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Biblioteca Escolar – Criação e Funcionamento Regina Loreto 3 1. A HISTÓRIA DAS BIBLIOTECAS Apresentação Você já parou para pensar que mesmo em uma era na qual todas as informações podem ser encontradas em meios digitais, a Biblioteca Escolar desempenha um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem? Neste bloco, discorreremos acerca da história das bibliotecas, bem como seus objetivos e funções. Ademais falaremos também sobre os tipos de bibliotecas, a diferença entre elas, e os arquivos. Acompanhe-nos nesta jornada de conhecimento! 1.1. O surgimento dos arquivos Consoante Ferreira (2015), acumular informações não tem utilidade se não conseguirmos otimizar o tempo e localizar o que precisamos. No que tange ao conteúdo histórico, havia registros de conteúdos jurídicos e legislativos, conhecidos como Archeion e, posteriormente, de Archivium, pelos romanos, os quais aprimoraram o controle de documentos públicos. No século XIII, conforme o referido autor, surgiram as chancelarias para registros de documentos. Em 1571, por Jacob von Ramingen, foram criados dois manuais acerca da arquivologia. Em decorrência da Revolução Industrial, o volume de informações foi aumentado, porém sem sucesso para levantamento bibliográfico universal acerca do fato. Em 1895, foi criado o Instituto Internacional de Bibliografia, com a finalidade de criar um sistema único de classificação. Complementa ainda o autor que em 1838 surgiu o Arquivo Nacional para implementar e acompanhar a política nacional de arquivos, contendo diversos documentos para consulta, entre eles, Leis Antigas, obras de artes raras, mapas e fotos que compõem a história do país. 4 1.1.2. A arquivologia com um olhar atual As técnicas de arquivamento são utilizadas em várias realidades, em conformidade com Ferreira (2015), que são: • científica: organiza pesquisa e material documental de estudos dos pesquisadores; • comercial: utilizada pelas empresas para fazer seus controles, tanto gerenciais quanto para fins de fiscalização legal e tributária; • oficial: utilizada por órgãos públicos para o controle e o armazenamento de leis, resoluções e demais decisões em todas as esferas do poder público. Atualmente, os bancos de dados são digitais e com a internet, permitem novas formas de armazenamento, classificação e busca de informações importantes. O Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED), segundo Ferreira (2015), permite fazer cópias digitais de documentos físicos e a armazenagem de informação, facilitando uma busca futura. Dessa forma, milhares de documentos em papel podem ser armazenados muitas vezes em um único computador central, permitindo economia e agilidade. Amplie seus conhecimentos Existem várias técnicas para a preservação e a documentação de arquivos, entre elas a microfilmagem e a digitalização. No site do Arquivo Público do Estado de São Paulo, há informações sobre esses produtos e outros tipos de conservação. Acesse: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/preservacao/. 5 1.2. Histórico da criação da Biblioteca Em conformidade com Ferreira (2015), desde sempre existiu o desejo de espaços onde se concentra toda informação produzida e publicada, sendo considerada, entretanto uma meta difícil. Haja vista a possibilidade de a internet ser considerada a fonte global de conhecimento. Coloca ainda o autor que é difícil saber quais são as fontes confiáveis e aceitas, ou se a informação é precisa e atualizada. [...] a necessidade de espaços para consultar conhecimento deu origem às bibliotecas, que vem da palavra grega biblion (na época, papiros advindos de uma cidade fenícia chamada Biblos) e teca, que pode ser entendida como um local de guarda, caixa ou depósito, ou seja, um depósito de papiros [...] (FERREIRA, 2015, grifo nosso) Porém, compreender uma biblioteca como um “espaço ou depósito de livros” seria muito pouco segundo o autor supracitado, uma vez que elas deveriam ser entendidas como grande espaço de saber e conhecimento. 