Buscar

CRIME IMPOSSIVEL, DESISTENCIA VOLUNTARIA, TENTATIVA, ARREPENDIMENTO EFICAZ E POSTERIOR

Prévia do material em texto

CONHECENDO O INIMIGO
PenalDireito 
PROF. NIDAL AHMAD
 
CRIME IMPOSSÍVEL – Art. 17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7.1) CONCEITO 
É a tentativa não punível, porque o agente se vale de meios 
absolutamente ineficazes ou volta-se contra objetos absolutamente impróprios, tornando 
impossível a consumação do crime. 
É uma causa de exclusão da tipicidade. 
 
 
7.2) DELITO IMPOSSÍVEL POR INEFICÁCIA ABSOLUTA DO MEIO 
Ocorre quando o meio empregado pelo agente, pela sua própria 
natureza, é absolutamente incapaz de produzir o resultado. 
Meio é tudo aquilo que pode ser utilizado pelo agente para executar o 
delito e alcançar o resultado pretendido. Ex: faca, revólver, pedaço de madeira, veneno, etc. 
O crime impossível por ineficácia absoluta do meio guarda relação com 
o meio de execução ou instrumento utilizado pelo agente, que, por sua natureza, será incapaz 
de produzir qualquer resultado, ou seja, jamais alcançará a consumação do delito. 
É o caso do agente que, pretendendo matar a vítima, usa como meio 
executório arma completamente defeituosa, que jamais efetuaria qualquer disparo. 
Da mesma forma, trata-se de crime impossível, pela impropriedade 
absoluta do meio, o fato de o agente usar de grosseira falsificação de bilhete de loteria para 
recebimento de prêmio no futuro, quando percebido de imediato pela suposta vítima. 
CRIME IMPOSSÍVEL 
Ineficácia Absoluta do 
Meio 
 
Impropriedade 
Absoluta do 
Objeto 
 
FATO ATÍPICO 
NÃO CONSTITUI CRIME 
 
Ainda, constitui crime impossível, por ineficácia absoluta do meio, a 
conduta da gestante que busca interromper a gravidez com a morte do feto, fazendo uso de 
substância que não tem efeito abortivo, como, por exemplo, chá de boldo. 
Obs: a ineficácia do meio, quando relativa, leva à tentativa e não ao 
crime impossível. 
Há ineficácia relativa do meio quando, não obstante eficaz à produção 
do resultado, este não ocorre por circunstâncias acidentais. É o caso do agente que pretende 
desfechar um tiro de revólver contra a vítima, que, embora apto a efetuar disparo, uma bala nega 
fogo, sendo detido. Nesse caso, o agente responderá por tentativa de homicídio. 
7.3) DELITO IMPOSSÍVEL POR IMPROPRIEDADE ABSOLUTA DO OBJETO MATERIAL 
O crime impossível pela impropriedade absoluta do objeto guarda 
relação com o objeto material, compreendendo a pessoa ou coisa, sobre o qual recai a conduta 
do agente. 
O objeto será absolutamente impróprio quando inexistente ao tempo 
da conduta do agente ou, ainda, pelas circunstâncias em que se encontra, afigura-se impossível 
a produção do resultado visado pelo agente. 
Tomemos como exemplo a conduta do agente, que pretendendo matar 
a vítima, desfere vários disparos de arma de fogo contra o seu corpo, verificando-se, após, que, 
ao receber os disparos, já se encontrava morta, em decorrência de ter sofrido, momentos antes, 
fulminante ataque cardíaco. Evidente, nesse caso, a impropriedade absoluta do objeto, diante da 
impossibilidade de ceifar a vida de pessoa que já estava morta. 
Da mesma forma, caracteriza crime impossível pela impropriedade 
absoluta do objeto a conduta da mulher que ingere substância abortiva, demonstrando-se, após, 
que jamais estivera grávida. Trata-se de fato atípico, pois não há objeto material a ser atingido 
(feto com vida intrauterina), não sendo possível, pois, punir a mulher nem mesmo a título de 
tentativa de aborto. 
Considera-se, ainda, crime impossível por impropriedade absoluta do 
objeto a conduta do punguista que pretende subtrair a carteira da vítima, que, ao tempo da ação, 
não trazia consigo qualquer quantia ou bem com valor econômico. 
Obs: a impropriedade não pode ser relativa, pois nesse caso haverá 
tentativa. 
Ex: o agente dispara tiros de revólver no leito da vítima, que dele saíra 
segundos antes. 
 
