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Questão 1 Os problemas que enfrentamos na sociedade atual têm raízes no passado colonial, são problemas estruturais, que dizem respeito à forma como se consolidaram o Estado e a república no Brasil. O quadro sócio-histórico da sociedade capitalista atual evidencia fortes ataques aos interesses das classes subalternas, materializados nas regressividades dos contratos e das condições de trabalho impostas pela reestruturação produtiva e pelas contrarreformas na esfera estatal. Esses processos são acompanhados também pela regressividade das organizações e das lutas dos trabalhadores, seja no quadro sindical (marcado pela hegemonia de um sindicalismo colaborador nos processos de “gestão” da crise), seja no campo dos movimentos sociais (no qual se observa a acentuada presença de uma ideologia que orienta as ações na órbita do possibilismo, que muitas vezes se traveste de governismo). DURIGUETTO, M. L.; BALDI, L. A. P. Serviço Social, mobilização e organização popular: uma sistematização do debate contemporâneo. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 193-202, jul./dez. 2012 (com adaptações). Com base no texto acima e considerando a herança colonial, patriarcal e escravista brasileira, elabore um texto dissertativo sobre a importância dos movimentos sociais no campo das lutas por direitos e sua relação com a atuação da/do profissional do Serviço Social na atualidade. 1. Introdução teórica Importância dos movimentos sociais na conquista de direitos Movimentos sociais remetem às ações dos homens na história que envolvem um fazer (por meio de um conjunto de práticas sociais) e um pensar (por meio de um conjunto de ideias motivacionais). Esses movimentos são ações coletivas de cunho sociopolítico, estruturadas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais, que politizam suas demandas e constroem um campo político de força social na sociedade civil. A partir de interesses em comum, as ações desenvolvem um processo social, político e cultural responsável pela criação de uma identidade coletiva aos movimentos. Essa identidade é fruto da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base (GOHN, 2000). Para Gohn (2000), os movimentos sociais identificam os diagnósticos da realidade social e propõem ações coletivas para resolvê-los, com a atuação em redes. Por meio dessas ações, esses movimentos resultam no empowerment (empoderamento) de atores da sociedade civil organizada. Para a autora, tais movimentos geram diversas inovações nos campos público e privado, promovem a participação direta ou indireta da luta política de um país e contribuem para o desenvolvimento e a transformação da sociedade civil. A história do Brasil é marcada por movimentos sociais. A partir da década de 1970, em função da Ditadura Militar vigente à época, esses movimentos intensificaram-se no país, apesar da repressão estatal. O movimento social de oposição e contestação ao regime militar tinha como propósito a defesa dos valores do Estado democrático e a crítica a toda forma de autoritarismo (MEDEIROS, 2015). Gohn (2011) afirma que os movimentos sociais dos anos 1970 e 1980 contribuíram de maneira decisiva para a conquista de diversos direitos sociais que, posteriormente, foram inscritos em leis na Constituição Federal de 1988. E essa mesma Constituição abriu caminho para a participação social em todos os setores, tanto nas políticas públicas relativas à saúde e à assistência social quanto nas políticas urbanas e para o meio ambiente. Mota Júnior (s/d) afirma que a participação social nos processos decisórios instituída pela Constituição Federal promoveu o empoderamento do cidadão, traduzindo-se em lema de um Estado democrático de direito. Desde a década de 1990 até os dias atuais, novos movimentos sociais emergiram ou se ampliaram a partir de demandas sociais, como o movimento de mulheres, que luta contra a sociedade patriarcal e o autoritarismo do Estado; o Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT ou LGBTTT), que luta pelos direitos dos homossexuais e dos bissexuais e contra a homofobia; o movimento negro, que reivindica os direitos da população negra que sofre racismo na sociedade; o movimento indígena, que reivindica os direitos de povos indígenas que são marginalizados pela sociedade; e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cujo objetivo é realizar a reforma agrária para a prática da produção de alimentos ecológicos e a melhoria das condições de vida no campo (MEDEIROS, 2015). De modo geral, os movimentos sociais brasileiros lutam contra aspectos opressores do sistema vigente e reivindicam que o Estado assegure os direitos da maioria da população. Desse modo, eles exigem a interferência do Estado para o reconhecimento e a legalização dos direitos e dos deveres dos sujeitos socais envolvidos (SOUSA e CASTRO, 2013). Assim como os movimentos sociais, o projeto ético-político do Serviço Social defende a ampliação e a consolidação dos direitos como dever social do Estado. Dessa forma, o compromisso histórico do Serviço Social com os movimentos sociais visa a contribuir com os grupos que lutam contra a opressão e o autoritarismo, articulando forças e construindo alianças estratégicas com os segmentos que sofrem opressões de ordem econômica, de classe, de gênero e de orientação sexual, dentre outras. Nesse sentido, o Serviço Social contribui para a ampliação e a consolidação de cidadania e para a defesa dos direitos humanos (SOUSA e CASTRO, 2013). Duriguetto (2013) afirma que a relação do Serviço Social com os movimentos sociais está explícita na Lei de Regulamentação da profissão, que determina como competência do profissional “prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade”, e no Código de Ética, que afirma como direito do profissional “apoiar e/ou participar dos movimentos sociais e organizações populares vinculados à luta pela consolidação e ampliação da democracia e dos direitos de cidadania”. Para Mioto e Nogueira (2013), o trabalho desenvolvido pelos profissionais do Serviço Social nos movimentos sociais é importante para o processo de institucionalização das políticas públicas direcionadas à garantia dos direitos sociais, assim como para a consolidação do projeto ético-político da profissão. 2. Padrão de resposta INEP A/o estudante deve elaborar um texto dissertativo que contemple os aspectos a seguir. A importância dos movimentos sociais no campo das lutas por direitos no Brasil: o a compreensão da importância histórica dos movimentos sociais para o enfrentamento das desigualdades sociais originárias do sistema capitalista e para a conquista, consolidação e defesa dos direitos no Brasil; o as lutas e resistências à exploração dos trabalhadores e às opressões de classe, etnia e gênero, expressas em movimentos sociais (movimento negro, feminista, estudantil, sindical, LGBT, MST etc.) e sua relação com elementos históricos da formação social brasileira (discriminação, preconceito, racismo, patriarcado, machismo, patrimonialismo e autoritarismo). A articulação dos temas acima com a atuação da/do profissional do Serviço Social na atualidade, considerando os seguintes preceitos: o a defesa e promoção da cidadania com a ampliação do acesso às políticas sociais e garantia dos direitos conquistados pelos movimentos e lutas sociais; e/ou o a articulação do Serviço Social com os movimentos sociais através de assessoria, consultoria, capacitação e outras estratégias de organização e mobilização social, cultural e política para o fortalecimentode suas lutas. Disponível em <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/padrao_resposta/2016/ servico_social_prp_ok.pdf>. Acesso em 17 ago. 2018. 3. Indicações bibliográficas DURIGUETTO, M. L. Questão social, sociedade civil e lutas sociais: desafios ao Serviço Social. Revista Conexão Gerais do Conselho Regional do Serviço Social de Minas Gerais (CRESS-MG) 2013. v. 4. Disponível em <http://cress-mg.org.br/publicacoes/Home/ PDF/32>. Acesso em 22 jun. 2018. DURIGUETTO, M. L.; BALDI, L. A. P. Serviço Social, mobilização e organização popular: uma sistematização do debate contemporâneo. Revista Katálysis, 15(2): 193-202, 2012. GOHN, M. G. 500 anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e terceiro setor. Rev. Mediações, 2000; 5(1): 11-40. GOHN, M. G. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira de Educação, 2011; 16(47): 333-513. MEDEIROS, A. M. Breve História dos Movimentos Sociais no Brasil. Sabedoria Política. [página internet]. Postado em 2015. Disponível em <https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/breve-historia-dos-movimentos-sociais- no-brasil/>. Acesso em 22 jun. 2018. MIOTO, R. C. T.; NOGUEIRA, V. M. R. Política Social e Serviço Social: os desafios da intervenção profissional. R. Katálysis. 