1.2.1. As primeiras bibliotecas Conforme Ferreira (2015), foram encontrados em Nínive repositório de informações, construído pelo rei de Assíria em 668 a.C. Placas de argila eram armazenadas em um espaço dentro do palácio, contendo informações de matemática, astrologia e geografia, sendo considerado por muitos pesquisadores como a primeira Biblioteca, organizada pelo general de Alexandre, o Grande. O acervo continha saques de Guerra e a cópia dos escribas de outras localidades, sendo que muitas vezes os originais também eram mantidos no acervo. Havia uma organização clara de funções dentro da Biblioteca, com cargos para editores, chefes bibliotecários e diversos tipos de estudiosos. Acredita-se que sua destruição se deve a incêndios, sendo calculada uma perda incalculável para a história da humanidade. Recentemente, criou-se a nova Biblioteca de Alexandria, cuja missão é resgatar o espírito da Antiga Instituição, sendo que este novo prédio já́ recebe anualmente mais de 1,5 milhão de visitantes. O Império Romano continuou com o conceito grego de bibliotecas, nas palavras de Ferreira (2015), como local que armazena livros e diversas fontes de conhecimentos, 6 provenientes de saques de guerras. Por conseguinte, surgiram as primeiras bibliotecas particulares, como sinônimo de status, riqueza e poder. No fim desse império, haja vista as guerras travadas, o acervo foi destruído e o remanescente foi realocado em conventos e castelos, surgindo assim as primeiras divisões entre bibliotecas públicas e privadas. O cristianismo ganhou força na Europa no período medieval, e a cópia e a armazenagem de documentos históricos passaram a ser feitas por monges, em mosteiros. Surgiram as bibliotecas monásticas, que restringiam o conhecimento ao clero. As bibliotecas monásticas se tornaram importantes guardiões do conhecimento da humanidade. A preocupação de ter um espaço de acesso público, consoante Ferreira (2015), surgiu somente no período da Revolução Francesa, concomitantemente com a discussão acerca da educação pública gratuita, isenta de dogmas religiosos. Durante os séculos XVII e XVIII, considerados anos dourados das bibliotecas, foram fundados espaços na Europa, com os pagamentos de taxas anuais para permitir aos assinantes acesso ao acervo, pois muitas vezes somente membros aprovados podiam consultá-lo. [...] os séculos XVII e XVIII podem ser considerados os anos dourados das bibliotecas. Durante esse período, alguns desses importantes espaços foram fundados na Europa, ganhando reconhecimento como uma modalidade muito parecida com um clube. Mediante pagamento de taxas anuais – muitas vezes, altas –, era permitido aos assinantes, o acesso [...]. (FERREIRA, 2015) Na metade do século XIX, surgiu nos EUA e na Inglaterra o conceito de biblioteca pública, mantida pelo Estado e com o intuito de atender toda a população e suas demandas de pesquisa (FERREIRA, 2015). 7 1.3. Biblioteca no Brasil Acredita-se, em conformidade com Ferreira (2015), que por volta de 1.600 as primeiras bibliotecas brasileiras foram estabelecidas com os missionários jesuítas. O Colégio Bahia já possuía uma boa biblioteca. A família real portuguesa quando veio ao Brasil trouxe um acervo de 200 caixas, com cerca de 60 mil peças, incluindo livros, documentos e medalhas, os quais passaram a constituir a Biblioteca Nacional. Em 29 de outubro de 1810 foi oficialmente fundada a Real Biblioteca, porém, o acesso ao público só foi permitido em 1814. Hoje, ela é reconhecida como uma das sete maiores Bibliotecas do mundo pela UNESCO. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), citados em reportagem da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), apontavam que em 2014 as Bibliotecas públicas estavam presentesem 97% dos municípios brasileiros. Em 1999, este número era de 76,3%. Segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, divulgados em março de 2014, o Brasil possui 6.060 Bibliotecas desta natureza, sendo 512 na região Norte, 1.845 na região Nordeste, 499 no Centro-Oeste, 1.932 no Sudeste e 1.272 na região Sul. Uma matéria publicada pelo jornal O Estado de São Paulo, em janeiro de 2013, apontava que 72,5% das escolas não possuíam Biblioteca naquela data. Isso vai contra a Lei n. 12.244, de 5 de maio de 2010, publicada no Diário Oficial e assinada por Luiz Inácio Lula da Silva, que determina a obrigatoriedade de todas as instituições de ensino públicas e privadas do país terem uma Biblioteca, com um acervo mínimo de um livro por aluno. O prazo de cumprimento desta lei é de 10 anos a contar da sua publicação, ou seja, 2020. (FERREIRA, 2015) Em decorrência do cumprimento dessas metas, postula Ferreira (2015), temos o apoio do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), dividido em: • avaliação e distribuição de obras literárias compostas por textos em prosa, em verso, imagens e quadrinhos; • PNBE periódico, que faz a avaliação e a distribuição de periódicos didáticos e metodológicos; • PNBE do Professor, que apoia os docentes com obras teóricas e metodológicas. Todas as escolas participantes do Censo Escolar entram automaticamente no programa. Destacam-se também o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) e o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER), que contribuem para a formação de espaços públicos de leitura. 