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1. Aspectos conceituais É a modalidade sucessória definida por um ato de disposição de última vontade representado pelo testamento ou pelo codicilo (forma simplificada de testamento). Seu principal propósito é promover a transmissão de patrimônio, porém ela também lida com outras questões, como a reabilitação do indigno, a imposição de cláusulas restritivas a legítima mediante justa causa, a deserdação, o reconhecimento de filho, a nomeação de tutor etc. A sucessão testamentária encontra restrições caso exista herdeiro necessário, pois nesse caso o testador precisa respeitar a porção legítima desse herdeiro. 2. Testamento Apresenta-se como negócio jurídico personalíssimo, realizado pelo próprio testador e não admitindo procuração, embora a jurisprudência reconheça o testamento sob ditado o qual reproduzirá a vontade do de cujus; unilateral, ao derivar da manifestação de uma só vontade, proibindo-se sua elaboração por duas ou mais pessoas, o chamado testamento conjuntivo; revogável, não se exigindo a contar as causas da revogação, sendo, porém, irrevogável o eventual reconhecimento de filho; gratuito, por só trazer benefício ao seu favorecido, não ao testador; solene, devendo cumprir formalidades legais; causa mortis, produzindo sua eficácia apenas depois do falecimento do seu autor. 3. Capacidade para testar Verifica-se aos 16 anos completos, embora nessa idade ele ainda seja relativamente incapaz para os outros atos da vida civil. Para fazer testamento, o indivíduo com 16 anos é plenamente capaz e por isso não precisará da assistência de seus pais, até porque esta interferência comprometeria o aspecto personalíssimo do ato. Não podem testar os absolutamente incapazes e aqueles que, no momento do ato, não puderem exprimir a sua vontade (por exemplo, por embriaguez completa). O pródigo, embora seja incapaz para os atos de disposição patrimonial, poderá fazer testamento, uma vez que a eficácia desse ato só será observada após a morte do seu autor. 4. Formas ordinárias de testamento a) Público: é elaborado pelo tabelião, escrivão ou seu substituto legal a partir das declarações orais do testador, na presença de duas testemunhas. O testador também pode apresentar uma minuta declarando que ali se encontra a sua última vontade. O oficial de cartório reduz a termo as declarações e ao final faz a leitura do testamento. A vantagem dessa modalidade é a segurança, pois o documento fica guardado no cartório, porém ele tem o inconveniente da publicidade de seu conteúdo. Tendo em vista que a oralidade é a sua essência, esse testamento é proibido ao mudo e ao surdo-mudo, embora admitido ao surdo que saiba ler. Por outro lado, é a única forma possível ao cego (a quem será lido duas vezes) e ao analfabeto. b) Cerrado: é o testamento elaborado pelo próprio testador ou por alguém ao seu rogo (a seu pedido), a ser apresentado ao cartório somente para autenticação exterior, na presença de duas testemunhas. O cartório produzirá o auto de aprovação, o anexará ao documento que depois é devolvido ao testador. Sua vantagem é a ocultação da vontade do de cujus, que leva esse testamento a ser denominado como místico ou secreto, porém ele pode desaparecer pela ação dolosa de algum herdeiro ou simplesmente não ser encontrado. Essa modalidade é permitida ao mudo e ao surdo-mudo que saibam escrever e proibida ao cego e ao analfabeto. c) Particular: é aquele redigido pelo próprio testador, datado e assinado, na presença de três testemunhas, que também deveram assiná-lo. Essas testemunhas confirmaram a validade do ato no futuro inventário. Entretanto, o juiz pode dispensar essa confirmação em casos excepcionais, por exemplo, se as testemunhas já faleceram e a perícia reconheceu a integridade do documento. Essa modalidade é permitida ao mudo e ao surdo mudo que saibam escrever e proibida ao cego e ao analfabeto. A jurisprudência passou a admitir o testamento particular sob ditado, desde que ele seja confirmado depois pelas testemunhas no inventário. 5. Codicilo É o ato de manifestação de última vontade pelo qual de cujos dispõe sobre questões não patrimoniais ou atribui bens de pequeno valor; esses bens são aqueles que não ultrapassam 10% do patrimônio do de cujus, embora essa proporção seja avaliada caso a caso, pois talvez ela envolva bens imóveis para cuja disposição o codicilo não é instrumento adequado. Ele é elaborado de próprio punho pelo de cujus, datado e assinado. Nem mesmo se exige testemunhas. No ponto de vista formar, o codicilo é inferior ao testamento e por isso incapaz de revogá-lo; já o testamento revoga o codicilo, bastando que não faça referência ao codicilo elaborado anteriormente. 