiva ou explicativa. Além disso, precisa definir o aparato instrumental a ser utilizado, ou seja, as ferramentas e técnicas que serão necessárias para o desenvolvimento da pesquisa. Todas essas definições fazem parte do planejamento da pesquisa, e já devem estar presentes desde a especificação do projeto de pesquisa. As ferramentas a serem utilizada, ou seja, as estratégias de pesquisa vão ajudar você a definir o plano de ação de sua pesquisa, orientando-o nos processos de coleta e análise de dados. 3.2 Técnicas e Estratégias de Pesquisa Ao escolher a(s) estratégia(s) de pesquisa que você irá utilizar em sua pesquisa, você está delineando um plano de ação para a mesma. Além disso, a escolha da estratégia de pesquisa irá orientar a definição das técnicas de coleta e análise de dados a utilizar. A seguir são apresentadas as principais estratégias de pesquisa. 3.2.1 Pesquisa bibliográfica A maioria das pesquisas iniciam por ela, pois ela permite ao pesquisador a utilização de uma série de recursos disponíveis sobre um determinado tema. Através da pesquisa bibliográfica você pode utilizar-se de diversos recursos disponíveis sobre determinado tema, recorrendo a pesquisa já realizadas e conteúdos já publicados em revistas, livros, jornais, monografias, teses, resumos ou artigos em anais de congressos e simpósios, dentre outros. Ela contempla o referencial teórico já publicado acerca do tema (Lakatos e Marconi, 2009). Dependendo da questão de pesquisa, remete à necessidade da pesquisa bibliográfica, como no caso de estudos históricos, por exemplo, muitas vezes não há outra forma de realizar a pesquisa senão através de fontes secundárias. É importante, porém, que os dados obtidos através desse tipo de pesquisa sejam analisados, que sua profundidade seja averiguada e que sejam comparados com os de outras fontes, de forma a garantir sua integridade. A pesquisa bibliográfica requer uma leitura organizada e sistemática dos textos, utilizando-se de técnicas de leitura, como anotações, fichas de leitura e fluxogramas. Assim como qualquer outra estratégia de pesquisa, ela deve ser planejada, definindo-se a classe de fontes que serão utilizados, quais veículos de publicação e palavras-chave de busca. 3.2.2 Pesquisa Documental A Pesquisa documental lhe permite pesquisar em documentos e materiais ainda não analisados e tratados, mas que tenham valor científico para o tema estudado. Como exemplos podemos citar os arquivos de órgãos públicos e instituições, cartas, memorandos, diários, gravações, dentre outros. Segundo GIL (2002), o que difere a pesquisa documental da pesquisa bibliográfica é a natureza das fontes. A pesquisa documental utiliza materiais que ainda não receberam um tratamento analítico. A pesquisa bibliográfica, por sua vez, utiliza-se da contribuição sobre diversos autores sobre determinado assunto. Por se utilizar de fonte ainda não tratadas, a pesquisa documental pode tornar-se mais morosa, porém, em muitas situações, é de grande contribuição, pois pode possuir um conteúdo bastante rico. 3.2.3 Pesquisa de levantamento Levantamento ou Survey consiste na interrogação direta do comportamento dos sujeitos sob investigação. Esta estratégia permite que você colha as informações de um grupo significativo de pessoas sobre o tema estudado e, em seguida, obtenha conclusões acerca dos dados, através da análise quantitativa dos dados. Segundo GIL (2010), “quando o levantamento recolhe informações de todos os integrantes do universo pesquisado, tem-se um censo”. Devido à dificuldade, normalmente não são pesquisados todos os integrantes de uma população estudada, realizando-se a pesquisa com uma amostra da população. Existem técnicas de amostragem que definem parâmetros para escolha do local dos participantes, tamanho da amostra, tipo de amostragem, garantindo a confiabilidade dos dados obtidos para o resultado da pesquisa (GIL, 2010). Como ele é realizado? O pesquisador, por meio de conhecimento prévio, adquirido através de pesquisa bibliográfica ou outra estratégia, estabelece construtores, variáveis e pressupostos que o guiarão na construção de seus instrumentos de pesquisa. O principal instrumento utilizado é o questionário, podendo ter questões abertas ou fechadas. Com o auxílio da internet, é possível a utilização de uma série de ferramentas que permite a publicação de pesquisas online, facilitando sua distribuição, tabulação e análise de dados. 