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PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS (NP1 NP2)

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MÓDULO 1 - FUNDAMENTOS DAS POLÍTICAS DE ESTADO
1.    FUNDAMENTOS DA POLÍTICA SOCIAL
O conceito de política advém da Grécia Clássica, e se refere aos procedimentos da pólis, as antigas cidades gregas. As pólis possuíam formas específicas de organização das relações sociais, que serviram de base para os atuais modelos de sociedades democráticas atuais.
  O termo política, no entanto, com o decorrer da História ganhou outros sentidos. Para Maquiavel, por exemplo, política se referia à arte de conquistar e manter o poder, concepção utilizada pelos reis, durante o período absolutista, para afirmar seu domínio frente às pessoas. 
  Mais tarde, a palavra política passou a designar orientação e atitudes de um governo ou instituição frente a um determinado assunto. Neste sentido, falamos das políticas públicas de saúde, que se referem ao conjunto de parâmetros e ações construídas pelo poder público, voltada à promoção da saúde da população. Ouvimos também sobre as atuais políticas educacionais, que precisam ser efetivadas para a formação de uma nova geração crianças capazes de transformar suas realidades. Lembramos a política café-com-leite, referente à alternância de poder entre mineiros e paulistas durante a República Velha http://www.abc.es/cultura/libros/20141106/sevi-origenes-grecia-national-geographic-201411051337.html
     Política ainda pode ser entendida como um domínio de estudos das Ciências Humanas. A Política estuda, por exemplo, os jogos de poder subjacentes às formações econômicas e sociais, as articulações para a formação e manutenção de interesses de grupos específicos, entre outros. 
  Em um sentido usual, o termo política se relaciona às ações entre pessoas e grupos em direção a um acordo, um consenso ou uma mudança. Quando se aponta que o psicólogo faz política, coloca-se que o profissional atua na realização das orientações estabelecidas por um corpo coletivo, ou que o psicólogo propõe diálogos e encontros para a construção do acordo e da transformação.
  A psicologia brasileira, desde a década de 80, tem ampliado suas formas de atuação, inserindo-se em questões que envolvem grupos, comunidades e políticas.
  Dentro deste panorama, quando pensamos em políticas públicas, referimo-nos às ações do Estado que objetivam as necessidades e interesses dos diversos setores da sociedade civil. Falamos de orientações voltadas para os cidadãos em geral, e não apenas, a grupos específicos de pessoas e instituições. 
  Começaremos com a apresentação dos fundamentos das políticas públicas, dentro de uma perspectiva histórica.
  Quando pensamos em políticas públicas, referimo-nos às ações do Estado que objetivam as necessidades e interesses dos diversos setores da sociedade civil.
Na sociedade brasileira, o termo política está vinculado a representações negativas, como corrupção, interesses próprios, ineficiência, entre outros. Muitas vezes, quando ouvimos a palavra política, somos remetidos justamente ao contrário daquilo que o termo designa, ou seja, ações voltadas para a organização da coletividade.
Reflita se, nos últimos anos, há uma mudança na percepção da política por parte dos brasileiros. Pesquise nos jornais e na mídia, em geral, se estão ocorrendo mudanças na forma do cidadão lidar com a política.   
Pense no dia-a-dia de seu trabalho, ou da faculdade. Com certeza, você mantém relações com pessoas que possuem interesses, às vezes semelhantes, outras vezes, divergentes. No entanto, todo esse jogo de desejos e anseios precisa ser dialogado em favor da empresa, da classe, ou seja, da coletividade. Reflita se você tem atuado politicamente dentro destes contextos.  
   
1.1 Decadência da sociedade feudal e absolutismo
   
A partir do século XIII, o sistema feudal começa a entrar em declínio, abrindo espaço para o surgimento um novo modelo de sociedade. Há um gradativo aumento do comércio impulsionado pelas Cruzadas, estimulando a circulação de produtos. Surge excedente de produção nos feudos, o que favorece o uso de moedas em detrimento ao sistema de trocas de mercadorias. Cidades começam a despontar no cenário europeu, decorrentes do fortalecimento do comércio e da expansão da população. Uma nova classe surge, a burguesia, que gradativamente reivindicará uma posição na sociedade, contrapondo-se ao poderio da nobreza. 
  Jacobbelo del Fiori, 1395-1400, Toledo Museum of Art, Ohio
  http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/j/jacobell/index.html
  
A pintura acima reflete a presença do pensamento divino no cotidiano da sociedade medieval.
Esta configuração será propícia para o estabelecimento de novas ideias, resgatadas do pensamento clássico. A Lei Divina perde força e o pensamento racional passa a organizar as relações sociais e a sustentar o poder nas mãos dos reis, fortalecidos pelos impostos decorrentes da expansão comercial. Um novo tempo se abre: o Renascimento.
 Para Maquiavel, o homem possui um desejo insaciável, havendo a necessidade de freá-lo. Caberia ao Estado o papel de conter os homens e seus desejos para que fosse possível a vida social.O PríncipeSobre a relação entre Estado e sociedade, inicia-se um período caracterizado pelo poder centralizado nas mãos dos reis. O renascentista Nicolau Maquiavel (1469-1527) descreveu essas formas de relação, e elaborou obras que traziam recomendações para os monarcas sobre a conquista e manutenção do poder, como a obra 
  Nicolau Maquiavel, pintura de Sandi di Tito
  http://www.art-prints-on-demand.com/a/di-tito-santi/portrait-of-niccolo-machi.html
    
Thomas Hobbes  (1588-1679) traz concepção semelhante ao trazer o “homem como lobo do homem”. Para o filósofo, o homem em situação de liberdade promove a guerra e a destruição, cabendo ao Estado o papel fundamental de controlá-lo, para que haja a possibilidade da vida coletiva. Concebe um Estado Absoluto, na obra O Leviatã, como imprescindível na proteção dos homens e na manutenção da vida social. [2] 
Capa do livro “Leviatã”, 1651
http://www.securityfocus.com/images/columnists/leviathan-large.jpg
  
Para Maquiavel, o homem possui um desejo insaciável, havendo a necessidade de um poder forte centralizador para freá-lo.
  
1.2 O Iluminismo e o poder coletivo
   
A centralização do poder nas mãos dos reis, os altos impostos sobre as mercadorias e os abusos cometidos na manutenção do poder gradativamente criaram enorme insatisfação na crescente classe burguesa. Desde o Renascimento, a burguesia buscava sua ascensão social e o poder absoluto nas mãos de um monarca contrapunha-se aos seus interesses. No século XVII, surgem os teóricos do Iluminismo, trazendo outros olhares sobre o papel do Estado e suas relações com a população.
Pintura de Eugène Delacroix, que retrata a liberdade através de uma mulher carregando a bandeira francesa.
  