 
 
 
 
ERRO DE TIPO – Art. 20 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aberratio Criminis 
 
Exclusão FATO 
ATÍPICO 
 
DOLO 
 
ERRO DE 
TIPO 
Acidental 
 
Essencial 
 
art. 74, CP 
CULPA 
 
Erro sobre Objeto 
 
Erro Sobre Pessoa 
 
Aberratio Ictus 
 
art.20, § 3°, CP 
art. 73 CP 
Vencível 
 
Invencível 
 
EXCLUSÃO DO DOLO 
 
RESPONDE POR 
CULPA, SE TIVER 
PREVISÃO LEGAL 
 
 
 
8.1) CONCEITO 
Nos termos do artigo 20, “caput”, do Código Penal, caracteriza-se pelo 
erro sobre o elemento constitutivo do tipo penal. 
Antes de mais nada, mostra-se importante compreender o que significa 
a expressão elemento constitutivo do tipo penal. A figura típica (ou tipo legal) é composta de 
elementos específicos ou elementares. Cada expressão que compõe uma figura típica é um 
elemento que constitui o modelo legal de conduta proibida. 
Ex: O crime de homicídio (CP, art. 121) é composto pelos elementos 
“matar” “alguém”. “Matar” é um elemento constitutivo do tipo que define o crime de homicídio. 
“alguém” é também um elemento constitutivo do tipo que define o crime de homicídio. 
O erro de tipo é o erro que recai sobre um dos elementos constitutivos 
do tipo penal. Há uma falsa percepção da realidade que cerca o agente. O agente desenvolve 
uma conduta sem saber que está praticando um fato típico. Não sabe, em função do erro, que 
está praticando uma conduta típica. 
Ex: Durante uma caçada, o agente percebe que há movimentação atrás 
de arbustos. Supondo ser um animal, atira em direção ao alvo, e, quando vai se certificar do 
produto da caça, verifica que, na realidade, atingiu uma pessoa, que estava escondido atrás dos 
arbustos. A realidade do caçador era a de que estava atirando contra um animal. Todavia, trata-
se de uma falsa percepção da realidade, já que acabou atingindo uma pessoa humana. O agente 
errou sobre o elemento constitutivo “alguém”. Desenvolveu uma conduta sem saber, por conta 
do erro, que estava praticando um fato típico. 
Imaginemos a conduta de um estudante universitário que apanha um 
notebook que deixou carregando na tomada, supondo ser seu, quando, na realidade, era do 
colega, que antes teria colocado o seu notebook para carregar na mesma tomada. A realidade 
do estudante universitário era a de que estava se apossando do seu notebook. Todavia, trata-se 
de uma falsa percepção da realidade, pois se apossou do notebook alheio. O agente não sabia 
que estava praticando uma conduta típica, pois errou sobre o elemento constitutivo “alheio” do 
tipo penal que define o crime de furto (CP, art. 155). 
Em outras palavras, no erro de tipo, o agente desenvolve conduta sem 
consciência e vontade em relação ao resultado e nexo causal. Há desconformidade entre a 
realidade e a representação do sujeito que, se a conhecesse, não realizaria a conduta. 
Ex: No crime de homicídio temos os seguintes elementos: matar + 
alguém. O erro sobre qualquer desses elementos pode levar ao erro de tipo. 
 