6. Formas especiais de testamento a) Marítimo e aeronáutico: são modalidades realizadas abordo de embarcação ou aeronave, perante o comandante dessas conduções. O testador temendo falecer antes de desembargar, elabora testamento público ou cerrado. No primeiro, ele declara sua última vontade em viva voz ao comandante, que reduz a termo essa declaração na presença de duas testemunhas. No segundo, o testador redige o seu documento, ou pedi a alguém que o faça, e o apresenta ao comandante para a autentificarão exterior, também na presença de duas testemunhas. No primeiro desembargue, a autoridade entregará o documento ao órgão oficial do porto ou aeroporto. O testamento marítimo ou aeronáutico perderá eficácia se o testador não falecer durante a viagem ou nos 90 dias seguintes ao seu desembargue. b) Militar: é elaborado por militar ou outras pessoas a serviço das forças armadas em campanha, como médicos, enfermeiros e religiosos. admite as formas pública, cerrada ou nuncupativa. Na força pública o testador declara sua vontade a uma autoridade de guerra, na presença de duas testemunhas, reduzindo-se a termo essa declaração. A forma cerrada, o testamento é elaborado pelo próprio testador ou por alguém a seu pedido e depois é apresentado ao oficial de guerra para a sua autenticação na presença de duas testemunhas. A forma nuncupativa, o testador declara sua vontade de viva voz (sem documento escrito), perante duas testemunhas, que deveram repassar essa declaração à autoridade de guerra. Nas três hipóteses, o testamento perderá a validade se seu autor não falecer na guerra ou em 90 dias após se encontrar em local em que consiga elaborar testamento ordinário. 7. Disposições testamentárias a) Regras interpretativas São aplicadas quando houver dúvida em relação ao verdadeiro desejo do testador. É o que se dá por exemplo quando as cláusulas testamentárias são confusas, imprecisas ou ambíguas. A primeira regra interpretativa prevê que deve prevalecer a interpretação que melhor atender a vontade do testador. Para tanto, é necessário apreciar o conjunto das disposições testamentárias e não somente a cláusula geradora da dúvida. A solução deve imergir do próprio texto, não sendo baseada em elemento exterior, exceto quando houver erro ou dúvida na designação do favorecido ou da coisa atribuída, quando então se admitirá prova externa, como a análise do comportamento das partes antes do testamento. Outra regra diz respeito a omissão do testador na indicação precisa dos beneficiários. Quando houver disposição geral em favor de pobres ou instituição de caridade, ela será compreendida em relação aos pobres e instituições do município em que o testador era domiciliado. Além disso, se o testador indicar dois ou mais favorecidos sem especificar a parte de cada um, o bem ou o patrimônio será dividido em partes iguais. Se o testador nomear alguns herdeiros individualmente (por exemplo, Luciana e Pedro) e outros coletivamente (por exemplo, filhos de Carlos), a herança será dividida pelo número de indicações (no caso em três partes). Se forem determinadas as cotas dos herdeiros e essas cotasnão absorverem todo a herança, o remanescente pertencerá aos herdeiros legítimos, segundo a ordem de vocação hereditária. Nessa hipótese, coexistirão as sucessões legítima e testamentária. Se forem determinados os quinhões de determinados herdeiros e não de outros também mencionados, estes últimos dividiram por igualo que restar, depois que forem entregues as cotas dos primeiros. Se o testador dispuser que determinado bem não será atribuído a determinado herdeiro, esse bem favorecerá os herdeiros legítimos, ou seja, não se agregará às partes dos herdeiros testamentários. Por fim, a ineficácia de uma cláusula testamentária determinará a invalidade das outras cláusulas que dependerem dela para serem aplicadas. b) Regras proibitivas São dispositivos do código civil que procuram limitar a autonomia da vontade do testador, em benefício dos herdeiros ou do interesse coletivo. Inicialmente, a lei proíbe a nomeação de herdeiro a termo, ou seja, com a designação de um momento para ele incorporar a herança, considerando-se como não escrita a cláusula testamentária que fixe essa data. O herdeiro, nesse caso, não