Surgimento das bibliotecas e a trajetória da Biblioteconomia como campo disciplinar no Brasil

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Universidade Federal Fluminense
UFF
O surgimento das bibliotecas e a trajetória da Biblioteconomia como campo disciplinar no Brasil.
Paula Ribeiro da Igreja
115001052
Introdução à Biblioteconomia
Professora: Rosana Portugal Tavares de Moraes
 Niterói-RJ
2015
SUMÁRIO
Introdução............................................................................................................3
Surgimento das bibliotecas no Brasil....................................................................4
A trajetória da Biblioteconomia como campo disciplinar no Brasil.........................6
Conclusão..............................................................................................................8
Referências............................................................................................................9
Introdução
Acredita-se que as bibliotecas tenham surgido quando se inicia a preservação de registros escritos de conhecimento. Essa constatação se sustenta na presença de grandes unidades de informação onde se sucedeu ampla produção de conhecimento.
As condições favoráveis ao surgimento de bibliotecas estão ligadas a disponibilidade de recursos financeiros para o estímulo à produção cultural, um sistema de educação formal, a presença dos centros urbanos e a prosperidade política e social.
O Brasil começa sua história no ano de 1500, período o qual as bibliotecas do mundo já haviam alcançado sua glória fossem elas a da Antiguidade, Idade Média ou Renascimento.
O estilo de colonização português fez com que o conhecimento técnico e científico fosse despertado tardiamente. 
As tradições poética e religiosa conduziam a vida na colônia deixando a busca pelo saber científico em segundo plano.
Assim como na Europa até o período Iluminista a Igreja era detentora do conhecimento no Brasil colonial, como se pode observar o papel dessa instituição no ensino. Essa realidade se dá pelo poder e riqueza da entidade.
Devido a essa conjuntura as atividades intelectuais brasileiras só se iniciam com a chegada da Companhia de Jesus. 
O surgimento das bibliotecas no Brasil
A Companhia de Jesus ao desembarcar no Brasil passou a exercer as funções religiosa e educadora. Participavam da catequese indígena, assistência religiosa, ensino e educação de jovens, crianças e dos colonos. 
Por volta do ano de 1550 surgem as primeiras escolas jesuítas na colônia e simultaneamente as suas primeiras bibliotecas. Para as atividades religiosas, de catequização e ensino os livros se faziam necessários. Por isso muitos foram trazidos pelos próprios jesuítas.
Os colégios funcionavam como centros culturais proporcionando atividades literárias, musicais e teatrais. Os estudantes recebiam aulas como as de ler, escrever e contar.
O acervo dessas bibliotecas era composto por breviários, bíblias, livros litúrgicos, obras teológicas, textos didáticos usados no ensino do Latim, clássicos latinos e portugueses. Nas cartas dos primeiros membros das missões pode-se encontrar pedidos de mais livros, esses logo eram atendidos por membros superiores e pela coroa portuguesa. A chegada de padres e novos membros era vista como uma oportunidade de novos livros para o acervo. As bibliotecas também recebiam doações daqueles que tinham finalizado suas atividades na colônia e retornariam à Europa, tendo em vista o alto custo do envio. Quando os colégios alcançaram estabilidade e passaram a gerar lucros as compras de livros se iniciaram. Essas visavam impulsionar as atividades culturais. Os livros eram comprados de Portugal e dos que retornariam à metrópole.
Os jesuítas foram os primeiros professores e bibliotecários. O primeiro instrumento biblioteconômico elaborado no Brasil foi um catálogo que classificava toda biblioteca por assuntos, de forma ordenada e contendo os nomes dos autores, esse foi elaborado pelo jesuíta Antônio da Costa.
A saída da Companhia de Jesus representou um momento de grande perda de acervo. Muitos livros foram enviados a Lisboa, muitos foram perdidos pelas más condições e roubos e outros tantos que seriam destinados às bibliotecas públicas permaneceram nos colégios e só posteriormente parte deles alcançaram seu real destino.
As bibliotecas monásticas, de conventos, monastérios e seminários, representadas pelas ordens Franciscana, Beneditina, Carmelita, Capuchinha, Mercedária e Oratoriana eram detentoras de tradição bibliotecária mais antiga que a dos jesuítas. Essas ordens logo demonstraram a importância e a sabedoria de suas práticas. Já no ano de 1596 as ordens monásticas ministravam cursos de teologia, o qual é extremamente dependente da existência e presença de uma biblioteca.
O período Iluminista causou uma revolução cultural, científica e intelectual no continente europeu. Essa revolução alcançou e instigou intelectuais de todo o mundo, inclusive os brasileiros. Em busca de obras censuradas e proibidas nas bibliotecas dos colégios e dos mosteiros a elite intelectual brasileira começou a formar suas próprias coleções em busca de tais obras. Assim surgiram as primeiras bibliotecas particulares ao longo do século XVIII.
