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9 NOÇÕES DE ESTABILIDADE TRANSITÓRIA Neste capítulo serão abordados alguns tópicos relativos à estabilidade transitória de sis- temas de potência. Os conceitos e aplicações abordados são introdutórios, no sentido que um aprofundamento maior sobre o assunto requereria maior espaço do que a abordagem a ser considerada. O nosso enfoque será voltado para o caso de um gerador ligado a um barramento- infinito por meio de um elo de corrente alternada. Atualmente, essa é uma abordagem simplificada. No entanto, ela fornece informações relevantes para o entendimento de análise dinâmica de sistemas de potência. 9.1 REPRESENTAÇÃO DO SISTEMA Um sistema elétrico de potência contém elementos estáticos e dinâmicos. Elementos es- táticos são estudados utilizando-se modelos estáticos concebidos a partir da representação por equações algébricas. Por outro lado, os sistemas dinâmicos requerem uma represen- tação que pode envolver um conjunto de equações algébrico-diferenciais. O levantamento desses conjuntos de equações depende do modelo que será usado para cada equipamento. Em um estudo de estabilidade, o gerador e os seus controladores desempenham papel importante. O maior objetivo é avaliar se o sistema sobrevive a uma perturbação transitória ou permanente, a qual deve ser eliminada com duração de tempo apropriada. O principal objetivo no nosso estudo será avaliar a excursão do ângulo do rotor do gerador e se o sistema será estável para uma determinada perturbação. Em um sistema interligado, o equilíbrio geração-carga deve ser atendido. Durante uma perturbação, o sistema pode passar para outro ponto de equilíbrio ou retornar para o ponto de equilíbrio em que se encontrava antes da perturbação. Nessas situações, o sistema é dito estável. Mas se ele não atinge um ponto de equilíbrio, ele é dito instável. Por questões de segurança elétrica, esses estados devem ser adequadamente determinados. A Figura 9.1 mostra o esquema de um conjunto força-motriz (turbina)-gerador e a rede elétrica. A turbina está conectada mecanicamente ao eixo do gerador. A en- ergia mecânica produzida pela força motriz é transmitida ao gerador por meio do eixo 1 2 9. NOÇÕES DE ESTABILIDADE TRANSITÓRIA mecânico, que produz um torque mecânico Tm. Este conjugado produz um conjugado eletromagnético Te em oposição, obviamente, ao conjugado Tm. Note-se que a veloci- dade angular mecânica, ωm, atua no sentido do torque mecânico, enquanto a velocidade angular elétrica, ωe, atua no sentido do conjugado eletromagnético. Figura 9.1 Esquema mostrando o acoplamento mecânico turbina-gerador e a conexão à rede elétrica Suponha que o gerador esteja suprindo, por meio dos seus terminais, uma carga elétrica à rede. A potência necessária para atender a carga é proveniente do conjugado eletromagnético que é gerado no entreferro do gerador. O conjugado eletromagnético é o resultado da interação entre as correntes dos enrolamentos do estator, que produzem um campo girante e do campo magnético produzido nos enrolamentos de campo do rotor. Durante uma perturbação, o conjugado mecânico fica praticamente constante. Mas, não se pode dizer o mesmo em relação ao conjugado eletromagnético. O gerador síncrono é formado por uma parte fixa, na qual estão as bobinas do in- duzido, denominado estator, e uma móvel, chamada rotor. Um corte evidenciando as partes fixas e móvel do gerador é mostrado na Figura 9.2. Por sua vez, a Figura 