 
O erro de tipo pode recair sobre uma circunstância qualificadora. 
Ex: No crime de lesão corporal seguida de aborto, o sujeito não 
responde por este crime se desconhecia o estado de gravidez da vítima. É que neste caso ele 
supõe inexistente uma circunstância do crime (o estado de gravidez da vítima), subsistindo o tipo 
fundamental doloso (lesão corporal leve). 
O erro de tipo sempre exclui o dolo, seja invencível ou vencível, 
podendo, no entanto, dependendo do caso concreto, levar à punição por crime culposo, se 
previsto em lei. 
8.2) ERRO DE TIPO ESSENCIAL 
É o erro que incide sobreas elementares e circunstâncias do tipo. 
Daí no nome erro essencial: incide sobre situação de tal importância 
para o tipo que, se o erro não existisse, o agente não teria cometido o crime, ou, pelo menos, 
não naquelas circunstâncias. 
Portanto, há erro de tipo essencial quando a falsa percepção da 
realidade impede o sujeito de compreender a natureza criminosa do fato. 
O erro de tipo essencial se subdivide em: INVENCÍVEL OU VENCÍVEL. 
 
A) INVENCÍVEL (OU ESCUSÁVEL) 
Ocorre quando não pode ser evitado pela normal diligência. Qualquer 
pessoa, empregando a diligência ordinária exigida pelo ordenamento jurídico, nas condições em 
que se viu o sujeito, incidiria em erro. 
Ex. o agente se embrenha em mata virgem e fechada, distante de 
qualquer centro urbano, com a intenção de caçar capivara. Pelas tantas, vislumbra um vulto se 
movimentando pela intensa vegetação. Supondo ser um animal, efetua um disparo. Atinge o alvo 
e constata, para sua surpresa, que abateu não um animal, mas um ser humano que, por 
coincidência, também caçava por ali. 
 
 
O erro de tipo essencial invencível exclui o dolo e a culpa, pois o 
sujeito não age dolosa ou culposamente. 
 
 
 
B) ERRO VENCÍVEL (OU INESCUSÁVEL) 
 
Ocorre quando pode ser evitado pela diligência ordinária, resultando de 
imprudência ou negligência. Qualquer pessoa, empregando a prudência normal exigida pela 
ordem jurídica, não cometeria o erro em que incidiu o sujeito. 
 
É o erro evitável, indesculpável ou inescusável (cuidado: vencível = 
inescusável): poderia ter sido evitado se o agente empregasse mediana prudência. 
 
Ex. Suponha-se que o agente vá caçar em mata próxima a zona 
urbana, onde costumam passar pessoas, e efetua um disparo de arma de fogo contra um vulto 
pensando ser um animal, atingindo, na verdade, uma pessoa que passava pelo local, matando-
a. No caso, não obstante ter se verificado o erro de tipo, o erro, pelas circunstâncias, não era 
plenamente justificável, porquanto o agente agiu com imprudência, sem o devido cuidado 
objetivo, devendo responder por homicídio culposo. 
 
 
O erro de tipo essencial vencível exclui o dolo, mas não a culpa, 
desde que previsto em lei o crime culposo. 
 
ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO E ERRO DE TIPO ACIDENTAL 
 
9.1) ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO – Art. 20, § 2º 
 
Existe o erro provocado quando o sujeito a ele é induzido por conduta 
de terceiro. A provocação pode ser dolosa ou culposa. 
A posição do terceiro provocador é a seguinte: Responde pelo crime a 
título de dolo ou culpa, de acordo com o elemento subjetivo do induzimento. 
A posição do provocado é a seguinte: 
a) Tratando-se de erro invencível, não responde pelo crime cometido, 
quer a título de dolo, quer de culpa. 
b) Tratando-se de provocação de erro vencível, não responde pelo 
crime a título de dolo, subsistindo a modalidade culposa, se prevista na lei penal incriminadora. 
 
9.2) ERRO DE TIPO ACIDENTAL 
 
Incide sobre dados irrelevantes da conduta típica. Não impede o sujeito 
de compreender o caráter ilícito de seu comportamento. Mesmo que não existisse, ainda assim a 
conduta seria antijurídica. 
 