John Locke (1632-1704), em suas reflexões, discorre acerca dos direitos naturais dos homens como [4] [3]o direito à vida, à liberdade e à propriedade. Tais formulações constituem reação ao modelo absolutista de governo, que atuava sem limites na realização de suas vontades. O filósofo traz a importância dos grupos, quando propõe que os homens se juntam para evitar a guerra de todos contra todos. Concebe a importância de que o poder político represente os interesses do corpo coletivo e de que os cidadãos tem o direito de se revoltar contra os governos, quando não respondem às demandas da população.
Já Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), influente pensador iluminista, cujas ideias serviram de inspiração e fundamento para a Revolução Francesa, traz contribuições importantes para a mudança do papel do Estado frente à população.
Rousseau considera que o homem em estado de natureza não se volta para a destruição do outro, trazendo a concepção do bom selvagem. O homem teria sido corrompido na passagem do estado de natureza para a sociedade civil, com a inauguração da propriedade. Inserido na vida coletiva, torna-se necessário o estabelecimento do contrato social, estabelecendo compromissos entre os cidadãos, para a preservação do bem-estare da segurança. O povo, neste sentido, possui o papel tanto na elaboração do contrato e suas leis, como na obediência àquilo que fora estabelecido. No pensamento de Rousseau surge também crítica ao Estado, visto como protetor dos mais ricos e a importância da soberania do povo e da vontade geral.
  Locke concebe a importância de que o poder político represente os interesses do corpo coletivo.
A Revolução Francesa trouxe a reivindicação da sociedade francesa contra os abusos do Rei. Porém, após a deposição do Antigo Regime, vários conflitos eclodiram decorrentes da tensão entre a alta burguesia, que reivindicava seus privilégios, e os pequenos proprietários, artesãos e sem-terra. Os interesses da alta burguesia predominaram, demonstrando como o Estado tem representado os projetos das classes dominantes.
Jean Jacques Rousseau, pintura de Maurice Quentin de la Tour
  http://www.iep.utm.edu/rousseau/
  Rousseau considera que o homem em estado de natureza não se volta para a destruição do outro, trazendo a concepção do bom selvagem.
De qualquer forma, o pensamento de Rousseau traz consigo importantes elementos para o surgimento da democracia moderna, ao reforçar a importância da participação popular na construção de parâmetros que regem a vida coletiva. Desloca o poder centralizado nas mãos de um governante para as dos cidadãos e alimenta o princípio da igualdade entre os homens como condição para a manutenção das sociedades.  
1.3 Mercado e Liberalismo
  Outro pensador marcante do iluminismo foi Adam Smith (1723-1790), considerado o pai do liberalismo econômico. Para Smith, o mercado naturalmente regula as relações sociais para uma situação equilibrada e organizada. Os mecanismos de oferta e procura estabeleceriam valores adequados para os produtos e evitariam a exploração e abusos comerciais, garantindo a harmonia entre os setores da sociedade. 
  Em seu pensamento, há uma forte crítica ao poder centralizado dos reis e um discurso favorável à classe burguesa. O individualismo é também valorizado, assim como o esforço através do trabalho, reflexo do pensamento reformista anglicano, que retira da dimensão do pecado o acúmulo de renda e enriquecimento pessoal. 
  Retrato de Adam Smith, artista desconhecido
  http://science-economique.com/theoriciens/grands-theoriciens/phrise-chronologique-des-grands-economistes-6260
Quanto ao papel do Estado na vida social, Adam Smith propõe que seja responsável pela defesa contra inimigos externos e pela promoção de melhorias para população através de obras públicas. Por outro lado, ressalta a importância de um Estado que não interfira nos mecanismos reguladores do próprio mercado e não controle a vida das pessoas. Era contra os impostos exigidos pelos colonizadores frente às suas colônias e ao protecionismo comercial que favoreceria alguns produtores em detrimento de outros.
  A fundição de ferro em blocos, de Herman Heyenbrock (1890).
  http://socialscienceexplorer.org/tag/industry/
  Os mecanismos de oferta e procura estabeleceriam valores adequados para os produtos e evitariam a exploração e abusos comerciais, garantindo a harmonia entre os setores da sociedade.
  O liberalismo de Adam Smith teve enorme influência no período da Revolução Industrial, durante o século XIX. No entanto, a entrada no novo século evidenciou seus limites, acarretando na necessidade de profundas transformações do papel do Estado na condução do país. A miséria, a exploração da mão-de-obra e o desemprego demonstravam as limitações do liberalismo.
Gravura de Gustave Doré, 1872.
  http://www.bl.uk/collection-items/london-illustrations-by-gustave-dor
  A Revolução Industrial acarretou na proliferação de doenças, como a febre tifoide e  problemas respiratórias, assim como na degradação da qualidade do ar e da água, condições marcantes das cidades do século XX.
1.4 O Estado de Bem-Estar Social
Com o crescimento descontrolado das indústrias e grupos comerciais surgiram grandes monopólios que, ao contrário do que supunham os liberais, destruíam a livre-concorrência. A falta de regulação no universo do trabalho, por sua vez, gerava práticas de exploração dos trabalhadores. As tensas configurações políticas desembocavam na I Guerra Mundial, reorganizando as relações de poder em âmbito mundial.  Em 1929, estourava a Crise da Bolsa de Valores americana, decorrente da superprodução e excesso de investimento dos Estados Unidos para suprir o mercado europeu do pós-guerra. Uma década depois, o mundo se preparava outra vez para uma crise de enormes proporções, a Segunda Guerra Mundial.  O Estado passaria a desempenhar um novo papel, diante do crescimento do desemprego e miséria.
Trabalhadores desempregados em fila para alimentação.
http://www.buscaescolar.com/historia-geral/o-periodo-entreguerras/
Dentro deste contexto, Alfred Marshall (1842-1924), questiona os ensinamentos da economia clássica, marcadas pelo princípio do livre-mercado. Traz questionamentos fundamentais para a economia, trazendo preocupações com o bem-estar da população, condições de vida, entre outros. Marshall colabora para uma mudança da própria função da Economia como ciência, e quanto ao papel do Estado, enquanto instituição voltada a responder demandas sociais. O economista discorre acerca da pobreza, do papel do Estado em reduzi-la através de intervenções na economia, assim como da importância do fortalecimento de sindicatos. Não se tratava mais apenas de lucros e circulação de mercadorias, competitividade e individualismo, mas sim, da importância da coletividade e cooperação.  
 Outro teórico fundamental do modelo de Estado de Bem-Estar Social, foi Keynes (1883-1946), discípulo de Marshall. Crítico da autorregulação do capitalismo, suas ideias inspiraram governos após a II Guerra Mundial, a fim de reestabelecer as condições de vida da população, completamente devastadas com a destruição de cidades e economias. Para o economista, o Estado desempenha um papel fundamental para intervir nos ciclos de crise econômica. Através de investimentos, créditos a baixo custo e garantias, o governo deveria sustentar patamares de produção, evitando a recessão. Suas ideias contrapunham-se às proposições do mercado livre e colocavam o Estado à frente na promoção de uma economia que gerasse empregos e crescimento para o país.
John Maynard Keynes. 
  http://socialscienceexplorer.org/tag/industry/
  Importante salientar que nos Estados Unidos, o presidente Roosevelt instaura, em 1933, uma série de medidas intervencionistas na economia e sociedade americana, o New Deal. Dentre as mudanças ocorridas, destacam-se: o estabelecimento de salário-mínimo para jornada de 40 horas, a proibição do trabalho infantil, o direito de formação de associações de trabalhadores, a abertura de frente de trabalho para promover melhorias públicas e o maior controle dos bancos. 
Pôster de 1935 acerca da Seguridade Social americana. (tradução: Quando um trabalhador segurado morre, deixando como dependentes, criança e viúva, ambos recebem mensalmente benefícios até a criança completar 18 anos)
http://www.spicker.uk/social-policy/wstate.htm
Marshall reflete a produção da pobreza, o papel do Estado em reduzi-la através de intervenções na economia, assim como a importância do fortalecimento de sindicatos.
O Estado de Bem-Estar Social promoveu profundas alterações na melhoria da qualidade de vida da população dos países onde se adotara o modelo. Escolarização, saúde, acesso a trabalho e outros direitos foram promovidos com incentivos públicos. No entanto, a partida década de 70, outras mudanças no cenário político-econômico mundial, assim como dificuldades próprias à manutenção do Estado de Bem-Estar Social acarretaram em seu enfraquecimento, abrindo porta para o Neoliberalismo.
1.5 Neoliberalismo
  
 
  