9.3 mostra efetivamente o estator de uma máquina hidráulica, ilustrando o elevado número de pólos presentes. Nas bobinas estatóricas são induzidas tensões, que são devidas a um campo mag- nético gerado a partir de um circuito de campo, presente no rotor. Os enrolamentos do circuito do rotor são alimentados por tensão contínua, produzindo, assim um campo mag- nético constante. Quando o rotor gira, acionado pela turbina acoplada ao eixo do gerador, o campo magnético corta as bobinas fixas do estator provocando o surgimento de tensões alternadas. Quando o circuito do estator é fechado com a rede elétrica, passará a circular 9.1. REPRESENTAÇÃO DO SISTEMA 3 uma corrente elétrica, que então, interagindo com o campo do rotor produz o conjugado eletromagnético. Figura 9.2 Corte transversal do gerador mostransdo o estator e o rotor Figura 9.3 Estator de uma máquina síncrona O gerador deve ser sincorinizado ao sistema e dessa forma funcionar no sentido a produzir energia elétrica ao sistema, sob níveis de tensão adequados e freqüência o mais próximo possível de um valor constante. Esse valor constante da freqüência é denominado frqüência síncrona. Portanto, todos os geradores, quando sincronizados ao sistema devem gerar sinais que tenham a freqüência síncrona. Como gerar essa freqüência? Ela depende da velocidade mecânica do gerador e do seu número de pólos. A relação entre ωm e 4 9. NOÇÕES DE ESTABILIDADE TRANSITÓRIA ωe, é dada por ωe = p2 ωm, onde p é o número de pólos do gerador. Assim um gerador com elevado número de pólos (caso de geradores hidráulicos), devem girar a velocidades relativamente baixas. Ao contrário, geradores com baixo número de pólos, como é o caso de geradores térmicos, devem girar a velocidades elevadas. Seja o caso de um gerador com 20 pólos. A freqüência síncrona igual a 60 Hz (3.600 rpm) é obtida, se o rotor do gerador for acionado a uma velocidade mecânica ωm = 360 rpms. 9.2 CONJUGADO ACELERANTE E EQUAÇÃO DE OSCILAÇÃO O torque mecânico é convertido em eletromagnético. Durante uma perturbação, surge uma diferença entre os dois, dando origem a um conjugado de aceleração, Ta, e a um torque de amortecimento, Td . O torque acelerante depende das características mecânicas do conjunto turbina-gerador, que na realidade está atrelado à inércia formada pelo con- junto. O torque de amortecimento é atribuído a fatores como: perdas mecânicas, elétricas e magnéticas, ventilação, entre outros fatores. A equação abaixo mostra a relação entre os tipos de torque no gerador. Tm−Te = Ta +Td [N.m] (9.1) Desprezando-se o torque de amortecimento, o erro cometido na aproximação é des- prezível. Por essa razão, é muito comum se omitir esse termo de amortecimento nas análises que se faz. Assim, a equação envolvendo os conjugados - considerando que é possível se definir um conjugado acelerante em função do momento de inérica e da velocidade mecância - fica: Tm−Te = Ta = J dωmdt [N.m] (9.2) onde J é o momento polar de inércia do grupo turbina-gerador, em kg/m2. Não é usual se trabalhar com a variável conjugado nas análises realizadas em es- tabilidade transitória. Esta variável é substituída por potência. A relação entre as duas grandezas dependem da velocidade mecânica da máquina motriz. Ou seja, Pm = ωmTm e Pe = ωmTe. Logo, em (9.2), fica: Pm−Pe = ωmJ dωmdt [W ] (9.3) 9.3. CAMPO MAGNÉTICO E ÂNGULO DO ROTOR 5 A potência mecância, Pm, é suposta constante, porque supomos que o regulador de velocidade funcionará de modo a manter a velocidade do gerador constante e a sua atuação é muito lenta durante uma perturbação. Então, mesmo durante uma perturbação o valor de Pm, para efeito de simplificação, será suposto constante. 