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Processo Penal

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Processo Penal
Aula 01 e 02
INQUÉRITO PENAL
1. Considerações iniciais: 
O Direito Processual Penal se presta a estudar a persecução penal nada mais é do que a perseguição do crime. Essa perseguição encontra duas etapas: Preliminar (inquérito) e Subseqüente (processo)
Obs.: Polícia (artigo 144 CF)
a) polícia administrativa (ostensiva): papel de prevenção; evitar que o crime aconteça. Ex.: polícia militar
b) polícia judiciária (polícia civil): estadual e federal. A partir de 1988 é que a polícia passou a ser administrada por delegados de carreira concursados e necessariamente bacharéis em direito. 
Aspecto funcional – atribuições constitucionais para a polícia civil:
- auxiliar o poder judiciário (cumpre mandado, efetiva ordem de prisão, etc.);
- presidência do inquérito civil. 
2. Conceito e finalidade:
O inquérito policial é um procedimento administrativo preliminar presidido pela autoridade policial que tem por objetivo a apuração da autoria e da materialidade do delito e que tem por finalidade contribuir na formação da opinião delitiva do titular da ação. Isso significa que o inquérito contribui no convencimento do titular da ação quanto ao inicio ou não do processo. 
2.1 Natureza Jurídica: (essência do instituto/enquadramento no ordenamento/ classificação)
O inquérito é mero procedimento administrativo que antecede a fase processual.
3. Características
3.1 Inquisitoriedade: não há contraditório ou ampla defesa, essa ausência se deve em função da eficiência do inquérito.
3.2 Discricionariedade: o delegado conduz o inquérito da forma que entende mais adequada. Não é um procedimento rígido. Com isso, pode o delegado indeferir os requerimentos da vítima ou do suspeito, ao entendê-los impertinentes. 
Exceção: O exame de corpo de delito é obrigatório, com isso o delegado não pode se negar de realizar esta prova no inquérito. 
As requisições emanadas do Ministério Público ou do juiz serão obrigatoriamente cumpridas, mesmo não havendo vinculo hierárquico entre eles. 
3.3 Sigiloso: eficiência da investigação, e cabe ao delegado velar por este sigilo. 
Obs.: classificação do sigilo:
- externo: é aplicado aos terceiros desinteressados – ex.: imprensa
- interno: aplicado aos interessados, é frágil porque ele não atinge o acesso aos autos do inquérito – ex.: Ministério Público, Juiz, advogado.
Ferramentas para combater o arbítrio no acesso ao inquérito: se o advogado encontra obstáculo para acessar os autos poderá ingressar com mandado de segurança e até mesmo com reclamação constitucional 
Obs.: foco na vítima: o juiz de ofício ou por provocação poderá decretar o segredo de justiça para que informações do inquérito não vazem para a imprensa protegendo-se a vítima. 
3.4 Escrito: prevalece a forma documental. Os atos do inquérito que são produzidos oralmente devem ser reduzidos a termo. 
Obs.1: Inovação: havendo aparato tecnológico os atos do inquérito poderão ser documentados inclusive com captação de som e imagem. 
3.5 Indisponível: em nenhuma hipótese o delegado poderá desistir do inquérito, ou seja, não lhe cabe arquivar a investigação.
Conclusão: todo inquérito iniciado tem que ser concluído e remetido a autoridade competente.
3.6 Dispensável: para que o processo comece não é necessário a prévia realização de inquérito policial. 
Inquéritos não policiais:
São aqueles presididos por autoridades distintas da policia civil. 
- Parlamentar: elaborado pelas CPI's e este pode ser utilizado para iniciar a ação penal.
- Militar: elaborado pelo oficial de carreira
- Ministerial: segundo o supremo e o STJ o MP pode presidir investigação criminal no Brasil que conviverá harmonicamente com o inquérito policial, além disso, o promotor que investiga não é suspeito ou impedido para atuar na fase do processo (súmula 234 do STJ)
Obs.: embasamento: o STF se valeu da teoria dos poderes implícitos, afinal se o promotor tem o poder de processar (artigo 129, I da CF) é sinal implicitamente que poderá investigar.
4. Atribuições
4.1 Conceito: "Competência" - é a margem de atuação definida em lei para a autoridade, especificando quem tem o dever de investigar.