Na década de 70, o Estado de Bem-estar Social mostrava suas dificuldades, promovendo o surgimento de críticas e oposição ao modelo de governo. Os investimentos e concessões de créditos aos sistemas de saúde, educação e previdência geravam umalto custo aos cofres públicos. O endividamento dos governos e a insatisfação do empresariado diante dos impostos excessivos aumentavam a tensão política. Setores mais conservadores ganhavam terreno e exigiam a diminuição da carga tributária, além de menor intervenção do Estado na economia. 
Com a crise do petróleo, a situação se acirrou, trazendo impactos para a economia mundial. A redução da oferta do petróleo, atrelada ao desemprego crescente advindo do uso da tecnologia nos meios de produção geravam maiores problemas sociais. Os governos, por sua vez, não mais conseguiam suprir as necessidades da população, afundando ainda mais em dívidas. 
  Fila para abastecimento de carros em posto brasileiro.
  http://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,alta-do-petroleo-fez-pais-viver-crise-nos-anos-1970,10618,0.htm
 Na década de 80, os princípios do liberalismo retomam força, inaugurando o período neoliberal. Margaret Tatcher, primeira-ministra da Inglaterra, assim como Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos, foram os dois governantes que impuseram mudanças profundas para regular as contas públicas. O Estado-Mínimo começava a ser colocado em prática, através da diminuição da participação do Estado na economia. Uma série de medidas foi tomada como cortes nos gastos públicos, fim do protecionismo econômico, aumento da competitividade, controle da inflação e privatizações.
  Manifestantes contrários às políticas de Margaret Tatcher, que desmontavam direitos sociais.  
  https://steelvoices.wordpress.com
  No decorrer da década, a estabilidade econômica, controle da inflação, aumento das importações foram alcançadas, no entanto, a custas da redução da indústria nacional, desemprego, aumento da pobreza, rompimento poder de sindicatos e [12]desmonte dos direitos sociais. Cabe notar, porém, que o neoliberalismo, embora influente em termos mundiais, não consistiu na única forma de governança. Países nórdicos construíram um modelo considerado meio-termo entre o Estado de Bem-Estar Social e o neoliberal, marcado pelo acesso gratuito aos direitos básicos como saúde e educação, altos impostos, e  ao mesmo tempo, uma circulação mais livre dos produtos e fortes direitos à propriedade. A Alemanha, um das economias mais fortes do mundo desenvolveram, por sua vez, um sistema de ampla seguridade social, com forte participação do Estado na economia, em um ambiente claramente capitalista e competitivo. 
As políticas neoliberais buscam o corte nos gastos públicos e fim do protecionismo econômico. Por outro lado, fragilizam o poder de sindicatos e tendem a desmontar os direitos sociais. 
De forma geral, o modelo neoliberal tem perdurado até os dias atuais, gerando implicações em esferas diversas. O consumismo das sociedades contemporâneas, o individualismo, a degradação do meio-ambiente, a competitividade, entre outros, são alguns efeitos percebidos em nosso cotidiano. Em 2008, o mundo passa novamente por outra grande recessão, gerando consequências para o mercado internacional. O governo americano concede ajuda bilionário para o sistema financeiro, contrariando as politicas neoliberais. Desemprego e pobreza, velhos fantasmas da humanidade tem assolado economias por todas as partes, inclusive, a brasileira. 
 Crise em Wall Street.       
  http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Visao/noticia/2013/09/o-mundo-depois-da-crise-de-2008.html
Em quatro dias, depois da falência do tradicional banco Lehman Brothers, as bolsas mundiais haviam perdido 4 trilhões de dólares.
MÓDULO 2 - POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL
AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL NO SÉCULO XX E XXI
  A história das políticas públicas brasileiras segue um caminho próprio, diferente do desenvolvimento das políticas europeias e americanas. Os efeitos da colonização por Portugal, o domínio dos grandes latifundiários, as relações escravocratas, entre outros, conduziram a relações específicas entre Estado e população, marcadas pela exploração dos cidadãos. 
  2.1 Período colonial e República Velha
Durante o período colonial, o país consistia apenas em uma fonte de riquezas para Portugal, que explorava seus metais preciosos e produtos agrícolas. No âmbito da educação, por exemplo, Portugal construía restrições para o acesso de livros para a colônia. A educação estava vinculada à Igreja, através dos jesuítas, sem compromisso algum da metrópole e colônia. Com a Independência do Brasil, surgiu a primeira Constituição, que previa alguns direitos básicos aos cidadãos brasileiros, como a educação primária gratuita. Na prática, porém, houve incentivo para escolas particulares vinculadas às instituições religiosas, deixando à margem quase a totalidade das crianças brasileiras. 
  A instauração da República, por sua vez, estabelece o direito ao voto, mas impede analfabetos de exercerem o direito. Ao mesmo tempo, a Constituição de 1891 eximia do Estado o papel de conceder ensino primário gratuito. De fato, o advento da República, legitimou os interesses dos fazendeiros e latifundiários, concentrando poderes nas mãos da elite paulista e mineira: a política do café-com-leite. Evidentemente, as políticas construídas não se dirigiam às melhorias sociais da população brasileira, e se direcionavam a criação e a manutenção de privilégios dessa classe.  
2.2 Era Vargas
Na década de 30, no entanto, Getúlio Vargas entra no poder, dando início a uma fase de profundas transformações. Surge um processo de intensa industrialização no Brasil, que marcaria as políticas econômicas durante todo o século XX. O país tardiamente procurava sua inserção no mundo industrializado, provocando mudanças no cenário rural e urbano. Em 1920, por exemplo, 70% da população residiam nos campos. Já em 1990, inverte-se o panorama, com 70% dos brasileiros habitando as áreas urbanas.
 Seguindo um modelo de Estado centralizador, e alinhado politicamente a governos autoritários europeus, Getúlio Vargas procurou apoio na nascente classe operária brasileira. Concomitantemente ao projeto de industrialização do país, instaura uma série benefícios para os trabalhadores, até hoje vigentes, como a regulamentação para trabalho noturno, o teto de 8 horas de trabalho, direitos de aposentadoria, o salário-mínimo, entre outros. Ocorre o fortalecimento dos sindicatos de defesa dos operários em seu governo, favorecendo uma sólida base de apoio às suas politicas. Grandes empresas como a Petrobrás e a Vale do Rio Doce são construídas, visando independência quanto aos recursos essenciais para o desenvolvimento do país. Sua política populista garantiu-lhe sustentação, apesar da repressão e violência típicas dos regimes autoritários. 
A campanha “O petróleo é nosso” surgiu como reação aos chamados “entreguistas”, que criticavam a falta de recursos brasileiros para a exploração do petróleo.
Getúlio Vargas instaura benefícios para os trabalhadores como a regulamentação para trabalho noturno, o teto de 8 horas de trabalho, direitos de aposentadoria, o salário-mínimo, entre outros.
É importante salientar que, apesar dos avanços em termos de políticas de proteção ao trabalhador, não se tratava de um Estado voltado à promoção do bem-estar dos cidadãos, mas antes, intervenções construídas para amenizar as discordâncias inevitáveis de um sistema repressivo. Em 1939, por exemplo, fora criado o Departamento de Imprensa e Propaganda, com objetivo de fazer censura de teatros, cinema, radiodifusão, literatura e imprensa, assim como coordenar a propaganda nacional interna e externamente. A repressão e a propaganda, de fato, se tornaram pilares fundamentais do Estado Novo. 
No segundo período de governo de Getúlio Vargas, as práticas autoritárias e centralizadoras já não mais encontravam respaldo, em um mais mundo atento à democracia e aos direitos humanos. Vargas se suicida em 1954, dando prosseguimento às instabilidades da política brasileira, que desembocariam, uma década mais tarde, no golpe militar.  
 2.3 Segunda República
 Após o governo Vargas e um período de instabilidade política, o presidente Juscelino Kubitschekassume a Presidência. Através do Plano de Metas, cujo lema era “Cinquenta anos em cinco”, promove um enorme processo de desenvolvimento econômico. Em seu mandato, houve a construção de Brasília, intensa expansão industrial, construção de políticas para o desenvolvimento do interior e integração do país, assim como a abertura para o mercado exterior. Por outro lado, o país desenvolve enormes dívidas internas e externas, há um gradativo aumento da inflação, assim como aumento da concentração de renda pelos mais ricos. De qualquer forma, o país se tornava definitivamente industrializado e moderno. 
A indústria de base foi amplamente desenvolvida no governo de Juscelino, através da entrada maciça de capital estrangeiro.
Em 1961, Jânio Quadros é eleito, mas renuncia após seis meses de mandato devido a instabilidades políticas da época.  João Goulart assume a Presidência, provocando os temores em diversos setores sociais, assim como à política americana, devido ao discurso próximo à agenda socialista. Sua aproximação com setores da esquerda e a defesa da necessidade de reforma agrária no país, entre outros, geraram reação dos militares e diversos grupos sociais, como a imprensa. Espalhava-se por diversos meios de comunicação o temor pela instauração de um regime comunista no Brasil. Nos bastidores políticos, receosos pela presença do discurso marxista no país, o governo americano auxiliava nas articulações para a mudança do cenário. Em 1964, ocorre o golpe militar, mergulhando o país em duas décadas de autoritarismo. 
  A Reforma de Base consistia em um conjunto de propostas que visavam alterações nas estruturas políticas, econômicas e sociais do país, como o direito ao voto para os analfabetos e a reforma agrária.
Os sindicatos são organizações voltadas para a proteção dos direitos dos trabalhadores. Dentro de seu emprego, você ou algum familiar, está tendo seus direitos trabalhistas defendidos por alguma associação de trabalhadores? Identifique as atuais reivindicações deste sindicato.
1.4  O Período Militar
  Com o golpe militar, em 1964, surge um dos períodos mais tristes da história brasileira, que perduraria por duas décadas. A violação de direitos básicos se torna uma constante, sufocando a expressão de divergências por meio do autoritarismo. 
  Após o golpe, assume o general Castelo Branco (1964-1967), que instaura alguns atos institucionais. Há a dissolução dos partidos políticos e a instauração do bipartidarismo, representados pela Arena e Movimento Democrático Brasileiro (MDB). É promulgado o AI-2, que permitia ao Presidente a cassação de mandatos e direitos políticos.[6] [7]
  Em 1965, o general Costa e Silva (1967-1969) se torna presidente, dando início ao período da “linha-dura” do regime militar. A repressão se torna mais forte, com prisões de manifestantes contrários ao regime militar. Concomitantemente, as reivindicações pela democracia ganham espaço, através das greves de operários, movimentos estudantis e a organização da esquerda no país. Como reação dos militares, em dezembro de 1968, surge o Ato Institucional-5 que concedia poderes extraordinários ao governo, como a proibição de frequentar lugares específicos, de se realizar manifestações, de se votar e ser votado em eleições sindicais, entre outros. [8] [9]
Já o governo de Médici (1969-1974) foi marcado pelos assassinatos e prisões aos opositores. O Brasil viva os “Anos de Chumbo”, com intensa censura e repressão das liberdades. Por outro lado, o governo investia em maciça propaganda sobre o “milagre econômico”, caracterizado pelo aumento do Produto Interno Bruto, fortalecimento das empresas estatais, investimentos na infraestrutura e aumento do emprego.[10] [11]
Em relação às políticas públicas do período, há a criação de inauguração alguns sistemas de proteção social. Em 1964, surge o Banco Nacional de Habitação (BNH), com o intuito a recém-criada política de habitação. O projeto da construção de casas populares fortalecia o apoio da população para o regime militar, e incentivava o desenvolvimento econômico do país. Já em 1966, é instituído o FGTS, uma forma de poupança do trabalhador, que viabilizava o projeto da casa própria.  
  
Neste período, é criado também o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). O trabalhador passava a se constituir como contribuinte, para receber os benefícios da aposentadoria. O INPS conseguiu grande arrecadação de valores, impulsionado pelo período do chamado “milagre econômico” e consequente aumento da arrecadação de impostos.
  