9.3 CAMPO MAGNÉTICO E ÂNGULO DO ROTOR O campo magnético produzido pelo circuito de campo fica dirigido na direção do eixo do rotor. No caso de um gerador de pólos salientes, como é o caso do gerador mostrado na Figura 9.2, o campo é dirigido no sentido da parte longitudinal do rotor (de menor relutância magnética). Quando o estator fornece potência elétrica à rede elétrica, surge o denominado efeito de reação da armadura, cujo resultado faz com que surja o efeito denominado reação da armadura. Este efeito dá origem ao chamado ângulo de carga ou ângulo do rotor. A Figura 9.4 mostra as ações do campo magnético produzido no rotor e da reação da armadura. Observe-se que não havendo corrente no estator, o ângulo do rotor, δ , é nulo. Neste caso, não ocorre reaçãoda armadura. Por outro lado, o aumento da reação da armadura, o que é equivalente ao aumento da carga, provoca abertura do ângulo δ . Figura 9.4 Campo do rotor, reação da armadura e ângulo do rotor Vamos relacionar o ângulo do rotor com as grandezas elétricas necessárias para o es- tudo de estabilidade transitória. A figura 9.4 mostra as grandezas envolvidas, destacando- se a tensão e o fluxo na máquina síncrona, considerando uma referência síncrona e o ângulo do rotor. A tensão E f é equivalente a uma tensão interna no estator a qual pode ser considerada como gerada a partir da excitação do circuito de campo. Já a tensão V é 6 9. NOÇÕES DE ESTABILIDADE TRANSITÓRIA aquela que resulta nos terminais do gerador considerando o efeito da carga. Supõe-se que o rotor gire no sentido anti-horário. Neste caso, o campo do rotor arrasta o campo girante, ambos girando a uma velocidade síncrona. Quando ocorre uma perturbação esse ângulo δ é afetado. A velocidade angular elétrica será então a soma da velocidade de referência, ωre f = ωo, e da velocidade do campo girante do rotor (devido à carga) dδdt . Isto é, a velocidade do campo girante é igual à velocidade relativa do eixo do rotor com relação a uma referência síncrona, ωe = dδdt +ωo. Quando a referência síncrona coincide com o ângulo da tensão terminal do gerador na Figura 9.4, os ângulos δ e δ ′ coincidem. A equação de oscilação do gerador é deduzida considerando-se freqüência elétrica ao invés de freqüência mecânica. Então, é necessário alterar a equação (9.3). Isto pode ser efetuado, substituindo-se ωm por ωe naquela equação. Assim, Pm−Pe = 2pωeJ d ( ωe 2 p ) dt = 4 p2 ωeJ dωe dt [W ] (9.4) Aqui podemos substituir ωe usando ωe = dδdt +ωo e considerar que ωo é constante. Vamos definir uma constante H como: H ∆= energia cinetica de todas as partes rotativas na velocidade sincrona ωo Potencia aparente nominal do gerador, SB [ MW.s MVA ] A relação entre J e H é dada por: J = H p2SB 2ω2o (9.5) Inicialmente, vamos passar as grandezas para pu na base de potência, SB, do gerador. Então Pm−Pe SB = 4 p2SB ωeJ dωe dt = 4 p2SB ωeJ d dt [ dδ dt +ωo ] [pu] (9.6) Considerando na equação (9.6) H e o fato de que ωe ≈ ωo, tem-se: Pm(pu)−Pe(pu) = 2H ωo d2δ (t) dt2 [pu] (9.7) 9.4. DETERMINAÇÃO DA POTÊNCIA ELÉTRICA 7 A partir desse ponto, consideraremos que a potência será dada em pu, por isso omitiremos a informação relativa nos parênteses, passando a escrever simplesmente Pm e Pe. Na equação (9.7), H é um parâmetro do gerador e Pm é supostamente conhecido em função do ponto de operação do sistema. Mas Pe depende de dados da rede elétrica e do gerador. Passamos a verificar a seguir como essa variável se relaciona então com o ponto de operação e rede elétrica. 