terá que aguardar o momento estabelecido pelo testador, recebendo a herança já na abertura da sucessão. A exceção se dá no fideicomisso, pelo qual o testador favorece duas pessoas em momentos diferentes, uma após a outra; nesse caso admite-se o fideicomisso a termo, pelo qual o primeiro benificiário desfrutará da herança ou legado até certo momento, quando então a entregará ao segundo beneficiário. Também se considera nula a cláusula testamentária que institua herdeiro ou legatário sob condição captatória, pela qual esse favorecido disponha em seu testamento em benefício do testador ou de terceiro. O nosso direito civil proíbe todo tipo de pacto sucessório. Aqui a captação da vontade representa um induzimento mediante a nomeação e o favorecimento de outrem como herdeiro, para que este também inclua o testador ou terceiro em seu testamento. Essa cláusula restringe a liberdade de testar e representa modalidade especial de dolo nas disposições testamentárias. Por fim, também é nula a cláusula testamentária que se refira a uma pessoa incerta, cuja identidade não se possa determinar. Exige-se que pelo menos esse herdeiro ou legatário seja determinável, como na hipótese de se deixar herança para o primeiro colocado em determinado concurso. No mesmo sentido, também é nula a cláusula que deixar para certa pessoa o direito de escolher o beneficiário ou de definir o valor do legado, pois esses atos são personalíssimos. Porém, valerá a indicação do favorecido por terceiro dentre duas ou mais pessoas já indicadas pelo testador; e também valerá a determinação do valor do legado quando for para remunerar serviços prestador ao testador por ocasião da enfermidade que o vitimou c) Regras permissivas São destinadas a autorizar certas práticas testamentárias cuja definição talvez fosse desconhecida pelo testador. Ele pode fazer a nomeação do herdeiro de modo puro e simples não impondo nenhuma limitação ao direito do beneficiário, ou fazer a nomeação sob condição. Está pode ser suspensiva ou resolutiva, na primeira, a aquisição do direito ou legatário ficará vinculada a um fato futuro e incerto; o favorecido estará legitimado a praticar atos de conservação da sua herança, podendo pedir caução que lhe garanta a entrega desse patrimônio. Na resolutiva, o herdeiro adquire o direito na abertura da sucessão, porém se acontecer evento futuro e incerto, ele perderá a herança recebida. Por fim, também se permiti a disposição testamentária mediante encargo, quando o testador impõe um ônus ou obrigação ao beneficiário, como cuidar de certa pessoa ou animal ou poder assumir o pagamento dos estudos de alguém. É comum nas liberalidades, ou seja, nas doações e testamentos. O encargo é diferente da condição suspensiva porque não impede a aquisição nem o exercício do direito, de modo que o herdeiro ou legatário adquire a propriedade na abertura da sucessão. Na condição suspensiva, o recebimento do benefício, por outro lado, fica subordinado a ocorrência do fato futuro e incerto. Embora se assemelhe a condição resolutiva, que igualmente não suspende a aquisição do direito, o encargo é diferente porque o seu descumprimento não conduz a perda imediata do benefício, como se dá com o implemento da condição resolutiva. 8. Substituições (arts. 1947 e s., CC) a) Conceitos e espécies Substituição testamentária é a indicação de duas ou mais pessoas para receber a herança ou legado se o primeiro nomeado faltar ou para alguém receber depois dele. No direito brasileiro, a substituição pode ser vulgar (ou comum) e fideicomissária. Por sua vez, a substituição vulgar apresenta-se como simples ou singular, coletiva ou plural e recíproca. b) Substituição vulgar (simples/coletiva/recíproca) Essa modalidade verifica-se quando o testador designa uma ou mais pessoas para ocuparem o lugar do herdeiro ou legatário que não puder ou não quiser receber o benefício. Ela estabelece uma vocação hereditária direta, uma vez que o substituto herda diretamente falecido, de quem é sucessor, e não do substituído. Portanto, aqui não há dois herdeiros sucessivos. Essa substituição será simples ou singular ao designar um só substituto; coletiva ou plural, havendo dois ou mais substitutos que receberam em conjunto; e recíproca, nomeando-se dois ou mais favorecidos que receberam um na falta do outro, de modo sucessivo. c) Substituição fideicomissária - dupla vocação hereditária: verifica-se quando o testador nomeia um herdeiro ou legatário e indica um substituto