8 SAIBA MAIS O site do Conselho Federal de Biblioteconomia dispõe de leis e decretos, incluindo a supracitada assinada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sugerimos o acesso ao site: http://www.cfb.org.br/institucional/legislacao/ 1.4. A Biblioteca e os Parâmetros Curriculares Nacionais Campello (2012) corrobora no tangente ao incentivo à leitura, quando pontua que segundo a educação proposta nos PCN, a escola deve criar oportunidades para que crianças e jovens usem a linguagem em suas diferentes modalidades, utilizando gêneros textuais diversificados, proporcionando uma leitura de textos que circulam socialmente. Coloca ainda a autora que a Biblioteca é essencial para o desenvolvimento de um programa de leitura eficiente que forme leitores competentes, que não apenas decodifiquem, mas que atinjam alto grau de letramento e desenvolvam a prática da intertextualidade. Ademais, acrescenta ainda a supracitada autora que consoante os PCN a biblioteca é um espaço apto a influenciar o gosto pela leitura, por isso deve ser um local de fácil acesso aos livros e materiais disponíveis, bem como amplamente frequentado pelos alunos. A biblioteca, conforme Campello (2012), é o local que irá responder aos questionamentos levantados dentro das diversas áreas curriculares, problematizando e desestabilizando conhecimentos prévios e apresentando novos modelos para a resolução de problemas, por meio de um acervo rico e bem formado. 1.4.1. Objetivos e funções da biblioteca Durban Roca (2014) dialoga com Campello (2012) quando destaca que a biblioteca escolar é um recurso facilitador de processos de ensino e de aprendizagem e de práticas de leituras, agindo como suporte pedagógico para apoiar de forma estável o desenvolvimento do projeto curricular da escola, vinculando-se com a implementação das novas tecnologias nas escolas. http://www.cfb.org.br/institucional/legislacao/ 9 Por isso, é preciso estabelecer um modelo de implementação próprio, diferenciado de outras instâncias bibliotecárias, uma vez que seu propósito é diferente de uma biblioteca pública ou universitária.Não se trata unicamente de implementar uma biblioteca em um contexto escolar, mas da ideia de que o conceito de biblioteca enquanto centro de recursos deve ser voltada para o processo educacional (DURBAN ROCA, 2014). O ponto central volta-se para as possibilidades didáticas que o uso desses materiais pode gerar. Esse espaço deve ser transparente nas atividades da escola, mas amplamente influente nos processos de ensino-aprendizagem, representando um apoio pedagógico à estrutura curricular da escola. Ferreira (2015) complementa esse olhar ao colocar que [...] a biblioteca não precisa somente dar apoio às diversas práticas pedagógicas. Pode também atuar como um grande centro de convivência, cidadania e construção de formação continuada durante toda a vida. [...] Nota-se que a aprendizagem foi durante muito tempo centrada no professor. Porém, atualmente, entende-se que o indivíduo também carrega grande responsabilidade nesse processo e é nesse contexto que a biblioteca educacional deve estar inserida. Mais que um simples depósito de livros ou sala de leitura, a biblioteca deve ser um espaço dinâmico e de convívio mútuo de alunos, professores e toda a comunidade. Algumas escolas chegam a usar a biblioteca como espaço de castigo: “Se você não se comportar, vai ficar de castigo na biblioteca por algumas horas!” (FERREIRA, 2015). 1.5. Tipos de bibliotecas 1.5.1. Biblioteca Pública Temática O seu acervo foca em um determinado assunto. Dessa maneira, o ambiente todo reforça o tema assumido, como é o caso da Biblioteca Cassiano Ricardo, temática em música, situada em São Paulo. Além do acervo geral, conta com outro específico sobre música, com itens impressos e sonoros, com quase 30 mil fonogramas e mais de 500 títulos disponíveis para pesquisa (FERREIRA, 2015). 