9.4 DETERMINAÇÃO DA POTÊNCIA ELÉTRICA Vamos considerar que o gerador seja representado pelo seu modelo clássico mostrado na Figura 9.5. Este tipo de representação é válida na situação em que x′d = xq (reatância transitória desprezível). Isto acontece efetivamente em máquinas térmicas, que têm rotor liso ou cilíndrico. Para máqunas de pólos salientes é uma aproximação, normalmente, considerada em estudos bastante simplificados. Figura 9.5 Modelo clássico de gerador O modelo clássico de um gerador é representado por uma fonte com tensão con- stante E ′q colocada em série com uma reatância x′d , denominada reatância transitória do gerador. V é a tensão terminal do gerador. esta grandeza pode ser obtida do fluxo de carga em regime permanente. A tensão E ′q é calculada a partir do funcionamento do gerador em regime permanente e mantida constante, mesmo durante o transitório. Por outro lado, o ângulo δ é aproximadamente igual ao ângulo do rotor. Em regime permanente, ele é calculado como o ângulo de carga do gerdor (ângulo necessário para fornecer a potência 8 9. NOÇÕES DE ESTABILIDADE TRANSITÓRIA elétrica do gerador que irá alimentar a rede elétrica). Supõe-se que para a situação de regime permanente a potência mecânica, Pm, seja igual à potência elétrica Pe. Mas ocor- rendo uma perturbação, o ângulo δ varia de acordo com a equação de oscilação (9.7). Portanto, torna-se necessário saber como esse ângulo está relacionado com essa equação de oscilação do gerador. Considere que o gerador esteja atendendo uma carga que é conectada a um barra- mento infinito por meio de uma linha de transmissão. A Figura 9.6 ilustra essa infor- mação. Uma barra infinita é caracterizada por tensão e freqüência sempre constantes. A Figura 9.7 mostra o modelo para uma representação de barra infinita. Esse modelo consid- era um equivalente de Thévenin, o qual é composto por uma fonte equivalente ligado em série com uma reatância equivalente. Consideraremos, para efeito de simplificação, que linhas de transmissão e transformadores serão representados somente por suas reatâncias. Figura 9.6 Máquina conectada a um barramento infinito por meio de uma linha de transmissão O circuito elétrico na Figura 9.8 mostra o circuito equivalente referente ao sistema apresentado na Figura 9.6. Nesse modelo, fez-se nula a reatância equivalente da barra infinita. Para o circuito representando o sistema, a potência elétrica fornecida pelo gerador em função do âgulo do rotor será: Pe = E ′qE∞ x′d + xe sen(δ ) (9.8) O problema então consiste em se determinar o ângulo δ (t), conforme equações (9.7) e (9.8). Trata-se de uma equação não-linear, no qual δ (0) = δ0 e dδ (0)dt = ωe(0)− ωo = 0. Logo, com essas condições iniciais é possível resolver a equação diferencial 9.4. DETERMINAÇÃO DA POTÊNCIA ELÉTRICA 9 Figura 9.7 Modelo de um barramento infinito (9.7). A pergunta que surge é como calcular, então, δ (0) = δ0. Este dado, evidentemente, está relacionado ao ponto de operação do sistema. Como ele é calculado em regime permanente, ele pode ser determinado a partir da equação (9.8), se conhecermos Pe(0). Ou seja, se conhecermos a potência elétrica fornecida pelo gerador à rede elétrica. Esse resultado pode