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POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS PROF. DR. JOSÉ ADALBERTO MOURÃO DANTAS PROF.A MA. PRISCILA DE ALMEIDA SOUZA © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande re- sponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a socie- dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhec- imento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivên- cia no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de quali- dade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mer- cado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica: Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Fernando Sachetti Bomfim Marta Yumi Ando Olga Ozaí da Silva Simone Barbosa Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Cristiane Alves 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................4 1. CONCEITO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS ..............................................................................................5 1.1 BASE HISTÓRICA E TEÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS EM GERAL .......................................8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................11 CONCEITO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS PROF. DR. JOSÉ ADALBERTO MOURÃO DANTAS PROF.A MA. PRISCILA DE ALMEIDA SOUZA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS 4WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A base teórica para se entender a problemática das Políticas Públicas e Sociais nos indica que devemos partir da ordem econômica conforme o Manifesto do Partido Comunista, publicado em 1848, por Marx e Engels. Marx nos informa que cada ordem econômica produz relações sociais diferenciadas. A ordem econômica é denominada no marxismo de modo de produção. Os principais modos de produção são: primitivo, antigo, medieval, capitalista, socialista e comunista. O marxismo nos indica que a História tem sido a história da luta de classes: na Antiguidade, patrícios e plebeus; na Idade Média, senhores feudais e servos; no capitalismo, burguesia e trabalhadores. Com o socialismo, classe intermediária entre o capitalismo e o comunismo, já não existem classes dominantes. Ainda para o marxismo, os membros das classes dominantes procuram obter o máximo de lucro possível. Para tanto, é necessário, por um lado, explorar o trabalho manual por meio do aumento da jornada laboral diária e da rapidez no processo de trabalho; por outro lado, pelo aumento da produtividade, advindo da inovação tecnológica, além do aumento da oferta de trabalhadores, decorrente, por exemplo, da desagregação do feudalismo, o que expulsou milhares de trabalhadores dos feudos, criando um estoque de desempregados que Marx denominou de exército industrial de reserva (MARX, 1983). Esses desempregados estarão à disposição do sistema (ou seja, dos empregadores) para terem sua força de trabalho usada quando necessário ou como uma maneira de ameaça ao indicar que sempre haverá alguém desejando seu lugar. O elo mais fraco do sistema é o trabalhador. Assim, entende-se aqui que o processo histórico do desenvolvimento causa a desigualdade, sempre havendo duas forças oponentes: os proprietários dos meios de produção – os patrões –, e os proprietários da força de trabalho – os proletários. Para entendermos com mais objetividade a gênese das políticas públicas no Brasil, efetuaremos um corte histórico temporal, partindo da economia capitalista – considerando seu início por volta do século XV, com o capitalismo mercantil ou comercial (ROLL, 1977) –, com o intuito de entendermos e apreendermos o conceito de políticas públicas e sociais, as quais são gestadas principalmente em contextos de crise e instabilidade social. Para tanto, é necessário acompanhar o nascimento do capitalismo a partir do � nal da Idade Média, a qual foi caracterizada pela desagregação do regime feudal. Tal corte se justi� ca posto que a situação de desamparo de tais trabalhadores permanecerá na história por muitos anos fornecendo um campo de análise para as ciências sociais de uma forma geral, incluindo, nesse vasto campo, o estudo de políticas públicas e sociais. Abordaremos, além da dissolução do feudalismo, a fase inicial do capitalismo – capitalismo liberal, o capitalismo monopolista e a atual fase neoliberal da ordem econômica e social. Veremos que, em cada fase, há exploração do trabalhador, expropriação de terras e, consequentemente, necessidade de políticas públicas. A trajetória das políticas públicas e sociais no Brasil evidencia a construção amalgamada entre Estado e sociedade civil, bem como sinaliza a formação de novas relações entre eles, tendo como marco a atual Constituição Federal, de 1988. As mudanças ocorridas no processo de globalização e da vida social têm destaque ao mostrarem a crise do Estado de bem-estar social e as di� culdades do Estado brasileiro na realização das reformas em curso. O processo que instituiu a assistência social como política pública e as concepções que a norteiam evidenciam o crescente aumento da população vulnerável e excluída socialmente, que demanda políticas públicas e sociais. 5WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. CONCEITO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS O trabalhador típico durante toda a Idade Média (os servos da gleba – trabalhadores a serviço do senhor feudal), no período da desagregação dos feudos, perdeu a sua ocupação no campo, migrando, assim, para o setor urbano das nações que estavam ingressando no capitalismo comercial. Via de regra, são as nações da Europa, ainda na fase incipiente da industrialização artesanal, que necessitavam de mão-de-obra para ocupar os postos de trabalho nas pequenas indústrias do setor urbano (ROLL, 1977). Contudo, o número de trabalhadores oriundos dos feudos foi grande, constituindo um excedente de mão-de-obra a serviço do capitalismo inicial. Os que não conseguiam empregos vagavam pelas ruas das cidades da Europa, especialmente na Inglaterra. Havia falta de tudo para sua subsistência: moradia, alimentação, vestimentas, assistência médica etc. A jornada de trabalho durava mais de doze horas. Os que conseguiam emprego dormiam nas fábricas onde trabalhavam em condições insalubres. Em tal situação, a mortalidade entre os trabalhadores era elevada. Mesmo assim, havia um estoque de trabalhadores à disposição do capitalismo industrial em ascensão (HEILBRONER, 1992). Em tal período, as igrejas, por meio das obras de caridade, prestavam assistência aos trabalhadores desamparados pelos estados de então. Na fasemais avançada do capitalismo da grande empresa (ou capitalismo monopolista, altamente mecanizado e decorrência da Revolução Industrial inglesa), o trabalhador é parcialmente substituído pela máquina, aumentando o que Marx denominou de exército industrial de reserva (MARX, 1983). Com isso, o estoque de mão- de-obra cresceu. Nesse período, algumas características de políticas públicas surgem: os sindicatos, já atuando a favor dos trabalhadores, iniciam movimentos que reivindicavam aos empresários alimentação, assistência médica e uma formação escolar de caráter técnico que possibilitasse à classe operária uma formação pro� ssional e maior aprendizado do processo de trabalho como um todo (SMITH, 1983). Como foram reivindicações negociadas com os patrões e aceitas pelos governos dos países industrializados, vê-se aí um início de políticas públicas. Mas, a partir do capitalismo monopolista, as políticas públicas e sociais vão tomando maior vulto na medida em que reivindicações de caráter social são incorporadas às negociações entre trabalhadores, patrões e estados. No caso brasileiro, as políticas públicas e sociais têm mais efetividade a partir do período histórico da Revolução de Trinta, que perdurou de 1930 até 1945, ou seja, durante todo o período da Ditadura Vargas. Posteriormente ao governo Vargas, há os períodos da redemocratização (de 1945 a 1964), dos governos militares (1964 a 1985) e, outra vez, da redemocratização atual. Dessa forma, há uma história de políticas públicas e sociais que será resgatada ao longo desta disciplina. Como foi dito anteriormente, o capitalismo monopolista como forma dominante de organização industrial tem efetividade na metade do século XIX nos países industrializados, mas com re� exo nos países ainda de base rural onde predominava o capitalismo de características comerciais e agrárias, exportadores de produtos essencialmente agrícolas. O Brasil, nesse período, era um país predominantemente rural, patriarcal, escravocrata e de pouca densidade urbana. Isso signi� ca dizer que o mundo econômico, político e social gravitava em torno das fazendas embora houvesse uma nobreza que procurava se assemelhar à nobreza europeia. 6WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A nobreza brasileira vivia dos impostos cobrados dos proprietários do setor econômico mais rentável, composto pela produção e exportação de café. No setor urbano, havia um pequeno número de trabalhadores brancos, assalariados, militares e funcionários públicos e, assim como no setor rural, uma grande quantidade de negros a serviço da nobreza e dos homens que viviam do negócio do café. Dessa forma, a mão-de-obra predominante no período foi a escrava, que vivia em condições degradantes tanto nas fazendas quanto no setor urbano. Uma pequena rede bancária fazia parte das atividades econômicas do Segundo Império. Fazia-se notar, no período, uma incipiente indústria, conhecida como “indústria de fundo de quintal”, fundamentalmente de caráter familiar, que produzia peças de reposição para as máquinas de bene� ciamento de café e para geradores de energia destinados à iluminação pública (nem sempre possível). A sociedade imperial se caracterizava pelo apadrinhamento e compadrio. Os empregos eram destinados aos familiares da elite; quase sempre, os preferidos eram indicados pelos membros dessa elite, ou seja, apadrinhados pelos afortunados (CALDEIRA, 2017). Conclui-se ser essa uma sociedade desigual e elitista. Quais os elementos indicativos para o surgimento de políticas públicas e sociais no período? Como a� rmado anteriormente, a mão-de-obra fundamental para o trabalho no Império foi a escrava, que vivia em um estado de miserabilidade, chegando perto da escassez de tal mão- de-obra devido à perseguição internacional ao trá� co de negros, à alta mortalidade dos escravos e à diminuição do tempo útil de vida entre os trabalhadores. Tais fatos � zeram o estoque dessa mão-de-obra escassear com o passar do tempo, encarecendo a substituição desses escravos por novos. A par dessas características mais de ordem econômica, outras de ordem social somam-se à primeira. O Império promulgou leis cujo objetivo era proteger os escravos, porém, sob pressão internacional, notadamente da Inglaterra e de alguns notáveis brasileiros denominados de abolicionistas – homens, em geral, dedicados à cultura, como o poeta Castro Alves. Face a tais acontecimentos, a monarquia brasileira, sensibilizada, edita, em 13 de maio de 1888, a conhecida Lei Áurea, que abole a escravidão em todo o território nacional. Para se ter uma ideia da aprovação dessa legislação, o mercado � nanceiro da cidade do Rio de Janeiro teve uma expansão � nanceira nunca antes vista (CALDEIRA, 2017). A Lei de 13 de maio de 1888 pode ser entendida como uma política pública e social, que veio para resolver, primeiramente, um problema de caráter público, e, depois, outro de ordem social. A queda nos estoques de escravos ocasionou falta de mão-de-obra para a agricultura (aqui um problema público) e a desumanidade com um ser humano, o escravo, tratado como animal e sem os mínimos direitos políticos (aqui um problema social). Logo após a Lei Áurea, em novembro de 1889 o Império cai. Com a Proclamação da República, instala-se a Primeira República, que abrange o período de 1º de novembro de 1889 e se estende até outubro de 1930. Contudo, os historiadores nos informam que houve poucas mudanças. As que aconteceram foram mais de caráter administrativo, caracterizadas pela forma de organização republicana: os títulos de nobreza não foram mais usados; descentralização administrativa, que concedia mais poderes às províncias; reforma parcial dos poderes; extinguiu-se o quarto poder, personi� cado na pessoa do imperador; breve mudança no direito, adaptando-se à nova era que se iniciava. 7WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Mais tarde, na Primeira República (que teve início com a deposição do Imperador e que será denominada pelos historiadores de “República Velha” por conter os mesmos vícios do Império, quais sejam, as condições econômicas, políticas e sociais vigentes no Império), são reproduzidos pela República instalada a partir de novembro de 1889: os cargos públicos na administração republicana foram preenchidos pelas indicações políticas; as eleições, na sua totalidade, eram fraudadas; as políticas econômicas produzidas pelo Estado favoreciam os grandes proprietários agrários; os impostos foram abusivos para compensar as perdas decorrentes da queda dos preços do café no comércio internacional. Por outro lado, a população vivia desamparada pelas autoridades públicas. Os trabalhadores, agora livres, não tinham garantias trabalhistas. A jornada de trabalho passava de dez horas diárias e, no geral, não possuíam o mínimo necessário para subsistência. Em tal quadro político, econômico e social, as insatisfações generalizaram-se, inclusive no interior do próprio Estado, nas forças armadas e notadamente no Exército, que sempre foi mais sensível às reivindicações populares, principalmente no meio dos jovens o� ciais denominados pela historiogra� a como “tenentes” (alusão ao primeiro posto do o� cialato, mas que não se limitava somente aos jovens o� ciais, incluindo aí os capitães e o major, este com mais tempo de carreira e de maior idade). Essas insatisfações generalizadas deram lugar a um movimento armado denominado de “tenentismo”, que percorreu todo o País, divulgando o seu objetivo que, fundamentalmente, desejava mudanças na política brasileira (CARONE, 1974). À medida que percorria o País, foi arregimentando pessoas, que passaram a incorporar- se ao movimento tenentista. Outros movimentos surgiram ao Sul do País, che� ados por Getúlio Vargas. Assim, as insatisfações tomaram corpo e, em 24 outubro de 1930, os revolucionários derrubaram o governodo Presidente Washington Luiz, assumindo o poder Getúlio Dorneles Vargas (NETO, 2012). Getúlio Vargas assume o poder no momento em que o mundo já estava no capitalismo industrial avançado, ou seja, no período cuja produção já não dependia somente do trabalho manual, mas da maquinaria, cujo objetivo era produzir o máximo possível com o menor custo. Contudo, para conseguir tal intento, era necessário que a sociedade estivesse paci� cada. Para tanto, tornava-se necessário produzir políticas públicas que amortizassem a luta de classes, ou seja, o Estado teria de produzir políticas públicas e sociais para minimizar a situação da classe trabalhadora da época na medida em que o sistema necessitava de trabalhadores saudáveis, com saúde para a produção. Durante o governo de Getúlio Vargas, ele produziu políticas públicas que modernizaram, segundo a ótica do governo, tanto o capitalismo nacional quanto as relações trabalhistas. A esta altura da presente exposição e para melhor entendimento do próximo tópico, já é possível conceituar o que é política pública e, por decorrência, política social. A política pública pode ser uma ou um conjunto de políticas que visem a resolver um problema ou problemas públicos e, por analogia, problemas sociais posto que não há políticas públicas fora da sociedade, ou seja, do social (SECCHI, 2010). Cabe agora interrogar quem produz políticas públicas e sociais. Ainda para SECCHI (2010), tais políticas são produzidas pelo Estado em sua maioria, todavia, alguns atores da sociedade civil têm produzido políticas públicas: é o caso das instituições não pertencentes ao Estado e/ou ao governo, como as ONGS – associações sem � ns lucrativos de combate à miséria, epidemias e doenças endêmicas, em várias partes do mundo. Podemos tomar como exemplos: os Médicos sem Fronteiras, que prestam assistência médica em países pobres e devastados por con� itos armados; o Greenpeace, que se dedica a combater a degradação do meio ambiente e faz pesquisa cientí� ca com o objetivo de melhorar a situação ambiental do mundo. 8WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Em ambos os casos, a política de tais instituições da sociedade civil foi incorporada pelos governos de vários países do mundo e tornaram-se políticas públicas. A partir dessa base teórica anunciada anteriormente, deter-nos-emos nos aspectos mais especí� cos do presente texto. 1.1 Base Histórica e Teórica das Políticas Públicas e Sociais em Geral Foi no período do governo Vargas que as diretrizes de governo adquirem características das políticas públicas como as entendemos na atualidade. Os fundamentos históricos e teóricos que possibilitam entendermos a gênese de todas as políticas governamentais na época estão na ordem econômica conduzida pelos políticos e latifundiários das décadas anteriores à década de 1930: instabilidade política, corrupção generalizada, fraude nas eleições, crise econômica na economia cafeeira em consequência da crise mundial de 1929, desemprego em massa, controle dos postos-chave da Administração Pública pelos apadrinhados dos políticos. Esses fatores de instabilidade conduziram a população e parte das elites agrárias a um movimento civil e militar conhecido como Revolução de Trinta. Tal movimento, che� ado por Getúlio Dorneles Vargas, depôs o Presidente Washington Luiz. Getúlio assume a che� a do governo de forma provisória para o período de 1930 a 1934. Em tal período, produziu políticas públicas e sociais, dentre as quais: criação do Ministério do Trabalho, estabelecimento do voto secreto, voto feminino, criação do Conselho Nacional do Café. Em 1932, explode o movimento que � cou conhecido como Revolução Constitucionalista de São Paulo, sob a direção da oligarquia cafeeira paulista, a qual desejava o retorno à Constituição que havia garantido privilégios econômicos e nobiliárquicos a tal oligarquia. Vargas, com o apoio das forças armadas, vence os revoltosos. Ainda em 1932, uma organização fascista foi criada por Plínio Salgado: a Ação Integralista Brasileira. Tal