4.2 Critérios definidores: 
a) territorial - por ele a atribuição é definida pela circunscrição da consumação do crime. 
b) material – por ele teremos delegados especialistas no combate a determinado tipo de crime. 
5. Incomunicabilidade
5.1 Conceito: era a possibilidade do preso no inquérito não ter contato com terceiros por determinação do juiz pelo prazo de três dias sem prejuízo do acesso do advogado (artigo 21 do CPP). 
Obs.: filtro constitucional: com o advento do artigo 136 da CF que não tolera incomunicabilidade, sequer no estado de defesa, resta concluir que o artigo 21 do CPP não foi recepcionado (revogação tácita). 
Não há incomunicabilidade nem mesmo no Regime Disciplinar Diferenciado
6. Valor Probatório
6.1 Conceito: segundo Fernando Capez o inquérito policial tem valor probatório relativo pois ele serve de base para oferta da petição inicial, mas não se presta sozinho a sustentar a condenação, já que os seus elementos foram colhidos de maneira inquisitiva.
Obs.: elementos migratórios: é aquele extraído do inquérito e que pode servir de base para eventual condenação.
a) provas irrepetíveis: é aquela que não tem como ser refeita no processo em razão do iminente perecimento; ex.: perícias, exame do bafômetro, etc.
b) cautelares: é aquela justificada pela necessidade e urgência, ex.: interceptação telefônica.
c) incidente de produção antecipada de prova: ele tramita perante o juiz e já conta com a intervenção das futuras partes do processo e com respeito ao contraditório e a ampla defesa.
7. Vícios
7.1 Conceito: segundo o STF e o STJ os vícios do inquérito não tem o condão de contaminar o futuro processo, afinal o inquérito é meramente dispensável.
Obs.: "os vícios do inquérito são endoprocedimentais" os vícios do inquérito ficam dentro do inquérito, não atingindo o processo. 
8. Procedimento
1ª etapa: inicio do inquérito 
 portaria: é a peça escrita que simboliza o inicio da investigação policial
 notícia crime: é a comunicação da ocorrência do delito a autoridade que tem atribuição para agir.
Legitimidade para prestar a notícia crime:
- destinatários: delegado, MP, juiz
- ativa: 
a) direta ou de cognição imediata: atribuída as forças policiais ou a imprensa;
b) indireta ou de cognição mediata: é aquela prestada por um terceiro desinteressado, ou seja, por uma pessoa que não integra a polícia. Hipóteses:
1ª) vítima ou por seu representante legal – através de um requerimento. Se o requerimento for denegado, a vítima poderá apresentar recurso administrativo endereçado ao chefe de polícia.
2ª) MP ou juiz – através de requisição. É ordem, o delegado deve cumprir, é obrigado a investigar. 
3ª) qualquer pessoa do povo: é chamada de delação. Cabimento: só é cabível nos crimes de ação pública incondicionada. 
2ª etapa: evolução
O inquérito evolui pela realização de diligências cumpridas de forma discricionária.
Obs.: embasamento normativo: os artigos 6º e 7º do CPP apresentam de forma não exaustiva as diligências que podem ou devem ser realizadas pela polícia, inclusive a reconstituição do crime (reprodução simulada do fato) que não será autorizada se ofender a moralidade e a ordem pública. 
3ª etapa: encerramento do inquérito = relatório
Relatório é peça eminentemente descritiva que aponta as diligências realizadas e eventualmente justifica as que não foram feitas por algum motivo relevante. A remessa deste inquérito é feita para o juiz. 
Obs.: nada impede que o inquérito seja encaminhado diretamente ao MP afinal o promotor é o destinatário imediato da investigação. 
Cabe ao juiz abrir vistas ao MP que possui três alternativas:
1ª) Promotor tenha indícios de autoria somados ao indício de materialidade = cabe a ele oferecer denúncia para que se inicie o processo. 
2ª) Promotor entenda que não existam indícios de autoria ou da materialidade,mas há esperança de que eles sejam imediatamente colhidos de forma satisfatória = requisitar novas diligências imprescindíveis ao inicio do processo. 
3ª) Promotor pode entender que não há crime a apurar = pede o arquivamento do inquérito ao juiz. 