para receber o benefício depois dela. Defina-se aqui uma dupla vocação hereditária: direta, para o primeiro herdeiro ou legatário, e indireta, para o seu substituto. Sendo assim, os dois nomeados são favorecidos em ordem sucessiva. O fideicomisso só pode ser instituído sobre a metade disponível da herança, caso exista herdeiro necessário, e somente em favor dos não concebidos a época da morte do testador – portanto, em benefício de prole eventual de certa pessoa. Se quando morrer o testador já houver nascido um segundo beneficiário, ele receberá a propriedade da herança ou legado, convertendo-se em usufruto o direito do primeiro beneficiário. O tempo desse usufruto dependerá da duração do fideicomisso, ou seja, do tempo em que originalmente o primeiro favorecido teria a propriedade da herança ou legado. - personagens: existem três personagens no fideicomisso: o fideicomitente, testador que atribuirá uma herança ou legado em favor da prole eventual de certa pessoa, a partir da metade disponível do seu patrimônio; o fiduciário ou gravado, pessoa da confiança do testador chamado a receber em primeiro lugar e cujo o principal papel é preservar o patrimônio destinado ao último beneficiário; e o fideicomissário, destinatário final da herança ou legado administrado pelo fiduciário. - direitos e deveres do fideicomissário: são atribuições do fideicomissário: ajuizar medidas de conservação dos bens da sua herança ou legado, uma vez que nessa fase ele é titular de um direito eventual representado pelo futuro recebimento desse benefício; exigir que o fiduciário realize o inventário (a relação) dos bens gravados e preste caução de transmiti-los no momento necessário; responder pelos encargos da herança que ainda restarem; renunciar a herança ou legado, acarretando com isso a caducidade do fideicomisso; aceitar a herança ou legado se o fideicomissário renunciar a ele. - invalidade do fideicomisso: conforme a sua duração, o fideicomisso pode ser vitalício, permanecendo por toda a vida do fiduciário; a termo, durante até uma data ou momento específico (por exemplo, até que o fiduciário atinja uma certa idade; ou condicional, mantendo-se a herança ou legado com o fiduciário até a ocorrênciade uma condição resolutiva (por exemplo, o recebimento pelo fiduciário de outra herança ou legado). A invalidade do fideicomisso verifica-se por faltar fideicomissário, que falece depois do testador, porém antes do fiduciário ou antes de se implementar a condição resolutiva, hipóteses em que será consolidada a propriedade do fiduciário – aplicando-se a mesma regra se o fideicomissário renunciar ao benefício ou for excluído por indignidade. O fideicomisso também se torna inválido se o bem fideicomitido pereceu sem a culpa do fiduciário, embora o eventual remanescente (no caso de perecimento parcial) esteja assegurado ao fideicomissário. Observa-se que, no caso do fideicomisso a termo, se o fiduciário falecer antes de escoado o prazo, os bens se transmitiram a seus herdeiros até o momento estabelecido pelo testador. Isso também se dará se o falecimento ocorrer antes do implemento da eventual condição resolutiva. Se o fideicomisso for vitalício, a morte do fiduciário acarretará a transmissão da herança ou legado ao fideicomissário. Se o fiduciário não quiser ou não puder receber a herança ou legado, os bens se transmitiram diretamente para o fideicomissário, como se o caso fosse se substituição vulgar, deixando de existir o fideicomisso. A consequência será a mesma se o fiduciário falecer antes do testador - substituição compendiosa: considera-se nulo o fideicomisso além do segundo grau, isto é, além da pessoa do fideicomissário; se isso ocorrer, o fideicomissário receberá a herança ou legado como se não existisse a determinação do testador para transmiti-lo a outrem. A lei permite por outro lado, combinar o fideicomisso com a substituição vulgar, para o caso de o fiduciário ou o fideicomissário não poder ou não querer receber o benefício. Fala-se aqui em substituição compendiosa, que não caracteriza fideicomisso além do segundo grau, uma vez que o substituto só herdará se o contemplado não receber o benefício. 