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1 OBRIGAÇÃO, CATEGORIAS HÍBRIDAS, FONTES E CLASSIFICAÇÃO ROTEIRO • Obrigação: conceito e natureza jurídica • Elementos constitutivos das obrigações • Obrigações propter rem; ônus reais; obrigações com eficácia real • Fontes das obrigações • Classificação das obrigações 1 - OBRIGAÇÃO: CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA • Obrigação lato sensu • É sinônimo de dever (morais, religiosas, sociais ou jurídicas, patrimoniais ou não). • Obrigação stricto sensu • A obrigação stricto sensu é sinônimo de dever jurídico patrimonial. • Conceito de obrigação • “*...+ a relação obrigacional é um vínculo jurídico entre duas partes, em virtude do qual uma delas fica adstrita a satisfazer uma prestação patrimonial de interesse da outra, que pode exigi-la, se não for cumprida espontaneamente, mediante agressão ao patrimônio do devedor.” (Orlando Gomes). 2 - ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS OBRIGAÇÕES Consideram-se três os elementos essenciais da obrigação: a) o subjetivo; b)o objetivo ; e o c)o vinculo jurídico ou elemento imaterial. 2.1 Elementos subjetivo, objetivo e vínculo jurídico 2 • O elemento subjetivo (sujeitos) • Sujeito ativo (credor) e sujeito passivo (devedor), determinado ou determinável – pessoa jurídica, natural ou ente jurídico. • Podem ser únicos ou coletivos; não é indispensável à permanência dos sujeitos originários na relação obrigacional. (podendo haver a substituição) • O elemento objetivo (objeto) • Objeto da obrigação (obj. imediato): é a prestação de dar, fazer, ou não fazer. • Objeto da prestação (obj. mediato): é o objeto material (bem móvel, imóvel ou semovente) ou imaterial sobre o qual incide a prestação (dar, fazer, ou não fazer, o quê?). • A prestação precisa ser lícita, possível, determinada ou determinável e patrimonial. • O vínculo jurídico (obrigacional) • É o vínculo jurídico, o elo entre o credor, devedor e o objeto que sujeita o devedor à realização de um ato positivo ou negativo no interesse do credor. • A relação obrigacional apresenta dois vínculos (dois momentos): o débito e a responsabilidade. • Débito (debitum ou Schuld): • É o elemento pessoal do vínculo jurídico; “consiste no dever que incumbe ao sujeito passivo de prestar aquilo a que se comprometeu.” (Silvio Rodrigues). • Responsabilidade ou garantia (obligatio ou Haftung): • É elemento patrimonial do vínculo jurídico; “é representado pela prerrogativa conferida ao credor, ocorrendo inadimplência, de proceder à execução do patrimônio do devedor, para obter satisfação de seu crédito.” (Cf. Silvio Rodrigues); permite ao credor atacar e executar o patrimônio do devedor a fim de obter o pagamento devido ou uma quantia equivalente acrescida das perdas e danos. 3 - FONTES DAS OBRIGAÇÕES 3 3.1 Conceito • São os “fatos jurídicos que dão origem aos vínculos obrigacionais, em conformidade com as normas jurídicas”. 3.2 Fontes no D. Romano • Gaio, nas Instituições de Justiniano: são o contrato (entendido não só como convenções, mas como todo ato jurídico lícito) e o delito (entendido como aqueles atos contrários ao direito). • No Período Bizantino (565 d.C. a 1.453 d.C.): contrato (acordo de vontade), quase contrato (ato lícito não contratual), delito (ato ilícito doloso), quase delito (ato não delitual, equiparado aos delitos na prática, como o dano causado por objeto caído ou lançado de um prédio). 3.3 Fontes no direito moderno • “Há uma enorme diversidade de posicionamentos na sistematização da classificação das fontes das obrigações”. (Nelson Rosenwald). • Arnoldo Wald, Carlos Roberto Gonçalves, Washington de Barros Monteiro e Silvio Rodrigues • Entendem que o ato ilícito pode ser fonte das obrigações; outros autores, discordando, entendem que o ato ilícito não pode ser entendido como fonte das obrigações, já que a “obrigação de indenizar decorre da existência de um dano injusto imputado a alguém” (Nelson Rosenwald). • A boa-fé objetiva (Nelson Rosenwald) • A partir de sua função integrativa, a boa-fé objetiva “atua como fonte de obrigações”, em razão dos deveres anexos de “informação, lealdade, respeito, probidade, garantia etc.”