Após o INPS, o governo militar criou o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). O governo federal estabeleceu convênios e contratos com médicos e hospitais no território nacional, gerando o “complexo sistema médico-industrial”, que favoreceu o crescimento das indústrias farmacêuticas e as corporações médicas. O Inamps, no entanto, privilegiava o modelo curativo em detrimento do preventivo,  com pouca capacidade de atender populações marginalizadas.[12]
No governo de Dilma Roussef é criada a Comissão Nacional da Verdade (2011), que investiga graves violações de direitos humanos cometidos por agentes públicos ou ao serviço do Estado.
Na década de 70, no entanto, com a crise econômica mundial e a insatisfação advinda de políticas repressivas e violentas, o governo militar gradativamente se vê levado a promover a abertura política. O presidente Geisel prepara campo para os primeiros passos da redemocratização, contrapondo-se à “linha-dura militar”. Extingue o AI-5, que concedia poderes extraordinários ao presidente e suspendia diversos direitos civis e prepara o governo seguinte para o retorno dos exilados políticos.[13] 
  Já no governo de Figueiredo, ocorre a extinção do bipartidarismo e o retorno das eleições civis, marcando o suspiro final do Regime Militar. Em 1983, surge a campanha das “Diretas Já”, que fora rejeitada pelo Congresso. Tancredo Neves, candidato do PMDB vence as eleições, através de voto indireto, mas falece antes de sua posse. O presidente José Sarney assume o cargo. Um novo momento da história brasileira surgia, com enormes implicações na formulação das políticas públicas.[14]
2.5 Terceira República: Período Democrático
  
 
  
Com a redemocratização do país, inicia-se a construção de parâmetros que visavam um novo modelo de sociedade, atenta aos princípios da universalidade de direitos, equidade e justiça. No governo de José Sarney, um conjunto de decretos presidenciais, normas operacionais e portarias passaram a regular a prestação de serviços sociais para a população. Trata-se de um período marcado por intensas discussões entre diversos setores da sociedade civil, que desembocaram, em 1988, na criação da Constituição Federal. 
  
Nela, regulamentavam-se os tópicos fundamentais da sociedade democrática como os direitos e deveres dos cidadãos, os direitos sociais e políticos, a organização dos Estados e seus Poderes, a defesa das instituições democráticas, entre outros.  A partir da Constituição Federal, surgiram outros corpos normativos como o Sistema Único de Saúde e do Estatuto da Criança e do Adolescente, ambos em 1990. Assim, o governo de Sarney, no âmbito das políticas públicas, garantiu a continuidade da democratização, através do estabelecimento de seus primeiros pilares. [15]
Em 1989, são realizadas as primeiras eleições diretas desde o golpe militar. Fernando Collor é eleito presidente da República e promove maior abertura econômica do país ao mercado externo. Herda um país assolado pelo fracasso do Plano Cruzado, dívidas e processo inflacionário. Conduz uma política marcada pelos princípios neoliberais, contrapondo-se à agenda desenvolvimentista-reformista defendida por outros setores da política, como o de Ulysses Guimarães. Nas eleições, percebe-se também a força do projeto democrático-popular, através da ampla quantidade de votos do candidato Lula.
  Sua política, no entanto, desagradou diversos setores, como o empresarial e industrial, temerosos com a concorrência estrangeirae com a perda de ligação com as empresas estatais, passíveis de privatização; assim como os setores voltados aos direitos trabalhistas, devido à política de desmonte de direitos sociais. Realizou confisco de poupança, junto a outras medidas, para conter alta inflacionária. Com a perda de apoio decorrente de suas políticas, atrelados a escândalos de corrupção, Collor renuncia à Presidência, que fora assumida por vice Itamar Franco. Em seu governo surge a Lei Orgânica de Assistência Social, que previa responsabilidades ao Estado na erradicação da miséria e da desigualdade social. 
  Já em 1994, Fernando Henrique Cardoso é eleito presidente, impulsionando o Plano Real, estabelecido quando Ministro da Fazenda do governo anterior. Fora elaborado o Plano de Reforma do Estado, que previa distanciamento das políticas neoliberais em favor da presença de um Estado voltado à promoção do bem-estar da população. Ocorrem privatizações de empresas estatais, como a Vale do Rio Doce, e o controle da galopante inflação, que assolava o Brasil desde o Regime Militar. Fortalece-se o processo de descentralização política, seguindo o proposto pela Constituição Federal.  Em seu governo, tem início um conjunto de programas socioassistenciais, voltad
Um dos pontos mais relevantes das políticas públicas conduzidas neste governo foi a criação dos programas de transferência de renda. Surgia o “Bolsa-Escola”, uma pequena concessão de valor econômico para as famílias de baixa-renda, com filhos pequenos e matriculados na escola. O projeto que já havia sido implantado  em alguns municípios, que atrelava renda à matrícula escolar, objetivava a permanência dos alunos nas escolas, minimizando os índices de analfabetismo. [16]
  
Já o Bolsa-Alimentação, criado em 2001, consistia na entrega de pequeno valor às famílias de baixa-renda, com o propósito de reduzir os índices de mortalidade infantil e miséria. O Auxílio-Gás, no mesmo sentido, favorecia estas famílias na manutenção das despesas de casa. Todos estes programas exigiam que os beneficiários participassem do Cadastramento Único, que organizava e acompanhava a concessão da renda. Tais programas tinham ainda como intuito a maior conscientização das famílias em relação à conquista de maior autonomia e construção de possibilidades para suas vidas. [17]
O projeto Ação pela Cidadania influenciou as políticas de transferência de renda propostas por Cristovam Buarque, culminando posteriormente no Bolsa-Escola do governo Fernando Henrique. 
Em 2002, Luís Inácio da Silva é eleito presidente da República. Manteve a política econômica do governo anterior, preservando a estabilidade monetária conquistada. Em seu governo, são colhidos diversos resultados advindos das políticas sociais, com aumento da renda da população, redução de miséria e baixos índices de desemprego. Entre 2002 2e 2012, por exemplo, é verificada uma redução de 60% da miséria[18], acarretando em elogios da comunidade internacional, como a Organização das Nações Unidas, quanto aos resultados. Ocorre ganho real do valor do salário-mínimo, aumentando o poder de compra dos brasileiros. Os constantes aumentos de produção, por sua vez, alavancava o país no cenário econômico mundial. 
No âmbito das políticas públicas, houve a junção dos programas de transferência de renda criadas no governo FHC, através do Bolsa-Família.  Como programa condicional exige das famílias beneficiadas a frequência escolar e matrícula dos filhos, além da obrigatoriedade da comprovação de baixa renda[19]. Outros investimentos que visavam os processos de inclusão social foram concessões de créditos para o acesso do estudante de baixa renda ao ensino superior, como o FIES e Prouni. Em relação ao Sistema Único de Saúde e Sistema Único de Assistência Social, por outro lado, os desafios permanecem imensos, com fragilidades no tocante à difusão e qualidade dos serviços oferecidos. 
  Durante a gestão de Lula, o país passou pela crise econômica mundial de 2008, assim como instabilidades políticas advindas de casos de corrupção. Apesar disto, os ganhos sociais e melhoria do poder de compra do brasileiro, ligado a outros fatores, garantiram a eleição de Dilma Roussef como presidente da República, em 2010. 
  Os desafios para a construção de uma sociedade justa, democrática e livre da pobreza ainda estão postos e longe de serem sanados. Tanto os profissionais de Saúde, como os ligados à Assistência Social têm sido convocados para enfrenta-los. Melhor, todos os cidadãos estão sendo chamados para a construção de um país efetivamente democrático.   
  MÓDULO 3 - PSICOLOGIA E SUS
1.    PSICOLOGIA E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
   Com o advento da democracia, surge um novo modelo de atenção, promulgado pela Constituição Federal, 1988: o Sistema Único de Saúde. O Brasil enfrentava um conjunto de problemas no tocante à promoção da saúde à população, que passariam a ser confrontados pelo sistema democrático. Muitos deles, até hoje, permanecem inalterados, outros, no entanto, têm sido combatidos com sucesso.
 As políticas públicas de saúde haviam construído um país muito desigual em termos de oferta dos serviços. As metrópoles concentravam excessivamente os hospitais, com enorme escassez de atendimentos de saúde nas regiões mais pobres e do interior do Brasil. O governo centralizado do período militar, por sua vez, retirava autonomia dos estados e municípios, o que se refletia em ações pouco atentas às reais demandas das diversas regiões do país. A falta de definição de competências de órgãos aumentava as dificuldades na realização das intervenções, gerando ações desordenadas e  desperdícios de recursos. A situação se agravava diante da falta de mecanismos de acompanhamento e de controle das políticas públicas de saúde, trazendo como consequência a ineficácia da regulação das ações promovidas pelo governo.
  
Dentro deste contexto, segmentos consideráveis da população se encontravam desprovidas de atendimentos de saúde, seja pela falta de hospitais em regiões menos desenvolvidas economicamente, ou pela obrigatoriedade da contribuição ao INPS para ter acesso aos serviços. Aqueles que eram atendidos, por outro lado, se deparavam com a baixa qualidade das instalações e atendimentos, gerando queixas quanto à saúde pública. 
 1.1 Concepção de saúde
  O Sistema Único de Saúde surgiu com o propósito de enfrentar estes desafios através das novas politicas de saúde, norteadas pelos princípios democráticos. Um dos primeiros pilares nesta transformação consiste no delineamento do próprio conceito de saúde. Até então, as intervenções de saúde possuíam caráter iminentemente curativo, com pouca atenção às práticas preventivas. Com o SUS, a saúde passa a ser compreendida em um amplo contexto, exigindo a articulação de diversos domínios, atendendo às demandas para sua promoção, proteção e recuperação. 
  Assim, no âmbito da promoção da saúde, o SUS prevê ações voltadas para:
  
•         Educação em saúde,
  
•         Alimentação,
  
•         Estilos de vida,
  
•         Desenvolvimento de aptidões,
  
•         Aconselhamentos sexuais, genéticos,
  
•         Palestras, debates, mídia.
  
Quanto à proteção da saúde:
  
•         Vacinações,
  
•         Saneamento básico,
  
•         Exames médicos e odontológicos periódicos.
  
Em relação, à recuperação, por sua vez:
  
•         Diagnóstico e tratamento de doenças, acidentes e limitações,
  
•         Reabilitação, reintegração (hospital e comunidade).
  