3.2.4 Estudo de Campo No estudo de campo, a pesquisa é desenvolvida no próprio local em que ocorrem os fenômenos ou fatos em estudo, é importante que o pesquisador tenha contato direto com o objeto de estudo, realizando a maior parte do trabalho pessoalmente. As principais técnicas de coleta de dados utilizadas no estudo de campo são: observação direta das atividades do grupo estudado, observação participante, entrevistas, análise de documentos, filmagens e fotografias (GIL, 2002). Utiliza-se esta técnica quando se tem o objetivo de obter informações sobre um problema ara o qual se procura uma resposta, comprovação de hipóteses ou descobrir novos fenômenos e suas relações. Ele focaliza uma comunidade de trabalho, estudo, lazer ou com qualquer outra finalidade. Trata-se de um grupo ou comunidade que possua uma estrutura social, onde há interação entre seus componentes (GIL, 2002). 3.2.5 Estudo de Caso Trata-se de uma investigação empírica que averigua um fenômeno dentro de seu contexto real. Tem como objetivo aprofundar a descrição de determinada realidade. No estudo de caso, o pesquisador realiza uma investigação prática do comportamento do fenômeno estudado dentro de um contexto real, desde que estabelecidos alguns limites. GIL (2008) afirma que o estudo de caso tem sido cada vez mais utilizado pelos pesquisadores, uma vez que serve a pesquisas de diferentes propósitos, tais como: explorar situações da vida real, cujos limites não estão ainda bem definidos; descrever a situação do próprio contexto onde se está realizando determinada investigação; explicar as variáveis que causam, determinado fenômeno em situações complexas, as quais não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos. Um estudo de caso pode utilizar-se de diversas estratégias para tentar compreender a complexidade de um fenômeno em seu contexto, utilizando-se de diferentes fontes de coletas de dados, tais como: documentos, registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante, dentre outros. 3.2.6 Pesquisa-ação Trata-se de uma pesquisa com base empírica que é concebida e realizada de forma associada a uma ação ou resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e os representantes da situação problema estão envolvidos de forma cooperativa e participativa (THIOLLENT, 2009). Para ser classificada como pesquisa-ação, é necessário que haja uma ação por parte dos implicados no problema sob observação, ou seja, que haja uma interferência no contexto tratado. Além da participação, essa estratégia pressupõe uma formade ação planejada por parte do pesquisador e dos participantes, de cunho social, educacional, técnico ou outro. São características da pesquisa-ação: • possuir caráter participativo e cooperativo entre pesquisadores e participantes da situação problema; • ter caráter de pesquisa, onde a situação problema necessita de investigação para ser elaborada; • ter caráter de ação, através da resolução planejada de um problema coletivo. • A pesquisa-ação pode ser construída em quatro fases, a saber: • fase exploratória, onde se realiza um diagnóstico para identificar problemas e as capacidade de ação e intervenção; • fase de pesquisa profundado, a qual ocorre por meio de coleta de dados; • fase de ação, a qual corresponde ao planejamento e execução das ações, estabelecidas a partir das discussões com os participantes do estudo; • fase de avaliação, onde obtém-se o resgate do conhecimento obtido e redireciona-se as ações. Diferentes técnicas podem ser utilizadas para coleta de dados como documentação, questionário, entrevistas, dentre outras. A análise de dados pode envolver, tantas técnicas quantitativas, como qualitativas (THIOLLENT, 2009). 3.2.7 Pesquisa Experimental A pesquisa experimental opera com a manipulação, observação e controle direto sobre os elementos em experimentação. Ela consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar variáveis capazes de influenciá-las e definir formas de observar e controlar o efeito que elas produzem no objeto. A pesquisa experimental se relaciona diretamente às ciências naturais e seus avanços científicos. Uma das suas características é que seu experimento pode ser realizado de diversas formas e pode ser repetido, se tiver a intenção de se obter o mesmo resultado. 