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Desamparo-sobre-depressão,-desenvolvimento-e-morte---Martin-E.-P.-Seligman

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MARTIN E. P. SELIGMAN
Universidade da Pensilvânia 
DESAMPARO 
Sobre Depressão, Desenvolvimento e Morte 
Tradução de 
Maria Teresa de Araujo Silva 
com a colaboração de 
Sílvio Morato de Carvalho 
IhIIU IllI 
N087839 
EDITORA DE HUMANISMO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA "HUCITEC" LTDA. 
EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
São 
(c) Direitos autorais, 1975, de Martin E. P. Seligman. Publicado 
originalmente nos Estados Unidos da América por W. H. Freeman 
and Company, San Francisco e Londres. Todos os direitos reservados. 
Direitos reservados, para a língua portuguesa, pela Editora de 
Humanismo, Ciência e Tecnologia HUCITEC Ltda., Alameda Jaú, 404, 
01420 São Paulo, SP, Brasil, Telefone (011) 287-1825. Capa de Luís Díaz. 
Serviços gráficos da Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, S.A., 
Rua Conde cio Sarzedas, 38, 01512 São Paulo, SP. 
Dedicado a meu pai, Adrian Seligman (1906-1972), 
CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte 
Câmara Brasileira cio Livro, Sp que conheceu bem a luta contra o desamparo. 
Seligman, Martin E. P., 1942- 
S467d Desamparo: sobre depressão, desenvolvimento 
e morte; tradução de Maria Teresa de Araújo 
Silva; com a colaboração de Sílvio Morato de 
Carvalho. São Paulo, HUCITEC, Ed. da 
Universidade de São Paulo, 1977. 
Bibliografia. 
1. Depressão mental 2. Desamparo (Psicologia) 
1. Título. 
CDD-616 .8528 
457.38 
77-1237 NLM-WM 174 
Indices para catálogo sistemático: 
1. Depressões mentais : Medicina 616.8528 
2. Depressões mentais : Psicologia 157.38 
3. Desamparo : Psicologia 157.38 
4. Desamparo : Psiconeuroses : MedIcina 616.8528 
NOTA DA EDIÇÃO BRASILEIRA 
Adotou-se para "helplessness" o termo "desamparo", seu equivalente literal. Entretanto, o leitor perceberá que desamparo, no contexto deste livro, tem um sentido 
mais amplo do que seu uso comum sugere. Refere-se, de um lado, à falta de amparo externo, na situação de desamparo real, em que a pessoa não tem controle sobre o 
que ocorre. Mas refere-se também, e principalmente, à falta de amparo subjetivo, falta de recursos internos, de força para agir ou pensar. Impotência talvez exprimisse 
melhor essa acepção de falta de poder, de auto-abandono; seu uso, porém, já está por demais comprometido com a conotação sexual. Outros termos, como desalento, desânimo, 
incompetência, realçam seletivamente um dos aspectos do desamparo - emocional, motivacional, ou cognitivo - em detrimento dos outros. A adoção de uma palavra composta, 
como autodesani paro, foi rejeitada por soar algo rara e rebuscada num texto que prima pelo esforço de clareza e simplicidade. 
MARIA TERESA DE ARAUJO SILVA 
XI 
L 
íNDICE 
Prefácio para a Edição Brasileira vii 
Nota da Edição Brasileira Dc 
Prefácio 1 
Capítulo Um 
INTRODUÇÃO 5 
Depressão 5 
Menina de Ouro 6 
Ansiedade e Imprevisibilidade 6 
Malogro na Infância 7 
Morte Psicossomática Súbita 8 
Capítulo Dois 
CONTROLABILIDADE 12 
Respostas voluntárias 13 
Independência de Resposta e Contingência de Resposta 15 
Os experimentos sobre superstição 20 
Capítulo Três 
ESTUDOS EXPERIMENTAIS 22 
O Desamparo Solapa a Motivação Para Iniciar Respostas 23 
Desamparo adquirido em cães 23 
O planejamento de triades 25 
Deficiências motivacionai.s em várias espécies animais . 27 
Generalidade do desamparo entre situações 31 
O Desamparo Prejudica a Capacidade de Aprender 36 
O Desamparo Produz Distúrbios Emocionais 39 
Capítulo Quatro 
TEORIA: CURA E IMUNIZAÇÃO 44 
Enunciado da Teoria 44 
Distúrbio motivacional 47 
XIII 
Distúrbio cognitivo . Distúrbio emocional . 
Cura e Prevenção . Limites do desamparo 
Teorias Alternativas 
Respostas motoras competitivas 
Adaptação, exaustão emocional e sensibiliza ção 
Abordagens Fisiológicas do Desamparo 
Capítulo Cinco 
DEPRESSÃO 
Tipos de Depressão 
O Desamparo Adquirido Como Modelo de Depressão 
Regras básicas 
Sintomas da depressão e do desamparo adquirido 
Etiologia da depressão e do desamparo adquirido 
Especulações sobre sucesso e depressão 
Cura da depressão e do desamparo adquirido 
Prevenção da depressão e do desamparo adquirido Sumário 
ANSIEDADE E IMPREVISIBILIDADE 
Definição de Imprevisibilidade 
Ansiedade e a Hipótese do Sinal-de-Segurança 
A hipótese do sinal-de-segurança 
Imprevisibilidade e Observação de Medo 
Úlceras Estomacais 
Preferência por Previsibilidade 
Relação Entre Previsibilidade e Controlabilidade 
Auto-administração 
Percepção de controle 
Dessensibilização Sistemática e Incontrolabilidade 
Conclusão 
Capitulo Sete 
DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL E EDUCAÇÃO 
A Dança do Desenvolvimento 
Reaferência 
Privação Materna 
Previsibilidade e Controlabilidade na Infância e Adolescência 
A sala de aula 
Pobreza 
Capítulo Oito 
MORTE 151 
Morte por Desamparo em Animais 153 
Morte por Desamparo em Seres Humanos 159 
Desamparo institucionalizado 
Morte por desamparo na velhice 
Morte em crianças e depressão anaclítica Conclusão 
NOTAS 173 
BIBLIOGRAFIA 187 
INDICE DE NOMES 211 
INDICE DE ASSUNTOS 217 
164 
167 
169 
170 
Capítulo Seis 
49 
51 
53 
57 
59 
59 
62 
64 
71 
73 
74 
75 
77 
87 
90 
93 
97 
98 
100 
101 
104 
104 
106 
108 
112 
114 
115 
118 
119 
122 
123 
125 
129 
131 
138 
139 
145 
XIV 
XV 
PREFÁCIO PARA A 
EDIÇÃO BRASILEIRA 
Em outubro de 1976, durante a VI Reunião Anual da Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto, assisti a um simpósio sobre diferentes perspectivas em Biopsicologia. 
Presenciei então um conflito de ideologias. Skinnerianos advogavam a análise experimental do comportamento. Etólogos defendiam a observação do comportamento natural, 
e o problema de função. Psicólogos cognitivistas pregavam a importância dos estados mentais. Chomskianos nos relembravam que o comportamento é gerativo e governado 
por regras. E assim por diante. Como em conflitos desse tipo que eu já vira em outros tempos e outros lugares, cada escola defendia sua própria perspectiva e ignorava, 
ou pelo menos subestimava, a utilidade das outras. 
Percebi, então, talvez pela primeira vez a que "escola" eu pertencia. À de Sherlock Holmes. Encontra-se um corpo, houve um assassinato. Quem matou? O papel do detetive 
é sair atrás dos assassino. Há inúmeros indícios, de diferentes modalidades: 
a posição do corpo, o comportamento bizarro da vítima na véspera, o estado de espírito de sua esposa, as pegadas no quarto, a anatomia da ferida, o estado da conta 
bancária do herdeiro, O detetive pode até fazer experimentos: reconstruir o crime e observar as reações emocionais das pessoas envolvidas. Alguns indícios são melhores 
do que outros, mas não há sequer um deles, e muito menos nenhuma classe de indícios, que possa ser ignorada, pois houve um crime e um elemento perigoso está à solta. 
Imaginem uma escola de pensamento que tentasse ditar regras a Holmes: 
"O estado de espírito não é uma indicação válida", ou "a fisiologia não conta", ou "a história de reforço do herdeiro não conta". "Ridículo", replicaria Holmes, 
"devemos usar todos os indícios". 
Ix 
Muitos problemas psicológicos são como assassinatos. Há um fenômeno real, o cadáver. Algo causou o evento, houve um crime. O papel do psicólogo é descobrir o que 
causou o fato. Indícios há, em abundância, de diferentes espécies e diferente validade. Mas todos precisam ser verificados. Excluir uma classe de indícios, com base 
em argumentos filosóficos, é obstruir a solução. 
Este livro, Desamparo, pertence à escola de psicologia sherlokiana. Houve assassinato. O desamparo é um fenômeno real. As vítimas podem ser pessoas deprimidas, animais 
enjaulados, pessoas idosas, e mesmo nações inteiras. Qual a sua causa? Quais as suas conseqüências? Existem, em abundância, indícios comportamentais, estados de 
espírito, indícios fisiológicos, indícios emocionais, indícios antropológicos, indícios econômicos. Experimentos, relatos anedóticos, observações sistemáticas, todos 
oferecem elementos relevantes para a compreensão. Alguns indícios são mais
fortes do que outros, mas todos nos ajudam a chegar ao criminoso. 
Fico feliz em ver que o livro agora é acessível aos leitores brasileiros, e alegro-me que ele tenha sido traduzido por meus amigos e estimados colegas, Maria Teresa 
Araujo Silva e Sílvio Morato de Carvalho. Tivemos, os três, excelente entendimento quando de minha estada no Brasil, e agora compartilhamos do desejo de compreender 
e ajudar a vencer o fenômeno do desamparo. 
MARTIN E. P. SELIGMAN 
1.0 de fevereiro de 1977 
Filadélfia 
x 
PREFÁCIO 
São várias as razões que levam as pessoas a se envolver com psicología. Algumas são atraídas pela elegância de um sistema simples, outras pelos hábitos de uma determinada 
espécie animal, outras ainda pela possibilidade alarmante de assumir controle sobre outras pessoas. Pessoalmente, fiz da psicologia minha profissão com a finalidade 
de compreender melhor uma única espécie: o homem. 
