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A INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA CULTURAL NO GOSTO MUSICAL DOS DISCENTES DO IFPI, CAMPUS PIRIPIRI. José Rodolpho de Sousa Lopes 1 Orientador: Francisco Adelino de Sousa Frazão 2 RESUMO: Este artigo objetiva expor os resultados de um estudo desenvolvido acerca da influência da Indústria Cultural (I.C.) no gosto musical dos estudantes do turno manhã dos cursos Técnicos Integrado de Nível Médio do IFPI, Campus Piripiri, dos períodos 2013-2 e 2014-01. O presente trabalho de pesquisa se justifica pelo fato de que adolescentes são considerados pelos estudiosos os principais alvos do processo de mercantilização da cultura. Partimos da hipótese de que a I.C. exerce grande influência no gosto musical dos alunos, direcionando suas escolhas, moldando seu gosto estético. Ao longo do texto, também buscaremos discutir o papel da escola e a sua contribuição na formação de cidadãos críticos, resistentes ao modelo atual de mercado fonográfico. Palavras-Chave: Indústria Cultural; gosto musical; formação de cidadãos. 1 INTRODUÇÃO Este trabalho de pesquisa serve como iniciação científica para um aluno do Instituto Federal do Piauí assumindo, como seu propósito principal, a tarefa de pesquisar, refletir e discutir acerca do gosto musical dos alunos do Ensino Médio Integrado do turno da manhã, do Instituto Federal do Piauí (IFPI), Campus Piripiri, na faixa etária de 14 a 19 anos. O presente estudo buscará identificar a influência e os mecanismos utilizados pela I.C. para moldar a escolha musical dos adolescentes que estudam na referida escola, que podem servir como meio de promover a massificação de suas preferências musicais. O termo massificação diz respeito à manipulação exercida pela I.C. que busca a modelização ou a padronização dos indivíduos de uma determinada sociedade. Com este propósito, utiliza as variadas formas de comunicação direcionada ao grande público, tendo como objetivo influenciar e orientar, do jeito que lhe convenha, o pensamento e o comportamento do maior número de pessoas possíveis. A ideologia principal da massificação cultural assume um papel de não elevar a consciência da massa, fragmentando a subjetividade humana na busca por introduzir nela uma objetividade ideológica que retroalimente a própria 1. Aluno do Curso Técnico Integrado de Administração (IFPI, Campus Piripiri). Bolsista do programa PIBICjr- 2014. 2 Professor de Música (IFPI, Campus Teresina Central); Mestrando em Letras (UESPI); Especialista em Docência Superior (UESPI); Graduado em Educação Artística – Habilitação Música (UFPI). estrutura dominante (FABIANO, 1998, p. 161). Em outras palavras, esse processo de massificação faz com que o ser humano seja influenciado (até mesmo coagido) em suas escolhas de bens culturais e simbólicos de tal forma que afete a sua atuação enquanto cidadão reflexivo, crítico, emancipado. Hodiernamente, a Indústria Cultural (I.C.) detém estruturas que produzem padrões alienadores de intervenção na cultura, além disso, utiliza os variados meios de comunicação de massa (rádio, televisão, internet), que funcionam como instrumentos de difusão dos seus modelos. Isto se reflete nas canções comerciais destinadas ao consumo das massas, que reafirmam o gosto e a estética promovida pelo poder hegemônico, e se estabelecem pela insistência e repetição. Utilizando estes artifícios, a I.C. emprega no individuo um sentimento que perpassa o gosto particular da elite cultural ao universal massificante. Este processo acontece de forma subjetiva, pelo apelo à emoção, onde é comum ouvir a expressão “parece que esta música foi feita pra mim”, uma pseudo individualização. Deste modo, o sujeito não percebe contradições inerentes à forma e conteúdo das canções, e nem mesmo atenta para a manipulação ali instalada. (ADORNO & HORKHEIMER, 2002, p.07). E é neste contexto que devemos ponderar: Qual o papel que a escola deve assumir nesse cenário de degradação