9.3) ERRO SOBRE OBJETO 
 
Há erro sobre objeto quando o sujeito supõe que sua conduta recai 
sobre determinada coisa, sendo que, na realidade, ela incide sobre outra. 
É o caso do sujeito subtrair farinha pensando ser açúcar. O erro 
é irrelevante, pois a tutela penal abrange a posse e a propriedade de qualquer coisa, pelo que 
o agente responde por furto. 
É o caso, ainda, do sujeito desejar subtrair joia preciosa, mas se 
apossar de objeto com valor reduzido, pois banhado a ouro. O erro é irrelevante, sendo 
meramente acidental, não influenciando na tipicidade da conduta do agente, pois subtraiu 
conscientemente coisa alheia móvel, errando, no entanto, quanto ao objeto. 
 
Todavia, como bem advertiu Cléber Masson: 
A análise do caso concreto, entretanto, pode autorizar a incidência do princípio 
da insignificância, excluindo a tipicidade do fato, quando todos os seus 
requisitos objetivos e subjetivos estiverem presentes. É o que se dá, a título 
ilustrativo, na hipótese em que o agente, primário e sem antecedentes 
ERRO DE 
TIPO 
ACIDENTAL
Erro sobre 
o objeto
Erro sobre a 
pessoa 
Art. 20, §3º 
CP
Erro na 
execução 
(Aberratio 
Ictus)
Art. 73 CP
Resultado 
diverso do 
pretendido 
(Aberratio 
Criminis)
Art. 74 CP
 
criminais, subtrai de uma grande joalheria uma imitação de um relógio de alto 
valor, porém avaliada em somente R$ 10,00.1 
 
9.4) ERRO SOBRE PESSOA – Art. 20, § 3º 
Ocorre quando há erro de representação, em face do qual o sujeito 
atinge uma pessoa supondo tratar-se da que pretendia ofender. Ela pretende atingir 
certa pessoa, vindo a ofender outra inocente pensando tratar-se da primeira. 
Nos termos do art. 20, § 3º, 2ª parte, reza o seguinte: “Não se 
consideram, neste caso” (erro sobre pessoa), “as condições ou qualidades da vítima, senão as de 
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime”. Significa que no tocante ao crime cometido 
pelo sujeito não devem ser considerados os dados subjetivos da vítima efetiva, mas sim 
esses dados em relação à vítima virtual (que o agente pretendia ofender). 
 
Exs: 
a) O agente pretende cometer homicídio contra Pedro. Coloca-se de 
atalaia e, pressentindo a aproximação de um vulto e supondo tratar-se da vítima, atira e vem a 
matar o próprio pai. Sobre o fato não incide a agravante genérica prevista no art. 61, II, “e”, 1ª 
figura (ter cometido o crime contra ascendente). 
b) o agente pretende praticar um homicídio contra o próprio irmão. 
Põe-se de emboscada e, percebendo a aproximação de um vulto e o tomando pelo irmão, efetua 
disparos vindo a matar um terceiro. Sobre o fato incide a agravante do art. 61, II, “e”, 3ª figura 
(ter sido o crime cometido contra irmão). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado – Parte Geral – Vol. 1. 11ª ed. Rio de Janeiro: 
Forense; São Paulo: Método. 2017, p. 350. 
 
 
 
 
 
 
ERRO NA EXECUÇÃO (aberratio ictus) E RESULTADO DIVERSO DO 
PRETENDIDO (aberratio criminis) 
 
10.1) ERRO NA EXECUÇÃO (aberratio ictus) 
I) CONCEITO 
Aberratio ictus significa aberração no ataque ou desvio do golpe. Ocorre 
quando o sujeito, pretendendo atingir uma pessoa, vem a ofender outra. 
ERRO DE TIPO 
ACIDENTAL
O ERRO NÃO INFLUENCIA NA 
ESSÊNCIA DO CRIME, POIS 
MERAMENTE ACIDENTAL
ERRO SOBRE O OBJETO
SUJEITO ERRA O OBJETO O 
QUAL PRETENDE ATINGIR. 
RESPONDE PELO CRIME.
Ex: furto de bijuteria 
pensando ser de ouro
ERRO SOBRE A PESSOA
SUJEITO ERRA A IDENTIDADE 
DA PESSOA. ATINGE UMA 
PESSOA SUPONDO TRATAR-
SE DE OUTRA A QUEM 
PRETENDIA OFENDER
Ex: sujeito quer matar o pai e 
acaba atingindo terceira 
pessoa; mãe, sob influência 
do estado puerperal, mata 
outra criança que não é o seu 
filho
A CONSEQUÊNCIA É QUE O 
SUJEITO RESPONDE COMO 
SE TIVESSE ATINGIDO A 
PESSOA VISADA (VIRTUAL)
CONSIDERAM-SE AS 
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS 
DA PESSOA VISADA 
(VIRTUAL)
 
