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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIDADES INTELIGENTES E SUSTENTÁVEIS CRISTIANE CRISCIBENE PANTALEÃO CAMPUS UNIVERSITÁRIO COMO LABORATÓRIO VIVO PARA SUSTENTABILIDADE: PROPOSIÇÃO DE CRITÉRIOS ANALÍTICOS São Paulo 2017 Cristiane Criscibene Pantaleão CAMPUS UNIVERSITÁRIO COMO LABORATÓRIO VIVO PARA SUSTENTABILIDADE: PROPOSIÇÃO DE CRITÉRIOS ANALÍTICOS UNIVERSITY CAMPUS AS A LIVING LABORATORY FOR SUSTAINABILITY: PROPOSAL OF ANALYTICAL CRITERIA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Cidades Inteligentes e Sustentáveis – UNINOVE, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Cidades Inteligentes e Sustentáveis. Orientadora: Profa. Dra. Tatiana Tucunduva Philippi Cortese São Paulo 2017 FICHA CATALOGRÁFICA Pantaleão, Cristiane Criscibene. Campus universitário como laboratório vivo para sustentabilidade: proposição de critérios analíticos. / Cristiane Criscibene Pantaleão. 2017. 150 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Nove de Julho - UNINOVE, São Paulo, 2017. Orientador (a): Profª. Drª. Tatiana Tucunduva Philippi Cortese. 1. Instituições de ensino superior. 2. Gestão ambiental. 3. Campus sustentável. 4. Laboratório vivo para sustentabilidade. I. Cortese, Tatiana Tucunduva Philippi. II. Titulo. CDU 711.4 CAMPUS UNIVERSITÁRIO COMO LABORATÓRIO VIVO PARA SUSTENTABILIDADE: PROPOSIÇÃO DE CRITÉRIOS ANALÍTICOS POR Cristiane Criscibene Pantaleão Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Cidades Inteligentes e Sustentáveis – PPGCIS da Universidade Nove de Julho – UNINOVE, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Cidades Inteligentes e Sustentáveis, sendo a banca examinadora formada por: ______________________________________________________________________ Profa. Dra. Tatiana Tucunduva Philippi Cortese - Universidade Nove de Julho - UNINOVE _____________________________________________________________________ Profa. Dra. Ana Cristina de Faria - Universidade Nove de Julho - UNINOVE _____________________________________________________________________ Prof. Dr. Marcelo de Andrade Romero - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU USP São Paulo, 21 de junho de 2017 Dedido este trabalho aos futuros tomadores de decisões das novas gerações e desejo que possam se beneficiar e transformar o planeta, por meio dos estudos em prol do desenvolvimento sustentável. Que assim seja! “Boa parte do movimento ambiental comtemporâneo é motivado pelo medo do fim do mundo como nós o conhecemos, pelo temor do desastre ambiental. Esta não é a motivação correta para um futuro verdadeiramente sutentável. Amor e reverência pela Terra resultarão automaticamente em sustentabilidade, coerência e harmonia”. Satish Kumar AGRADECIMENTOS Primeiramente aos meus amados Elizabeth e Roberto, mãe e pai, pelo desejo de me trazer a esta vida e me conduzir até aqui com todo carinho e apoio. Ao meu companheiro da vida, Leandro, pela paciência, parceria, amor e compreensão durante o período do curso. Aos familiares mais próximos que acompanharam toda esta trajetória, com incentivos e participando de todas as conquistas. Em especial ao meu tio Sergio, que me conduziu ao mundo acadêmico e acompanhou de perto este novo ciclo da minha vida. A minha querida e inspiradora orientadora, Profa Dra Tatiana Tucunduva Philippi Cortese, por compartilhar comigo sua experiência e conhecimento com tanta dedicação, carinho e generosidade. Aos colegas de turma do PPGCIS, companheiros nesta jornada, pelo encontro, troca de conhecimentos e experiências, apoio e amizade. Aos professores do programa PPGCIS da Universidade Nove de Julho, pela dedicação e luz do conhecimento. A Profa Dra Ana Cristina de Faria e Prof Dr Marcelo de Andrade Romero, pelas contribuições a este trabalho. Aos professores e colaboradores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) pela atenção e carinho com que me receberam e por compartilharem importantes exemplos e informações preciosas. Gratidão a todos, retribuo de coração. RESUMO As Instituições de Ensino Superior (IES) podem funcionar como pequenos núcleos urbanos, além de laboratórios vivos e referência na disseminação dos conceitos de sustentabilidade, fomentando esta cultura na comunidade global, e não somente se limitando ao seu perímetro. O presente trabalho tem por objetivo propor quadro analítico adaptativo com critérios que levam um campus universitário a ser caracterizado como Laboratório Vivo para Sustentabilidade. Neste estudo, foi realizada pesquisa aplicada com abordagem qualitativa e estratégia de pesquisa que se enquadra na categoria exploratória com estudo de caso. Inicialmente, foram realizadas análise sistemática da literatura e revisão bibliométrica, com o objetivo de encontrar trabalhos científicos ligados ao tema, além de servir como norte para o direcionamento, possíveis revisões e posterior validação das escolhas. O objeto do estudo de caso foi uma IES brasileira engajada na busca do desenvolvimento sustentável, que possui muitas ações de sustentabilidade em operação e que teve seu campus considerado como o mais sustentável da América Latina em 2015 e 2016. Estas ações manifestam indícios de que a IES possa vir a ser considerada Laboratório Vivo para Sustentabilidade. Além desta análise empírica, foi desenvolvida análise documental de uma IES internacional, que considera seu campus Laboratório Vivo para Sustentabilidade. As evidências encontradas apresentam exemplos de IES com políticas ambientais bem estabelecidas, diversas ações em operação, projetos e campanhas em andamento. De acordo com os resultados, a fim de que um Laboratório Vivo para Sustentabilidade se caracterize, é necessário que haja vivência e experimentação das práticas, comunicação e cooperação entre os indivíduos da comunidade acadêmica, e interação com a comunidade externa. Além da contribuição à comunidade acadêmica, este estudo científico poderá nortear as IES e outras organizações que desejam seguir pelo caminho do desenvolvimento sustentável, se tornando referência em gestão ambiental junto a sociedade e na formação de indivíduos conscientes de seu papel no planeta. Palavras-chave: Instituições de Ensino Superior, Gestão Ambiental, Campus Sustentável, Laboratório Vivo para Sustentabilidade. ABSTRACT Higher Education Institutions (HEI) can function as small urban centers, as well as living laboratories and reference in the dissemination of sustainability concepts, fostering this culture in the global community, and are notlimiting its perimeter. The objective of this work is to propose an adaptive analytical framework with criteria that lead a university campus to be characterized as a Living Laboratory for Sustainability. In this study, an applied research was carried out with a qualitative approach and a research strategy and an exploratory category with a case study. Initially, a systematic analysis of the literature and bibliometric revision were carried out, with the objective of finding scientific papers related to the topic, besides serving as a guide for the direction, revisions and later validation of the choices. The object of the case study for a Brazilian HEI engaged in the pursuit of sustainable development, which has many sustainability actions in operations and which had its campus considered the most sustainable in Latin America in 2015 and 2016. These actions show signs that the IES may come Living Laboratory for Sustainability. In addition to the empirical analysis, a documentary analysis of an international HEI was developed, Which considers its campus as a Living Lab for Sustainability. The evidences found present examples of HEI with well established environmental policies, several actions in operation, projects and campaigns in progress. According to the results, an end to a Living Lab for Sustainability is characterized, it is necessary that live and experienced practices, communication and community building of the academic community and interaction with an external community. In addition to contributing to the academic community, this scientific study can guide how HEI and other organizations that wish to follow the path of sustainable development, becoming a reference in environmental management in a society and in the formation of people aware of their planetless role. Keywords: Institutions of Higher Education, Environmental Management, Sustainable Campus, Living Laboratory for Sustainability. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Evolução anual de artigos científicos relacionados ao tema de pesquisa 25 Figura 2 – Termos chave para análise sistemática 26 Figura 3 – Número de artigos da base de dados Web of Science 26 Figura 4 – Número de artigos da base de dados Science Direct 27 Figura 5 – Termos chave para revisão bibliométrica 27 Figura 6 – Locais de análise por termo chave 28 Figura 7 – Locais de publicação por termo chave 29 Figura 8 – Vínculo institucional dos autores e seus países correspondentes 30 Figura 9 – Frequência de autores 30 Figura 10 – Número de citações Grupo 1 31 Figura 11 – Número de citações Grupo 2 32 Figura 12 – Metodologias de pesquisa 33 Figura 13 – Incidência dos termos chave 33 Figura 14 – Destaques entre periódicos 34 Figura 15 – Linha do tempo das principais declarações internacionais 38 Figura 16 – Seis princípios PRME 41 Figura 17 – Mapa stakeholders 42 Figura 18 – Resultados do inquérito sobre as funções centrais do sistema de ensino superior 43 Figura 19 – Mapa mental das atividades em campus universitário 44 Figura 20 – Esquema de funcionamento do campus como Laboratório Vivo 49 Figura 21 – Desenho metodológico de triangulação das evidências 52 Figura 22 – Painel de atores analisados no estudo de caso 55 Figura 23 – Atividades e estratégias de pesquisa 57 Figura 24 – Número de relatórios de sustentabilidade publicados pelas IES (por ano) na Base de Dados de Divulgação da GRI 58 Figura 25 – Vista aérea do campus da UFLA 63 Figura 26 – Organograma DMA da UFLA 65 Figura 27 – Ações da UFLA em Gestão da Energia 66 Figura 28 – Projetos da UFLA em Gestão da Energia 67 Figura 29 – Campanhas da UFLA em Gestão da Energia 67 Figura 30 – Antes e depois da troca de lâmpadas na avenida central do campus 68 Figura 31 – Gráfico da relação entre número de estudantes e consumo de energia na UFLA 68 Figura 32 – Medidor do consumo de energia para controle de demanda 69 Figura 33 – Ações da UFLA em Gestão da Água 70 Figura 34 – Projetos da UFLA em Gestão da Água 70 Figura 35 – Campanhas da UFLA em Gestão da Água 71 Figura 36 – A mais nova barragem da UFLA 71 Figura 37 – Estação de tratamento de água da UFLA 72 Figura 38 – Ações da UFLA em Gestão de Materiais, Equipamentos e Fornecedores 72 Figura 39 – Projetos da UFLA em Gestão de Materiais, Equipamentos e Fornecedores 73 Figura 40 – Campanhas da UFLA em Gestão de Materiais, Equipamentos e Fornecedores 73 Figura 41 – Ações da UFLA em Gestão de Resíduos, Efluentes e Emissões 74 Figura 42 – Projetos da UFLA em Gestão de Resíduos, Efluentes e Emissões 75 Figura 43 – Campanhas da UFLA em Gestão de Resíduos, Efluentes e Emissões 75 Figura 44 – Estação de tratamento de esgoto da UFLA 75 Figura 45 – Experimento dos alunos do curso de Biologia 76 Figura 46 – Ações da UFLA em Meio Ambiente 78 Figura 47 – Projetos da UFLA em Meio Ambiente 78 Figura 48 – Campanhas da UFLA em Meio Ambiente 79 Figura 49 – Antiga rede de energia elétrica do campus da UFLA 79 Figura 50 – Imagens das áreas de recuperação ambiental 80 Figura 51 – Ações da UFLA em Mobilidade 81 Figura 52 – Projetos da UFLA em Mobilidade 81 Figura 53 – Campanhas da UFLA em Mobilidade 81 Figura 54 – Módulo do bicicletário 82 Figura 55 – Ações da UFLA em Mudanças Climáticas 83 Figura 56 – Projetos da UFLA em Mudanças Climáticas 83 Figura 57 – Campanhas da UFLA em Mudanças Climáticas 83 Figura 58 – Ações da UFLA em Ambiente Construído 84 Figura 59 – Projetos da UFLA em Ambiente Construído 84 Figura 60 – Campanhas da UFLA em Ambiente Construído 85 Figura 61 – Centro de Convivência 85 Figura 62 – Ações da UFLA em Comunicação e Treinamento 86 Figura 63 – Projetos da UFLA em Comunicação e Treinamento 86 Figura 64 – Campanhas da UFLA em Comunicação e Treinamento 86 Figura 65 – Ações da UFLA em Relação com Cidade e Comunidade 87 Figura 66 – Projetos da UFLA em Relação com Cidade e Comunidade 88 Figura 67 – Campanhas da UFLA em Relação com Cidade e Comunidade 88 Figura 68 – Iniciativas da CAM em Projetos Acadêmicos 91 Figura 69 – Iniciativas da CAM em Projetos Voluntários 92 Figura 70 – Iniciativas da CAM em Estágios 93 Figura 71 – Iniciativas da CAM em Premiações e Reconhecimentos 94 Figura 72 – Evolução anual do projeto Living Lab for Sustainability 94 Figura 73 – Ações da CAM em Gestão da Energia 95 Figura 74 – Ações da CAM em Gestão da Água 96 Figura 75 – Ações da CAM em Gestão de Materiais, Equipamentos e Fornecedores 96 Figura 76 – Ações da CAM em Gestão de Resíduos, Emissões e Efluentes 96 Figura 77 – Ações da CAM em Meio Ambiente 97 Figura 78 – Ações da CAM em Mobilidade 97 Figura 79 – Ações da CAM em Mudanças Climáticas 98 Figura 80 – Ações da CAM em Ambiente Construído 98 Figura 81 – Ações da CAM em Comunicação e Treinamento 98 Figura 82 – Ações da CAM em Relação com Cidade e Comunidade 99 Figura 83 – Ações da CAM em Alimentação Sustentável 99 Figura 84 – Quadro de critérios: Gestão Administrativa 100 Figura 85 – Quadro de critérios: Gestão Financeira 101 Figura 86 – Quadro de critérios: Infraestrutura do Campus 101 Figura 87 – Quadro de critérios: Ensino e Pesquisa 102 Figura 88 – Quadro de critérios: Comunicação e Treinamento 103 Figura 89 – Classificação geral da UFLA no ranking UI GreenMetric 105 Figura 90 – Classificação da UFLA por indicadores no ranking UI GreenMetric 106 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Fator de impacto dos periódicos 35 Tabela 2 – IES brasileiras no ranking UI GreenMetric 47 Tabela 3 – IES internacionais no ranking UI GreenMetric 47 Tabela 4 – Critérios e ponderação de pontos do ranking UI GreenMetric 53LISTA DE SIGLAS AASHE – Association for the Advancement of Sustainability in Higher Education (Associação para o Avanço da Sustentabilidade no Ensino Superior) ACAMAR – Associação dos Catadores de Material Reciclável de Lavras AE – Alojamento Estudantil ALLIANCE COPERNICUS – European Network on Higher Education for Sustainable Development (Rede Europeia de Educação Superior para o Desenvolvimento Sustentável) APP – Área de Preservação Permanente BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BREEAM – Building Research Establishment Environmental Assessment Method (Método de Avaliação Ambiental do Estabelecimento de Pesquisa de Construção) CAM – University of Cambridge CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais CRC – Compromisso de Redução de Carbono CS – Campus Sustentável DMA – Diretoria de Meio Ambiente ENAP – Escola Nacional de Administração Pública EPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais ETA – Estação de Tratamento de Água ETE – Estação de Tratamento de Esgoto FPDA – Fundação Pró Defesa Ambiental GHESP - Global Higher Education for Sustainability Partnership (Parceria de Ensino Superior Global para a Sustentabilidade) GRI – Global Reporting Initiative (Iniciativa Global de Informação) IARU – International Alliance of Research Universities (Aliança Internacional das Universidades de Pesquisa) IES – Instituição de Ensino Superior IRD – Institut de Recherche pour le Developpement LEED – Leadership in Energy and Environmental Design (Liderança em Energia e Design Ambiental) LGRQ – Laboratório de Gestão de Resíduos Químicos MEC – Ministério da Educação MMA – Ministério do Meio Ambiente MP – Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão ONG – Organização Não Governamental ONU – Organização das Nações Unidas PLS – Plano de Logística Sustentável PRME – Principles for Responsible Management Education (Princípios para a Educação Empresarial Responsável) Procel – Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica REUNI – Reestruturação e Expansão das Universidades Federais RS – Relatórios de Sustentabilidade RU – Restaurante Universitário RUPEA – Rede Universitária de Programas de Educação Ambiental SAQ – Sustainability Assessment Questionnaire (Questionário de Avaliação de Sustentabilidade) SEMESP – Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior SGA – Sistema de Gestão Ambiental STARS – Sustainability Tracking, Assessment & Rating System (Sistema de Rastreamento, Avaliação e Classificação de Sustentabilidade) TBL – Triple Bottom Line (Tripé da Sustentabilidade) TCU – Tribunal de Contas da União UFLA – Universidade Federal de Lavras UI GreenMetric – Universitas Indonesia GreenMetric: World Univesrity Ranking on Sustainability (Universitas Indonesia MétricaVerde: Ranking Mundial de Universidades sobre Sustentabilidade) ULSF – University Leaders for a Sustainable Future (Líderes Universitários para um Futuro Sustentável) UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas US – Universidade Sustentável USP – Universidade de São Paulo SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 18 1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E QUESTÃO DE PESQUISA ........................ 20 1.2 OBJETIVOS ................................................................................................ 21 1.2.1 Objetivo Geral .............................................................................................. 21 1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 21 1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA PARA ESTUDO DO TEMA .............. 22 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................. 22 2 REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................... 24 2.1 REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA COM ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA ....................................................................................... 24 2.1.1 Locais de análise e publicação ...................................................................... 28 2.1.2 Frequência de autores e número de citações .................................................. 30 2.1.3 Metodologia de pesquisa mais utilizada ........................................................ 32 2.1.4 Destaques em título e palavras-chave ........................................................... 