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Material de Teoria Geral do Processo – 12ª aula – Profª Gisela Brum Isaacsson – giselaisaacsson@gmail.com Página 1 Universidade Católica de Pelotas Teoria Geral do Processo Profª Gisela Brum Isaacsson AULA Nº 12 LEIS PROCESSUAIS EFICÁCIA ESPACIAL E TEMPORAL >> Surgiu com Bentham 1 a clássica distinção entre leis substantivas e leis adjetivas, tendo em vista o objetivo de cada uma delas. >> Normas materiais ou substantivas (ou substanciais), no entender de J. E. Carreira Alvim, são aquelas que disciplinam diretamente as relações da vida, procurando compor conflitos de interesses entre os membros da comunidade social, bem como regular e organizar funções socialmente úteis, ao mesmo tempo em que asseguram o seu cumprimento através de sanções, às vezes específicas e, outras vezes, imanentes à ordem jurídica no seu conjunto. >> Normas processuais ou adjetivas (ou instrumentais), segundo o mesmo autor, são aquelas que disciplinam a aplicação das normas substanciais, seja regulando a competência para fazê- las atuar, seja regulando os meios de torná-las efetivas e ainda as vias adequadas para provocar o seu cumprimento e efetivação. >> Em um sentido amplo, as normas processuais são todas aquelas que disciplinam a atividade do Estado-juiz e das partes litigantes, bem assim o modo como essa atividade se desenvolve no processo. 1 Jeremy Bentham (1748-1832) – filósofo, jurista inglês. As normas processuais se dividem em três tipos: Normas processuais em sentido estrito: regulam o processo como tal, atribuindo poderes e deveres processuais às partes e aos órgãos jurisdicionais (comp. da União - art. 22, I, CF). Normas de organização judiciária: regulam a criação e estrutura dos órgãos judiciários e seus auxiliares (comp. União em relação à sua justiça e a do Distrito Federal e do Estado em relação à justiça estadual - art. 92 e ss., CF). Normas estritamente procedimentais: são as que regulam o modo como se devem conduzir o juiz e as partes, no processo, e, inclusive, a coordenação dos atos que compõe o procedimento (comp. concorrente entre a União, o DF e os Estados - art. 24, XI, CF). Material de Teoria Geral do Processo – 12ª aula – Profª Gisela Brum Isaacsson – giselaisaacsson@gmail.com Página 2 >> As normas processuais, na sua aplicação, sofrem limitações no ESPAÇO e no TEMPO. EFICÁCIA ESPACIAL >> A eficácia espacial das normas processuais é regulada pelo PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE (lex fori) também conhecido por LEI DO FORO (arts. 13 e 16, do CPC) assim: CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte. Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código. >> O princípio tem fundamento na soberania nacional e determina que a lei processual pátria é aplicada em todo o território brasileiro – não sendo proibida a aplicação da lei processual brasileira fora dos limites nacionais – ficando excluída a possibilidade de aplicação de normas processuais estrangeiras diretamente pelo juiz nacional. >> Tal princípio não se aplica à prova de fatos ocorridos em país estrangeiro que deve ser regida pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se. Adverte-se, entretanto, que não serão admitidas nos tribunais nacionais provas que a lei brasileira desconheça (art. 13 LINDB) 2 . >> Cândido Rangel Dinamarco ressalta que esta NÃO se trata de exceção ao princípio da territorialidade, já que “a prova está imune às rígidas restrições territoriais inerentes ao direito processual”3. 2 Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça (LINDB). 3 DINAMARCO, Cândido Rangel, Instituições de Direito Processual Civil. São Paulo:Malheiros, 2001, p.92). Material de Teoria Geral do Processo – 12ª aula – Profª Gisela Brum Isaacsson – giselaisaacsson@gmail.com Página 3 EFICÁCIA TEMPORAL >> Além disso, as leis processuais civis estão sujeitas às normas relativas à eficácia temporal das leis civis, constantes na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. >> A lei nova não incide sobre os processos findos e, do mesmo modo, os processos novos serão regulados pela lei nova. A dúvida surge em relação aos processos em curso. >> A doutrina aponta três sistemas para a solução do CONFLITO TEMPORAL das leis: >> O último sistema – Sistema do Isolamento dos Atos Processuais – foi consagrado pelo Código de Processo Civil brasileiro em seu artigo 14, verbis: CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. •Considera-se o processo como uma unidade jurídica, que só pode ser regulado por uma única lei, a antiga ou a nova, de modo que a antiga teria de se impor, para não ocorrer retroação da norma, com prejuízo dos atos já praticados até sua entrada em vigor. Sistema da Unidade Processual •Distinguem-se as fases processuais autônomas, como a postulatória, probatória, decisória, recursal e de execução, cada uma suscetível de ser disciplinada por uma lei diferente. Sistema das Fases Processuais •Afasta a aplicação da lei nova em relação aos atos já encerrados, aplicando-se apenas aos atos processuais a serem ainda praticados. Sistema do Isolamento dos Atos Processuais Material de Teoria Geral do Processo – 12ª aula – Profª Gisela Brum Isaacsson – giselaisaacsson@gmail.com Página 4 >> Fica definido, assim, que a norma processual tem aplicação IMEDIATA, alcançando os atos a serem realizados e sendo VEDADA a atribuição de efeito retroativo para não violar o ato jurídico perfeito. >> Um ponto a ser observado é o caso dos ATOS