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O que é Adolescência

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Rebeldes ou conservadores, apaixonados ou 
deprimidos, indecisos ou determinados, 
alternativos ou integrados ... Nao, nao sao 
apenas esses os adolescentes. lmpossivel 
reduzi-los a tao pouco. A adolescemcia e urn 
universo bern mais amplo, rico em opc;oes e 
· · tendemcias·-. -cad a. uma faz a sua propria· · . · 
viagem. Levantar qu~st{)es e desve.ndar rnito_& 
podem ser os primeiros passos para uma 
compreensao maior qtesse universo. Mas pode 
ser tam bern o cami~ho para aproveitar melhor 
essr viagem. 
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:jl~ :(· · .· . . ' c- ~. i;~ ~ t:3i i(?,> -~ ~ C~ight ©by Da~iel !lecker, 1985 
~~~ ~dJ! · · Nenhuma parte desta publzcm;ao pode ser gravada, 1)~ @11 armazenada em sistemas eletrimicos, fotocopiada, 
il1 @j reproduzida por meios mecanicos ou outros quaisquer sem 
Jill ··~:- autorizac;iio previa do editor. ' 
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(dSBNi 85-11-01159-5 
, ., ~· fr-ini~ira edil;iio, /985 
·· l3"·edil;O.o, 1994 
·, . _j• reimpressii.o, 2003 
Revisii.o: Jose W. S. Moraes e Elvira da Rocha 
llustrar;oes: Lino H. 
Capa: Marco Mariutti e Clovis Franf;a 
Dados Intemacionais de Cataloga~Yao na Publica~YaO (CIP) 
(Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Becker, Daniel . • _ . . . 
0 que e adolescencia I Damel Becker. - Sao Paulo . Brasthense, 
2003. - (Cole9io primeiros passos; 15 niversidade Cat6lic 
·( 
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·'' . ) ~..:_·.' <~· 
;;l@ 5• reimpr. da 13. ed. de 1994. SISTEMA B!BLIOTECA DA UCG 
ISBN 85-11-01159-5 I Regis~ro no •• J .. 9.!::/...9. .. 6.~ ......... . 
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1. A dol"""'" I. Titulo. II. serio., Data: .•. Q.F.: ... J.!:2.:i.. ..9.:£. .... . 
03-1330 CDD-155.5 
indices para catalogo sistematico: 
1. Adolescencia: Psicologia 155.5 
editora brasiliense . 
Rua Airi, 22- Tatuape- CEP 03310-010-SaoPaulo -SP 
Fone!Ftix: (Oxxll) 6/98-1488 
E-mail: brasilienseedit@uol.com.br 
www.editorabrasiliense.com.br 
livraria brasiliense · 
Rua Emilia Marengo, 216- Tatuape 
CEP 03336-000- Sao Paulo- SP- Fone/Fax (Oxxl 1) 6675-0/88 
:1(rl'.il;lP.: :JL 1~~ ~~~~l~ <~~; B'895tf'' ~hi~ ~. L 1. 
vi: :· : :. ·~: iHtP ~if 
_ .. _ ... ... IIIIUII 
·~~~· 13 ed. 
I 1 
............. ---INDICE 
..... 
Na tua idade eu tambem queria mudar o 
mu ndo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 
A metamorfose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 
. Radiografia de uma visao: 0 lado avesso . . 51 
Adolescencia: quando, com·o e onde . . . . . 57 
Mudando o referencial . . . . . . . . . . . . . . . . 65 
Adolescencia - aqui e agora . . . . . . . . . . . . 76 
Por que adolescencia? . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 
I ndicac;:oes para leitura . . . . . . . . . . . . . . . . 97 
r · . . _ 1 l CAlRO LEITOR N.A.O I 
I . IfiSfiUE'O LIVROI 1: 
L__ 
r:--.. ·----.. -·- --- .. -.. . 
... 
; ·":':.f.""'\~ _: ' ' .'"\ ..... f ~ :--..... ~:; r·.;, · l · ~ . ' ~ 
•. ~ • .,. . ~"'. I ·.,·, .,.., , \ ... • 
• • •. ~D·~·H ~.r"<""':;", .. , ... , f 
Ill 
~ 
: - --· :-- ,. 
:,-: 
~. ,• ... or 
. ';~},~f::{~ ~>,: ' ' 
. · ~-' 
Agradecimentos a Valeria Santiago, Gilberta Velho, 
Edson Saggese, Marcos Gleizer, Caio Graco Prado 
e Simone Becker. 
~-- . 
A lzabel, por tudo que esta ~scrito, e por 
tudo que nao da para escrever. 
~A 
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NA TUA IDADE EU TAMBEM 
QUERIA MUDAR 0 MUNDO ... 
.... 
UNuma sociedade em que nao ha diver-
gencia, ou na qual a divergencia nao e 
permitida, a palavra ~ adolescente perde 
osentido.u 
E. Z. Friedenberg 
Uma cena muito comum em filmes epicos ameri-
canos, daqueles antigos: urn pai enla~a o filho pelo 
ombro, leva-o ate a varanda do casarao, e com 0 
bra~o estendido, aponta para a grande vastidao da 
plan(cie que se descortina aos seus olhos, e diz: 
- Meu filho, urn ~ia, tudo isso sera seu. 
Parto dessa lembran~a para imagiriar uma outra 
cena ·que talvez· a jude a come~ar esta breve discus-
sao sobre adolesqencia: urn pai enla~a o filho pelo 
ombro e 0 traz ate a janela do conjugado no decimo 
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'''''''"'~~M'<<J'"W"~>~N<.P>-'o'"'-"'•<.-..<•'''·''""-'' "''''> _,,;_,. -~~ ~-c-.• C>~W.,!LU"'"'''"'''"'. _,,.,.,~.<'+ko><>U<,..,_,,""''''·<U~>C'~'O~O~.'"~" Cn-"-'"'"'·'"'·""',M>o ooUO'o''''''"'·''-0> >•o<o'-.' ';'"•'' >oC•' >o>' h.-.><>O>">O<~\_,UC.,.. .... o ""-'~· >o ,.co~~.C.w ,,,_.•,-,_.,'" Co'oo'•'-'• oc'• ,•,oc oU••u W;·~"'"'==.;<c=·~~"-noJo'".-''~""'= 
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i~l @ 
~~~ 
m ~ pavimento de urn predio de vinte e cinco aparta-\~ ,:]~l mentos por andar. De Ia, se descortina aos seus 
i~j f:Dl. olhos uma cidade polu fda e superpopulada, onde 
l~ @: grassam a fome, a miseria, as favelas, onde dezenas 
:[~ ill> de pessoas morrem diariamente em acidentes e 
{l (jB homic(dios, onde indiv(duos-automatos correm, ~tj s~ consomem e competem por dinheiro e exito 
1;i ~; pessoal; num pa(s aviltado durante vinte anos ·pela 
\\] :~. ditadura e pel a corrup~ao, mass~crado pela domi-
;a ;;; na~ao cultural e economica; num mundo constan-
c·1 "··Y~o )~ : temente em guerra e amea~ado pel a destru i~a<? 
H1 dl: nuclear .. Eie aponta para tudo isso e diz: · · · · .. 
ill :SliD - Meu filho, urn dia .. ·:· 
111 film Nao tenho duvidas de que muitos dos nossos 
)~ ® pais nao vaci lariam em oferecer essa heran<;a a seus 
:!\ ·iffi: filhos. Afinal, foi esse o mundo que eles e seus 
)ij 1TIY pr6prios pais ajudaram a construir, mesmo que 
~~1 @ ··· involuntariamente, e ~ ·o unico ~ue conhecem. 
jp ~ --·- Mas· me pergunto se o jovem de hoJe pode ou deve ~~~_l @_,_ . .~ se co~for~ar em aceita~_lo aprendendo a acredit/tr 
1
-
)j'j '~: que nao ex1stem al~ernat1vas. .. . . 1 
~!,1 ·-· . ~ Apesar do conce1to de adolescenc1a (do I at 1m a , 1 
;\1 @ \ para + olescere, crescer: crescer para) como ele e 
:1~ ®• jthoje conhecido ter surgido em torno do inl'cio 
J:_1 8S· · 1 \de~te sec~lo, ~ questao do jovem como ''problema" 
·i~ .;z, < ex1ste ha mu 1to tempo e acompanha toda a evo-
i_i_~J @1 ··~- Uu~ao d~ civiliza~ao ocidentaL ;odem~s ~ncontrar 
i\] :st; i em escntos de 4 000 a nos atras referenc1as a que 
\ll ~ \ __ "os filho~ de. hoj~' ja nao respeitam rna is os pais 
J ""' como ant1gamente. . 
·_·_·l (•'•' tr <~!:-" 
:(! ® 
·;~ ~ 
,.,, .; 
8 Daniel Becker 
/ "\ 
'..! 
~ 
0 que e Adolescencia 
Do ponto de vista do mundo adulto, isto e, o 
oq;istema ideol6gico domina'nte,(g ado_lescente e urn 
~ em desenvolvimento e em co~flit~Atravessa 
1/ ?rna crise que se origina basicamen e em mudan~as 
;corporais, outros fatores pessoais e conflitos fami-
/ liares. E, finalmente, e considerado "maduro" ou 
"adultG" quando bern adaptado a estrutura da 
soc_iedade, ou seja, quando ele se torna mais uma 
"engrenagem da rriaquina". 