ser calculado (ou obtido diretamente) do problema de fluxo de carga. A curva da potência elétrica apresentada na equação (9.8) é denominada curva P−δ ou curva de potência. Ela fornece informação do ponto de operação e da margem de es- tabilidade do sistema. A Figura 9.9 mostra graficamente essa curva. Observa-se que para a condição de regime permanente, a potência mecânica Pm é igual à potência elétrica. Nessa situação, as curvas se interceptam em dois pontos correspondentes a δo e δu. No entanto, apenas o ponto referente à δo é estável. Nesse ponto de operação, a aceleração do gerador é negativa. Isto significa que, havendo uma perturbação no sistema, seguido de desligamento para eliminação da perturbação e havendo religamento após um deter- minado retardo, após eliminação da falta, o sistema poderá retornar a uma posição de equilíbrio. Já no ponto correspondente a δu, a aceleração é positiva. Neste caso no caso de uma perturbação, o sistema não recupera a sua situação de equilíbrio e perde a estabil- idade. Portanto, para haver operação estável, δ < δu. Obviamente que esta condição não é suficiente para assegurar a estabilidade. Outras condições deverão ser atendida e serão vistas mais diante, com base no denominado critério das áreas iguais. EXEMPLO O sistema na Figura 9.6 atende uma carga na barra-infinita que consome 0,8 pu de potência ativa, com fator de potência 0,8 indutivo. A tensão nesse barramento é igual a 1 pu. A linha de transmissão tem reatância igual a 0,15 pu e a reatância transitória do 10 9. NOÇÕES DE ESTABILIDADE TRANSITÓRIA Figura 9.8 Circuito resultante gerador é igual a 0,2 pu. A constante de inércia do gerador é igual a 3 s. Para esta situação, determine: a) o ângulo inicial do rotor δo e o ângulo δu; b) a tensão E ′q atrás da reatância transitória do gerador: c) a curvaP−δ para o sistema; d) o ângulo δ (t), por meio de integração numérica com base no método de Runge- Kutta, sabendo-se que ocorre uma falta trifásica na linha no instante de tempo igual a 0,1 s. Teste vários valores de tempo de eliminação da falta, começando com t f alta = 0,16 s, até que o sistema seja instável. Efetue a simulação até ts = 2,5 s e use intervalo de integração igual a 0,01 s. SOLUÇÃO Inicialmente, é necessário se determinar a tnsão E ′q e o ângulo δo. Vamos supor que a nossa referência angular seja fixada na barra infinita. Logo, a tensão na barra infinita será V = 1∠0o pu. A potência aparente consumida na barra infinita será S = 0,80,8 = 1 pu. A potência reativa será Q = √ S2−P2 = √ 12−0,82 = 0,6 pu. Da mesma forma, a corrente será I = S ∗ V ∗ = 0,8− j0,6 1 = 0,8− j0,6 pu. A tensão V t nos terminais do gerador será V t =V + jxeI = 1∠0o + j0,15I = 1,09+ j0,12 pu. O próximo passo consiste em calcular a tensão interna do gerador e o ângulo δ . Então: E ′q = V t + jx′dI = (1,09+ j0,12)+ j0,2I = 1,242∠13,03o pu. 9.4. DETERMINAÇÃO DA POTÊNCIA ELÉTRICA 11 Figura 9.9 Curva da potência versus ângulo de carga Então, a) δo = 13,03o. O ângulo δu será 180o−δo = 180o−13,03o = 166,97o. b) E ′q = 1,242 pu. c) A curva P−δ é mostrada na Figura 9.10. Figura 9.10 Curva resultante Para resolução do item d), considere o método de Runge-Kutta de quarta ordem, conforme explicado a seguir. Considere que a equação de oscilação do gerador pode ser colocada em uma outra forma como segue. 