Não é de muito bom-tom para um teórico da aprendizagem e psicólogo comparativo admitir isso; e, no entanto, é verdade. Embora tenha despendido muito tempo trabalhando 
com espécies outras que não o homem, e meditando sobre processos simples, sou também psicolólogo clínico, e como tal tenho observado outros seres humanos e me relacionado 
com eles, tanto em situações experimentais como em situações clínicas. Essas duas facetas do meu trabalho - a experimental e a clínica - estão profundamente interligadas, 
pois acredito que a compreensão de outras espécies e de processos simples é importante para a compreensão de processos complexos no homem. Mais do que importante 
- é essencial. Essa é uma das maneiras de apresentar o tema deste livro. Ë uma tentativa de analisar o desamparo humano, .em seus múltiplos aspectos, aplicando teoria 
e conhecimentos de valia originados de laboratório. 
Durante setenta e cinco anos os psicólogos experimentais, do isolamento de seus laboratórios, emitiram um sem número de notas promissórias. Garantiam essas promissórias 
que a compreensão de processos simples, espécies inferiores, e situações experimentais altamente controladas, lançaria luz sobre problemas reais, em particular sobre 
a psicopatologia humana. O que se segue é minha tentativa de começar a pagar esse débito. 
Como grande parte do conteúdo deste livro provém de experimentação, é preciso que eu diga algumas palavras sobre ética. 
1 
2 fl,qÁTPÁT,O 
T 
Muitos dos experimentos que vou descrever poderão parecer cruéis, especialmente para quem não é cientista: privam-se pombos de alimento, aplica-se choque elétrico 
em cães, mergulham-se ratos em água gelada, separam-se filhotes de macaco de suas mães, tolhe-se a liberdade de todos os animais experimentais ao confiná-los em 
gaiolas. Serão tais manipulações justificáveis do ponto de vista ético? A meu ver, de uma maneira geral, são mais do que simplesmente justificáveis: para cientistas 
cujo dever maior é aliviar o sofrimento humano, não fazê-las é que seria injustificável. Na minha opinião, todo cientista deve se fazer uma pergunta, antes de realizar 
qualquer experimento com um animal: existe alguma probabilidade de que a dor e as privações por que esse animal vai passar sejam compensadas pelo conseqüente alívio 
de dores e privações humanas? Se a resposta é afirmativa, o experimento está justificado. 
Qualquer pessoa que tenha tido contacto com pacientes extremamente deprimidos ou com adultos esquizofrênicos pode avaliar a extensão do seu sofrimento; a posição 
de algumas pessoas contra experimentos com animais traduz a ignorância da condição deplorável de seus semelhantes. Excluir esse tipo de pesquisa é entregar milhões 
de seres humanos à perpetuação de seu sofrimento. Muitos homens, assim como muitos animais de estimação, se hoje estão vivos é graças a experimentos com animais, 
realizados com finalidades médicas; sem esses estudos, os índices de poliomielite ainda seriam assustadores, a varíola grassaria com seu alto risco de letalidade, 
e as fobias seriam incuráveis. Quanto aos estudos discutidos neste livro, creio tratar-se de experimentos que se justificam pelo que nos levaram a aprender sobre 
depressão, ansiedade, morte súbita, e sua cura e prevenção. 
A elaboração deste livro levou dez anos. Inúmeras pessoas contribuíram para sua realização, colaborando comigo nos experimentos, levantando discussões, ensinando 
e orientando, dando assistência. Faço meu agradecimento em ordem cronológica. 
De 1964 a 1967, fui aluno de pós-gradução no Departamento de Psicologia da Universidade de Pensilvânia. Richard L. Solomon e 1. Bruce Overmier foram os que primeiro 
despertaram meu interesse pelo fenômeno do desamparo; Bruce colaborou com Russeli Leaf nos primeiros experimentos e trabalhou comigo durante meu primeiro ano, e 
seu último, de pós-graduação. Neste mesmo ano Steven F. Maier e eu começamos três anos de trabalho conjunto sobre desamparo; realizamos os primeiros estudos que 
tratavam deliberadamente do desamparo e formulamos os rudimentos da teoria apresentada neste livro. James Geer cola- 
borou com Steve e comigo na terapia do desamparo. Durante esses três anos tantas pessoas nos ensinaram, leram nossos manuscritos, e nos orientaram, que receio ter 
esquecido alguns. Dentre eles estavam Francis Irwin, Robert Rescorla, J. Brooks Carder, Henry Gleitman, Vincent LoLordo, Frank Norman, Joseph Wolpe, Arnold Lazarus, 
Jack Catlin, Lynn Hammond, David Williams, Morris Viteles, Nicholas MacKintosh, Elijah Lovejoy, Phillip Teitelbaum, Larry Stein, J. Paul Brady, Julius Wishner, Martin 
Orne, Peter Madison, Joseph Bernheim, Lucy Turner, Jay Weiss, Vivian Paskal, Paul Rozin, Justin Aronfreed, Albert Pepitone, e, principalmente, Richard Solomon, que 
foi o orientador de minha tese de doutoramento. 
De 1967 a 1969, lecionei na Universidade de Corneli, e continuei a experimentação sobre desamparo. Nesse período, foi dos estudantes que recebi a maior parcela de 
colaboração e estímulo intelectual: dentre eles estavam Robert Radford, Dennis Groves, Suzanne Johnson Taffel, Bruce Taffel, James C. Johnston, Susan Mineka, Charles 
Ives, Dorothy Brown, Irving Faust, Leslie Schneider, Anne Roebuck, Bruce Meyer, Joanne Hager, Chris Risley, Charles Thomas, Marjorie Brandriss, Ron Hermann, Richard 
Rosinski, e Martha Zaslow. Outros que agitaram debates, deram sugestões, ou leram manuscritos foram Steve Jones, Ulric Neiser, Harry Levin, Fred Stollnitz, Bruce 
Halpern, Cari Sagan, Steve Emlen, Randy Gailistel, Jerome Bruner, David Thomas Henry Alker, Abe Black, F. Robert Brush, Russel Church, Byron Campbell, Eric Lenneberg, 
e Neal Miller. Muitas das idéias contidas neste livro nasceram de conversas com essas pessois ou de trabalhos feitos em colaboração com elas. Até 1970, meus estudos 
foram subvencionados pelo auxílio MH 16546 do Public Health Service. 
Meus alunos me convenceram de que nossos experimentos eram altamente relevantes para a compreensão de problemas clínicos, particularmente depressão e ansiedade, 
e me incentivaram a adquirir um conhecimento direto de pacientes e de psicopatologia. Em conseqüência, obtive afastamento da Universidade de Corneli em 1970, a fim 
de trabalhar no Departamento de Psiquiatria da Universidade de Pensilvânia. Aaron T. Beck e Albert J. Stunkard, em especial, garantiram minhas condições de trabalho, 
além de me proporcionarem seu estímulo e seus ensinamentos como professores. Muito aprendi sobre psicopatologia nesse ano; foi quando realmente comecei a escrever 
este livro. Dentre meus professores e orientadores estavam Dean Schuyler, James Stinnet, Igor Grant, Ellen Berman, J. Paul Brady, Burton Rosner, Reuben Krone, Joseph 
Mendeis, Alan Fraser, Lester Luborsky, Tom 
2 
3 
Todd, Henry Bachrach, Rochel Gelman, Peter Brili, e Stephanie e Jim Cavanaugh. Desde 1970 minha atividade de pesquisa tem sido subvencionada pelo auxílio MH 19604 
do Public Health Service. Também sou grato pelo apoio financeiro de Louise Harper em 1970-1971. 
Foi uma alegria passar definitivamente, em 1971,
para o Departamento de Psicologia da Universidade de Pensilvânia. O estímulo intelectual ali é tão constante que 
praticamente não há um único membro do departamento de cujo convívio eu não me tenha beneficiado. Meus alunos e colaboradores nos últimos quatro anos têm sido uma 
bênção: William Miller, Yitzchak Binik, David Klein, Donald Hiroto, Robert Rosellini, Lyn Abramson, Linda Cook, Gwynneth Beagley, Robert Hannum, Peter Rapaport, 
James C. Johnston, Susan Mineka, Lisa Rosenthal, Michael Gurtman, Larry Clayton, Diana Strange, Michael Kozak, Harold Kurlander, Ellen Fencil, Martha Stout e Sherry 
Fine. 
Outras pessoas que deram auxílio e sugestões úteis na formulação de idéias para este livro foram Alan Kors, Judy Rodin, Jerre 
Levy, T. George Harris, Joyce Fleming, Ed Banfield, Robert 
Nozick, Mark Adams, Gerald Davison, Maj. F. Harold Kushner, 
Barry Schwartz, Elkan Gamzu, Michael Parrish, Kayla Friedman, 
Kate O'Hare, Janet Greenberg, David Rosenhan, Mike D'Amato, 
Perrin Cohen, Alan Teger, e Debby Kemler. 
W. Hayward Rogers, da W. H. Freeman and Company, e Lawrence Eribaum, da Lawrence Erlbaum Associates, foram os editores que me encorajaram a escrever o livro em sua 
presente forma. Comentários muito úteis sobre a versão final do manuscrito foram feitos por Barry Schwartz, Phil Zimbardo, Jonathan Freedman, e Edward Banfield, 
a quem sou muito grato. Um agradecimento especial é devido a Andrew Kudlacik, da W. H. Freeman and Company, que fez o trabalho editorial do manuscrito. O trabalho 
de secretaria, paciente e cuidadoso, esteve nos últimos anos a cargo de Victoria Raybourne, Dorothy Lynn, Marguerite Wagner, Nancy Sawnhey, Lyn Brehn, Carolyn Suplee 
e Deborah Mulier. 
Uma pessoa - minha mulher Kerry - leu todas as palavras deste livro várias vezes, e reescreveu muitas delas. Seu apoio, inspiração e confiança, ao longo da década 
em que este livro foi escrito, merecem um reconhecimento maior do que sou capaz de exprimir. O amor de minha mãe, Irene, e de meus filhos Amy e David, se bem que 
às vezes me distraísse, tornou o caminho todo muito mais suave. 
MARTIN E. P. SELIGMAN 
Agosto de 1974. 