E assim que encaram a adolescencia muitas das 
teorias que pretendem estuda-la. E assim ~~e se 
dirige ao ado1escente a maioria dos manuais do tipo 
que e tradicionalmente presenteado aos jovens que 
entram na faixa da puberdade, para que sejam 
ensinados a comportar-se de acordo com o que a 
§.OCiedade espera deJes. • 
Essas teorias e manuais sao instrumentos bas-
tante uteis. Defendem a preserva<;ao do sistema do 
qual eles pr6prios se originam. Afinal de contas, 
o novo, o questionamento e o conflito que mu itas 
ezes explodem no adolescente sao muito perigo-
sos ... en tao, nada melhor que enclausurar todas 
essas amea~as em urn perlodo da vida do indiv(duo, 
aplicar-lhes urn r6tulo de "crise normal" e definir 
a adapta~ao as regras vi gentes como "cu ra" ou 
'--esolu~ao" da crise. 
xistem, porem, muitas outras formas de abor-
dar a adolescencia. Primeiramente, parece haver 
uma clara distor<;ao nas teorias que buscam expli-
.. ca-la em termos unicamente ps(quicos e somaticos 
9 
10 
: 
. ~,. ... -,~-:~~~~;~-~-~~--;-.. ·-~:: ·--,.... ---- .... -:· .. : ~._::':::-,...--=-=--":...:...:;;:,.-:_--:;;-:.::;;::...:=,:::::::-:.:--:o-~.:=_:._-.._ era 
._ .. _. 
,.· 
Daniel Becker 
.(corpora is). Seria poss{vel, hoje, quando a nossa 
sociedade atravessa a rna is grave crise de sua hist6- · 
ria, ignorar a importancia fundamental dos fatores 
sociais, economicos e culturais que inCidem na crise 
do adolescente? 
~Ora, digamos que o jovem, que ainda nao foi 
containinaao ou molct~doginas e-oonceiffis 
conSiderados"(:ielofliUrldo "'adlirto ~conic' -vefda"des 
_jnabaf~vef~;_je" rebelaconfra-aete"r'mfnaaoivalofes~­
estigmas, . precon~.tos e lCOrlTtradi<;oes .. que 'lhe 
. tentaril"-'lmpo-r. fsso significa que ele esta doente, 
ou atravessando um.a 11Crise psicologica normal"? 
Tal\1ez po5samos, em vez disso, explicar esse fen~"'- __ 
meno como a passagem de uma atitude de simples 
espectador para u rna outra at iva, questionadora 
Oue inclusive vai _gerar revisao, autocrftica, trans- · 
forma<;ao. E que sera, portanto, fundamental tanto 
para o desenvolvimento da sua propria personali-
dade quanta para o aperfei<;oamento .da sociedade 
ern,que ele vive. 
11Esse inconformismo e tlpico de voces, jovens. 
Na tua idade eu tambem queria mudar o mundo. 
Oueria brigar; protestar, transformar o que achava 
errado. Mas o tempo me mostrou que a realidade 
nao e bern essa. A gente yai ficando mais velho, 
surgem as responsabilidades, a necessidade de 
sobrevivencia, a gente vai se conformando. A f 
come<;a a trabalhar, casa, tern · fi lhos... a vida e 
assim mesmo. Mais tarde voce vai compreender." 
Essas palavras sao muito familiares (nos dois 
.. 
.!: 
[. 
~=_ .. _..._-.J>_.,_,_.....,..,.,.-_.,..~._._.,...,n•,.rr--r~-.,....,.....,.,. .. - ...... ~~~ .. ..,..-~--,..~.,_,_,._-_ .. ...,~ .. w:;~-'w;"';'''= .. -~--.- • ...,.--.-.,....,..,..,. • ..,. ... _..., .... --.~~~""F'r-'""..-,-~ .... - ................ ._.,_ .• -~-.-~-----~·~-~-~...-: .... -_~ ... --. 
~ que e Adolescencia 
sentidos) a quase todos nos. Sao tradicionais, 
coerentes, e ate seria possl'vel dizer, verdadeiras. 
Porem, apenas por urn lado. -
Sera que o jovem sempre se acomoda, depois de 
uma certa idade? Sera que e seu "dever. social" 
fazer isto? E o a<:Julto, por acaso lhe e vedad.o 
prot~star, tentar transformar o que acha errado~ 
. Nao e difl'cil perceber que aquelas palavras sao 
· verdadeiras apenas se partirmos do ponto de vista 
do sistema socio-cultural que elas representam. 
Esse sistema vive numa CfOntl'nua busca de preser-
·va<;ao e auto-reprodu<;ao. Ele precisa ·se· perpetuar, 
Jllesmo afogado em suas proprias contradi<;oes." 
f E o faz incentivando o conformismo, fazendo-nos 
acreditar que os padroes.-de vida por ele estabele-
cidos sao unicos e imutaveis. 
1:.[) 
. ~ 
_ffil.}' 
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ui vamos tentar descobrir que esta talvez nao @) 
seja a unica verdade. Nem a melhor, nern a mais @~: 
coerente. Para tentar entender o adolescente, e 1iib 
pre.ciso que se olhe para ele de perspectivas bern ~ .... _L_~_:-·1~' 
mais amplas que as tradicionais. @ 
· Antes de com~<;armos, pore~, e preciso escla-;1 . 8 , recer urn ponto 1mportante. ex1ste uma ado-, ·?: 
. \h.·,· 
Jescencia, e sim varias. 0 proprio conceito de que : 
eta e urn fenomeno universal e muito duvidoso. G;.l 
. I 
Existem sociedades nas quais a passagem da vi 
infantil para a adulta se faz gradativamente; a 
crian<;a vai recebendo fun<;oes e direitos ate que 
atinja plenamente a condi<;ao de adulto, o que faz 
desaparecer as caracterfsticas QQ_g_y.e..cbamamos de 
~ -
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0 ~-i J 0 ' 'l ~ - b; ; \:.J; r' 
i8. d 12 ll O.<t J(l Daniel Becker 0 que e Adolescencia 13 
·;j "I Jfl' 
:j Q;!-, 1 ; ~ 
.~j' ~ 
11Crise da adolescencia". Em outras socieda'des, 
existe urn ritual de passagem (geralmente quando 
comec;:am as transformac;:oes Hsicas da puberdade') 
ap6s o qual se confere ao indivlduo to s 
direitos e responsabilidades do adulto. Esses rituai 
envolvem muitas vezes intenso sofrimento psi uic · \ 
e Hsico !.- as eles pod em fac1 1tar o processo de 
integrac;:ao· a sociedade adulta e favorecer 0 desen 
vol~imento da auto-estima, identidade e segu~ 
no JOVem. _ D 
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Ja em nossa sociedade, no entanto, a adolescen--t' 
cia vern se tornando urn per(odo ·cadp. vez mais · 
Iongo ~ mais -complexo. Por ·urn Jado, muitos 
a o escentes atravessam esse perlodo absoluta-
mente imunes a qualquer tipo de crise. Simples-
mente vivem, adquirem ou nao determinados 
valores, ideias e comportamentos, e chegam 11 inc6-
lumes" a idade adulta. 
Por outro lado, a propria definic;:ao do 11Ser 
adulto" fica cada vez mais fragmentada e confusa. 
As contradic;:oes sao incontaveis. Sao exigidas do 
(' jovem atitudes que ele muitas vezes nao J!..o.de_aj.n<jq 
\ -tamar,· como, por exem~lo, deJinir-aos .. dez.esseis...-\. , ...•. _.,,.. _ _,_ .... .....,__ _______ ~----------------------~·- ~----. "" ' 
\ ano_~ a Cq[f~ir!!_que _gi!~r~_.Jpdaa .. ~y_g"_yi~aprofissig­
l n~l. Ao mesmo _!efT!f:!Qt.J.bgjao negados direitos,..e· 
llberd()des que ele quer, pode e precisa exercer. 
Enquanto lida com seus conflitos interiores e 
mudanc;:as corporais, o adolescl:mte se encontra e 
uma sociedade· corit(a.dj!oli~_, e cuja complexid 
gera muita confusao na sua cabec;:a!Eie se defronta 
./• 
hoje com uma cultura em intensa muta~ao, valores 
velhos e decadentes se contrapondo a novas ideias 
~ conceitos, sem que haja sequer tempo para sua 
assimilac;:!_o.:.. • . 
r ~tudo isso, a sociedade ocidental nao cola-
1~ bora em nada para facilitar a l'crise" do adoles-
cente, enquanto, por outro Jado, tenta' atenua-Ja 
ou abafa-la. E e preciso Jembrar tambem que, 
mesmo dentro dessa sociedade, a adolescencia pode 
a~mir formas muito diversas. Uma. crian~a 
obre, por exemplo, sera empurrada para a vida 
adulta muito mais prec·oce e ·abru"ptami:m"te .do que 
urn jovem de uma classe mais privHegiada, que 
bde prolongar sua adolescencia indefinidamente. 
·- xiste ainda urn. outro tipo de _d.LY~r-~I.c:f~9~ .. -no 
---·,;,... __ ..........,_ __ .......,,_,....,, _____ ., _ ....................... --- . . ......... ___ ~--~ 
uadole_$cer": num cont~~Q- em gue a~m fatores · 
sociai~ culturaisr familiares e Ressoais, o-s jo\ieiis-~ 
,...-- ' - --
assumem ideias e comportamentos corilplelamenfe·-o 
di~ntes. Ha OS que querem reproduzir a vida e 
os valores da familia e da sociedade, ha os que 
contestam, rejeitam e querem mudar; os que 
fogem, os que Jutam, os que assistem, os que 
atuam .. ~ enfim, existem inCJmeras escolhas. 