Ocorre erro na execução quando o agente, pretendendo atingir uma 
pessoa, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, acaba atingindo pessoa diversa. A 
relação é de pessoa x pessoa e não crime x crime. 
O agente não erra quanto à identidade da pessoa, mas quanto aos 
meios no uso dos meios de execução do delito. Com efeito, visualiza como certa a vítima 
pretendida, mas, por erro na pontaria, por exemplo, acaba atingindo pessoa diversa. 
A aberratio ictus pode ocorrer quando, poracidente, o agente, ao 
invés de atingir a pessoa pretendida, atinge pessoa diversa. Suponhamos, nesse caso, que o 
agente pretende matar Wilson, deixando na sua mesa de trabalho uma xícara de café contendo 
veneno. Todavia, quem toma o café é Pedro, que acaba falecendo. 
Pode ocorrer também quando, por erro nos meios de execução, o 
agente, ao invés de atingir a pessoa pretendida, atinge pessoa diversa. Exemplo: Agente 
pretendendo matar Wilson, visualiza a vítima, tendo-a como certa, faz a mira e efetua o disparo, 
mas, no entanto, erra o alvo pretendido, atingindo pessoa diversa, que se encontrava próxima 
ao local. 
II) ABERRATIO ICTUS COM UNIDADE SIMPLES 
Ocorre a aberratio ictus com resultado único quando em face de erro 
na execução somente a pessoa diversa da pretendida é atingida, resultando lesão corporal ou 
morte. 
A consequência jurídica da conduta do agente se encontra retratada no 
artigo 73, 1ª parte do Código Penal, que faz expressa remissão ao artigo 20, § 3º, do Código 
Penal. Ou seja, na hipótese de erro na execução, deve-se observar o disposto no artigo 20, § 3º, 
do Código Penal, segundo o qual, embora tenha atingido pessoa diversa, o agente deve receber 
tratamento penal considerando-se as condições ou qualidades da pessoa pretendida (vítima 
virtual), desprezando-se as condições pessoais da vítima efetivamente atingida. 
 
Ex: Agente efetua disparos em direção à vítima pretendida (vítima 
virtual), mas por erro na pontaria, acaba atingindo somente pessoa diversa, vindo a matá-la. 
Nesse caso, responderá pelo delito de homicídio doloso, como se tivesse matado a vítima 
pretendida. 
 
Nesse caso, nos termos do artigo 20, § 3º, do Código Penal, deve-se 
considerar as condições ou qualidades da vítima pretendida. Assim, no caso, embora tenha 
atingido de forma letal pessoa diversa, o agente responde como se tivesse atingido a pessoa 
pretendida, ou seja, como se tivesse matado o próprio pai. Logo, responderá pelo crime de 
 
homicídio doloso consumado, com a incidência da agravante de ter praticado crime contra 
ascendente, prevista no artigo 61, II, “e”, 1ª figura, do Código Penal. 
 
III) ABERRATIO ICTUS COM RESULTADO DUPLO 
 
A aberratio ictus com resultado duplo ocorre quando o agente, além de 
atingir a vítima pretendida, atinge também pessoa diversa. 
Nesse caso, com uma única ação, o agente produz mais de um 
resultado: atinge a pessoa pretendida, e também pessoa diversa. Por essa razão, o artigo 73, 2ª 
parte, do Código Penal faz expressa remissão ao artigo 70 do Código Penal, devendo ser aplicada 
a regra do concurso formal de crimes. 
Ex: Pretendendo matar Wilson, o agente efetua um disparo, que, além 
de atingir Wilson, atinge também Pedro, que se encontrava atrás da vítima pretendida. Por conta 
da potência da arma utilizada, o disparo efetuado causou a morte da pessoa pretendida e também 
da pessoa diversa. Em tese, teríamos homicídio doloso em relação à vítima pretendida e homicídio 
culposo em relação à pessoa diversa. 
 