9. Redução das disposições testamentárias (arts. 1967 e s. CC). a) Aspectos conceituais Os herdeiros necessários não podem ser privados da porção legítima, exceto nas hipóteses de indignidade e deserdação. Se a porção disponível deixada a terceiro comprometer a legítima, aqueles herdeiros poderão pleitear a redução do testamento e, conforme a necessidade, até das doações feitas em vida pelo de cujus. Não se anula o testamento, nem a cláusula testamentária abusiva, apenas se procede a uma transferência de bens da porção disponível para a legítima. Nesse sentido, a redução as liberalidades têm por objetivo preservar a integralidade da porção garantida aos herdeiros necessários. b) Modos de redução A redução das disposições testamentárias pode ser feita nos próprios autos do inventário, se houver acordo entre os interessados. Não havendo, somente se fará dessa forma se o excesso se mostrar evidente e a questão não for de alta indagação, isto é, de grande complexibilidade. Do contrário, os interessados deverão propor ação de redução do testamento para recompor a legítima com os bens que excederam a metade disponível. Observa-se, porém, que só os que ingressarem em juízo é que serão favorecidos dessa medida. Se for necessário reduzir uma doação inoficiosa, ou seja, que também comprometeu a legítima por liberalidade inter vivos, deverá ser proposta uma ação de redução dessa doação; como o seu excedente é nulo, não há prazo prescricional para se ajuizar essa medida. c) Ordem das reduções A redução do testamento começa pelas heranças atribuídas por meio dele, de modo proporcional, até recompor a legítima, buscando-se manter o equilíbrio nessa redução se isso não for suficiente, passa-se aos legados, na proporção de seu valor. Se ainda assim a legítima não for recuperada, haverá a redução das doações inoficiosas, começando-se pelas mais novas; se elas forem de mesma data, a redução será proporcional. Vale observar que, se o legado for de imóvel indivisível e excesso superar ¼ de seu valor, o legatário deixará o imóvel para os herdeiros necessários, recebendo em dinheiro o valor que couber a ele. Porém, o excesso não superar ¼ do valor desse imóvel, o legatário ficará com ele, entregará o excesso em dinheiro aos herdeiros necessários 10. Revogação do testamento (arts. 1969 e s. CC) a) Aspectos gerais Testamento é o negócio jurídico essencialmente revogável, tendo em vista formalizar uma disposição patrimonial. O testador poderá cancelar esse ato quando quiser, sem a necessidade de apontar o motivo. Considera-se nula a cláusula pela qual o testador o declare irrevogável ou pela qual ele se obrigue a não modificá-lo, pois a liberdade de testar decorre de norma de ordem pública e não admite limitações. No entanto, há uma exceção: o testamento é irrevogável quanto ao reconhecimento de um filho. A revogação de um testamento dependerá de outro testamento, mas não se exige que o testamento revogador tenha a mesma forma que está sendo revogado; Nesse sentido, um testamento pode ser revogado por qualquer outro testamento, ordinário ou especial. b) Espécies de revogação Quanto a sua extensão, a revogação pode ser total, quando retira a inteira eficácia do testamento; parcial, atinge somente algumas das suas cláusulas, permanecendo válidas as demais. Quanto a sua forma pode ser expressa ou tácita. Expressa é a revogação declarada em outro documento. Não se admite outra forma, como codicilo, escritura pública ou outro ato, salvo na hipótese de ficar demonstrado o propósito de revogar o testamento e o impedimento desse ato decorrente de dolo ou violência de terceiros. A revogação é tácita quando houver incompatibilidade entre o testamento anterior e o posterior e quando houver adulteração do testamento cerrado pelo testador ou por terceiro, com ou sem o seu consentimento, exceto por descuido de alguém. 11. Rompimento do testamento (arts. 1973 a 1975, CC) a) Conceito É a ruptura da validade do testamento, por determinação legal, a partir da presunção de que o testador não teria disposto de seu patrimônio se soubesse da existência de algum herdeiro necessário. Nesse sentido, se sobrevier descendente ao testador, que este não possuía ou do qual não tinha conhecimento quando testou, o testamento é invalidado integralmente, caso esse descendente sobreviva ao de cujus. b) Hipóteses - testador sem descendentes: nessa hipótese o testador não tinha nenhum descendente e, depois de fazer seu testamento, vem a tê-lo, oriundo ou não de casamento. Nesse aspecto, convém ressaltar que o filho havido fora do casamento precisa ser reconhecido formalmente pelo pai; quando é filho do casamento, aplica-se a presunção legal de paternidade do marido da mãe. Tendo em vista o princípio da isonomia plena entre os filhos, não importando a sua