0 assunto e·~mu.ito amplo; cada tema abordado 
agui daria para, urn ou mais livros. Portanto, em 
Emhum momenta este livro se propoe..aapresentar 
definic;:oes ou aRrofundar teorias. PeJo contrario, 
a ideia e apresen-:tar questoes e tentar motivar no 
leitor a procura das pr6prias respostas. 
•• 
.• ·-
• -, 
~ 
A METAMORFOSE 
"0 primeiro grande sa/to para a vida e 0 
nascimento. 
0 segundo e a adolescencia., 
Eduardo Kalina 
. Entao, urn belo dia, a lagarta inicia a constru~ao 
do seu casulo. Este ser que vivia em contato l'ntimo 
com a natureza e a vida exterior, se fecha dentro 
de uma "casca", dentro de si mesmo. E da in{cio 
a transforma~ao que o levara a urn outro ser, mais 
livre, mais bonito (segundo algumas esteticas) e 
dotado de asas que I he permitirao voar. "· 
\: 
Se a lagarta pensa e sente, tamoom o seu pensa-
mento e o seu sentime~to se transformarao. Sera~/ 
agora o pensar e o sent1r de uma borboleta. ·EJa va1 
ter urn outro corpo, outro astral, outro tipo d 
rela~ao como mundo. 
,. 
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,, •.• ;~~o;t·•:..-;-.;":"--->:;-;,:o;:•p,~,.~'i~i!i'~~!~f'('~.!,":I;"Uo;~~::.:•·o:.P.'<;.-.-..-;~_;;~:.-;:.-;J.~~~~'-:r.;r.;-.~~·.:~o~.~:l":;<':"i"'l···.-•·~~ . ..,-,..,._._,'<""-...-~~--.,..........., .... ~-·..._., , .••• ,.~. -. • ~~~· .... -.• -.. -..... -~.--..-. ,-,-.• ,-., ''"" ~· ·· ,, •- ,, 
0 que e Adolescencia 
· No adolescente, corpo, uteias, emofoes e comportamento 
so [rem as conseqiiencias. do processo d~ transformafiio. 
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Daniel Becker 
. E entao, devagar e gradativamente, a crian<;a 
inicia a constrU<;ao do que sera a suaadolescencia, 
dentro e atraves da qual se transformara. Para IS 
ela muitas vezes precisa deixa:r de se "relaciona 
tanto com o mundo que a cerca para se fechar um' 
pouco em seu casulo, e se relacionar agora mai 
consigo mesma, com sua propria met.amorfose 
E ela inicia a transforma<;ao que a levani a urn 
ser adulto, mais maduro_ {segundo algumas este-
ticas) cuja rela<;ao com a vida e diferente. E acres- . 
cida da capacidade de reprodu<;ao da propria vida, 
pais eta desenvolv.eu . dl! rant~. ~ tra~storma<;ao as 
asas necessarias para esse voo. . . ::. 
Este ser vivo, obviamente dotado de pensamento 
e sentimento, tera tambem essas caracterlsticas 
profundamente afetadas pela metamorfose. Urn ser 
que pensa e sente como crian<;a pensara e sentira _ 
de modo bern diverso como adulto. Ele tern outro 
corpo, outro astral. lnterage com o mtindo de 
outra maneira, passa a receber exigencias diferentes 
do ambiente que o cerca. 
Mas como serao o corpo, o pensamento e o 
sentimento desse ser que esta agora em transfor-
ma<;ao? Nao o antes ou o depois, mas o durante? 
que acontece com esse adolescente no decorrer 
des~ viagem? 
uitas vezes ele sera mais dinamico, mutavel, 
previslvel ser am em um tanto ais\ 
con uso: as partes_do corpo de hoje nao sao mais as 
de_ ontem; as ide~a~ ja mudaram, as emoc;:oes nao 
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0 que ~ Adolescencia 
ff sao as mesmas, o comportamento surpreende ate 
. \a ele proprio. -
Vejamos entao como se da essa transforma<;ao. 
, Mas antes, ll_~ esclarecim~nto muito importante. 
Ouanto as mudan<;as no ni'vel Hsico, corporaldo 
adole~cente, ate onde sabemos, elas sao universais 
(com .algumas e importantes varia<;oes). Ma;d 
smo m1o acontece no n (vel psicol6gico e d 
rela<;oes do indiv(duo com 0 ambient~os 
que os padroes de comportamento sao muito varia-
veis: de cultura para cultura, de grupo para grupo 
. numa 1)1esma cultura, e de indivlduos para indivl- · 
duo num mesmo grupo.' 
Muitos ja tentaram .oompreender e explicar a 
viagem do adolescente pelo rflundo da sua meta-
morfose. Alguns acreditam tanto nas suas expli- · 
ca<;oes que chegam a considera-las verdades abso-
lutas e universalmente validas. No entanto, elas 
sao' apenas teorias, teses, hipoteses ... pontos de 
vista ( mesmo porque, em se tratando em grande 
parte de uma viagem por dentro de si mesmo, cada 
uma delas e especial, particular). Tudo que ja se 
formulou sabre ela pode ajudar-nos a compreen-
de-la melhor, utiliza-la para nosso crescimento. 
Mas nada e absoluto, ou aplicavel a todos os casas. 
0 que faremos agora e apenas dar uma visao 
geral, uma das descric;:oes posslveis da adolescencia·. 
E, ao falarmos dos seus aspectos emocionais, utili-
zarem_9.S--basicamente os pontos de vista e as teorias 
da ~ca_n_a~so porque, alem de ser muito bern 
17 
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II ,, 
l 
18 Daniel Becker 
elaborada, ela e a b e da visao '-com a qual a nossa · 
sociedade encara hoje 0 adolescente. lsso nao signi-
fica, no entanto, que ela nao esteja sujeita a cr(ti-
cas. Pelo contnirio: rna is adiante abordaremos 
outros pontos de vista muito diferentes, especial-
mente no que se refere a rela<;ao do adolescente 
com a sociedade. 
Urn novo corpo 
. A ciencia. ainda. nao descobriu quais sao OS fato-
res que desencadeiam o in (cia das· transforma<;oes 
da puberdade. Alias seria born, antes de mais nada, 
entender o que ' puberda : ela e apenas urn feno-
meno que ocorre rante a adolescenCia e tern,_ 
·iimites bern mais precisos e estreitos. E o perlodo"' 
·a vida em que o indivlduo se torna apto para a 
p'rocria<;ao, isto e, adquire a capacidade Hsica de 
exercer a fun<;ao sexual madura. 
Mas, como ia dizendo, o aesencadeamento das 
transfqrma<;oes corporais no adolescente e urn pro-
cesso bastante com'plexo. A faixa de idade em que 
o fenomeno come<;a e extremamente ampla. Por 
exemplo, uma menina de treze anos, com seios 
desenvolvidos, pelos pubianos e ciclos menstruais 
regulares e tao normal quanta outra da mesma 
idade, sem nenhuma dessas caracterlsticas. A ten-
dencia hoje e acreditar que a puberdade seja alcan-
<;ada gradualmente, sem que haja necessariamente 
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0 que e Adolescencia 
urn fator precipitante. . 
S lmente que a coisa toda tern inl'ciQ 
. no hipota amo uma pequena regiao do cerebra, 
que · meras conexoes como cortex (camada 
cinzenta) e o sistema llmbico. Traduzindo: com 
fatores externos, estl'mulos ambientais, com o 
pensamento e a emo<;ao. 
Simplificando a hist6ria: o hipotalamo, num 
qeterminado momenta· do seu desenvolvimento, 
·~ come<;a a fabricar substancias que chegam a hip6-
X fise (glandula que controla a fun<;ao das outras 
.. , ~ . ·. glandu_las do organismo), C~tiyando.-a. Esta, por sua 
· ~ez, imvia hormonios estimulantes· aos ovarios, na 
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mulher, e aos testl'culos, no ~homem, que iniciam 
entao a produ<;ao e libera<;ao dos 6vulos e esper-
matozoides (os gametas que permitirao a reprodu-. 
<;ao), e tambem dos seus pr6prios hormonios. 
Essas substancias, levadas pela corrente sangiHnea 
a todas as partes do corpo, desencadeiam as trans-
forma<;oes que caracterizam esse perlodo. 
Urn dos primeiros eventos a se manifestarem eo 
crescimento em altura: o c amado "estirao da ado-
t..... lescencia". Ele aparece primeiro nas meninas - o 
seu cniscimento maximo ocorre geralmente em 
torno dos onze-.doze anos, e em torno dos doze-
quatorze anos para os meninos (deixando clara: 
nem sem~re · od ·ar muito . crian<;a, 
ntes pequena, as vezes flacida e gordinha, cresce 
!!lSUstadoramente. Num processo paralelo, a mus-
culatura se desenvolve com rapidez, enquanto o 
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mesmo nao acontece com o tecido gorduroso. 
Com isso o corpo torna-se menos flacido e mais 
musculoso. Nos homens- o crescimento muscular 
e mais intenso que nas mulheres, enquanto que 
nestas se conservam alguns depositos de -gordura. 
Os ossos crescem, se espessam, tornam-se mals 
robus.tos. Os ombros se alargam nos meninos, 
enquanto que nas meninas e o quadril que se 
amplia mais, preparando-se para receber urn 
futuro bebe. ._ 
Porem o mais curiosa, e talvez o mais dramatico, 
e que esse crescimento nao se da por igual. Quem 
nao. te~e. (ou .tern) uma certa sensacao de desa.: 
·jeitamento, talvez Ia pelos ·treze, qu.atorze anos? 