. • No Código Civil • Os contratos, as declarações unilaterais de vontade (promessa de recompensa, gestão de negócios, pagamento indevido e demais atos unilaterais geradores de enriquecimento sem causa), e os atos ilícitos. 4 - CATEGORIAS HÍBRIDAS DAS OBRIGAÇÕES • Certas situações jurídicas especiais e de ordem prática podem exigir a reunião dos direitos obrigacionais aos direitos reais. 4 • Tanto na doutrina como na legislação, há uma grande imprecisão sobre os caracteres e a conceituação da obrigação propter rem (ab rem, in rem, ob rem ou reais), “do ônus real” e do “direito real de garantia.” Características 5 6 7 5 - CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 5.1 Critério de classificação • Diversidade de enfoque • Não existe uma única classificação sobre a matéria, porque cada jurista procura dar um enfoque próprio. 5.1.1. Classificação quanto ao seu objeto Quanto à natureza • Em relação à sua natureza as obrigações podem ser classificadas como: de dar, fazer e não fazer, e como positivas e negativas. • Obrigações de dar, fazer, e não fazer. • Obrigação de dar: “*...+ consiste na entrega de alguma coisa, ou, seja, na tradição de uma coisa pelo devedor ao credor.” Pode ser de dar a coisa certa, de dar a coisa incerta, ou ainda de restituir. Nas obrigações de dar (de prestação de coisa) estão incluídas prestações de índole diversas como as: de dar, de restituir, de contribuir e de solver dívida em dinheiro. (Cf. Silvio Rodrigues) • Obrigação de fazer: “*...+ a que vincula o devedor à prestação de um serviço ou ato positivo, material ou imaterial, seu ou de terceiro, em benefício do credor ou de terceira pessoa.” (Mª Helena Diniz). • Obrigação de não fazer: é aquela em que “o devedor assume o compromisso de se abster de algum fato que poderia praticar livremente se não tivesse obrigado para atender interesse jurídico do credor ou de terceiro.” (Mª Helena Diniz). Ex: Artista que possui contrato de exclusividade com uma emissora e dá entrevista em outra. • Obrigações positivas e negativas • A positiva consiste em um ou vários atos do devedor, podendo ser de dar e de fazer. • A negativa tem como objeto abstenções economicamente importantes de não fazer. 8 Em atenção à sua liquidez • Obrigação líquida é a obrigação certa quanto à sua existência, e determinada quanto ao seu objeto (ex.: pagar R$ 1.000,00; dar 100 sacas de cereal; entregar um automóvel especificado). • Obrigação ilíquida é a que é incerta quanto à sua quantidade, que se torna líquida pela liquidação (depende de prévia apuração para a verificação de seu exato objeto). 5.1.2 Quanto ao seu modo de execução (simples ou cumulativa; alternativa; com prestação facultativa). Obrigação simples e cumulativa (ou conjuntivas, cf. Venosa) • Obrigação simples • É aquela cuja prestação importa em um único ato (fazer ou não fazer) ou numa só coisa (singular ou coletiva; certa ou incerta). • Obrigação cumulativa (ou conjuntiva, cf. Venosa) • É a que consiste num vínculo jurídico pelo qual o devedor se compromete a realizar diversas prestações, de tal modo que não se considerará cumprida a obrigação até a execução de todas as prestações prometidas, sem exclusão de uma só. (ex.: dar um carro e dar soma em dinheiro).• As prestações ligam-se pelo aditivo “e”. Obrigação alternativa • É a que “*...+ constrange o devedor a uma, somente, de duas ou mais prestações previstas, e que se extingue pela execução de uma ou outra.” (ex.: entregar um carro ou pagar quantia equivalente, mediante declaração de vontade). (cf. Ambroise Colin e Henry Capitant). • As prestações ligam-se pela partícula “ou”. Obrigação com prestação facultativa • Não está prevista como modalidade de obrigação no CC. 9 • “É aquela que, não tendo por objeto senão uma só prestação, permite a lei ou o contrato, ao devedor, substituí-la por outra, para facilitar-lhe o pagamento”. 5.1.3 Relativamente ao tempo de adimplemento Obrigação momentânea (instantânea, transitória ou transeunte) • É a que se consuma, se exaure, num só ato em certo momento. Obrigação de execução continuada (duradoura, contínua, de trato sucessivo ou periódica) • É a que se protrai no tempo, caracterizando-se pela prática ou abstenção de atos reiterados, solvendo-se num espaço mais ou menos longo de tempo. (ex.: a do locatário de pagar o aluguel; a do vendedor nas vendas a prestação). 