As primeiras bibliotecas estaduais do país começaram a surgir no século XIX. Inaugurando esse perfil tivemos a Biblioteca Pública da Bahia. Iniciou suas atividades em 1811. Não foi somente a primeira biblioteca estadual do Brasil, mas também a de maior relevância. Tamanha importância se dá pelo fato de ter sido a primeira biblioteca nacional estruturada a partir de um plano pré-estabelecido. Seu objetivo foi firmado por:
“Remover o primeiro e maior obstáculo que se oferece à instrução pública, o qual consiste na falta de livros e notícias do estado das artes e das ciências na Europa.” (CASTELLO BRANCO apud FONSECA, Edson Nery, 1979, p.24).
Pode-se notar nesse plano a preocupação com os periódicos, uma localização favorável e com profissionais devidamente qualificados. A biblioteca foi inaugurada onde anteriormente localizava-se o Colégio dos Jesuítas. Seu acervo inicial era de 4000 volumes.
A Biblioteca Nacional é considerada uma das maiores bibliotecas do mundo e a maior da América Latina. Fundada em 1810 tem a sua criação diretamente ligada à vinda da família real portuguesa para o Brasil.
Em sua transferência para colônia a família real e a corte trouxeram uma coleção avaliada em cerca de 60 000 itens. Essa coleção contava com livros, manuscritos, mapas, estampas, moedas e medalhas. Esses artigos formaram o acervo inicial da biblioteca.
O retorno da família real a Portugal representou uma grande perda desse acervo, tendo em vista que muitos livros e manuscritos retornaram para metrópole. 
A trajetória da Biblioteconomia como campo disciplinar no Brasil
A princípio os bibliotecários e responsáveis pelas bibliotecas eram os indivíduos detentores de afinidades com os livros, geralmente poetas e escritores. A falta de profissionais especializados levou ao surgimento de cursos que englobassem os conhecimentos da área.
O ensino da Biblioteconomia brasileira iniciou-se em 1911 a partir da implantação de um curso na Biblioteca Nacional. Seu ensino era influenciado pela escola francesa École de Chatres, ou seja, possuía filosofias mais humanísticas de ensino com enfoque no aspecto cultural. Diferente do seu precursor o curso do Instituto Mackenzie, da cidade de São Paulo, inaugurado em 1930, apresentou um foco no âmbito técnico.
O curso da Biblioteca Nacional inicialmente era voltado para o enriquecimento cultural, não tinha como prioridade os profissionais que administrassem seus acervos e buscassem otimizar sua mobilidade. A criação do curso paulista serviu como uma transição do modelo à francesa para o modelo norte-americano. No ano de 1944 o curso da Biblioteca Nacional passou por tal transição, tornando-se mais técnico.
A Escola de Biblioteconomia de São Paulo foi a primeiraescola propriamente dita da área. Em seu currículo constavam disciplinas de Catalogação, Classificação, História do Livro e Referência. Era também o curso de maior duração até então, com duração de três anos.
No fim da década de 1960 o Brasil ofertava 19 cursos de graduação em Biblioteconomia em pleno funcionamento.
O Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação, atual Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia, figura importante papel na Biblioteconomia brasileira. Fundado em 1954 com o objetivo de facilitar e estimular o acesso à literatura científica. Cumpriu a função de um centro de documentação, cujo papel era dar suporte informacional a atividades das instituições científicas, técnicas e industriais brasileiras que sofriam com a deficiência em recursos humanos e financeiros.
Além das pesquisas bibliográficas as quais foram base para confecção de bibliografias nacionais especializadas nas bases de dados, o IBBD criou o “Curso de Pesquisas Bibliográficas em Ciências Médicas e em Ciências Agrícolas” em 1955, Curso esse que posteriormente teve seu nome trocado para” Curso de Documentação Científica”, com ampliação de seu conteúdo. Sua grade curricular visava a capacitação profissional de bibliotecários tornando-os aptos a trabalhar com a literatura técnica e científica. Até o final da década de 1960 a instituição serviu como um difusor de novos conhecimentos na América Latina.
O primeiro Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação foi sediado em Recife em 1954 motivado pelos eventos técnicos e científicos ocorridos na década. O evento apresenta experiências, práticas e difusão da produção técnico-científica relativa a bibliotecas, unidades de informação, ensino e pesquisa. Seus primeiros temas foram:
Situação atual do leitor brasileiro e Ensino Profissional
Processos Técnicos
Bibliotecas Públicas e Bibliotecas Infantis e de Escolas Primárias
Bibliotecas Especializadas
Bibliografias, Associações Bibliotecárias e Legislação profissional.