procedência, a ruptura também se dará na hipótese de adoção. Por outro lado, se o de cujus já tinha algum descendente quando testou, não se rompe o testamento com o nascimento de outro; nesse caso, os dois ou mais descendentes dividiram entre si a metade legítima. - testador que desconhecia a existência de herdeiro necessário: nesse caso o de cujus desconhece, ao testar, a concepção e existência de um filho, ou supõe, de forma equivocada, que certo descendente já faleceu. A descoberta posterior acarreta o rompimento automático do testamento, sem haver necessidade de revogá-lo. Presume-se que a ciência desses fatos faria o de cujus testar de modo diferente do que fez. Observa- se que essa possibilidade de ruptura se aplica também aos ascendentes e ao cônjuge, pois que o dispositivo legal refere-se a herdeiro necessário. 12. Testamenteiro (arts. 1976 a 1990, CC) a) Conceito e funções Testamenteiro é o executor do testamento. A lei permite ao testador encarregar uma pessoa da sua confiança para cumprir as disposições de sua última vontade.Essa nomeação pode ocorrer em testamento ou mesmo em codicilo, podendo recair sobre um ou mais testamenteiros, conjuntos ou separados. Ao testamenteiro cabe cumprir as obrigações do testamento, defender sua validade quando contestada, defender a posse dos bens da herança e requerer ao juiz os meios necessários para cumprir o testamento. Se não houver testamenteiro nomeado, a execução do testamento caberá ao cônjuge ou, na falta deste, a algum herdeiro nomeado pelo juiz. Se não houver pessoas nessas condições, será testamenteiro algum indivíduo estranho a família, uma vez que o testamento não poderá ser cumprido sem um executor. b) Quem pode ser testamenteiro Qualquer pessoa natural, desde que seja idônea e juridicamente capaz, pode ser nomeada testamenteira. Essa tarefa não pode ser deferida, entretanto, a uma pessoa jurídica, por se tratar de função personalíssima. Ao dispor que a testamentaria (função de testamenteiro) é indelegável, a lei define o seu caráter pessoal. Por outro lado, nada impede que o testamenteiro se faça representar em juízo ou fora dele por um procurador com poderes especiais. O testamenteiro é obrigado a cumprir as disposições testamentárias no prazo eventualmente designado pelo testador e a prestar contas do que recebeu e pagou - sua responsabilidade subsiste enquanto durar a execução do testamento. Vale observar que ele não pode transigir sobre a validade do documento; se o testamento for contrário às suas convicções pessoais, o testamenteiro deverá renunciar a essa função. c) Espécies Quando o testamenteiro é designado pelo testador, é chamado de instituído; quando ele é nomeado pelo juiz, denomina-se dativo. Testamenteiro universal é aquele a quem se confere a posse e a administração da herança ou de parte dela; já o particular é o que não recebe esses direitos, limitando-se a executar o testamento. Vale observar que o testador só poderá atribuir a posse e administração da herança ao testamenteiro se não houver cônjuge sobrevivente, descendente ou ascendente, ou estes não puderem ou não quiserem exercer essas atribuições. d) Remuneração (vintena) Trata-se da recompensa ou do prêmio devido ao testamenteiro pela execução do seu trabalho. O montante da vintena é fixado livremente pelo testador. Se ele não o definir, o valor será fixado pelo juiz, entre os limites de 1% a 5% da herança líquida, isto é, do patrimônio restante após o pagamento das dívidas e impostos. Esse percentual dependerá do valor da herança e da complexidade da execução do testamento, salvo disposição testamentária em contrário; caso existam herdeiros necessários, esse valor será ded uzido da metade disponível. O testamenteiro não receberá a vintena se for casado com algum herdeiro ou legatário do testador no regime da comunhão de bens. Se ele for herdeiro ou legatário, o testamenteiro poderá preferir a vintena e renunciar a herança ou legado. Mesmo que as dívidas comprometam todo o espólio, a vintena será paga, sendo suportada pelos herdeiros. A vintena será perdida na hipótese de remoção do testamenteiro, por negligência, infrações ou interdição. 