A partir de então, tornavam-se essenciais atenção: ao meio físico, através de políticas direcionadas às questões de saneamento básico, alimentação e habitação; às melhorias socioeconômicas da população, a partir da garantia de melhor renda e educação; e ao acesso aos serviços que viabilizam a própria saúde.
Com o SUS, saúde passa a ser compreendida em um amplo contexto, exigindo a articulação de diversos domínios, atendendo às demandas para sua promoção, proteção e recuperação. 
  
Se pensarmos, por exemplo, em uma comunidade semsaneamento adequado, onde o esgoto corre pelas vielas, sem escolas e com alto desemprego, como seriam os índices de adoecimento das crianças deste local? Em termos de gastos públicos e danos sociais, o modelo curativo de saúde não acarretaria em maiores danos ao Estado e à população? 
  Assim, o SUS traz a importância de se construir estratégias para a promoção da saúde e não somente para os cuidados com os doentes. Esta concepção, por sua vez, organiza os princípios e diretrizes do sistema, desde as ações a serem promovidas, às competências dos diversos níveis do Estado. Educação, esporte, lazer, habitação, saneamento, programas de transferência de renda começam a ser atrelados à saúde pública, exigindo a comunicação e fortalecimento de uma ampla rede de serviços sociais. 
    
1.2  Princípios do SUS
  Três princípios fundamentais sustentam a doutrina do Sistema Único de Saúde: universalidade, equidade e integralidade.
  
O princípio da universalidade garante o acesso à saúde a qualquer cidadão e a todos os serviços de saúde. Desta forma, não apenas os contribuintes tem acesso à saúde pública, como na Constituição anterior, mas todos no território nacional, favorecendo a inclusão, sobretudo, das populações marginalizadas. 
  
Já o princípio da equidade, estabelece o acesso aos serviços de saúde sem discriminação ou privilégios. A equidade é um dos elementos fundamentais para se evitar a concentração das ações de saúde em determinadas regiões brasileiras, equilibrando a rede de saúde no território nacional.
  
A integralidade, por sua vez, concebe o cidadão como pessoa indivisível e integrante da comunidade, ou seja, um sujeito biopsicossocial. Traz a saúde em uma perspectiva complexa, que envolve as dimensões da promoção, proteção e recuperação. Além disso, prevê a assistência integral ao cidadão, através de suas unidades prestadoras de serviços. 
Em relação aos princípios organizativos, a regionalização e hierarquização merecem destaque. Estes dois princípios preveem que os serviços devem ser oferecidos conforme regiões geográficas delimitadas, com identificação do público a ser atendido, levando-se em conta ainda a complexidade das situações. Com a hierarquização, os serviços são diferenciados entre os que requerem menor ou maior especificidade tecnológica, favorecendo uma atenção mais direcionada. A regionalização, por sua vez, favorece a integração dos serviços dos bairros e cidades, e a melhor compreensão dos fatores que promovem ou dificultam a conquista da saúde dos habitantes daqueles espaços.
  
Outro princípio é a descentralização dos serviços, que concede atribuições às diversas esferas de governo. Com a descentralização, pretende-se a clareza da divisão de responsabilidades, permitindo maior eficácia na promoção, proteção e recuperação da saúde. A partir deste princípio, deriva-se a municipalização dos serviços de saúde, devido à maior proximidade das prefeituras com as famílias e comunidades.
  
Já a o princípio da participação da população na formulação e controle de ações, por sua vez, consiste em um dos grandes avanços advindos com a democracia.  O Sistema Único de Saúde prevê e incentiva a participação popular na sua construção, através de entidades representativas. São também estabelecidos os Conselhos de Saúde e Conferências de Saúde, com o intuito de promover os encontros entre usuários, governo, profissionais e prestadores de serviço. A saúde passa a ser um projeto que convoca os diversos setores sociais para sua efetivação.   
O princípio da participação da população na formulação e controle de ações, por sua vez, consiste em um dos grandes avanços advindos com a democracia.
1.3 Gestão do SUS
No tocante à gestão do Sistema Único de Saúde, são definidas as atribuições de cada esfera de governo: federal, estadual e municipal.
  
Na esfera federal, tornam-se responsabilidades do Ministério da Saúde:
  
•         Delinear conjunto de ações (promoção, proteção, recuperação);
  
•         Identificação das necessidades nacionais e redução de disparidades;
  
•         Formulação, coordenação e controle da política nacional;
  
•         Planejamento, financiamento, cooperação técnica e controle do SUS.
  
Na esfera estadual, estabelece-se para a Secretaria de Saúde:
  
•         Organização das necessidades municipais apresentadas pelos planos municipais;
  
•         Corrigir distorções entre os municípios;
  
•         Executar ações que extrapolem capacidade de municípios.
  
Quanto à esfera municipal, se tornam atribuições da Secretaria Municipais de Saúde e Prefeituras:
  
•         Programar, executar e avaliar ações de saúde (promoção, proteção e recuperação);
  
•         Contato direto com a população.
  
 
1.4 O Psicólogo no SUS
  
  
A ação do psicólogo no contexto da saúde tem sofrido profundas alterações desde os debates que antecederam a redemocratização do país. Atentos às demandas da sociedade brasileira, a Psicologia se defrontava com o desafio de construir uma prática que pudesse romper o paradigma da saúde curativa. 
 
A partir das Conferências de Saúde da década de 80 e, sobretudo, após o nascimento do Sistema Único de Saúde (1988), a prática do psicólogo se desloca do ambiente privativo do consultório para a ação coletiva, junto às equipes multidisciplinares e à população. 
  
Em 1992, os Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são criados oficialmente, trazendo contribuições fundamentais como o atendimento em regime de atenção diário e a inserção social dos usuários através de ações intersetoriais que envolvam educação, trabalho, esporte, cultura e lazer.[1] É estabelecida a equipe mínima de profissionais dentro dos aparatos de saúde mental, e se fortalece a luta pela humanização dos serviços e pela cidadania dos usuários.
Com o início da redemocratização, a Psicologia se defronta com o desafio de construir uma prática que pudesse romper o paradigma da saúde curativa. 
Com as mudanças na concepção de saúde, não mais restrita ao modelo curativo, gradativamente são redimensionadas as ações do psicólogo. Em 2006, já eram mais de 18 psicólogos inseridos no SUS, abarcando lugares diversos, da saúde mental às ações comunitárias.  Abaixo, a presença dos psicólogos nos serviços do SUS.[2]  
  
  
   
Centros de saúde/UBS (30%)
   
Ambulatório especializado (12%)
   
Hospital geral (12%)
   
Hospital especializado (6%)
   
CAPS (15%)
   
Hospital psiquiátrico (3%)
   
Programas de Saúde à Família (3%)
   
Aids/Hemoterapia (1%)
   
Escolas/Apae(5%)
   
Procedimentos/Consultório (3%)
   
Procedimentos/Clínicas (3%)
   
Gestão (2%)
  
 
  
     
Penitenciárias(1%)
   
  Apesar desta concentração nos serviços de recuperação, com 30% dos profissionais ligados ao SUS nos centros de saúde e UBS, as mudanças de paradigmas trazem o psicólogo para novos campos de enfrentamento.  
Assim, os serviços tradicionais oferecidos pelos psicólogos, como atendimentos individuais e grupais,      psicodiagnóstico, avaliações, ludoterapia e encaminhamentos, passam a coexistir com as práticas voltadas para a aproximação junto ao usuário e à sua família[3]. 
Os princípios democráticos das ações dos psicólogos, por sua vez, se refletem: nos atendimentos extramuros, que permitem o conhecimento da realidade dos cidadãos e favorecem intervenções preventivas mais precisas; na coordenação de assembleia de usuários, a fim de promover cidadania e educação; assim como o apoio aos demais profissionais de outras áreas.   
  Dentro deste contexto, o psicólogo se torna um agente da prevenção e promoção da saúde. O setting terapêutico e os enquadres tradicionais são postos à reflexão, diante das demandas surgidas no ambiente comunitário e no contato com a população fora do contexto clínico e privado. A saúde como construção coletiva, convida o psicólogo às escolas, aos bairros, aos Conselhos Tutelares, às entidades representativas da comunidade, entre tantos outros espaços emque se solicita a compreensão de subjetividades. 
  
 Com o SUS, os serviços tradicionais oferecidos pelos psicólogos  (atendimentos individuais e grupais,         psicodiagnóstico, avaliações, ludoterapia e encaminhamentos) passam a coexistir com as práticas voltadas para a aproximação junto  ao usuário e à sua família.
1.4.1 A clínica ampliada
  Com os SUS, as dimensões da patologia e do doente são complementadas para a do cidadão e seu contexto. Trata-se de uma “clínica ampliada”, em que o fazer clínico não mais se restringe apenas com a interioridade do sujeito, mas também com a rede de subjetividades em que está inserido [4]  [5].
  
O uso de drogas, por exemplo, ganha outras perspectivas, com implicações nas políticas públicas e práticas psicológicas voltadas ao tema. Hoje, a compreensão do quadro é atravessada pelas considerações acerca da comunidade, família, acesso à educação, lazer, esportes e saúde. As estratégias de intervenção, por sua vez, saem do âmbito estritamente individualista, e convocam a participação do entorno e a formulação de estratégias contextualizadas diante do problema.
  Da mesma forma, quando o psicólogo é chamado para atender crianças agitadas e dispersas, cabe-lhe uma escuta atenta das configurações familiares, comunitárias e institucionais. O enfoque no doença/diagnóstico é deslocado para a compreensão dos espaços onde se configuram subjetividades, com implicações para todos os envolvidos, não somente para o sujeito alvo da queixa.
  