· Alem de ser diflcil lidar com o proprio corpo 
em mutacao, o alongamento dos bracos, das 
pernas, do pesco<;o, aparece primeiro que o do 
tronco. lsso traz uma sensacao estranha e ~ 
gradavel, piorada pelo fato de que muitas veze 
urn lado do corpo cresce antes que o outro( 
T odos esses efeitos cessam a medi"a"a que vai 
diminuindo a velocidade de crescimento e o 
corpo vai tendendo ao equil !brio e a harmonia 
de formas. 
'"raralelamente ao crescimento, outros fen6-
menos vao surgindo, chamados 11Caracteres se-
xuais". Alguns e _ aparecem juntamente com 
o estirao em altura. Na menina, comeca o deseri-' 
volvimento dos seios. No mehino crescem OS 
testt'culos-,-- que tin ham praticamente o mesmo \\\ ~) 
ll ·~~------------------------------------------------------------------------------------~ 
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0 que e Adolescencia 
tamanho dos do bebe. Ele pode tambem experi-
mentar urn certo aumento dos mamilos, o que 
e perfeitamente normal e tende a re.gredir. Alias 
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isso nao tern nada a ver com a masturbacao, 
como e da crenca de muitos. · 
Logo em seguida comecam a aparecer os pelos 
das regioes genital (pubianos) e axilar em ambos, 
e rna is tarde em outras regioes do corpo. E enquan-
to na menina acontece a menarca (primeira mens-
trua<;ao), no me nino au menta o tamanho do 
pen, is e come<;a a producao de. espermatozoides. 
. Os prir:neiros ciclos menstruais podem acontecer 
a- intervalos irregulares, que depois se estabilizam 
em torno de vinte e oito a trinta dias. Esses pri-
iros ciclos sao muitas vezes acompanhados 
por sintomas desagradaveis. C61icas, nervosismo, 
incha<;ao, dor de cabe<;a, problemas de pele e 
ate depressao sao alguns desses fenomenos,que 
podem inclusive durar muito tempo. Eles depen-
dem nao s6 de fatores flsicos, mas tambem de 
como a adolescente se relaciona com a propria 
menstrua<;ao. 
lsso e determinado em grande parte pela ideia 
cultural sobre a menstruacao do grupo social 
em que vive a adolescente. S6 para dar ·alguns 
exemplos interessantes: entre os Indios do norte 
da California, as mo~as menstruadas eram consi-
deradas perigosas, pois podiam secar as fontes 
e espantar a caca. Para os Indios apaches a primei-
ra menstrua<;ao · era um?c1~~~iY1--;-~~ratural, 
t \;:..·,_~:a-! ~ ~.~ .. t.~.t-:. t _ _., 
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Daniel Becker 
e o proprio sacerdote ajoelhava-se diante da jovem 
para que ela o aben~oasse. Em Samoa, no Pacl'fico 
Sui, nao se da nenhuma bola para a menstrua~ao, 
nao existe qualquer ritual ou tabu a ela relaciona-
do. Ja entre os caras-palidas ocidentais, a mens-
tru~ao ainda esta rodeada de tabus e de cren~as 
muito mais loucas do que essas a!'. Para muita 
gente, muita mesmo, menstrua~ao e castigo de 
Deus, doen~a ou co is a suja. Ou entao e o sangue 
"podre" que tern que sair, pois se nao sair, vai 
para· a cabe~a e a pessoa enlouquece. Rela~oes 
sexuais durante. a menstrua~ao sao proibidas, · 
pais no nilnimo podem deixar o homem (pobre 
vt'tima) impotente. Adolescentes menstruadas 
sao proibidas de . chegar perto de Ieite, porque, 
e claro, ele azeda. E por a ( vai. 
,--.. 
Some-se a isso que muitas adolescentes chegam a 
idade da menarca sem sequer saber que ela existe, 
por que, para que e o que significa. Afinal, na 
a tradi~ao, corpo e igual a sexo, e sexo e 
sujo. E claro que diante de tudo isso, a adoles-
cente pode se envergonhar, temer e ate rejeitar 
um _ fenom~no bio16gico total mente saudavel e 
normal (e muitas vezes "somatizar" esses senti-
mentes sob a forma de sintomas). Mas se ela for 
bern informada e · esclarecida a respeito da . sua 
menstrua~ao, aceitando-a como parte de urn 
processo positivo de crescimento, ela pode apren-
der a trimsa-la melhor e se relacionar melhor 
consigo mesma. 
.... 
0 que e Adolescencia 
(Neste livro nao vamos entrar em detalhes sobre 
· o" funcionamento do aparelho genital; quem 
quiser faze-lo pode encontrar algum material 
nas indica~oes de leitura, no final do livro.) 
Tambem no menino, alguns fEmomenos podem 
despertar sensa~oes desagradaveis. Ac.ordar apos 
uma ejacula~ao noturna, as vezes sem ter tido 
ao menos TinY sonJio-l>om para compensar, pode 
ser urn bocado estranho. Essa, porem, e apenas 
uma maneira que o organismo encontra para 
"aliviar a pressao" no sistema reprodutor. Tam-
.. bern pode ser uma experiencia ·um tantp desagra-
davef ·· voltar de onibus da praia, so de cah;ao, 
em pe, e ter uma inexplicavel e incontrolavef 
ere~ao em pleno coletivo, quando, e claro, totlos 
os olhares lhe estarao sendo dirigidos. 
Continuando nosso ciclo de mudan~as tsem 
respeitar completamente a cronologia): na ·mu-
lher, a vagina, o clitoris e a vulva se desenvolvem 
e se transformam. No homem, surge a barba, 
ou o projeto del a; a voz engrossa, no in !'cia inse-
gura e cheia de falsetes. E, para completar o 
quadro, at' estao os dois, horas em frente ao espe-
lho, espremendo os terr(veis cravos e espinhas. 
E observando atentamente a ·sua nova imagem, 
meio sem saber o que fazer com ela. 
E nessa epoca que a varia<;ao normal no tempo 
de surgimento das ~udan~as traz os maiores 
problemas para o adolescente. Especialmente 
para os meninos, entre os quais qualidades como 
-· ++ __ , ,:.-..,_•==~....,.,....,.._-..,.,.~~~~-_,.,......-.-,.....,......-.·~-......,.,.~.,...., ............ ........-.......... ,......--,..T~-~..-.-........---.. ....... -.•,~o••"-'·'=-'-"-='"~'-~-=--,-=-<--..-.~·, '' ... ,,-, r-.. •-•·-·••~·• ••-•• •••-·• r·-•T-~~•~••--~ ~?~-..,-,~.--,.,.._,.~_,.., .. .,._ 
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24 Daniel Becker 
altura, forc;:a e tamanho dos 6rgaos genitais tern 
grande importancia. para a sua autoconfianc;:a 
e para_ a a!i~~ac;:ao da sua _masculin~ 
ser mu1to d1f1c1l para urn memno de treze-quatorze 
anos, que ainda nao evidenciou seu desenvolvi-
mento puberal (o que, como foi visto, e apenas 
uma variac;:ao da media), trocar de roupa no ves-
tiario na frente de colegas ja plenamente desen-
volvidos. 0 mesmo pode acontecer para uma 
menina que ainda nao iniciou suas transformac;:oes 
corporals. 
Adolescentes de .ambos os sexos podem ser 
marginalizaaos em · atividades esportivas; pois 
ainda nao atingiram o mesmo grau de desenvol-
vimento em altura e forc;:a muscular que seus cole-
.... 
gas. Da mesma forma, podem ser exclu ldos de 
atividades que envolvam relacionamento com o 
sexo oposto, por nao terem ainda o mesmo rau 
de maturidade sexual. sses prob emas sao refor-
c;:ados por atitudes de chacota dos adolescentes 
rna is precocemente desenvolvidos, que frequen-
temente assumem posic;:ao de lideranc;:a nos grupos, 
ou ·ate por adultos, como, por exemplo,_ urn pro-
fessor de educac;:ao flsica mal orientado. Se o 
jovem menos desenvolvido for exigido da mesma 
maneira, ele certamente vai se sentir fracassado. 
.• Na grande maioria das vezes esses problenici 
sao transit6rios, pois com o tempo os adolescen-
tes entram no seu processo acelerado de desenvol 
vimento e atingem as mesmas proporc;:oes e ·matu-
f 
0 que e Adolescencia 25 
/" 
ridade sexual que os seus companheiros (frequen-
temente os menos precoces ficam ate mais altos). 
Porem, enquanto dura essa fase, cria-se urn serio 
problema para o adolescente. Muitas: vezes ele se 
afasta do convlvio grupal. Q fato de 'ver seu corpo 
diferente dos outros pode gerar angustia e preo-
cupac;:ao. 
0 . adolescente e, em geral, muito sens(vel a 
sua imagem corporal. Problemas como obesidade, 
uso de 6culos, acne, excesso de pelos, aumento 
passageiro dos mamilos (nos homens), seios muito 
grandes ou -rn~ito pequenos (f1~S mulheres), etc., . 
podem faze-lo sentir-se desvalorizado e leva-lo a 
inibic;:ao e ate a depressao. Nesses casos e preciso 
ajuda-lo e orienta-to, mostrando tambem que a 
maioria desses problemas e -transit6ria ou solucio-
navel. 