4 
Capítulo Um 
INTRODUÇÃO 
DEPRESSÃO 
Recentemente uma senhora de meia-idade me procurou para fazer psicoterapia. Cada dia é uma luta, dizia ela, só para continuar de pé. Nos seus maus dias ela não consegue 
nem mesmo sair da cama, e quando o marido chega à noite vem encontrá-la ainda de pijama, o jantar por fazer. Chora muito. Mesmo quando bem disposta é assaltada por 
idéias de fracasso e autodepreciação. Tarefas banais, como fazer compras ou se vestir, lhe parecem difíceis, e qualquer obstáculo, por menor que seja, representa 
uma barreira intransponível. Quando lembrei a ela que era uma mulher atraente e sugeri que saísse e comprasse um vestido novo, respondeu: "Isso está acima das minhas 
forças. Teria que cruzar toda a cidade de ônibus, e certamente acabaria me perdendo. Mesmo que chegasse até a loja não conseguiria encontrar um vestido que me servisse. 
Aliás, de que me adiantaria tudo isso, se sou tão feia e desajeitada?" 
Fala e anda lentamente, e seu rosto tem uma expressão muito triste. Até o semestre passado ela era uma pessoa viva, ativa, presidente da Associação de Pais e Mestres 
de seu bairro, esplêndida anfitriã, jogadora de tênis, e poetisa nas horas vagas. Duas coisas aconteceram então: seus filhos gêmeos saíram de casa para fazer faculdade, 
e seu marido foi promovido para um cargo de muito maior responsabilidade em sua firma, um cargo que o obrigava a ausentar-se de casa mais freqüentemente. Agora ela 
passa horas matutando se a vida vale a pena, e chegou a considerar a idéia de tomar o vidro inteiro de pílulas antidepressivas de uma vez só. 
5 
MENINA DE OURO 
Nancy entrou para a faculdade com um excelente currículo. Fora representante e oradora de sua classe, e era benquista e requestada. Tudo que desejava sempre lhe 
caía do céu; boas notas não eram problema, e os rapazes se atropelavam competindo por sua atenção. Era filha única e mimada, seus pais se precipitavam no empenho 
de satisfazer-lhe todos os caprichos; o sucesso de Nancy era seu triunfo, o fracasso sua agonia. Seus amigos a chamavam "Menina de Ouro". 
Quando a conheci, em seu segundo ano de faculdade, já não era mais a Menina de Ouro. Disse que se sentia vazia, que nada mais a comovia; achava as aulas maçantes 
e todo o sistema acadêmico parecia uma conspiração opressiva para sufocar sua criatividade. No semestre anterior havia sido reprovada em duas matérias. Tinha "andado" 
com uma série de rapazes e estava agora vivendo com um jovem que não trabalhava nem estudava. Sentia-se explorada e rebaixada após cada aventura sexual; seu relacionamento 
atual não ia bem, e ela não sentia nada a não ser desprezo pelo rapaz e por si própria. Tinha consumido drogas suaves à larga, e houve tempo em que apreciava uma 
"curtição". Mas agora nem mesmo as drogas lhe despertavam interesse. 
Nancy estava cursando Filosofia e sentia forte atração pelo existencialismo; como os existencialistas, acreditava que a vida é absurda e que cabe às pessoas dar-lhe 
sentido. Essa crença só lhe trazia desespero. Seu desespero aumentava quando percebia suas próprias tentativas de criar um sentido de vida - participação em movimentos 
pró liberação feminina ou contra a guerra no Vietnam 
- como absolutamente inúteis. Quando lhe fiz ver que havia sido uma aluna talentosa e que ainda tinha valor e atrativo como ser humano, ela rompeu em lágrimas: "Enganei 
você, também". 
ANSIEDADE E IMPREVISIBILIDADE 
À medida que escrevo, desenrola-se na coluna de "cartas do leitor" da seção de turismo do New York Times um curioso debate ('). Na realidade, embora possa parecer 
uma tempestade em copo d'água, esse debate é de considerável importância teórica e prática. A Sra. Samuels, que tinha viajado de Los Angeles a Nova York em um Boeing 
747, escreveu ao Times apresentando uma reclamação. Ë que, quando o avião sobrevoava as Montanhas Rochosas e ela esperava pelo almoço, anunciaram que o avião faria 
uma escala imprevista em Chicago, por "razões operacionais". 
Alguns minutos depois o piloto voltou a falar: "Alguns passageiros estão querendo um esclarecimento quanto ao significado preciso de 'razões operacionais'. Um dos 
motores falhou, de modo que será necessária uma escala intermediária, por razões de segurança. Evidentemente poderíamos chegar até Nova York mesmo que só nos sobrassem 
dois motores". 
A Sra. Samuels relatou que esse aviso gerou considerável alarme, e argumentou que os passageiros, se estavam pagando para que o piloto tomasse as decisões, deveriam 
ter sido poupados das informações sobre os problemas do vôo; tanto mais que não podiam fazer nada na situação, a não ser ficar com pressão alta. Concluiu perguntando: 
"Gostaria de saber quanto leitores simpatizam com meus sentimentos a respeito da informação gratuita do piloto - sabendo-se que o problema não era na verdade tão 
dramático, como afirmaram. Por outro lado, quantos acham que seus direitos civis estão sendo violados se não forem informados de nada?" O interessante da questão 
é que a maioria dos leitores que responderam afirmou que, numa situação difícil em que eventualmente se encontrasse, gostaria de saber de tudo. 
MALOGRO NA INFÂNCIA 
Vitor é um menino de nove anos de extraordinária inteligência 
- pelo menos é o que pensam a mãe e os amigos. Sua professora, no terceiro ano de uma escola pública só para negros em Filadélfia, discorda veementemente. Em casa, 
Vitor é um menino esperto, atento ao que se passa em seu redor, falante e extrovertido. Na rua, entre os amigos, é reconhecidamente o líder; embora seja um pouco 
mais baixo que seus companheiros, sua vivacidade e imaginação compensam de longe a diferença de altura. Na sala de aula, porém, ele é um problema. 
Quando começou a aprender a ler, no jardim da infância e no primeiro ano, Vitor não se saiu muito bem. Tinha boa vontade, mas simplesmente não estava preparado
para 
apreender a conexão entre palavras escritas no papel e palavras faladas. No começo ele se esforçava, mas não fazia muito progresso; propunha-se voluntariamente a 
responder, mas suas respostas estavam sempre erradas. Quanto mais errava, menos se esforçava; cada vez falava menos em classe. No segundo ano, embora participasse 
ativamente das aulas de música e arte, ficava imediatamente de mau humor quando chegava a hora de leitura. Sua professora lhe passou exercícios especiais de recuperação 
por algum tempo, mas ambos logo desistiram. Nessa altura ele talvez já estivesse na fase adequa- 
6 
7 
da de prontidão para a leitura, mas a simples imagem de uma cartilha ou de uma palavra impressa era suficiente para desencadear um acesso de raiva ou de mau humor. 
Essa atitude começou a se generalizar para o resto do seu dia na escola. Vitor oscilava entre apático e bagunceiro. 
No verão passado aconteceu algo de espantoso. Dois psicólogos de uma universidade vizinha foram à escola com o objetivo de ensinar "crianças-problema" a ler. Vitor, 
obviamente, foi incluído. Como de costume, não fez progresso algum, embirrando só de ver uma frase escrita no quadro negro. Os pesquisadores resolveram, então, tentar 
um esquema diferente: desenharam um caracter chinês na lousa e disseram que significava "faca". Vitor aprendeu imediatamente. Depois desenharam outro, que significava 
"afiada". Vitor aprendeu esse também. Em poucas horas Vitor estava lendo parágrafos inteiros em inglês, disfarçados de chinês. Findo o verão, os pesquisadores voltaram 
para a universidade. Vitor tem agora um vocabulário de 150 caracteres chineses, mas não consegue ler nem escrever em inglês. Os problemas disciplinares estão cada 
vez mais insuportáveis, e sua nova professora acha que ele é retardado mental. 
MORTE PSICOSSOMÁTICA SÚBITA 
Em 1967, uma mulher profundamente perturbada, pedindo socorro, foi internada no Hospital Municipal de Baltimore alguns dias antes de seu vigésimo-terceiro aniversário. 
Ao que parece, ela havia nascido numa sexta-feira, dia treze, no Pantanal de Okefenokee. No mesmo dia, na mesma cidade, assistidas pela mesma parteira, nasceram 
duas outras meninas. A parteira amaldiçoou as três crianças, declarando que uma delas morreria antes de completar dezesseis anos, outra antes de completar vinte 
e um, e a terceira antes dos vinte e três. A primeira tinha morrido em um acidente de automóvel durante seu décimo-quinto ano de vida; a segunda fora atingida por 
um disparo acidental durante uma briga de boate no dia do seu vigésimo-primeiro aniversário, vindo a falecer. Agora ela, a terceira, esperava aterrorizada pela sua 
própria morte. O hospital colocou-a em observação, com um certo ceticismo. Na manhã seguinte, dois dias antes de seu vigésimo- 
-terceiro aniversário, ela foi encontrada morta em seu leito hospitalar - causa física desconhecida (2) 
O que há de comum em todos esses exemplos? Todos eles mostram aspectos de desamparo humano. Na medida em que o leitor 
8 
for capaz de compreendê-los melhor ao final do livro, terei alcançado meu propósito. O que se segue é um resumo do objetivo e conclusão de cada capítulo, numa exposição 
do plano geral do livro. 
A fim de lidar com problemas tais como morte súbita, depressão, ansiedade e imprevisibilidade de perigo, malogro infantil e desenvolvimento motivacional, o leitor 
deve, em primeiro lugar, dominar certos conceitos necessários à compreensão do desamparo. No próximo capítulo, os conceitos de desamparo e incontrolabilidade são 
definidos, analisados, e inseridos no contexto da teoria de aprendizagem. Definido assim o objeto de estudo, o leitor passará, no Capítulo Três, aos experimentos 
mais relevantes que foram feitos sobre desamparo. Os experimentos de laboratório que produzem desamparo acarretam três deficiências: destro em gradativamente a motivação 
para responder, retardam a capacidade de aprender que uma determinada resposta é eficiente, e resultam em distúrbios emocionais, principalmente depressão e ansiedade. 
No Capítulo Quatro, proponho uma teoria unificada integrando os distúrbios motivacionais, cognitivos, e emocionais estudados nos experimentos básicos sobre desamparo. 