2013; 16(esp.): 61-71. MOTA JÚNIOR, F. A Constituição cidadã e a participação social: além da cidadania uma questão de efetivação de direitos. [internet]. SD. Disponível em <http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=eb484fced33f6d6d>. Acesso em 22 jun. 2018. SOUSA, R. S.; CASTRO, A. G. Movimentos Sociais, Direitos Humanos e Serviço Social no Brasil. Congresso Catarinense de Assistentes Sociais. Florianópolis, 2013. Disponível em <http://cress-sc.org.br/wp-content/uploads/2014/03/Movimentos-Sociais-Direitos-Huma nos-e-SS-no-Brasil2.pdf>. Acesso em 22 jun. 2018. Questão 2 TEXTO I Cada vez que nos negamos ao atendimento de longas filas de usuárias/os sem propor-lhes alternativas, tomamos uma decisão política. A cada silêncio diante de violações de direitos, de torturas e violência à ausência de espaços de efetiva participação de usuárias/os na definição das políticas, essas violações se cristalizam. A cada discurso fatalista que assumimos (“não há o que fazer”; “as condições de trabalho me impedem de agir”; “se disser o que penso serei transferido”; “corro o risco de perder o meu emprego” etc.), sem acionar saídas para ações alternativas (movimentos sociais; movimento sindical; sistema nacional e internacional de proteção de direitos humanos etc.), também violamos direitos. Deixamos de responder, com a qualidade que nossa graduação nos possibilita, a demandas legítimas. RUIZ, J. L. S. A defesa intransigente dos direitos humanos e a recusa do arbítrio e do autoritarismo. In. Projeto ético-político e exercício profissional em Serviço Social: os princípios do código de ética articulados à atuação crítica de assistentes sociais. Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro Rio de Janeiro: Ediouro, 2013 (com adaptações). TEXTO II A partir dos anos 1980, o Serviço Social brasileiro buscou romper com as amarras conservadoras presentes desde a gênese da profissão, sobre as quais se assentavam formação e trabalho profissional, e passou a constituir bases profissionais alicerçadas nos novos tempos. Tal mudança não é apenas teórico-metodológica: é conceitual, é formativa, é ético-política e é técnico-operativa, pois infunde na apreensão da/do assistente social como trabalhador/a assalariada/o que, ao mesmo tempo em que trabalha diretamente com as expressões da questão social, sofre os rebatimentos que são fruto da condição de vendedor/a da sua força de trabalho. É dizer: a intenção de ruptura com as acepções conservadoras exige que formação e trabalho profissional estejam atrelados ao tempo presente e aos desafios por ele apresentados, para não perder de vista o horizonte ético- político profissional. Tendo os textos acima como referência, redija um texto dissertativo sobre a questão social como objeto de trabalho do Serviço Social e estabeleça a relação entre as dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa no trabalho profissional da/do assistente social. 1. Introdução teórica A atuação do/a assistente social A Assistência Social foi instituída como política social não contributiva pela Constituição Federal de 1988, sendo desenvolvida no âmbito da proteção social. A política de assistência social tem sido um importante campo de trabalho dos/as assistentes sociais (CFESS, 2011). As atribuições e as competências dos/as profissionais de Serviço Social, que podem ser realizadas na política de Assistência Social ou em outro espaço sócio-ocupacional, devem ser orientadas e norteadas pelos direitos e pelos deveres constantes no Código de Ética Profissional e na Lei de Regulamentação da Profissão (CFESS, 2011). Nessa perspectiva, as competências e as atribuições dos/as assistentes sociais requerem a compreensão do contexto sócio-histórico em que se situa sua ação, considerando (CFESS, 2011): • a apreensão crítica dos processos sociais de produção e reprodução das relações sociais numa perspectiva de totalidade; • a análise do movimento histórico da sociedade brasileira, apreendendo as particularidades do desenvolvimento do Capitalismo no país e as particularidades regionais; • a compreensão do significado social da profissão e de seu desenvolvimento sócio-histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade; • a identificação das demandas presentes na sociedade, visando a formular respostas profissionais para o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre o público e o privado. De acordo com o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS, 2011), são essas competências que permitem ao/à profissional realizar a análise crítica da realidade e, então, estruturar seu trabalho e estabelecer as competências e as atribuições específicas para o enfrentamento das situações e das demandas sociais que se apresentam em seu cotidiano. O trabalho do/a assistente social resulta da interação de ações e procedimentos de três dimensões: teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa. A primeira engloba os conhecimentos que embasam a interpretação que o/a profissional faz da realidade. A segunda compreende os valores e princípios que direcionam e orientam todas as condutas do/a assistente social. Por fim, a terceira é composta pelas ferramentas, pelos instrumentos e pelas estratégias e táticas adotadas. Para o CFESS (2011), as competências específicas dos/as assistentes sociais abrangem diversas dimensões interventivas, complementares e indissociáveis, conforme descrito a seguir. 1. Dimensão que engloba as abordagens individuais, familiares ou grupais na perspectiva de atendimento às necessidades básicas e de acesso aos direitos, bens e equipamentos públicos. Essa dimensão não deve se orientar pelo atendimento psicoterapêutico a indivíduos e a famílias, mas à potencialização da orientação social, com vistas à ampliação do acesso dos indivíduos e da coletividade aos direitos sociais. 2. Dimensão de intervenção coletiva junto a movimentos sociais, na perspectiva da socialização da informação, da mobilização e da organização popular, que tem como fundamentos o reconhecimento e o fortalecimento da classe trabalhadora como sujeito coletivo na luta pela ampliação dos direitos e pela responsabilização estatal. 3. Dimensão de intervenção profissional voltada para a inserção nos espaços democráticos de controle social e para a construção de estratégias para fomentar a participação, reivindicação e defesados direitos pelos/as usuários/as e trabalhadores/as nos Conselhos, Conferências e Fóruns da Assistência Social e de outras políticas públicas. 4. Dimensão de gerenciamento, planejamento e execução direta de bens e serviços aos indivíduos, às famílias, aos grupos e à coletividade, na perspectiva de fortalecimento da gestão democrática e participativa, capaz de produzir, intersetorial e interdisciplinarmente, propostas que viabilizem e potencializem a gestão em favor dos/as cidadãos/ãs. 5. Dimensão que se materializa na realização sistemática de estudos e pesquisas que revelem as reais condições de vida e as demandas da classe trabalhadora, a fim de que se possa alimentar o processo de formulação, implementação e monitoramento da política de Assistência Social. 6. Dimensão pedagógico-interpretativa e socializadora de informações e saberes no campo dos direitos, da legislação social e das políticas públicas, dirigida aos/às diversos/as atores/atrizes e sujeitos da política: os/as gestores/as públicos/as, os/as dirigentes de entidades prestadoras de serviços, os/as trabalhadores/as, os/as conselheiros/as e os/as usuários/as. É importante mencionar que o compromisso ético, político e profissional dos/as assistentes sociais brasileiros/as, do CFESS e dos Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS) na luta pela Assistência Social está fundamentado (CFESS, 2011): no reconhecimento da liberdade, autonomia, emancipação e na plena expansão dos indivíduos sociais; na defesa intransigente dos direitos humanos e na recusa do arbítrio e do autoritarismo; na ampliação e consolidação da cidadania, com vistas à garantia dos direitos das classes trabalhadoras; na defesa da radicalização da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida; no posicionamento em favor da equidade e da justiça social, que assegurem universalidade de acesso aos bens e serviços, na gestão democrática e no empenho para a eliminação de todas as formas de preconceito. 2. Padrão de resposta INEP O/A estudante do curso de Serviço Social deve elaborar um texto dissertativo em que demonstre o que segue. Compreensão sobre a questão social como objeto de trabalho do Serviço Social. Deve abordar as múltiplas expressões da questão social no capitalismo, traduzidas em demandas concretas, como sendo objetos de intervenção do/a assistente social, mediada pelas políticas sociais e voltada para a garantia dos direitos. Entendimento da relação entre as dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico- operativa no trabalho profissional da/do assistente social. Deve abordar a referida relação tendo por base a finalidade (dimensão teleológica) da intervenção profissional sobre as expressões da questão social, que requer a articulação indissociável entre os aspectos abaixo relacionados: dimensão teórico-metodológica – o conjunto de conhecimentos que embasam a interpretação e a intervenção do/a assistente social sobre a realidade; dimensão ético-política – os valores e princípios que conferem uma direção social e política à intervenção do/a assistente social sobre a realidade e; dimensão técnico-operativa – o arsenal de instrumentos, estratégias e meios acionados pelo/a assistente social na intervenção sobre a realidade. Disponível em <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/padrao_resposta/2016/ servico_social_prp_ok.pdf>. Acesso em 17 ago. 2018. 3. Indicação bibliográfica CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Assistência Social. Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais. Brasília: CFESS, 2011. Questão 3 A partir da análise da relação Estado / sociedade civil em Gramsci, pode-se afirmar que o controle social [...] é contraditório. CORREIA, M. V. C. Controle Social na Saúde. In: MOTA, A. E. et al. (Orgs.). Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, v. 1, p. 111- 138, 2006. A partir do fragmento do texto apresentado, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I. O controle social pode ocorrer via políticas públicas e, na perspectiva das classes subalternas, envolve sua capacidade de interferir na gestão pública, mediante disputa pela construção da hegemonia. PORQUE II. Segundo a perspectiva gramsciana, o controle social é balizado por uma correlação de forças contraditórias e exercido, de um lado, pelo Estado e, por outro lado, pela sociedade civil. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. A. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. B. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II não é uma justificativa correta da I. C. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. E. As asserções I e II são proposições falsas. 1. Introdução teórica 1.1. Conceito de controle social O conceito de controle social, em teoria política, depende das concepções que se adotam a respeito do Estado e da sociedade civil. De forma genérica, Bobbio et al (1998) definem controle social como o conjunto de meios de intervenção, quer positivos quer negativos, acionados por cada sociedade ou grupo social a fim de induzir os próprios membros a se conformarem às normas que a caracterizam, de impedir e desestimular os comportamentos contrários às mencionadas normas, de restabelecer condições de conformação, também em relação a uma mudança do sistema normativo. 1.2. Relação entre Estado e sociedade civil para Gramsci e o controle social Antonio Gramsci foi um dos mais importantes pensadores marxistas do século XX. Sua obra Cadernos do cárcere foi produzida enquanto esteve na prisão do regime fascista. No seu pensamento, o conceito de hegemonia tem importância central nas relações sociais de dominação. O filósofo modifica a concepção marxista ao propor que a relação entre estrutura e superestrutura não se dá com a determinação da primeira sobre a segunda. De acordo com sua perspectiva, deve-se apontar a centralidade das superestruturas na análise das sociedades. Para Gramsci, a hegemonia consiste na construção de legitimidade dos dominadores por meio de valores culturais. Em outras palavras, a dominação não ocorre apenas pela coerção ou pelo poder econômico, mas também pela ideologia. Assim, é por meio da hegemonia que a sociedade entende como seus os interesses que são, de fato, da classe social dominante. De acordo com Gramsci, não existe distinção entre Estado e sociedade civil, que formam uma unidade orgânica. Para o autor, o Estado abrange a sociedade política e a sociedade civil, a fim de manter a hegemonia de determinada classe sobre outra. Assim, o Estado congrega a sociedade política e a civil e incorpora as demandas das classes subalternas para a manutenção de sua hegemonia (CORREA, 2006). A partir do referencial teórico de Gramsci, pode-se afirmar que o controle social não é do Estado ou da sociedade civil, mas das classes sociais, e, por isso, é contraditório, pois pode ser tanto de uma classe quanto de outra, visto que a sociedade civil é um espaço de luta entre as classes pelo poder (CORREA, 2006). Considerando as concepções de Gramsci de que não existe uma oposição entre Estado e sociedade civil, mas uma relação orgânica, o controle social acontece em meio à disputa entre classes pela hegemonia na sociedade civil e no Estado. Assim, o controle social é contraditório, pois está balizado na referida correlação de forças, que ora é de uma classe, ora é de outra (CORREA, 2006). Nessaconcepção, Correa (2006) afirma que o controle social pode acontecer via políticas públicas. Dessa forma, na perspectiva das classes subalternas, o controle social visa à atuação de setores organizados na sociedade civil que as representam na gestão das políticas públicas, para que atendam às suas demandas e aos seus interesses. Nesse sentido, o controle social envolve a capacidade que as classes subalternas, em luta na sociedade civil, têm de interferir na gestão pública, orientando as ações do Estado e os gastos estatais na direção dos seus interesses, tendo em vista a construção de sua hegemonia (CORREA, 2006). Correia (2006) conclui que o controle social das classes subalternas sobre as ações do Estado e sobre o destino dos recursos públicos é um desafio para a realidade brasileira. 2. Análise das asserções I – Asserção correta. JUSTIFICATIVA. O controle social pode ocorrer via políticas públicas e envolve a capacidade das classes subalternas de construírem sua hegemonia e interferirem nas ações do Estado na direção dos seus interesses. II – Asserção incorreta. JUSTIFICATIVA. De acordo com as concepções de Gramsci, não existe uma oposição entre Estado e sociedade civil, mas uma relação orgânica entre ambas. Alternativa correta: C. 3. Indicações bibliográficas BOBBIO, N.; MATTEUCCi, N.; PASQUINO, G. Dicionário de Política. Brasília: UnB, 1998. CORREIA, M. V. C. Controle Social na Saúde. In: MOTA, A. E. et al. (Orgs.). Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006, v. 1. Questões 4 e 5 Texto para as questões 4 e 5. A formação histórico-social do Brasil revela posição periférica em relação ao desenvolvimento dos países de economia central, o que lhe atribui patamar desigual e, ao mesmo tempo, combinado das forças produtivas, porque o arcaico e o moderno convivem numa aliança de dominação burguesa para a (super) exploração e apropriação da riqueza socialmente produzida pela classe trabalhadora. FERNANDES, F. A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 5. ed. São Paulo: Globo, 2006 (com adaptações). Questão 4.4 Considerando o texto acima, uma das particularidades do capitalismo brasileiro consiste A. na adesão ao modelo universal da democracia tipicamente burguesa. B. na transição do modelo urbano-industrial para o chamado agronegócio. C. na adoção do capitalismo como principal resultado dos movimentos populares. D. na dissociação entre o desenvolvimento capitalista e a adoção do regime democrático. E. no caráter revolucionário da burguesia brasileira em relação a outros países europeus. Questão 5.5 De acordo com a linha de pensamento social brasileiro exposta no texto, assinale a alternativa correta. A. A modernização das estruturas arcaicas não interfere no desenvolvimento brasileiro frente à mundialização da economia. B. No âmbito do desenvolvimento desigual e combinado, a classe trabalhadora sustenta-se por relações de estabilidade e valorização crescente de sua força de trabalho. C. O desenvolvimento histórico característico dos países latino-americanos é uma fase constitutiva do padrão de desenvolvimento contemporâneo dos países centrais. D. A colonização e a dependência externa são características que marcaram a história do Brasil até os anos 1960, quando então, o país rompeu com o ciclo de exploração característico das velhas classes dominantes. E. No Brasil, o desenvolvimento desigual e combinado é um dos fatores da concentração de riqueza no país, por isso sua manutenção é funcional às classes dominantes, historicamente conservadoras e autocráticas. 1. Introdução teórica A revolução burguesa no Brasil e os princípios democráticos Florestan Fernandes foi um dos mais importantes sociólogos e intelectuais brasileiros. Sua obra A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica é considerada fundamental para a compreensão da nossa sociedade. Nesse livro, escrito nos primeiros anos da ditadura militar e publicado em 1974, com o acréscimo de uma terceira parte, o sociólogo aponta que, no Brasil, a revolução burguesa – entendida como o conjunto de transformações políticas, econômicas, sociais e culturais que consolidam o poder burguês – não seguiu os modelos das ocorridas na Europa. Nos países centrais, a consolidação do capitalismo exigiu a superação da ordem social anterior e a valorização dos ideais burgueses da democracia e da liberdade. No nosso país, a mudança no modo de produção continuou acompanhada de alguns padrões de dominação da “era senhorial”, também chamada pelo autor de “antigo regime”. Assim, neste país, a transição para a “era burguesa”, ou para a sociedade de classes, apresentou particularidades que devem ser observadas na compreensão da nossa formação socioeconômica e política. Para Florestan Fernandes (2006), a oligarquia, no contexto da instalação da República, não perdeu seu poder; ao contrário, ela “encontrou condições ideais para enfrentar a transição, modernizando-se, onde isso fosse inevitável, e irradiando-se pelo desdobramento das oportunidades novas, onde isso fosse possível”. Segundo o autor, nossas elites mantiveram o poder e a mentalidade autocrática, sem a aceitação, de fato, dos princípios democráticos. Dessa forma, velho e novo fundiram-se na consolidação capitalista, e a aristocracia rural ampliou seu poder político, tornando-se também um agente da expansão burguesa. A burguesia brasileira, diferentemente do que ocorreu nos países europeus, manteve múltiplas polarizações com as estruturas políticas sociais e econômicas já existentes. De acordo com Sereza (2014), Florestan Fernandes, nessa obra, mostra que a ascensão burguesa e da lógica capitalista nas relações sociais, de trabalho e de produção, o que politicamente resultou na abolição da escravatura e na Proclamação da República, não foi acompanhada