16..J~ma nova cabe~a 
.?2$' 
Urn adolescente pensa muito diferente de uma 
crianc;:a. E;ssa_ diferenc;:a e urn a consequenda__ .das _ 
! ____ ~ ...... ,___ __ _______ ....,._____ ..... -------- .. ·---.,.. . .... • •. 
transformac;:oes ·corporais-~- dos 'novos ··· esflmulos 
' ·' __ _,_ _ _..... .-.--...---~-·--·-·-..;--.-..-. ........ -,_ _______ . ..,.. ~ ··-· -.,_., .. ____ ~-~-~----··· ----------.-
amt1ientais_ e tambem _Q_~,_uma-muit~m;;~--.9!!~Ha-·· 
tiva na __ sua·· ·ati~~~i-"'~f29!!l!Lv'!_,..Jp_~n~a-'!l~ento, 
interigencia}~-~~segundo Piaget, urn estudioso~--ao 
-assa-nto, ela- seria o surgimento da capacida~e 
de "raciocinar sobre o racioclnio" - a repre-
~ 
' 
,. __ ,_-=--.,.-===o-=--=-=---,-·:---::-.:~.--.-
26 Daniel Becker 
se unda dem. · Essa caracterls-
dois tipos basi cos de pensamento: 
as opera«;oes mentais concretas e as formais. 
As primeiras tornam como foco apenas a rea--
lidade concreta. As opera«;oes formais tern como 
centro o racioclnio abstrato e surgem na ado-_ 
lescencia. 
0 A capacidade de engendrar possibilidades, 
formular hip6teses e pensar a respeito de slmbo-
los sem base na realidade permite ao adolescente ~ 
{
. pass_ ar __ a especular, abstrair, analisar,_. criticar. \ 
. Essa tr~f1_sfo_rma«;ao . na ·ir~el_igencia afeta todos Y 
::.os.aspectos .da sua vida, pais ele· utiliza as--novas 
capacidades para pensar a respeito de si mesmo 
e do mundo que o cerca. 
_ Uma nova emo~ao 
As primeiras sensa«;oes de excita<;ao sexual 
sao muito estranhas ao adolescente e e diflcil 
lidar com elas. Alem de seritir prazer, ao olhar ou 
tocar algu~m, ·' ele pode sentir medo, ansiedade 
e ate culpa. 
Para entEmder melhor a razao desses estranhos 
sentimentos, ppde-se partir do ponto de vista da 
teoria psicanal!'tica do desenvolvimento da crian«;a 
e do adolescente. De acordo com a Psicamilise, 
OS estagios de . desenvolvimento psicol6gi~O sao 
~ 
.. 
•I 
. 
. 
0 que e Adolescencia 
/ 
determinados geneticamente, isto e, sao intr!'n-
secos ao individ1,.1o e relativamente independentes 
das influencias do meio s6cio-cultural. Seriam, 
portanto, vcilidas universalm_ente, para qualquer 
indiv!'duo em qualquer cultura.- 0 principal deter-
minante do desenvolvimento e a sexualidade, que 
seria uma "fun«;ao" muito ampla.- Sua finalidade 
e 0 prazer, por urn lado, e a procria«;ao, por 
. outro. Ela incluiria toda atividade que busque o 
prazer ou a satisfa«;§o de uma necessidade do 
organismo. 
Assim, a crian«;a nos primeiros meses de Vida 
consegue · sensa~oos agradciveis · na estimulac;:ao 
da zona oral- suc«;ao, satisfa«;ao da tome, masti-
ga«;§o, etc. (fase oral). A crian«;a entre dois e tres 
anos obteria prazer em poder controlar partes_ 
de seu corpo; ela "retem" ou "liberta" as fezes 
(fase anal) e assim estaria exercendo tambem o 
controle da sua vontade e come«;ando a tomar 
decisoes. Mais tarde, come«;a a interessar-se pelo 
proprio corpo e a manipular os seus 6rgaos geni-
tais (fase falica). Neste per!'odo, a crian«;a deseja 
manter urn contato mais vivo com o genitor 
do sexo oposto. Ela perceberia, entao, que faz 
parte de uma rela«;ao a tres. 0 menino sente urn 
amor intenso pela mae; identifica-se com o pai, 
mas o desejo de ocupar o Iugar dele junto a mae faz 
com que sinta raiva, medo e culpa. Surge a fan-
tasia assustadora de que o -pai corte seu penis 
- o tal do complexo de castra«;ao. A men ina 
27 
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vive uma situa~o semelhante, na qual o homo-
logo do complexo de castrac;ao e a "inveja do 
penis". 
Essa situac;ao triangular entre pais e filhos, 
que geraria na criam;a sentimentos de amor e 6dio, 
e o famoso conflito edipiano. Ele e considerado 
pel-a Psicammse urn perlodo fundamental na 
estruturac;ao da personalidade e a base da iden-
tidade sexual do indivlduo. 
Dos seis aos dez anos a sexualidade estaria em 
parte reprimida e a energia deslocada para ativi-
dades e ·ap.rendizades. -intelectuais e sociais. E a.,. · 
chamada fase de latencia." ··A universalidade de 
ideias como o "complexo" de Edipo e a fase de 
latencia sao muito questiomlveis e ja se demons- . 
trou que elas nao existem em determinadas socie.;d 
d~des. 
··· Com a chegada da puberdade, todo o organismo 
e invadido pela forc;a das transformac;oes biol6gi-
cas e tornado por impulsos sexuais (e tambem 
agressivos). Nesse novo perlodo- a adolescencia" 
(fase genital) - reapareceria o confli_to edipianp, 
s6 que agora muito rna is perigoso.--Agorao- desejo 
incestuoso pelo pai ou pela mae pode ser realizado, 
pois houve o surgimento da sexualidade genital. Se 
uma crianc;a de cinco anos diz que quando crescer 
vai casar com a mamae, isso e motivo de beijinhos 
e festa. Se urn rapaz de treze a nos diz o mesmo, 
no minima e motivo para estranheza. E no entan-
to, e agora que ele pode realmente casar com a 
.l 
------- -------------
0 que e Adolescencia 
mae, e a men ina ter filhos com o pai. 
Acontece que, segundo a Psicanalise, durante a 
fase de latencia se organiza o superego, que repre-
senta os princlpios da moral e a censura, agindo 
sabre o ego. Este, por sua v~z, e a entidade psl'qui-
ca que regula e controla os instintos - represen-
tados pelo id-e os articula com as exigendas do 
superego e da realidade ·externa, funcionando como 
mediadora e executora de ac;oes. 0 superego, 
portarito, cria uma barreira ao incesto que reprime 
. esses sentimentos "perigosos". 
\ Por outro lado, os impulsos sexuais necessit~rn 
de satisfac;ao, e a mudanc;a do objeto de "desejo de 
dentro para fora da familia seria diflcil e dolo-
rosa~ Essa seria uma das origens para a ansiedade e 
a culpa que surgem com as primeiras sensac;oes de 
excitac;ao sexual. Para Freud, o criador da Psi-
canalise, a medida que 0 adolescents superasse 
as fantasias incestuosas e transferisse o desejo 
sexual para fora do nucleo familiar, ele estaria 
--~ 
29 
ao mesmo tempo se desligando da autoridade l 
dos pais. Essa necessidade de separac;ao e o afas- · ./ 
tamento em si levariam a rejeic;ao, ressentimento- I) 
e hostilidade contra os pais e outras autoridades. 
Para dife_renciar-se da fam flia, o adolescents ten-
deria a escolher padroes de vida e ideais bern 
diferentes dos paternos. Essa seria a explicac;ao 
.freudiana para o '_'conflito de gerac;oes". 
Anna Freud, filha de Sigmund Freud, dedicou 
grande parte dos seus estudos a adolescencia, 
r 
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-~,. q. -- . --· ----- ···~- ·-- ------~-,-
-· --~~-- =~~:- 1}: 
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30 
/ 
/ 
Daniel Becker 
conceituando-a como urn conflito de forc;:as internas; 
do indiv(duo, sem participac;:ao do meio ambiente) 
Ela dizia que com a chegada da puberdade haveria 
uma grande intensificac;:aodos irnpulsos instin-
tivos do id, o que levari a a urn desequil (brio. 
Para lidar com isso, o ego do adolescente utilizaria 
mecanismos de defesa (usados para "exciuir" 
da consciencia impulses que ele nao pode con-.· 
trolar). Urn dos mecanismos mais importantes 
seria a "intelectualizac;:ao'': o uso da reflexao 
e do interesse intelectual para encobrir e controlar 
a vida instintiva. 
""" 
Assim, as preocupac;:oes do adolescente com 
problemas sociais ou pol lticos, por exemplo, 
seriam nada mais do que tentativas de transferir 
para o mundo externo conflitos incontrolaveis da 
vida interior e n§o · preocupac;:oes au'tenticas. Eia 
chegou a 'lamentar que exigencias tao serias como 
escolha da carreira, rendimento academico e. a 
responsabilidade economica e social coincidi$sem 
com urn perlodo em que todas as energias estao 
absorvidas na resoluc;:ao dos problemas do desen-
volvimentQt·.sexual. 
-- Por essa teoria, entao, a adolescencia e consi- \ 
derada basicamente urn fenomeno bio-psicol6gico- ) 
sexual, onde os aspectos culturais e sociais entram I 
s6 para atrapalhar, como se fossem elementos (_ 
estranhos. Os interesses e as rnotivac;:oes dos adoles- j_ 
-centes seriam simplesmente urn resultado da subli-) 
mac;:ao e- fl!pressao dos instintos sexuais. Parece. 
