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M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno Filo Nematoda NEMATOIDES DE INFECÇÃO PASSIVA ❖ Ascaris lumbricoides – 1,48 bilhões de casos de ascaridíase = parasitose intestinal + prevalente em países subdesenvolvidos ❖ Trichuris trichiura – 1 bilhão de casos de tricuríase ❖ Enterobius vermicularis – 550 milhões de casos ❖ Toxocara sp. 1. Biologia geral dos nematoides - Características gerais de filo: o Vermes cilíndricos de simetria bilateral o Têm extremidades afiladas ou filiformes; o Dimorfismo sexual, com fêmeas em geral ↑ que os machos. o E tubo digestivo completo, com boca e ânus (ou cloaca) – que, no verme adulto parasita, recebe alimento parcialmente digerido pelo hospedeiro. - Seu tegumento (revestimento) é composto de: o Cutícula – que atua como esqueleto externo, sustentando e protegendo as estruturas internas. o Apoiada por hipoderme e musculatura – conjunto que permite a locomoção dos vermes na luz do TGI. M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno - Nutrição e aparelho bucal variam entre as espécies, mesmo as de vida parasitária: • Algumas agridem a mucosa do tubo digestivo para se alimentar. São dotados de cápsulas bucais com estruturas dilacerantes ou pungitivas, para se fixar, ferir e sugar. o Ex.1. Ancylostoma sp. (têm dentes quitinosos em pares) o Ex.2. Necator americanus (com placas cortantes) • Outras não aderem à mucosa, nutrindo-se de microrganismos e materiais existentes no local o Ex: Ascaris lumbricoides, Enterobius vermicularis. • Outras penetram parcialmente na mucosa, induzem histólise e aspiram o produto o Caso do Trichuris trichiura • E ainda outras ingerem sangue, linfa e produtos inflamatórios o Ex.1. Strongiloides stercoralis o Ex.2. Filárias - 50 espécies parasitam do homem; 12 causam doença. - Padrão de crescimento singular = 4 fases larvais + fase adulta em todas as espécies: • A cada fase, ocorre a ecdise (“M” no esquema) = troca de cutícula – que se torna rígida e friável aos poucos, devendo ser descartada para permitir o ↑ do animal. • Mas o verme ainda não é adulto após a última troca –> Após a 4ª fase larval, há a fase juvenil, ainda um estágio intermediário, incapaz de se reproduzir. o Porém, sua transição para a forma adulta não envolve ecdise o Ocorre que o tempo de enrijecimento da cutícula é ↑ nesse momento, permitindo ↑↑ significativo do animal até adquirir as dimensões normais para a idade adulta. M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno 2. Formas de transmissão (1) Passiva = vermes que ingestão ou inoculação do verme em ferida de a. Parasitas exclusivos do homem: o Ascaris lumbricoides –> ascaridíase o Trichuris trichiura –> tricuríase b. Parasitas que eventualmente infestam o homem (zoonoses): o Enterobius vermicularis – o “oxiúro” o Toxocara sp. – típica “larva migrans visceral” (2) Ativa = vermes capazes de penetrar na pele íntegra a. Parasitas exclusivos do homem: o Ancylostoma duodenale e Necator americanus – agentes da ancilostomose, ou “amarelão”. b. Parasitas que eventualmente infestam o homem (zoonoses): o Ancylostoma caninum e braziliense – “bichos geográficos” = “larva migrans cutânea” (3) Por artrópodes (vetores biológicos) = nematoides de infecção extra-intestinal o Wuchereria bancrofti – causador da filariose linfática e transmitido pelos mosquitos do gênero Culex. Hoje, ainda endêmicos na região norte e zona metropolitana de Recife o Onchocerca volvulus – causador da oncocercose e transmitido pelos borrachuros (mosquitos simulídeos). Restrito à região norte do país. Parasitoses intestinais M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno 3. Ascaris lumbricoides - Um dos maiores parasitos do homem – as “lombrigas” • ↑ prevalência em climas quentes e úmidos, onde saneamento e higiene são precários. • ↑ incidência entre os 6-12 anos (e ↑ média de contagem de ovos) • Verme aloja-se em duodeno e jejuno preferencialmente. - Características morfológicas: • Machos têm a extremidade posterior curva (B); reta em fêmeas (A). • Ovos arredondados com camada externa “mamilonada”, irregular, bem característicos o Castanhos, pelos pigmentos biliares das fezes o E pelo menos 4x ↑ que os ovos de tênia - Ciclo: (1) Postura e longevidade dos ovos o Na ausência do macho –> a fêmea põe ovos inférteis = incapazes de gerar embrião o Havendo cópula –> haverá ovos férteis, mas ainda não infectantes quando eliminados ▪ No