Além disso, a teoria propõe formas de cura e prevenção do desamparo. O leitor ficará sabendo como essa teoria foi testada e examinará outras posições teóricas sobre 
desamparo, bem como algumas perspectivas fisiológicas. Esse capítulo completa a base conceitual e experimental que permite ao leitor, na segunda metade do livro, 
analisar minuciosamente os tópicos sobre depressão, ansiedade, desenvolvimento emocional, e morte psicossomática súbita. 
O quinto capítulo trata da depressão no homem, e nele se traçam paralelos entre a depressão humana no mundo real e o desamparo no laboratório, paralelos esses que 
se impõem como resultado tanto de observação como de experimentação. Nesse capítulo encontra-se uma teoria sobre depressão e são apresentadas sugestões para sua 
cura e prevenção. Com fundamento nessa teoria, faço especulações sobre a depressão difundida entre nossa juventude "dourada", sugerindo que a criança acostumada 
a receber as coisas boas da vida independentemente de suas respostas pode tornar-se um adulto deprimido, substancialmente inapto para enfrentar dificuldades e tensões. 
A ansiedade causada pela imprevisibilidade e pela impossibilidade de controle - incontrolabilidade - é o tópico do Capítulo Seis. A imprevisibilidade é prima-irmã 
da incontrolabilidade; nesse capítulo ela é definida e é analisada em função das colocações 
9 
3 - DESAMPARO 
anteriores sobre desamparo. Previsibilidade é preferível à imprevisibilidade; quando as coisas acontecem de maneira imprevisível há mais tensão e ansiedade do que 
quando ocorrem de forma previsível. Há também maior risco de perturbações sérias de comportamento em homens e animais, aumenta a incidência de úlceras estomacais, 
e sentimentos de terror e pânico se tornam mais intensos. Apresento uma teoria que relaciona a necessidade de segurança aos efeitos da imprevisibilidade, e essa 
teoria é comparada a possíveis alternativas. Com o que já sabe sobre desamparo e ansiedade, o leitor estará então habilitado a aplicar essa teoria ao problema do 
mecanismo da terapia da ansiedade. A dessensibilização sistemática é uma técnica altamente eficaz no tratamento da ansiedade em neuróticos; proponho uma explicação 
baseada nos conceitos de "sinal de segurança" e "desamparo" para esse tipo de terapia comportamental. 
Nos Capítulos Cinco e Seis, os estados de depressão e ansiedade são analisados com referência à incontrolabilidade e à imprevisibilidade. Mas quais são os efeitos 
a longo prazo do desamparo, os efeitos sobre traços mais ou menos permanentes? A criança começa a vida em estado de desamparo e aprende a controlar as coisas importantes 
de seu mundo. O Capítulo Sete investiga os efeitos da incontrolabilidade e da imprevisibilidade sobre o desenvolvimento emocional da criança, O leitor considerará 
vários assuntos do ponto de vista da teoria do desamparo: instituições hospitalares, macacos separados de suas mães, gatinhos privados de sincronia entre resposta 
e efeito, desenvolvimento de auto-estima, efeitos da superpopulação, e malogro em sala de aula. As noções de força do ego e competência são relacionadas ao domínio 
que o indivíduo tem sobre os acontecimentos; sugerirei que a sincronia entre a resposta e suas conseqüências é crucial para um desenvolvimento sadio. Examinarei 
o papel do desamparo na pobreza, e farei especulações sobre a relação entre percepção de controle pessoal e percepção de liberdade. 
Não é só no início da vida que o desamparo está ligado à falência motivacional. Alguns dos seus mais dramáticos efeitos ocorrem no fim da vida. A morte psicossomática 
súbita produzida por desamparo é o tema do oitavo e último capítulo. Proporei o desamparo como causa freqüente de mortes súbitas, inesperadas, observadas em homens 
e animais: a morte súbita
nos rituais de Vodu no Caribe, a morte de baratas devido à submissão, a morte causa- da pelos asilos de velhos tais como são organizados 
atualmente, a depressão anaclítica e morte de crianças internadas em hospitais, o afogamento súbito de ratos selvagens, e o alto índice de morta- 
lidade entre animais de zoológico. A incontrolabilidade, conforme definida no Capítulo Dois, pode ser o núcleo desses fenômenos, bizarros porém reais. 
A investigação com animais no laboratório produziu uma teoria; essa foi utilizada para explicar, primeiro, a pesquisa experimental, depois os fenômenos da vida real. 
Este livro foi organizado da mesma maneira. A última metade do livro aplica os conceitos e experimentos expostos na primeira parte a problemas da vida real: 
depressão, ansiedade, falência motivacional, e morte súbita. 
lo 
11 
Capítulo Dois 
CONTROLABILIDADE 
Desamparo é o estado psicológico que sucede freqüentemente como resultado de eventos incontroláveis. O que é evento incontrolável? Qual é o papel do controle na 
vida dos organismos? Um bom ponto de partida para responder a essas perguntas é nossa intuição: um evento é incontrolável quando nada podemos fazer a seu respeito, 
quando não adianta fazer nada. Exploremos nossa intuição com alguns exemplos. Aí então estarei em condições de definir rigorosamente o que é incontrolabilidade, 
e de assim identificar numerosos e variados fenômenos (alguns deles surpreendentes) como casos de desamparo. 
Sua filha de cinco anos vem do quintal e entra em casa; está chorando e com a perna sangrando. Como pai cuidadoso, com alguns conhecimentos de primeiros socorros, 
você aplaca seus soluços com palavras de conforto e com um abraço. Depois você lava seu joelho, descobrindo um corte de tamanho médio; você limpa o corte e impede 
que o sangue continue a escorrer colocando uma compressa. Enquanto você faz tudo isso ela começa a chorar de novo, e então, para apaziguar seu ânimo, você lhe conta 
uma estória de quando machucou o braço quando tinha seis anos. O choro logo pára. Você põe um pouco de mercúrio-cromo e esparadrapo. Sua menininha está de novo feliz, 
e o sangue estancou. 
Nesse exemplo simples, repare que em todas as fases você exerceu controle ativo sobre o problema de sua filha. Foram suas próprias ações que fizeram passar o choro; 
ao limpar e pensar a ferida, você garantiu uma cicatrização adequada. E em meio a tudo isso, você habilidosamente acalmou-a e aliviou um pouco de sua 
12 
dor ao contar-lhe uma estória. Sem a sua intervenção as coisas poderiam ter sido um pouco piores. 
Considere agora a seguinte seqüência do exemplo. Nessa noite você acorda com sua filha chorando - ela está com febre alta e a perna inchada, e notam-se vergões vermelhos 
em volta da ferida. Você a conduz a toda pressa para o pronto-socorro de um hospital, onde fica esperando durante três horas, enquanto enfermeiras, atendentes e 
médicos passam por você, ignorando-o. Sua filha continua a chorar e a suar. Frustrado, você agarra um residente que passa e começa a contar-lhe o problema; ele não 
ouve, e sai apressadamente pedindo-lhe que seja paciente. Você vai até a portaria; acontece que os formulários que você tinha preenchido se extraviaram, de forma 
que é preciso preencher outros. Finalmente, às sete horas da manhã, um médico leva sua filha para a sala de exame; meia hora depois ela está de volta. O médico lhe 
diz que aplicou uma injeção, e sem mais explicações sai para atender o próximo paciente. Dentro de poucas horas sua filha está recuperada. 
Nessa cena, a maioria de suas ações não teve nenhuma serventia. O pessoal do hospital não ouviu sua queixa, perdeu seus formulários e ignorou seu pedido de explicações; 
sua filha se recuperou sem que você tivesse tido influência sobre isso. O curso de eventos foi incontrolável - o resultado final foi independente de cada uma de 
suas respostas voluntárias. Esta última frase contém uma definição rigorosa de incontrolabilidade. Os dois conceitos cruciais são resposta voluntária e independência 
entre resposta e conseqüência; esses dois conceitos estão intimamente relacionados. 
RESPOSTAS VOLUNTÁRIAS 
As plantas e a maioria dos animais inferiores não têm capacidade para controlar os eventos de seu ambiente; simplesmente reagem a eles. O caule da tulipa reage à 
luz crescendo em sua direção; a raiz cresce em direção oposta. A ameba reage a um pedaço de alimento abraçando-o com seus pseudópodos e envolvendo-o. Porque chamo 
a esses movimentos meras reações e não respostas voluntárias? O que está errado se eu disser que esses movimentos realmente controlam certos eventos no ambiente 
do organismo? O que falta a esses movimentos é plasticidade - eles não se alteram quando a contingência, a relação entre o movimento e sua conseqüência, é alterada, 
pois estão confinados aos estímulos que produzem. Se, no caso da ameba, um experimentador invertesse a contingência, alimentando-a apenas quando ela não envolvesse 
o nutriente, a ameba não seria capaz de alterar seu 
'3 
comportamento, por mais que se repetisse o malogro na alimentação. Analogamente, um experimentador jamais conseguiria treinar as raízes de uma tulipa a crescer para 
o alto dando-lhe água apenas quando crescesse em direção ao sol. Em resumo, chamarei respostas voluntárias (1) somente àquelas ossam ser modificáI fompensas ou puni 
ões. 
