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Direito Processual Civil 1 Noções gerais, tempo e espaço Samuel Fontenele 2021 Direito Processual Civil 1 1 1. Noções gerais Para manter o império da ordem jurídica e assegurar a paz social, o Estado não tolera a justiça feita pelas próprias mãos dos interessados. Tal modo pensou-se em dividir em três funções: administrativa (P. Executivo), legislativa (P. Legislativo) e jurisdição (P. Judiciário). Para cumprir essa tarefa, o Estado utiliza método próprio, que é o processo, que recebe denominação de civil, penal, trabalhista, administrativo etc., conforme o ramo do direito material perante o qual se instaurou o conflito de interesses. 2. Importante saber Em Teoria Geral do Processo há alguns termos necessários para esse primeiro resumo e são estes: Normas cogente e não cogente, Fontes formais e não formais, Jurisprudência e Organização judiciária. A. Primeiro as normas cogentes, elas são normas de ordem pública estabelecida pelo Estado, município, etc., através das leis, códigos, etc. São de cumprimento obrigatório e não permitem alteração ou negociação. Já as normas não cogentes vem de ordem privada seguindo as normas do contrato ou interpretação de uma lei que deixa lacunas, ou seja, são leis que podem haver alteração ou negociação. Essa é também chamada de "dispositivas". B. As Fontes formais são constituídas de leis cogentes, ou seja, normas públicas. Já as Fontes não formais são bases que o Direito utiliza para interpretar o ordenamento de um livro. Ex.: Jurisprudências, costumes, etc. C. O significado de Jurisprudência é constituído por um conjunto de decisões judiciais e são feitas no mesmo sentido/base; fundamentação que resolvem casos semelhantes de modo mencionado anteriormente. Ela é de fonte não formal. É imprescindível para o Direito pois permite que sempre haja evolução desta área. Direito Processual Civil 1 2 D. Por fim, Organização judiciária, foi declarado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) uma lei chamada Código de Organização Judiciária que consiste basicamente em dizer que cada unidade federativa faça a sua organização. Cada estado tem o poder de estruturar os tribunais de justiça, tanto na especialidade quanto sua localização. 3. Interpretação das normas processuais Aplicam-se ao direito processual as normas comuns de hermenêutica legal. Embora se encontrem tanto normas cogentes (a maioria) como dispositivas no campo do Direito Processual Civil, o importante é reconhecer que a "forma" não deve obrigatoriamente prevalecer sobre o "fundo" e, assim, os preceitos de procedimento hão de ser encarados como "normas de conveniência" e interpretados sempre com a maior liberalidade possível, como recomenda Schönke. O que interessa ao direito processual de hoje é uma resolução justa e imparcial; a utilização das normas de procedimento não deve ser um obstáculo no caminho da pronta realização do verdadeiro direito. Portanto, o CPC de 2015 deve ser interpretado e aplicado em conformidade com a Constituição, os tratados internacionais incorporados, os direitos fundamentais e humanos, os princípios jurídicos, as normas fundamentais do processo civil contidas nos seus 12 (dozes) artigos iniciais, o sistema processual estabelecido por ele próprio e a partir dele e os sentidos adequados a serem atribuídos às cláusulas gerais processuais e aos conceitos indeterminados em suas interações com o caso concreto. Como mesmo reitera o art. 1° deste mesmo código, in verbis: “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código”. Direito Processual Civil 1 3 O que acontece se não houver texto expresso de lei? Neste caso, o juiz tem a permissão de socorrer-se da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do direito, para preenchimento da lacuna do ordenamento jurídico. Fora deste caso, o juiz tem apenas a função de aplicador de ordenamento jurídico, e não a de legislador ou reformador da legislação existente. 