33 2.1.5 Periódicos e fator de impacto ........................................................................ 34 2.2 PRINCIPAIS CONCEITOS ......................................................................... 35 2.2.1 As IES laborando como pequenos núcleos urbanos ....................................... 36 2.2.2 Gestão ambiental no contexto educacional .................................................... 38 2.2.3 Campus Sustentável, do discurso à prática .................................................... 42 2.2.4 Laboratório Vivo para Sustentabilidade e seu papel na IES ........................... 48 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................... 51 3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA ............................................................. 51 3.2 INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR ESCOLHIDA ............................. 53 3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS........................................ 54 3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS ......................................... 58 4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS ........................................ 63 4.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DO ESTUDO DE CASO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS................................................ 63 4.2 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA ANÁLISE DOCUMENTAL DA UNIVERSITY OF CAMBRIDGE ............................................................ 90 4.3 DISCUSSÕES DOS RESULTADOS .......................................................... 105 5 PROPOSIÇÃO DE CRITÉRIOS PARA CAMPUS COMO LABORATÓRIO VIVO PARA SUSTENTABILIDADE ......................... 99 6 CONCLUSÕES ......................................................................................... 112 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 116 APÊNDICE A – PROTOCOLO PARA ESTUDO DE CASO ............................. 124 ANEXO A – QUESTIONÁRIO GREENMETRIC 2016 (CRITÉRIOS E INDICADORES) ....................................................................................... 132 ANEXO B – QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE DA UNIVERSITY LEADERS FOR A SUSTAINABLE FUTURE (ULSF) ..... 143 ANEXO C – STARS 2.0. AC8: CAMPUS AS A LIVING LABORATORY ............ 149 19 1 INTRODUÇÃO Quando foi ratificada, há mais de quinze anos, a Carta da Terra já demonstrava preocupação com a crítica realidade que continuaria se apresentando anos depois. Este importante documento trouxe um alerta às nações em relação ao futuro da humanidade e a necessidade de que a sociedade se torne responsável pela proteção e preservação do meio ambiente global. De acordo com o documento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) [2000], os desafios são muitos: políticos, econômicos, sociais, espirituais e ambientais, para evitar a destruição da humanidade e manter a diversidade da vida; mas, uma aliança global pode garantir um novo começopara o bem estar das sociedades atuais e das futuras gerações. As Instituições de Ensino Superior (IES) são parte relevante no processo de formação de líderes e cidadãos que contribuirão para o desenvolvimento das cidades com sustentabilidade e inteligência. Estas, para se desenvolverem, precisam de esforços multidimensionais e interconectados, partindo do modelo pré-existente, mas considerando seus problemas e desafios (Ferreira, Oliveira, Cortese, Kniess, Quaresma, & Paschoalin, 2015). Moldar a sustentabilidade, de forma a influenciar o comportamento dos alunos, funcionários e comunidades locais, indica o movimento da IES em direção a um maior alinhamento entre as práticas operadas no campus e o conhecimento transmitido em sala de aula (Tilbury, 2011). A disseminação da cultura de sustentabilidade, por meio da cooperação entre indivíduos, empresas e instituições governamentais, acontece quando existe vivência em um ambiente adequado por meio do aprendizado. A educação ambiental, como base do desenvolvimento sustentável, gera equilíbrio entre crescimento econômico, bem estar humano e preservação da natureza (Almeida, 2015). Desde os anos de 1970, começaram a surgir associações interessadas em envolver as universidades com o objetivo de um desenvolvimento sustentável, mas ainda não destacaram muitas ações efetivas dentro das IES, incorporando o conceito de sustentabilidade em seus currículos, pesquisas e operações de seus campi. Historicamente, os primeiros sinais apareceram em 1972, com a realização da Conferência em Desenvolvimento Humano que aconteceu em Estocolmo, organizada 20 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Posteriormente, em 1990, com a Declaração de Taillores na França e em 1994, com o lançamento do Cooperation Programme in Europe for Research on Nature and Industry through Coordinated University Studies (COPERNICUS) na Conferência de Reitores da Europa (Machado, Fracasso, Tometich, & Nascimento, 2013). Ceulemans, Lozano e Alonso-Almeida, (2015) apresentam em seus estudos, que existem, aproximadamente, 20.000 IES privadas e públicas em todo o mundo. No Brasil, de acordo com dados do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior [SEMESP] (2016), em 2014 haviam 2.368 IES no país, sendo 2.070 IES privadas e 298 públicas. Conforme Tauchen e Brandli (2006), à grande maioria das IES, que possui Sistema de Gestão Ambiental (SGA) incorporados a sua governança se encontram na Europa e nos EUA, algumas experiências relevantes, também aparecem no Canadá e na Nova Zelândia. No Brasil, existem algumas iniciativas com programas em operação, como por exemplo a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e outras em fase de projeto, tal como a Universidade de São Paulo (USP) que possui um plano de transformar completamente seu campus até 2034 (USP, 2014); mas a maioria das IES opera com ações pontuais, não abrangendo todas as esferas de atuação. Redes e iniciativas globais apoiam as IES engajadas em aplicar o SGA nas suas atividades dentro do campus e têm como objetivo medir as realizações, possibilidades de adaptações e partilha de informações com outras organizações por meio de Relatórios de Sustentabilidade (RS). Estudos apresentados em artigos científicos mostram a importância dos RS dentro deste contexto, a implantação destes dentro da gestão administrativa das IES ainda está em estágio inicial e é considerado um desafio (Ceulemans, Lozano & Alonso-Almeida, 2015). A adoção de planos, políticas de sustentabilidade e cartas de princípios, pelas IES, possibilitam que os conceitos de sustentabilidade sejam incorporados na missão, filosofia dos gestores e atividades de todas as áreas de ação e operação da instituição (Von Hauff & Nguyen, 2014). De acordo com Termignoni (2012), os exemplos praticados nos campi universitários por meio da aplicação de SGA e compartilhados entre as IES podem tornar- se referências de Pequenos Núcleos Urbanos, educando também as cidades e as transformando em espaços inteligentes e sustentáveis que proporcionem qualidade de vida aos seus habitantes. 21 Dentro do contexto urbano, as IES surgem como veículos importantes no desenvolvimento desta capacidade de adaptação, por meio da educação e conscientização do ser humano, além de servir como exemplo. As IES podem se tornar Laboratórios Vivos, fomentando a cultura de sustentabilidade na comunidade global, e não somente se limitando ao seu perímetro (Termignoni, 2012). Diferentes termos são utilizados para conceituar a prática da sustentabilidade nas IES, mas quando se trata especificamente das ações em operação e vivenciadas pelos atores internos e externos, surge um conceito que parece mais adequado a este contexto: Laboratório Vivo para Sustentabilidade. Com foco na transformação das relações, a metodologia de inovação social que é Laboratório Vivo, proporciona um diálogo entre universidade e comunidade externa. A cidade recebe uma valorosa colaboração no seu desenvolvimento urbano e social ao absorver recursos educativos advindos das práticas acadêmicas que se manifestam na temática do campus (Catalão, Layrargues & Zaneti, 2011). 1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E QUESTÃO DE PESQUISA O tema abordado neste estudo está relacionado a Campi de Universidades que possuem ações de sustentabilidade em operação, e que por meio de uma visão holística, missão, valores e estratégias aplicam em sua gestão um desenvolvimento sustentável. Partindo de uma análise macro com base no conceito de Campus Sustentável (CS) e identificando a existência das políticas de sustentabilidade nos sistemas de gestão das IES, o espaço da universidade pode ser considerado um Laboratório Vivo em muitas dimensões: sociais, econômicas, culturais, ambientais e até mesmo urbanas (Veeckman, Schuurman, Leminen & Westerlund, 2013). O estudo será baseado no Triple Bottom Line (TBL), também conhecido como Tripé da Sustentabilidade, que se apoia na integração de três dimensões: a social, a econômica e a ambiental. Havendo equilíbrio entre estas dimensões, a gestão de uma IES pode ser considerada sustentável (Serralvo & Belloque, 2014). Nesta perspectiva, o trabalho busca responder à seguinte questão de pesquisa: Quais são os critérios que caracterizam um campus universitário como Laboratório Vivo para Sustentabilidade? Para que esta questão possa ser respondida ao final deste trabalho, objetivos gerais 22 e específicos, além de algumas hipóteses, foram definidos no próximo item. 