caracteristica dessas respostas é que elas serão executadas mais freqüentemente se forem recompensadas, e serão cerceadas se forem punidas. Ras que não são sensíveis 
a recomp.ç 
são chamadas reflexos, reações cegas, instintos, ou tropismos. Na frase seguinte vou escrever voluntariamente a palavra "pimenta": se me derem um milhão de dólares 
por escrever "pimenta" eu certamente o farei - posso até escrever duas ou três vezes, por via das dúvidas; se me derem um forte choque elétrico por escrever "pimenta", 
ninguém vai ver essa palavra escrita. Por outro lado, a contração da pupila de meu olho sob incidência da luz não é voluntária; mesmo que me prometessem um milhão 
de dólares por não contrair minha pupila sob incidência de luz, ainda assim ela se contrairia (2) 
As respostas voluntárias constituem o interesse único de uma importante abordagem de teoria de aprendizagem em psicologia - a do condicionarnentQ operante, fundada 
por E. L. Thorndike e desenvolvida e popularizada por B. F. Skinner. Embora os detalhes dessa área possam parecer misteriosos ao aluno, a premissa básica, encoberta, 
da doutrina operante é simples: estudando as leis das respostas que podem ser modificadas por recompensa ou punição - chamadas respostas instrumentais ou pççs" que 
"o eram" no ambie - os psicólogos que se dedicam ao con icionamento operante acreditam que descobrirão as leis do A noção de resposta operante é importante para 
minha definição, não porque ratos pressionando barras ou pombos bicando discos para ganhar alimento me fascinem intrinsecamente, mas porque essa noção corresponde 
muito bem ao que quero dizer com resposta voluntária. Quando um organismo não tem condição de executar nenhuma respesta operante que ' resulte em determinada conseqüência, 
direi que essa conseqüência 
é incontroláve 
nquanto ondicionarnento operante etua as respostas voluntárias, a outra grande dimensão da teoria de aprendizagem - condTEi iamento pavloviano ou clássico - cuida 
apenas das respostas que não são voluntárias. Em um experimento típico de condicionamento pavloviano, uma pessoa ouve um ruído e logo em seguida recebe um choque 
elétrico breve porém doloroso, O ruído é chamado estímulo condicionado (CS) e o choque estímulo incondi cionad 
(US); a reação de dor causada pelo choque é arp incondicionada_(UR). A certa altura do processo a pessoa conãi tecipar o choque: ao ouvir o som, começa a suar e 
seu rítmo cardíaco se acelera. Essas respostas antecipatórias são chamadas respostas condicionadas (CR). fundamental notar que as resposúi condiinadas não eércem 
controle sobre o choque; a pessoa recebe o choque
independente de ter suado ou não. O que define um experimento pavloviano e o distingue de um experimento operante 
é precisamente o desamparo. No condicionamento clá2 
nenhuma resposta, condicionada ou - ode alterar o CS ou o ao passo que no experimento rant tem que haver uma 
resposta que obtenha gratificações ou alivie penas. Dito em outras palavras, na aprendizagem instrumental o sujeito dispõe de uma resposta voluntária que exerce 
controle sobre conseqüências, enquanto que no condicionamento pavloviano ele se acha desamparado. 
INDEPENDÊNCIA DE RESPOSTA E CONTINGÊNCIA DE RESPOSTA 
Resposta voluntária é aquela que aumenta em probabilidade quando recompensada e diminui quando punida. Quando uma resposta é explicitamente recompensada ou punida, 
é óbvio que a conseqüência é dependente da resposta. Mas o significado preciso de dependência de resposta e independência de resposta é um dos temas mais complexos 
da moderna teoria de aprendizagem. 
Como seria natural, a teoria da aprendizagem partiu das premissas mais simples sobre aprendizagem. Quais os tipos de relação entre ações e conseqüências que homens 
e animais são capazes de aprender? A primeira resposta a essa pergunta foi radical: a aprendizagem somente ocorre quando a resposta do organismo é seguida imediatamente 
por recompensa ou por punição. Por exemplo, uma vez por dia, às 9 horas da manhã, você entra no saguão do edifício do seu escritório; trinta segundos depois você 
aperta o botão do elevador, e ao cabo de outros trinta segundos o elevador chega. Isso acontece todos os dias, religiosamente. 
Esse tipo de pareamento simples entre resposta e conseqüência, chamado reforço contínuo, não exaure as contingências passíveis de aprendizagem; também pode haver 
aprendizagem se você der uma resposta e nada acontecer como conseqüência. Por exemplo, um dia você aperta o botão e o elevador não vem (talvez tenha acabado a força). 
Obviamente você não fica apertando o botão eternamente; decorrido um certo tempo você desiste e sobe a pé. Esse tipo de aprendizagem é chamado extinção: uma resposta 
que antes pro 
j 
14 
15 
duzia um determinado efeito agora não produz mais nada. Assim sendo, os teóricos da aprendizagem admitiram que os seres que respondem têm capacidade de apreender 
dois tipos de "momentos mágicos": pareamento explícito entre resposta e conseqüência, e não-pareamento explícito. Chamo momentos mágicos a essas contingências a 
fim de ressaltar seu aspecto instantâneo; a principal razão para serem consideradas como contingências fundamentais é sua ocorrência quase que fotográfica - não 
é necessário uma integração complexa ao longo do tempo para que sua memória seja codificada e armazenada. 
Mas esse esquema está longe de descrever tudo que pode ser aprendido. No final da década de 1930 L. 1. Humphreys e B. F. Skinner descobriram, independentemente, 
o reforço parcial ou intermitente, complicando razoavelmente as coisas (3), Por exempio, na segunda e na terça-feira, de manhã, você aperta o botão do elevador e 
ele chega, na quarta e na quinta você aperta o botão mas o elevador não vem, e já na sexta-feira ele está funcionando novamente. Se o elevador finalmente encrencar 
de vez, quantos dias você continuará apertando o botão até desistir e ir diretamente para a escada? Se você foi submetido primeiramente a reforço parcial, vai apertar 
o botão por algumas semanas antes de desistir; mas se teve apenas reforço contínuo, em poucos dias estará desistindo. 
Tanto seres humanos como animais aprendem rapidamente que suas respostas são seguidas pela respectiva conseqüência apenas de forma intermitente. Além do que, isto 
aprendido, essas respostas tornam-se altamente resistentes à extinção. Para entender esses fatos precisa-se de um organismo ligeiramente mais complicado: 
um organismo que possa justapor os dois tipos de momentos - não-pareamento explícito e pareamento explícito - e chegar a uma média. Em outras palavras, seres vivos 
têm capacidade para aprender "às vezes" ou "talvez", da mesma forma que aprendem "sempre" e "nunca". A Figura 2. 1, ilustra essa relação de um modo genérico. 
Reforço parcial 
0,5 1,0 
p(C/R) 
Figura 2-1 Probabilidade da conseqüência (C) 
quando a resposta (R) é emitida. 
O que acontece quando uma dada conseqüência ocorre ainda que você não tenha respondido? No esquema de reforço parcíal e nos casos mais simples nunca acontece de 
haver reforço quando a resposta não é emitida. E, no entanto, os seres capazes de aprender são suficientemente complicados para aprender que é possível a ocorrência 
de conseqüências mesmo quando não emitiram uma resposta específica. Em linguagem operante essa contingência é chamada DRO - reforço diferencial de outro comportamento 
(ver Figura 2.2) ): Voltando ao nosso exemplo, um dia você 
1,0 r 
Reforço diferencial de outro comportamento 
o 
Figura 2-2 - Probabilidade da conseqüência (C) quando a resposta (R) não é emitida, A ausência de R 
é designada . 
simplesmente pára na frente do elevador por trinta segundos ( sem apertar o botão, mas mesmo assim o elevador chega. Pode ser que demore, mas você vai acabar aprendendo 
a se conter e não apertar o botão, se esse elevador estiver regulado para funcionar só quando o botão não for pressionado. Aqui nós temos dois outros tipos de momento 
mágico, além do pareamento e do não-pareamento explícito entre resposta e conseqüência: você pode não responder e assim mesmo ser reforçado; ou você pode não responder 
e não ser reforçado; como no caso do pareamento e do não-pareamento explícitos, esses dois momentos podem vir em seqüência intermitente. Por exemplo, durante dez 
dias você não aperta o botão; em sete desses dias o elevador vem, mas nos outros três não. 
Esse tipo de aprendizagem ainda supõe um mecanismo de aprendizagem razoavelmente simples, se o organismo apreender separa- 
e. 
0,5 
Extinção 
O 
Reforço contínuo 
16 
17 
damente as conseqüências de responder e as conseqüências de não responder; no entanto, organismos que de todo são capazes de aprender podem captar essas duas dimensões 
ao mesmo tempo. Considere uma complicação final no nosso exemplo: às vezes o elevador chega em trinta segundos quando você aperta o botão, mas é igualmente provável 
que ele chegue dentro dos mesmos trinta segundos se você não apertar o botão. Todos os quatro momentos mágicos ocorrem com o mesmo elevador em vários dias: apertar 
botão/elevador, apertar botão! não-elevador, não-apertar botão! elevador, não-apertar botão/não-elevador, O que você aprende sobre a relação entre suas respostas 
e a chegada do elevador? Você aprende que a probabilidade de o elevador vir ou não vir é a mesma, quer você aperte o botão ou não. Chegamos à essência do significado 
de independência de resposta. 
Dada qualquer resposta e sua conseqüência, as probabilidades dos quatro momentos mágicos podem ser representadas por um único ponto no espaço de contingência de 
resposta (Figura 2.3). 
-% 
I 
o 0,5 0, 
Figura 2-3 - Espaço de contingência de resposta. 
O eixo horizontal, ou eixo de x, refere-se a p(C/R), enquanto que 
o eixo vertical, ou eixo de y, refere-se a p(C/R) (ver Figuras 
2.1 e 2.2). 
Considere a linha a 45° de um espaço de contingência de resposta. Em qualquer ponto dessa linha, a probabilidade da conseqüência é a mesma, quer a resposta ocorra 
quer não. Quando a 
probabilidade de uma conseqüência é a mesma quer uma determinada resposta ocorra ou não, a conseqüência é independente dessa resposta. Quando isso for verdadeiro 
para todas as respostas voluntárias, a conseqüência é incontrolável. 
Reciprocamente, se a probabilidade de uma conseqüência, dada uma resposta, for diferente de sua probabilidade quando a resposta não é dada, temos que a conseqüência 
é dependente dessa resposta: a conseqüência é controlável. Qualquer ponto que se desvie da linha de 45° implica em alguma controlabilidade. Por exemplo, se eu lhe 
der um tapa na mão cada vez que você tentar pegar a lata de bolachas,
você tem a possibilidade de controlar os tapas: a probabilidade de levar um tapa ao tentar 
apanhar a lata é 1, mas se você não tentar pegar a lata não levará tapas. Entretanto, se de qualquer jeito eu lhe bater, quer você tente ou não pegar a lata de bolachas, 
os tapas são incontroláveis e você está desamparado. 
Chegamos agora - de forma quase indolor, espero - a uma definição rigorosa das circunstâncias objetivas sob as quais ocorre o desamparo: uma pessoa ou animal está 
desamparado em relação a uma conseqüência quando esta ocorre independente de qualquer de suas respostas voluntárias. 