cultural e de subversão de valores? A resposta desta questão parece óbvia e simples, sendo que qualquer pessoa afirmaria que na escola, a “verdadeira” cultura, a mais pura, a mais elevada, deve ser conhecida e apreciada. Mas acontece que não é bem assim. Segundo Adorno e Horkheimer (2002), a I.C., com seus mecanismos de convencimento, se internaliza na subjetividade dos indivíduos fazendo com que os mesmos não tenham consciências de que as escolhas que faz são influenciadas, ou até mesmo definidas pela I.C. 2 JUSTIFICATIVAS A I.C. influencia fortemente a vida humana através dos seus variados mecanismos de convencimento e manipulação, utilizando a grande mídia televisiva, radiofônica e comunicativa. Sendo assim, entender os discursos impetrados pela I.C. implica em perceber como, e por quais meios, ela se apodera dos espaços midiáticos, influenciando uma sociedade a possuir os produtos que ela promove como padrão ou modelo do “ter” para “ser”. Buscaremos desenvolver uma análise da atuação da I.C. no mundo globalizado, e mais especificamente no contexto escolar do IFPI, Campus Piripiri, na perspectiva de entender sua função e as estratégias estabelecidas por ela para divulgar seus produtos e, ao mesmo tempo, impregnar nas pessoas o desejo de consumir, visto que, de certa forma, a sociedade capitalista é regida pelas suas leis e valores de mercado (ADORNO & HORKHEIMER, 2002, p.06). Esta pesquisa almeja contribuir para a reflexão e fomentar o debate sobre os tipos de canções que estão sendo disponibilizadas e produzidas para a juventude piripiriense, piauiense e brasileira. Ela serve de fomento à observação acurada das mensagens que estão embutidas nas mesmas, analisando como, nas entre linhas das canções, estão embutidos discursos que arremetem a valores morais e atitudes que acabam por banalizar a vida e, principalmente a figura feminina, que é uma das vítimas desse processo degradante da pessoa humana, difundida através das letras canções que a estereotipam e a vulgarizam. Esperamos que este trabalho possa auxiliar no debate sobre as músicas que consumimos, buscando sensibilizar os jovens para que possam refletir e serem mais críticos em relação aos tipos de canções que ouvem e gostam. 3 OBJETIVO 3.1 GERAL Investigar a formação e o desenvolvimento do gosto musical dos alunos do IFPI, Campus Piripiri, e a influência exercida pela Indústria Cultural (I.C.) neste processo. 3.2 ESPECÍFICOS Estudar e conhecer os conceitos relacionados com a I.C.; Perceber os mecanismos e estratégias de manipulação e convencimento que a I.C. utiliza para influenciar a massa consumidora de bens e produtos. Analisar o pensamento dos alunos acerca das canções veiculadas pela grande mídia. 4 METODOLOGIA Esta pesquisa se trata de estudo de caso. Para Gil (2002): O conceito de caso, no entanto, ampliou-se, ao ponto de ser entendido como uma família ou qualquer outro grupo social um pequeno grupo, uma organização, um conjunto de relações, um papel social, um processo social, uma comunidade, uma nação ou mesmo toda uma cultura. (GIL, 2002, p.138). Para coletar informações utilizamos: pesquisa em fontes documentais e bibliográficas, observação participante, questionários. Concordamos com Gil quando fala que: Pode-se dizer que, em termos de coleta de dados, o estudo de caso é o mais completo de todos os delineamentos, pois vale-se tanto dos dados de gente quanto de dados de papel. Com efeito, nos estudos de caso podem ser obtidas mediante analise de documentos, entrevistas, depoimento pessoais, observação espontânea, observação participante e analise deartefatos físicos. (GIL, 2002, p.141). O procedimento do estudo de caso permite o diálogo dos aportes teóricos com sujeitos que convivem com o fato investigado. Permite relacionar os conhecimentos científicos com o conhecimento empírico (vivenciado), admite outros materiais que ajudem a entender o processo social, uma comunidade, uma nação ou mesmo toda uma cultura. (GIL, 2002). O percurso da