por uma ruptura com os meios de dominação patriarcal. Segundo Florestan Fernandes, no Brasil, a introdução do trabalho assalariado e da nova ordem econômica não permitiram a consolidação plena das potencialidades da racionalidade burguesa, pois não eliminaram as relações anteriores. A sociedade híbrida, formada pela coexistência do novo e do arcaico, modelou-se no que o autor chama de “capitalismo dependente”. Desse modo, a revolução burguesa no Brasil conduziu o país a transformações econômicas, mas isso não implicou a revolução democrática. Sem romper com o passado, o país manteve o modelo autocrático, de democracia restrita, que marca a nossa história. Além disso, a burguesia local associou-se aos interesses da burguesia internacional, mantendo a submissão da economia nacional às necessidades externas. Esse modelo também perpetuou as desigualdades, pois não promoveu a ascensão social, tampouco visou a melhorar as condições de vida das classes menos privilegiadas. A ocorrência simultânea de aspectos modernos e arcaicos no processo de desenvolvimento brasileiro caracteriza “o desenvolvimento desigual e combinado”. Nas palavras de Oliveira e Vasquez (2010), de acordo com o Florestan, desse modo, a Revolução Burguesa no Brasil apresenta um alto grau de singularidade, pois a despeito de envolver agentes modernizadores, o seu raio de ação se limita a certas esferas da vida social, mostrando-se incapaz de contemplar o conjunto da sociedade. Embora acompanhe e ocorra em compasso com a formação da sociedade de classes, ela acaba eliminando os componentes políticos e socioculturais observados no modelo original, cuja resultante consistiu na feição autocrática e autoritária da dominação burguesa no Brasil, que concorreu para distanciá-la ainda mais de sua congênere europeia. 2. Análisedas alternativas Questão 4. A – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. O Brasil nunca adotou os moldes tradicionais da democracia burguesa. O capitalismo aqui apresentou características próprias, como o conservadorismo e a manutenção dos padrões da sociedade patriarcal. B – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. Não havia um modelo urbano industrial no final do século XIX, quando ocorrem as transformações de ordem política e econômica. C – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. O capitalismo brasileiro não se consolidou devido às pressões populares. D – Alternativa correta. JUSTIFICATIVA. De acordo com Florestan Fernandes, as elites brasileiras mantiveram a mentalidade autocrática, ou seja, nunca foram adeptas dos princípios democráticos da burguesia europeia. E – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. A burguesia brasileira não apresentou desejo revolucionário de transformação. Ao contrário, observou-se aqui a manutenção de estruturas arcaicas. Questão 5. A – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. A coexistência das estruturas arcaicas com aspectos modernizantes imprimiu singularidade ao processo brasileiro. B – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. O desenvolvimento desigual e combinado caracteriza-se pela presença do arcaico e do moderno. No Brasil, a classe trabalhadora, historicamente, não tem sua força de trabalho valorizada. C – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. O capitalismo dependente não se constitui uma etapa para se atingir o desenvolvimento dos países centrais. D – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. O Brasil não rompeu com as exportações, tampouco superou a dependência externa na década de 1960. O ímpeto modernizante observado nos meados do século XX, especialmente no governo de Juscelino Kubistchek, não alterou significativamente as estruturas sociais. E – Alternativa correta. JUSTIFICATIVA. O desenvolvimento econômico no Brasil manteve as desigualdades sociais e a concentração de renda nas mãos de poucos. A revolução burguesa não rompeu com o poder das classes dominantes da era senhorial. Dessa forma, prevaleceu a mentalidade conservadora e autoritária, apesar dos aspetos modernizantes na produção econômica. 3. Indicações bibliográficas FERNANDES, F. A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 5. ed. São Paulo: Globo, 2006. OLIVEIRA, G. C; VASQUEZ, D.A. Florestan Fernandes e o capitalismo dependente: elementos para a interpretação do Brasil. Rio de Janeiro: Revista Oikos, v. 9, n. 1, 2010. Disponível em <http://www.revistaoikos.org>. Acesso em 10 ago. 2018. SEREZA, H. C. Florestan Fernandes. IN PERICÁS, L. B.; SECCO, L. (orgs). Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados. São Paulo: Boitempo, 2014. Questão 6 As políticas de ajuste neoliberal foram implementadas, no Brasil, a partir da entrada dos anos 1990 e implicaram o acirramento das desigualdades sociais, a desregulamentação dos direitos sociais e trabalhistas e o agravamento da questão social. Para garantir a instabilidade política dos países periféricos, uma das estratégias utilizadas foi a recomendação de desenvolvimento de políticas sociais focalizadas. DURIGUETTO, M. L. Ofensiva capitalista, despolitização e politização dos conflitos de classe. Revista Temporalis, Rio de Janeiro, ano I, n. 1, 2000 (com adaptações). No que se refere ao desenvolvimento de políticas sociais focalizadas na perspectiva neoliberal, avalie as afirmativas a seguir. I. As políticas sociais focalizadas são consideradas as mais eficientes e adequadas para a concepção da política econômica neoliberal por terem como alvo as famílias e os indivíduos mais pobres. II. A focalização de políticas sociais é uma forma ideológica pela qual o sistema capitalista vem desenvolvendo estratégias importantes na busca da universalização de direitos sociais no campo da previdência social. III. A focalização de políticas sociais divide os trabalhadores em diferentes categorias (miseráveis, pobres) e estimula a disputa no âmbito interno da classe trabalhadora para a entrada nos programas de transferência de renda. IV. As políticas sociais focalizadas transformam o cidadão portador de direitos em cidadãos carentes, pobres e tutelados, por meio da transferência direta de renda cujos critérios de elegibilidade de seus beneficiários baseiam-se na carência. É correto apenas o que se afirma em A. I e IV. B. II e III. C. II e IV. D. I, II e III. E. I, III e IV. 1. Introdução teórica 1.1. O neoliberalismo Entende-se o neoliberalismo como o conjunto de ideias políticas e econômicas que se desenvolveram no final do século XX, na fase do capitalismo globalizado. Como o nome indica, trata-se da retomada de valores do liberalismo clássico, como a defesa do Estado mínimo e do livre mercado. Sob essa perspectiva, a participação do setor privado na economia deve ser incentivada, e os gastos públicos devem ser reduzidos. Dessa forma, os princípios neoliberais opõem-se às práticas do Welfare State e das ações sociais garantidoras de itens básicos aos cidadãos, como saúde e educação. Assim, no que diz respeito às políticas sociais, as propostas neoliberais pregam diminuição dos gastos sociais e redefinição das políticas públicas com redução dos direitos sociais. Sob a lógica focalista, descentralizada e privatista, o neoliberalismo defende o enxugamento do Estado na esfera das políticas sociais e a transferência de suas responsabilidades à sociedade (FECHINE, ROCHA e CUNHA, 2014). 1.2. Políticas sociais focalizadas e universalistas Políticas sociais referem-se ao padrão de proteção social implementado pelo Estado, direcionadas para a redistribuição dos benefícios sociais, objetivando a redução das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico (ALMEIDA, 2011). Trata-se de um mecanismo utilizado pelo Estado para intervir no controle das contradições da relação capital-trabalho, com a intenção de assegurar condições mínimas de vida e de trabalho aos pobres e, consequentemente, promover a redução das desigualdades sociais (NASCIMENTO et al, 2013). No Brasil, existe crescente discussão acerca da polarização das políticas sociais em dois estilos: a focalizada e a universal (KERSTENETZKY, 2006). Enquanto as políticas universalistas direcionam os recursos públicos a todos os cidadãos, as focalizadas redirecionam esses recursos para a população mais pobre, por meio de instrumentos que os selecionem como beneficiários (ALMEIDA, 2011). As políticas sociais universais remetem à seguridade social e à educação e à saúde universais. Já as políticas focalizadas estão relacionadas à alocação redistributiva de recursos de geração de oportunidades sociais e econômicas para grupos sociais em relativa desvantagem (KERSTENETZKY, 2006). No Brasil, existe uma contradição imposta pela legislação constitucional, de cunho universalizante, e a adoção de políticas públicas sociais focalizadas, cujos princípios são influenciados por órgãos externos e orientados pela concepção neoliberal (ALMEIDA, 2011). Kerstenetzky (2006) indica que as políticas sociais focalizadas têm como objetivo principal atender aos excluídos dos processos econômicos. Para Barco (2010), esses objetivos são a redução do gasto social, a eficiente gestão dos recursos do Estado e a criação de uma rede de segurança social mínima para controlar a governabilidade do sistema, cujos destinatários são as pessoas e/ou os setores classificados como pobres estruturais. As ideias concebidas pela política social focalizada vêm sendo criticadas no cenário nacional. Segundo Theodoro e Delgado (2003), a defesa de programas de transferência de rendapara os mais pobres como pilar central da política social nacional decorre da ideia de que a população-alvo dessa política subsiste em situação de extrema pobreza, sendo incapaz de suprir suas necessidades mínimas via inserção no mercado de trabalho. Para os autores, se apenas as pessoas mais pobres têm direito às políticas sociais, então a perpetuação da pobreza torna-se um pressuposto lógico, visto que somente a existência perene desse grupo como norma justifica a ação do Estado nesse âmbito. Assim, a política social de focalização consolidaria e engessaria a desigualdade social no país, o que significa o abandono do projeto efetivo de combate à pobreza e de construção de um sistema amplo de proteção social. Trata-se, portanto, da identificação da existência de privilégios de uma minoria protegida, que teria acesso a bens e/ou a serviços públicos que não estariam disponíveis para o conjunto da sociedade (THEODORO e DELGADO, 2003). Os autores acrescentam que a escolha dos grupos mais pobres em detrimento de outros menos pobres pode encobrir uma perversa troca de posições entre segmentos sociais menos protegidos. Assim, destituir de direitos os entendidos como “quase pobres” pode torná-los ainda mais pobres. Para os autores, essa escolha entre pobres e menos pobres é algo bastante perverso (THEODORO E DELGADO, 2003). Almeida (2011) acrescenta que as políticas sociais focalizadas no modelo neoliberal permitem melhor nível de eficiência e eficácia na distribuição de recursos. No entanto, tais políticas podem se tornar políticas de exclusão social, visto que muitas famílias que vivem em situação de severa precariedade poderiam não se adequar aos critérios propostos, cujo público-alvo são os muito pobres e os miseráveis. Ademais, há a necessidade da mobilização de recursos para mapear a população-alvo e para evitar que os recursos sejam destinados aos “não pobres”. Para Theodoro e Delgado (2003), o papel da política social não deve ser exclusivamente a efetiva redução da pobreza. Trata-se de uma tarefa mais ampla, que deve extrapolar os limites da política social, perpassando uma nova concertação social e envolvendo um novo projeto de país, uma nova e mais progressiva estrutura tributária, uma verdadeira reforma agrária e um novo pacto previdenciário. Nesse contexto, a política social torna-se um importante elemento da estratégia de redistribuição da riqueza em prol de uma sociedade mais justa e equânime. É importante mencionar que a Assistência Social como política de proteção social deve atuar de modo intersetorial com as demais políticas para garantir a inclusão nos serviços básicos e para promover ações e serviços que garantam a efetividade dos direitos para os cidadãos em situação de risco social e vulnerabilidade (COSTA, 2006). A expansão da política de assistência social demanda, cada vez mais, a inserção de assistentes sociais comprometidos/as com a consolidação do Estado democrático de direitos, com a universalização da seguridade social e das políticas públicas e, ainda, com o fortalecimento dos espaços de controle social democrático. Isso requer o fortalecimento de uma atuação profissional autônoma, crítica, ética e politicamente comprometida com a classe trabalhadora e com as organizações populares de defesa de direitos (CFESS, 2011). Nesse sentido, considera-se importante a análise crítica do profissional do Serviço Social acerca das políticas sociais adotadas no Brasil para que possa exercer sua profissão com vistas à defesa dos direitos humanos. 2. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. As políticas sociais focalizadas no contexto neoliberal permitem melhor nível de eficiência e eficácia na distribuição de recursos, tendo como alvo as famílias e os indivíduos mais pobres. II – Afirmativa incorreta. JUSTIFICATIVA. As políticas sociais focalizadas estão direcionadas às famílias e aos indivíduos mais pobres e contrapõem-se às políticas universais de direitos sociais, que direcionam os recursos públicos a todos os cidadãos (universalização). III – Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. A política social de focalização consolida a desigualdade social no país, o que divide a população em diferentes categorias e oferece privilégios a uma minoria protegida (muito pobres e miseráveis), que teria acesso a bens e/ou serviços públicos que não estariam disponíveis para o conjunto da sociedade (pobres e não pobres). Isso pode ser entendido como uma forma de exclusão social e culminar na disputa da população por esse privilégio. IV – Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. As políticas focalizadas redirecionam os recursos públicos para a população mais pobre por meio de instrumentos que os selecionem como beneficiários, classificando-os em carentes, pobres e tutelados. Alternativa correta: E. 3. Indicações bibliográficas ALMEIDA, L. C. Políticas sociais: focalizadas ou universalistas. É esta a questão? Revista Espaço Acadêmico, n. 123; 2011, ano XI. BARCO, S. N. Políticas focalizadas. In: OLIVEIRA, D. A.; DUARTE, A. M. C.; VIEIRA, L. M. F. DICIONÁRIO: trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2010. CDROM. BEHRING, E. R. Brasil em contra-reforma: desestruturação do Estado e perda de direitos. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2008. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Assistência Social. Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais. Brasília: CFESS, 2011. COSTA, L. C. Questão Social e Políticas Sociais em Debate. Sociedade em Debate, 2006; 12(2): 61-76. FECHINE, A. K. F; ROCHA, M. M. S.; CUNHA, T. H. O neoliberalismo e a formatação das políticas sociais: desafios contemporâneos. Socializando. Ano 1, nº2, dez,2014. KERSTENETZKY, C. L. Políticas Sociais: focalização ou universalização? Revista de Economia Política, 2006; 26(4 -104): 564-574. NASCIMENTO, A. L.; PEREIRA, A.; BARRETO, C. LIMA, F. A.; CAMPOS, J.; LEITE, M. J. Políticas sociais e assistência social. Cadernos de Graduação - Ciências Humanas e Sociais, 2013; 1(16): 165-174. SILVA, F. R. B. G.; LIMA, A. J. LIMA. Desenvolvimento e políticas sociais focalizadas: da concepção de estado à concepção de mercado. Holos, 2017; 33(01): 361-373. THEODORO, M.; DELGADO, G. Política social: universalização ou focalização: subsídios para o debate. IPEA. Políticas sociais − acompanhamento e análise, 2003 (7): 122-126. Questão 7 Segundo dados do IBGE, a desigualdade de rendimento entre homens e mulheres no caso brasileiro é resultado, em grande medida, de uma inserção, no mercado de trabalho, diferenciada por sexo, com uma maior presença feminina em ocupações precárias, de baixa qualificação, pouco formalizadas e predominantemente no setor de serviços como, por exemplo, o trabalho doméstico. Além da desigualdade de gênero, verificam-se ainda discriminações associadas à raça. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Informação Demográfica e Socioeconômica número 33. Disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em 09 jul. 2016 (com adaptações). Incorporar as dimensões de gênero e raça à análise do mercado de trabalho implica assumir que a posição das mulheres e dos negros é desigual em relação aos homens e aos brancos e que questões como emprego e desemprego, trabalho precário e remuneração, entre outras, manifestam-se e são vividas de forma desigual entre esses trabalhadores e trabalhadoras. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Igualdade de gênero e raça no trabalho: avanços e desafios. Brasília, 2010. Disponível em<http://www.oitbrasil.org.br>. Acessoem 09 jul. 2016 (com adaptações). Considerando a relação entre patriarcado, racismo e capitalismo, na perspectiva da sociedade brasileira, e os princípios fundamentais do Código de Ética das/dos Assistentes Sociais (1993), avalie as afirmativas a seguir. I. A relação capital/trabalho, como manifestação histórica concreta, mostra-se neutra em relação ao gênero/sexo e à raça. II. A formação do capitalismo no Brasil induziu a sociedade brasileira à superação do patriarcado e do racismo. III. Nas sociedades capitalistas, a preservação das relações desiguais de gênero e raça no mundo do trabalho constitui mecanismo orgânico-estrutural da dominação multifacetada do capital. IV. A exploração, a dominação e a opressão de gênero/sexo e raça expressam-se como relações desiguais, hierarquizadas e contraditórias, sustentadas historicamente na divisão sexual e étnico-racial do trabalho. V. A mulher brasileira contemporânea é uma trabalhadora assalariada, insere-se em novos espaços de trabalho profissional, compartilha o sustento da família e, além disso, permanece como a principal responsável pelas atividades domésticas. É correto apenas o que se afirma em A. I, II e III. B. I, II e IV. C. I, IV e V. D. II, III e V. E. III, IV e V. 1. Introdução teórica Relações de gênero e de etnia na sociedade capitalista Gênero é uma construção histórico-cultural que caracteriza os papéis e os comportamentos atribuídos a um indivíduo na sociedade em função de seu sexo. De modo geral, atribuem-se às mulheres as qualidades passivas, como a paciência, a fragilidade e a emoção, enquanto os homens são caracterizados pelas qualidades ativas, como a agressividade, a força e o dinamismo. Essas atribuições não são naturais e aleatórias: são socialmente construídas. Nota-se que a construção do que é ser mulher ou do que