3.2.8 Pesquisa ex-post facto Este tipo de pesquisa estuda fenômenos ou fatos que já aconteceram, com a intenção de entende-los melhor, descobrir como e por que ocorreram. Esses fatos ou fenômenos podem estar associados a catástrofes, atentados, epidemias, crises econômicas, atos de violência, dentre outros. A coleta de dados pode ocorrer por meio de experimentos, manipulando variáveis, muitas vezes reproduzindo situações que já aconteceram. 3.3 Técnicas de coleta de dados Após você ter delineado sua pesquisa, definindo o método, o tipo e a estratégia de pesquisa), é necessário definir a(s) técnica(s) que será(ão) usada(s) para a coleta dos dados. Independente do método empregado, toda pesquisa necessita do levantamento de dados de diversas fontes. É importante que, ao definir a(s) técnica(s) a utilizar, que você a conceitue, justifique e a descreva. Caso você opte, por exemplo, por aplicar questionários, é importante que você o conceitue, justifique sua escolha de acordo com a natureza da pesquisa a ser desenvolvida, descreva o público alvo da pesquisa, forma de distribuição, análise dos dados e construa o instrumento. Todas essas etapas consistem no planejamento dos instrumentos a serem utilizados para a coleta dos dados da pesquisa. A seguir serão apresentadas algumas técnicas bastante utilizadas. 3.3.1 Bibliográfica Esta técnica permite ao pesquisador acessar a uma vasta fonte de informações sobre o tema pesquisado, através de diversas fontes e autores. Esta técnica proporciona acesso a toda bibliografia já tornada púbica relacionada ao tema, agregando publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, relatórios de pesquisa, monográficas, teses, dentre outros (LAKATOS; MARCONI, 2009). A escolha das fontes depende dos objetivos da pesquisa, do tema e natureza da pesquisa. Hoje em dia, muitas fontes de pesquisa possuem versão digital e estão disponíveis na internet. O portal da CAPES é o padrão brasileiro para acesso a periódicos científicos, teses e dissertações, acessível através do endereço www.periódicos.capes.gov.br. 3.3.2 Documental Os documentos constituem em uma importante fonte de pesquisa histórica, permite ao pesquisador comprovar documentalmente, embasando informações abordadas sobre o tema da pesquisa. A principal característica desta técnica é que a fonte de dados consiste em documentos que podem ser obtidos nos momentos em que o fato ocorre, podendo ser escrito ou não. Esses materiais ainda não receberam tratamento analítico, diferenciando-os das fontes bibliográficas. Os documentos podem ser escritos, tais como: documentos oficiais, publicações parlamentares, documentos jurídicos, documentos administrativos, fontes estatísticas, dentre outros. Contudo, os documentos podem ser de outras naturezas, tais como fotografias, gravações, vídeos, folclore, dentre outros (LAKATOS; MARCONI, 2009). 3.3.3 Observação A observação é utilizada para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Algumas estratégias de pesquisa a utilizam com frequência para a coleta de dados, dentre elas, o estudo de campo. A observação pode ser realizada de diferentes formas, são elas: Observação não-estruturada: consiste em recolher e registrar fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos sistematizadas (estudos exploratórios sobre o campo a ser pesquisado). Observação estruturada: utiliza instrumentos para a coleta de dados ou fenômenos observados. O observador sabe o que procura e o que carece de importância (quadros, anotações, escalas). Observação não-participante: o pesquisador presencia o fato, mas não participa dele, faz mais o papel de espectador. Observação participante: o observador se incorpora ao grupo, passa a fazer parte ativa do grupo pesquisado. Observação individual: observação realizada por um pesquisador, pode ocorrer inferências ou distorções, mas pode intensificar a objetividade. Observação em equipe: observação em equipe, em alguns casos pode ser mais aconselhável do que a individual, pois o grupo pode observar a ocorrência por diferentes ângulos. Observação na vida real: observações efetuadas no âmbito real, registrando- se os dados à medida que forem ocorrendo. Realizar os registros no local. Observação em laboratório: tenta descobrir a ação e a conduta que obteve em condições cuidadosamente dispostas e controladas. 