organização fez oposição ao governo. O segundo período do governo Vargas se estende de 1934 a 1937. Em tal período, Vargas estabelece legalmente o voto secreto e o voto feminino, além de criar políticas públicas objetivando promover a industrialização, notadamente a indústria de base: Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda e Vale do Rio Doce. A partir desse período, a industrialização do Brasil passou a ser política pública do Estado. Em 1935, rompe um movimento chamado Intentona Comunista, composto por militares e civis que pretendiam a derrubada de Getúlio e a consequente implantação do comunismo no Brasil. Como consequência, em 1937, um plano denominado Cohen foi descoberto pelos agentes de Vargas. Não se conhecem seus autores nem mesmo se foi verdadeiro. Tudo indica que foi falso. A intenção foi criar um clima de que o comunismo estava ameaçando o Brasil. Argumentando que era necessário combater a intentona comunista, Getúlio e as forças armadas deram um golpe militar e implantaram uma ditadura que durou de 1937 a 1945. Getúlio, nesse período (o último de seu governo), teve apoio popular. Retornando ao ano de 1942, o governo Vargas elabora um conjunto de leis de apoio aos trabalhadores e de grande amparo social, a conhecida Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). A CLT ainda é referência legal para as disputas entre patrões e empregados. É um conjunto de políticas públicas e sociais de grande relevo para o País. 9WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA No entanto, o governo de Getúlio foi motivado para produzir políticas públicas, porque ele almejava apaziguar a relação capital/trabalho, estabelecendo paz entre os empregadores e empregados, ou seja, minimizando a luta de classes. Alcançando tal paz, a produtividade do trabalhador aumentou, o que foi interessante para o sistema, porque se aumentava a margem de lucro. Em resumo, as principais características do período Vargas que con� guram políticas públicas e sociais foram: a prioridade na política econômica, com a criação das indústrias de base, siderurgia e indústria petroleira, exploração de jazidas minerais e recursos naturais. Com a indústria de base, o governo objetivava acelerar a industrialização e apoiar a indústria de consumo, a qual substituiria os produtos importados. Com isso, oferecia novos postos de trabalho no setor urbano, minimizando o desemprego estrutural. Esse fato representou uma política pública e social de grande relevância para o País, minimizando, no período, as crises de desemprego, embora não tenha sido possível chegar ao nível zero de desemprego. Contudo, estradas de rodagem e ferrovias foram construídas, e outras, reformadas. Expandiu-se a energia elétrica no País. No plano social, em 1940, estabeleceu-se o salário mínimo. Em 1941, criou-se a Justiça do Trabalho e da Previdência Social. Em 1º de maio de 1943, foi criada a legislação trabalhista pelo Decreto-Lei nº 5452. Todas as legislações anteriormente anunciadas vieram para regular as relações de trabalho e para dar segurança jurídica aos agentes públicos encarregados de aplicar, fazer cumprir a lei e, ainda, julgar o não cumprimento da legislação (NETO, 2012). A estrutura agrária brasileira caracteriza-se por seu caráter concentrador de grandes propriedades. Apesar da existência das pequenas e médias propriedades, a maioria da população não tem acesso à terra. Com o processo de modernização acelerado, principalmente a partir das décadas de 1950 e 1960, a agricultura se converteu, gradativamente, em um setor subordinado à indústria e por ela transformada, ocorrendo, assim, a substituição de culturas e a priorização dos maquinários em detrimento da mão-de-obra. Juntando-se a esses fatores e à ausência de políticas públicas e sociais no campo, esses determinantesresultaram num grande êxodo rural no País, invertendo, dentro de quase quatro décadas, as populações rural e urbana. Esse processo acelerado de urbanização do País, sem modi� cação da estrutura fundiária, sacri� cou uma imensa parcela da população rural migrante, que não pôde ser absorvida no mercado de trabalho urbano. Acumulou-se nas cidades a imensa população excedente, que aprendeu a se defender, recebendo uma minúscula renda gerada no núcleo capitalista, o que determinou a conformação de um mercado de trabalho desfavorável aos trabalhadores. Nesse período, ocorre uma debilidade do movimento sindical e a ausência de uma política salarial, mantendo-se os baixos salários. Quanto à implementação das políticas públicas e sociais, no Brasil, como na América Latina, elas sempre foram residuais em relação à política econômica, caracterizada por uma cultura legitimadora do autoritarismo, da tutela dos dominantes e da subalternidade dos dominados. 10WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 1 - Presidente Getúlio Vargas. Fonte: Toca Livros (2021). Getúlio foi um líder carismático e politicamente contraditório. Modernizou o País, mas seu governo foi ditatorial. Combateu o comunismo, mas promulgou uma legislação trabalhista considerada moderna para a sua época, trazendo benefícios para os trabalhadores. Mesmo em momentos formais, ele quebra protocolos. Não restam dúvidas de que o Presidente Getúlio Vargas foi um estadista que esteve à frente de sua época. Seguiu os modelos autoritários do fascismo e do nazismo; contudo, foi modernizador ao romper com os padrões do desenvolvimento com base na agricultura e ao optar pelo desenvolvimento industrial, o qual representava a modernidade. O processo de consolidação das políticas públicas e sociais, de fato, iniciou-se a partir da década de 1930, fundado na concepção de que a condição social de pobreza seria alterada por meio do trabalho. Assim, as leis sociais foram criadas para o trabalhador urbano, estabelecendo a lógica de que quem tem ofício não tem benefício. Por que Getúlio Vargas, que foi Ministro da Fazenda do Presidente Washington Luiz, rompe com ele e o derruba do poder, assumindo a Presidência da República? O desenvolvimento econômico com base na economia cafeeira já havia se esgotado na medida em que a renda gerada pela produção e comércio do café não correspondia às exigências de um capitalismo mais moderno. No entanto, sabia-se que o Presidente Washington Luiz era um político ligado ao setor agrário; por outro lado, Getúlio foi um homem ligado à modernização industrial e desejava inserir o Brasil no sistema industrial, considerado a mais moderna forma de desenvolvimento. 11WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Como � cou demonstrado, as políticas públicas e sociais foram formadas ao longo do desenvolvimento do capitalismo; no caso brasileiro, durante toda a sua formação econômica e social. Contudo, somente durante a segunda metade do segundo Império é que se pode falar de políticas públicas e sociais semelhantes às que conhecemos hoje, caso se interprete literalmente o conceito de políticas públicas e sociais. Recordando: são políticas elaboradas para resolver problemas públicos e sociais. Nessa perspectiva, o Estado, entendido como esfera mediadora entre a produção material e a reprodução da vida humana em uma determinada sociedade, é estabelecido em dois grandes níveis: a sociedade política e a sociedade civil. Assim, a sociedade civil constitui-se num conjunto de organizações privadas, tais como escola, igreja, sindicato, associações, partidos políticos e meios de comunicação, enquanto a sociedade política é composta pelos aparelhos repressivos ou de segurança. Destacamos as contradições imbricadas no sistema capitalista, que vêm marcando a dinâmica econômica, social e política nos diversos países, as ingerências das receitas neoliberais que promovem a crise do Welfare State e as reformas do Estado. Ao analisarmos os determinantes da pobreza e a desigualdade, enquanto resultados do processo de construção das relações socio-econômico-políticas e não como de� ciência individual, constatamos que a sociedade brasileira, a partir da sua história de colonização, patriarcalismo e escravidão e do modelo de desenvolvimento capitalista adotado, efetuou um processo de domínio e diferenciação pejorativa de determinadas parcelas da população. Portanto, a desigualdade apresenta-se em variadas formas: social, política, sexual, geográ� ca, econômica, dentre outras. É no movimento contraditório de dominação e resistência, exclusão e inclusão ao longo da nossa história, que vêm sendo construídas as políticas públicas e sociais na atual realidade brasileira. Os debates em torno da nova concepção de políticas públicas e sociais, mesmo tendo em vista sua persistência com seus modelos considerados conservadores, têm produzido resultados antes não conhecidos pela sociedade. Para melhor entendimento dos mecanismos de políticas públicas e sociais, consultar a obra: TREVOEDJRE, A. A Pobreza, Riqueza dos Povos. Petrópolis: Vozes Editora, 1982. Assista ao vídeo O que foi a Revolução de 1930?, disponível em <https://youtu.be/z2KlN_kUWaE>. 1212WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 13 1. AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS ........................................................... 