COMPLEXOS, ou seja, aqueles que dependem da soma de diversos atos simples. Nesses casos será necessário assegurar a incidência da MESMA norma a todos os atos “menores” que, juntos, comporão o “ato maior”. EXEMPLO Audiência de Instrução e Julgamento O juiz inicia o ato colhendo os esclarecimentos do perito, facultando indagações aos assistentes técnicos. Em razão do adiantado da hora, suspende o ato e designa a continuação para a semana seguinte, oportunidade em que ouvirá as testemunhas arroladas pelas partes. Nesse meio tempo, surge a nova lei, alterando a ordem e a mecânica dos atos na audiência. Uma vez que o ato complexo – audiência de instrução e julgamento – se iniciou sob a vigência da primeira lei, deve ser finalizado dessa forma, pois caso contrário haveria a combinação de leis, o que, inexoravelmente, levaria à aplicação involuntária de uma terceira, não prevista pelo legislador, bem como surpreenderia as partes e seus advogados que não haviam se preparado para aquela situação. (PINHO, Humberto Dalla Bernardina de Pinho. Direito Processual Civil Contemporâneo.vol. 1. 7ªed. São Paulo:Saraiva, 2017, p.141) >> No que tange ao INÍCIO DE SUA VIGÊNCIA, a lei processual começa a vigorar quarenta e cinco dias APÓS a sua publicação, salvo disposição em contrário, com base no artigo 1º da Lei de Introduçãodas Normas do Direito Brasileiro ( Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.). >> Na prática, é comum que se estabeleça vigência imediata, ou seja a partir da data de sua publicação. Material de Teoria Geral do Processo – 12ª aula – Profª Gisela Brum Isaacsson – giselaisaacsson@gmail.com Página 5 OBSERVAÇÃO Em 16 de março de 2016, o Superior Tribunal de Justiça – STJ – aprovou Entendimentos Administrativos com o objetivo de normatizar as questões mais tormentosas no direito intertemporal. Alguns destaques: Enunciado administrativo n. 2 Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Enunciado administrativo n. 3 Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC. Enunciado administrativo n. 4 Nos feitos de competência civil originária e recursal do STJ, os atos processuais que vierem a ser praticados por julgadores, partes, Ministério Público, procuradores, serventuários e auxiliares da Justiça a partir de 18 de março de 2016, deverão observar os novos procedimentos trazidos pelo CPC/2015, sem prejuízo do disposto em legislação processual especial. Enunciado administrativo n. 5 Nos recursos tempestivos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016), não caberá a abertura de prazo prevista no art. 932, parágrafo único, c/c o art. 1.029, § 3º, do novo CPC. Enunciado administrativo n. 6 Nos recursos tempestivos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016), somente será concedido o prazo previsto no art. 932, parágrafo único, c/c o art. 1.029, § 3º, do novo CPC para que a parte sane vício estritamente formal. Enunciado administrativo n. 7 Somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março de 2016, será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do art. 85, § 11, do novo CPC. Material de Teoria Geral do Processo – 12ª aula – Profª Gisela Brum Isaacsson – giselaisaacsson@gmail.com Página 6 INTERPRETAÇÃO DAS LEIS PROCESSUAIS >> O significado de uma norma não é algo tão fácil de se alcançar, tampouco uma norma possui um único significado, assim, toda norma necessita de interpretação. >> Interpretar a norma, significa determinar seu conteúdo e alcance, objetivando não só descobrir o que a lei quer dizer, mas em que casos a lei se aplica e em quais não se aplica. Interpretar é reconstruir um significado. >> Interpretar, portanto, é o meio de acertar e precisar a vontade da norma jurídica, nos casos em que possa surgir dúvida sobre a própria vontade. >> Há diversos métodos de interpretação da norma jurídica que também podem ser estendidos às normas processuais, assim, pode-se traçar a seguinte classificação. Material de Teoria Geral do Processo – 12ª aula – Profª Gisela Brum Isaacsson – giselaisaacsson@gmail.com Página 7 >> Tais métodos, de forma isolada, são insuficientes para permitir a completa e adequada exegese da norma, sendo necessária, portanto, a sua utilização em CONJUNTO. >> Conforme O RESULTADO ALCANÇADO, a interpretação pode ser classificada em: MEIOS DE INTEGRAÇÃO DAS LEIS PROCESSUAIS >> Com o advento do Código de Napoleão (1804), instituiu-se importante regra de que o magistrado não mais poderia se eximir de aplicar o direito, alegando LACUNAS na lei. >> O artigo 140, do Código de Processo Civil, coloca in verbis: “O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.” E aduz o seu parágrafo único que: “ O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.”. >> Para tanto, deverá valer-se dos meios legais de solução de lacunas previsto no artigo 4º, da LINDB, a saber: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.”. IN TE R P R ET A Ç Ã O Q U A N TO A O R ES U LT A D O A LC A N Ç A D O DECLARATIVA atribui à norma o significa literal RESTRITIVA limita a aplicação da lei legislador disse mais do que pretendia EXTENSIVA interpretação mais ampla que a obtida pelo teor literal legislador disse menos que que pretendia AB-ROGANTE conclui pela inaplicabilidade da norma em razão da incompatibilidade absoluta com outra regra ou princípio geral do ordnamento Material de Teoria Geral do Processo – 12ª aula – Profª Gisela Brum Isaacsson – giselaisaacsson@gmail.com Página 8
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