10 1.5.2. Biblioteca comunitária É um espaço mantido por uma comunidade local, com o objetivo de disseminar o acesso aos livros. Normalmente, são criados por ONGs ou voluntários, nos locais nos quais o poder público não consegue chegar; podemos mencionar a Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado (Biblioteca do Paiaiá), localizada no interior da Bahia, com acervo estimado de mais 110 mil títulos. 1.5.3. Ponto de leitura Esses espaços [...] procuram incentivar a leitura em diferentes locais, tais como parques, hospitais e presídios. Na maioria das vezes, conta com o apoio do Programa Mais Cultura, que é uma forma de incentivar a criação de bibliotecas comunitárias (FERREIRA, 2015). 1.5.4. Biblioteca Nacional Todo país possui uma Biblioteca Nacional, na qual se armazena a produção bibliográfica de cada nação, sendo que a do Brasil está sediada no Rio de Janeiro. 1.5.5. Biblioteca escolar Baseado no Projeto Pedagógico, a biblioteca escolar é idealizada para atender as necessidades de aprendizagem do corpo discente, respeitando as diferentes etapas nesse processo ensino-aprendizagem. Esses espaços costumam abrir seu acervo para moradores em geral mediante um cadastro prévio, proporcionando conhecimento não somente ao matriculado, mas ao entorno, criando uma grande comunidade de aprendizagem. 1.5.6. Biblioteca universitária Focada no Ensino Superior, fornece suporte não somente em suas práticas acadêmicas, mas também ao conteúdo de sala de aula. Atende docentes, discentes e a comunidade acadêmica, armazenando trabalhos, produções acadêmicas, periódicos e livros. 11 1.5.7. Biblioteca especializada Uma Faculdade de Medicina precisa, conforme Ferreira (2015), de muitos livros específicos, devendo conter no acervo, além de livros tradicionais, outros com temas médicos. Outro exemplo seria o foco na literatura infantil ou outra faixa etária, como a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato. 1.5.8. Biblioteca centro de referência São centros que não necessariamente possuem acervos próprios, mas trabalham com referências a documentos sobre determinado assunto. Um exemplo é o Centro de Referência Paulo Freire – um desdobramento da Biblioteca Paulo Freire –, que reúne informações sobre a obra do educador reconhecido como patrono da Educação Brasileira (FERREIRA, 2015). SAIBA MAIS A Secretaria Especialdos Direitos das Pessoas com Deficiência expõe a Lei nº 4.169, de 4 de dezembro de 1962, a qual oficializa as convenções Braille para uso na escrita e leitura dos cegos e o Código de Contrações e Abreviaturas Braille. Algumas bibliotecas já trabalham com equipamentos diferenciados, como a Biblioteca Interativa de Inclusão Nogueira, a qual dispõe de equipamentos para inclusão de pessoas com deficiência (regletes, máquinas de escrever em Braille, ampliador de texto). O espaço, totalmente adaptado, tem capacidade para produção de textos em Braille e em áudio. São oferecidas oficinas de Libras (Língua Brasileira de Sinais, para comunicação com surdos) e Braille (sistema de comunicação escrita para deficientes visuais), Violão para Deficientes Visuais, Massoterapia e História em Quadrinhos. A biblioteca atende essa demanda específica e ao público em geral, com empréstimo de livros, leitura de periódicos (jornais e revistas) e pesquisas diversas. 12 SAIBA MAIS Sobre a legislação, consulte o site: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/legislacao Sobre a Biblioteca Interativa de Inclusão Nogueira, acesse: http://www.diadema.sp.gov.br/component/content/article?id=19487:biblioteca- interativa-de-inclusao-nogueira Referências CAMPELLO, Bernardete et al. A biblioteca escolar: temas para uma prática pedagógica. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. ______. Biblioteca Escolar: conhecimentos que sustentam a prática. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. DURBAN ROCA, Glòria. Biblioteca escolar hoje: recurso estratégico para a escola. Porto Alegre: Penso, 2012. FERREIRA, Armindo Ribeiro. Biblioteca no ambiente escolar: comunicação, dinâmicas, organização e estratégias de atendimento. 1. ed. São Paulo: Érica, 2015. http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/legislacao http://www.diadema.sp.gov.br/component/content/article?id=19487:biblioteca-interativa-de-inclusao-nogueira http://www.diadema.sp.gov.br/component/content/article?id=19487:biblioteca-interativa-de-inclusao-nogueira
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