3.3.4 Entrevista A entrevista é uma técnica de coleta de dados utilizada em várias estratégias de pesquisa, tais como, levantamento e estudo de caso. Trata-se de uma excelente técnica para obtenção de dados subjetivos, tais como comportamentos, atitudes, opiniões etc. A preparação da entrevista é uma das etapas mais importantes do seu processo, requer tempo e exige alguns cuidados, tais como (LAKATOS; MARCONI, 2009): • o planejamento da entrevista deve ter em vista o objetivo a ser alcançado; • a escolha do entrevistado deve ser alguém que tenha familiaridade com o tema pesquisado; • a oportunidade da entrevista, ou seja, a disponibilidade do entrevistado em fornecer a entrevista, que deverá ser marcada com antecedência para que o pesquisador se assegure de que será recebido; • as condições favoráveis que possam garantir ao entrevistado o segredo de suas confidências e de sua identidade; • a preparação específica que consiste em organizar o roteiro ou formulário com as questões importantes; • Preparar com antecedência as perguntas a serem feitas ao entrevistado e a ordem em que elas devem acontecer; • Submeter a entrevista a um pré-teste, ou seja, procurar realizar uma entrevista com alguém que poderá fazer críticas; • Não elaborar perguntas absurdas, arbitrárias, ambíguas, deslocadas ou tendenciosas; • As perguntas devem ser feitas levando em conta a sequência do pensamento do pesquisado. Além de todos os aspectos apresentados acima, é importante definir o tipo de entrevista que melhor iráatender as necessidades do tema, do entrevistador ou entrevistado, que pode ser: Entrevista estruturada: é elaborada mediante questionário totalmente estruturado, todos os entrevistados respondem às mesmas perguntas, permitindo a comparação posterior de suas respostas. Como exemplo é possível citar os censos, pesquisa de opinião, intenção de votos e etc. Entrevista não-estruturada: atende principalmente finalidades exploratórias. O entrevistador introduz o tema e o entrevistado tem liberdade para discorrer sobre o tema sugerido. Entrevista semiestruturada: constitui-se em uma mescla entre a entrevista estruturada e a entrevista não-estruturada, pois combina perguntas abertas e fechadas. Os entrevistados devem seguir um conjunto de questões previamente definidas no sentido de dirigir a discussão, porém, possuem liberdade de discorrer sobre elas. 3.3.5 Questionário Os questionários são constituídos por uma série de perguntas ordenadas que devem ser respondidas por escrito. Por ser possível sua distribuição digital, possibilitam atingir um grande número de pessoas. Podem ser preenchidos, no próprio local da pesquisa, em formulários digitais, cujo link é fornecido, pode ser enviado por meio digital ou correio físico. Junto com o questionário deve-se enviar uma nota ou carta explicando a natureza da pesquisa, sua importância, necessidade de obter respostas para o sucesso da pesquisa e o tempo que o respondente terá que dispender para responde-lo. Possui um índice de retorno bem menor do que as entrevistas, por isso, é muito importante chamar a atenção do respondente seja no título utilizado da mensagem enviada, como no conteúdo da carta explicativa (LAKATOS; MARCONI, 2009). É importante, assim como nas entrevistas, que seja submetido a um pré-teste, ou seja, antes de entregar aos respondentes, deve-se aplicar o questionário com algumas pessoas que possam fazer uma análise crítica. Deve-se levar em conta os tipos, a ordem, os agrupamentos de perguntas em sua formulação. 