é ser homem na sociedade está relacionada ao sistema patriarcal, caracterizado pela dominação masculina. Nesse modelo, o homem organiza e dirige, majoritariamente, a vida social (SANTOS e OLIVEIRA, 2010). Desse modo, a dimensão de gênero remete à construção histórica das relações desiguais de poder entre o homem (dominador) e a mulher (submissa). Para Pierre Bourdieu (2002), a dominação masculina estabelece-se na sociedade porque há interiorização da dominação e as diferenças são naturalizadas de tal modo que não são percebidas como construção. Segundo ele, como estamos incluídos, como homem ou mulher, no próprio objeto que nos esforçamos por apreender, incorporamos, sob a forma de esquemas inconscientes de percepção e de apreciação, as estruturas históricas da ordem masculina; arriscamo-nos, pois, a recorrer, para pensar a dominação masculina, a modos de pensamento que são eles próprios produto da dominação. As relações desiguais de gênero, fundamentadas no patriarcado, estão presentes em todos os contextos da sociedade, como na cultura, na política e na economia. Nessa perspectiva, essas relações também estão presentes no capitalismo, que tem na divisão social do trabalho o núcleo motor das desigualdades (OLIVEIRA, 2011). Com o advento da industrialização, houve a separação entre o local de produção/trabalho e o domicílio, entendido como local de reprodução da vida. Ao separar esses mundos, o capitalismo passou a valorizar moralmente o universo da produção e a desvalorizar ideologicamente a reprodução, dividindo a classe trabalhadora entre homens e mulheres; competem à mulher as atividades relacionadas ao ambiente domiciliar (privado) e, aos homens, as atividades relacionadas à esfera pública, economicamente dominante (provedor da família), conforme Souza, 2015. Desse modo, o capitalismo apoiou-se na hierarquia patriarcal, em que as funções de reprodução social (vida privada) se tornaram exclusividade das mulheres, ao mesmo tempo em que as tarefas da produção da vida (vida pública) se tornaram masculinas. Em função da simbiose capital-patriarcado, as mulheres foram expulsas do mercado de trabalho no início do século XIX e tornaram-se dependentes dos homens (SOUZA, 2015). Ilustra-se, assim, como o capitalismo articulou a exploração do trabalho com a dominação ideológica e se apropriou da lógica e dos valores do sistema patriarcal (SANTOS e OLIVEIRA, 2010). Contudo, no final do século XIX e no começo do século XX, as novas exigências do mercado de trabalho e a busca pelo lucro reduziram o valor salarial dos trabalhadores, tornando-o insuficiente para a sustentação da família. Consequentemente, a inserção das mulheres no mercado de trabalho foi imprescindível para garantir a sobrevivência da família e, desse modo, a força de trabalho das mulheres passou a ser exigida pelo capitalismo. No entanto, as mulheres que começaram a trabalhar fora do ambiente domiciliar acabaram recebendo salários inferiores aos salários dos homens (SOUZA, 2015). Como consequência, o capitalismo fomentou uma nova realidade social para as mulheres, representando, nas divisões sociais do trabalho, as relações desiguais de gênero, o que propiciou o surgimento de reivindicações e lutas pela sua emancipação (SOUZA, 2015). Ganharam fôlego, assim, os movimentos feministas para o enfrentamento às desigualdades de gênero, garantindo os direitos das mulheres e o respeito à sua cidadania. Nos dias atuais, a mulher desempenha diferentes papéis na sociedade, inserindo-se em novos espaços de trabalho profissional e compartilhando a responsabilidade pelo sustento da família. Além disso, a mulher assume, em um contexto geral, a responsabilidade pelas atividades domésticas, como esposa, mãe e dona de casa. Ao considerar a construção social dos gêneros como imbricada em um processo mais complexo, que compreende as diferentes dimensões de como a sociedade está estruturada e de como se altera a composição e a dinâmica da luta de classes, Santos e Oliveira (2010) a articulam com outras esferas, como a raça, a orientação sexual e a classe, que também se caracterizam pelas situações de subordinação e de opressão. Para as autoras, as dimensões da diversidade de gênero, raça, orientação sexual e outras estão relacionadas porque se inserem em um contexto de desigualdade, determinado pelas relações sociais historicamente construídas de opressão e de violação de direitos. Estudiosos de abordagem culturológica, que analisam a construção das identidades culturais na contemporaneidade, apontam que as desigualdades se somam na opressão. Assim, uma mulher negra homossexual sofre discriminações pela etnia, pelo gênero e pela orientação sexual. Ela tende a sofrer mais preconceito do que uma mulher branca heterossexual, por exemplo. Desse modo, a busca pela igualdade de gênero vai além da equidade entre o masculino e o feminino, envolvendo também a equidade na vida social, na qual mulheres e homens de diferentes raças/etnias, orientação sexual e identidade de gênero possam vivenciar sua diversidade sem opressão. 2. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. JUSTIFICATIVA. A relação capital/trabalho está fundamentada nas desigualdades entre o gênero masculino e feminino, como também nas questões raciais. II – Afirmativa incorreta. JUSTIFICATIVA. O capitalismo no Brasil apoiou-se na hierarquia patriarcal. Ademais, o patriarcado e o racismo não foram integralmente superados. III – Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. O capitalismo articula a exploração do trabalho e a dominação ideológica e apropria-se da lógica e dos valores do sistema patriarcal, caracterizado pela dominação masculina. Desse modo, representa a dominação multifacetada do capital na sociedade. IV – Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. As diversidades de gênero, raça e orientação sexual inserem-se emum contexto de desigualdade, determinado pelas relações sociais historicamente construídas de opressão e de violação de direitos, o que se articula com o capitalismo, que representa a força de trabalho. V – Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. Nos dias atuais, a mulher desempenha diferentes papéis na sociedade, inserindo-se no mercado de trabalho e assumindo a responsabilidade de sustento da família e de execução de atividades domésticas, como esposa, dona de casa e mãe. Alternativa correta: E. 3. Indicações bibliográficas BOURDIEU, P. A dominação masculina. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. OLIVEIRA, L. S. Relações sociais de gênero no capitalismo contemporâneo. V jornada Internacional de Políticas Públicas. São Luís: Campus Universitário de Macanga, 2011. SANTOS, S. M. M.; OLIVEIRA, L. Igualdade nas relações de gênero na sociedade do capital: limites, contradições e avanços. Rev. Katálysis. Florianópolis, 2010; 13(1): 11-19. SOUZA, T. M. S. Patriarcado e capitalismo: uma relação simbiótica. Temporalis, 2015; 15(30): 475-494. Disponível em <http://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/ 10969>. Acesso em 20 jul. 2018. Questão 8 A sociedade brasileira convive atualmente com uma situação polarizada no que se refere aos direitos humanos da população de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis (LGBTT). Se, por um lado, conquistamos direitos historicamente reprimidos e aprofundamos o debate público sobre a existência de outras formas de ser e se relacionar, por outro, acompanhamos o contínuo quadro de violência e discriminação que a população LGBTT vive cotidianamente. BRASIL. Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Relatório de Violência Homofóbica no Brasil: ano 2013. Brasília, 2016 (com adaptações). Com base nesse contexto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I. No conjunto das demandas sociais com as quais a/o assistente social lida cotidianamente, entre as quais se insere a violência contra a população LGBTT, esse profissional é desafiado/a a descortinar a trama do imediato e a reconstruir conexões explicativas a partir da relação entre universalidade, particularidade e singularidade. PORQUE II. A violência é objetivada sob determinadas condições sócio-históricas que não permitem seu isolamento em si mesma, sendo necessária sua análise como manifestação emanada da estrutura orgânica da sociedade de classes. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. A. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. B. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II não é uma justificativa correta da I. C. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. E. As asserções I e II são proposições falsas. 