Na “clínica ampliada”, o fazer clínico não mais se restringe apenas com a interioridade do sujeito, mas também com a rede de subjetividades em que está inserido.
Outro exemplo que traz desafios ao psicólogo consiste em sua prática diante da violência doméstica, de gênero e contra crianças e adolescentes. Os princípios do sigilo têm sido amplamente refletidos diante das exigências atuais quanto à notificação de situações de violência. 
  
Estas situações, antes consideradas de âmbito privado, foram redimensionadas, trazendo-as para o debate da Saúde Pública. Não que o sigilo profissional, um dos fundamentos da prática psicológica tenha terminado nestes casos. Mas a construção de projetos que minimizem a violência social necessita de monitoramento para a formulação de políticas públicas eficazes que, ao final, trarão benefícios a estas vitimas.   
1.4.2 A clínica invadida
Outro aspecto importante consiste na mudança da relação estabelecida com os demais profissionais e usuários, e da relação com seus próprios conhecimentos. Trata-se de uma “clínica invadida”, em que o saber técnico se comunica com as necessidades do paciente[6]. Neste âmbito, as contribuições do pensamento de Paulo Freire se expressam na busca da voz desse outro atendido, suas vivências e percepções.
  
A clínica invadida também se refere ao apoio matricial, entendido como a oferta de serviços e saberes aos demais profissionais. Pretende a circulação dos conhecimentos da Psicologia para a equipe multidisciplinar, e vice-versa, sem perder a especificidade do campo. Trata-se da construção conjunta da saúde, que demanda a reconstrução dos saberes tradicionais em favor de intervenções contextualizadas, fortalecidas pela multiplicidade de olhares advindos dos diversos profissionais de saúde.  
  
1.4.3  A falta de adesão aos serviços e a responsabilização dos serviços
Uma das principais queixas dos psicólogos frente à atuação no SUS é a falta de adesão aos serviços prestados. Apesar da complexidade dos fatores que podem conduzir a não continuidade do usuário nos serviços, atribui-se majoritariamente a falta de adesão a fatores voltados ao próprio usuário e seu entorno[7]. 
   A atenção aos princípios do SUS, no entanto, promovem uma transformação desta perspectiva, ao considerar o usuário do sistema como protagonista da saúde. Suas opiniões e afetos devem ser levados em conta para se compreender os serviços oferecidos. 
Desta forma, a avaliação conjunta dos recursos, tanto humanos, materiais e institucionais são contemplados, a fim de se compreender as deficiências e potencialidades dos serviços ofertados à população. A falta de adesão se torna responsabilidade do poder público, que precisa estar atenta àqueles que demandam a saúde.   
MÓDULO 4 - PSICOLOGIA E SUAS
1     PSICOLOGIA E POLÍTICAS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 
 2.1 Lei Orgânica de Assistência Social  
 A Lei Orgânica de Assistência Social de Assistência Social (LOAS) foi promulgada em 1993 e serviu como fundamento para as posteriores Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
A partir do LOAS, a Assistência Social ganha outra dimensão, tornando-se responsabilidade do Estado  e parte do tripé da Seguridade Social, composta também pela Saúde e Previdência Social. A Assistência Social se torna um direito universal, com implicações enormes para o poder público, que se torna incumbido de promover a redução da miséria, da forme e da desigualdade.
São estabelecidas três dimensões de segurança para o cidadão, no âmbito da Assistência Social.  A primeira, a segurança de sobrevivência, referentes ao acesso a rendimentos e autonomia. A partir dela, o Estado deve proteger os cidadãos sem acesso a rendimentos suficientes para a manutenção adequada de sua vida, através de garantia monetária de sobrevivência. Os grupos favorecidos por essas políticas são os portadores de deficiência, idosos, desempregados, famílias numerosas e famílias em situação de vulnerabilidade. O Programa de Benefícios Continuados e o Bolsa-Família se constituem como estratégias fundamentais para prover a segurança de sobrevivência.
Já a segurança de acolhida prevê a proteção do poder público frente às necessidades humanas básicas como o direito à alimentação, vestuário e abrigo. É especialmente relevante frente a situações como violência familiar, alcoolismo, desemprego, acidentes e catástrofes e todas as fases da vida em que as necessidades básicas não podem ser atendidas.
 
A segurança de convívio familiar e comunitária, por sua vez, firma a oferta de serviços voltados para a construção e fortalecimento de laços de pertencimento de natureza geracional, intergeracional, familiar, de vizinhança e interesses comuns e societários.[1] Um dos principais fundamentos das politicas de Assistência Social, ao trazer a família como espaço privilegiado para a promoção do bem-estar social. 
A partir do LOAS, a Assistência Social ganha outra dimensão, tornando-se responsabilidade do Estado  e parte do tripé da Seguridade Social, composta também pela Saúde e Previdência Social.
2.2 Política Nacional de Assistência Social (PNAS)
 A Política Nacional de Assistência Social, derivada do LOAS, organiza princípios e diretrizes das políticas públicas da Assistência Social brasileira. A partir dela, são estabelecidas as referências gerais para a formulação dos serviços oferecidos. Seus princípios são: 
§  Supremacia dos atendimentos às necessidades especiais sobre as exigências de rentabilidade econômica,
  
Universalização      dos direitos sociais,
§  Divulgação dos serviços.
Evidencia-se uma política voltada a promoção de um Estado de Bem-Estar Social, em detrimento ao modelo neoliberal. Os princípios democráticos mais amplos como universalização dos direitos e igualdade ao acesso aos serviços refletem a busca por um país menos marcado pelas diferenças e privilégios diante de seus cidadãos. A autonomia é ressaltada no PNAS, a fim da construção de práticas não assistencialistas, trazendo os usuários como agentes transformadores de suas próprias realidades. A divulgação dos serviços, por sua vez, garante a ampliação dos serviços e a conscientização dos cidadãos como protagonistas das próprias políticas.
Quanto às diretrizes dos PNAS, três pontos são fundamentais: 
§  Descentralização político-administrativa: com atribuições específicas às três esferas do poder, seguindo os padrões de outros sistemas de garantia de direitos, como o SUS.
  
Participação      da população por meio de organizaçõesrepresentativas: estratégia      fundamental para a construção da sociedade democrática, que abre maior      espaço à formulação e controle das políticas vigentes pelos cidadãos;
 
§  Centralidade na família: que prioriza intervenções no núcleo familiar, concebido como espaço fundamental da construção de valores dos indivíduos. 
 