14 1.1 AS ESTRATÉGIAS DO ESTADO .......................................................................................................................... 15 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................................20 AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS PROF. DR. JOSÉ ADALBERTO MOURÃO DANTAS PROF.A MA. PRISCILA DE ALMEIDA SOUZA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS 13WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO É complexa a discussão acerca do Estado, principalmente frente às imensas mudanças ocorridas nas últimas décadas, com o processo de globalização da economia e, sobretudo, da informação, o que proporcionou uma reorganização do capital e da vida social. Esse processo vem modi� cando radicalmente as relações no mundo do trabalho e as relações políticas e sociais do mundo capitalista. Nesse contexto, a reforma do Estado e sua relação com a sociedade civil têm sido temas centrais. Observando o Estado brasileiro no processo de modernização capitalista, veri� ca-se a dependência da sociedade civil no processo de modernização capitalista. Veri� ca-se a dependência da sociedade civil no processo de construção da sociedade política burguesa, principalmente no que se refere à organização das classes subalternas. Nesse processo, o estatal se mesclou ao privado, impedindo o nascimento de uma esfera pública, pois a dominação patrimonial se constitui em sinônimo de poder político, consolidando a ideia da cultura do público pelo privado. Veri� camos que o padrão de intervenção do Estado brasileiro priorizou, em sua trajetória política, a acumulação e a expansão do capital em detrimento da institucionalização de estruturas democráticas e de amplo acesso aos bens e serviços públicos. Diferenciando-se das experiências dos países periféricos, não ocorreram revoluções burguesas que efetivassem a ampliação da cidadania política e social; ao contrário, a sua constituição histórica foi marcada pela conservação, reutilização e aprofundamento da desigualdade social. Os determinantes da pobreza e da exclusão social em nossa sociedade têm uma matrizhistórica, desde a escravidão. O processo de reprodução da pobreza está diretamente determinado pela estrutura econômica, somada à questão da terra na formação das grandes propriedades e à organização do mercado de trabalho e das políticas públicas e sociais. Nesse contexto, a questão social foi historicamente colocada em segundo plano em relação ao crescimento econômico, condicionado pelas regras do capital nacional e internacional. As políticas públicas e sociais são estratégias governamentais vinculadas ao processo de desenvolvimento econômico para atuar na correlação de forças sociais existentes. Historicamente, a política pública e social ocorreu de forma setorizada, focada e fragmentada. A globalização provoca desorganização e desordem e ocasiona o desemprego estrutural, pois milhões de trabalhadores perderam seus empregos uma vez que muitos produziram o que, depois, passou a ser importado. Nesse processo de desindustrialização, muitos operários não têm pronto acesso aos novos postos de trabalho, os quais exigem um pro� ssional quali� cado. Esse movimento vem deteriorando o mercado de trabalho para aqueles que precisam vender seu tempo de trabalho. Decorrente do desemprego estrutural, a pobreza homogênea transforma-se em pobreza heterogênea, multidimensional, surgindo, assim, o novo pobre ou o novo excluído. Essa nova pobreza se compõe igualmente daqueles segmentos que habitam as periferias das grandes cidades e que conquistaram maior acesso à educação e ao consumo; porém, dada a limitação das riquezas culturais, mantêm-se fora da competição e das melhores chances no mercado de trabalho, o que atinge especi� camente os jovens. Mais grave do que a ausência de renda é a ausência de usufruto de bens e serviços societários, de representação e de poder dessa população, vinculando-se o conceito de pobreza à exclusão e às desigualdades sociais. 14WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS Neste período no Brasil, instalou-se uma política pública e social excludente. Ou seja, aos trabalhadores rurais, do mercado informal, aos desempregados, famílias e às crianças pauperizadas caberiam o assistencialismo e a caridade privada. Ao trabalhador com carteira assinada, caberia o direito aos benefícios instituídos na legislação, como a previdência social. Com a Revolução de 1930, o Estado implementou o processo de regulamentação da relação capital/trabalho, chamada de cidadania regulada, para designar a forma como os sujeitos sociais foram considerados cidadãos e passaram a ter direito aos benefícios do Estado, restritos às pro� ssões regulamentadas por lei, ao criar a CLT. A introdução da política social teve a � nalidade de abrandar a crise de participação existente e, ao mesmo tempo, desenvolver o modo de se fazer política, qual seja, a cultura do pelego, do favor, de sindicatos burocráticos e tutelados. A burocracia estatal, as forças armadas e a intelectualidade constituíram-se nos principais agentes da ordem industrial, desempenhando papel relevante na consolidação das instituições e mobilizando, assim, diversos segmentos sociais para participarem da dinâmica política. As debilidades das organizações das classes e setores subalternos da América Latina mostraram que as associações das classes dirigentes conseguem o reconhecimento social e jurídico sem obstáculos políticos e legais, enquanto as das classes subalternas são vistas com temor e descon� ança e são alvos dos partidos, das classes dirigentes e do Estado para conseguir a sua subordinação política. Esse processo de subordinação conduziu à absorção das classes subalternas pelo Estado, pois se buscou transferir suas preocupações e sua dinâmica para a esfera estatal, que requer projetos globais em que os interesses especí� cos de classe se difamam. Submetidas à arena dos con� itos dos diferentes projetos políticos, muitas organizações das classes trabalhadoras acabam se inserindo em diversos partidos políticos, dividindo-se e desenvolvendo ações autoritárias e clientelistas. No Brasil, o processo de cooptação e subordinação das classes subalternas pelo Estado é histórico. No entanto, se não fossem as lutas e pressões dos movimentos sociais e sindicais, muitas das conquistas materializadas nas políticas públicas não teriam sido efetivadas. O Welfare State, constituído nos países capitalistas centrais no período do pós-guerra, desenvolveu um modelo de proteção social que garantiu a todo cidadão a oportunidade de acesso a alguns serviços e aos mínimos sociais. Por outo lado, ocorreram modi� cações nas políticas públicas e sociais do Welfare State contemporâneo, caracterizadas pelo abandono do compromisso formal com pleno emprego por parte dos governos, pela diminuição do ritmo de crescimento dos gastos sociais públicos, pela transformação dos serviços sociais universais em atenção pública seletiva e focalizada, pelo privilégio da lógica do contrato, do seguro sobre o direito de cidadania e, ainda, pela ênfase na responsabilidade individual em contraposição à responsabilidade do coletivo social. Esse sistema vigorou no Brasil completamente precário, de tal forma que é possível a� rmar a implementação de Estado de bem-estar social ocupacional, ou seja, no Brasil, as condições de reprodução social foram seletivamente estendidas a estratos ocupacionais a partir de sua importância econômica ou grau de organização. Assim, as relações de direitos universais foram substituídas pelos direitos contratuais, e a combinação entre repressão e assistência evidenciou formas diferenciadas para tratar das desigualdades sociais. 15WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A ideologia neoliberal vem devastando as conquistas sociais nesse � nal de século, promovendo a substituição dos poucos direitos de cidadania pelos de e� ciência e produtividade, num processo que obstrui, cada vez mais, a universalização dos direitos e amplia a segmentação dos grupos e das classes sociais. Essa segmentação signi� ca um aumento crescente das desigualdades e disparidades salariais, abrindo um fosso quase intransponível entre o universo da pobreza, por onde circulam e no qual estão � xados contingentes crescentes de trabalhadores que se integram nos circuitos modernos do mercado e da vida urbana. A pobreza contemporânea tem sido percebida como um fenômeno que atinge não só os segmentos da população considerados indigentes, subnutridos e analfabetos, mas também outros segmentos que não conseguem se inserir no mercado de trabalho, ou seja, pessoas expulsas desse mercado. 