Aula 03: 01/09/11
Prof. Nestor Távora
 (...)
O juiz ao receber o pedido de arquivamento do inquérito penal terá duas possibilidades:
 Concordar e homologar o arquivamento;
 Discordar e remeter o processo ao Procurador Geral, o qual terá 03 alternativas:
Caberá ao procurador geral oferecer denuncia perante o juiz de primeiro grau. 
Designar outro membro do MP para denunciar, sendo que ele está obrigado a denunciar. 
Insistir no arquivamento, nesse caso o juiz estará obrigado a homologar o pedido.
Obs.: Súmula 524 do STF x Artigo 18 CPP: Segundo o Supremo na sua sumula 524 o arquivamento do inquérito não faz coisa julgada material tanto é verdade que se surgirem novas provas enquanto o crime não estiver prescrito o MP terá aptidão de oferecer denúncia. 
O artigo 18 do CPP por sua vez autoriza que a polícia cumpra diligencias mesmo durante o arquivamento na esperança de colher prova nova que viabilize a oferta da denuncia.
O arquivamento do inquérito em regra não faz coisa julgada por não ter definitividade.
ARQUIVADO O INQUÉRITO POLICIAL, POR DESPACHO DO JUIZ, A REQUERIMENTO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA, NÃO PODE A AÇÃO PENAL SER INICIADA, SEM NOVAS PROVAS.
O arquivamento segue a cláusula rebus sic stantibus, permite que as coisas podem ser alteradas. Esta clausula significa como as coisas estão denotando que a situação de arquivamento será alterada se surgirem provas novas. 
Obs.: Definitividade do arquivamento: Segundo o Supremo, de forma excepcional o arquivamento faz coisa julgada material quando pautado na certeza de que o fato investigado é atípico.
AÇÃO PENAL
E o direito público subjetivo constitucionalmente assegurado de exigir do Estado-juiz a aplicação da lei ao caso concreto para a solução da demanda penal.
Processo: é a ferramenta que promoverá a efetividade do direito de ação. 
Classificação da ação: 
Em razão da titularidade do exercício:
- Ação Penal Pública:
1. Conceito: é aquela titularizada privativamente pelo MP com base no artigo 129, I, da CF e artigo 257 do CPP. 
Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
O artigo 26 do CPP permitindo que juízes e delegados exercessem a ação penal não foi recepcionado pela constituição federal.
2. Princípios:
- Obrigatoriedade (compulsoriedade): por ele o exercício da ação pública é dever funcional inerente a atividade do MP.
- Indisponibilidade: por ele o MP não poderá desistir da ação que está em curso. Nada impede que o Promotor requeira a absolvição, recorra em favor do réu ou até mesmo que impetre habeas corpus, o que não significa desistência da ação. 
- Indivisibilidade: o MP tem dever funcional de processar todos aqueles que contribuíram para o delito. 
Obs.: Supremo e STJ – para os tribunais superiores a ação pública é divisível, pois admite desmembramento e posterior complementação incidental. 
- Intranscendência (pessoalidade): os efeitos da ação penal não poderão ultrapassar a figura do réu. 
3. Espécies:
3.1 Ação Pública Incondicionada: é aquela onde o interesse público prevalece e a atividade persecutória ocorrerá ex oficio. É a regra, consolidada no artigo 100 do CP.
3.2 Ação Pública Condicionada: é aquela titularizada pelo MP que depende, contudo, de uma prévia manifestação de vontade do legítimo interessado. Institutos condicionantes:
3.2.1 Condicionada a Representação: é o pedido e ao mesmo tempo a autorização sem a qual não poderá haver persecução penal. Não há ação, inquérito e não há inclusive lavratura de flagrante. 
 Legitimidade: 
a) destinatários: Delegado; Ministério Público; Juiz
b) ativa: vítima; representante legal (vítima menor de 18 anos)
Obs.: emancipação – a emancipação cível não tem reflexo criminal devendo se nomear curador especial ao menor emancipado. 
Obs.: morte ou ausência da vítima – se a vítima morre ou é declarado ausente o direito de representar passa para o CADI (cônjuge, ascendente, descendente, irmãos). Esse é um rol preferencial e taxativo. 
