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ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO-UNEMAT CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PONTES E LACERDA BACHARELADO EM DIREITO- 2018/2 LETÍCIA RABELO RAMOS QUESTÃO INDÍGENA E PLURALISMO JURÍDICO PONTES E LACERDA, MT 2018 1. INTRODUÇÃO Diante das novas vertentes jurídicas, surgiram diversas análises dos paradigmas sociais e a maneira como deve ser abordado os direitos e aplicados os processos jurídicos. Admitindo o Pluralismo e o Multiculturalismo, é possível reconhecer a necessidade de se analisar cada caso individualmente, sem deixar de lado o fato de que cada sociedade possui intrínseca a sua identidade um direito próprio. Assumindo o conceito de Pluralismo Jurídico segundo Norbert Rouland, podemos afirmar que o sistema jurídico não é único, mas sim, composto por sistemas jurídicos que se relacionam entre si. Através da hierarquia dos níveis jurídicos, estabelece-se uma determinada autonomia, porém, tendo-os sempre submissos ao Estado e a norma constitucional, esta como poder maior. O mesmo ocorre com as sociedades indígenas e seus fundamentos. Dentro da nova perspectiva constitucional, os povos sofreram um grande impacto, dividindo os direitos em dois momentos distintos e originando dilemas jurídicos e grandes debates. 2. O PAPEL DO ESTADO A teoria do Multiculturalismo admite a coexistência de varias culturas num mesmo território. Desse modo, é possível afirmar que no território brasileiro, diversos povos indígenas, cada qual com sua cultura, representam um braço de um todo, ou seja, cada sistema individual contribuiu para a formação do Estado nacional. Historicamente, devemos muito a essa população que ainda hoje, nos ensina como lidar com alguns aspectos da vida cotidiana, contudo, a forma de abordagem no tratamento dos direitos e deveres dos mesmos em relação ao direito constitucional, é motivo de grandes debates, tanto no âmbito nacional, quanto internacional. Ao aceitar a teoria do Pluralismo Jurídico, se tomada de forma “branca”, o Estado toma para si a função de aliviar as tensões sociais por meio da tolerância e até incentivo, através da flexibilização das normas, trabalhando- as sob a perspectiva de orientar a conduta humana. Porém, se tomada de forma radical, dá-se inicio aos dilemas, pois desse modo, a dualidade de “maleabilidade/caos” presente no Pluralismo, se choca com a certeza jurídica do Positivismo, criando conflitos diretos com a normal estatal. Isso ocorre por que face ao avanço sofrido por essas populações e as consequentes transformações, a sociedade não admite certos preceitos culturais, pois há o choque entre as cosmologias. Torna-se mais fácil compreender a necessidade de uma discussão, quando nos deparamos com exemplos reais, como o recente caso da indiazinha que foi enterrada viva, por que este era o “correto” a se fazer, segundo a etnia dos familiares maternos da criança. 3. OS CONFLITOS Tomando por exemplo constante o caso referido acima, percebemos que a dificuldade em definir uma concepção inicia-se pela complexidade de tomada de parte pelo próprio Estado. Isso ocorre por ambiguidades presentes na Constituição e pelo histórico de mudanças ocorridas ao longo do percurso jurídico nacional. Ou seja, o Estado tem por obrigação garantir o direito à vida, art. 5º da CF/88. Logo, a criança tinha o direito de ser mantida viva e receber todos os cuidados necessários. Porém, esta mesma Constituição, no caput do art. 231, reconhece aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, dando assim, autonomia a avó para a execução do ato. Posto claro este conflito, e dada à repercussão e impacto do caso ocorrido em Canarana, dois órgãos dados como protetores dos Direitos Humanos entraram em cena. De um lado o Ministério Público, que defende a necessidade de prisão da avó e bisavó da criança, conforme o corrente Código Penal, e de outro o Tribunal de Justiça, por meio do desembargador Luiz Ferreira da Silva, que defende a liberdade da mesma, tendo dentre os motivos, especificidades culturais “que tornam difícil o convívio social fora da tribo”. De um lado o direito à vida e de outro o direito a autonomia de organização social. Em sua defesa, as rés tem a justificativa de que foi tudo por manutenção da ordem cultural, porém, em sua acusação, tem o depoimento de uma enfermeira da Funai que alega o conhecimento das mesma à respeito das leis vigentes. Na tentativa de solucionar o caso, que é respondido em vara criminal e civil, foi pedido um estudo antropológico e psicossocial dos envolvidos. 4. CONCLUSÃO É sabido que as condutas das populações indígenas possuem autonomia e resguardo jurídico, porém, na prática torna-se trabalhoso lidar com os casos, já que, em sua maioria, eles dizem respeito a crimes contra a vida e dessa forma geram certa polêmica no meio jurídico e social. É visto que os mesmos devem ser analisados individualmente, contudo, o efeito da jurisprudência ainda é base para as decisões de cada qual, e o apego pessoal e consideração do que venha a ser justo pesa na balança contra os réus. A hierarquização dos níveis jurídicos por meio do Pluralismo Juridico defende que cada população tenha um critério de justiça e o direito de exercê- la, todavia, esse direito deve submeter-se ao direito maior, normas constitucionais, a fim de preservar a identidade e o bom convívio cultural, garantindo a manutenção da cidadania e do bem comum através de Legislações que abordem o Multiculturalismo e suas bases. O caso da indiazinha é um dos mais recentes e que levantou maior discussão não somente por ser uma barbárie, frente às diferentes possibilidades em relação ao futuro da criança, mas também por explorar os limites que o Estado deve ter ou quebrar para a proteção de todos aqueles que estão submetidos a sua jurisdição e proteção. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Roberto, I. (11 de 09 de 2018). Bebê indígena enterrada viva: estudo psicossocial definirá futuro. Acesso em 16 de 10 de 2018, disponível em Interativa FM: http://www.iappe.com.br/portal/policial/11761-policias-encontram-bebe- indigena-enterrado-vivo Santos, R. M. (2005). PLURALISMO, MULTICULTURALISMO E RECONHECIMENTO UMA ANÁLISE CONSTITUCIONAL DO DIREITO DOS POVOS INDÍGENAS AO RECONHECIMENTO . REVISTASUFPR . Torquato, J. P. (2016). Pluralismo jurídico e os indígenas brasileiros. Acesso em 16 de 10 de 2018, disponível em Jusbrasil: https://0culos.jusbrasil.com.br/artigos/372023640/pluralismo-juridico-e-os- indigenas-brasileiros
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