1 .1 As Estratégias do Estado No período do regime liberal-democrático vigente no Brasil de 1951 a 1964, a política social se caracterizou pelo controle da política, constituindo uma estratégia de mobilização e de controle das populações empobrecidas. Já no período da ditadura militar, a política social se caracterizou como política de controle, constituindo-se na eliminação da política, numa negação do ato de poder e de politização (VIEIRA, 1995). As estratégias básicas mantidas pelo Estado para o enfrentamento da pobreza foram o uso de um regime autoritário e excludente e a implementação de políticas sociais calcadas no modelo assistencial. No processo de transição política no pós-82 (o retorno dos governos civis), um dos componentes para o retorno à democracia foi a instalação da Assembleia Constituinte e a aprovação da Constituição Federal em 1988. Percebemos inovações de aspectos essenciais no que se refere às políticas públicas e sociais, apontando para uma nova relação entre o Estado e a sociedade civil. A aprovação das diretrizes de descentralização, municipalização e ampliação da participação popular são alguns dos exemplos que permitem o exercício de participação dos cidadãos nas decisões de interesse público. Nesse período, houveos avanços na organização dos chamados novos movimentos sociais, muitos deles vinculados a questões especí� cas, como: a questão da mulher, das etnias, da terra, do meio ambiente, da criança e do adolescente, dentre outras, as quais vêm primar pelos direitos das minorias, reivindicando o resgate de valores morais e éticos e criticando as formas de regulação social do sistema capitalista. Muitos desses movimentos constituíram-se como bases de pressão e mobilização para a aprovação do atual texto constitucional, possibilitando que a política de direitos saísse do plano reivindicativo e alternativo para se abrigar no plano jurídico e alternativo. Assim, a partir da década de 1980, houve uma intensa movimentação social em defesa de uma nova cidadania, de um processo criador de direitos e que fosse além dos limites jurídicos, ampliando e controlando os direitos e os deveres, criando e ocupando os espaços de participação dos cidadãos. Criar novos direitos signi� ca con� ito e confronto com os poderes constituídos, pois a participação e a recriação da política e da forma de se fazê-la só ocorre na democracia. Não se limita ao exercício dos direitos civis e políticos, mas, principalmente, implementa os direitos sociais, que passam por três fases: direitos de liberdade, direitos políticos e direitos sociais. 16WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Portanto, o fato de os indivíduos participarem do processo eleitoral para o Executivo e Legislativo por meio do sufrágio universal não garante formas de convívio democrático. Mesmo com avanços no âmbito legal, ainda prevalece a existência da não cidadania uma vez que a ausência de espaços de reconhecimento dos direitos na sociedade brasileira propicia a manutenção de uma saga secular, que é o apartheid social. O problema que temos diante de nós é de como vamos garantir os direitos e como impedir que eles sejam continuamente violados. O reconhecimento dos direitos convive com uma incivilidade cotidiana feita de violência, discriminações e preconceitos. Muitas das conquistas alcançadas podem ser desfeitas ou anuladas, sem suscitar protesto ou indignação da opinião pública. As demandas vocalizadas numa sociedade complexa e multifacetada, com amplas facilidades de interconectar-se e navegar do local para o global, vêm introduzindo um novo modo de disputa no terreno da formulação da agenda política. A tomada de decisões das políticas públicas e sociais foi, assim, tensionada entre demandas por demais particularistas e focais e outras de cunho universal. Um exemplo de política pública social focal que envolve um número expressivo de novos atores protagonistas foi a marcha global pela erradicação do trabalho infantil, realizada no País e em várias partes do mundo, em 1998. Outro exemplo é o enfrentamento da violência e exploração sexual infanto-juvenil, rea� rmada na Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (1999), que também navega globalmente. O maior desafi o no estabelecimento dos direitos do cidadão é que a sociedade resgate, nas relações entre modernidade e cidadania, valores como a igualdade, a justiça e a liberdade. É fundamental a necessidade de uma redefi nição das relações entre Estado e sociedade civil, exemplifi cando que os movimentos organizados passaram a estabelecer com o Estado novas formas de gestão pública por meio da participação popular. Também, há os inúmeros fóruns criados nos últimos anos, na perspectiva de publicização dos direitos nas áreas da saúde, meio ambiente, habitação, direitos humanos, assistência social, criança e adolescente. Mesmo sendo exemplos pontuais, pois não atingem a maioria da população, são registros da construção de uma sociedade civil em formação, da construção de uma sociedade civil em formação, da construção de espaços públicos democráticos, que são espaços que publicizam os confl itos nas práticas de negociação. A questão da descentralização e da municipalização (na retomada do papel do Estado como poder normativo e regulador da vida social, aprovado na Constituição de 1988) abriu espaços plurais de participação da sociedade civil, exigindo novas formas de articulação e ampliação das representações. A ampliação da participação popular nos espaços organizados é uma das referências essenciais para o alargamento da esfera pública e para a busca de maior clareza nas relações entre o público e o privado. 17WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Após a aprovação do marco legal das políticas públicas e sociais, como a Lei Orgânica da Saúde (1990), Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990) –, Lei Orgânica da Assistência Social (1993) e Lei de Diretrizes Básicas de Educação – LDB (1996) –, foram criados, com exceção da LDB, os conselhos paritários do governo e sociedade civil nos três níveis da administração pública, com caráter deliberativo e normativo, corresponsáveis pela implementação das políticas públicas e sociais. São inúmeras as experiências afi rmativas de conselhos que estão construindo um desenho da política social, principalmente no âmbito dos municípios, proporcionando um novo arranjo das instâncias para controlar e fl exibilizar os processos das políticas sociais. A atual Constituição ainda transferiu para os municípios a responsabilidade pela organização de sua política pública na criação de programas, serviços e projetos sociais de atenção básica, estabelecendo a participação da população nas discussões de suas necessidades e interesses. De certa forma, o município está conquistando espaço de decisão direta com novas formas de gestão pública, possibilitando o exercício de práticas mais democráticas. Essa mediação entre Estado e sociedade civil permite retirar daquele o monopólio exclusivo na defi nição de prioridades e problemas pertinentes à vida em sociedade. Entretanto, as práticas de negociação devem se pautar nas discussões que visam ao consenso, pois o consenso não é o ponto de partida para a interação dos protagonistas: ele é buscado numa trajetória que comporta a discussão, o confl ito. Nesses espaços públicos, o embate das divergências ocorre em diferentes níveis uma vez que existem confl itos de interesses entre as classes e grupos, exigindo a mediação dos conselhos nas situações de poder entre Estado e sociedade civil. Dessa forma, é possível vislumbrar as possibilidades de aplicação do princípio democrático do reconhecimento, da representação e de negociação de interesses diversos, pois a cidadania só é plena se há o reconhecimento do direito por meio do acesso aos serviços. 18WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A partir da década de 1980, ao mesmo tempo em que a sociedade brasileira avançou na conquista de novos direitos sociais, com uma infl exão neoliberal, determinou intensas reformas do Estado, principalmente, nos países emergentes e periféricos, e a volta da primazia do mercado como regulador privilegiado. Essas crises estão imbricadas no processo de consolidação de um capitalismo planetário, na nova forma de reorganização da acumulação do capital, na chamada fl exibilização da economia globalizada. Respaldada pela revolução tecnológica, a globalização possibilita a organização da produção em nível mundial, passando por cima das divisões políticas ainda marcadas pelo Estado nacional, proporcionando a fragmentação do processo de produção e a desterritorialização do capital. O Estado-nação vem sofrendo uma perda de autonomia territorial, política e econômica, e a nova estratégia frente aos impactos, exigências e mudanças da globalização são as integrações regionais. Uma questão alarmante deste fi nal de século é o descontrole do capital fi nanceiro e a sua supremacia na economia mundial, constituindo um dos grandes problemas a serem enfrentados; assim, quantomais a economia de um país depender do capital externo, mais instável ele viverá. Os centros de poder em âmbito mundial direcionam as regras do jogo econômico, político e jurídico de acordo com seus interesses. Tais centros ligados ao capital são representados, sobretudo, pelas organizações supranacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). Essas organizações são as principais guardiãs dos ideais e das práticas neoliberais em todas as partes do mundo. As receitas neoliberais vêm alicerçando as intensas reformas do Estado, principalmente dos países periféricos. Essas reformas no Brasil signifi caram o predomínio das políticas de estabilização monetária na agenda governamental, em detrimento das políticas públicas e sociais. A reforma administrativa do Estado brasileiro em curso, preconizando a privatização das empresas estatais e a publicização dos serviços sociais não exclusivos do Estado, constrói um novo formato institucional, no qual a ótica predominante é a de que o Estado deve subsidiar as ações, e não as executar, e o chamado terceiro setor deve assumir atividades na área social, hoje prestadas diretamente por órgãos estatais. 19WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Também deve ocorrer a transferência para o setor privado de atividades que podem ser contratadas pelo mercado, como é o caso da Previdência Social. Com essas profundas mudanças, os países da periferia capitalista sofreram: um aumento das formas de precarização das relações de trabalho, sobretudo o feminino; aumento do trabalho temporário e subcontrato; recriação do trabalho em domicílio, sem contrato de garantias; crescimento do trabalho informal; individualização da relação salarial; declínio dos sindicatos e perda dos padrões de proteção da sociedade salarial (CASTEL, 1991). Figura 1 - Dados e indicadores do Índice de Desproteção Social (IDS) por ponto de corte por município, em Minas Gerais. Fonte: Observatório de Desenvolvimento Social (2012). Para melhor entendimento dos mecanismos de políticas públicas e sociais, consultar: MOTA, A. E. Cultura da Crise e Seguridade Social: um estudo sobre as tendências da previdência e da assistência social brasileira nos anos 80 e 90. São Paulo: Cortez, 1995. 20WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS A ideologia neoliberal em curso formula diferentes estratégias, dependendo das condições políticas e econômicas de cada país, podendo-se perceber que a publicização, focalização, privatização e descentralização são estratégias de ajuste, que têm sido implementadas como balizamento das políticas sociais, proporcionando uma reorientação do Estado de bem-estar social nos países centrais e intensas reformas do Estado nos países periféricos. Dos anos 1940 até os anos 1970, os pilares do Estado de bem-estar social dos países desenvolvidos foram as políticas do pleno emprego, serviços sociais universais, extensão da cidadania, estabelecimento de um limiar socioeconômico e a efetiva intervenção no Estado, na economia e na sociedade. Atualmente, vem ocorrendo uma retração relativa do Estado no processo de provisão social, partilhando com o mercado e com o chamado terceiro setor a implementação das políticas públicas e sociais. As políticas públicas e sociais do Welfare State foram criticadas pelas características de um alto custo e baixa efetividade, um gerenciamento burocrático e rígido e uma padronização de oferta de serviços, transformando a política universalista em universalidade. Tem-se em vista a necessidade de um novo desenho da política pública a ser implementada pelo Estado brasileiro em contraposição ao atual modelo excludente, que não privilegia o Estado como seu principal executor. Faz-se necessário fortalecer os conselhos ao modi� car o cartorialismo secular da coisa pública, assegurar a descentralização e o reordenamento por meio da participação ativa dos conselhos e ampliar sua representatividade para os setores excluídos e desorganizados. Estimular a atuação dos movimentos sociais ao possibilitar, por meio da sociedade civil organizada, a atuação de movimentos sociais de resistência e de proposição alternativa. Potencializar iniciativas organizadas na esfera do trabalho e ampliar experiências inovadoras de poder local ao implementar exemplos como o orçamento participativo e projetos de renda mínima. Nesse contexto de rede� nição da relação Estado e sociedade e na construção de direitos e espaços públicos democráticos, as questões diversas (como habitação, saúde, educação, meio ambiente, assistência social e direitos humanos) apresentam-se como políticas que devem ser priorizadas na gestão da coisa pública. O vídeo disponível em <https://youtu.be/UKw3JFZymgg> contém uma exposição de um professor da USP, que demonstra os conceitos de políticas públicas e sociais, suas diferenças e interfaces. 21WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Vivemos um processo de desestabilização, em que atores tradicionais, como o Estado, partidos e sindicatos, vêm perdendo sua hegemonia nas intervenções. Veri� camos a atuação de vários atores sociais, representados principalmente pelas organizações sem � ns lucrativos, fundações empresariais e as organizações não governamentais, chamadas de terceiro setor. Os novos movimentos sociais são respostas, canais de vocalização de uma sociedade complexa e multifacetada. O tão defendido direito à diferença, quando exacerbado, descaracteriza a universalidade e torna-se parcial, correndo o risco, muitas vezes, de fragmentar as questões sociais. Por outro lado, esses novos movimentos sociais desencadearam deslocamentos de sujeitos protagonistas que, através de alta vocalização, conseguem colocar prioridades políticas na agenda pública e, a partir dessa inclusão, num processo de pressão e negociação, implementar políticas com a participação dos sujeitos envolvidos, cobrando a necessidade de uma gestão cada vez mais democrática e transparente. 2222WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................23 1. DISCUSSÃO CONCEITUAL ..................................................................................................................................24 1.1 ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITOS – SEGURIDADE SOCIAL .....................25 1.1.1 DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA ....................................................................................26 1.1.2 FINANCIAMENTO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL ............................................................................................... 27 1.2 LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ...................28 1.2.1 PLANOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E CONSELHOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ........................................30 1.2.2 VIGILÂNCIA SOCIOASSISTENCIAL ...............................................................................................................32 1.3 POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ............................................................................................33 1.3.1 MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR ..............................................................................................................33 1.3.2 SEGURANÇAS AFIANÇADAS .........................................................................................................................34 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................................35 A POLÍTICA DEASSISTÊNCIA SOCIAL NO SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRO E SEU PLANEJAMENTO PROF. DR. JOSÉ ADALBERTO MOURÃO DANTAS PROF.A MA. PRISCILA DE ALMEIDA SOUZA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS 23WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), conforme estamos estudando, as políticas públicas e sociais não surgem de forma isolada e necessitam de todo um planejamento e norte para serem aplicadas e cumprirem seu objetivo de efetivar direitos constitucionalmente previstos. Nesta unidade, veremos que o Brasil possui um amplo sistema de proteção chamado Seguridade Social, composto por três grandes políticas: assistência social, saúde e previdência social. Tomando como base a política de assistência social, para pensarmos nas mais diversas políticas públicas e sociais existentes, veremos que ela precisa de uma sólida base de planejamento, � nanciamento, diretrizes e objetivos para que se efetive, não sendo possível e viável que trabalhe de forma isolada. Nisso, veremos que há diversos mecanismos pensados para que ela se solidi� que em um sistema no qual os direitos sociais estão cada vez mais ameaçados e constantemente violados. Ainda usando da política de assistência social como inspiração, faz-se necessário pensar sobre todo o processo de planejamento, execução e aprimoramento das políticas públicas, seus objetivos, diretrizes e públicos atendidos e como elas precisam interagir para que um amplo sistema de proteção e garantia de direitos sociais se consolide, se fortaleça e se mantenha. Bons estudos! 24WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. DISCUSSÃO CONCEITUAL A assistência social, de forma geral, nasceu na sociedade civil como uma prática para amenizar as mazelas dos mais pobres, amparada nos princípios da caridade e da � lantropia. Nos países latino-americanos, conjugou-se um frágil Estado-Providência, com uma forte sociedade providência. Nesses países, as organizações provenientes das próprias camadas populares, das classes médias e altas, foram redes de solidariedade que assumem propostas conservadoras/ tutelares ou progressistas/emancipatórias. Mas todas elas constituem, em comum, braços de um Estado inadimplente com os empobrecidos e excluídos. De qualquer maneira, essas práticas eram pontuais e com resultados bastante paliativos, embora assumindo características abrangentes, desenvolvidas na área da saúde, da educação, da habitação, dentre outros, daí o aspecto, desde sua origem, de uma ação de proteção social (CARVALHO, 2000). Os propósitos extremamente tutelares e disciplinadores dos pobres neutralizavam esforços mais progressistas no bojo da assistência social. Com o tempo, ela vai sendo assumida pelo Estado como estratégia no enfrentamento da questão social, enquanto prática compensatória e disciplinar, para amenizar as mazelas resultantes do sistema capitalista, voltadas às classes subalternas e excluídas. Essa prática acabou sendo processante de políticas no Estado Moderno, ou seja, por meio dela, nasceram políticas públicas e sociais. No Brasil, por longo tempo, até a década de 1990, esteve marcada como uma prática fragmentada e pontual, realizando ações para os diversos segmentos sociais: crianças e adolescentes; pessoas em situação de rua; idosos; pessoas com de� ciências; entre outros. No entanto, cabe ressaltar que, observando a trajetória da extinta Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA), nascida em 1942, ela introduziu ações bem mais abrangentes que tocavam na área de saúde materno-infantil, criando inclusive maternidades, até a área do trabalho, com programas de geração de renda. Esses serviços/programas/projetos foram gradativamente transferidos para as políticas a� ns, quando essas ações ganharam maior visibilidade e cobertura. Mesmo com a sua transformação em política pública, de Estado, conforme veremos mais à frente, a assistência social, porém, mantém-se ainda, em muitas situações, como instrumento para � ns eleitoreiros, usada como moeda de troca nos acordos clientelistas, conservando uma prática tutelar, como ajuda e favor, e não estabelecendo uma relação de direitos. Segundo Sposati (1988), um agravante nesse processo perverso foi a ausência do reconhecimento da responsabilidade governamental na assistência social, tendo como consequências: a inde� nição de competências intergovernamentais; a invisibilidade política; e o personalismo dos responsáveis no desenvolvimento de suas ações. Essas características fortaleceram a postura de que qualquer serviço voltado à população pauperizada poderia ser aceito como su� ciente, inclusive reforçando a ideia de um Estado subsidiário nessa área, mantendo e deslocando para as organizações � lantrópicas da sociedade civil o desenvolvimento de serviços, programas e projetos assistenciais. Os serviços, programas e projetos assumidos pelas organizações prestadoras de serviços assistenciais da sociedade civil são, geralmente, � nanciados pelos fundos públicos através de convênios ou pela isenção de impostos, auxílios e subvenções ou, ainda, por doações provenientes da sociedade. No entanto, além de serem transferências de recursos públicos parciais e insu� cientes para o desenvolvimento de tais ações, não há transparência nessas práticas. Estabeleceu-se na sociedade, no imaginário coletivo, a assistência social como prática de benemerência. Modi� car esse forte traço cultural é um dos maiores desa� os da área. 25WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Segundo Sposati (1988), existe uma concepção que defende a assistência social como política pública e social voltada para a pobreza, para atender determinados segmentos da sociedade, os pobres absolutos e/ou os pobres relativos, subsidiariamente ou não. No entanto, permanece tensionada entre os que a compreendem como prática compensatória e aqueles que aspiram a consolidá-la como uma política de seguridade social. Essa perspectiva, do ponto de vista técnico, começa a se modi� car com a de� nição da assistência social na Constituição Federal de 1988 enquanto política pública, direito do cidadão e dever do Estado, conforme veremos. 1.1 Assistência Social no Estado Democrático de Direitos – Seguridade Social O � nal da década de 1980 é de extrema relevância para a história e para a trajetória da assistência social no Brasil como a conhecemos hoje, isso porque temos aqui uma reabertura democrática, marcada pela Constituição Federal de 1988. Com a aprovação da Constituição Federal de 1988, os princípios de descentralização, municipalização e ampliação da participação popular propiciam a inovação da relação entre Estado e sociedade no processo de implementação das políticas sociais. Há nesse momento a real de� nição da assistência social enquanto uma política componente do sistema de seguridade social brasileiro, composto também pelas políticas de saúde e de previdência social, todas de� nidas como políticas públicas, direito de todo cidadão, cabendo ao Estado a sua gestão e organização. Especi� camente a política de assistência social é apresentada na Constituição Federal de 1988 como um direito de todos que dela necessitem, independentemente de terem contribuído para a seguridade social, tendo como principais objetivos: [...] I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de de� ciência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de de� ciência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispusera lei (BRASIL, 1988). Segundo o art. 203 da Constituição Federal de 1988: A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de de� ciência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de de� ciência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei (BRASIL, 1988). 26WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Com isso, vemos que a assistência social passa de um status de caridade e benesse a um patamar de direito, sendo um dever do Estado a sua execução. 1.1.1 Descentralização político-administrativa Outro importante avanço presente na Constituição Federal de 1988 e que direciona a con� guração da assistência social no Brasil a partir da década de 1990 é a descentralização político-administrativa, prevendo que a coordenação e as normas gerais da assistência social caberão ao governo federal e sua coordenação e execução, por meio de programas e projetos, caberão às esferas estaduais e municipais, prevendo isso também às entidades bene� centes e de assistência social (leia-se terceiro setor) e à participação da população, que será realizada pelas organizações representativas, no controle social das ações, em todos os níveis e na formulação e reformulação da política pública. Todo o movimento desencadeado para a concretização da assistência social enquanto política de direitos propiciou um processo de ampla mobilização e debates sobre a assistência social enquanto política pública social. Inúmeros sujeitos da sociedade civil e do governo, por meio dos fóruns e dos conselhos, vêm participando da construção pública dessa política, trazendo, no bojo da discussão, a organização de novos espaços públicos de participação popular e visibilidade dessa área. A assistência social passa a assumir uma atitude ativa em prol do direito coletivo das populações mais pobres, excluídas e em situação de vulnerabilidade. No entanto, convivemos, ainda nos dias de hoje, com uma matriz tradicional que a concebe como uma prática compensatória e residual, deslocada dos princípios de universalização, de respeito à dignidade do cidadão, à igualdade de direitos no atendimento e à promoção da equidade. Essa matriz tradicional mantém-se como resistência ao reconhecimento da assistência social como política pública e, especialmente, grande desa� o para a atuação do serviço social. Ao mesmo tempo em que avançamos no âmbito legal e iniciamos a implantação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), por meio da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, convivemos com a crise do Welfare State e o processo de implementação de propostas neoliberais, alicerçadas nas profundas reformas do Estado, especialmente a partir da década de 1990, o que fragiliza o seu avanço como política pública. Assim, a política de assistência social, tal como a conhecemos hoje, nada mais é do que um conjunto de normas, como legislações e orientações técnicas, que, aliadas à produção cientí� ca, dão a orientação sobre a forma ideal de se conduzir essa política, conforme veremos mais à frente, servindo também como norte para a atuação do assistente social. Nas políticas públicas e sociais, a descentralização não pode ser confundida com a desconcentração, que apenas transfere serviços e programas, sem, no entanto, possibilitar a gestão pelo governo municipal. Como instrumento estratégico para a descentralização das ações da política de assistência social, os planos devem garantir, em todas as etapas de elaboração, a participação efetiva das entidades e organizações da sociedade civil, não se limitando à sua dimensão técnica, mas possibilitando principalmente, a dimensão política, até porque não existem técnicas e planejamentos neutros. Nessa perspectiva, o processo de descentralização pressupõe a implantação de mecanismo de gestão em todos os níveis que contemplem um controle menos burocrático e sejam mais de resultados, � uxo de informação contínua do governo e da sociedade civil organizada, que propugne defesa de proposta de interesse público/coletivo e que contribua para a construção de políticas públicas e sociais inter-relacionadas nos três níveis, mais próximas de uma gestão cooperativa, interinstitucionalizada e � exível. 27WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. 