 Prazo: o prazo é de 06 meses contados do conhecimento da autoria do crime. Este prazo é decadencial – ele não se suspende, não se interrompe e não se prorroga. É contado de acordo com o artigo 10 do CP. 
 Retratação: depois de protocolizada a denuncia a representação passa a ser irretratável. Nada impede que a vítima se retrate da representação ofertada, desde que o faça até o oferecimento da denuncia. 
Obs.: Múltiplas retratações – nada impede que a vítima se arrependa e reapresente a representação por aquele mesmo fato, desde que dentro do prazo de 06 meses. 
Obs.: Lei Maria da Penha – na violência doméstica nada impede que a vítima se retrate, desde que em audiência específica para esta finalidade com a presença obrigatória do juiz e do MP. Além disso, o marco da retratação é específico caracterizado pelo recebimento da denúncia.
 Rigor Formal: não há rigor na forma da representação, e ela pode ser apresentada oralmente ou por escrito a qualquer dos destinatários. 
3.2.2 Requisição do Ministro da Justiça: é o pedido e ao mesmo tempo a autorização de natureza eminentemente política que condiciona o início da persecução penal. 
 Legitimidade: 
a) Destinatário: Ministério Público – na pessoa do Procurador Geral
b) Ativa: Ministro da Justiça.
 Prazo: não há na lei prazo decadencial, podendo o Ministro requisitar a qualquer tempo, desde que não esteja prescrito o crime.
 Retratação: é irretratável, tendo em vista a ausência de previsão legal – Tourinho Filho.
3.3 Ação Penal Privada:
3.3.1 Conceito: é aquela titularizada pela vítima ou por quem a represente na condição de substituição processual, já que ela atua em nome próprio pleiteando interesse alheio, qual seja, o jus puniendi que pertence ao Estado. 
Obs.: nomenclatura – a vítima é chamada de querelante; réu é chamado de querelado. A petição inicial da ação privada é chamada de queixa-crime. 
3.3.2 Princípios:
- Oportunidade: por ele a vítima só exercerá a ação se lhe for conveniente. 
Obs.: Institutos correlatos: 
*decadência: é a perda da faculdade de exercer a ação privada em razão do decurso do prazo, qual seja, em regra, 06 meses contado do conhecimento da autoria. A conseqüência é a extinção da punibilidade (artigo 107 do CP)
*renúncia: ela se caracteriza pela declaração expressa da vítima de que não pretende exercer a ação ou pela prática de ato incompatível com essa vontade (renuncia expressa ou tácita). Conseqüência: é a extinção da punibilidade.
Esse princípio é típico da fase pré-processual.
- Disponibilidade: por ele nada impede que a vítima desista da ação que está em curso. 
Obs.: Institutos correlatos: 
*perdão: ele se caracteriza pela declaração expressa da vítima de que não pretende continuar com a ação ou pela prática de um ato incompatível com essa vontade (pode ser tanto expresso quanto tácito). 
Obs.: bilateralidade – para que o perdão surta o efeito jurídico pretendido, qual seja, a extinção da punibilidade é necessário que ele seja aceito e a aceitação pode ser expressa ou tácita. 
Obs.: procedimento – se a vítima declara nos autos o perdão o réu será notificado tendo três dias para dizer se aceita, sendo que a omissão faz presumir que ele aceitou. 
*perempção: (descaso) é a sanção judicialmente imposta pelo descaso da vítima na condução da ação privada.
Obs.: Hipóteses – o CPP no artigo 60 apresenta 05 hipóteses geradoras de perempção que acarretam a extinção da punibilidade. 
Art. 60.  Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:
        I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;
        II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindosua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
        III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
        IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.
- Indivisibilidade: por ele caso a vítima opte por exercer a ação deverá fazê-lo contra todos aqueles que contribuíram para o crime. 
Obs.: Fiscalização – cabe ao promotor como custus legis fiscalizar o respeito ao principio.
Obs.: Conseqüências: caso a vítima voluntariamente não processe todos os infratores conhecidos ela estará renunciando ao direito em favor dos não processados, extinguindo a punibilidade em benefício de todos. Por sua vez, o perdão ofertado a parte dos criminosos se estende a todos que queiram aceitar. 
- Intranscendência: (pessoalidade) por ele os efeitos da ação privada não ultrapassam a figura do réu.