5.1.4 Quanto aos elementos acidentais Obrigação pura • E a que não está sujeita à condição, termo ou encargo. Obrigação condicional • É a que subordina seu efeito a evento futuro e incerto. Obrigação a termo • É aquela em que as partes subordinam os efeitos do ato negocial a um acontecimento futuro e certo. O termo pode ser inicial (CC, art. 131), final (CC, art. 135); certo e incerto. Obrigação modal • É a que uma pessoa a quem se transfere um direito em um negócio jurídico gratuito fica adstrita, por conta de uma declaração acessória de vontade. (ex.: a obrigação de construir uma escola, assumida pelo donatário, em um terreno doado). 5.1.5 Em relação à pluralidade de sujeitos Obrigação única ou múltipla (Cf. Venosa) • Obrigação única 10 • É a obrigação onde se identifica um só credor e um só devedor. • Obrigação múltipla ou plúrima • Será múltipla a obrigação onde houver mais de um credor, ou mais de um devedor. • As obrigações múltiplas, ainda segundo Venosa, podem ser conjuntas ou solidárias; divisíveis e indivisíveis. • Obrigação conjunta • É aquela em que cada titular só responde, ou só tem direito à respectiva quota-parte na prestação. • Obrigação solidária • “É aquela em que, havendo multiplicidade de credores ou de devedores, ou de uns e outros, cada credor terá o direito à totalidade da prestação, como se fosse o único credor, ou cada devedor estará obrigado pelo débito todo, como se fosse o único devedor.” (Maria Helena Diniz). • Obrigação divisível e indivisível • Em que pese Mª Helena Diniz classificar as obrigações divisíveis e indivisíveis quanto à pluralidade dos sujeitos, Silvio de S. Venosa, entende que devam ser observadas sob o ponto de vista do objeto das obrigações. • Divisível • É aquela cuja prestação é suscetível de cumprimento parcial, sem prejuízo de sua substância e de seu valor, de modo que, havendo pluralidade subjetiva, a obrigação se presumirá dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos forem os credores ou devedores (CC, art. 257). • Indivisível 11 • É aquela cuja prestação só pode ser cumprida por inteiro, não comportando sua cisão em várias obrigações parceladas distintas, pois uma vez cumprida parcialmente a prestação, o credor não obtém nenhuma utilidade ou obtém a que não representa a parte exata da que resultaria do adimplemento integral, logo, havendo pluralidade de devedores, cada um será obrigado pela dívida toda (CC, art. 258). 5.1.6 Quanto ao conteúdo Obrigação de meio • É aquela em que o devedor se obriga tão somente a usar de prudência e diligência normais na prestação de certo serviço para atingir um resultado, sem, contudo se vincular a obtê-lo. (ex.: a do médico para com o paciente). Obrigação de resultado • É aquela em que o credor tem o direito de exigir do devedor a produção de um resultado, sem o que se terá o inadimplemento da relação obrigacional. (ex.: a do empreiteiro para com o dono da obra). Obrigação de garantia • É a que tem por conteúdo a eliminação de um risco, que pesa sobre o credor. • O simples fato do devedor assumi-lo representará o adimplemento da prestação (ex.: a do segurador e a do fiador, a do contratante, relativamente aos vícios redibitórios, nos contratos comutativos, CC, art. 441 e s.; a do alienante, em relação à evicção, CC, art. 447/457; a oriunda de promessa de fato de terceiro, CC, art. 439). 5.2. OBRIGAÇÕES RECIPROCAMENTE CONSIDERADAS 5.2. 2.1 Obrigação principal • É a existente por si, abstrata, ou concretamente, sem qualquer sujeição a outras relações jurídicas. (ex.: a do vendedor que se obriga ao alienar um bem, a entregá-lo ao comprador, ou a do inquilino, que se compromete a restituir a coisa locada, findo o prazo estipulado no contrato de locação, etc.). 12 5.2.2.2 Obrigação acessória • É aquela cuja existência supõe a da principal. (ex.: juros da dívida, direitos reais de garantia, evicção, cláusula penal, vícios redibitórios, cláusulas compromissórias, cláusula de irrevogabilidade etc.).