pesquisa consistiu nas seguintes etapas: 1- Delimitação do tema e do objeto da pesquisa, além da elaboração do plano de pesquisa provisório; 2- Levantamento bibliográfico e seleção do referencial teórico com o qual dialogaremos para produção do trabalho escrito: leitura, resumo e fichamento do material bibliográfico selecionado; 3- Aplicação de questionários às turmas do turno manhã do IFPI, Campus Piripiri, relacionados com os objetivos da pesquisa; 4- Análise crítica dos questionários à luz dos conceitos basilares elencados sobre a Indústria Cultural; 5- Diálogo entre os participantes da pesquisa, construção da primeira versão do texto (Trabalho Científico) para leitura e avaliação; 6- Revisão da primeira versão do Trabalho Científico junto ao orientador e elaboração da versão final do trabalho; 7- Preparação Relatórios da Pesquisa; 8- Apresentação dos resultados (Trabalho Científico) à comunidade acadêmica do IFPI, Campus Piripiri e no Encontro de Pesquisa e Iniciação Científica do IFPI – ENCIPRO. 5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA De acordo com os teóricos pesquisados, a I.C. redireciona o papel da cultura, que deixa de ser um produto essencialmente social, para estabelecer como um objeto ligado à esfera econômica. Neste sentido, a cultura deixa de ser uma expressão espontânea do desenvolvimento social para se tornar algo que limita a liberdade de escolha do indivíduo sem que ele se dê conta disso. Em certa medida, a I.C. diminui (ou anula) consideravelmente o potencial crítico do indivíduo acerca dos bens culturais, alimentando um falso ideal de liberdade e felicidade por meio de mecanismos de convencimento, sedução, sugestão, objetivando a mercantilização da cultura. Assim, os produtos culturais ficam reduzidos a um simples valor de troca, deixando de prestar-se à reflexão crítica sobre a natureza do homem e de suas condições de existência, fazendo com que os indivíduos sociais se mantenham acomodados e conformados. É importante frisarmos que, além de ser uma forma de exploração econômica, a I.C. também impõe a adaptação dos indivíduos a uma estrutura ideológica de liberdade e lazer (ADORNO apud RÜDIGER, 2004, p. 163), dessa forma, busca padronizar até mesmo as condutas dos indivíduos, enquanto criadores de bens artísticos e culturais, estabelecendo modelos que sejam aceitos por sua ideologia, buscando uma generalização social. Em contraposição à ação da I.C., a perspectiva da educação estética através da arte proporciona o refinamento ou aperfeiçoamento dos sentidos e da sensibilidade, ampliando o universo perceptivo das pessoas, fazendo com que as mesmas tenham uma capacidade de observação mais apurada da realidade que as cercam. Francisco Rüdiger (2004, p. 195-196) afirma que a I.C. deturpa o sentido da cultura de tal forma que os esquemas a constituem como uma estrutura articuladora do fetichismo da mercadoria, com a ideia de satisfazer integralmente todas as necessidades dos consumidores embutida no seu discurso alienante. Segundo Rüdiger, a I.C. apresenta esquemas “facilitadores” aos consumidores, dirigindo-lhes a interpretação dos fenômenos culturais da sociedade, destituindo os indivíduos seu potencial reflexivo e de sua experiência formativa: 1. Padronização – criação de fórmulas e modelos; 2. Pseudo-individuação: mercadorias padronizadas, mas que apresentem certas características diferentes para criar uma falsa sensação de liberdade de escolha; 3. Glamourização: esquema de práticas de promoção que visam dar relevância às mercadorias; 4. Hibridização: tendência que busca mesclar diversos gêneros, vindo a formar uma espécie de coletânea, apresentando-os como se estivéssemos em um show de variedades; 5. Esportização: esquematização da apresentação das mercadorias de maneira que duas partes pareçam ser ou fazer parte de um evento esportivo, uma competição; 6. Aproximação: sensação ilusória de que, por meio do consumo de determinada mercadoria, se pode apoderar-se da essência