12 9. NOÇÕES DE ESTABILIDADE TRANSITÓRIA d2δ (t) dt2 = ωo 2H (Pm−Pmaxsen(δ )) com δ (0) = 13,03o e dδ (0)dt = 0 (9.9) Vamos colocar a equação diferencial (9.9), como equações diferenciais de primeira ordem (equações de estado). Para isto, faça ω = dδdt e dω(t)dt = ωo2H (Pm−Pmaxsen(δ )). Considere ainda que x1 = ω e que x2 = δ . Então: dx1 dt = ωo 2H (Pm−Pmaxsen(x2)) = f1(x1,x2) (9.10) dx2 dt = x1 = f2(x1,x2) com x2(0) = 13,03pi/180 rad e x1(0) = 0 (9.11) De acordo com o método de Runge-Kutta, devemos calcular incrementos das var- iáveis de estado a partir de incrementos na variável tempo. Os incrementos das variáveis de estado, para o sistema com dois estados descritos anteriormente, inclui incrementos do seguinte tipo: ∆x1 = 1 6 [K1x1 +2K2x1 +2K3x1 +K4x1] (9.12) ∆x2 = 1 6 [K1x2 +2K2x2 +2K3x2 +K4x2] (9.13) onde as variáveis do tipo Kix1 e Kix2, com i = 1, 2, 3, 4, são calculadas a seguir. No instante tk, a atualização do tempo é tk = t0 +(k− 1)∆t, onde ∆t é o passo de integração. As variáveis de estado são atualizadas como x(k+1)1 = x (k) 1 +∆x (k) 1 e x (k+1) 2 = x (k) 2 +∆x (k) 2 . As constantes Ki, para cada amostra k, são calculadas a seguir. K1x1 = ∆t f1(x1,x2) (9.14) K1x2 = ∆t f2(x1,x2) (9.15) K2x1 = ∆t f1(x1 + 12K1x1,x2 + 1 2 K1x2) (9.16) K2x2 = ∆t f2(x1 + 12K1x1,x2 + 1 2 K1x2) (9.17) K3x1 = ∆t f1(x1 + 12K2x1,x2 + 1 2 K2x2) (9.18) K3x2 = ∆t f2(x1 + 12K2x1,x2 + 1 2 K2x2) (9.19) K4x1 = ∆t f1(x1 +K3x1,x2 +K3x2) (9.20) K4x2 = ∆t f2(x1 +K3x1,x2 +K3x2) (9.21) 9.4. DETERMINAÇÃO DA POTÊNCIA ELÉTRICA 13 No caso do problema anterior, consideramos f1(x1,x2) = ωo2H (Pm−Pmaxsen(x2)) ef2(x1,x2) = x1. A rotina em Matlab apresentada a seguir, calcula o ângulo do rotor para um intervalo entre N1∆t ≤ t < N2∆t, no qual a potência elétrica transmitida pela linha é nula. Portanto, no instante t = N2∆t, a linha é religada. ROTINA % Determina a solução do ângulo do rotor a partir da equação de oscilação % caso 1 máquina ligada à barra infinita por uma linha % a um barramento infinito % dados do gerador: H=3 s, xld=0.2 pu, Pm=0.8 pu, % Elq=1.242 pu, Einf=1 pu, f=60 Hz H=3; xld=0.2; xe=0.15; Pm=0.8; Elq=1.242; Einf=1; f=60; w0=2*pi*f; Pmax=Elq*Einf/(xe+xld); % condições iniciais delta0=13.03*pi/180; ddelta0=0; % método de Runge-Kutta dt=0.01; t0=0; tf=2.5; N=(tf-t0)/dt; x10=ddelta0; % velocidade rad/s x20=delta0; % ângulo em radianos t=zeros(N,1); t(1)=t0; x=zeros(N,2); x(1,:)=[x10 x20]; % No instante t=0.1 s, a potência cai a zero, devido a um curto-circuito % trifásico na linha. A falta é eliminada após 0.11 s. % Então, para 0 < t < 10∗dt Pe é a nominal % para 10∗dt <= t < 21∗dt Pe=0 % para t > 21∗dt Pe volta a ser transmitida N1=10; N2=16; % com N2=36 não é estável for k = 1 : (N−1) if k < N1 | k > N2 K1x1 = dt ∗ (w0/(2∗H))∗ (Pm−Pmax∗ sin(x20)); else K1x1=dt*(w0/(2*H))*(Pm); end K1x2=dt*x10; if k < N1 | k > N2 K2x1=dt*(w0/(2*H))*(Pm-Pmax*sin(x20+0.5*K1x2)); else K2x1=dt*(w0/(2*H))*(Pm); 14 9. NOÇÕES DE ESTABILIDADE TRANSITÓRIA end K2x2=dt*(x10+0.5*K1x1); if k < N1 | k > N2 K3x1=dt*(w0/(2*H))*(Pm-Pmax*sin(x20+0.5*K2x2)); else K3x1=dt*(w0/(2*H))*(Pm); end K3x2=dt*(x10+0.5*K2x1); if k < N1 | k > N2 K4x1=dt*(w0/(2*H))*(Pm-Pmax*sin(x20+K3x2)); else K4x1=dt*(w0/(2*H))*(Pm); end K4x2=dt*(x10+K3x1); dx1=(K1x1+2*(K2x1+K3x1)+K4x1)/6; dx2=(K1x2+2*(K2x2+K3x2)+K4x2)/6; x1=x10+dx1; x2=x20+dx2; t(k+1)=t0+k*dt; x(k+1,:)=[x1 x2]; x10=x1; x20=x2; x1 = [ ]; x2 = [ ]; end delta=(180/pi)*x(:,2); plot(t,delta); xlabel(’Tempo (s)’); ylabel(’delta (graus)’); A Figura 9.11 mostra a simulação, na qual simula-se uma falta que é eliminada em um período de 0,06 s. Observe-se