3.3.5.1 Tipos de questões Um questionário pode ser construído com base em vários tipos de questões, tais como: questões abertas, questões fechadas e questões mistas; quanto ao relacionamento entre as questões, podem ser independentes ou dependentes (LAKATOS; MARCONI, 2009). Questões abertas: permitem ao informante responder livremente, com suas palavras e com a possibilidade de emitir opinião. Uma pergunta ou questionamento é apresentado e deixa-se um espaço em branco para a resposta, sem qualquer tipo de restrição. Questões fechadas: apresenta-se um questionamento e alternativas de resposta, dentre as quais o informante deve escolher. Esse tipo de questão facilita o processo de tabulação, embora restrinja a liberdade de resposta. Questões fechadas de escolha simples categórica: o respondente deve escolher entre uma das alternativas de resposta, que exclui as demais. É importante garantir que qualquer que seja a situação ou opinião do informante, tenha uma alternativa que se enquadre, mesmo que essa seja “outro”, “prefiro não informar” ou “não se aplica”. Questões fechadas de escolha simples forçada: o informante deve escolher uma das alternativas, sendo a que mais se encaixe com sua percepção, escolha ou opinião. As alternativas não precisam ser excludentes, mas o informante deve escolher uma apenas. Pode ser informado no enunciado que apenas uma alternativa deve ser escolhida. Questões fechadas de escolha simples a partir de uma escala: o informante deve escolher uma das alternativas, sendo a que mais se encaixe com sua percepção, escolha ou opinião. O informante deve emitir sua percepção por meio de uma escala de intensidade. As respostas sugeridas apresentam um grau de intensidade crescente ou decrescente (exemplo, concordo plenamente, concordo, não concordo nem discordo, discordo e discordo plenamente). Questões fechadas de múltipla escolha: o informante pode selecionar mais de uma das alternativas de resposta fornecidas. Questões fechadas de classificação: o informante deve classificar as sugestões de resposta com base em um critério preestabelecido (exemplo, “Classifique de 1 a 6, da mais importante para a menos importante...”). Questões mistas: são questões de escolha simples ou múltipla que apresentam, dentre as alternativas de resposta, uma questão aberta (exemplo de alternativas: jornal, revista, televisão, indicação de um amigo e outro: indique qual:______). Quanto à relação de dependência entre as questões, é independente caso o ato de responde-la independa da resposta de outras questões. Uma questão é dependente quando sua resposta depende de uma ou mais respostas fornecidas anteriormente. 3.3.6 Escala Escalas são instrumentos construídos com o objetivo de medir a intensidade das percepções, opiniões e atitudes dos respondentes, da forma mais objetiva possível (GIL, 2008). O objetivo das escalas é permitir que se quantifique as respostas, dando uma relação de distância padronizada entre as respostas, a as análises estatísticas. Existe mais de um tipo de escala, a saber: Escala de intensidade: as perguntas são organizadas na forma de um mostruário, onde, para cada pergunta, existe respostas que variam de três a cinco graus. O mais indicado é a utilização de respostas com cinco graus de intensidade, evitando a tendência de se escolher o grau intermediário (exemplo: aprovo totalmente, aprovo com restrições, não tenho opinião definida, desaprova em certos aspectos, desaprova totalmente). Escala de Likert: apresentam cinco níveis de concordância em relação às afirmações acerca do assunto. Sua construção segue os seguintes passos: Seleciona-se um grande número de enunciados ou afirmações que manifestem opinião ou atitude com relação ao objeto de estudo; Solicita-se a um número específico de pessoas que manifestem sua concordância ou discordância sobre cada um dos enunciados, de acordo com a graduação: concordo plenamente (5), concordo (4), indiferente (3), discordo (2) e discordo plenamente (1). 