dos fenômenos sociais; 7. Personalização: os esquemas tratam os aspectos objetivos dos conteúdos como se não passassem de problemas humanos e individuais; 8. Estereotipagem: desenvolvimento de mercadorias por meio de procedimentos simplificadores que geram significados objetivos e reduzem a complexidade contida no material sujeito à atividade artística e intelectual. É importante frisarmos que, além de ser uma forma de exploração econômica, a I.C. também impõe a adaptação dos indivíduos a uma estrutura ideológica de liberdade e lazer (ADORNO apud RÜDIGER, 2004, p. 163), dessa forma, busca padronizar até mesmo as condutas dos indivíduos, enquanto criadores de bens artísticos e culturais, estabelecendo modelos que sejam aceitos por sua ideologia, buscando uma generalização social. Em contraposição à ação da I.C., a perspectiva da educação estética através da arte proporciona o refinamento ou aperfeiçoamento dos sentidos e da sensibilidade, ampliando o universo perceptivo das pessoas, fazendo com que as mesmas tenham uma capacidade de observação mais apurada da realidade que as cercam. Uma obra de arte chama o indivíduo para uma reflexão aprofundada, não-imediata e não-simplória, sendo, portanto, complexa e carregada de possibilidades potenciais de sentidos. A arte exige um comprometimento intelectual e sensível de seus espectadores. Nesse sentido, a mediação exercida pela fruição e apreciação de objetos de arte nos guia para a construção da relação dos objetos de arte com os significados da vida humana. Outro fator importante é que, em sua essência, não há direcionamento objetivo de consumismo na produção de obras de arte. Já na ação desempenhada pela I.C. ocorre exatamente o contrário. Enquanto a fruição artística promove a liberação e o aprimoramento dos sentidos, a I.C. impõe seus modelos ao indivíduo de forma que o mesmo se identifique e assuma os seus padrões, deixando de escolher e de pensar por si mesmo (FABIANO, 1998, p. 168). Para esta empreitada, a I.C. proporciona a produção e promoção de produtos culturais que são rapidamente assimilados e consumidos pela massa, como se cada indivíduo de uma sociedade massificada precisasse “consumir para pertencer” a tal comunidade. A partir desta reflexão, podemos entender a I.C. como uma agência que visa padronizar as opiniões das pessoas através dos meios de comunicação de massa. Teixeira Coelho diz que boa parte da influência estabelecida pela I.C., só é possível por causa da divulgação de seus produtos – por meio dos meios de comunicação – que iniciou com os primeiros jornais, logo depois se deu através do rádio, da TV e, na atualidade, se dá por meio da internet e outras tecnologias do século XXI. Segundo Coelho (1993, p. 05): A invenção dos tipos móveis de imprensa, feita por Gutenberg no século XV, marca o surgimento desses meios — ou, pelo menos, do protótipo desses meios. Isso não significa, porém, que de imediato passe a existir uma cultura de massa: embora o meio inventado pudesse reproduzir ilimitadamente os textos da época, o consumo por ele permitido era baixo e restrito a uma elite de letrados. “Indústria Cultural" é um termo elaborado por Theodor Adorno e Marx Horkheimer na obra “Dialética do esclarecimento” (1947) em substituição à expressão “cultura de massa”, pois essa última podesugestionar que é uma cultura advinda das massas de modo espontâneo. Nesse sentido, para os frankfurteanos a expressão “Indústria Cultural” é mais apropriada, uma vez que ela reproduz o processo de mercantilização cultural provocada pela sociedade capitalista. Segundo Adorno & Horkheimer (1985, p. 105), a I.C.: exerce um tipo de manipulação e controle social sobre a acessibilidade para as massas, no qual existe um discurso que se sustenta em uma falsa democratização de uma cultura. Porém, essa cultura é utilizada como objeto de mercantilização, que tem por finalidade maior “reproduzir as pessoas tais como as modelou a indústria em seu todo”. Os adversários da I.C. assumem