Prévia do material em texto
ANÁLISE CRÍTICA DO FILME: “O príncipe das marés” DISCIPLINA: Humanismo No Filme o Príncipe das Marés a realidade da vida é retratada nas cenas de uma maneira tão intensa e tão humana que chega a doer na gente. Como nos dói o real da vida não é mesmo? Tom Wingo é um homem adulto, casado com a médica Sallie onde juntos construíram uma família com três filhas muito amadas por eles. O casamento no entanto está passando por uma crise no relacionamento. Tom é um treinador de baseboll que também parece estar desiludido da sua área profissional. Encontra-se numa fase do adulto médio onde muitas lembranças, dúvidas, questionamentos do passado se cruzam com a linha do presente. Completando o quadro de personagens, temos Susan Lowenstein, sua terapeuta que nos lembrou muito as técnicas da Psicanálise. Para Freud o passado, o presente e o futuro são entrelaçados pelo fio do desejo que os une, ou seja; o tempo existe na transversalização dos discursos do que nós mesmos dizemos, do que no acontece, somos nós que cimentamos por meio de nossas emoções o significado, o sentido do que nos acontece. Essas interconexões com recortes de cenas de filmes com a vida real e vivida por nós se faz importante porque são como se a realidade fosse um espelho do que se retrata na cena. É o real da vida que se mostra num recurso imaginário, mesmo qu sejam lá do nosso arquivo pessoal de lembranças, e muitas vezes traumáticas, que podem ser dessa forma compreendidos e re-significados. Tom é um homem com bastante sarcasmo e ironias, sua forma de se relacionar com qualquer pessoa sempre foi assim. Disperso e pouco atento ao que as pessoas falam ao seu redor, quando indagado, responde sempre de forma irônica disconversando, e quando tocado num assunto delicado acabava sempre soltando uma piadinha sarcástica. É atraves dessa ironia e forma sarcástica que Tom encobre sua dor. Para Jung, a ironia também é um mecanismo que as pessoas usam para viver na superfície. No caso de Tom, a irnoa é uma forma de mecanismo de defesa do ego. São maneiras inconscientes que utilizamos para nos protegermos de questões que nos fariam sofrer. Tom agride para ver até onde pode ir, é quase que um teste. Se as pessoas próximas se afastam é porque não merecem seu investimento, suas relações são sempre uma espécia de prova. Tom só cresceu em tamanho porque seu inconsciente ficou fixado na infância, para não lidar com situações de estresse ou desgaste afetivos. Ele não foi capaz de lidar com a dor do estupro e seu ego separou o peso afetivo (que seria a dor) do trauma (estupro) para que ele pudesse viver melhor. Todos nós temos nossos mecanismos de defesa, a de Tom foi a ironia e sarcasmo. Como adulto, Tom passa a se frustrar com tudo, beirando o abismo das relações com sua família. Ao ser cogitado a viajar para New York ser a memória externa e sua irmã, ele encontra muito mais do que ajuda a Savana, encontra a sua própria cura. Vindo de uma família onde a relação com o pai agressivo e usuário de bebidas alcoolicas, Tom, Savana e Luck eram irmãos inseparáveis. Num determinado dia, quando somente Layla que era a mãe e as crianças estavam em casa, foram surpreendidos por alguns homens fugitivos, bandidos. O trauma de Tom acontece nesse episódio onde é estuprado, assim como sua irmã Savana e sua Mãe. Luck que é o irmão mais velho e o único dos filhos que batia e frente ao temperamento do pai, corre localizar a espingarda da família, atirando sem receio dos bandidos. Ferindo e matando. Em comunhão os três irmão e a mãe enterram os homens, limpam a casa e escondem todo o ocorrido do pai que chega em casa mais tarde. Esse silêncio foi a dor mais intensa que o próprio estupro. Através disso Tom se torna este homem adulto cheio de dores do passado. A história tende a ter um final diferente para Tom devido o encontro com a terapeuta Lowenstein que a princípio pede sua ajuda para o tratamento de Savana que está sobre os cuidados psicológicos e médicos numa clínica de reabilitação para suicidas. Lowenstein o cativa com seu jeito calmo e tranquilo. E juntos começam uma viagem rumo a descoberta dessa dor e desse trauma de Tom. No entanto, como o destino não joga com cartas marcadas, os dois se apaixonam. Passam a cativar um sentimento forte e muito intenso, se envolvem e chegam a nomear o sentimento como: Amor. Após algumas semanas, Tom esteve frente a frente com seus traumas, foi impossível lembrar das lembranças de infância de sua irmã Savana e não lembrar da sua. Atravez da associação livre, técnica usada pela terapeura, Tom faz imergir sentimentos que até então ficaram somente no passado. Uma das cenas mais tocantes do filme foi onde a terapeuta psiquiatra lhe diz: “ tem que ter coragem para deixar a dor sair Tom”. Muitas vezes nós mentimos para nós mesmos, nos sabotamos para não sofrer. É nessa distância, nesse miolo que o teraputa pode ajudar. Por meio das associações livres, interpretações, o profissional vai juntando e organizando as reminiscências do passado e juntamente do paciente vai juntanto e descascando as camadas do passado, limpando as máscaras até chegarem ao núcleo da dor. E isso é lindo! Dentro da terapia, quando verbalizamos nossos segredos, eles se tornam conscientes e ao entrar em contato com a dor do que foi vivido nós de certa forma obrigamos nosso ego a aceitar e entender a realidade e nossa história pode ser compreendida e reintegrada na nossa biografia. Abrem-se os parenteses e os contextos ficam completos dentro do texto das nossas vidas. Nos fica muito claro a importancia do expressar. Como faz diferença o choro e o riso. E que rir demais também não é normal. Um filme sensível, com atores renomados como Barbara Streisand que dirigiu o filme inclusive. Porém além da psicanálise, podemos notar a importância que o trato fino e delicado com pessoas se faz necessário hoje em dia. O envolvimento entre paciente e terapeuta está longe de ser correto, no entanto, neste caso específico também foi o que salvou a vida de Tom. Mesmo que seja em filme, o romance nos traz a importância de brotar sentimentos em pessoas que encontram-se desacreditadas na vida, no amor. Aliás, a lição do filme - se é que podemos falar assim – é exatamente essa, o amor. O amor é a chave para tudo. Para se abrir e para fechar ciclos, e foi isso que Tom fez. Ele e Lowenstein não ficaram juntos, ele voltou pra casa e retomou seu trabalho e amor de sua esposa e filhas, mas no entanto permitiu-se vivenciar tal romance de forma plena entendendo alguns novos significados da vida e também ensinando outros.