3.3.3 Espécies: 
- Ação Privada Exclusiva (propriamente dita): é aquela titularizada pela vítima ou por seu representante legal.
Obs.: Ela admite sucessão por morte ou ausência (CADI).
- Ação Personalíssima: único legitimado para ajuizar a ação é a vítima.
Obs.: Conseqüências – não há representante legal nem sucessão por morte ou ausência. 
Obs.: Cabimento – O único crime de ação personalíssima no Brasil vem positivado no artigo 236 do CP – induzimento a erro no casamento. 
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
- Ação privada subsidiária da pública: é a possibilidade constitucionalmente assegurada de a vítima ajuizar a ação em crime da esfera pública porque o MP não atuou no prazo legal. 
Obs.: Prazo da ação privada subsidiária - 06 meses contados do esgotamento do prazo que o promotor dispunha para agir, qual seja, 05 dias em regra se a pessoa estava presa, ou 15 dias se ela estava em liberdade. 
Obs.: Poderes do MP - os poderes do MP estão consignados no artigo 29 do CPP valendo consignar que se a vítima fraquejar na condução da ação ela será afastada e o MP retoma o feito como parte principal, já que não há perdão, nem perempção na ação privada subsidiária.
Aula 04 e 05: 09/09/11
Prisões
1. Considerações 
2. Prisão em Flagrante
2.1 Conceito: a palavra flagrante deriva do latim flagrare que significa arder, queimar. É a prisão cautelar constitucionalmente assegurada que autoriza a captura de quem é surpreendido praticando um delito. Caracteriza uma imediatidade entre o crime e a captura. 
2.2 Objetivos: 
- evitar a consumação do crime;
- coibir a fuga;
2.3 Espécies:
a) flagrante próprio/real/propriamente dito: 
- quando o agente é preso cometendo o delito, ou seja, o agente estava desenvolvendo os atos executórios do crime. 
- ao acabar de cometer o delito – encerrou os atos executórios, mas foi capturado no local do crime. 
b) flagrante impróprio/irreal/quase flagrante: 
- o indivíduo é perseguido logo após a prática do crime. Se esta perseguição foi exitosa, culminará nesta captura. 
*Obs.1: conceito de perseguição: se caracteriza quando vamos no encalço de alguém por informação própria ou de terceiro de que o agente partiu em determinada direção (artigo 250 do CPP).
*Obs.2: tempo da perseguição: não há na lei prazo de duração da perseguição que se estende no tempo enquanto houver necessidade, mesmo que não exista contato visual. O requisito de validade da perseguição é que ela seja continua. 
c) Flagrante presumido/ficto/assimilado:
Nele o individuo é encontrado logo depois de praticar o delito com objetos, armas ou papéis que levem a crer que ele é o responsável.
Hipóteses – artigo 302 do CPP.
d) Flagrante compulsório/obrigatório:
É inerente a atuação das forças policiais. Artigo 301 do CPP
e) Flagrante facultativo:
É inerente a qualquer cidadão. Artigo 301 do CPP.
f) Flagrante forjado:
É aquele realizado para incriminar uma pessoa inocente. 
Conseqüências:
- a prisão é ilegal – relaxamento.
- a pessoa que praticou o crime foi quem forjou o flagrante; responderá por denunciação caluniosa, se for funcionário público responde também por abuso de autoridade. 
 
g) Flagrante esperado:
Não possui previsão legal. 
Se caracteriza quando a polícia fica de campana (tocaia) aguardando a realização do primeiro ato executório para que a prisão se concretize. 
h) Flagrante Preparado/provocado/delito de ensaio/delito putativo por obra do agente provocador:
Segundo o supremo na súmula 145 o Estado não pode estimular a prática de delito para conseguir prender em flagrante já que os fins não justificam os meios, nesta hipótese não só a prisão é ilegal como o fato praticado é ATÍPICO, pois caracteriza crime impossível. 
i) Flagrante postergado/diferido/retardado/ação controlada:
Ele surgiu no combate ao crime organizado, permitindo que a polícia por força própria postergue a captura em flagrante, desde que continue monitorando a organização na expectativa primeiramente da captura do maior numero de infratores, em segundo o levantamento do maior número de provas e, em terceiro enquadrar os agentes no delito principal da organização. 
