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Sucessão Testamentária

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Sucessão testamentária
Testamento é um ato jurídico unilateral (exige capacidade do agente, forma prevista em lei e objeto lícito; ainda, não pode ser feito pelo casal ou por mais pessoas, mesmo que a vontade seja a mesma), personalíssimo (art. 1.858 – não pode ser feito mediante procuração), não recepticio (não depende da aceitação de ninguém), solene (é um ato formal feito de acordo com a lei da data da morte), gratuito e revogável (pode ser revogado a qualquer tempo e apenas uma parte), pelo qual alguém dispõe a respeito de seu patrimônio, ou ainda determina a sua vontade para valer após a sua morte (pode dispor de questões de ordem pessoal, podendo, por exemplo, nomear tutor testamentário de seu filho ou se quer ser cremado). Obs.: em qualquer modalidade de testamento um pode revogar o outro, desde que posterior. Não revoga testamento: (i) contrato; (ii) distrato; (iii) codicilo.
Quem pode testar? O CC/02 não lista tais pessoas, mas sim aqueles que não podem testar (art. 1860). Quem tem capacidade para praticar esse ato jurídico são os maiores de dezesseis anos, sozinho, em qualquer das formas testamentárias previstas em lei. Não podem testar os menores de dezesseis anos, ou aqueles que não tem pleno discernimento no momento da manifestação de vontade.
Formas de testamento previstas em lei: (i) Ordinária: pode ser feito por qualquer pessoa capaz, em qualquer momento. São eles: público, cerrado e particular; (ii) Especial: só pode ser feito em situações especiais. São eles: marítimo, aeronáutico e militar. ATENÇÃO! Não confundir forma com conteúdo – se o testamento for composto por 10 disposições válidas e 1 ilícita, esta não contaminará a validade do testamento todo. Simplesmente a disposição ilícita não será cumpridas, as demais serão.
Modalidades de testamento: a. Ordinária: (i) Público: é convencionado por um oficial público e seu conteúdo é acessível a qualquer pessoa, depois de morto o testador. ATENÇÃO! este é o único testamento que pode ser feito por aqueles que possuem alguma deficiência (1.865 a 1.867). (ii) Cerrado (ou secreto, místico, misterioso): é sigiloso e confeccionado em 4 etapas (art. 1868 e 1869). (iii) Particular: é aquele feito sem a participação de um oficial público, é inteiramente feito de maneira reservada. OBS.: Após a morte, só poderá ser cumprido se confirmado. A confirmação exige a realização de uma audiência na qual pelo menos uma das três testemunhas compareça e confirme a validade do documento. ATENÇÃO! se não for confirmado, não será executado. Exceção – prevista no art. 1.879. b. Especial: São eles: marítimo, aeronáutico ou militar. Podem ser feitos de forma pública ou cerrada. Se não houver a morte do testador até 90 dias após o desembarque (nos casos marítimo ou aeronáutico), o testamento caducará. No testamento militar, é admitido, excepcionalmente, o testamento nuncupativo (de forma oral).
Conteúdo do testamento: são os critérios do que o testador pode ou não fazer, além da interpretação do testamento quando uma disposição permitir mais de um significado.
a. Regras permissivas: (i) Forma de nomeação do herdeiro testamentário ou legatário (art. 1897): pode fazer-se pura e simplesmente, sob condição (Se lícita será suspensiva – aquisitiva de direitos, se o nomeado cumprir adquire o direito de ser herdeiro – ou resolutiva – gera a perda da qualidade de direito. Se a condição for impossível não será cumprida), para certo fim ou modo (ou sob encargo – este é um ônus, uma obrigação), ou por certo motivo. Se a razão da nomeação for falsa e com a morte do testador se provar que a nomeação se deu por engano, aquilo que o testador deixou para o herdeiro volta ao seu patrimônio e é transferido aos herdeiros legítimos do testador. Se o fato que justificou a nomeação for verdadeiro e o equívoco se deu quanto ao nome do beneficiário, prevalece a vontade do testador e o valor vai para a pessoa correta. O testador, além de poder escolher o herdeiro testamentário ou legatário, a lei permite que o testador deixe o bem gravado com cláusulas de: - inalienabilidade: tornar o bem insuscetível de ser transferido a outra pessoa. Pode ser vitalícia (ônus pelo qual o herdeiro não poderá, a princípio, se desfazer do patrimônio durante toda sua vida) ou temporária (geralmente imposta quando há herdeiros menores ou incapazes), relativa ou absoluta (impossibilidade da cláusula ser derrubada). Obs.: O bem recebido com cláusula de inalienabilidade não pode ser clausulado novamente quando da morte de seu receptor, isso porque a clausula não pode ser perpétua. De acordo com o art. 1.911 a cláusula de inalienabilidade sozinha implica na impenhorabilidade e na incomunicabilidade; - impenhorabilidade: obrigações propter rem não são atacadas pela cláusula de impenhorabilidade; - incomunicabilidade: só tem relevância quando o herdeiro ou legatário for casado no regime de comunhão universal de bens. Sem justa causa o testador não pode gravar a parte legítima de seu patrimônio. O justo motivo tem que estar presente na data em que o testamento for feito e continuar presente na data da abertura da sucessão. Somente será justo aquilo que for lícito na data da abertura da sucessão. b. Regras Proibitivas (art. 1900). 