No processo de elaborar essa definição, orientei-me para uma perspectiva de aprendizagem mais complexa do que a adotada pelos primeiros teóricos. Os organismos podem 
aprender que suas respostas produzem uma conseqüência associada a certa probabilidade, e que não responder produz uma conseqüência associada a certa probabilidade, 
mas não só isso; podem também juntar essas duas relações. Isso supõe a capacidade de integrar a ocorrência dos quatro tipos de momentos mágicos ao longo do tempo 
e chegar a uma estimativa global da contingência. 
Embora a expressão formal da aprendizagem de contingências seja mais complicada do que a da aprendizagem de momentos mágicos, isso não significa que ela tenha que 
ser mais complexa do ponto de vista psicológico. A correspondência entre complexidade formal e complexidade psicológica não é obrigatória. Aprender que eventos são 
independentes de respostas ocupa um lugar básico, simples, e indispensável, na vida real dos homens e dos animais. Não precisa ser um processo consciente ou mesmo 
cognitivo: 
quando eu tinha dois anos e meio, sabia que o fato de chover ou fazer sol no domingo era independente de meus desejos. Tinha absoluta certeza disso, embora só viesse 
a entender o conceito abstrato de independência de resposta vinte anos depois. Quando um rato aprende a pressionar uma barra por alimento, deve tam 1,0 
Extinção p(C/R) 
18 
19 
bém aprender que abanar a cauda não tem nada a ver com o alimento. Aprender que uma resposta controla uma conseqüência implica em ter também aprendido que outras 
respostas não a coritrolam. Seria melancolicamente mal adaptativo o animal que não conseguisse aprender isso. 
Os experimentos sobre superstição 
A teoria e pesquisa que descreverei têm uma premissa subjacente: é possível haver aprendizagem em situações em que as conseqüências estão fora de controle do organismo. 
Uma boa parte da bibliografia sugere o contrário. Trabalhando em suas investigações em 1948, B. F. Skinner deixava cair quirera perto de pombos famintos a intervalos 
breves e regulares. Nada do que os pombos efetivamente faziam tinha influência sobre a queda dos grãos; o alimento era incontrolável. Skinner observou que, ao final 
do treinamento, cada um de seus pombos estava, a rigor, fazendo alguma coisa: um estava bicando, outro pulava no centro da gaiola. Afirmou então que isso era comportamento 
supersticioso - algo como dar a volta por uma escada ao invés de passar por baixo. 
Na linha de argumentação de Skinner, qualquer coisa que o pombo estivesse fazendo no momento da queda do alimento seria objeto de reforço, e conseqüentemente aumentaria 
de freqüência. O que, por sua vez, tornaria mais provável que a ave estivesse fazendo a mesma coisa quando o próximo grão caísse. Vemos aqui a posição extrema na 
teorização do momento mágico: só são levados em conta os momentos em que o reforço se segue a uma resposta; uma resposta não perde força pelo fato de ocorrerem reforçadores 
na sua ausência. Está implícita nesse ponto de vista a crença de que animais (assim como pessoas) não podem aprender que qualquer resposta que porventura executem 
é independente de reforço. 
Apresentarei muitos exemplos em que transparece que a aprendizagem de independência de resposta não só pode ocorrer, como realmente ocorre, de forma confiável e 
com conseqüências desastrosas. Mas como vamos explicar os resultados de Skinner? Embora o verdadeiro comportamento supersticioso sem dúvida ocorra entre os homens, 
creio que os resultados dos pombos têm reduzida generalidade, creio que são um artefato resultante da espécie e do esquema de reforço específico escolhido por Skinner. 
Seu experimento é, provavelmente, um caso de condicionamento clássico e não de aprendizagem instrumental baseada em reforço. Já foi demonstrado que certas respostas 
não arbitrárias aparecem no 
pombo quando se dá alimento a intervalos regulares e curtos; essas respostas são, do ponto de vista biológico, aítamente preparadas e pré-programadas (6)• J. E. 
R. Staddon e V. L. Simmelhag, que reanalisaram os dados referentes a superstição em pombos, acreditam que os pássaros executaram as respostas típicas de animais 
de sua espécie quando estão famintos e à espera de alimento (7)• Essas respostas não são supersticiosas; não ficaram gravadas devido a fortuitas coincidências entre 
sua emissão e a presença de alimento. Ao contrário, são respostas específicas da espécie, perfeitamente semelhantes às de um cão lambendo os beiços quando à espera 
do jantar. 
Minha conclusão é de que, em certas circunstâncias restritas, a apresentação de reforçadores independente de respostas pode levar ao condicionamento clássico de 
respostas específicas da espécie, adequadamente adaptadas, através da evolução, para aquele tipo de reforçador. Essas respostas podem ser facilmente confundidas 
com respostas instrumentais "supersticiosas". O resultado mais comum, entretanto, como veremos, é o desamparo; animais e pessoas desamparados não dão a impressão 
de ter aprendido conexões supersticiosas entre suas respostas e reforçadores - ao contrário, dão a impressão de que aprenderam a ser extremamente passivos. 
Definimos as circunstâncias objetivas sob as quais um evento é incontrolável. Muitos tipos de perturbações comportamentais, cognitivas e emocionais são conseqüência 
de incontrolabilidade: cães, ratos e homens tornam-se passivos diante de traumas, são incapazes de resolver problemas simples de discriminação, desenvolvem úlceras 
estomacais; gatos têm dificuldade em aprender coordenação de movimentos; e alunos de faculdade tornam-se menos competitivos. No próximo capítulo, examinaremos cuidadosamente 
os estudos paradigmáticos de incontrolabilidade que levaram às minhas formulações sobre desamparo. 
20 
21 
Capítulo Três 
ESTUDOS EXPERIMENTAIS 
Cerca de dez anos atrás, quando realizávamos experimentos investigando a relação entre condicionamento de medo e aprendizagem instrumental, Steven F. Maier, J. Bruce 
Overmier e eu descobrimos um fenômeno inesperado e extraordinário (1), Aplicávamos choque elétrico, precedido por som, em cães vira-lata presos a arreios de tipo 
pavloviano, num procedimento de condicionamento clássico, O choque, moderadamente doloroso, não causava lesão física. O que meus colegas e eu tínhamos esquecido, 
mas que logo nos foi relembrado, era a característica que define o condicionamento pavioviano: O US choque era inescapável. Nenhuma resposta voluntária do animal 
- abanar a cauda, agitar-se nos arreios, latir - tinha influência sobre os choques. Seu início, término, duração e intensidade eram determinados tão somente pelo 
experimentador. (Essas condições satisfazem a definição de incontrolabilidade.) Depois dessa experiência, os cães eram colocados em uma gaiola de alternação (*), 
que é uma câmara dividida em dois compartimentos na qual um cão, ao pular uma barreira de um compartimento para o outro, desliga o choque: escapa do choque. Pulando 
a barreira o animal também pode evitar o choque, esquivar-se dele, desde que o salto ocorra antes do início do choque. Pretendíamos ensinar os cães a se esquivar 
dos choques, mantendo o treinamento até que ficassem peritos na esquiva; sobre esse comportamento de esquiva, então, verificaríamos os efeitos de sons condicionados 
pelo modelo pavioviano. Um fato estranho nos esperava, porém; o que vimos pode ser mais bem
apreciado se eu 
* N.T. Caixa de Mawrer ("shuttle-box"). 
descrever primeiro o comportamento típico de um cão que não sofreu choque inescapável. 
Colocado em uma gaiola de alternação, um cão experimental- mente ingênuo, assim que começa o primeiro choque, dispara a correr furiosamente pela gaiola, até que 
acidentalmente se lança sobre a barreira e foge ao choque. Na tentativa seguinte o cão, correndo freneticamente, cruza a barreira mais depressa do que da primeira 
vez; com algumas tentativas mais já consegue escapar com bastante eficiência, e logo aprende também a se esquivar do choque. Após cerca de cinqüenta tentativas o 
cão fica parado negligentemente em frente à barreira; ao início do sinal de choque, dá um salto gracioso e nunca mais recebe outro choque. 
O cão que anteriormente havia recebido choque inescapável nos apresentou um padrão de comportamento sensivelmente diferente. A primeira reação desse cão ao choque 
na gaiola de alteração foi muito semelhante à do cão ingênuo: correu disparado por cerca de trinta segundos. A seguir, porém, parou de se mexer; para nossa surpresa, 
deitou-se e ganiu mansamente. Após um minuto, desligamos o choque; o cão não tinha conseguido pular a barreira e não escapara ao choque. Na tentativa seguinte, foi 
a mesma coisa; de início, o cão lutou um pouco, e então, depois de alguns segundos, deu a impressão de que desistia e aceitava o choque passivamente. Em todas as 
tentativas subseqüentes o cachorro não conseguiu escapar. Essa é a descoberta paradigmática da aprendizagem de desamparo. 
Experimentos de laboratório demonstram que, quando um organismo sofre a experiência de um trauma que não pode controlar, sua motivação para responder quando diante 
de traumas posteriores se enfraquece. Além disso, mesmo que responda, e que sua resposta tenha êxito e produza alívio, esse organismo tem dificuldade em aprender, 
perceber, e acreditar que sua resposta foi efetiva. Finalmente, seu equilíbrio emocional é perturbado: a depressão e a ansiedade, medidas de vários modos, prevalecem. 
As deficiências de motivação produzidas pelo desamparo são as de maior impacto, de modo que a elas me dedicarei em primeiro lugar, fazendo uma análise cuidadosa. 
O DESAMPARO SOLAPA A MOTIVAÇÃO PARA INICIAR RESPOSTAS 
Desamparo em cães 
Tomando-se cães desamparados como modelo, pode-se exemplificar bem como a maioria das espécies animais reage à incontrola 22 
23 
bilidade. O procedimento típico que usamos para produzir e detetar a aprendizagem de desamparo em cães é o seguinte (2): No primeiro dia, o sujeito, preso ao arreio, 
recebia 64 choques elétricos inescapáveis, cada um com 5,0 segundos de duração e intensidade (moderadamente dolorosa) de 6,0 miliampères. Os choques não eram precedidos 
por nenhum sinal, e eram distribuídos aleatoriamente no tempo. Vinte e quatro horas mais tarde, o sujeito era submetido a 10 tentativas de fuga-esquiva sinalizada, 
em uma gaiola de alternação: o cão tinha de pular a barreira de um compartimento para outro, de modo a fugir ou se esquivar do choque. Os choques podiam ocorrer 
em qualquer dos dois compartimentos, de forma que não havia nenhum lugar que fosse sempre seguro, mas a resposta de passar ou pular de um lado para o outro sempre 
levava à segurança. Um sinal (diminuição da intensidade de luz) marcava o início de cada tentativa, e era mantido até seu término. O intervalo entre o início do 
sinal e o choque era de 10 segundos; se o cão saltasse a barreira durante o transcorrer desse intervalo, o sinal terminava e o choque era evitado. O fracasso em 
transpor a barreira durante o intervalo sinal-choque levava a um choque de 4,5 miliampères, que persistia até que o cão saltasse sobre o obstáculo. Se o cachorro 
não conseguisse transpor a barreira dentro de 60 segundos após o início do sinal, a tentativa automaticamente terminava. 