4. A lei processual no espaço: É universalmente aceito o princípio da territorialidade das leis processuais, ou seja, o juiz apenas aplica ao processo a lei processual do local onde exerce a jurisdição. Esse princípio decorre da natureza da função jurisdicional que está ligada à soberania do Estado, de modo que, dentro de cada Território, só podem vigorar as próprias leis processuais, não sendo admissível, outrossim, a pretensão de fazer incidir suas normas jurisdicionais perante tribunais estrangeiros. O princípio da territorialidade vem expressamente esposado pelo art. 13 do Código de Processo Civil, que declara que “a jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte”. O CPC, em seu art. 16, aduz que as normas de processo civil têm validade e eficácia, em caráter exclusivo, sobre todo o território nacional. Isso significa que em todos os processos que correm em território nacional devem-se respeitar as normas do CPC. Nada impede que elas sejam aplicadas fora do território nacional, desde que o país em que o processo tramita consinta nisso. Todavia, como regra, pode-se dizer que a soberania dos países determina a cada qual que edite suas próprias leis processuais, aplicáveis aos processos que neles correm. Somente com relação às provas, seus meios e ônus de produção, é que prevalecerá a lei estrangeira, quando o negócio jurídico material tiver sido praticado em território alienígena, mesmo Direito Processual Civil 1 4 1 2 1. Samuel Santos Fontenele 12 de maio de 2021 1:15:01 PM Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte. 2. Samuel Santos Fontenele 12 de maio de 2021 1:15:23 PM Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código. que a demanda seja ajuizada no Brasil (Lei de Introdução, art. 13). Embora prevaleça o sistema probatório do local em que se deu o fato, não se permite ao juiz brasileiro admitir “provas que a lei brasileira desconheça” (art. 13, in fine, da Lei de Introdução). Os processos que correm no exterior e os atos processuais neles realizados não têm nenhuma eficácia em território nacional. Para nós, é como se não existissem, ainda que neles tenha sido proferida sentença. Para que ela se torne eficaz, é preciso que haja homologação pelo Superior Tribunal de Justiça. As determinações judiciais vindas de países estrangeiros também não podem ser cumpridas no Brasil senão depois do exequatur do STJ. 5. Lei Processual no Tempo Quando entra em vigor, uma nova lei processual encontra processos já encerrados, que nem se iniciaram ou que ainda estão em andamento. As duas primeiras situações não trazem nenhuma dificuldade: se o processo já estava extinto, nada mais há a discutir, não podendo a lei retroagir para atingir situações jurídicas já consolidadas. Os processos ainda não iniciados serão inteiramente regidos pela lei nova. A dificuldade fica por conta dos processos pendentes. De uma maneira geral, a lei processual aplica-se de imediato, desde o início da sua vigência, aos processos em andamento. Mas devem ser respeitados os atos processuais já realizados, ou situações consolidadas, de acordo com a lei anterior. “Tempus regit actum” (o tempo rege o ato), que se traduz na ideia de que os atos processuaissão regidos pela lei em vigor no momento em que são praticados, portanto, a nova lei deverá ser utilizada para todos os processos em andamento, e os iniciados após a vigência da lei. “Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais Direito Processual Civil 1 5 praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.” Na verdade, a lei que se aplica em questões processuais é a que vigora no momento da prática do ato formal, e não a do tempo em que o ato material se deu. Também a lei processual respeita o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada Mesmo quando a lei nova atinge um processo em andamento, nenhum efeito tem sobre os fatos ou atos ocorridos sob o império da lei revogada. Alcança o processo no estado em que se achava no momento de sua entrada em vigor, mas respeita os efeitos dos atos já praticados, que continuam regulados pela lei do tempo em que foram consumados. Se, por exemplo, a lei nova não mais considera título executivo um determinado documento particular, mas se a execução já havia sido proposta ao tempo da lei anterior, a execução forçada terá prosseguimento normal sob o império ainda da norma revogada. Deve-se, pois, distinguir, para aplicação da lei processual nova, quanto aos processos: a) exauridos: nenhuma influência sofrem; b) pendentes: são atingidos, mas respeita-se o efeito dos atos já praticados; c) futuros: seguem totalmente a lei nova. Sistema das fases processuais: no NCPC, o art. 318 prevê dois tipos de procedimentos: o comum e os especiais. O procedimento comum é a regra geral do sistema. Art. 318, NCPC: "Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei. Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução." Direito Processual Civil 1 6 O procedimento comum desenvolve-se em cinco fases: a) postulatória - propositura da ação; b) organizatória - c) instrutória - produção de provas; d) decisória - sentença; e e) executória - satisfação do direito. Direito Processual Civil 1 7
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