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo geral Propor critérios analíticos que levam um campus universitário a ser caracterizado como Laboratório Vivo para Sustentabilidade. 1.2.2 Objetivos específicos a) Realizar revisão sistemática da literatura com análise bibliométrica, utilizando os termos chave: Campus Sustentável, Eco Campus, Campus Verde, Laboratório Vivo, e Laboratório Vivo para Sustentabilidade; b) Identificar e analisar as iniciativas de sustentabilidade planejadas e ou executadas pela IES nacional, objeto do estudo de caso, com base no seu plano ambiental; c) Analisar as iniciativas de uma IES internacional, como Laboratório Vivo para Sustentabilidade; e d) Confrontar os resultados, por meio de triangulação, gerados nos itens “a”, “b” e “c”, organizando os dados e analisando pontos comuns, diferenças e especificidades. 1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA PARA ESTUDO DO TEMA As universidades têm papel importante na coordenação com a sociedade, frente ao desenvolvimento sustentável, orientando mentes que possam encarar desafios, e na formação e transformação dos indivíduos que virão a se tornar futuros tomadores de decisão.Partindo destes princípios, o estudo se justifica como base para as IES que buscam melhoria do desempenho de sua infraestrutura de campus universitário e que desejam transformar-se em Laboratório Vivo para Sustentabilidade, além de servir como exemplo para a sociedade, comunidades e, até mesmo, para a gestão das cidades, foco deste PPG. As IES com boa governança corporativa contribuem para o desenvolvimento sustentável, proporcionando vivência da sustentabilidade em seus campi, junto aos atores internos e compartilhando suas experiências com a comunidade local e global (Gomides & Silva, 2015). 23 Estudos acerca do tema Campi de Universidades Sustentáveis já foram elaborados por alguns autores nacionais e internacionais, em artigos científicos e livros, tais como: Michael Von Haulf e Thuan Nguyen (2014), Caroline Rodrigues Vaz et al. (2010) e Luciana Dalfollo Ferreira Termignoni (2012), entre outros. Esta pesquisa diferencia-se destes devido ao seu recorte para o conceito de Laboratório Vivo para Sustentabilidade no contexto das IES, sendo que grande parte dos autores apresenta trabalhos abordando o campus universitário de uma forma mais abrangente. Além disso, o presente trabalho introduz o campus como um pequeno núcleo urbano que pode vir a ser um modelo de Planejamento Urbano e Regional para a transformação das cidades, por meio da Educação e se encaixa na linha de pesquisa Construções Sustentáveis. 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO Esta dissertação está estruturada em seis capítulos. Na introdução são apresentadas a delimitação do tema, a questão de pesquisa, os objetivos, justificativa, e relevância do estudo. O segundo capítulo traz a fundamentação teórica apresentada por meio de uma revisão sistemática com levantamento bibliométrico, além dos principais conceitos abordados. O terceiro capítulo descreve os aspectos metodológicos utilizados, detalhando seus procedimentos e o quarto capítulo retrata os resultados do estudo de caso, incluindo discussões que promovem articulação teórica dos resultados com a revisão de literatura. No quinto capítulo é apresentado o objeto geral do trabalho, proposição dos critérios analíticos e no sexto capítulo são elaboradas as conclusões da pesquisa. Ao final, são apresentadas as referências bibliográficas, além dos anexos e apêndices que contemplam os modelos que foram utilizados para elaboração da análise dos dados e entrevistas. 24 2 REFERENCIAL TEÓRICO Este capítulo se inicia com a apresentação dos resultados de análise bibliométrica proveniente de revisão sistemática da literatura, descrevendo o método utilizado no processo. Na sequência, os principais constructos abordados neste estudo são apresentados com o desafio de proporcionar um diálogo entre os autores. O trabalho foi concebido abordando o conceito de CS, tema central da pesquisa, e como ele se caracteriza para poder assim ser denominado. O campus universitário é parte importante da estrutura urbana e pode ser considerado como uma pequena cidade em função das atividades e práticas que possui. 2.1 REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA COM ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA Com os objetivos de gerar embasamento à pesquisa e colaborar com o avanço da comunidade científica, foi elaborado um levantamento dos artigos publicados em periódicos nos últimos dez anos. Seguindo este posicionamento temporal, foi definido o período de publicação entre 2007 e 2017 com a busca nas bases de dados iniciando-se em março de 2016. Como uma síntese criteriosa de um período específico, a análise sistemática reúne evidências científicas de determinada área do conhecimento, proporcionando direcionamentos no esclarecimento de temas relevantes e preenchendo lacunas deixadas pelas revisões narrativas (Kitchenham et al., 2009; Gomes & Oliveira, 2014). As bases de dados, Web of Science e Science Direct (Elsevier), foram escolhidas devido a sua multidisciplinariedade facilitando a aderência dos trabalhos ao tema de pesquisa do presente trabalho. Um fato importante a ser mencionado é que, além das duas bases citadas, a Scopus também seria analisada, mas devido às limitações que apresenta no acesso aos artigos foi descartada. Para o levantamento do número de citações de cada artigo foi utilizada como referência a base de dados Google Acadêmico, já que ela apresenta números gerais de todos os periódicos relacionados. A escolha do período de análise justifica-se devido a um prévio levantamento feito nas bases de dados, que mostrou o baixo número de artigos, tratando sobre os temas escolhidos antes do ano de 2007. Na Figura 1 é possível visualizar a evolução anual de 25 artigos científicos publicados tratando sobre os temas. O número de trabalhos com foco em CS começa a crescer a partir de 2010, com uma queda em 2014 e atingindo o pico de produção em 2015. Já os que tratam sobre o tema Living Lab começam a aparecer em 2003, atingem a melhor marca entre 2015 e 2016 e seguem decrescendo até os dias atuais. Figura 1 – Evolução anual de artigos científicos relacionados ao tema da pesquisa Fonte: Elaborada pela autora Com base em Gomes e Oliveira (2014), este processo de análise sistemática com revisão bibliométrica foi dividido em duas etapas, cada uma delas com suas sub etapas: ● Análise sistemática - definição dos termos chave, escolha das bases de dados mais indicadas, realização da busca utilizando os termos chave, aplicação de filtros, seleção dos artigos, leitura dos artigos selecionados; e ● Revisão bibliométrica – coleta de dados por meio da análise dos artigos selecionados, interpretação dos dados por meio de indicadores bibliométricos, compilação gráfica dos resultados e descrição por meio de relatório para apresentação dos dados. Iniciando a análise sistemática foram definidos os termos chave a serem utilizados na busca dos artigos, escritos em inglês com objetivo de alcançar um número maior de publicações aderentes ao tema central desta pesquisa, já que a maioria dos estudos sobre o tema são internacionais. Estes termos foram divididos em dois grupos, como ilustrado 0 1 2 3 4 5 6 2008 2010 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Sustainable Campus / Eco Campus / Green Campus Living Lab / Living Lab for Sustainability 26 na Figura 2. GRUPO 1 GRUPO 2 Sustainable Campus Living Lab Eco Campus Living Lab for Sustainability Green Campus Living Laboratory Sustainable Universities Living Laboratory for Sustainability Figura 2 – Termos chave para análise sistemática Fonte: Elaborada pela autora Os dados coletados nas bases de dados foram compilados e ilustrados por meio de gráficos, salientando que foram considerados apenas trabalhos categorizados como: article, proceedings paper e journal. A Figura 3 apresenta o número de artigos levantados por termo chave, do período determinado na busca à base de dados Web of Science. Figura 3 – Número de artigos da base de dados Web of Science Fonte: Elaborada pela autora A Figura 4 apresenta o número de artigos levantados por termo chave, do período determinado na busca à base de dados Science Direct. 