De 1965 até 1969, estudamos o comportamento de aproximadamente 150 cães que haviam recebido choque inescapável. Desses, dois terços (cerca de 100) mostraram-se desamparados. 
Esses animais passaram pela impressionante seqüência de auto-abandono que já descrevi. O outro terço mostrou-se completamente normal; como os cães ingênuos, eles 
fugiam eficientemente e aprendiam a se esquivar do choque sem dificuldade, saltando a barreira em tempo. Não houve resultados intermediários. Esporadicamente, cães 
desamparados saltavam a barreira entre uma tentativa e outra. Além disso, um cão que ficara sentado no lado esquerdo da caixa, levando choque após choque, muitas 
vezes se levantava aos pulos, saltava a barreira e fugia da gaiola, quando a porta do lado direito se abria ao fim da sessão. Considerando-se que os cães desamparados 
tinham capacidade física para saltar a barreira, seu problema devia ser psicológico. 
Ë interessante notar que, das várias centenas de cães ingênuos que passaram por treinamento na gaiola de alternação, cerca de 5 porcento revelaram-se desamparados 
antes mesmo de serem expostos a qualquer choque inescapável. Acredito que a história desses cães, antes de chegar ao laboratório, pode explicar por que um animal 
ingênuo se revela desamparado enquanto que outro, que 
24 
recebeu choque inescapável, se mostra imune ao desamparo. No próximo capítulo, discutirei formas de prevenção do desamparo, e então serei mais explícito sobre recursos 
de imunização contra esse efeito. 
O desamparo pode ocorrer, no cão, em numerosas circunstâncias, e é facilmente produzido. Não depende de quaisquer parâmetros especificos de choque; variamos a freqüência, 
intensidade densidade, duração, e padrão temporal dos choques, e continuamos obtendo o efeito. Além disso, é totalmente irrelevante o fato de ser o choque inescapável 
precedido ou não por um sinal. Finalmente, não importa em que aparelho o choque inescapável é administrado, nem onde ocorre o treinamento fuga-esquiva; a gaiola 
de alternação e os arreios podem ser usados indiferentemente. Se o cão, primeiro, recebe choque inescapável na gaiola de alternação e depois se lhe exige que aperte 
um painel com a cabeça, para fugir ao choque no arreio, ainda assim ele se torna desamparado. Ademais, após choque incontrolável, os cachorros não só se mostram 
incapazes de fugir ao choque em si, como também parecem incapazes de preveni-lo ou evitá-lo. Overmier (1968) administrou choque inescapável a cães no arreio e os 
levou depois à gaiola de alternação; ali, se o cachorro saltasse depois do sinal mas antes do choque, poderia esquivar-se do choque. A fuga, porém, não era permitida, 
pois se o animal não saltasse durante o intervalo sinal- 
-choque, a barreira fechar-se-ia, sobrevindo o choque inescapável. Os cães desamparados não conseguiram esquivar-se, da mesma forma que não tinham conseguido fugir. 
Assim, cães desamparados enfrentam de forma inadequada não só os choques, como também os sinais de choque. 
Também fora da gaiola de alternação os cães desamparados agem diferentemente dos outros. Quando um experimentador vai até a gaiola-viveiro e tenta retirar um cachorro 
não desamparado, esse não concorda facilmente: late, corre para o fundo da gaiola, e resiste ao manuseio. Em contraste, cães desamparados parecem sucumbir; afundam-se 
passivamente no fundo da gaiola, ocasionalmente chegam mesmo a rolar de patas para cima e adotar uma postura de submissão; simplesmente não oferecem resistência. 
O planejamento de tríades 
Como podemos afirmar que o desamparo resulta da incapacidade de controlar um trauma físico, e não da mera exposição a esse trauma? Dito de outra maneira, como podemos 
garantir que o desamparo é um fenômeno psicológico, e não simplesmente o resultado de uma deficiência física? 
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4 - DESAMPARO 
Existe um planejamento experimental simples e elegante, que isola os efeitos da controlabilidade dos efeitos do estímulo que está sendo controlado. Nesse planejamento 
de tríades usam-se três grupos de sujeitos: Um grupo recebe, como pré-tratamento, um estímulo que pode controlar por intermédio de alguma
resposta. O segundo grupo 
é chamado grupo emparelhado - cada sujeito desse grupo recebe exatamente os mesmos estímulos que seu par do primeiro grupo, exceto que nenhuma de suas respostas 
tem possibilidade de influir sobre esses estímulos. Um terceiro grupo não recebe pré-tratamento. Mais tarde, todos os grupos são testados em uma tarefa diferente. 
O planejamento de tríades permite uma verificação direta da hipótese de que não é o choque em si, mas sim a aprendizagem de que o choque é incontrolável, que causa 
o desamparo (3) Seguem- 
-se dois exemplos de planejamento de tríades. No primeiro deles, utilizaram-se três grupos de oito cães (4)• Os cães do grupo de fuga foram treinados, no arreio, 
a desligar o choque pressionando um painel com o focinho. O grupo emparelhado recebeu choques idênticos, em número, duração, e padrão, aos administrados ao grupo 
de fuga. O grupo emparelhado se diferenciava do grupo de fuga apenas no que diz respeito ao controle instrumental sobre o choque: 
pressionar o painel não afetava a programação de choques para o grupo emparelhado. O grupo-controle ingênuo não recebeu choques enquanto no arreio. 
Vinte e quatro horas após o tratamento recebido no arreio, todos os três grupos foram submetidos a treinamento de fuga- 
-esquiva na gaiola de alternação. O grupo de fuga e o grupo-controle ingênuo tiveram bom desempenho; rapidamente aprenderam a saltar a barreira. Em contraste, o 
grupo emparelhado revelou-se significativamente mais lento em suas respostas do que o grupo de fuga e o grupo-controle ingênuo. Seis dos oito sujeitos do grupo empareifiado 
simplesmente não conseguiram fugir ao choque. Assim, não foi o choque em si, foi a incapacidade de controlar o choque que produziu o posterior fracasso na fuga. 
Maier (1970) nos ofereceu demonstração mais surpreendente dessa hipótese. Estando os cães do grupo de fuga no arreio, ao invés de treiná-los na execução de uma resposta 
ativa, como apertar o painel, exigiu-se deles que executassem uma resposta passiva para desligar o choque. Os cães desse grupo (fuga passiva) foram atados ao arreio, 
e os painéis, colocados a uma distância de 1/2 centímetro dos lados e do alto de suas cabeças. Esses cães somente podiam desligar o choque se não movessem a cabeça, 
permanecendo quietos. Outro grupo de dez sujeitos foi submetido ao mesmo choque 
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no arreio, mas o choque era independente de qualquer resposta e conseqüentemente, incontrolável. Um terceiro grupo não recebei choque. Colocados posteriormente na 
gaiola de alternação, os cães do grupo emparelhado manifestaram-se predominantemente desamparados, e o grupo-controle ingênuo escapou ao choque normalmente. O grupo 
de fuga passiva, no começo, não se movimentou muito; os animais pareciam estar procurando alguma forma passiva de reduzir ao mínimo o choque na gaiola de alternação. 
Não encontrando essa forma, todos eles começaram a fugir e a se esquivar com toda potência. Assim, a condição suficiente para produzir fracasso na fuga não é o trauma 
em si, mas sim a aprendizagem de que nenhuma resposta, qualquer que seja - nem ativa, nem passiva - pode controlar o trauma. 
Deficiências motivacionais em várias espécies animais 
Alunos que iniciam cursos de introdução à psicologia - ou melhor ainda, alunos que evitam esses cursos - têm uma reação comum: "Ratos! O que têm ratos a ver com 
gente?" Essa reação não é tão ingênua como pode soar aos ouvidos cansados do psicólogo profissional. Com exagerada freqüência, pesquisadores de laboratório têm admitido 
e apregoado que as leis que se revelaram verdadeiras para uma espécie animal são verdadeiras, de um modo geral, para outras espécies, particularmente para o homem. 
A história da psicologia comparativa está cheia de experimentos invalidados e de teorias desacreditadas que negam autoridade a essa suposição. Avanços recentes nos 
ensinaram a ser muito cautelosos com respeito a generalizações de uma espécie animal para outra, sem provas concludentes (5)• A codorna aprende a enfrentar uma situação 
traumática de jeito muito diferente do rato ou do homem: se for envenenada com água de cor azul e gosto azedo, a codorna posteriormente evitará água azul, mas não 
água azeda; já um rato ou um homem, por sua vez, evitarão a água azeda, e não a azul. Mesmo dentro dos limites de uma mesma espécie, é bem diferente o que um rato 
aprende quando se trata de enfrentar choque ou quando se trata de enfrentar venenos: se receber choque após tomar água azul e azeda, evitará água azul; se for envenenado, 
evitará água azeda. Se vamos tomar o desamparo como base para explicar fenômenos humanos da importância de depressão e morte psicossomática, é indispensável verificar 
se ele ocorre em grande variedade de espécies animais, inclusive no homem. Caso contrário, podemos descartá-lo como um comporta27 
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mento específico da espécie, semelhante ao ritual característico que o esgana-gata * macho executa ao cortejar a fêmea. 
A dificuldade em dar início a resposta, como resultado de exposição a conseqüências incontroláveis, já foi observada em gatos, ratos, camundongos, aves, primatas, 
peixes, baratas, e no homem. O desamparo adquirido parece ser geral entre espécies que aprendem, de modo que pode ser utilizado com alguma confiança como explicação 
para diversos fenômenos. 
Gatos. Earl Thomas relatou um efeito em gatos, que parece ser idêntico ao desamparo em cães (6)• Choques inescapáveis foram aplicados em gatos presos a arreios apropriados. 