Na lei de tóxicos o instituto foi burocratizado, pois exige prévia autorização do juiz, oitiva do MP, conhecimento dos infratores envolvidos e do provável itinerário da droga. 
2.3 Procedimento do flagrante:
- começa com a captura, a qual nada mais é do que o imediato cerceamento da liberdade. 
- a condução coercitiva à presença da autoridade.
- a formalização da prisão, a qual ocorre com a lavratura do auto de prisão em flagrante nos termos do artigo 304 do CPP.
	*Obs.1: Postura do delegado: em 24 horas contadas da prisão (captura) o Delegado tem três deveres a cumprir, quais sejam: 
	- remeter o auto ao juiz; 
*Se a prisão é ilegal o juiz deve relaxar. 
*Se a prisão for legal o juiz vai homologar o auto. Uma vez homologado o auto ele possui duas alternativas:
1ª) se o magistrado entender que o cárcere é necessário ele vai converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, se estiverem presentes os requisitos dos artigo 312 e 313 do CPP. 
2ª) se o magistrado entender que o cárcere não é necessário vai conceder liberdade provisória, podendo cumular ou não com medidas cautelares distintas da prisão. Artigo 319 do CPP.
- se o preso não possui advogado cópia do auto deverá encaminhada à defensoria pública;
- **
*Obs.2: Flagrante nas várias espécies de delito: 
Regra Geral: flagrante cabe em todo tipo de delito;
Exceções: a) crimes de ação privada e de ação pública condicionada, nestas hipóteses a lavratura do auto pressupõe manifestação de vontade do legítimo interessado. 
	 b) crimes permanentes: a prisão em flagrante pode ser efetivada a qualquer tempo enquanto perdurar a permanência, admitindo-se inclusive invasão domiciliar. 
	 c) infrações de menor potencial ofensivo: nestas hipóteses o auto de flagrante será substituído pelo TCO (termo circunstanciado), desde que o individuo seja encaminhado imediatamente aos juizados ou assuma esse compromisso (artigo 69 da lei 9099/95). 
 
3. Prisão Preventiva
3.1 Conceito: é a prisão cautelar cabível durante toda a persecução penal (antes do inquérito, durante o inquérito e durante o processo) decretada pelo juiz ex offício (só na fase processual, na fase do inquérito o juiz não pode mais decretar de ofício) ou por provocação do MP, querelante, autoridade policial, e pelo assistente de acusação. Não possui prazo e deve ser decretada desde que presentes os requisitos do artigo 312 do CPP. 
Art. 312.  A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicaçãoda lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
3.2 Requisitos: 
- fumus commissi delicti: é a fumaça do cometimento do delito, a qual se caracteriza pelo indício de autoria e de prova da materialidade. É a chamada justa causa da preventiva. 
- periculum libertatis: é o perigo da liberdade. Apresenta as hipóteses de decretação da preventiva. 
 Hipóteses primárias de decretação da preventiva:
*garantia da ordem pública: segundo o STJ almeja-se aqui coibir a reiteração de delitos; 
*garantia da ordem econômica: almeja-se aqui coibir a reiteração de delitos contra a ordem econômica;
*garantia da instrução criminal: garantir a livre produção das provas. 
*garantia de aplicação da lei penal: 
OBS.: a ausência do réu mesmo que injustificada a um ato do processo não autoriza a preventiva e sim, a condução coercitiva.
 
 Hipóteses acidentais 
*se o agente descumprir qualquer das medidas cautelares provisionadas no artigo 319 do CPP ele poderá ser preso preventivamente, desde que exista amparo legal para tanto. 
*ausência de identificação civil - se o agente não esta identificado civilmente ele poderá ser preso preventivamente até que a divergência ou a omissão seja esclarecida. 
*violência doméstica – se as medidas protetivas de caráter emergencial forem descumpridas caberá a decretação da preventiva. 
3.3 Cabimento: 
 Infrações que admitem a medida:
Critérios:
1º) crimes dolosos: 
*se a pena máxima é superior a quatro anos cabe preventiva;
*se o individuo é reincidente em crime doloso a preventiva seria cabível independentemente da quantidade de pena;
2º) violência doméstica
3º) identificação civil: para solucionar a duvida ou a omissão quanto a identificação civil a preventiva é cabível, independente do tipo de crime praticado. 