0 50 100 150 200 250 300 350 Sustainable Campus Eco Campus Green Campus Sustainable Universities Living Laboratory for Sustainability Living Lab for Sustainability Living Lab Living Laboratory 27 Figura 4 – Número de artigos da base de dados Science Direct Fonte: Elaborada pela autora Analisando os dois gráficos apresentados, surge uma diferença significativa entre as bases de dados, principalmente em relação ao termosLiving Laboratory e Sustainable Universities. Na base Web of Science, os termos Living Lab for Sustainability e Living Laboratory for Sustainability não apresentam nenhuma ocorrência, já na Science Direct aparecem apenas quatro e três artigos com os termos respectivamente. Diante dos dados apresentados na busca, alguns termos chave foram eliminados por não se mostrarem relevantes ao processo, conforme ilustrado pela Figura 5. No caso do termo chave Sustainable Universities, a eliminação se justifica devido à ampla gama de possibilidades que traz a busca, fugindo do foco definido para este trabalho. Já os termos chave Living Laboratory e Living Laboratory for Sustainability, apresentaram resultados repetidos em relação aos outros similares e que fazem parte do mesmo grupo. GRUPO 1 GRUPO 2 Sustainable Campus Living Lab Eco Campus Living Lab for Sustainability Green Campus Figura 5 – Termos chave para revisão bibliométrica Fonte: Elaborada pela autora Nos artigos previamente coletados foram aplicados filtros de seleção, relacionados ao título, resumo e palavras-chave, para um recorte dos que, de fato, seriam analisados. Após esta etapa, a redução foi significativa e restaram um total de vinte e seis trabalhos, sendo vinte e um do Grupo 1 e cinco do Grupo 2, os quais foram utilizados para execução da revisão bibliométrica. 0 100 200 300 400 500 600 Sustainable Campus Eco Campus Green Campus Sustainable Universities Living Laboratory for Sustainability Living Lab for Sustainability Living Lab Living Laboratory 28 Dos artigos selecionados na análise sistemática, foi realizada uma análise de conteúdo em que foram extraídas as informações que resultaram na revisão bibliométrica. Estudos de Arruda, Benevides, Farina & Faria (2013) apresentam pesquisa bibliométrica como um método estatístico de análise quantitativa que identifica a produção científica de determinada área do conhecimento descrevendo padrões de publicação. A tabulação dos resultados de revisão bibliométrica foi feita por meio do software Excel, assim como a produção de gráficos e planilhas. Como parte da fundamentação teórica e por meio de uma revisão sistemática serão apresentados, nos próximos itens, os resultados da análise bibliométrica de 26 artigos científicos publicados em periódicos. Dentro deste processo metodológico, os trabalhos foram identificados e analisados por etapas estruturadas e citadas anteriormente, gerando um portfólio bibliográfico sobre os temas tratados e ampliando a confiabilidade da pesquisa. 2.1.1 Locais de análise e publicação Analisando os objetos de estudo dos artigos selecionados observa-se na Figura 6, um interesse maior em dois países: EUA e Malásia, ambos com a mesma incidência de análises em relação ao termos chave do Grupo 1. O Reino Unido é o único país que apresenta estudos relacionados aos dois grupos de termos chave, já os países mais pesquisados do Grupo 2 se concentram, em grande parte, no continente Europeu. Figura 6 – Locais de análise por termo chave Fonte: Elaborada pela autora 2 1 2 2 5 1 1 2 1 5 2 2 1 1 2 1 1 1 0 1 2 3 4 5 6 A ra b ia S au d it a A u st rá li a C an ad á C h in a E U A S u iç a F ra n ça In d o n é si a Ir aq u e M al ás ia R ei n o U n id o F in lâ n d ia Á fr ic a d o S u l E sp an h a S u éc ia P o lô n ia N o ru eg a D in am ar ca Living Lab / Living Lab for Sustainability Sustainable Campus / Eco Campus / Green Campus 29 Quando se observa os países de publicação, a Malásia continua despontando, mas agora sozinha, além de apresentar estudos com foco nos termos chave dos dois grupos. Nesta análise, o Brasil aparece, com apenas uma publicação, mas se mantendo equilibrado entre a maioria dos países relacionados. A Figura 7 ilustra estes dados. Figura 7 – Locais de publicação por termo chave Fonte: Elaborada pela autora Como forma de identificar e apresentar as IES, dos respectivos autores, que se interessam por estudos voltados ao tema deste trabalho, foi elaborado o mapa apresentado na Figura 8. Nele estão apontados com círculos coloridos os países citados na Figura 7 e na legenda do mapa estão listadas as IES de vínculo dos autores correspondentes a estes países. 1 1 2 2 2 1 1 2 1 6 2 2 1 1 0 1 2 3 4 5 6 7 A ra b ia S au d it a A u st rá li a C an ad á C h in a E U A B ra si l F ra n ça In d o n és ia C o ré ia d o S u l M al ás ia R ei n o U n id o F in lâ n d ia S u éc ia P o lô n ia Living Lab / Living Lab for Sustainability Sustainable Campus / Eco Campus / Green Campus 30 Figura 8 – Vínculo institucional dos autores e seus países correspondentes Fonte: Elaborada pela autora 2.1.2 Frequência de autores e número de citações Por meio de dados constantes nos próprios artigos, foram levantadas informações sobre os 74 autores internacionais identificados, eles foram separados individualmente para que se pudesse medir a frequência de cada um nas pesquisas que tratam sobre os temas escolhidos. A Figura 9 apresenta os três autores mais frequentes com duas publicações cada, os setenta e um restantes classificados como outros, aparecem em apenas uma publicação cada, caracterizando um cenário pouco prolífico. Figura 9 – Frequência de autores Fonte: Elaborada pela autora 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Riri Fitri Sari Nyoman Suwartha Habib M. Alshuwaikhat Outros 31 Para a medição do número de citações relacionadas a cada artigo, foram utilizadas informações de acesso livre disponíveis na base de dados Google Acadêmico até abril de 2017. Para um melhor entendimento dos dados, eles foram divididos em dois gráficos sendo um para cada grupo de termos chave. Na Figura 10 encontram-se números referentes ao Grupo 1: Sustainable Campus, Eco Campus e Green Campus. Figura 10 – Número de citações Grupo 1 Fonte: Elaborada pela autora 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Nyström et al. (2014) Lauder, Sari, Suwartha & Tjahjono (2015) Townsend & Barrett (2015) Lidstone, Wrigh & Sherren (2015) Choi, Oh, Kang & Lutzenhiser (2017) Zou, Zhao, Mason & Li (2015) Krasny & Delia (2015) Zen et al. (2016) Lima et al. (2016) Hooi, Hassan & Mat (2012) Olszak (2012) Baboulet & Lenzen (2010) Alshuwaikhat, Adenle & Saghir (2016) Derahim et al. (2012) Foo (2013) Alshuwaikhat & Abubakar (2008) Tan, Chen, Shi & Wang (2014) Suwartha & Sari (2013) Saadatian, Sopian & Salleh (2013) Matloob et al. (2014) Hajrasouliha (2017) 32 Analisando a Figura 10, um trabalho de 2008 se destaca com quase 350 citações, dado que se justifica devido ao tempo que a publicação está disponível. Os artigos científicos menos citados, em sua maioria, foram publicados nos últimos anos de 2015 a 2017. De qualquer maneira, excluindo o único artigo de 2008, todos os outros possuem um baixo índice de citações, com número máximo de 50. Na Figura 11 encontram-se números referentes ao Grupo 2: Living Lab e Living Lab for Sustainability. Neste grupo, os trabalhos selecionados são recentes, do período de 2014 a 2016, com número máximo de 50 citações no caso do artigo de 2014. Figura 11 – Número de citaçõesGrupo 2 Fonte: Elaborada pela autora 2.1.3 Metodologia de pesquisa mais utilizada Não por acaso, a mesma metodologia escolhida para esta pesquisa desponta como a mais utilizada nos artigos selecionados para revisão: Pesquisa Qualitativa com Estudo de Caso. A segunda mais utilizada, também segue a mesma linha de análise qualitativa só que com outra estratégia de pesquisa que é a análise documental, ambas se destacam nos dois grupos de termos chave. Os dados da Figura 12 destacam a quantidade de trabalhos que buscam obter dados empíricos para elaborar suas pesquisas por meio de estudo de caso, enfatizando a importância da estratégia nesta área do conhecimento. 0 10 20 30 40 50 60 Nyström et al. (2014) Zawada & Starostka-Patyk (2016) Evans et al. (2015) Voytenko et al. (2016) Eriksson et al. (2015) 33 Figura 12 – Metodologias de pesquisa Fonte: Elaborada pela autora 2.1.4 Destaques em título e palavras-chave Em relação à constância dos termos chave, se destacam Sustainable Campus e Campus Sustainability nos títulos e Green Campus e Green Universities nas palavras- chave. O conceito Living Lab for Sustainability é o termo que menos aparece nos títulos e não aparece em nenhuma palavra-chave, como ilustrado na Figura 13. Figura 13 – Incidência dos termos chaves Fonte: Elaborada pela autora 4 5 14 1 1 Pesquisa mista (quantitativa e qualitativa) com estudo de caso Pesquisa qualitativa com análise documental Pesquisa qualitativa com estudo de caso Pesquisa qualitativa com pesquisa-ação participativa Pesquisa quantitativa com Estudo de Caso 0 5 10 15 Sustainable Campus / Eco Campus / Green Campus Living Lab / Living Lab for Sustainability 50% 0% 29% 7% 14% TÍTULO Sustainable Campus / Campus Sustainability Eco Campus Green Campus / Green University Living Lab for Sustainability Living Lab 11% 0% 67% 0% 22% PALAVRA-CHAVE Sustainable Campus / Campus Sustainability Eco Campus Green Campus / Green University Living Lab for Sustainability Living Lab 34 2.1.5 Periódicos e fator de impacto Dentre os periódicos, o Journal of Cleaner Production é o que mais possui publicações e se destaca como líder absoluto em relação aos termos chave do Grupo 1, mas também apresenta trabalhos do Grupo 2. Em relação aos temas relacionados ao Grupo 2, se observa uma variedade maior de periódicos, mas