uma visão de que nela persiste um estado avançado de “barbárie cultural” de acelerar ou produzir a degradação do homem – definida como alienação. Já para os adeptos, ou os que a toleram, a I.C. teria o mesmo valor de toda a produção cultural: a revelação, para o homem, das suas significações e do mundo que o cerca. Em suma de um lado se concentram os que acreditam em Adorno e Horkheimer, que a I.C. desempenha as mesmas funções de um estado fascista, promovendo a alienação do homem. Do outro os que defendem que a I.C. é o primeiro processo democratizador da cultura, quando se a coloca no alcance da massa (COELHO, 1993, p. 14). O discurso manipulador da I.C. parte principalmente dos meios de comunicação, atuando diretamente na massa, instalando uma massificação a cultura com toda a sua força alienante e reveladora. Apesar de toda a discursão levantada acerca da problemática a respeito da arte comercial, mesmo com as distorções inerentes a sua produção, é possível vermos benefícios decorrentes da sua comercialização, como a geração de empregos e a difusão das diferentes expressões artísticas para um número cada vez maior de pessoas. Neste sentido, as várias formas de produção artística são geradoras de negócios que mobilizam a economia de um lugar, e, consequentemente, podem ser vistas como responsáveis pelo surgimento de novas profissões, empregos e/ou ocupações em diversos setores de produção artística: pré-produção, produção, distribuição, comercialização, consumo doméstico, execuções públicas, dentre outros ramos (ZAGONEL, 2008, p. 33-34). No caso da música, podemos perceber inúmeras atividades que envolvem desde a sua produção à sua apreciação, como as ações dos vários setores da indústria fonográfica, da indústria editorial, das tecnologias digitais, da produção ilegal (pirataria), dos direitos autorais, das políticas públicas de fomento à produção musical, da radiodifusão e da mídia impressa, dos espetáculos e shows, da indústria de instrumentos musicais, da indústria de equipamentos eletrônicos audiovisuais, da formação acadêmica, da formação técnica e profissional, e da formação de plateias (PRESTES FILHO, 2004, p. 33). É um fato importante que a I.C., apesar de todas as críticas a ela direcionadas, apresenta uma natureza contraditória ao apresentar-se como produtora de bens de mercado, se apossando dos meios e métodos aplicados no fazer artístico, ao mesmo tempo sendo um fator de desenvolvimento econômico de uma sociedade (ou país) ao movimentar uma grande parcela do PIB com suas atividades culturais (audiovisual, editorial, gráfica, fonográfica), servindo ao entretenimento e lazer, a eventos artísticos/culturais diversos, tanto eruditos quanto populares (PRESTES FILHO, 2004, p. 06; ZAGONEL, 2008, p. 34-37). A I.C. é um dos objetos de estudo mais intrigantes das ciências humanas, mais pelas suas qualidades indicativas, ou aspectos exteriores, do que por sua constituição interior, estrutural. Daí surge questões intrigantes a respeito dos produtos desse tipo de indústria, se seriam bons ou ruins para o homem, adequados ou não ao desenvolvimento das potencialidades e projetos humanos. Uma das portas de entrada para esse assunto pode ser o das relações existentes entre a I.C. e os “meios de comunicação de massa” (COELHO, 1993, p. 05). Existe uma relação entre três expressões que fazem (obrigatoriamente) parte de todo o discurso sobre esta área: Indústria cultural, meios de comunicação de massa, cultura de massa. Tendem a se colocar sinônimas, entretanto quando uma é mencionada, as outras duas seguem automaticamente, ou seja, uma depende da outra. Estas relações são retratadas de maneira simples: para que haja cultura de massa se faz necessária a existência de um meio de comunicação. Nessa perspectiva, a invenção da impressa deu início ao surgimento dos meios de comunicação que fazem com que a cultura de massa venha existir. (COELHO, 1993 p. 05). Bernadete Zagonel (2008, p. 21-23) reflete que a sociedade