3.3.7 Experimentação A técnica de experimentação consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto. Se processa por tentativa e erro, e pode ser realizada em qualquer ambiente. Trata-se do processo de investigação de pesquisa empírica que têm como principal finalidade testar hipóteses que dizem respeito a relações de causa e efeito. Ela envolve variáveis independentes e depententes, conforme apresentado a seguir: Variáveis indepensdentes: consiste em diversas condições antecedentes tomadas como relevantes para a ocorrência de detemindao evento. Variável dependente: representa o fato, o efeito, produzido, suspenso ou afetado pela presença, ausência ou variações das variáveis independentes. Técnica por excelencia adotada na pesquisa experimental, mas pode ser realizada também no laboratório e na pesquisa de campo. Ela normalmente exige a execução de seis passos, a saber: • observação - acumula informações sobre os acontecimentos; • organização - das informações recolhidas; • procura - de regularidades; • hipótese - tentativa de explicação das regularidades encontradas; • experimentação - verifica a hipótese colocada e • conclusão. A experimentação poder ser aplica tanto às manifestações quantitativas e qualitativas, através das quais os indivíduos e seus comportamentos se revelam. Contudo, os aspectos quantitativos são mais relevantes, predominando o caráter de medição do método. 3.4 Técnicas de análise de dados Nesta seção, trabalharemos com as principais técnicas de análise de dados de pesquisa. Os dados, após serem coletados, devem serorganizados e analisados. Essas técnicas podem ser agrupadas de acordo com o tipo de dados a analisar. As técnicas de análise de conteúdo, análise de discurso e análise documental são específicas para tratamento de dados em texto. As técnicas destinadas à análise de dados numéricos tomam como base matemática e estatística. 3.4.1 Análise de Conteúdo Trata-se de um conjunto de técnicas de análise de comunicações, as quais utilizam procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Elas atuam na busca e geração de indicadores, tanto quantitativos quanto qualitativos, que permitam a inferência dos conhecimentos relativos às condições de produção e recepção da mensagem (AZEVEDO; MACHADO; SILVA, 2011). A análise de conteúdo é realiza em três etapas, conforme apresentado a seguir (BARDIN, 1995).: pré-análise: consiste na fase de organização das informações, com objetivo de sistematizar ideias iniciais, de forma a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento de operações sucessivas. É a fase onde se inicia o contato com os documentos a serem analizados, a formulação das hipóteses e dos objetivos, além da elaboração de indicadores necessários para a interpretação final. análise do material: compreende a transformação dos dados brutos almejando a compreensão do texto. A organização da codificação encolve o recorte (escolha das unidades), a enumeração (escolha das regras de contagem) e a classificação (escolha das categorias. Permite atingir uma representação do contrúdo ou sua expressão, sucetível a esclarecimentos sobre as características do texto, podendo servir de índices; tratamento de dados: os resultados são submetidos a operações que destacaram as informações obtidas. Nessa fase são realizadas as interpretações e propostas as interferências. Corresponde a tratar os resultados brutos de forma a torná-los válidos e significativos. São utilizados procedimentos estatísticos com a intenção de produzir quadros de resultados, diagramas, figuras, modelos que sintetizam as informações fornecidas pela análise, além de conduzir à elaboração de conclusões finais. 3.4.2 Análise de discurso Esta técnica reúne a linguagem, o indivíduo e uma situação e/ou contexto. Pressupõe-se que, através da linguagem, os participantes da pesquisa comunicam-se e produzem um objeto (discurso) carregado de construções ideológicas. Ela focaliza a linguagem na forma como é utilizada em textos sociais, escritos ou falados, oriundos de entrevistas, respostas abertas de questionários, discussões de grupo e documentos. Segundo ORLANDI (2009), a análise de discurso se relaciona a questões de linguagem, tendo como contribuição o estado de reflexão e interpretação da linguagem do discurso. Diferente da análise de conteúdo, que procura responder a questão: “o que este texto quer dizer?”, na análise de discurso a questão proposta é: “como este texto quer dizer?” Ou seja, visa compreender como um objeto simbólico produz sentidos. 