sem nenhum destaque, como se observa na Figura 14. Em segundo lugar, desponta um nome não tão conhecido entre os periódicos da área Sustainability, com publicações sobre os termos do Grupo 1 em uma crescente nos últimos três anos. Figura 14 – Destaques entre periódicos Fonte: Elaborada pela autora Na Tabela 1, apresentam-se os fatores de impacto dos periódicos citados anteriormente, com maior valor para o Journal of Cleaner Production que foi o destaque entre as publicações analisadas. Já o periódico Sustainability, que ficou em segundo lugar, 12 1 1 1 4 3 1 1 1 1 0 2 4 6 8 10 12 14 Living Lab / Living Lab for Sustainability Sustainable Campus / Eco Campus / Green Campus 35 possui uma das menores pontuações do ranking e em alguns deles os dados não foram encontrados. Tabela 1 Fator de impacto dos periódicos PERIÓDICOS / EVENTOS FATOR DE IMPACTO Current Opinion in Environmental Sustainability 4658 Ecological Indicators 3190 Industrial Marketing Management 1930 Journal of Cleaner Production 4959 Landscape and Urban Planning 3654 Procedia - Social and Behavioral Sciences Não encontrado Procedia Economics and Finance 21 Não encontrado Sustainability 1343 Sustainable Cities and Society 1044 Transportation Research Procedia Não encontrado Nota. Fonte: Elaborada pela autora Os resultados da evolução anual de artigos científicos que tratam do tema central deste trabalho, apresentam uma carência no número de pesquisas com foco na infraestrutura do Campus Universitário como Laboratório Vivo para Sustentabilidade. Existem muitos trabalhos tratando de questões pontuais relacionadas ao campus, mas ainda poucos o analisando como um todo e caracterizando seu espaço físico como uma área de vivência, troca e aprendizado em relação às práticas de sustentabilidade. Esta análise bibliométrica revela uma lacuna na literatura científica relacionada ao assunto tratado neste trabalho, assegurando a relevância do estudo e caracterizando a necessidade de pesquisas nesta linha de investigação. 2.2 PRINCIPAIS CONCEITOS Com base na análise sistemática desenvolvida e na apreciação de outros trabalhos científicos relacionados a esta pesquisa, são apresentadas, neste item, reflexões de autores que asseguram um embasamento teórico ao trabalho. 36 2.2.1 As IES laborando como pequenos núcleos urbanos De acordo com Casagrande e Deeke (2009), existe uma relação direta entre a infraestrutura urbana e a de um campus universitário, levando em consideração a rotina de operação de suas práticas de sustentabilidade. Quando os estudantes vivenciam os espaços onde as práticas acontecem, desenvolvem capacidades de imaginar alternativas inteligentes que também podem ser aplicadas nas comunidades, sociedades e cidades. Pensando no conceito de pequenos núcleos urbanos, dentro da infraestrutura dos campi universitários, estes podem ser definidos como espaços com atividades similares às que acontecem nas cidades: espaços de convivência, alimentação, ensino, alojamentos, entre outras (Termignoni, 2012). O autor Milton Santos relaciona a natureza ao conceito de espaço e define pequenos núcleos urbanos como uma nova realidade urbana, uma pequena cidade ou dimensão espacial da sociedade com estrutura complexa extremamente atingida por níveis e determinações externas (Santos, 2014). Estes núcleos podem ser considerados vilas ou cidades locais que conservam práticas e valores característicos de áreas rurais, em que existe um maior contato com a natureza e preservação do meio ambiente, seja pela subsistência, entretenimento ou consciência ambiental (Mesquita, & Mendes, 2014). Oliveira (2009), apresenta uma relação direta entre o papel das IES e o Planejamento Urbano e Regional, afirmando que elas podem servir como referência ao praticarem o que ensinam, interferindo na infraestrutura das cidades e colaborando na redução da pegada de carbono. Aplicando o SGA em suas atividades cotidianas e em todas as suas dimensões, incorporando as práticas de sustentabilidade por meio de ações, métodos e técnicas adequadas, as IES contribuem para a construção de modelos urbanos mais resilientes e de sociedades ambientalmente justas e sustentáveis. A experiência adquirida pelas IES gera estudos e pesquisas de novas tecnologias, práticas voltadas ao desenvolvimento sustentável. Uma cidade inteligente, por exemplo, é um centro de ensino superior que promove uma vida criativa explorando o potencial humano. O desenvolvimento urbano sustentável só pode ser alcançado de forma inteligente, hábil, criativa, conectada e em rede (Albino, & Dangelico, 2015). O termo Cidades Inteligentes e Sustentáveis pode ser considerado como um conceito inovador e ainda pouco explorado na literatura científica nacional e internacional. A maioria dos autores que estuda a infraestrutura das cidades separa estes dois aspectos que poderiam caminhar interligados: inteligência e sustentabilidade. 37 Estudos de Ahvenniemi, Huovila, Pinto-Seppä, & Airaksinen (2017) procuram unir os dois aspectos e sugerem a utilização do termo cidades inteligentes e sustentáveis, queé uma terminologia recentemente adaptada. A sustentabilidade não pode ser esquecida no desenvolvimento da cidade inteligente, as tecnologias de inovação devem viabilizar o desenvolvimento urbano sustentável, de forma que os indicadores de sustentabilidade sejam incorporados aos quadros das cidades. O tema Cidades Inteligentes e Sustentáveis pode ser considerado uma nova maneira de se enxergar a cidade, mas, não é uma panaceia em relação aos problemas urbanos. Possui desafios conceituais e regulatórios, devido à união de dois termos: inteligente e sustentável, respectivamente o meio e o fim do sistema. A gestão inteligente, por meio de tecnologias e comunicação, tem o objetivo de viabilizar a sustentabilidade em todas as suas dimensões (Cortese, Kniess, & Maccari, 2017). De acordo com Batagan (2011), sistemas inteligentes facilitam o desenvolvimento sustentável por meio do uso eficiente dos recursos, para o desenvolvimento das cidades, a Economia deve ser baseada no conhecimento e em soluções inovadoras, criativas e inteligentes. Albino e Dangelico (2015), apresentaram alguns conceitos em que ambos os aspectos são contemplados e afirmaram que cidades inteligentes, por meio de soluções sustentáveis, devem atender às necessidades de seus indivíduos. Cabe aos governos se apropriarem da noção de inteligência para desenvolver políticas públicas com foco no desenvolvimento sustentável, prezando o crescimento econômico, mas sem deixar de lado as questões sociais. O conceito de Laboratório Vivo também pode ser aplicado ao contexto urbano, além do educacional, como um sistema de inovação aberto e centrado no usuário, projetado para lidar com os desafios multidimensionais das cidades, como uma ferramenta para compartilhar conhecimento, implementando e difundindo as inovações tecnológicas e o desenvolvimento urbano sustentável (Schliwa, 2013). As iniciativas de Laboratório Vivo para Sustentabilidade podem ser experimentadas e compartilhadas entre IES e cidades, oferecendo novos estilos de ensino e aprendizagem que contribuem para os desafios do desenvolvimento sustentável urbano (Evans, Jones, Karvonen, Millard & Wendler, 2015). Esta relação direta entre IES e cidades visa ao desenvolvimento sustentável contínuo, para ambas as partes, por meio da troca de experiências e tecnologias em gestão ambiental a partir do equilíbrio entre as dimensões da sustentabilidade. 38 2.2.2 Gestão ambiental no contexto educacional A gestão ambiental visa a diminuir o impacto das atividades econômicas nos recursos da natureza e pode colaborar para que IES se tornem referência em seu meio, na formação de indivíduos com “consciência ambiental”, atuantes em diversos setores da sociedade e no desenvolvimento sustentável das cidades (Termignoni, 2012). A Declaração de Talloires, já citada anteriormente, foi um marco para as IES se encaminharem rumo ao desenvolvimento sustentável, pois precedeu a assinatura de uma sequência de outras importantes declarações. A Figura 15 ilustra a linha do tempo das principais declarações e cartas internacionais que surgiram no período de 1990 a 2009. Figura 15 – Linha do tempo das principais declarações internacionais Fonte: Traduzida pela autora e adaptada de Tilbury (2011) Tilbury (2011), apresenta informações mais detalhadas e a importância das declarações citadas na Figura 1: 1. Declaração de Talloires - Secretariada pela Associação de Líderes Universitários para um Futuro Sustentável (ULSF) na França. Reuniu aproximadamente 400 universidades de várias regiões do mundo; 2. Declaração de Halifax – Consórcio de instituições canadenses e de outras regiões do mundo ligadas a ONU, com o propósito de dar forma ao desenvolvimento sustentável presente e futuro; 3. Declaração de Kyoto – Aconteceu no Japão e foi um chamado para que os membros do protocolo, localizados em várias regiões do mundo, refletissem sobre operações das melhores práticas do desenvolvimento sustentável nas IES; 4. Declaração de Swansea – Associação de universidades do governo australiano com foco em desenvolver mudanças em políticas públicas voltadas ao tema; 5. Carta para o Desenvolvimento Sustentável