c. Regras de Interpretação: O testamento pode ter disposições testamentárias em que haja dúvida a respeito da melhor interpretação. Critérios adotados (art. 1899). Quando a clausula permitir mais de uma interpretação o juiz deverá escolher a interpretação mais favorável ao herdeiro ou ao legatário.
Codicilo: É o ato de disposição de ultima vontade limitado, se presta a determinados fins. A doutrina entende, a maior parte, que o pouco valor é o mesmo do juizado especial civil, ou seja. Até 40 salários mínimos. A outra parte da doutrina entende que é o valor igual ou menor que 5% que o patrimônio do disponente.
Revogação do testamento: (i) Quanto a sua amplitude – Total: o testamento posterior torna sem efeito todas as disposições testamentarias do testamento anterior. Parcial: o testamento anterior subsiste em tudo aquilo que não for contrário ao testamento posterior; (ii) Quanto a sua forma – Expressa: é aquela na qual o testamento posterior contém uma disposição explicitando que o anterior está revogado. Tácita: se dá quando a disposição do testamento posterior confrontar totalmente com a disposição do testamento anterior. Ex.: testamento de 2015 – deixa a casa X com João; testamento de 2018 – deixa a mesma casa X com Maria. A vontade mais nova revoga a anterior. Legal: se dá quando a lei impõe a revogação. Quando for legal, obrigatoriamente será total. Ocorre em 2 situações: * rompimento do testamento (artigos 1973 e 1974) * na destruição, abertura ou dilaceramento do testamento cerrado.
Inventário: é um procedimento de natureza jurídica administrativa, cujo objetivo é identificar quem faleceu, apurar quem são os sucessores do falecido, verificar o patrimônio deixado pelo morto, avalia-lo e, finalmente, dividir o patrimônio do falecido entre os sucessores previamente identificados. Obs.: Quando houver conflito dentro do inventário, o juiz mandará resolver em ação própria. 
a. Tipos de inventário – Extrajudicial: feito no cartório de notas, por meio de uma escritura pública de divisão amigável. Ocorrerá quando não houver testamento deixado pelo falecido e todos os herdeiros forem maiores, capazes, presentes (representados por advogados) e concordes. Judicial: se o falecido deixou testamento, se há herdeiro incapaz ou ausente (que se encontra em LINS), ou quando houver discordância entre os herdeiros quanto à partilha. Obs.: até 1997, o inventário era obrigatoriamente judicial. 
b. Abertura do inventário: Tem legitimidade para pedir a abertura o administrador provisório, ou seja, a pessoa que toma conta do patrimônio (da data da morte até a abertura do inventário). São eles: qualquer herdeiro legitimo ou testamentário, legatário, credor do herdeiro ou do morto, MP. Obs.: se for o MP que pedir, o promotor não tem legitimidade para dar andamento ao inventário, mas apenas parapedir sua abertura. Prazo: 60 dias, contados da abertura da sucessão (morte). Se o prazo não for respeitado, haverá multa sobre o ITCMD. Se aberto entre o 61º e 120º dias após a morte – multa de 10% sobre o valor do ITCMD. Se aberto após 120 dias – multa de 20% sobre o valor do ITCMD. 
Foro competente: via de regra, o ultimo domicilio do falecido. Porém, este pode ser aberto em outros locais como, por exemplo, local onde a maioria do patrimônio se localiza ou local da morte da pessoa. 
Solicitada a abertura, a primeira providencia que o juiz tomará é nomear o representante do espólio (inventariante), ou seja, aquele que dará andamento ao inventário. Há 2 tipos de inventariante: * Legal – pessoas que podem ser escolhidas pelo juiz e estão indicadas na lei – CPC – geralmente próximos ao morto; * Dativo – quando quem é próximo ao morto não puder ou não quiser exercer tal função, será exercida pelo advogado.