solo, em condições propícias de temperatura e umidade, vão se tornar ovos embrionados e infectantes entre 2-3 semanas (fases L1 > L2 > L3) ▪ Viabilidade –> até 1 ano ou mais. (2) Fases larvais de vida livre no solo (L1 a L3) –> Ascaris como geo-helminto o Tempo de formação da larva L1 no interior do ovo –> 2 semanas em média o Com mais 1 semana, teremos o desenvolvimento de L2 e de L3 (= 2 trocas de cutícula) o Assim ocorre sob temperaturas ótimas em países de clima tropical, solos arenosos (aerados) e sombreados (para não haver desidratação). (3) Ciclo pulmonar (L3-L4), ou Ciclo de Loss: o Se ingerido, o ovo eclodirá no duodeno – sob efeitos de pH, temp., CO2 e agentes redutores o A larva L3 pode penetrar na mucosa intestinal, cair nas correntes sanguínea e linfática. o Atinge o pulmão, rompe os capilares e se aloja nos ácinos em até 7 dias. M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno a. Ali, desenvolve-se se a formas L4 (i.e., mais 1 muda de cutícula), que migra: bronquíolos –> brônquios –> traqueia –> laringe –> deglutição (4) Desenvolvimento final o L4 atinge novamente duodeno e jejuno –> forma juvenil (última troca de cutícula) o Crescimento continua, até que teremos o verme adulto, que pode medir 10-35cm em 4 meses. - Patogenia e manifestações clínicas: (1) Maioria das infecções é assintomática (2) Possível fase sintomática durante o ciclo de Loss, sobretudo em crianças e p. hipersensíveis o É a “pseudopneumonia”, ou Síndrome de Loeffler = quadro de tosse seca, febre, dispneia, ↑ eosinofilia e achados radiológicos no campo pulmonar. (3) Em casos raros, pode haver ainda larva migrans visceral o As larvas L3 ficam circulando sem se estabelecer em pulmão o E não respondem adequadamente ao esquema terapêutico M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno L3 e L4 são mais imunogênicos do que adultos –> causam alguma inflamação nos tecidos enquanto migram (edema inflamatório + hemorragias petequiais) Ocorre reação à agressão aos capilares alveolares e contra a cutícula liberada no pulmão –> descamação do epitélio alveolar + exudato = pneumonite difusa. Extensão das lesões / sintomas –> dependente da carga parasitária e resposta do hospedeiro (4) No quadro intestinal (fase adulta), os sintomas também vão depender da carga parasitária e são mais importantes em crianças pequenas e desnutridas: o Desconforto abdominal / cólicas, náuseas/vômitos, diarreia e esteatorreia, anorexia. o ↓ absorção de albumina, lactose, vitaminas A e C –> agravamento da desnutrição o Obstrução intestinal, parcial ou completa (↑ carga parasitária) o Presença de vermes no vômito e risco de asfixia por aspiração o Obstrução / perfuração de ductos pancreático e biliares –> pancreatite, peritonite o Óbito –> 20.000 casos por ano. - Tópicos de diagnótico: (foi tratado muito brevemente) • Na presença de vermes adultos – visualização de ovos, ou eliminaçãode adultos, na fezes o Ovos só são detectáveis nas fezes pelo menos 40 dias após os sintomas pulmonares = período de maturação das larvas. • Eventualmente, ↑ da eosinofilia no hemograma e larvas evidenciadas no escarro ou lavado gástrico – durante o ciclo de Loss • Eventualmente, visualização de vermes adultos em exames de imagem como US de abdome - Tratamento –> Albendazol, 400 mg, em dose única VO (ou Mebendazol) o Eficaz contra o verme adulto em 100% dos casos; porém, não atinge as formas larvais. o Paciente deve ser reavaliado em 2-3 meses –> repetições do parasitológico. 4. Toxocara sp. (principal agente da “larva migrans visceral”) (não caiu na nossa prática) - A toxocaríase é uma parasitose de cães (hospedeiro definitivo) o Eventualmente atinge humanos, constituindo uma zoonose - Eclosão e penetração na mucosa são idênticos ao que ocorre para A. lumbricoides o Só é infectante também o ovo contendo larva no estágio L3. o Porém, a larva não consegue reconhecer e se alojar em pulmão humano o Ela ficará “perdida”, em circulação –> sintomas bem variados. - Tratamento simples com Ivermectina o Mas, para isso, é preciso haver suspeita e pesquisa no sangue periférico de antígenos do parasito. M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno 5. Trichuris trichiura - A tricuríase infecta ˃ 800 milhões de pessoas (60 milhões na América tropical); ↑ o risco de: • Anemia materna + recém-nascido de baixo peso • Desnutrição (principalmente em crianças) • E retardo no desenvolvimento físico e cognitivo - Características