moderna cada vez mais se esbalda em consumir desenfreadamente, e, como não poderia deixar de ser, a arte cumpre sua função no que diz respeito às demandas mercadológicas. A comercialização da música, que é um dos mais importantes focos de consumo artístico/cultural, é observada principalmente no gênero popular, onde os promotores da cultura fácil utilizam a emoção das pessoas como meio apelativo de obter rentabilidade. Assim, nesse processo, o sucesso de bandas e artistas do entretenimento é fabricado com suas criações musicais de natureza e qualidade duvidosa. A música gastronômica, na definição de Umberto Eco (1970a, p. 296), ou a música comercial, na visão de vários outros estudiosos, é definida como um produto industrial desprovido de uma verdadeira intenção artística, que objetiva satisfazer as demandas de mercado. E esta é uma distorção cultural que provoca certo menosprezo pela produção musical de alta qualidade por parte da maior parcela da sociedade, em detrimento das músicas criadas e fabricadas para vender (ZAGONEL, 2008, p. 23). Os responsáveis pelo mercado fonográfico criam e refazem os modelos da moda com o intuito de repetir o sucesso da venda de seu produto. Escolhem músicos capazes de detectar e de utilizar fórmulas musicais de sucesso garantido. Em geral, as produções musicais deste comércio abrangem os ritmos ou modelos que se encontram em evidência por um determinado tempo, são canções de conteúdo de compreensão fácil e de identificação imediata com o seu público alvo (ZAGONEL, 2008, p. 23). Os ouvintes, que não exercitam o senso crítico e nem aperfeiçoam o gosto estético, aceitam passivamente os “novos produtos”, as “músicas da moda”, que lhes são impostas de acordo com a demanda do mercado musical. E os meios de comunicação servem como os principais meios de disseminação e de promoção destas formas de expressão sonora musical. A venda se faz sempre, promovendo a massificação de um público que continua alienado e seduzido pelos mesmos tipos de música (ZAGONEL, 2008, p. 23-24). Com vistas ao potencial e importância de Piripiri, este estudo parte da hipótese de que os alunos adolescentes/jovens podem ser influenciados de variadas maneiras pelos estímulos da I.C., que utiliza de seu poder de persuasão – e/ou imposição – para conseguir sua aceitação, sem necessariamente se preocupar com uma qualidade artística do produto, mas sim com a dinâmica de mercado que faz com que este seja consumido, gerando lucro aos seus agentes no ato de sua comercialização. 6 ANÁLISE DAS RESPOSTAS DO QUESTIONÁRIO APLICADO A pesquisa foi realizada com duzentos discentes mas, somente oitenta e cinco discentes deram a importância necessária para a pesquisa e responderam o questionário. Presumimos que o motivo para os alunos não responderem as questões elencadas é por que simplesmente não quiseram ou porque não acharam necessário perder tempo com algo que não seriam obrigados. Partindo para a analise da pesquisa temos que na primeira pergunta:Quais os tipos de músicas você mais gosta? O repertório musical apresentado pela maioria dos alunos entrevistados são estilos como: funk, forró, sertanejo, Gospel, MPB, Reggae, Eletrônica, Rock. A segunda pergunta: Quais os meios que você mais utiliza para ter acesso a estas músicas? A resposta foi que seria divulgado pelo o rádio, televisão e principalmente em sua maioria pela internet e celular. A terceira pergunta: Cite 5 (cinco) músicas de sua preferência? Quais os seus respectivos cantores e bandas? Como resposta enumeramos as bandas e artistas que mais se destacaram nas respostas, em primeiro lugar: Luan Santana, Legião Urbana e Jorge e Mateus em segundo: Garota Safada, Ana Carolina, MC Guimê, Capital Inicial, Engenheiros, Nando Reis, entre outros. Neste primeiro momento, se torna importante expormos o pensamento de Texeira Coelho (1993, p. 5): Uma porta de entrada para o assunto pode ser o das relações existentes entre a "indústria cultural", os "meios de comunicação