2.3 O Sistema Único de Assistência Social (SUAS)
O Sistema Único de Assistência Social operacionaliza as políticas anteriores. Através dele, são apresentados os eixos de ação das políticas de Assistência Social, dentre outras regulações. 
a)    Matricialidade familiar
A matricialidade familiar prevê a construção de estratégias que tomem a família como lugar principal de intervenção. A família é apresentada não dentro de sua concepção tradicional (pai, mãe e filhos), mas como configuração grupal que mantém laços afetivos, independentemente dos laços consanguíneos. Os programas de transferência de renda refletem claramente a primazia da família no contexto das políticas de Assistência Social.     
b)    Descentralização político-administrativo e territorialização
A descentralização político-administrativa e a territorialização, previstas nas políticas democráticas, garantem maior eficácia das ações junto aos cidadãos. A partir delas, o poder público consegue identificar com maior precisão as demandas sociais, assim como promover o encontro com os cidadãos. Dentro deste contexto, os municípios se tornam os principais executores das politicas de Assistência Social.
c)    Nova relação entre Estado e sociedade civil
A relação estabelecida entre Estado e sociedade civil, não apenas no SUAS, como nos demais sistemas, solicitam  a participação popular na formulação e controle das políticas, através de órgãos representativos. Os saberes da população e suas vivências são trazidos como elementos fundamentais para a construção das estratégias que visam mitigar a miséria e injustiça social.
 d)    Financiamento
O financiamento do sistema é realizado através de repasses de valores entre os poderes federal, estadual e municipal, em ordem. O SUAS prevê ainda a incompletude institucional, estabelecendo a importância do estabelecimento de parcerias com o setor privado e organizações não governamentais para a execução dos serviços socioassistenciais. 
e)    Controle social e participação popular
Conforme apresentado, a população se torna protagonista no controle das políticas socioassistenciais. Neste processo, estimula-se a conscientização dos cidadãos acerca de seus direitos e deveres, assim como a autonomia da população frente à transformação de suas vidas. 
f)     Política de recursos humanos
O SUAS estabelece ainda a importância da construção de uma politica de recursos humanos, que garanta o aprimoramento dos profissionais e serviços.
g)    Informação, monitoramento e avaliação 
            Já o eixo informação, monitoramento e avaliação permite a melhor compreensão das fragilidades e potencialidades dos grupos atendidos, assim como do próprio sistema.
2.4 Sistemas de Proteção Social Básica e Especial
 As políticas de Assistência Social, como o PNAS e SUAS, preveem um sistema que contempla duas dimensões: a proteção social básica e a proteção social especial. Com isso, obtém-se um melhor delineamento das intervenções a serem oferecidas, gerando resultados mais eficazes.
 2.4.1     Proteção Social Básica
 A Proteção Social Básica tem como objetivo prevenir situações de risco social para os cidadãos. Destina-se especialmente para a população em situação de vulnerabilidade decorrente de pobreza, privação (ausência de renda, falta de acesso a serviços públicos) e fragilização de vínculos.
Suas ações visam o desenvolvimento de potencialidades e aquisições de outras. Almejam, através de suas práticas, a conscientização de direitos e construção de estratégias para superação de dificuldades. Ao contrário das práticas meramente assistencialistas, a Proteção Social Básica atua para que os cidadãos se fortaleçam e sejam capazes de promover mudanças em seus cotidianos.
Exemplos desta atuação podem ser vistos nos projetos comunitários junto a crianças e jovens, valendo-se das atividades artísticas, esportivas e culturais. Com a aproximação do poder público nestes espaços, espera-se que uma geração se sinta acolhida e apresentada para um campo de possibilidades diversas. Favorece a produção de expectativas e novos projetos de vida, em detrimento da exposição aos riscos inerentes de lugares marcados pela violência. 
Da mesma forma, nas comunidades pobres do interior do Brasil, ações de proteção social básica favorecem a identificação de potencialidades regionais e o exercício gradativo da cidadania. Os produtores de castanha no norte do país, as mulheres rendeiras do nordeste, os grupos de pescadores de regiões pouco assistidas, conjuntamente com os profissionais do SUAS podem ser beneficiados pela reflexão conjunta de estratégias de geração de renda, conscientização de direitos, entre outros.         
A proteção social básica, da mesma forma, pretende fortalecer os vínculos familiares e comunitários. Traz a importância da organização dos grupos diante da superação das dificuldades comuns e na proteção dos indivíduos que o compõem.  De fato, comunidades e famílias que mantem forte vinculação apresentam mais recursos para a superação de problemas diversos, que vão do desemprego ao uso de drogas. A presença de um espaço seguro, que suporte diferenças e angústias, e promova bem-estar e acolhida, se torna um dos pilares para o enfrentamento das mazelas sociais. 
Uma comunidade com laços fortes entre seus integrantes, por exemplo, consegue se organizar mais efetivamente para buscar seus direitos, seja uma rua que apresente problemas de esgoto, às reivindicações de moradias. De forma semelhante, famílias que mantem diálogos e alimentam um relacionamento saudável, muito provavelmente estarão mais preparadas para enfrentar intercorrências próprias da vida, como desemprego e doenças. 
A Proteção Social Básica tem como objetivo prevenir situações de risco social para os cidadãos.
Um dos programas federais mais representativos das políticas de Assistência Social é o Programa de Atenção Integral à Família (PAIF). Nele, observa-se a referência territorializada das ações, a superação do modelo da família nuclear tradicional, valorização de heteregeneidades e a busca pelo  fortalecimento de vínculos. 
As ações do PAIF, realizadas pelo CRAS e entidades conveniadas, como oficinas, grupos de discussões, entre outras estratégias, visam a proteção e socialização de seus membros, fortalecendo referências morais, afetivas e sociais.  Permitem a aproximação do poder público com as comunidades e a prevenção dos riscos gerados pela vulnerabilidade.
Dentro deste contexto, importante ressaltar o papel dos Centros de Referência em Assistência Social, os CRAS. Estes centros são localizados em áreas de vulnerabilidade social e atendem cerca 1000 famílias por ano. Executam serviços de proteção social básica, coordenam rede de serviços socioassistenciais e são responsáveis pelo:
?  Desenvolvimento do PAIF
?  Informação e orientação para população
?  Mapeamento das comunidades
?  Programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família e os Benefícios de Proteção Continuada, voltada para idosos e deficientes. 
 
2.4.2     Proteção Social Especial
A Proteção Social Especial, diferentemente da Proteção Social Básica, direciona-se para as situações em que a violação de direitos já ocorreu. Neste sentido, suas ações não estão voltadas à prevenção dos riscos ligados à vulnerabilidade social, mas sim à resolução de um quadro onde a violência, negligência e descaso ocupam diretamente espaço na vida do indivíduo ou grupo. Dentre estas situações, apontam-se os maus tratos físicos e psíquicos, o abuso sexual, o uso de substâncias psicoativas, a situação de rua, o trabalho infantil, entre outros. As ações da Proteção Social Especial são coordenadas regionalmente pelos Centros de Referência Especializadosde Assistência Social (CREAS).
 Os serviços da Proteção Social, pelo caráter e situação dos grupos atendidos, possuem algumas características próprias como:
a)    Estreita interface com o Sistema de Garantia de Direitos e Poder Judiciário
Diante do quadro de violação de direitos, presente nos casos atendidos, os CREAS e as conveniadas mantêm estreita aproximação com Poder Judiciário, a fim de acompanhamento da situação. 
A interface junto ao Sistema de Garantia de Direitos, por sua vez, revela o princípio da incompletude institucional, e reflete o trabalho com o usuário dentro de uma perspectiva integral.    
b)    Acompanhamento individual e maior flexibilidade
A gravidade dos casos e suas particularidades torna necessário um acompanhamento mais individualizado e flexível, que consiga atender as demandas específicas do usuário. Os planos individualizados de atendimento, por exemplo, presentes nas medidas socioeducativas, servem como exemplo desta prática.
c)    Encaminhamentos monitorados
Os encaminhamentos monitorados permitem aos CREAS e conveniadas um acompanhamento mais efetivo do usuário aos serviços da rede. Os usuários que passaram por violação de direitos se encontram em situação de fragilidade, tornando-se primordial o apoio nas etapas existentes da proteção social. 
d)    Serviços de alta complexidade
Dentro da Proteção Social, os serviços de alta complexidade são voltados para pessoas que necessitam de atenção integral do poder público, através da concessão de moradia, alimentação, higiene, entre outros. Nestes casos, os laços familiares e/ou comunitários estão rompidos, não havendo possibilidade da permanência do usuário em seu meio. São exemplos destes serviços, os abrigos, tanto para crianças e jovens, como para mulheres vítimas de violência; e os albergues e repúblicas destinados à população de rua.
e)    Serviços de média complexidade
Os serviços de média complexidade, por sua vez, são destinados a famílias e indivíduos com direitos violados, mas com vínculos familiares e comunitários ainda presentes. Exemplos destes serviços: abordagem social, que concede amparo e acompanhamento assistencial moradores de rua e vítimas de exploração sexual ou trabalho infantil; as medidas socioeducativas em meio-aberto; serviços voltados para pessoas com deficiência, idosos e suas famílias; assim como o Serviço de Atenção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), que oferece atendimentos para pessoas que tiveram violação de seus direitos, por discriminação, violência, entre outros. [2] 
 A Proteção Social Especial está voltada à resolução de um quadro em que a violação de direitos já se instalou na vida do indivíduo ou grupo.
2.5     O Psicólogo no Sistema Único de Assistência Social
O Sistema Único de Assistência Social tem ampliado a atuação do psicólogo na última década. Como integrante da equipe-mínima das entidades vinculadas ao SUAS, sua participação confere uma leitura específica dos fenômenos da subjetividade dentro dos contextos coletivos e políticas socioassistenciais.
O psicólogo, neste contexto, constrói intervenções que favoreçam fortalecimento dos usuários como sujeitos de direitos e das políticas públicas. Suas ações estão alicerçadas nos princípios democráticos da universalidade, equidade e justiça, em busca da produção da autonomia e cidadania.
A fim de promover uma prática atenta do psicólogo às novas configurações políticas, no ano de 2006, surge o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP). Em parceria com os Conselhos de Psicologia, foram construídos diversos documentos referenciais para a atuação do psicólogo dentro do SUS e, sobretudo, nas diversas ramificações de serviços oferecidos pelo SUAS. Dentre os documentos, estão:
·           Referências Técnicas para Atuação das(os) Psicólogas(os) em Questões Relativas a Terra,
·            Referências Técnicas sobre a Prática de Psicólogas (os) no Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas),
·           Documento de Referências Técnicas para atuação em CRAS/SUAS,
·           Documento para Gestores da Assistência Social (Suas), 
·           Serviço de Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e Exploração Sexual e suas Famílias: referências para a atuação do psicólogo,
·           Referências Técnicas para a atuação de psicólogos no âmbito das Medidas Socioeducativas em Unidades de Internação,
·           Saúde do Trabalhador no âmbito da Saúde pública: referências para atuação dos psicólogos, 
·           Referências Técnicas para a prática do(a) psicólogo(a) nos programas de DST e Aids, 
·           Documento de referências técnicas para a atuação de psicólogas (os) em políticas públicas de álcool e outras drogas,
·           Além de relatórios qualitativos e quantitativos, relatórios de práticas inovadoras e uma série de levantamentos sobre a ação do psicólogo em contextos diversos.
A possibilidade de trabalhos a serem realizados pelo psicólogo no SUAS é enorme, abrangendo intervenções na Proteção Social Básica e Proteção Social Especial. Contemplam ações voltadas para a área da defesa e emancipação de crianças e adolescentes, idosos, mulheres vítimas de violência, deficientes, populações sem terra, grupos indígenas, pessoas em situação de privação de liberdade, grupos em situação de discriminação racial, pessoas em situação de escravidão e trabalho forçado, entre outros.
Desta forma, falar de uma prática do psicólogo no SUAS implica em apreender um vasto espectro de possibilidades, em constante transformação. De fato, pelo pouco tempo da instauração do SUAS e da inserção do psicólogo mais diretamente neste campo, pode-se afirmar que o profissional está descobrindo suas práticas, reinventado uma Psicologia atenta aos grupos em situação de vulnerabilidade social. Apesar disto, algumas perspectivas formam um núcleo constante de suas ações, sempre pautadas pela Política Nacional de Assistência Social.
Pelo pouco tempo da instauração do SUAS e da inserção do psicólogo mais diretamente neste campo, o profissional está descobrindo suas práticas, reinventado uma Psicologia atenta aos grupos em situação de vulnerabilidade social.
2.5.1 Perspectivas gerais
 Dentro do vasto trabalho do psicólogo inserido no Sistema Único de Assistência Social, alguns tópicos se destacam, conforme as recomendações do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas e das discussões estabelecidas nos Conselhos de Psicologia[3].
 a)    Não categorização das pessoas e grupos atendidos 
O psicólogo deve ter uma compreensão e ação contextualizada dos casos a serem atendidos. Indivíduos e grupos são vistos associados aos aspectos histórico-culturais a que estão inseridos. As queixas escolares, os problemas de agressividade de crianças e adolescentes, e o uso de álcool e drogas remetem sobre a importância desta recomendação.     
b)     Atenção ao processo de culpabilização da família 
A culpabilização da família, assim como do indivíduo elimina a compreensão contextualizada das situações a serem enfrentadas. Especialmente em relação à família, o psicólogo precisa estar atento às novas configurações e arranjos familiares característicos da sociedade atual.
c)    Construção de novos significados
Trata-se de promover a alteração do lugar do sujeito dentro do espaço social, e favorecer transformações em representações consolidadas na comunidade, família e indivíduos. Ações pautadas na construção de novos significados podem permitir, por exemplo, o maior apoio para adolescentes grávidas, que sofrem discriminações na família e entorno.
d)    Valorização da dimensão subjetiva das políticas públicas
 