morfológicas do verme adulto: • Corpo afilado anteriormente (+ delgado), e fusiforme posteriormente (+ robusto) • Macho com a extremidade posterior enrolada • Além das características gerais para nematoides: dimorfismo sexual, simetria bilateral, fêmeas maiores, etc. - Características do ovo: • Forma elíptica, com 2 tampões nos polos (por onde eclodirá) • Triplo envoltório • Extremamente leve, pode se disseminar por água, vento e moscas. - Ciclo vital: (1) Ovos só embrionam no meio externo, havendo condições de solo favoráveis – como outros geo- helmintos (2) Mas, aqui, será infectante o estágio de larva L1 o Se ingerido, o ovo eclode no intestino delgado (3) A larva alcança o cólon, penetra na mucosa do ceco e ali se desenvolve (L1 –> L2 –> L3 –> L4 –> forma juvenil), sempre migrando, formando túneis o Assim, lesam o epitélio, alteram as vilosidades e induzem a formação de sincícios. (4) A forma juvenil retorna então à luz do intestino e se fixa à mucosa pela porção anterior, para se alimentar de tecido lisado, sangue e líquido intersticial. I.e., não há ciclo pulmonar: é um verme restrito ao trato gastrointestinal. (5) Os adultos (maduros em 1-3 meses) habitam no ceco – raras vezes no apêndice, em outras porções do cólon ou íleo distal nas cargas parasitárias maiores. o E cada fêmea põe entre 3.000 e 7.000 ovos/dia. M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno - Patogenia e manifestações clínicas: • Infecção usualmente assintomática – dependendo da carga parasitária / hipersensibilidade; • Em sintomáticos: o Irritação local –> alteração do peristaltismo e ↓ absorção intestinal o Diarreia, cólicas, hiporexia e perda de peso o Nervosismo, insônia o Hemograma demonstra eosinofilia o Prolapso retal apenas em ↑↑↑ cargas parasitárias – quando há vermes até a porção mais distal do intestino, provocando intenso edema e por vezes exigindo intervenção cirúrgica Indivíduos susceptíveis apresentam resposta TH1 predominante, que é ineficaz em combater helmintos –> ↓ produção de mucina e peristalse –> ↑ carga parasitária Invidíduos resistentes apresentam TH2 predominante –> IL-4, IL-5, IL-13 induzem proliferação celular e espessamento do muco –> desprendimento e eliminação do verme - Diagnótico e tratamento similares a Ascaris: • Pesquisa de ovos (leves e abundantes) nas fezes – Método de Lutz (geral, qualitativo) ou Método de Stoll (quantitativo, uma alternativa ao Kato-Katz) • Terapia à base de Mebendazol ou Albendazol M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno 6. Enterobius vermicularis (os “oxiúros”) - Algumas semelhanças nos adultos: • Também são maiores as fêmeas adultas (1cm, contra 3-4mm) e os machos têm extremidade posterior enrolada • Também colonizam intestino grosso – sobretudo ceco – e não há ciclo pulmonar. - E diferenças: • Extremidade posterior afilada • Apresentam um “bulbo”, uma dilatação no final do esôfago • Machos morrem após a cópula • Fêmeas grávidas têm o aspecto de um “saco de ovos” e migram até a região perianal para a postura de ovos o Na verdade, ali ocorre ruptura de cutícula, liberação de milhares de ovos e resposta inflamatória - Morfologia dos ovos: • Casca dupla lisa (não tripla, nem mamilonada) • Em forma de “D” = alongados e assimétricos (uma porção mais reta e uma porção mais curva) - Patogenia e manifestações: • Novamente, a ↑ dos casos são assintomáticos – e ainda ↓ graves do que Ascaris ou Trichuris • Casos sintomáticos –> são de natureza mecânica e irritativa: o Prurido anal intenso + escoriações pelo ato de coçar (o que também promove a disseminação de ovos nas unhas) o Vulvovaginite em crianças do sexo feminino –> pela possível migração para a região vaginal. o Além de insônia / nervosismo / irritabilidade conforme o quadro. Os ovos já contêm uma larva L2 no momento da postura L3 é infectante, e também se forma cedo = ao contato de L2 com o O2, no ambiente (geo- helminto) ou mesmo no períneo. o O que permite auto-infecção externa –> indivíduo que leva as unhas contaminadas à boca. - Padrão-ouro para diagnóstico = teste da fita (técnica de Graham) –> busca de ovos no períneo o Mas também na roupa íntima ou de cama M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno - E tratamento padrão com Ambendazol, Mebendazol ou Piperazina o Tratar todas as pessoas parasitadas da família; o + medidas como lavar roupas de cama com água quente, educação sanitária, etc.
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