1. Introdução teórica Violência contra a população de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis A homofobia é entendida como preconceito ou discriminação e demais atos de violência contra indivíduos em função de sua orientação sexual e/ou de sua identidade de gênero. Ela está presente na sociedade brasileira e atinge qualquer pessoa cuja identidade de gênero seja percebida como diferente da heterossexual (BRASIL, 2016). Atualmente, o Brasil vivencia um movimento contraditório em relação aos direitos humanos da população de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis (LGBT ou LGBTT). Se, por um lado, o país conquistou direitos historicamente defendidos e aprofundou o debate público sobre a existência de outras formas de ser e de se relacionar, por outro, acompanha um quadro contínuo de violência e de discriminação vivenciado rotineiramente por essa população (BRASIL, 2016). Dados obtidos pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), que coleta informações estatísticas sobre os assassinatos de homossexuais e transgêneros no país há 38 anos, revelam que a cada 19 horas um LGBT morre vítima da violência contra essa população, o que faz do Brasil o campeão mundial desse tipo de crime. O que mais preocupa o Grupo é que tais mortes cresceram exponencialmente nos últimos anos, passando de 130 homicídios em 2000 para 445 em 2017 (GGB, 2017). Nesse contexto, estudo recente mostrou que a atuação do Serviço Social contribuiu no processo de empoderamento dos/das militantes e usuários/as LGBT na luta pela garantia de direitos e no combate ao preconceito e à discriminação. A ação desses profissionais foi considerada uma ferramenta fundamental para o fortalecimento dos indivíduos e para a promoção de mudanças sociais (MENEZES e SILVA, 2017). Os profissionais do Serviço Social são importantes por intervir na realidade desses sujeitos compreendendo suas ações, com vistas à efetivação do projeto de emancipação humana. Para isso, é necessário analisar o sujeito como um todo, considerando as dimensões econômicas, políticas e culturais envolvidas, e desconstruir todas as formas de exploração e opressão (MENEZES e SILVA, 2017). Para as autoras, é preciso entender que o profissional do Serviço Social está capacitado para atuar com o público LGBT, pois apresenta um arsenal de competências teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas capaz de oferecer atendimento e acompanhamento adequados a esse público. Ademais, também é capaz de trabalhar com outros atores sociais que envolvem a população LGBT, como sua família e sua comunidade e, ainda, com a sociedade em geral, uma vez que a homofobia perpassa por todos esses sujeitos. O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) destaca que o Código de Ética do Assistente Social preconiza que os profissionais devem atuar sem discriminar as pessoas em função de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física. Esse é um dos princípios que balizam o trabalho dos assistentes sociais no Brasil na defesa dos direitos humanos (CFESS, 2018). Além disso, o projeto ético-político do Serviço Social vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de classe, etnia e gênero (CFESS, 2018). Para garantir os direitos sociais da população LGBT, é necessário que o profissional do Serviço Social compreenda que uma sociedade radicalmente democrática e livre não será construída sem que as pessoas possam expressar sua diversidade, inclusive de orientação sexual e de identidade de gênero (CFESS, 2018). Assim, o/a assistente social exerce um papel fundamental na luta da população LGBT para a construção de uma sociedade verdadeiramente libertária, com igualdade substantiva e emancipação humana, em que os indivíduos sociais possam desenvolver plenamente suas potencialidades, tendo seus direitos respeitados (CFESS, 2018). 2. Análise das asserções I – Asserção verdadeira. JUSTIFICATIVA. A/O assistente social do Brasil trabalha cotidianamente no atendimento à população LGBT e na garantia de serviços e direitos sociais. Nesse contexto, insere-se também a violência contra essa população, uma realidade em que esse profissional deve estar preparado para atuar. Assim, para atender a uma vítima de violência homofóbica, o profissional deve prezar o holismo e a qualidade de sua assistência, considerando a situação atual com suas particularidades, como também o contexto da sociedade em geral. II – Asserção verdadeira. JUSTIFICATIVA. A violência contra a população LGBT é uma expressão de uma sociedade fundamentada no patriarcado e nas desigualdades de gênero que foram historicamente construídas. Para entender essa violência, faz-se necessáriauma análise histórica, cultural, social e econômica da sociedade. Conclui-se que, o profissional do Serviço Social, ao atuar nas situações de violência contra a população LGBT, deve prezar o holismo, considerando a situação atual com suas particularidades, assim como a sociedade como um todo, visto que essa situação foi construída com base em relações sociais, culturais e econômicas. Relação entre as asserções. A asserção II é uma justificativa correta da asserção I. Alternativa correta: A. 3. Indicações bibliográficas BRASIL. Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Relatório de Violência Homofóbica no Brasil: ano 2013. Brasília, 2016. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). [página da internet]. Disponível em <http://www.cfess.org.br/>. Acesso em 24 jul. 2018. GRUPO GAY DA BAHIA (GBB). Mortes violentas de LGBT no Brasil: relatório 2017. Pessoas LGBT mortas no Brasil. Bahia: GBB, 2017. Disponível em <https://homofobiamata.files.wordpress.com/2017/12/relatorio-2081.pdf>. Acesso em 24 jul. 2018. MENEZES, M. S.; SILVA, J. P. Serviço Social e homofobia: a construção de um debate desafiador. R. Katálysis, 2017; 20(1): 122-129. Questão 9 A Lei N° 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, considera adolescente a pessoa entre doze e dezoito anos de idade. Atualmente, várias propostas tramitam na Câmara dos Deputados com o objetivo de reduzir a idade penal do adolescente que comete ato infracional. A discussão sobre a redução da maioridade penal tem mobilizado várias instâncias decisórias, suscitando debates acalorados, porém sem que haja consenso a respeito da redução ou da não redução da idade de responsabilização de adolescentes que cometerem atos infracionais. Esse debate se acalora, sobretudo, a partir de crimes de grande repercussão pública, que motivam diversos setores sociais a influenciar parlamentares para que tomem a iniciativa de sugerir propostas de alteração da Constituição Federal de 1988. É certo que as propostas até então apresentadas se deparam com uma questão constitucional fundamental, as cláusulas pétreas. Disponível em <http://www.sul21.com.br>. Acesso em 31 jul. 2016. Considerando o texto e a imagem apresentados, bem como o Projeto Ético-Político do Serviço Social, assinale a opção correta. A. A aprovação da proposta de redução da maioridade penal inibirá o crescimento da violência e da impunidade. B. A Lei N° 8.069/1990 está desatualizada e, portanto, requer alteração no que se refere à maioridade penal. C. A proposta de redução da maioridade penal constitui um dos dilemas éticos contemporâneos da conjuntura societária e um desafio presente na atividade profissional da/do assistente social. D. A redução da maioridade penal não interferirá na caracterização do adolescente como pessoa em condição peculiar de desenvolvimento. E. A despeito da grande mobilização social gerada pelo debate sobre a redução da maioridade penal, esse assunto não integra as áreas de interesse do Serviço Social. 1. Introdução teórica Redução da maioridade penal e Serviço Social Em função do crescente aumento da criminalidade no Brasil, em que, por vezes, os adolescentes estão envolvidos, a sociedade brasileira procura uma solução para esse problema. Uma das propostas é a redução da maioridade penal, que defende uma forma de combater as diversas violências que assolam a sociedade pela punição dos adolescentes que cometem atos infracionais, com o intuito de promover a segurança pública nacional (MOURA, 2015). Para fundamentar essa estratégia, esteve em trâmite no Congresso Nacional Brasileiro uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Nº 33, de 2012, que propõe a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. A ideia central dessa proposta é a punição do adolescente infrator (MOURA, 2015). Entretanto, essa PEC desconsidera os direitos definidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que foi implementado no Brasil para assegurar a proteção integral a esses indivíduos. De acordo com esse estatuto, a criança (até 12 anos de idade incompletos) e o adolescente (de 12 a 18 anos de idade) gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral, e são asseguradas a eles oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990). Segundo o ECA, os adolescentes que cometerem ato infracional deverão ser submetidos, considerando a gravidade dos fatos, às medidas socioeducativas, que devem estar de acordo com o Artigo 112 dessa mesma legislação (BRASIL, 1990). No entanto, a PEC Nº 33 fragmenta o conceito de proteção integral ao adolescente e torna o aspecto punitivo o balizador da atenção aos adolescentes em conflito com a lei (MOURA, 2015). Desse modo, apesar dos avanços na construção de direitos das crianças e dos adolescentes, a PEC Nº 33 demonstra que o discurso e os olhos da sociedade estão voltados para a culpabilização e a punição do adolescente infrator (CABRAL et al, 2015). Para os autores (2015), o cenário de vulnerabilidades sociais vivido diariamente por diversos adolescentes brasileiros é um aspecto que deve ser inserido como pano de fundo na discussão sobre a redução da maioridade penal. A escassez de oportunidades, oriundas de um sistema desigual, direciona os adolescentes a um contexto de violência e criminalidade. Além disso, a não intervenção do Estado, por meio de políticas públicas e sociais voltadas aos adolescentes que estão inseridos nessa realidade, também contribui para elevar ainda mais o cenário de vulnerabilidades. Cabral et al (2015) acreditam que colocar o adolescente infrator em um sistema penitenciário sem