~ 
-r 
~ 
~~·~ ... _l!.lf"f~,...,...Y.;>~;r;>-.•;'\"t"~'l';'7"""r•,·,~:;,~-.-,-,·,~;--;-;.•; ,-, '• o'.;··· •:•·;•:·,-,~.~~'";-."'·;••,•-:-,-"-;">"•~.Y..,·~·-~-·1-"r'...-C•~,,....-.,.,.'>--;~~---·~~'f"Y"Y'i''"'<-;=~~-";;7.=.~;:-"T-~~;--•"··-·or>:::~:r:.::-.~u.::-:-'~:O~.•o·.-.·• 
" ~~,- i( ~llij ~~ 
0 que e Adolescencia ,.,,,. II; 31 ~ili~ ,l; 
0:·<>· •
1
;; 
/ 
clara que aqu_i existe alga questionavel. Mas vamos 
deixar isso para depois. 
Como surgimento da sexualidade, o adolescente, 
em geral, procura a pessoa mais acessfvel para 
transar seus impulses: ele mesmo. Com toda essa 
dificuldade em localizar uma outra pessoa como 
objeto· .de desejo, ele. recorre a masturba<;ao. Esta: ~~ 
alias, nao e apenas urn canal de descarga de impul-
ses sexuais. Muito mais do que isso, e tamoom urn 
mecanisme importante e saudavel para o contato 'I 
do adolescente com seu proprio corpo, com sua 
.. nova .e descenh.ecida sexualidade, que· o ·aj-uda a 
controlar e inteffrar seus impulses, e a preparar-se · 
para rela<;oes sexuais ativas. Atraves da · mastur-
ba<;ao o adolescente pode se explorar, amadurecer 
no seu proprio ritmo, conhecer a sensa<;ao do 
orgasmo. Segundo alguns psicanalistas, ela poderia 
servir tambem para descarregar impulses agressivos 
ou compensar frustrac;:oes ao proporcionar urn 
prazer imediato. 
A masturba<;ao, portanto, e uma atividade essen-
cia! para o adolescente. Em nosso meio, no en-
tanto, existe muita confusao em relac;:ao a esse 
tema, principalmente por influencia de valores 
marais antigos, mas arraigados em nossa cultura. 
A maioria dos pais reprime a masturbac;:ao da crian-
<;a pequena, que e normal e necessaria, e isso e 
geralmente revivido . pelo adolescente. E comum 
ouvirmos historias de maes aterrorizadas por terem 
surpreendido seu filho.se mastumando ... n.o.-b1)nheiro 
Jiflh.:-; / U.GJ'~ 
l 
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J ~·-·~ ! :'~•' -~ i' ~ .1 :. • "3 n " 
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: 
Daniel Becker 
(se fosse a filha, entao, ela provavetmente 'nao 
sobreviveria ao choque para contar). Existem 
cren~as de que a masturba~ao leva a fraqueza, 
doen~as e problemas mentais. Por tudo isso, a 
masturba~ao pode tornar-se ligada a sensa~oes de 
angustia, culpa e medo, e ser encarada como coisa 
doentia ou proibida. Essa repressao e o precon-
ceito sao especialmente acentuados para as me-
ninas; elas se masturbam menos que os homens 
por razoes basicamente culturais. 
A evolu~ao do jovem em dire~ao ao estabeleci-
mento de sua sexualidade madura e cornpleta e 
urn processo complexo, ~s vezes diflcil, cheio de 
conflitos e crises, e tambem de momentos mara-
vilhosos de paixao, descoberta e realiza~ao. 
Os conceitos de sexualidade "normal" ou "boa" 
sao muito discutlveis. A questao do homossexua-
lismo, por exemplo. A grande maioria dos cientis-
tas que a .estudam (psiquiatras, psic61ogos, soci6-
logos) e uma boa parte da sociedade em geral ja 
nao consideram o homossexualismo como urn 
disturbio e sim uma op«;ao de vida. No entanto, 
urn grande numero de pessoas o encara como uma 
; doenca grave. . 
Acontece que e muito comum, especialmente no 
in lcio da adolescencia, que o interesse sexual seja 
predominantemente homossexual. Meninos e meni-
nas tern preferencia por amigos ·do mesmo sexo e 
nao e raro que aconte~am "jogos" sexuais entre 
eles. lsso nao significa qualquer tendencia ao 
""' 
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.. 
0 que e Adolescencia 
homossexualismo mais tarde. Mas como o pre-
conceito e o medo de que o seu filho vire "viado" 
ou "lesbica" e enorme entre os pais, esses compor-
tamentos geralmente sao reprimidos c~m violencia. 
Assim, proibe-se uma tendencia natJral do jovem 
e pode criar-se urn estigma que o perseguira por 
muito tempo. 
Por mais que exista uma "liberacao de costu\ 
mes" hoje em dia, os valores marais vigentes em ! 
nossa sociedade ainda restringem bastante a at~- J 
dade sexual do adolescente. Por outro lado, essa( 
mesma sociedade tern esti.mul~do cada. vez mais a1 
0 • • \ 
sexualidade, usando-a em todo tipo de propaganda,\\ 
33 
como velculo e objeto de consumo. Basta ligar a ',) 
TV para perceber que sexo vende de tudo, desde // 
roupas e sabonetes ate espremedor de laranja./ 
Assim, ele e reprimido como pratica natural, boa, 
humana, e estimulado e propagandeado como 
instrumento comercfal ou pornografia. 0 conceito 
de sexualidade que resulta dessa ideologia pode 
prejudicar todo o desenvolvimento afetivo do indi-
v(duo. 
Em meio a toda essa confusao, o adolescente se 
ve incentivado e ate pressionado - pela televisao, 
publicidade, filmes, revistas pornograficas ou nao, 
enfim, pela sociedade em geral - a uma atividade 
sexual deturpada, impregnada de preconceitos / 
· marais, de bloqueios afetivos, de urn carater comer-r 
cial, competitivo ou exibicionista. -~i 
Por outro lado, por conta justamente desses 
,.r-
34 Daniel Becker 
....... 
preconceitos, ele e pouco ou nada esclarecido em -(\ 
relaf;:ao a sexualidade e reproducao. A famnia, 
ainda hoje na maioria das vezes, e absolutamente 
omissa quanta a orienta-to. A educacao sexual nas 
escolas, quando existe, e Hmida, super.ficial, e nao ( 
($e compromete. ~/ides mostram penis e vaginas, 
1 
~ testlcu los e ova nos, mas raramente · aborda-se o } 
Llado pratico e humano da questao. . j 
Pode-se compreender entao que nao seja nada 
diHcil encontrar adolescentes em plena atividade 
sexual sem saber o que e por que o estao fazendo, 
sem saber o que e urn ciclo menstrual, ·sem poder 
. sequer. perceber 0 significado· ver~:hideiro d~ urn 
relaCionamento sexual. ·E, o que e pi.or, ignorando 
completamente as posslveis conseqi.iencias dele 
(uma gravidez, porexemplo) e os modos de evita-las. 
Metodos anticoncepcionais comrletamente inefi-
cazes sao usados pelos adolescentes, na crenf;:a de 
que evitam a gravidez. 0 metoda da tabela (nao ter 
relaf;:oes nos dias pr6ximos a ovula\~ao), por exem-
plo, e especialmente inseguro para 0 adolescente, 
pais nessa fase da vida OS ciclos falenstruais sao 
irreguJareS,, e a ovulaf;:aO pode OCOrrer antes OU 
depois do previsto. Alem disso, para muitos ado-
lescentes, 0 dia que pode nao e 0 da tabelinha, mas 
o dia em que os pais nao estao em casa. Ou [ros 
metodos usados sao totalmente im1teis, como 
lavar-se bern ap6s a relaf;:ao, tamar uma pllula no 
"dia seguinte" ·au introduzi-la na vagina. Tudo isso 
por pura e. simples falta de orientaf;:ao. 
~ 
,----
' 
: 
0 que e Adolescencia 
_ 0 que resulta dessa situaf;:ao e uma grave ameaca 
para o adolescente e urn problema de saude publica 
em nosso pals: a gravidez na adolescencia. Uma 
menina de treze ou quinze anos na grande maioria 
das vezes nao tern condif;:oes Hsicas e emocionais 
de segurar a barra de uma gravidez. 0 problema e 
mais pesado ainda para a jovem de baixa renda, que 
tambem nao tern condif;:oes economicas adequadas, 
e muita$ vezes mal consegue se alimentar e se vestir. 
A salda geralmente e o aborto. No Brasil ele e 
ilegal, e no entanto estima-se que se praticam aqu·i 
tres milhoes de abortos por ano, muitos deles em 
adolescentes,. de ate onze anos de idade. E born 
lembrar tambem que ·a ·aborto implica urn serio 
risco de vida, especialmente para adolescentes de 
baixa renda. Ele e praticado geralmente por "curio-
sas" ou em cl lnicas clandestinas sem qualquer 
condif;:ao tecnica ou higienica, e muitas vezes acaba 
levando a conseqi.iencias tragicas,. como histe-
rectomias (retirada do utero po'r cirurgia) e 
mortes. 
35 
Muitos dos aspectos que envolvem o inlcio da J 
sexualidade adulta estao. marcados por precon- 1 
ceitos e estigmas culturais. Mas eles sao sempre Ci 
mais n'gidos em relaf;:ao a mulher e vern muitas / 
vezes associados a ideias e valores machistas.-· 
A adolescente sofre uma repressao bern mais 
intensa, especialmente (mas nao exclusivamente) 
nas classes sociais menos privilegiadas, onde esses 
preconceitos sao mais arraigados. Alguns tipos de 
'~~--··n··-~~~~·•·.-..-.-..-~ ~~.,...._·-·--- .. ---~.,._..,_..._........, ... _. ·-- ---~-~~-~-------~~~----· .. 
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Daniel Becker 
comportamento permitidos e ate encorajados para 
OS homens sao terminantemente proibidos para 
as ·mulheres, que acabam sendo educadas a assumir 
urn papel submisso. . 