COPERNICUS - Associação de universidades europeias para atuação regional com um compromisso 39 institucional intenso, envolvendo a comunidade acadêmica na disseminação de conhecimentos sobre o tema; 6. Declaração de Luneburg - Parceria Global de Educação Superior para a Sustentabilidade (GHESP) envolvendo mais de mil universidades em todo o mundo, com o intuito de disseminar o conhecimento sobre desenvolvimento sustentável; 7. Declaração de Unbuntu – Secretariada pela união de várias associações, conselhos e academias de outras declarações citadas, com a intenção de desenvolver um inventário das melhores práticas e estudos de caso das IES de forma global, entre outros objetivos; 8. Declaração de Graz – Aconteceu na Áustria com o objetivo de comprometer as IES europeias com o desenvolvimento sustentável em suas estratégias e atividades; 9. Comunicado de Bergen – Secretariado pelos ministros da Educação na Comissão Europeia para promover o sistema europeu de ensino superior em nível mundial, com base no princípio do desenvolvimento sustentável; 10. Colegiado Europeu e Compromisso Climático de Presidentes das IES – Secretariado pela Associação para o Avanço da Sustentabilidade no Ensino Superior (AASHE), primeira associação da América do Norte (EUA e Canadá); 11. CRES - Declaração da Conferência Regional sobre Educação Superior na América Latina e no Caribe secretariada pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO); 12. Sapporo - Declaração de Sustentabilidade secretariada pela Rede Universitária do G8, visa à formação de líderes nas universidades que devem trabalhar em estreita colaboração com os gestores políticos; 13. Conferência Mundial sobre o Ensino Superior – Secretariada pela UNESCO visa a contribuir para educação de cidadãos éticos comprometidos; e 14. Declaração de Turim – Aconteceu na Itália secretariada pela Rede Universitária do G8 com foco em ecossistemas sustentáveis por meio da educação e pesquisa para o desenvolvimento sustentável e responsável. 40 O Brasil começou a dar indícios de atenção às questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável dentro das IES, a partir da Rio-92 e resultou no documento chamado Agenda 21 Global, que posteriormente, foi adaptado à realidade do país, sendo denominado Agenda 21 Brasileira, desenvolvido a partir das diretrizes do documento global (Termignoni, 2012). Nos processos de tomada de decisão, a sustentabilidade precisa ser abordada como uma dimensão que participa de todas as esferas que envolvem uma IES, por meio de uma metodologia em que ela possa ser implementada e avaliada (Vagnoni, & Cavicchi, 2015). A gestão ambiental universitária pode ser motivada por inúmeros quesitos, determinando um arcabouço de métodos para aplicação dos princípios de sustentabilidade em IES. Alguns deles são: posicionamento estratégico, redução de custos, responsabilidade social, razões éticas e morais, aquisição de benefícios, possibilidade de criar uma capacidade de mudança social, entre outros (Layrargues, & Lima, 2014). De acordo com Souza e Guimarães (2008), para que as IES possam contribuir com o desenvolvimento sustentável, de forma global, seus SGA precisam estar conectados em rede, a partir dos princípios que o termo constitui: horizontalidade, conectividade, multiliderança, diversidade e participação solidária, formando assim um movimento coletivo para que objetivos comuns sejam atingidos.Em 2007, no Pacto Global das Nações Unidas, foi criada uma plataforma baseada em princípios de engajamento global para o ensino de gestão responsável chamada Princípios para a Educação Empresarial Responsável (Bronzeri, & Cunha, 2014). A Figura 16 apresenta os seis princípios firmados entre IES com foco na educação para a sustentabilidade 41 Figura 16 – Seis princípios do Principles for Responsible Business Education (PRME) Fonte: Termignoni (2012, p. 67) As políticas ambientais visam a solucionar problemas de interesse público voltados às questões relacionadas ao meio ambiente, na busca de um equilíbrio entre exploração e preservação. Elas contemplam planos, ações, valores, metas e necessitam da participação de vários agentes para que sejam formuladas e implementadas, tais como: a sociedade civil, agentes públicos, acadêmicos, os veículos de comunicação, entre outros (Redin, & Silveira, 2012). Os planos ambientais das IES são desenvolvidos com o objetivo de planejar, praticar, orientar, institucionalizar e avaliar a sustentabilidade no campus, além de uma forma de comunicação com as partes interessadas. Para construção de políticas efetivas, planos que estimulem a inovação e reduzam os possíveis conflitos, o processo deve ser colaborativo, incluindo consulta e envolvimento das partes interessadas (Lidstone & Sherren, 2015). Para que exista comunicação entre as partes interessadas, a avaliação de sustentabilidade de um campus universitário precisa de indicadores que permitam medir o desempenho de suas ações e de políticas ambientais abertas e flexíveis que possibilitem mudanças e atualizações constantes. Estas políticas visam nortear os caminhos a serem seguidos pelo público interno e apresentar suas intenções ao público externo (Arroyo, 2015). 42 A Figura 17 ilustra o mapa das partes interessadas ou stakeholders de um CS e suas relações com as funções centrais de uma IES. Figura 17 – Mapa dos Stakeholders Fonte: Traduzida pela autora de Arroyo (2015) Os stakeholders, apresentados na Figura 17, estão divididos em duas redes: interna e externa, em que os atores interagem entre si e entre redes. Na rede interna, em que acontece o desenvolvimento, implementação e utilização das práticas sustentáveis, eles estão envolvidos nas operações diárias do campus, nas pesquisas relacionadas ao desenvolvimento sustentável e na gestão ambiental por meio da administração. Já a rede externa interage por meio de políticas públicas, compartilhamento de experiências e conhecimento com outras IES, apoio a projetos educacionais em parceria com Organizações Não Governamentais (ONGs) e com diversas outras trocas entre organizações (Arroyo, 2015). 2.2.3 Campus Sustentável, do discurso a prática Além do termo Campus Sustentável, outros como Campus Verde ou Eco Campus aparecem com frequência na literatura científica caracterizando o mesmo conceito. Neste estudo, os três termos foram considerados na pesquisa. Dea, Rosa e Sampaio (2010) entendem como Universidade Sustentável (US) a instituição que aplica os conceitos de sustentabilidade em seus campi levando a teoria à praxia, para contribuir com o desenvolvimento sustentável da sociedade, além de cumprir seu papel nas dimensões de ensino e pesquisa. Ela se empenha em conscientização e compartilhamento de experiências para minimização dos impactos ambientais e seus 43 efeitos. Para Too e Bajracharya (2015), o foco principal da implementação de um CS, geralmente, é envolver e promover a minimização dos impactos ambientais gerados por suas atividades, de forma a equilibrar o uso dos recursos naturais com as questões econômica, social, cultural e ligadas à saúde. As IES que incorporam a preocupação com a sustentabilidade em suas funções centrais, para que possam interagir por meio da comunicação e do engajamento, possibilitam que o desenvolvimento ambiental aconteça, de fato, dentro do campus. Bronzeri e Cunha (2014) dividem as funções de uma IES em quatro partes: ✓ Ensino, aprendizagem: formação dos futuros líderes e tomadores de decisão; ✓ Pesquisa: investigação de paradigmas, soluções e valores; ✓ Operações e infraestrutura: modelos e exemplos práticos; e ✓ Coordenação e comunicação com a sociedade (comunidade acadêmica e externa). Um estudo comparativo de Ceulemans, Lozano & Alonso-Almeida (2015) apresenta dados relevantes relacionados às práticas de sustentabilidade operadas mundialmente pelas IES. Os RS das instituições mostram que as universidades estão dando enfoque maior para a função operações do campus, as experiências no campus, também possuem um número significativo, como representado na Figura 18. Figura 18 – Resultados do inquérito sobre as funções centrais do sistema de ensino superior Fonte: Traduzida pela autora e adaptada de Ceulemans, Lozano & Alonso-Almeida (2015, p. 8892) 44 Os principais fatores que caracterizam um CS são: gestão de infraestrutura, utilização de conceitos ambientais para o desenvolvimento sustentável e campanhas ou programas para adoção de boas práticas. A combinação entre eles deve estar aliada à comunicação que proporciona uma melhor articulação entre a comunidade acadêmica e as estratégias de gestão ambiental (König, 2013). A Figura 19 apresenta um mapa mental das atividades em um campus universitário, considerando sua infraestrutura. Estas atividades trabalhadas como práticas de sustentabilidade podem caracterizar um CS. Figura 19 - Mapa mental das atividades em campus universitário Fonte: Adaptado de Dea, Rosa, & Sampaio (2010). Nos círculos coloridos, estão os aspectos principais que fazem parte do funcionamento de uma IES, cada um deles é desmembrado de forma a detalhar suas atividades. Os aspectos de entrada (inputs) são água, energia e materiais, os aspectos de saída (outputs) são resíduos e atmosfera. Já