Nesse caso, nos termos do que dispõe o artigo 73, 2ª parte, do Código 
Penal, deve-se aplicar a regra do artigo 70 do Código Penal, segundo o qual, se o agente com 
uma única ação praticar dois ou mais crimes, deve-se considerar a pena do crime mais grave, 
aumentando-a de 1/6 (um sexto) até a ½ (metade). 
 
10.2) RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO (aberratio criminis) – Art. 74 
A) CONCEITO 
A aberratio criminis também resulta de acidente ou erro na execução 
do crime, mas em contexto distinto da aberratio ictus. 
Na aberratio criminis, o agente pretende ofender um determinado bem 
jurídico, mas, por acidente ou erro na execução, acaba produzindo resultado diverso do 
pretendido. Na verdade, o agente pretendia praticar um crime, mas acaba praticando crime 
diverso do pretendido. 
Por essa razão, diz-se que na aberratio criminis há desvio do crime. 
Enquanto na aberratio ictus, a relação é entre pessoa x pessoa, ou seja, 
o agente, pretendendo atingir uma pessoa, acaba ofendendo pessoa diversa (ou ambas), na 
 
aberratio criminis, o agente quer atingir um bem jurídico e ofende outro bem jurídico, produzindo 
resultado diverso do pretendido. 
Ex: O agente, pretendo praticar o crime de dano (CP, art. 163), atira 
uma pedra contra um carro. Todavia, por erro na pontaria, a pedra acabou atingindo uma pessoa 
que se encontrava próxima ao local. Note-se que o agente pretendia produzir um resultado (dano 
no veículo), mas acabou produzindo um resultado diverso do pretendido (lesão corporal). 
 
 
B) ESPÉCIES 
1º) Com unidade simples ou resultado único: 
Só atinge o bem jurídico diverso do pretendido. Ou seja, o agente quer 
atingir uma coisa e atinge uma pessoa. Responde pelo resultado produzido a título de culpa 
(homicídio ou lesão corporal culposos). 
Portanto, a consequência é a seguinte: responde só pelo resultado 
produzido e, mesmo assim, se previsto como crime doloso. 
2º) Com unidade complexa ou resultado duplo: 
Na aberratio criminis com resultado duplo, o agente, além de praticar 
o crime pretendido, também acaba produzindo um resultado diverso do pretendido. Ou seja, com 
uma ação ou omissão, acaba provocando dois resultados. 
Nesse caso, como expressamente prevê a parte final do artigo 74 do 
Código Penal, aplica-se a regra do concurso formal de crimes (CP, art. 70), considerando-se a 
pena do crime mais grave aumentada de 1/6 até metade, de acordo com o número de resultados 
diversos produzidos. 
Imaginemos que certo dia, o agente, com raiva do vizinho, resolva 
quebrar a janela da residência deste. Para tanto, espera chegar a hora adequada e, supondo não 
haver ninguém na residência, o agente arremessa com força, na direção da casa do vizinho, um 
enorme tijolo, que, além de quebrar a vidraça, atinge também sua nuca. O vizinho falece 
instantaneamente. Nesse caso, o agente deverá responder por homicídio culposo em concurso 
formal com o crime de dano (art. 121, § 3º, e art. 163, na forma do art. 70, todos do Código 
Penal), considerando-se a pena aplicada para o crime de homicídio culposo, já que mais grave, 
aumentada de 1/6. 
Cumpre ressaltar, por pertinente, que, se o resultado previsto como 
crime culposo for menos grave ou se o crime não prever modalidade culposa, não aplica o 
disposto no artigo 74 do Código Penal. Assim, como dito em aula, se o agente efetua disparos de 
arma para matar a vítima, mas não o acerta e quebra a vidraça de uma casa ou acerta um carro, 
deve-se desprezar a hipótese do artigo 74 do Código Penal, responderá por tentativa de 
 
homicídio. Primeiro, porque o crime de tentativa de homicídio é mais grave do que o delito de 
dano; segundo, porque não há previsão legal de dano culposo. 
 