1.2 Financiamento da assistência social Quanto ao � nanciamento da Assistência Social, a Constituição Federal de 1988 e a LOAS a de� nem como política integrante da Seguridade Social e de responsabilidade dos três níveis de governo e da sociedade, com recursos oriundos: de contribuições sociais, de acordo com o estabelecido no artigo 195 da Constituição Federal, dos empregados, incidentes sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro, dos trabalhadores e sobre a receita de concursos de prognósticos; recursos � scais das três esferas de governo; recursos arrecadados pelos fundos de assistência social, de acordo com as respectivas leis de criação. O Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) foi regulamentado pelo já revogado Decreto nº 1605/95 e implantado em 1996. Prevê as despesas relativas aos Serviços Assistenciais, aos projetos de enfrentamento à pobreza, ao Benefício de Prestação Continuada e ao extinto programa Bolsa-Escola, incluídos pelo Congresso Nacional, a partir do orçamento de 1997. A apropriação da Norma Operacional Básica da Assistência Social (NOB/SUAS) estabeleceu os critérios para a transferência de recursos para os fundos estaduais. No entanto, em seus primórdios, ocorreram di� culdades de operacionalização, não apenas pela falta de implantação dos fundos municipais já regulamentados, como no Estado do Paraná, onde, até o � nal de 1999, não havia sido repassado nenhum recurso para os municípios via esse fundo. Já a atualização da NOB/SUAS em 2005: [...] disciplina a operacionalização da gestão da política de assistência social, conforme a Constituição Federal de 1988, a LOAS e legislação complementar aplicável nos termos da Política Nacional de Assistência Social de 2004, sob a égide de construção do SUAS, abordando, dentre outras coisas: a divisão de competências e responsabilidades entre as três esferas de governo; os níveis de gestão de cada uma dessas esferas; as instâncias que compõem o processo de se relacionam; a nova relação com as entidades e organizações governamentais e não governamentais; os principais instrumentos de gestão a serem utilizados; e a forma da gestão � nanceira, que considera os mecanismos de transferência, os critérios de partilha e de transferência de recursos (BRASIL, 2005, p. 12). Ainda, a NOB/SUAS explicita procedimentos e de� ne estratégias e operacionalização do processo de descentralização político-administrativa da Assistência Social, o � nanciamento e a relação entre os três níveis de governo, clareando as suas competências, de� nindo as competências dos órgãos gestores e das instâncias de negociação e controle social (conselhos), � uxos e requisitos para o processo de habilitação e os mecanismos e critérios para transferências dos recursos do Fundo Nacional de Assistência Social para os fundos estaduais e municipais. A implantação das Comissões Intergestoras, organizadas no âmbito federal (Comissão Intergestora Tripartite, composta por três representantes da União, três representantes dos Estados e três representantes dos municípios, no nível estadual, Comissão Intergestora Bipartite, três representantes dos Estados e seisrepresentantes dos municípios), inaugura um processo de habilitação e desabilitação dos estados e municípios na condição de gestores. Portanto, a NOB/SUAS, reguladora e normatizadora a complementar a Política Nacional de Assistência Social, contribuiu para uma melhor � scalização sobre a criação e o funcionamento dos conselhos, sobre a destinação dos recursos via fundo, en� m, sobre o cumprimento, de fato, da descentralização político-administrativa da política de assistência social na atualidade. 28WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. 2 Lei Orgânica de Assistência Social a partir da Constituição Federal de 1988 No ano de 1993, tivemos um novo avanço no sentido de solidi� car a assistência social enquanto uma política pública e direito de todo cidadão: a criação da LOAS. Nela, em seu art. 1º, temos que: A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas (BRASIL, 1993). Na Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a LOAS, essa questão � ca explicitada: aparece a necessidade de integração da política de assistência social, enquanto política pública social, às políticas setoriais, bem como a complementação e integração dos seus programas, não evidenciando, no entanto, a forma de sua implementação. Entendemos que a construção da assistência social como política setorial não inviabilizou a sua transversalidade com as demais políticas públicas sociais, pois, a partir do momento em que se de� ne sua rede básica de serviços e constrói-se sua área de cobertura, integrada aos serviços das demais políticas públicas e sociais, proporciona-se organicidade à sua interface. Sposati (1988), ao de� nir o conteúdo próprio da política de assistência social, ressalta ser necessário estabelecer quais as vulnerabilidades sociais que devem ser cobertas por uma política de seguridade social, de� nindo, assim, a sua especi� cidade entendida como uma política setorizada, e não de segmentos. A partir de então, vemos que a LOAS vem passando por intensos e constantes processos de reformulação e aprimoramento e tem por principais objetivos: [...] I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; c) a promoção da integração ao mercado de trabalho d) a habilitação e reabilitação das pessoas com de� ciência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com de� ciência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais (BRASIL, 1993). Para melhor entendimento da política de Assistência Social e os conselhos, leia: RAICHELIS, R. Esfera pública e conselhos da Assistência Social: caminhos de construção democrática. São Paulo: Cortez, 1998. 29WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Para avaliar a assistência social como política pública, faz-se necessária a utilização de determinados critérios, como: princípios e diretrizes, tendo em vista as necessidades, demandas, metas de cobertura, custo, orçamento e avaliação, para dimensionar o seu desenho no âmbito da seguridade social, assim como está explícito na LOAS. Segundo prevê a LOAS, a assistência social tem por princípios: [...] I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II - universalização dos direitos sociais, a � m de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão (BRASIL, 1993). A LOAS ainda prevê, em seu art. 5º, como suas diretrizes: [...] I - A descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II - A participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis e a III - Primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo (BRASIL, 1993). Conforme se pode ver pelos princípios e objetivos da LOAS, essa legislação contribuiu diretamente para consolidar a assistência social enquanto uma política pública, afastando-se cada vez mais de seu histórico de caridade e � lantropia. A implementação da LOAS inova completamente a forma de gestão da assistência social no País, instituindo as instâncias deliberativas do sistema descentralizado e participativo, que são o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e os Conselhos de Assistência Social em âmbitos estaduais, municipais e no Distrito Federal, de caráter permanente e com composição paritária entre o governo e a sociedade, extinguindo os órgãos centralizados e viciados no uso de uma máquina populista e clientelista. A LOAS prevê não apenas serviços, programas e projetos no âmbito da administração pública direta, mas também entidades de atendimentos que abrangem o terceiro setor, ou seja, as organizações não governamentais (ONGS), que: [...] prestam atendimento e assessoramento aos bene� ciários abrangidos por esta Lei, bem como as que atuam na defesa e garantia de direitos, sendo divididas entre entidades de atendimento, que oferecem de forma contínua serviços que concedem benefícios de prestação social básica ou especial, dirigidos às famílias e indivíduos em situações de vulnerabilidade ou risco social e pessoal (BRASIL, 1993). Ainda, as entidades de assessoramento são aquelas que: [...] de forma continuada, permanente e planejada, prestam serviços e executam programas ou projetos voltados prioritariamente para o fortalecimento dos movimentos sociais e das organizações de usuários, formação e capacitação de lideranças, dirigidos ao público da política de assistência social (BRASIL, 1993). 30WWW.UNINGA.BR PO LÍ TI CA S PÚ BL IC AS E S OC IA IS | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E, por � m, as entidades de defesa e garantia de direitos, que: [...] prestam serviços e executam programas e projetos voltados prioritariamente para a defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais, construção de novos direitos, promoção da cidadania e enfrentamento das desigualdades sociais (BRASIL, 1993). Todas essas entidades devem respeitar as deliberações do Conselho Nacional de Assistência Social e também compõem o que chamamos de rede de serviços socioassistenciais, conforme veremos mais à frente. 1.2.1 Planos de assistência social e conselhos de assistência social Para o repasse de recursos do Governo Federal, para a execução Política de Assistência Social nos Municípios, Estados e Distrito Federal, a LOAS apresenta algumas exigências, sendo
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