Quando depois foram colocados em uma gaiola de alternação, esses gatos não conseguiram fugir; como os cães, eles sentavam-se e ficavam recebendo os choques. Thomas 
vem procurando em suas pesquisas a base fisiológica do desamparo; acredita que a área septal, estrutura cerebral abaixo do córtex, possa ser responsável pelo fenômeno, 
pois o bloqueio da atividade dessa área impede o aparecimento do desamparo. Afirma também que, aplicando estimulação elétrica diretamente na área septal, seus gatos 
tornam-se desamparados. Voltarei a essa correlação fisiológica no próximo capítulo, quando discutir a teoria do desamparo e sua terapia. 
Peixes. Peixes também exibem baixo rendimento nas respostas de fuga e esquiva após exposição a choque inescapável. A. M. Padilla e colaboradores administraram choques 
inescapáveis a peixes dourados, para depois testá-los em uma gaiola de alternação de tipo aquático. Esses peixes custaram mais a se esquivar do que os controles 
ingênuos. Ë interessante notar que o curso temporal de declínio do desamparo nos peixes foi igual ao observado em cães (7) 
Outros primatas que não o homem. Tanto quanto pude averiguar, até 1974 ninguém havia feito com macacos um experimento explicitamente sobre desamparo, utilizando 
planejamento de tríades. Existe, porém, uma bibliografia substancial que descreve os efeitos de outros eventos incontroláveis sobre primatas. Três são os tipos de 
condições incontroláveis a que foram expostos primatas: desamparo social na infância, separação da mãe, criação em isolamento. Os resultados, notáveis, não foram 
anteriormente interpretados com base no conceito de desamparo, e por isso deixarei sua discussão para o Capítulo Sete. 
* N.T. Pequeno peixe encontrado na Europa e na América, conhecido por sua atividade e voracidade, e pelos curiosos ninhos que o macho constrol para guardar os ovos 
postos pela fêmea. 
Ratos: O rato branco e o estudante universitário são os sujeitos mais extensamente usados em experimentos de psicologia. Isso se dá mais por conveniência do que 
por eventuais razões conceituais: seu comportamento e sua fisiologia são por demais conhecidos; mesmo assim, alguns experimentadores não acreditam que um fenômeno 
seja real até que tenha sido demonstrado no rato branco. Até pouco tempo atrás, parecia muito difícil gerar desamparo no rato. Realizaram-se muitos experimentos, 
usando choque inescapável; de uma maneira geral, esses experimentos evidenciaram efeitos muito pequenos, se é que os houve, sobre
a posterior capacidade de dar início 
a respostas (8)• Nos casos típicos, ao contrário dos cães, ratos submetidos preliminarmente a choque inescapável eram apenas um pouco mais lentos nas primeiras tentativas 
de fuga ao choque, ou aprendiam a se esquivar um pouco mais devagar - não ficavam sentados a tomar choque passivamente. 
Após intensa experimentação, contudo, vários pesquisadores, independentemente, produziram agora real e sólida demonstração de desamparo em ratos (9)• Um fator crucial 
emergiu desses experimentos - a resposta testada precisa ser difícil, não pode ser alguma coisa que o rato faça com a maior facilidade. Por exemplo, se os ratos 
são primeiramente expostos a choque inescapável, e depois são testados em uma resposta de fuga simples, como apertar a barra uma só vez ou fugir para o outro lado 
de uma gaiola de alternação, não se encontra deficiência alguma. Se, entretanto, a exigência de resposta for aumentada - de modo que a barra tenha que ser pressionada 
três vezes para que o choque termine, ou que o rato tenha de ir e voltar para o mesmo compartimento - aí então o rato que passou por choque inescapável responde 
muito lentamente. Ao revés, ratos expostos anteriormente a choque escapável, ou a choque nenhum, desempenham as mais difíceis respostas sem desistir. 
Na medida em que a resposta é bastante natural ou automática no rato, não haverá interferência do choque incontrolável. Se a resposta é um tanto quanto forçada e 
conseqüentemente exige um desempenho "deliberado", o rato apresenta os indícios de desamparo após a experiência de choque incontrolável. 
Homem. Quais são os efeitos do trauma inescapável sobre o Homo sapiens, quando estudados em laboratórios? Quando se defronta com eventos nocivos sobre os quais não 
tem controle, acontece com o homem o que acontece com cães, gatos, ratos, peixes e primatas inferiores: sua motivação para responder sofre drástica redução. 
Donald Hiroto replicou nossas descobertas com cães, de maneira bastante precisa, em estudantes universitários (b0)• Ao grupo 
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de fuga aplicava um ruído alto, que os sujeitos aprendiam a desligar apertando um botão; o grupo emparelhado era exposto ao mesmo ruído, mas independente de qualquer 
resposta; um terceiro grupo não era exposto a ruído algum. Cada sujeito era então conduzido a uma gaiola de alternação adaptada para uma resposta manual: para fugir 
ao ruído o indivíduo tinha apenas que movimentar a mão de um lado para o outro. Tanto o grupo não exposto ao som como o grupo de fuga aprenderam rapidamente a resposta 
manual. Como as outras espécies animais, entretanto, o grupo humano emparelhado não conseguiu fugir nem se esquivar; a maioria sentou-se passivamente, aceitando 
o desagradável ruído. 
Na verdade, o experimento de Hiroto era mais complicado e manipulava dois outros fatores importantes. À metade dos sujeitos de cada um dos três grupos foi dito que 
seu desempenho na gaiola de alternação era uma prova de habilidade; à outra metade foi dito que seu resultado seria determinado pelo acaso. Em todos os grupos, os 
sujeitos que receberam as instruções do acaso tenderam a responder de forma mais desamparada. Por fim, Hiroto incluiu também em seu planejamento o estudo da dimensão 
de personalidade referente a "foco de reforço: externo x interno", sendo metade de todos os sujeitos de cada grupo "externos", e a outra metade "internos" (11) A 
classificação de externo é reservada a pessoas que acreditam, conforme evidenciado por respostas em um inventário de personalidade, que os reforçadores ocorrem em 
sua vida por acaso ou sorte, e estão além de seu controle. Já o indivíduo classificado como interno acredita que ele controla seus próprios reforçadores, e que suas 
habilidades acabarão por se impor. Hiroto constatou que, no seu experimento, os externos se tornaram desamparados com mais facilidade do que os internos. Assim, 
três fatores independentes produziram desamparo: a experiência de incontrolabilidade no laboratório, a tendência cognitiva induzida pelas instruções do acaso, e 
a personalidade de tipo externo. Dada essa convergência, Hiroto concluiu que todos esses três fatores desgastam a motivação para a fuga, ao contribuir para a expectativa 
de que responder e alívio são independentes. 
D. C. Glass e J. E. Singer (1972), em estudos que procuravam simular a tensão urbana, verificaram que um ruído alto incontrolável fazia com que sujeitos se saíssem 
mal em correção de provas tipográficas, achassem o ruído extremamente irritante e desistissem da resolução de problemas. A mera crença de que poderiam desligar o 
ruído se assim o desejassem, bem como o real controle exercido sobre a mistura de sons urbanos, aboliu essas 
deficiências. Além disso, o simples fato de acreditarem que podiam ter acesso a alguém em condições de aliviar a situação produziu efeitos benéficos. A relação entre 
percepção de controle e controle real, conforme o definimos, é importante e complexa; será discutida em mais detalhes no próximo capítulo. 
Com isso concluímos a revisão das deficiências motivacionais produzidas pelo desamparo em diversas espécies animais. Parece ser verdadeira e generalizada a constatação 
de que a incontrolabilidade leva à deterioração da prontidão para responder adaptativamente a traumas, em cães, gatos, ratos, peixes, macacos e 
homens. 
Generalidade do desamparo entre situações 
Quando o calouro faz objeções a cursos de introdução à psicologia, dizendo que não quer saber de ratos, ele está se opondo não somente à limitação de muitos fenômenos 
psicológicos a uma única espécie animal, mas também ao caráter restrito das circunstâncias sob as quais esses fenômenos podem ser produzidos. O desamparo é um fenômeno 
que pode ser generalizado a várias esp&ies, inclusive o homem, mas se vamos levá-lo a sério como princípio explanatório de depressões, ansiedade e mortes repentinas 
que sucedem na vida real, sua ocorrência não deve limitar-se especificamente a choques e gaiola de alternação, nem mesmo somente a traumas. Será que a incontrolabilidade 
gera um hábito confinado a circunstâncias semelhantes àquelas sob as quais o desamparo é aprendido, ou produz um traço mais geral? Em outras palavras, desamparo 
refere-se apenas a um conjunto isolado de hábitos ou envolve uma alteração mais básica de "personalidade"? Acredito que o que se aprende quando o meio-ambiente é 
incontrolável tem profundas conseqüências sobre o repertório comportamental em seu todo. 
Ao nível mais baixo de generalidade, já sabemos que o desamparo se transfere de um aparelho para outro, desde que o choque ocorra em ambos: cães que recebem choque 
inescapável no arreio, posteriormente não conseguem fugir em uma gaiola de alternação. Mas, pergunta-se, o que se aprende é transferido para experiências traumáticas 
que não envolvam choque? Braud e colaboradores empregaram um planejamento de tríades com camundongos (12) Um grupo podia escapar do choque escaldando um mastro, 
um segundo grupo era acoplado ao primeiro como grupo emparelhado, e um terceiro grupo não recebia choque; todos os grupos foram então colocados em uma pista cheia 
de água por 
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onde tinham de nadar para poder escapar. O grupo emparelhado foi o que menos rendeu no desempenho de fuga. Em outro experimento mostrando que o desamparo gerado 
por choque pode transferir-se para diferentes eventos aversivos, três grupos de ratos receberam choque escapável, choque inescapável, ou nenhum choque (13)• Antes 
disso, eles haviam sido privados de ração e treinados no percurso de uma pista em cujo compartimento final encontravam alimento. Depois que aprenderam a correr pela 
pista, o alimento deixou de ser colocado; durante esse procedimento de extinção, os ratos percorriam a pista até o compartimento final, onde esperavam achar comida 
mas não encontravam nada. Conforme já foi demonstrado, isso se constitui em uma experiência frustradora e aversiva para ratos (14) A seguir, deu-se aos ratos a oportunidade

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