 
FALTA DE POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE 
 
2.1) ERRO DE PROIBIÇÃO – Art. 21 
I) CONCEITO 
Nos termos do artigo 21 do Código Penal, o desconhecimento da lei é 
inescusável. Não se mostra possível, portanto, o agente acusado de uma infração penal alegar 
desconhecimento da lei para se eximir da aplicação da lei penal. A partir da publicação da lei no 
Diário Oficial, há presunção absoluta acerca do seu conhecimento. 
O desconhecimento da lei não se confunde com a falta de potencial 
consciência da ilicitude. A primeira guarda relação com o desconhecimento do seu texto legal, 
dos seus detalhes, ao passo que a segunda se caracteriza pela ausência de conhecimento que a 
conduta desenvolvida é ilícita. É nesse contexto que surge o instituto do erro de proibição. 
O erro de proibição é o erro que incide sobre a ilicitude do fato. 
Encontra-se disciplinado no artigo 21 do Código Penal. 
No erro de proibição, o agente desenvolve uma conduta movido por 
uma falsapercepção acerca do caráter ilícito do fato típico praticado. Ou seja, o agente tem 
consciência da conduta praticada, mas lhe falta potencial consciência da ilicitude do fato. 
II) FORMAS E EFEITOS DO ERRO DE PROIBIÇÃO 
A) ESCUSÁVEL OU INEVITÁVEL: 
O erro de proibição escusável, inevitável ou invencível ocorre 
quando o erro sobre a ilicitude do fato é impossível de ser evitado, valendo-se o ser humano da 
sua diligência ordinária. 
Em outras palavras, ainda que tivesse empregado as diligências 
necessárias à sua condição pessoal, o agente não reuniria condições para compreender o caráter 
ilícito do fato praticado. 
Ex. um telejornal de alcance nacional informa, de forma equivocada, a 
aprovação da lei que autorizada a eutanásia de doentes em estágio terminal. Não havendo 
nenhuma razão para duvidar da veracidade da notícia, o agente se dirige até o hospital e desliga 
os aparelhos que mantinham vivo um ente querido, que se encontrava sofrendo com a doença 
que o acometia e em estágio terminal, causando-lhe a morte. Praticou fato típico e ilícito, mas 
 
lhe faltou potencial consciência da ilicitude, incidindo o erro de proibição inevitável, cuja 
consequência será a exclusão da culpabilidade. 
 
 
B) INESCUSÁVEL OU EVITÁVEL: 
O erro de proibição inescusável ou evitável ocorre quando o erro sobre 
a ilicitude do fato que não se justifica, pois, se tivesse havido um mínimo de empenho em se 
informar, o agente poderia ter tido conhecimento da realidade. 
O critério de aferição do erro de proibição inescusável, vencível ou 
evitável encontra-se no parágrafo único do artigo 21 do Código Penal, segundo o qual “considera-
se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando 
lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência”. 
Em se tratando de erro de proibição evitável, permanece hígida a 
culpabilidade do agente, sendo, no entanto, causa de diminuição da pena de um sexto a um 
terço. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
C) DIFERENÇA ENTRE ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO 
 
No erro de tipo essencial, previsto no artigo 20 do CP, o agente erra 
sobre um dos elementos constitutivos do tipo (que nada mais são do que as expressões que 
integram o artigo que define o crime. 
Redução de 
pena de 
1/6 a 1/3 
Isenção de 
pena 
 
Ex: Art. 121 matar alguém: essas duas expressões são elementos que 
constituem o tipo penal que define o delito de homicídio). 
 
Aqui o agente age mediante uma falsa percepção da realidade. Ou seja, 
nas circunstâncias do caso concreto, ele não sabe o que faz. Se soubesse, não incorreria no erro, 
porque tem ciência da ilicitude da conduta. 
Ex: rapaz mantém conjunção carnal com menina menor de 14 anos de 
idade, supondo ser ela maior de idade. Errou sobre um elemento que constitui o artigo 217-A do 
CP, qual seja, “menor de 14 anos de idade”. 
 