3.4.3 Análise documental Esta técnica consiste em operações que tem como objetivo gerar uma nova forma de representação do conteúdo contido em documentos, com o objetivo de facilitar o acesso ao observador, de forma a obter o máximo de informação (aspecto quantitativo), com o máximo de pertinência (aspecto qualitativo). Ocorre a transformação do documento primário (bruto) em um documento secundário (representação do primário). A análise documental “é uma fase preliminar da constituição de um serviço de documentação ou de um banco de dados” (BARDIN, 1995). Correspondem a resumos (considerações sobre o documento) ou indexação que permitem classificar elementos de informação dos documentos, através da classificação por palavras-chave, descritores ou índices. 3.4.4 Análise matemática ou estatística Através destas técnicas, os dados numéricos são analisados através de técnicas estatísticas, as quais podem ser descritivas, operando com quantidades, frequências e médias; comparativas, classificatórias e etc. Os dados numéricos podem estar representados por valores numéricos, taxas, quantidades, ou ser oriundos de questões fechadas de questionários, convertidos para dados numéricos. A estatística possibilita a apresentação dos resultados científicos de forma mais cautelosa, uma vez que se refere a valores médios, tendências e probabilidades. Essas técnicas geralmente estão associadas ao método quantitativo, permitindo uma forma mais precisa de descrever os fatos, possibilita a sumarização dos mesmos, a tomada de decisão e permite que se realizem predições (DENCKER e DA VIÁ, 2001). Recapitulando Neste capítulo você aprendeu o que são procedimentos de pesquisa e para que são utilizados, as técnicas de coleta de dados que podem ser associadas a eles, bem como, formas de analisar os dados coletados. Referências e Obras Consultadas AZEVEDO, D.; MACHADO, L.; SILVA, L. V. Métodos e procedimentos de pesquisa: do projeto ao relatório final. São Leopoldo: Unisinos, 2011. 102 p. BARDIN, Laurence. Análise de consteúdo. Lisboa: Persona, 1995. DENCKER, Ada de Dreitas Maneti; DA VIÁ, Sarah Chucid. Pesquisa empírica em ciências humanas (com ênfase em comunicação). São Paulo: Futura, 2001. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. ________________. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. Sâo Paulo: Atlas, 2002. ________________. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. Sâo Paulo: Atlas, 2010. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marian de Andrade. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 7. Ed. São Paulo: Atlas, 2009. ORLANDI, Eni P. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes, 2000. THIOLLENT, Michel. Pesquisa-ação nas organizações. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2009. Atividades 1) Sobre os métodos e procedimentos de pesquisa, assinale a alternativa INCORRETA: a) Os métodos descrevem como você desenvolverá sua pesquisa. b) Os procedimentos correspondem às ferramentas que você utilizará para desenvolver sua pesquisa. c) O método como o caminho para se chegar a determinado fim. d) O método corresponde ao aparato instrumental a ser utilizado, ou seja, as ferramentas e técnicas que serão necessárias para o desenvolvimento da pesquisa. e) A pesquisa bibliográfica corresponde à uma estratégia de pesquisa. 2) A estratégia de pesquisa que consiste na interrogação direta do comportamento dos sujeitos sob investigação corresponde a: a) Estudo de caso b) Estudo de campo c) Pesquisa bibliográfica d) Pesquisa documental e) Levantamento 3) A estratégia onde a pesquisa é desenvolvida no próprio local em que ocorrem os fenômenos ou fatos em estudo corresponde a: a) Estudo de caso b) Estudo de campo c) Pesquisa bibliográfica d) Pesquisa documental e) Levantamento 4) São consideradas técnicas de coleta de dados (pode ter mais de uma resposta correta): a) Estudo de caso b) Questionário c) Estudo de campo d) Entrevistas e) Observação 5) A técnica de análise de dados chamada “Análise de Conteúdo” apresenta as seguintes etapas, nessa ordem: a) Pré-análise, tratamento de dados, análise do material. b) Tratamento de dados, indexação, condensação c) Pré-análise, análise de material, tratamento de dados d) Tratamento de dados, condensação, indexação e) Identificação, tratamento de dados, indexação Gabarito 1) d 2) e 3) b 4) b, d, e 5) c 4. Projeto de pesquisa científica
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