13. Inventário e partilha (arts. 610 a 673, CPC) a) Conceito e finalidade O inventário representa, em sua versão tradicional (não o simplificado, compactado), o conjunto de atos destinados a identificar, relacionar e descrever os bens do falecido, tendo em vista a futura partilha desse patrimônio. Embora os sucessores já sejam proprietários do espólio desde a abertura da sucessão, a aquisição efetiva dos imóveis só se dá com o registro do formal de partilha, o documento que atribui o quinhão hereditário respectivo a cada sucessor. Durante o processo, são descritos os bens, habilitados os sucessores, cobradas as dívidas ativas, pagas as passivas, pagos os impostos após a avaliação dos bens e, ao final, realiza-se a divisão patrimonial entre os herdeiros. b) Aspectos fundamentais O inventário deve ser requerido no prazo máximo de 60 dias da abertura da sucessão e concluído nos 12 meses subsequentes. O atraso na abertura do inventário implica o pagamento de multa conforme legislação estadual. Como regra, abre-se o inventário no foro no último domicílio do "de cujus"; se ele não tinha domicílio certo, é competente do foro da situação dos bens; não tendo ele domicílio certo e estando seus bens em vários lugares, é competente o foro do local do óbito. O inventário deve ser instaurado ainda que exista um só sucessor, chamado herdeiro universal, não se falando em partilha, mas em adjudicação (incorporação) do espólio a esse herdeiro. Se o viúvo do "de cujus" falecer antes da partilha ou adjudicação e seus herdeiros forem comuns, os dois espólios devem ser reunidos no mesmo inventário. A lei não prevê o inventário negativo, voltado a declarar a inexistência de herança, mas na prática os juízes o adotam para afastar causa suspensiva de novo casamento para o viúvo ou viúva do "de cujus". c) Requerimento e atuação judicial Compete prioritariamente a quem estiver na posse e administração dos bens da herança requerer o inventário, tornando-se o seu administrador provisório até a nomeação do inventariante. São legitimados concorrentes para esse requerimento o cônjuge sobrevivente, o herdeiro, o legatário, o testamenteiro e outras pessoas citadas em lei. O inventário obedece a um rito especial do CPC e nele são decididas as questões de direito e as questões de fato esclarecidas por documentos. Questões de maior complexidade que requeiram outros meios de prova, como testemunhas, perícias e depoimentos, devem ser tratadas pelas vias ordinárias, pois são provas inadmissíveis ao rito célere do processo de inventário. d) Processamento e partilha Em se tratando de inventário judicial, a petição deve ser instruída com a certidão de óbito do de cujus e a procuração do advogado. Procede-se a nomeação do inventariante que, em vinte dias, deve apresentar suas primeiras declarações, nas quais eles descrevem a situação do espólio. São citados os herdeiros, os legatários, fazenda pública e, existindo sucessores incapazes, o ministério público. Procede-se a avaliação dos bens e o inventariante apresenta suas últimas declarações, quando podem ser informados bens eventualmente esquecidos. Quitam-se as dívidas, paga-se o imposto causas mortis e o inventário é encerrado. Na sequência, o juiz expedi o formal de partilha ou a carta de adjudicação (em se tratando de um só sucessor). e) Arrolamento sumário É uma forma simplificada de inventário, possível quando todos os herdeiros são maiores e capazes. Decorre da apresentação de um plano de partilha amigável a ser homologado pelo juiz. É apresentada a prova de quitação dos impostos e indicado os bens, nomeado inventariante (pelos próprios sucessores) e realizada a estimativa do valor do patrimônio, que deve ser compatível com os lançamentos fiscais do último ano de vida do de cujus. Por fim, expedem-se os formais de partilha ou a carta de adjudicação f) Arrolamento comum É uma forma intermediária entre o inventário tradicional e o arrolamento sumário, sendo obrigatório quando a herança for inferior a mil salários-mínimos, tendo herdeiros incapazes ou não. Apresentada a petição ao juiz, ele desde logo nomeia o inventariante que, em seguida, faz suas primeiras declarações. Os bens são arrolados, avaliados, paga- se o imposto causas mortis e se encerra o arrolamento. O juiz expedi os formais de partilha ou a carta de adjudicação. g) Modalidade extrajudicial É a modalidade em que, sendo todos os herdeiros maiores e capazes e estando de acordo com a divisão dos bens, apresentam um plano de partilha amigável junto ao cartório, evitando o processo judicial. Feita a partilha pelo próprio cartório, cada sucessor recebe um documento comprobatório da sua propriedade. Énecessária a intervenção de advogado comum ou particular nessa espécie de inventário.
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