que para esse intervalo, o sistema é estável. Observe-se que a falta incide no instante de tempo igual a 0,1 s. Mesmo em regime permanente, o sistema oscila, porque não há amortecimento das oscilações após religamento da linha. Isto se deve ao fato de não haver perdas ativas (resistências) no sistema testado. Na Figura 9.12, a duração da falta é de 0,16 s. Note-se que houve aumento da amplitude das oscilações, indicando que o sistema foi submetido a um distúrbio de maior impacto. Na figura 9.13 a duração da falta é de 0,25 s. Observe-se que a amplitude do ângulo do rotor já é bem elevada. Na figura 9.14 a duração da falta é de 0,26 s. Neste caso, claramente o sistema perdeu a estabilidade. Então, o máximo tempo em que a linha pode ficar desligada, a 9.4. DETERMINAÇÃO DA POTÊNCIA ELÉTRICA 15 0 0.5 1 1.5 2 2.5 −5 0 5 10 15 20 25 30 Tempo(s) de lta (gr aus ) Figura 9.11 Curva resultante da simulação, mostrando o ângulo δ em função do tempo. Nesta simulação a falta dura 0,06 s. partir do intante de incidência da falta, é inferior a 0,26 s. Em todos os casos avaliados anteriormente, a pesquisa pelo tempo crítico de abertura da linha é inteiramente aleatória. No exercício anterior, a estabilidade do sistema pode ser avaliada pelo critério das áreas iguais. Esse critério é baseado no fato de que o sistema após sofrer uma perturbação pode ir para um ponto de equilíbrio, mesmo após a abertura da linha, caso o tempo de restabelecimento seja inferior a um determinado intervalo de religamento da interligação. Considere a curva P−δ do gerador. O intervalo relacionado à falta pode ser quan- tificado em termos de uma diferença angular. Se o restabelecimento ocorre durante essa diferença angular, ele deve ser correspondente a uma área máxima abaixo da reta de Pm na curva P−δ , A1, de tal modo que seja inferior a outra área A2. Essa área A2 é computada a partir do religamento e tomando-se a área entre a curva de potência elétrica e a reta Pm. Esse cálculo é aceitável para ângulos no máximo até δ = δu. Se a área A2 é maior que A1 o sistema é estável. Neste caso, o tempo de religamento máximo pode ser calculado, conhecendo-se o ângulo de religamento δr. A Figura 9.15 ilustra essas informações. No exemplo anterior calcule o tempo crítico de religamento (tempo máximo para o qual o sistema mantém a estabilidade), considerando uma falta trifásica e abertura da interligação. A área A1 é A1 = Pm(δr−δo). Já a área A2 é A2 =− ∫ δ1 δr (Pm−Pmaxsen(δ ))dδ . Para 16 9. NOÇÕES DE ESTABILIDADE TRANSITÓRIA 0 0.5 1 1.5 2 2.5 −40 −20 0 2040 60 80 Tempo (s) de lta (gr aus ) Figura 9.12 Curva resultante da simulação, mostrando o ângulo δ em função do tempo. A du- ração da falta é igual a 0,16 s o cálculo do ângulo de religamento máximo, deve-se fazer δ1 = δu, pois para ângulos superiores a δu o sistema tem aceleração positiva e neste caso já perdeu a estabilidade. Então Pm(δr−δo) =− ∫ δu δr (Pm−Pmaxsen(δ ))dδ (9.22) As duas igualdades resultam em Pm(δr−δo) =−Pm(δu−δr)−Pmax(cos(δu)− cos(δr)) (9.23) Finalmente se tem a equação abaixo, cuja incógnita é δr. Pm(δu−δo)+Pmaxcos(δu)−Pmaxcos(δr) = 0 (9.24) A solução então será: 9.4. DETERMINAÇÃO DA POTÊNCIA ELÉTRICA 17 0 0.5 1 1.5 2 2.5 −100 −50 0 50 100 150 200 Tempo (s) de lta (gr aus ) Figura 9.13 Curva resultante da simulação, mostrando o ângulo δ em função do tempo. A du- ração da falta é igual a 0,25 s cos(δr) = Pm(δu−δo)+Pmaxcos(δu) Pmax (9.25) Portanto, o ângulo δr pode ser calculado por