Obs.1: preventiva x excludentes de ilicitude: havendo indícios da presença de alguma das excludentes de ilicitude, não caberá a decretação da preventiva. 
Obs.2: fundamentação do mandado: a ordem judicial tem status de decisão interlocutória exigindo-se a devida motivação, sendo que segundo o STJ a mera repetição da lei não atende a exigência constitucional.
Obs.3: tempo da preventiva: não há na lei prazo de duração da preventiva que se estende no tempo enquanto houver necessidade (presença dos requisitos legais) se eles desaparecem a preventiva será revogada (artigo 316 do CPP). E nada impede que ela seja redecretada se surgirem novas provas. 
Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. 
03 Conclusões
- a preventiva segue a cláusula rebus sic standibus;
- a preventiva temporalmente excessiva se transforma em prisão ilegal merecendo relaxamento;
- se a gravidade do crime, as circunstancias do fato e as condições pessoais do agente justificarem, a preventiva pode ser substituída por uma medida cautelar não privativa de liberdade (artigo 319 do CPP). 
Obs.4: prisão domiciliar: é aquela cumprida no respectivo domicilio ou residência, funcionando como substitutivo da preventiva e o agente só poderá sair da residência por meio de ordem judicial. 
HIPÓTESES: artigo 318 do CPP – exigindo prova idônea para que a substituição seja autorizada. 
Art. 318.  Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: 
I - maior de 80 (oitenta) anos; 
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; 
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; 
IV - gestante a partir do 7o (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco.
4. Prisão temporária:
Lei 7960/89
4.1 Conceito: é a prisão cautelar cabível exclusivamente na fase do inquérito, decretada pelo juiz a requerimento do MP ou por representação da autoridade policial. 
Obs.: não cabe ex officio em hipótese alguma.
4.2 Prazo: crimes comuns o prazo da temporária é de 05 dias prorrogáveis uma vez por mais 05 dias. Nos crimes hediondos e assemelhados o prazo da temporária é de 30 dias, prorrogáveis uma vez por mais 30 dias. 
Obs.: para prorrogar deve ser por determinação do juiz, com isso deve ser ouvido o Promotor. 
4.3 Requisitos: devem estar presentes os requisitos do artigo 1º da lei 7960/89.
- Fumus commissi delicti + Periculum Libertatis
I) cabe temporária se for imprescindível para a investigação; 
ou
II) se o indivíduo não possui residência fixa ou identificação civil;
e
III) se existirem indícios de autoria ou de participação em um dos crimes graves previstos em lei.
**Conjugação de incisos: [III + (I ou II)]
 4.4 Procedimento: 
- provocação do MP ou delegado ao juiz;
- juiz possui 24horas pra decidir; 
- nessas 24horas deve ter a oitiva do MP;
Obs.: Conclusões: 
1ª) o preso temporário assim como os demais presos cautelares ficarão separados dos presos definitivos para que não ocorra contaminação;
2ª) mandado prisional: a ordem de prisão será expedida em duas vias, sendo uma delas entregue ao preso para funcionar como nota de culpa. 
LIBERDADE PROVISÓRIA
Conceito: é a contra-cautela destinada a impugnação do cárcere cautelar nos apresentando um estágio transitório entre a prisão e a liberdade definitiva. 
Modalidades: 
 Liberdade Provisória sem fiança: é o direito de permanecer em liberdade mesmo com a captura em flagrante, desde que presentes os respectivos requisitos legais. 
Hipóteses: 
- se existirem indícios pela leitura do auto de flagrante de uma excludente de ilicitude;
Obs.: obrigação: o beneficiado será compromissado a comparecer a todos os atos da persecução para os quais for convocado, sem prejuízo da cumulação de alguma medida cautelar do artigo 319 do CPP.
- quando pela leitura do auto de flagrante o magistrado percebe que não estão presentes os requisitos que autorizariam a decretação da preventiva. 
Conseqüência: concedida a liberdade, cabe ao juiz deliberar se vai impor ao agente qualquer das medidas cautelares do artigo 319 do CPP.