O ERRO DE PROIBIÇÃO, previsto no artigo 21 do CP, é o erro que incide 
sobre a ilicitude do fato. O sujeito sabe o que faz, mas, incorrendo em erro, supõe inexistir a 
regra de proibição, ou seja, supõe que pratica conduta lícita. 
 
Ex: Holandês, em visita ao Brasil, porta substância entorpecente para 
consumo pessoal (sabe o que faz....), supondo ser conduta lícita, já que no seu País de origem é 
permitido (...mas erra sobre a ilicitude do fato). 
 
Para deixar bem clara a diferença, atentem para as seguintes hipóteses: 
a) Agente que porta arma de fogo verdadeira, supondo ser de 
brinquedo (eis a falsa percepção da realidade). Há erro de tipo, mais especificamente em relação 
ao elemento “arma de fogo”, que constitui o tipo penal que define o delito de porte ilegal de arma 
de fogo, previsto no artigo 14 da Lei nº 10.826/2003. O agente não sabe o que faz (portar arma 
de fogo verdadeira, pois supõe ser de brinquedo). Se soubesse, não incorreria em erro, porque 
sabe ou deveria saber que se trata de conduta ilícita. 
Se o erro de tipo for invencível, exclui-se o dolo e a culpa e o fato será 
atípico; se o erro de tipo for vencível, exclui-se o dolo e o sujeito responde pelo delito na 
modalidade culposa, se tiver previsão legal, conforme prevê o artigo 20 do CP. Como, no caso, 
não existe delito de porte ilegal de arma de fogo na modalidade culposa, o fato será atípico. 
b) Cidadão americano, em visita ao Brasil, porta uma arma de fogo, 
supondo ser conduta lícita, já que nos Estados Unidos, especificamente na região em que reside, 
tal conduta é permitida. Trata-se de erro de proibição, uma vez que o agente sabe exatamente 
o que está fazendo (portar arma de fogo verdadeira), mas supõe que sua conduta é permitida 
 
pelo direito, quando, na verdade, é ilícita. Se o erro de proibição for inevitável, haverá isenção 
de pena e, por consequência, exclusão da culpabilidade; se for evitável, o agente responde pelo 
delito previsto no artigo 14 da Lei nº 10.826/2003, com redução da pena de 1/6 a 1/3, nos termos 
do artigo 21 do Código Penal. 
 
 
ERRO DE TIPO
PORTAR ARMA DE FOGO 
VERDADEIRA, SUPONDO 
SER DE BRINQUEDO
AGENTE NÃO SABE O QUE 
FAZ
SE SOUBESSE, NÃO 
INCORRERIA EM ERRO, 
POIS SABE SER CONDUTA 
ILÍCITA
SE ERRO FOR 
INVENCÍVEL, 
EXCLUI O 
DOLO E A 
CULPA E O 
FATO SERÁ 
ATÍPICO
SE O ERRO FOR 
VENCÍVEL, EXCLUI 
O DOLO E O 
AGENTE 
RESPONDE POR 
CULPA SE A 
CONDUTA TIVER 
PREVISÃO NA 
MODALIDADE 
CULPOSA
ERRO DE PROIBIÇÃO
CIDADÃO AMERICANO 
PORTAR ARMA DE FOGO 
NO BRASIL SUPONDO SER 
CONDUTA LÍCITA
AGENTE SABE O QUE FAZ
SUPÕE QUE SUA CONDUTA 
É LÍCITA
SE ERRO FOR 
INEVITÁVEL, 
HÁ ISENÇÃO 
DE PENA
SE ERRO FOR 
EVITÁVEL, HÁ 
REDUÇÃO DA 
PENA DE 1/6 A 
1/3
CAUSA 
EXCLUDENTE 
DE 
TIPICIDADE 
CAUSA 
EXCLUDENTE 
DE 
CULPABILIDA
DE

Continue navegando