Um encontro de grande relevância para situação da Biblioteconomia nacional foi o III CBBD, sediado em Curitiba no ano de 1961. Seus temas foram:
Processos Técnicos
Ensino de Biblioteconomia e Documentação
Profissão de Bibliotecário- Documentalista
Bibliografia e Documentação: Bibliotecas Especializadas
Relações Públicas e Intercâmbio
Tipos de Bibliotecas
Movimento Associativo de Classe
Esse evento teve como resolução as seguintes recomendações:
• Que a duração do curso seja, no mínimo, de quatro anos, a fim de que todas essas disciplinas possam ser ministradas convenientemente, e para nivelá-lo aos demais cursos universitários do país.
• Que as escolas de Biblioteconomia tenham em mente que estão preparando elites de técnicos e não fornadas de bibliotecários [...] Devemos levantar o nível das escolas de Biblioteconomia tendo em vista, única e tão-somente, os superiores interesses de unificar no Brasil, a formação de Bibliotecário e Documentalista.
• Que as escolas de Biblioteconomia, com seus currículos bem reestruturados, em nível universitário, permitam que os bibliotecários já formados voltem aos bancos escolares para se atualizarem em técnicas da Documentação. (SOUZA apud FERREIRA et al.,1979)
No ano de 1962 a Biblioteconomia alcançou posição de profissão de nível superior. No mesmo ano o Currículo Mínimo passou a ser padronizado a partir da Lei 4.084/62que previa a obrigatoriedade dos registros dos diplomas na Diretoria de Ensino Superior.
Do Exercício da Profissão de Bibliotecário e das suas atribuições:
Art. 1º A designação profissional de Bibliotecário [...] é privativa dos bacharéis em Biblioteconomia, de conformidade com as leis em vigor.
Art. 2º O exercício da profissão de Bibliotecário, em qualquer de seus ramos, só será permitido:
a) aos Bacharéis em Biblioteconomia, portadores de diplomas expedidos por Escolas de Biblioteconomia de nível superior, oficiais, equiparadas, ou oficialmente reconhecidas;
b) aos Bibliotecários portadores de diplomas de instituições estrangeiras que apresentem os seus diplomas revalidados no Brasil, de acordo com a legislação vigente. (BRASIL, 1962)
O Currículo Mínimo passou ainda por mudanças em 1982 e 1990, pois por vezes era visto com excesso em matérias técnicas e por outras em matérias culturais.
Em 2001 o Conselho Nacional de Educação/Câmara Superior de Educação aprovou um documento que definia as Diretrizes Curriculares de diversos cursos, inclusive o de Biblioteconomia. Nesse parecer são ressaltados os estágios, competências e habilidades, atividades complementares, avaliação institucional e estrutura do curso.
O Brasil conta atualmente com 39 cursos de ensino superior em Biblioteconomia e ou Ciência da Informação, sendo eles distribuídos em universidades federais, estaduais e faculdades particulares.
	Universidades Federais e Estaduais
	26
	Faculdades Particulares
	13
Conclusão
Esse estudo mostra a evolução ao longo dos anos das bibliotecas e da biblioteconomia no Brasil.
Ao olhar para a história das bibliotecas brasileiras desde o seu surgimento e seu papel na atualidade pode-se notar as diversas mudanças. O número de bibliotecas se multiplicou, os acervos tiveram crescimento exponencial e os livros são comprados com maior facilidade. 
As primeiras bibliotecas nos colégios jesuítas representavam um espaço de contato com o conhecimento, a cultura e a informação. A fonte de mais simples acesso a esse contato era a biblioteca.
No século XXI temos uma grande transformação no acesso à informação que se torna cada vez mais simples. Não nos deparamos com o conhecimento apenas nos espaços formais, mas cada vez de forma mais simples na internet que pode ser acessada dos computadores, tablets e até mesmo da palma de nossas mãos nos smartphones.
Dessa forma a biblioteca nos dias atuais assume o papel de levar o cidadão que tem acesso ou não às facilidades da informação digital a buscar esse conhecimento. Seja ele em forma analógica ou digital. E ajuda-lo a inserir esse conhecimento em sua vida cotidiana. As atividades culturais e educacionais incentivam o indivíduo a buscar a cultura, o conhecimento, a informação e também o estimulam a se tornar um leitor. 
A Biblioteconomia brasileira teve seu pontapé inicial em 1911 e assim como seu objeto de estudo passou por diversas transformações. A dualidade entre a base francesa e a base norte-americana, a mudança dos profissionais que passaram a ser devidamente qualificado, o crescimento das possibilidades de cursos que passaram a ocupar grande parte do país, a regulamentação da profissão e da graduação a partir de sua padronização.
Conhecer o passado da profissão nos ajuda a compreender a situação atual e o futuro dela. Entender o passado também nos ajuda a perceber o valor do profissional e a sua importância. Por isso é essencial conhece-lo.
Referências