Uma das principais contribuições do psicólogo no SUAS é sua escuta e leitura privilegiada dos fenômenos da subjetividade. A valorização do outro e suas vivências, a promoção do contato empático entre profissionais e usuários, assim como o reconhecimento da identidade e potencialidades dos grupos atendidos refletem estarecomendação. 
e)    Fortalecimento dos vínculos socioafetivos 
 
O fortalecimento dos vínculos socioafetivos possibilita a construção de uma rede de mútuo apoio frente às dificuldades. Famílias e comunidades com laços sólidos possuem maiores chances de promover saúde e bem-estar aos seus membros. 
f)     Emancipação e identificação de potencialidades
 
Um dos principais objetivos das políticas de Assistência Social é favorecer aos usuários a emancipação diante de situações potencialmente geradoras de sofrimento. A identificação de potencialidades dos grupos consiste em uma das principais estratégias neste sentido.
g)    Desenvolvimento de processos de mediação e organização de grupos
 
Dentro do SUAS, os psicólogos tem sido amplamente convocados para a realização dos trabalhos com grupos, como nos processos de mediação e organização.  A mediação e a organização dos grupos são fundamentais para o fortalecimento das famílias e comunidades, a identificação de potencialidades, a resolução de conflitos, as reivindicações e tantos outros aspectos inerentes à construção da autonomia e da democracia.  
h)   Interdisciplinaridade
 
Condição fundamental das políticas públicas democráticas, a interdisciplinaridade permite a circulação de ideias e conhecimentos que fundamentam ações, tornando-as mais eficazes diante da complexidade dos cenários enfrentados.
i)     Integração com contexto local
 
A integração com o contexto local permite a melhor compreensão dos aspectos culturais, sociais e econômicos das comunidades.  
IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família, em Brasília, 2014. 
http://mostrasaude.net/galeria-de-fotos/retratos-da-iv-mostra
 
 
j)      Pontes entre saber popular e científico e espaços de participação popular
 
Neste ponto, as práticas de Paulo Freire sobre a educação Popular, ganham especial sentido. O estabelecimento de pontes entre os saberes favorece a apreensão mais autêntica das políticas pelos grupos atendidos. Ao conceder a voz ao outro, constrói-se o discurso conjunto, fundamental para a promoção da autonomia.
 
k)    Atuação além dos settings convencionais
 
A ação do psicólogo diante dos cenários a serem enfrentados exige uma alteração de seus espaços profissionais. As visitas domiciliares, a participação dentro dos espaços comunitários, a invenção de novos locus são desafios postos ao profissional.
h)   Articulações institucionais
 
O psicólogo, em conjunto com a equipe multidisciplinar, devem estabelecer articulações com diversos setores da rede de atendimento socioassistencial.  A manutenção de canais com a Saúde e Poder Judiciário; as parcerias com entidades ligadas aos Esportes, Profissionalização e Lazer; e o contato com as outras entidades ligadas ao próprio SUAS favorecem um atendimento integral aos usuários.
 O psicólogo promove a alteração do lugar do sujeito dentro do espaço social, e favorece transformações em representações consolidadas na comunidade, família e indivíduos.
2.5.2     Ações do psicólogo inserido nos Centros de Referência de Assistência Social: um exemplo da aplicação do SUAS 
Com o intuito de exemplificar as perspectivas acima, seguem algumas atribuições do profissional no CRAS, conforme recomendações propostas pelo CREPOP[4]:
     
Compreender       movimentos de construção subjetiva de pessoas, grupos e famílias,
   
Desenvolver       processos de mediação e organização,
   
Acolhida,
   
Entrevistas,
   
Visitas       domiciliares,
   
Articulações       institucionais,
   
Proteção       pró-ativa,
   
Facilitação       de grupos,
   
Valorização       de alteridade,
   
Atividades       socioeducativas e de convívio,
   
Desenvolvimento       de habilidades,
   
Identificar       e criar redes de apoio.
   
 
2.5.3     Algumas consequências
    A partir do exposto, evidenciam-se mudanças nos referenciais teórico-metodológicos da Psicologia. Projetos e ações passam a ser apreciados sob uma ótica marcada por compreensão contextualizada das vulnerabilidades sociais, pobreza e violação de direitos.
 Através dos vínculos, da convocação para o trabalho conjunto e da utilização das ferramentas próprias do campo de saber psicológico, o profissional se defronta não somente com os desafios para a promoção da saúde mental, mas também para o rompimento do ciclo de pobreza, ao lado de outras categorias e, sobretudo, junto à população.
MÓDULO 5 - PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: VIOLÊNCIA CONTRA MULHER E DIREITOS DAS CRIANÇAS
1     PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS
  As atrocidades cometidas na Segunda Guerra Mundial levaram a comunidade internacional à busca de mecanismos que pudessem inibir a repetição da violência, assim como estabelecer parâmetros de relações entre os seres humanos. Em 1945, logo após a guerra, nascia a Organização das Nações Unidas, que teria papel fundamental no estabelecimento de marcos contra os conflitos entre países e abusos contra as pessoas.
  Três anos depois, a ONU lança o documento referencial para as demais políticas de proteção aos indivíduos: a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nela, estabelece-se um conjunto de direitos de caráter universal, servindo de referência para formulação de diversas constituições pelo mundo. Em seu artigo n. 1:
  
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”[1]   
  
A Declaração dos Direitos Humanos estabelece direitos à vida, à liberdade, à segurança pessoal, ao trabalho, ao acesso à saúde, à participação política, à defesa jurídica, ao asilo político, à nacionalidade, à religiosidade, ao lazer, entre outros; e condena a tortura, a escravidão, os tratamentos desumanos e tudo que contraria os direitos estabelecidos pela declaração.
O documento da ONU se mostra fundamental dentro das políticas públicas e das relações diplomáticas e, embora não tenha efeito de Constituição, atua como instrumento para pressão contra abusos cometidos às pessoas em torno do mundo.   
Após a Declaração, muitas outras ações de proteção às pessoas foram tomadas, a partir de seus artigos, como as Convenções sobre:
           Prevenção de genocídios (1948)
           Discriminação racial (1965)
           Defesa das Mulheres (1979)
           Defesa das Crianças (1989)
           Defesa dos Deficientes (2006) 
  1.1 Dimensões da violência
  A violência é um fenômeno complexo, que envolve variáveis econômicas, políticas, sociais, culturais e individuais. A compreensão do fenômeno da violência exige uma leitura atenta que contemple as relações entre sujeitos, famílias, comunidades e governos. Esse vasto tecido exige dos psicólogos o olhar atento para não cair em leituras simplistas do fenômeno, que localizam somente no indivíduo a violência, através de atos físicos e/ou psicológicos. 
  
A Organização Mundial da Saúde define a violência como “uso de força física ou poder, em ameaça ou prática contra si mesmo ou outra pessoa ou um grupo ou comunidade, que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação”[2]. 
Devido à complexidade do tema, a construção de tipologias de violência também se torna difícil e, frequentemente, não abarca todas as dimensões do fenômeno. Diversos autores, no entanto, têm construído propostas para melhor organizar a compreensão da violência.
  
Uma categorização interessante consiste em trabalhar com dois grupos principais de violência. O primeiro se refere à violência coletiva, que agrupa as ações agressivas, tanto físicas como psicológicas, de: a) grupos específicos contra o poder (revoluções e terrorismo); b) do poder contra uma população ou grupo (terrorismo de Estado, ditaduras); e c) de nações contra nações (guerras)[3]. 
  
A segunda forma de violência, por sua vez, é a individual, que se dividem em criminais e não criminais. Acerca das criminais, localizam-se as corporais, fatais e sexuais;

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