de massa", e a "cultura de massa", expressões hoje comuns e que fazem parte obrigatória de todo discurso sobre esta área. À primeira vista, essas expressões tendem a colocar- se como sinônimas, ou parecem apresentar-se de tal modo que, quando uma é mencionada, as duas outras se seguem automaticamente. Não é assim. Vejamos as relações entre "meios de comunicação de massa" e "cultura de massa". Tal como esta é hoje entendida, para que ela exista é necessária a presença daqueles meios; mas a existência destes não acarreta a daquela cultura. De acordo com este raciocínio, a comunicação de massa torna acessível a diversidade dos tipos de músicas existentes no mercado fonográfico. Esta exposição visa influenciar a massa social a escolher ouvir o que a I.C. assinala como moda, como valor positivo que deve ser valorizado pelas pessoas. A audição de “músicas” do gênero Sertanejo, por exemplo, promove uma certa melancolia e um certo bucolismo, apesar que, na atualidade, esse tipo de música se aproxima com o country e incorpora também elementos do forró, do pagode gaúcho, do baião, e do vanerão. O Rock dos anos oitenta apresenta um discurso político rebelde de não conformidade com a situação vivida. Ou seja, as letras das canções veiculam discursos que são simplesmente negligenciados pelo público passivo, em busca de diversão. Desse modo, as músicas assumem a função de promover mero entretenimento. O curioso é que os adolescentes na maioria das vezes constituem muitas vezes suas predileções musicais pelo ritmo dançante, excluindo, portanto a observação apurada da letra como critério de avaliação. Na quarta pergunta pesquisa: Quando você ouve as músicas que gosta, o que costuma observar? Temos que 78% dos discentes disse observar a letra, independente do gênero musical, e 22% observam o ritmo e melodia. Percebemos também na análise da pesquisa, que a boa parte dos alunos são ecléticos, ou seja, que ouvem e gostam de todo tipo de música. Tudo isso, pode gerar a midcult conceituada por Coelho (1993, p. 08): Um dos caminhos, para se entrar nessa discussão, é o aberto por Dwight MacDonald que fala na existência de três formas de manifestação cultural: superior, média e de massa (subentendendo-se por cultura de massa uma cultura "inferior"). A cultura média, do meio, é designada também pela expressão midcult, que remete ao universo dos valores pequeno-burgueses; e a cultura de massa não é por ele chamada de mass culture mas sim, pejorativamente, de masscult — uma vez que, para ele, não se trataria nem de uma cultura, nem de massa. Em relação a quinta pergunta: Quais as interferências da Televisão, do Rádio, e da internet na construção de sua preferência musical? Tivemos 70% dos discentes respondendo que a interferência acontece sim, através das músicas mais tocadas nestes meios de comunicação. Por meio das respostas obtidas em razão dos questionamentos sobre o seu gosto musical, é perceptível que a manipulação da I.C. é enorme, ao ponto de considerarem a música como entretenimento que está em alta, e esquecendo até mesmo que música é uma manifestação artística. Segundo Coelho (1993, p. 06): Nesse quadro, também a cultura — feita em série, industrialmente, para o grande número — passa a ser vista não como instrumento de livre expressão, crítica e conhecimento, mas como produto trocável por dinheiro e que deve ser consumido como se consome qualquer outra coisa. Nas duas últimas perguntas: O que se entende por “música de qualidade”? O seu gosto musical se assemelha com esse tipo de produção musical? e Você acha que tem bom gosto musical? Analisamos algumas respostas (respectivamente) bem interessantes, a aluna Maria disse: “música de qualidade se refere às vezes a letra, o que o arranjo musical transmite e sim, considero ter bom gosto” e “sim, pois eu escuto a música e tento ver o que ele me passa, o que ela transmite”. Já o aluno João disse: “música boa, bem conhecida, muito tocada e etc. e “sim porque gosto de música que