Por outro lado, muitos progresses vern aconte-
cendo. A "iniciac;ao sexual" do menin9 com pros-
titutas (geralmente por obra do pai, ansioso em 
afirmar sua masculinidade atraves do filho) e cada 
vez menos frequente. Conceitos como virgindade 
e algumas ideias machistas vao caindo progressi-
vamente em desuso. A educac;ao sexual vern sendo 
mais debatida, profissiqnais· de s(lude e pedagogos 
estudam e se especializam na questao da sexuali-
dade e na orientac;ao do adolescente. As discussoes 
em torno do tema tornam-se mais abertas e sao 
aprofundadas. Cada vez mais o adolescente se 
liberta da velha prisao da equac;ao que iguala corpo 
e sexo, e de papeis sexuais marcados e definidos 
por normas e limites rlgidos. Cada vez mais adoles-
centes se encontram ·em relacionamentos amorosos 
livres e sadios, nos quais o sexo e parte inseparavel, 
naturale positiva. 
Matar, morrer, renascer 
Muito se fala por al em "depressao normal" da 
adoiescencia. Tudo bern, mas nao vamos genera-
lizar. Tern muito adolescente agitando por al sem 
nunca ficar deprimido. Alias, em relac;ao a adoles-
"'' 
0 que e Adolescencia 
/" 
cencia, e costume se falar de diversos temas de 
mane ira mistificante. Chavoes do tipo "adolescente 
deprimido", "rebelde", "toxicomano", "agressivo" 
sao mu ito generalizantes e nao podem ser de forma 
afguma tornados como regra.' Os adol~scentes tern 
muito em comum, mas cada urn tern tambem urn 
comportamento proprio, determinado pelo meio 
em que ·vive e pelas suas experiencias interiores. 
Mas, continuando, ··muito se fala par a( que o 
adolescente tende a depressao, e alterna esse estado 
de humor com outro que se cara·cteriza par agressi-
v.idade e intolerancia. Aml5os seriam importantes; 
a agressividade facilitaria 0 usa de recursos inter-
nos, seria a expressao do lmpeto para a vida' e a 
criac;ao. A depressao seria importante como urn 
perlodo de recolhimento, de reflexao sabre as 
vivencias interiores. 
Uma das explicac;oes psicanal lticas para a de-
pressao seriam os "lutos" do adolescente: reac;oes 
a uma serie de "perdas" que ele sofreria durante o 
seu desenvolvimento. Eles seriam, basicamente: 
1) o luto pelo papel e identidade infantil: a perda 
dos privilegios da crianc;a, o temor das responsabi-
lidades do adulto; 
2) o luto pelo corpo infantil perdido, que ja era 
urn "velho conhecido": o jovem sentir-se-ia impo-
tente diante das transformac;oes incontrolaveis que 
sofre; 
3) o luto pelos pais da infancia - seria talvez o 
mais importante. A crianc;a e muito identificada 
37 
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38 
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. 
. 
Daniel Becker 
com seus pais, e conta com a prote~ao e o apoio 
deles em todos os mementos. Sua autonomia esta 
na dependencia direta da permissividade dos pais. 
~ 
Porem, a medida que cresce, a crian<;a precis·a 
_afirmar seu ego e criar sua propria identidade, dife- 1 
renciar-se de seus pais. Para isso, precisa afastar-se, I 
divergir deles. Esse processo e conhecido como i 
polariza~ao. A polariza<;ao e o desvio do interesse \ 
sexual para fora da faml'lia, de que ja falamos, e ' 
se soma ao fato de que o adolescente agora pode0 
olhar seus pais com uma visao _mais cn~tica, analisar ( 
seus conce1tos, seu modo de, v1da. Ass1_m, o adoles- \ 
cente· entraria ·num ph>cesso de agressao e desva- }-
loriza<;ao dos seus pais. -~ 
Os pais da infancia eram perfeitos, idealizados. 
De repente o jovem- entra em contato com seus 
erros, suas fraquezas, seus problemas, e tern grande 
dificuldade em aceita-los. A perda e enorme: ;'se 
eles na(J' 'sabem nada, como podem me ensinar 
alga? Se eles nao sao legais, como podem me pro-
teger?". Discorda das ideias dos pais, e isso I he traz 
remorse e culpa; o.scila entre o desejo de indepen-
dencia e autonomia, e a necessidade de "colo" e 
prote<;ao, e isso o confunde e angustia. Ele preci-
saria dos pais tanto para contesta-los, quanta para 
sentir-se seguro enquanto conquista sua indepen-
dencia. 
Essa ambiguidade confunde os pais. Eles estao 
sendo severamente criticados e ao mesmo tempo 
exigidos como provedores de seguran~a e prote~ao~ 
.. 
" 
0 que e Adolescencia 
Pode nao ser nada facil ser pai de adolescentes. 
e. urn pen'odo de muitos "lutos" tambem: .seu 
filhinho querido mudou. Ja nao e mais a crian~a 
fragil, doce e carente, mas quase urn adulto, contes-
tando sua visao de mundo e seus valores, pondo a 
prova sua autoridade, desafiando-o constante-
mente. Ele ja nao tern mais o mesmo controle 
sabre seus filhos, percebe que estao adquirindo sua 
independencia e que ele nao e mais necessaria. 
Por outro lado, se ve obrigado a sustenta-los e pro-
tege-los, e e .legalmente responsavel • por eles. 
Com as crlticas, os pais podem sentir-se velhos 
e ultrapassados."Veltios.conflitos esquecidos ressur~ ·. 
gem. Sentem inveja ·dos filhos. Afinal, ·eles estao 
come~ando a vida, tern todas as op~oes poss I've is, 
nao tern responsabilidades. ~Sao mais saudaveis e 
bonitos, e podem fazer tudo aquila que os pais 
... deixaram de fazer. 
- A capacidade de abertura e reflexao _ desses pais, 
a maneira com que eles lidam com seus pr6prios 
conflitos, e a compreensao que tiverem co.m rela-
~ao aos conflitos dos filhos e que vao determinar 
c;~ sua rea~ao perante o adolescante. 0 uso da vio-
h~ncia, da repressao e do autoritarismo, e por outro 
I ado, a falta total de limites e a satisfa~ao de todos 
os desejos e caprichos podem criar serias difi-
culdades ao desenvolvimento da personalidade 
do adolescEmte. No ·entanto, se houver uma ati-
tude equilibrada e sobretudo_.compreensiva por 
parte dos pais, e tambem dos filhos, pode surgir 
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40 Daniel Becker 
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e arnig~ 
---Segundo algumas teorias,; a rebeldia do jovem 
para com a sociedade seria resultado da simples 
transferencia do conflito com os pais, ja que a 
sociedade, em ultima instancia, representaria o 
papel controlador exercido por eles. Parece haver 
aqui, como veremos mais tarde, uma certa subesti-
ma~ao da importancia do meio social no conflito 
adolescente. 
. . 
A crise de identidade 
Urn importante RSicanalista, Erik Erikson, consi-
derava gue a grincipal "tarefa" do adolescente seri'a 
aaquisic;:aq d~jde]ltidade dq_ ego. Alias, e de suas 
·teorias que surge a famosa expressao 11Crise de iden-
tidade". _Qjovem cumpr~r-ia.essa.tarei~Lpor mei_<:> (je 
vari_O~ proceSS0$1 .S.~I'lCh? OS rna is importantes as 
identificac;:oes. Atraves do repudio. de umas e da 
absorc;:'ao de outras, gradi.Jalmente se cristalizaria a 
identidade adulta . 
. Para OQ!~-Ia_,__ujgy_em precisaria de urn 11tempo" 
-urn pert'odode exp_er~Tase adiarnento de com:-
pr()_ffiissos. No caso de esse---tempo ser mal aprovei-
tado, surgiria a 11Confusao de identida~e", gerando 
angustia, passividade, dificuldades de relaciona-
mento. Urn outro risco seria a aquisic;:ao de uma 
• 
0 que e Adolescencia 
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A chamada "crise de identidade ", que aca"eta angilstia, 
passividade e dificuldades de relacionamento, surge 
a partir de conjlitos de valores e identificafoes dos 
adolescentes. 
41 
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. 
.. 
42 Daniel Becker 
identidade negativa, baseada em identifica~oes 
ruins, mas apresentadas durante. a vida do jovem 
como as mais rears. 
0 apaixonar-se, tao frequente na adolescencia, 
seria para Erikson de natureza menos sexual do que 
em idades posteriores. Seria antes uma tentativa 
de projetar e testar o proprio ego por meio de 
outra pessoa, identificando-se com ela e· clareando 
sua propria identidade. -~ 
Associada a no~ao de identidade estaria a de 
ideologia, que expressa as ideias do grupo social. 
Ela funcionaria positiva111~nte, confirmando a iden-
tidade ao indivl'duo, reconhecendo-o como parte 
integrante da sociedade .. Assim, a aquisi~ao de uma 
ideologia. permitiria ao jovem resolver os seus prin-
cipais conflitos, fugir da "confusao de val ores", 
e lhe daria acesso a vida social. 
Erikson afirmava que os sistemas totalitarios 
exercem atra~ao sobre o jovem, pois fornecem 
· identidades convincentes e rlgidas, e portanto, 
facilmente assimilaveis. A identidade democratica 
seria menos atraente, pois envolve a liberdade de 
escolha, em vez de fornecer uma identidade ime-
diata. 