Deveres do inventariante: (i) administrar os bens, (ii) representar o espólio em juízo ou fora dele, (iii) cumprir o prazo de termino, (iv) responder sobre eventual sonegação do patrimônio, (v) receber a vintena (0 a 5% do patrimônio líquido do morto), entre outros.
O afastamento do inventariante pode se dar pela remoção (mediante provocação ao juiz no inventário, ex.: herdeiro pede que o inventariante seja removido) ou destituição (quando o juiz o faz de ofício).
Nomeado o inventariante, este deverá apresentar as primeiras declarações do inventario (art. 620, CPC), ou seja, a apresentação de um relato ao juiz.
Pode ser necessária a avaliação dos bens. Neste caso, o juiz nomeará como perito avaliador de bem imóvel aquele que possuir CREA, CRAU ou CRECI. Obs.: os herdeiros podem concordar ou impugnar a avaliação. Caso houver impugnação o juiz decidirá se acolhe ou não os argumentos. Se acolher, uma nova avaliação será feita ou complementada a que já existe.
Após o juiz determinará o recolhimento do ITCMD.
Partilha: é a forma de encerramento do inventário. No inventário judicial poderão haver 2 partilhas, são elas: * Judicial – quando houver herdeiro ausente (não representado por advogado) ou se houver divergência entre os herdeiros, não havendo conciliação. Critérios para a decisão do juiz (arts. 647 e 648); * Amigável: mesmo que o inventário seja aberto em juízo há a possibilidade desse tipo de partilha. O juiz apenas homologa o ajuste feito pelos herdeiros. Não há problema se os quinhões forem desiguais.
* Trânsito em julgado: com o término do inventário o inventariante deverá solicitar a expedição de uma carta de sentença ou formal de partilha e de posse desse documento deverá levar tal documento a registro no cartório competente. Isso para que haja a averbação do formal de partilha na matrícula dos imóveis presentes na partilha. Obs.: sem o registro do formal de partilha não há a concretização da transferência dos bens para os herdeiros.
* Arrolamento: era um inventário simplificado, existente até a entrada em vigor do atual CPC. Arrolamento comum: na hipótese em que o patrimônio do falecido era igual ou inferior a 20 mil Obrigações Registráveis do Tesouro Nacional (85 a 90 mil reais). Arrolamento sumário: se as partes fossem maiores, capazes, presentes e de acordo e deveria ser aberto em juízo. Hoje em dia, o este está presente no artigo 659 do CPC, mas na prática ele desapareceu por conta da entrada em vigor do inventário extrajudicial.
* Impugnação da sentença de partilha: Se dá através da propositura (i) da ação rescisória da partilha ou (ii) da ação anulatória da partilha, nos seguintes casos: * Feita no inventário judicial, houver erro, coação, dolo ou algum vício de consentimento por parte dos herdeiros que participaram da partilha. Deve ser proposta ação anulatória até 1 ano, contados do trânsito em julgado da sentença que homologou a partilha; * Se partilha judicial, cabe ação rescisória que deve ser proposta no prazo de até 2 ano, contados do trânsito em julgado da sentença que decidiu a partilha; * Quando ocorrer a sobrepartilha, ou seja, uma vez encerrado o inventário, os herdeiros descobrem bens pertencentes ao falecido que não foram arrolados no inventário (não há dolo). Neste caso, não haverá a abertura de um novo inventario, mas sim será desarquivado o inventario já feito, solicitando-se uma sobrepartilha (partilha posterior) do bem descoberto. Após é expedido um novo formal de partilha ou nova carta de sentença. Este é entregue ao inventariante que deverá fazer os registros competentes. * Quando ocorrer a venda de parte do patrimônio do morto, antes de ser feita a partilha, ou seja, durante a tramitação do inventário. O representante do espólio pede um alvará judicial de alienação do bem. * Se houver a habilitação de um herdeiro não reconhecido, o CPC/15 dispões que “todas as questões que envolvam matéria de fato, não podem ser decididas dentro do inventário”. Portanto, tal questão deve ser discutida em ação própria, sendo suspensa a tramitação do inventário até chegar ao fim a ação de reconhecimento da paternidade. * Se um dos bens constantes do inventario for objeto de desapropriação, tal ação será ajuizada contra o espolio da herança, e o inventariante defenderá o bem, lutando pela maior indenização possível.

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