 Liberdade Provisória com fiança: 
23/09/11
Procedimento
- Comum: 
Ordinário: igual ou superior a 04 anos
Sumário: inferior a 04 anos e superior a 02 anos
Sumaríssimo: igual ou inferior a 02 anos
- Especial: é desenvolvido para processar determinado tipo de infração. 
Exemplo: Lei 11.343/06 – lei de drogas.
Rito Ordinário
Tem inicio com o oferecimento da denuncia ou queixa. 
 Artigo 41 do CPP – requisitos da denuncia ou queixa. 
Art. 41.  A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
- descrição do fato com todas as suas circunstancias;
- qualificação do acusado;
- classificação do crime;
- rol de testemunhas, sob pena de preclusão do direito.
Até 08 testemunhas para cada parte no rito ordinário. 
 Oferecida a denuncia ou queixa, o juiz pode rejeitá-la. As hipóteses de rejeição estão no artigo 395 do CPP:
  Art. 395.  A denúncia ou queixa será rejeitada quando: 
  I - for manifestamente inepta;  
  II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal;  
  III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
 Se a denuncia ou queixa não for rejeitada será realizado o seu recebimento. Aqui ocorre a interrupção da prescrição. 
 Citação: é o ato pelo qual se dá ciência ao acusado da imputação que lhe é dirigida chamando-o para se defender. 
Pessoal: realizada diretamente na pessoa do acusado. É a regra do sistema, primeiro devem ser esgotados os meios para esta citação, só assim, pode-se partir para a citação ficta. O réu preso será sempre citado pessoalmente. 
Ficta: realizada através de edital – prazo de 15 dias
Artigo 366 do CPP
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e ocurso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
Súmula 415 do STJ – menciona que essa suspensão do prazo não é eterna, mas sim essa suspensão vai durar o período correspondente ao prazo prescricional para o crime em abstrato.
Com a suspensão o juiz pode ordenar a produção antecipada de provas – sumula 455 do STJ – bem como, decretar a prisão preventiva do acusado se necessário.
Citação por hora certa: ocorre quando o réu se oculta para não ser encontrado. Artigos 227 a 229 do CPC
 Resposta à acusação: artigo 396-A do CPP
Prazo de 10 dias.
Art. 396-A.  Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.
O réu deve alegar tudo que for cabível, inclusive em matéria de mérito. 
 Juiz pode decidir o processo – Absolvição sumária (artigo 397 do CPP).
Art. 397.  Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: 
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;  
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; 
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou 
IV - extinta a punibilidade do agente
 Se o juiz não absolver sumariamente ele designará audiência de instrução e julgamento nos próximos 60 dias. 
 Atos que compõe a Audiência de instrução e julgamento:
- declarações do ofendido;
- testemunhas arroladas pela acusação – artigo 212 do CPP;
- testemunhas arroladas pela defesa – artigo 212 do CPP;
- esclarecimentos dos peritos 
- acareações/reconhecimento de pessoas e coisas
- interrogatório do acusado.
- requerer diligências. 
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*se for requerido diligências, a audiência fica suspensa, até o cumprimento dessas. 
- debates orais (alegações finais das partes)
Acusação: 20 min. (+10)
*assistente: 10min.
Defesa: 20 min. (+10) +10 se o assistente falou.
Os debates orais podem ser convertidos em memoriais (05dias sucessivos) quando:
- interrompida a audiência para cumprir diligencias. 
- caso complexo.
Procedimento do júri
Aplica-se aos chamados crimes dolosos contra a vida. 
É chamado de bifásico ou escalonado, pois possui duas fases:
1ª Fase: instrução preliminar – juízo de admissibilidade da acusação. 
Possibilidades de decisões ao juiz após a apresentação de defesa prévia e audiência:
- Pronúncia: artigo 413 CPP – delimita a acusação em plenário.
- Impronúncia: artigo 414 CPP - não faz coisa julgada material (o processo pode ser retomado se surgirem novas provas).
- Absolvição sumária: artigo 415 CPP
Art. 415.  O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:
I – provada a inexistência do fato;
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;
III – o fato não constituir infração penal;
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
2ª Fase: juízo da causa 
Artigo 422 CPP (05 dias) despacho (designa data para julgamento em plenário e elabora um sucinto relatório do processo) sessão plenária 
Organização do júri:
- lista geral dos jurados 
- tribunal do júri (25 jurados + juiz presidente)

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