A busca do eu no outro 
Em meio a essa crise de identidade, o jovem vai 
partir ·em busca de novas identifica~oes, novos 
• 
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0 que e Adolescencia 
e::.:;;~ li,·; 
·~·.·\ E 43 fu;; ,,, 
B~-=.:d,_fi_ cg__mgortamento, sempre que posslvel 
bern diferentes dos que seus pais representam. 
Dat', a identifica~ao com todo tipo de modelos, 
desde o Menudo ate Gandhi, passando por filo-
sofos, cientistas, pol lticos, atletas, artistas, etc. 
Ha muito de tentativa e erro _nesse prc;>cesso, e e 
interessante que nessa busca de fortalecimento de 
sua personalidade haja momentos de tanta identifi-
ca~ao que o adolescente praticamente perca sua 
propria identidade. 
Nesse momento ha tambem uma enorme necessi-
dade de -pertencer a um g-ruP.Q. 0 jovem encontra-se .. 
a meio caminho entre irifancia e adolescencia, 
enfrentando a toda hora afirma~oes do tipo "voce 
e grande demais pra isso"' ou "voce e pequeno 
demais para aquilo". Fica meio marginalizado 
tanto do mundo adulto como do mundo infantil. 
···o grupo, entao, ajuda o indiv!'duo a encontrar a 
propria identidade num contexto soc.ial. No grupo 
existe uma certa uniformidade de comportamento, 
de pensamento, de habitos. Nessa epoca em que a 
auto-imagem se modifica radicalmente, o adoles-
cente procura conforto em sua roda de compa-
nheiros, padronizanao suas ideias, suas atitudes. 
Ur:n ... serv~ _d_e ___IT1Qdelo .. [!aJ(J () .Q_IJ!r<?.._ .So{~errL . .:g_e· 
angustias ser11eU1e3ntes,. e._() _grupo ft,.~Qciona __ como 
protetor perante el~s (u.ma especie de substituto 
dos pais, segundo a psicanalise). Curtem as mes-
mas experiencias e descobertas, e ~s vivenciam 
·juntos. 
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44 Daniel Becker 
Uma nova viagem 
A adolescencia e uma fase de novas sensac;oes 
e experiencias antes completamente desconhecidas. 
E e geralmente nessa fase que se tern o primeiro 
contato com uma "tern'vel ameac;a": a droga. 
0 terror dos pais, a destruidora de corpos e mentes, 
lares e carreiras. 
Ora, ha pouco falavamos em mitos da adoles-
cencia. Esse talvez seja urn dos piores. Vejamos por 
que. . ........... . 
Podemos classificar as drogas psicoativas -em 
_quatro grandes grupos. 0 primeiro e 0 dos depres--
sores do sistema nervoso: o alcool e o mais usado 
entre eles, competindo com os tranquilizantes e 
remedios para dorrnir, consumidos em massa pela 
populac;ao, na tentativa ·de sobreviver a tensao do 
dia-a-dia. Esses remedios sao os rna is vendidos 
no mundo e dao Iueras enormes a industria farma-
ceutica. 0 segundo grupo e 0 da morfina e deriva-
dos, como a herolna (ainda pouco disponiveis no 
Brasil). Ao terceiro grupo pertencem os excitantes 
do sistema nervoso: a cocalna e as anfetaminas 
(bolinhas, remedios para emagrecer). No quarto 
grupo se incluem os alucin6genos: LSD, derivados 
de cogumelos e, afinal,· a conhecidlssima m·aconha 
- alucin6gena somente em altas doses. 
As drogas psicoativas podem levar a dois tipos 
de dependencia: psicol6gica e flsica. A primeira 
,,_ .. ,_._,,,.,-L .• -~.n-c.-.·•·-·c,-.•~.-••.. ,,..~ ..... "'-~~--·.7-"-"'"--"-·'·'·"""-""-"~~........:..•_.__.·~·~------' -· .,_,,, 
'I 
0 que e Adolescencia 
/ 
esta mais relacionada ao indivlduo; uma pessoa 
pode "depender" de. qualquer coisa, ate de refri-
gerantes e televisao. Ja a dependencia flsica e grave 
e relaciona-se com o ·uso da droga.; Se a pessoa 
deixa de consumi-la, acorn~. a "slndr'ome de absti-
nencia';: uma serie de distU"rbios que vao desde urn 
leve mal-estar ate a loucura e a morte. 
Interessante notar que as drogas que levam com-
provadamente a dependencia fisica sao as dos dois 
primeiros grupos, sendo que alcool e tranquili-
zantes sao de uso geral e grande consumo. Ouanto 
a COCa(na,. f1aO e comprovado que leve a depen-
dencia flsica·, mas· induz frequentemente defi)en-
denCia psico16gica severa, e seu uso repetido causa 
muitos prejulzos ao organismo. Por isso e consi-
derada urn a droga pesada. 
0 primeiro contato do adolescente com as 
drogas geralmente se faz atraves do alcool. Apesar 
de "proibido para menores", ele e social mente 
aceito; existe uma certa permissividade em relac;ao 
ao seu consumo. 
0 mesmo nao · acontece com a maconha, qu.ase 
sempre a segunda alternativa. Por motivos varios, 
envolvendo fatores hist6ricos, culturais e econo-
micos, ela e proibida na maioria dos palses, o nosso 
entre eles. Sabe-se, no entanto, que uma grande 
parte da. populac;ao adolescente ja experimentou a 
maconha. 
Efeitos prejudiciais importantes ainda nao foram 
comprovados. Acredita-se que eles· possam existir 
45 
""' 
46 
/ 
" 
Daniel Becker 
, 
quando se usa grande quantidade com muita fre-
quencia. Esse ja nao e o caso do alcool. Conse-
quencias danosas do seu uso excessivo sao conhe-
cidlssirTlas. 0 alcoolismo e uma das rTlais graves e , 
frequentes doem;as da nossa sociedade. 0 mesmo 
se pode dizer do cigarro, causador de inumeras 
doenf;as fatais ou incapacitantes. Gastam-se fortu-
nas para tratar pessoas doentes pelo uso de cigarro 
ou de alcool, -e fortunas equivalentes na propa-
ganda de ambos. 
Enquanto isso, urn adolescente pego com urn 
pouco de maconha no bolso pode. ser preso e, ·as 
vezes; . ate· chantagea~ ou espancado. Talv~z ·. ·. 
porque ela ainda· nao _da Iuera ao Sistema. A 
marginalizaf;ao do usuario de maconha e o prin-
cipal motivo dessa falsa ideia de que ela induza 
o indivlduo a criminalidade ou a vioh~ncia. Em 
alguns lugares do mundo o uso da macohha esta 
descriminalizado, sem que isso irijplique qual-
quer reduf;ao na punif;ao e no combate ao trafico 
de drogas. 
Urn mito frequente em relaf;ao ao uso de drogas 
pelo ·adolescente e o. de que quem usa maconha e 
urn toxicom~no, urn viciado. Nao ha duvida de que 
0 v(cio em qualquer droga e uma ameaf;a a integri-
dade do indivlduo. Mas ora, nem todo mundo que 
bebe vodca ou cerveja e alco61atra. A maioria das 
pessoas faz isso "de vez em quando". 0 mesmo 
acontece em relaf;ao a maconha: a grande maioria 
dos adolescentes que a usam SaO OS "usuarios 
.1,. 
. ., 
-1 
. 
0 que e Adolescencia 
. 
. 
recreacionais", isto ~. nio sao viciados, nio a con-
somem de forma compulsiva e sistematica.!J_ngra-
cado que haja tanta prQocupacao com o uso ~da 
maconha, mas nio tanto com ~ do alcool. 0 alcoo-
lismo ~ unl" problema serio tambem entre ado.les-
centes. 
0 problema da causalidade do v(cio em drogas 
e muito controverso. Nao nos cabe discuti-lo aqui. 
E evidente que a dependencia de.qualquer droga e 
urn problema grave. Mas tam~m e evidente que 
entre o uso eventual e o vicio vai uma grande 
distancia. 
Urn segundo mito que vale a pena ser colcicado e 
o de que a maconha seria uma porta de entrada· 
para outras _drogas mais pesadas. Nao e bern assim. 
Estatl'sticas demonstram que a grande maioria dos 
usuarios de maconha nio vai al~m dela. Se aquela 
afirmacao fosse verdadeira, teriamos a( urn enorme 
numero de adolescentes usando acido, coca ina· 
ou heror'na. Nao ha duvida de que essas drogas sao 
bern mais perigosas e que ·o risco de induzirem ao 
vl'ci.o ~ maior. 0 envolvimento com elas muitas 
vezes termina em consequencias tragicas. Mas -cr 
maconha nao lnduz ao seu uso. 0 que acontece ~ 
que alguns indivl'duos, com certas caracteristicas 
e em determinadas circunstancias, podem passar 
para essas drogas a partir da maconha, pois ela ~ a 
mais acessivel e portanto a primeira a ser usada. 
Logo, a ~lacao e temporal, e nao causal; e valida 
apenas para algumas pessoas. · Essas pessoas, que 
r-------·---·-----·- -- ···-~_,....Li; ···"\.l'"'.l 
\,.I '·"" ~ • \..- • ¥" • T·r-•· ., • ; 1 • G 1
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-~-----~·~~-~......-~...._,._-,.L.z.o._.~.-.,.......,., . ....,..,.... • -- -,-c· -,,-,___,..,,-.-,-.,.;••·--·--··•'''-•'·'""~---...-¥--•~~-~-'-·~~..-~L·..--=~·-•·•· •-• •-~~• •~--,~- ·••' •. -,.~~~~-.,.-~ ,,, _ _,, __________ .,. __________ •-r·•·~- • .,_, •••• , 
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