comunicação, extensão, pesquisa, educação ambiental e biodiversidade são considerados aspectos relativos à administração da IES. A figura contempla as quatro funções de uma IES, como citado anteriormente: ensino e 45 aprendizagem, pesquisa, operações e infraestrutura, e coordenação e comunicação com a sociedade. Estudos de Parrado e Trujillo Quintero (2015) concluem que, quando uma IES envolve e promove, de forma local e global, a minimização dos impactos ambientais, sociais e econômicos gerados pela ação humana em sua infraestrutura, seu campus pode ser considerado sustentável. Além de viabilizar o engajamento da comunidade acadêmica e externa, a IES sustentável precisa trabalhar em rede, não somente dentro do seu alcance e com suas partes interessadas, mas, também de forma a compartilhar suas abordagens em sustentabilidade com a comunidade e com outras universidades (Too, & Bajracharya, 2015). Em todo o mundo, manifestam-se comunidades universitárias a caminho de um campus mais responsável, socialmente justo e sustentável. Muitas delas se organizam por meio de redes e alianças com o objetivo de compartilhar suas experiências. As redes e alianças mais citadas em trabalhos científicos e nas plataformas relacionadas à sustentabilidade no ensino superior, estão localizadas na Europa e EUA. Uma das mais importantes é a Aliança Internacional das Universidades de Pesquisa (IARU), que possui IES membros em vários continentes: Oceania, Europa, Ásia, América, África e Ásia (International Alliance of Research Universities [IARU], 2016). IARU, que teve início em 2006 nos Estados Unidos, foi criada com o objetivo inicial de compartilhar atividades como estágios de verão, colaborações de pesquisa,melhores práticas de benchmarking e identificação sobre questões públicas fundamentais. Hoje, a aliança é formada por onze instituições membros, que possuem compromisso de desenvolver, aplicar e compartilhar práticas em estratégias de gestão ambiental nos seus campi, promovendo uma comunidade sustentável para Educação (IARU, 2016). De acordo com IARU (2016), após dez anos de formação, muitos avanços e significativas contribuições globais, os líderes das IES membros consideram que seus campi estão se tornando Laboratórios Vivos para Sustentabilidade, alegando que os resultados alcançados se deram em função do conhecimento compartilhado e dos esforços conjuntos que possibilitam que instituições de todo o mundo se beneficiem. A finalidade deste compromisso é construir uma comunidade ecologicamente alfabetizada e formar futuros líderes mundiais conscientes de seu papel na sociedade, com resultados sendo apresentados por meio de RS. 46 Como exemplos de IES internacionais, que vivenciam a sustentabilidade em seus campi com o objetivo de perdurar como um Laboratório Vivo para Sustentabilidade, podem ser evidenciadas as instituições membros da IARU. São elas: 1. Australian National University; 2. ETH Zurich 3. National University of Singapore; 4. Peking University; 5. UC Berkeley; 6. University of Cape Town; 7. University of Copenhagen; 8. University of Oxford; 9. The University of Tokio; 10. Yale University; e 11. University of Cambridge. O Brasil ainda está caminhando a passos lentos e possui apenas uma iniciativa similar à citada anteriormente que é a Rede Universitária de Programas de Educação Ambiental (RUPEA). A referida rede iniciou a sua formação em 1997 a partir da união de três universidades nacionais com a intenção de implementar programas de educação ambiental, atendendo apenas a sua área de abrangência. Atualmente, possui uma Carta de Princípios estabelecida, oito IES membros, e, aproximadamente, quinze em processo de aproximação (Rede Universitária de Programas de Educação Ambiental [RUPEA], 2016). Nacionalmente, algumas IES despontam como precursoras do SGA implementado na infraestrutura de seus campi, e muitas delas já fazem parte de um ranking internacional que as classifica em relação a sustentabilidade de seus campi, chamado Universitas Indonesia GreenMetric: World University Ranking on Sustainability (UI GreenMetric). Este ranking, iniciativa da Universitas Indonesia, foi lançado em 2010 com o objetivo de promover a sustentabilidade nas IES e chamar a atenção dos líderes universitários e stakeholders. Hoje, aproximadamente 500 IES de todo o mundo participam do ranking, que disponibiliza os resultados on-line sobre a atual situação e as políticas adotadas por cada campus avaliado, incentivando a troca de experiências entre as comunidades acadêmicas (UI GreenMetric, 2016). 47 Com base nos dados disponibilizados no site do UI GreenMetric (2016), as IES brasileiras que participam do ranking estão listadas na Tabela 2 com suas respectivas classificações, geral e por país, em 2016. Tabela 2 IES brasileiras no ranking UI GreenMetric CLASSIFICAÇÃO GERAL CLASSIFICAÇÃO BRASIL IES BRASILEIRAS 38° 1° Universidade Federal de Lavras 139° 2° Universidade Federal de Viçosa 157° 3° Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro 209° 4° Universidade Federal de São Carlos 217° 5° Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais 245° 6° Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 278° 7° Universidade de São Paulo 297° 8° Centro Universitário do Rio Grande do Norte 345° 9° Universidade do Vale do Itajaí 379° 10° Universidade Federal de São Paulo 386° 11° Universidade Federal de Itajubá 403° 12° Pontifícia Universidade Católica de Campinas 428° 13° Universidade Estadual de Maringá 492° 14° Universidade Federal de Pernambuco Nota. Fonte: Elaborada pela autora e adaptada de UI GreenMetric (2016) As cinco primeiras colocadas na última classificação divulgada pelo ranking geral estão apresentadas na Tabela 3 Tabela 3 IES internacionais no ranking UI GreenMetric CLASSIFICAÇÃO GERAL IES INTERNACIONAIS PAÍS 1° University of California Davis EUA 2° University of Nottingham Inglaterra 3° Wageningen University & Research Holanda 4° University of Connecticut EUA 5° University of Oxford Inglaterra Nota. Fonte: Elaborada pela autora e adaptada de UI GreenMetric (2016) 48 Este é o único ranking encontrado, até o momento, que avalia os campi universitários por meio dos princípios da sustentabilidade e o Brasil está bem colocado, entre as quarenta IES mais sustentáveis do mundo. 2.2.4 Laboratório Vivo para Sustentabilidade e seu papel na IES Laboratório Vivo pode ser considerado como uma forma aberta de inovação experimental e colaborativa, envolvendo partes interessadas (empresas, instituições, órgãos públicos ou privados, comunidades, pessoas) em formar parcerias para que possam compartilhar práticas, conhecimentos, pesquisas, e até mesmo recursos. Este é um conceito que começou a surgir na década de 1990, mas só foi disseminado a partir do ano de 2006, podendo ser discutido por meio de variadas perspectivas e abordagens (Veeckman et al., 2013). The Association for the Advancement of Sustainability in Higher Education [AASHE] (2014) delimitou o conceito aplicado ao tema central deste trabalho, CS como Laboratório Vivo. Aprimorando a sustentabilidade no campus, as IES que utilizam sua infraestrutura e práticas em operação como ambiente de aprendizagem e vivência, fazem com que seus estudantes e funcionários apliquem estes conhecimentos adquiridos em seu cotidiano e repliquem para a comunidade externa. Para König (2013), um Laboratório Vivo para Sustentabilidade caracteriza uma forma de vivência no campus que proporciona experiências ativas e criativas, gerando comunidades de aprendizagem. São muitas as perspectivas envolvidas, já que o desenvolvimento sustentável está inserido no currículo das IES, tais como: mudar a prática social, o ambiente construído, sistemas operacionais e resolver problemas no campus. Os Laboratórios Vivos de Sustentabilidade podem ser considerados como uma forma de gestão experimental, gerando soluções que contribuem para os desafios de sustentabilidade. Preparam os estudantes para a realidade do competitivo mercado de trabalho, promovendo a integração dos mesmos com outros stakeholders, objetivando produzir conhecimento sobre novas tecnologias e serviços de sustentabilidade (Evans et al., 2015). O espaço geográfico do campus que funciona como um Laboratório Vivo para Sustentabilidade pode ser considerado uma arena, desempenhando um papel fundamental na parceria entre setores: públicos, privados, sociedades e indivíduos (Voytenko, McCormick, Evans & Schliwa, 2016). 49 Schliwa (2013) estabelece uma ligação importante ao afirmar que Laboratórios Vivos são uma ferramenta de gestão urbana, uma infraestrutura de investigação integrada que impulsiona a inovação. Por meio desta ferramenta, tanto as cidades quanto os campi universitários funcionam como tablado para experiências da vida real, propiciando transições urbanas sustentáveis. A Figura 20 mostra o esquema de funcionamento de um campus universitário como Laboratório Vivo para Sustentabilidade, em que as principais funções de uma IES interagem por meio da comunicação e engajamento dos atores. Figura 20 – Esquema de funcionamento do campus como Laboratório Vivo Fonte: Marcelino (2016, p.31) Na opinião dos autores Eriksson,
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