meio da expressão (9.25). Para o exercício anterior, substituindo os valores anteriores para os ângulos (em radiano) e demais parâmetros, tem-se: cos(δr) = 0,8(2,9142−0,2274)+3,5486cos(2,9142) 3,5486 =−0,3685 Logo, δr = 1,9482 rad = 111,62o. Para calcular o tempo associado a esse ângulo crítico, considere que durante a falta, a equação de oscilação tem Pe = 0. Assim, d2δ dt2 = ωo 2H Pm A integral da aceleração resulta em (optou-se por usar diferenças entre variáveis nesse cálculo, porque estamos interessado no intervalo de tempo a partir do ângulo em 18 9. NOÇÕES DE ESTABILIDADE TRANSITÓRIA 0 0.5 1 1.5 2 2.5 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 Tempo (s) de lta (gr aus ) Figura 9.14 Curva resultante da simulação, mostrando o ângulo δ em função do tempo. A du- ração da falta é igual a 0,26 s que a falta ocorre - considerar, nesse caso a diferença angular): d∆δ dt = ωo 2H Pm∆t Realizando-se nova integração, tem-se: ∆δ = ωo 4H Pm∆t2 Então, durante a falta, o intervalo de tempo crítico para religamento da linha será ∆t = √ 4H(δr−δo) ωoPm A expressão anterior para cálculo de ∆t é válida somente para a situação em que a interligação é aberta e não ocorre transferência de potência para suprimento da barra infinita durante a falta. Caso ocorra fluxo de potência durante a falta, outra expressão deverá ser deduzida, levando em conta esse aspecto. 9.4. DETERMINAÇÃO DA POTÊNCIA ELÉTRICA 19 Figura 9.15 Esquema ilustrativo para mostrar o critério das áreas iguais Substituindo os valores já calculados, tem-se: ∆t = √ 4×3(1,9482−0,2274) 377×0,8 = 0,2617 s Comparando o intervalo de tempo calculado pelo critério das áreas iguais e pela simulação no tempo mostrada anteriormente, observa-se que os cálculos são compatíveis. O intervalo calculado por meio da simulação numérica é levemente inferior ao determi- nado pelo critério das áreas iguais. Normalmente, o intervalo calculado por simulação é mais preciso. O método das áreas iguais é uma simplificação e apresenta restrições para o caso de sistemas multimáquinas. EXERCÍCIO Considere o sistema mostrado na Figura 9.16. A barra d é uma barra infinita, cuja tensão deve ser mantida em 1,0 pu. A barra infinita absorve potência ativa e reativa iguais a 1 pu e 0,2 pu, respectivamente. Os dados das reatâncias dos equipamentos são em pu. A reatância transitória do gerador é igual a 0,15 pu, enquanto sua constante de inércia H é igual a 2,5 s. Utilize o modelo clássico para representar o gerador no estudo dinâmico. Ou seja, para o gerador, considera-se x′d = xq. 1) Mostre que a tensão E ′q é igual a 1,152 pu e que δo = 20,3o. 20 9. NOÇÕES DE ESTABILIDADE TRANSITÓRIA Figura 9.16 Sistema máquina barra-infinita 2) Suponha que o disjuntor B1 abra inadvertidamente e a linha b− c fica aberta. Calcular o máximo ângulo do rotor do gerador para essa situação. 3) Calcular o ângulo crítico para eliminação de uma falta trifásica na barra e. A falta é eliminada por meio da abertura da linha pelos disjuntores B1 e B2. 4) Determine o tempo crítico para eliminação da falta em 3), por meio de um pro- grama computacional. 5) Repita os problemas 3) e 4), agora considerando uma falta trifásica na barra b. Para esta situação, considere que a falta seja transitória e, durante a sua permanência, a interligação a− b fique desligada, sendo religada após extinção da falta. Compare o resultado em 4) utilizando o critério das áreas iguais.
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