qualquer tipo de acompanhamento corresponde a lançá-lo de vez à criminalidade, além de representar um retrocesso na ampliação da conquista de direitos. Nesse sentido, a redução da maioridade penal vem sendo amplamente discutida no Brasil. Para parte de alguns membros da sociedade, essa redução significa a punição pelas “atrocidades” cometidas pelos adolescentes, enquanto para outros membros, essa estratégia fere a Legislação Brasileira (ECA), além de não implicar a diminuição da violência ou da criminalidade no país (CABRAL et al, 2015). É nesse contexto de reprodução de ideias e de valores socialmente construídos que os(as) assistentes sociais estão inseridos(as). Sabendo que o Serviço Social é uma profissão comprometida com a garantia dos direitos sociais, intervindo, assim, nas múltiplas expressões da questão social vivenciadas pelos diferentes sujeitos em seu cotidiano, essa categoria deve se posicionar diante desse cenário, considerando os princípios ético-políticos que regem a profissão. É importante mencionar que o reconhecimento da liberdade como valor central, a defesa intransigente dos direitos humanos e a ampliação e consolidação da cidadania são princípios do Código de Ética dos profissionais do Serviço Social e devem ser sempre respeitados pela categoria (BRASIL, 2012). Por isso, o Conselho Federal de Serviço Social posiciona-se contra a redução da maioridade penal e defende que é necessário um investimento em políticas públicas para a infância e a juventude e para a implementação do ECA em sua totalidade, além de haver respeito aos direitos conquistados e garantidos pela legislação nacional, a fim de que ocorram mudanças nos aspectos relacionados à violência no Brasil (CFESS, 2018). 2. Análise das alternativas A – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. Além de ferir a Legislação Brasileira (ECA),a redução da maioridade penal pode não implicar a diminuição da violência ou da criminalidade no país. B – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. O ECA foi publicado por meio da Lei N° 8.069, de 1990, para assegurar a proteção integral a crianças e a adolescentes, seguindo os preceitos da Constituição Federal do Brasil. Não se pode considerar essa lei desatualizada com relação a esse aspecto. C – Alternativa correta. JUSTIFICATIVA. A redução da maioridade penal vem sendo amplamente discutida no país, o que inclui a categoria do Serviço Social. Contudo, como o Código de Ética da profissão propõe a defesa intransigente dos direitos humanos, o CFESS defende que as crianças e os adolescentes devem ter seus direitos protegidos e assegurados, o que representa um papel do assistente social. D – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. A percepção de tempo para o adolescente é diferente daquela de um adulto. O adolescente vivencia cada instante com muita intensidade e aprende muito rápido. Desse modo, as consequências das experiências positivas ou negativas terão grandes proporções nessa fase da vida e estarão refletidas por toda a sua vida. Ao reduzir a maioridade penal, o adolescente (que está em fase de transformação) passa a ser punido pelo seu ato como um adulto, e isso poderá acarretar consequências negativas para o seu desenvolvimento por toda a sua vida (MOURA, 2015). E – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. O Serviço Social está inserido no contexto de reprodução de ideias e de valores que são construídos socialmente e, além disso, tem um compromisso ético-político com a sociedade em prol da defesa dos direitos humanos. Desse modo, a categoria está diretamente envolvida na questão da redução da maioridade penal. 3. Indicações bibliográficas ALMEIDA, M. G. B. (Org.). A violência na sociedade contemporânea. [recurso eletrônico]. Dados eletrônicos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010. Disponível em <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/violencia.pdf>. Acesso em 27 jul. 2018. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei Nº. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L8069.htm>. Acesso em 27 jul. 2018. BRASIL. Código de Ética do/a Assistente Social. Lei N° 8.662/93 de regulamentação da profissão. 10ª. ed. rev. e atual. Brasília: Conselho Federal de Serviço Social, 2012. CABRAL, F. C.; CHIARELLO, L. M.; FALCÃO, M. F. G. Redução da maioridade penal: da invisibilidade ao caminho da criminalização. I Congresso Internacional de Política Social e Serviço Social: desafios contemporâneos. Londrina: Universidade Estadual de Londrina; 2015. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Assistente social diz não à redução da maioridade penal. [página da internet]. Disponível em <http://www.cfess.org.br/ visualizar/noticia/cod/1413>. Acesso em 27 jul. 2018. MOURA, I. H. F. S. A percepção das assistentes sociais que atuam junto às medidas socioeducativas em Mossoró-RN sobre a redução da maioridade penal. VII Jornada Internacional de Políticas Públicas. São Luís: Universidade Federal do Maranhão, 2015. Questão 10 A garantia do pluralismo é resultado de um amplo e importante debate ocorrido no âmbito do Serviço Social brasileiro nos anos 1980. Em consonância com os princípios ético-políticos do Serviço Social, a defesa do pluralismo pressupõe A. a compreensão de que o diálogo democrático e a equivalência entre os diversos campos teórico-metodológicos são necessários para o fortalecimento do projeto ético-político. B. a presença do relativismo no debate da ética profissional, assegurado pela participação de vários segmentos profissionais oriundos de correntes teórico-metodológicas diversas durante o processo de constituição do código de ética vigente. C. o entendimento de que nem todas as posições teóricas e político-profissionais se equivalem e o reconhecimento de que o direito à expressão teórica e política garante as condições de debate. D. a conquista da homogeneidade do projeto ético-político junto à categoria profissional, comprometida com os interesses da classe trabalhadora. E. o reconhecimento de que as inúmeras perspectivas teórico-metodológicas presentes historicamente no Serviço Social podem contribuir de forma igualitária na análise dos processos sócio-históricos e sociais. 1. Introdução teórica Pluralismo no Serviço Social O sétimo princípio fundamental do Código de Ética do/a Assistente Social refere-se à garantia do pluralismo, por meio do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas e do compromisso com o constante aprimoramento intelectual (BRASIL, 2012). Citando Coutinho (1991), Forti (2017) refere que o pluralismo no terreno das ciências naturais ou sociais significa a abertura para o diferente, o respeito pela posição alheia, condição indispensável para o desenvolvimento de nosso próprio posicionamento. No processo de produção de conhecimento, Silva (2008) menciona que o pluralismo está na interlocução entre o uno e o múltiplo, entre as multiplicidades e as especificidades, entre o homogêneo e o heterogêneo, entre o real e o sentimental. Pluralismo significa assumir um posicionamento no qual a democracia é entendida como vital. As perspectivas de pluralismo e de democracia estão associadas, pois, somente no campo democrático, é possível o debate entre diferentes correntes: isso significa que, entre os participantes, deve haver o respeito à pluralidade de concepções. O pluralismo abarca a diversidade e também indica que as posições construídas são desiguais, ocorrendo conotações e vinculações divergentes com os processos sociais, o que produz ações e resultados distintos (CRESS-MG, 2018). A compreensão da realidade como síntese de múltiplas determinações, uma concepção recorrente na literatura crítica do Serviço Social, pressupõe captar a diversidade como categoria constitutiva da realidade, em detrimento da tentativa de homogeneizações e/ou hierarquizações ilógicas. O debate de diferentes posicionamentos e saberes é imprescindível para o enriquecimento intelectual, o que requer ultrapassar as ideias reducionistas e os preconceitos. Desse modo, o pluralismo pressupõe a capacidade profissional de não incorrer no relativismo, no ecletismo, na neutralidade e/ou no reducionismo típico das posturas doutrinárias e sectárias (FORTI, 2017). Do mesmo modo, pressupõe-se a competência do profissional para o enfrentamento dos posicionamentos e das requisições socioinstitucionais impertinentes (como as conservadoras que afrontam valores democráticos) que desconsideram a liberdade, os direitos humanos e o pluralismo como uma expressão da vida real (FORTI, 2017). Contudo, na atualidade, o Serviço Social no Brasil depara com a existência do pluralismo tão almejado pela profissão e, ao mesmo tempo, com a persistência do ecletismo como algo que sempre acompanhou o Serviço Social e que ainda encontra espaço na produção teórica e no trabalho profissional (TINTI, 2015). Nesse contexto, é importante lembrar que os profissionais do Serviço Social devem atuar respeitando os princípios do Código de Ética Profissional que incluem a ampliação e a consolidação da cidadania; a defesa da democracia; o posicionamento em favor da equidade e da justiça social; o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito; e a construção de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero (BRASIL, 2012). Dessa forma, o pluralismo teórico não pode servir de pretexto para a livre manifestação de preconceitos
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