muitas pessoas curtam”. É perceptível que alguns dos discentes do IFPI de Piripiri demonstram um entendimento básico e compreensível diante das investidas da I.C., já outros, se mantém passivos, aceitando as imposições do mercado fonográfico ao aceitar as músicas da moda, mais veiculadas e aceitas por um maior número de pessoas. Nessa perspectiva, Coelho (1993, p. 37) assevera: O espaço dedicado à informação no rádio e na TV não apenas é pequeno como, principalmente, é manipulado indicialmente. E, nesta situação, a informação tem pouco ou nenhum valor de revelação, servindo antes para desviar a atenção de outros assuntos e para fazer as vezes de simples propaganda ideológica. Na nossa avaliação, se torna evidente então que, para a grande maioria dos alunos do IFPI, Campus Piripiri, a I.C. promove uma grande influência no gosto musical, assim como nas escolhas de músicas que os discentes passam a gostar a partir de sua veiculação em grande escala nos meios de comunicação de massa. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta dessa pesquisa constituiu em problematizar as investidas da I.C. na padronização musical para formar um público passivo, que seja condescendente aos modismos proporcionado pelo mercado da música com objetivo de conquistar consumidores, por meio de músicas em aspectos linguísticos assimiláveis, propiciando meramente a diversão em detrimento da arte. Nesse sentido, confirmamos que as preferências musicais dos adolescentes sofrem diretamente interferência da I.C., no direcionamento de gostos musicais. A análise dos dados permitiu ainda diagnosticar, que todos os alunos entrevistados sofrem algum tipo de interferência na construção de musical de cada um, seja através da internet, da TV, rádio enfim os meios hábitos de informação. Sendo assim são alvos das investidas da I.C., pois o objetivo dela é atingir um maior número de pessoas, independente das condições econômicas. Desse modo, evidenciamos manifestações musicais de alunos com uma linguagem banalizada, na medida em que tais canções são produtos do “mercado da música” para atender um público de forma imediata, com um entretenimento fácil que tem empobrecido cada vez mais o cenário cultural. As críticas erigidas por Adorno são de suma relevância para interpretarmos com maior propriedade teórica o processo de uniformização de subjetividades. Desse modo, a força crítica do filósofo de Frankfurt versa, mormente, edificar uma forma de refletir capaz de desenvolver a emancipação do pensamento em detrimento das obstinadas pressões mercadológica. Tal postura na prática é a realização da autonomia de cada indivíduo que ultrapassa a condição deespectador passivo; mais ainda é a ação que efetivamente abre resistência contra as influências dos meios midiáticos. REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor e HORKHEIMER, Max. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação das massas. In: Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002. COELHO, Teixeira. O que é Indústria Cultural. 35ª edição. Brasília: Editora Brasiliense, 1993. (Coleção Primeiros Passos). FABIANO, Luiz Hermenegildo. Indústria Cultural e Educação Estética: reeducar os sentidos e o gesto histórico. In: ZUIN, Antonio Álvaro Soares (et al.). A educação danificada: contribuições à teoria crítica da educação. Petrópolis/São Carlos: Vozes/UFSCAR, 1998. ADORNO, Theodor W & HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1985. RÜDIGER, Francisco. Theodor Adorno e a Crítica à Indústria Cultural: comunicação e teoria crítica da sociedade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. ZAGONEL, Bernadete. Arte na educação escolar. Curitiba: Ibpex, 2008. PRESTES FILHO, L. C. et al. Cadeia produtiva da economia da música. Rio de Janeiro: Sebrae, 2004. ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 1970a. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª edição. São Paulo: Atlas, 2002.
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