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Estupro Marital existe?
Estupro Marital. Pode o companheiro ser punido por exigir de sua companheira que
mantenha com este relação sexual utilizando de violência ou grave ameaça?
(FERNANDES , Rômulo Corrêa. Bacharel em Direito, Farmacêutico-Bioquímico, Perito Criminal Oficial do
Estado do Amapá. Especialista em Analises Clinicas e no Magistério Superior.Professor.Esp.do Curso de
Direito da Faculdade Seama/Estacio-AP).
 Num passado recente, o homem praticava os mais diversos tipos de violência contra a mulher e não
ser punido pelo estado quando alegava o instituto da legítima defesa da honra ou o exercício regular do
direito no caso de estupro. Esses crimes variavam desde agressões físicas, psicológicas, violência sexual
, chegando inclusive a morte da vítima.
 No Código Penal que vigorou de 1890 a 1940, era previsto em seu art. 27 que se excluiria e ilicitude
dos atos cometidos por pessoas que (em tese) estivessem sob forte tensão emocional. E era esse artigo
que alguns juristas usavam para justificar a legítima defesa da honra de seus clientes. Com base nesse
artigo, e no art.23/III, alguns entendiam erroneamente que era possível , por exemplo, matar, estuprar,
espancar ou cometer outro delito contra a companheira com o objetivo de defender a honra masculina
ou exigir o débito conjugal (prática sexual). Nesse período, não se tem noticias de mulheres que
mataram seus companheiros e foram absolvidas alegando a legítima defesa da honra ou que agiram no
exercício regular do direito de exigir fidelidade de seu companheiro, pois estávamos diante de um
ordenamento jurídico extremamente machista e discriminatório em relação às mulheres.
 O atual código penal que esta em vigor desde 07 de dezembro de 1940 e que sofreu alterações em
1984 através da lei nᵒ 7.209 de 11 deste mesmo ano, alterou o conteúdo do artigo 27 de seu antecessor e
essa matéria passou a ser tratada em seu artigo 28 da seguinte forma “Não excluem a imputabilidade
Penal: I- a emoção ou a paixão, II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de
efeitos análogos.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).
 No que tange o crime de estupro praticado pelo companheiro, trata-se de uma prática rotineira em
alguns segmentos da sociedade, onde o agressor força sua companheira a praticar com ele ato sexual
achando que isso é um dever da mesma de forma inconteste.
 Estuprar alguém significa de acordo com art.213 do Código Penal vigente “Constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se
pratique outro ato libidinoso.” Num passado recente, mais precisamente antes das mudanças ocorridas
em 2009 em relação aos crimes sexuais, o estupro era um crime próprio, pois só a mulher poderia se
vítima e só o homem o autor, pois o ordenamento anterior dispunha que “art. 213 do Diploma repressivo
antes das mudanças de 2009” “Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou
grave ameaça.” Então, de acordo com os ditames previstos antes de 2009 no código penal, para que
houvesse estupro, a vítima tinha que ser a mulher e o ato necessariamente deveria envolver a
penetração da genitália masculina na genitália feminina, pois caso a violência sexual tivesse como vitima
um homem, estaríamos diante da figura do atentado violento ao pudor cuja pena era menor que a pena
do crime de estupro.
 Felizmente, com as mudança ocorridas em 2009 o crime de estupro deixou de ser um crime próprio,
pois tanto o homem como a mulher podem figurar como vitimas ou autores deste crime e a pena deste
crime foi majorada, podendo ser inclusive aumentadas em caso da condutar resulta lesão corporal de
natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos ou em caso de morte
da vítima , arts.213,§§ 1ᵒ,2ᵒ do Código Penal.
 Vale ressaltar que a lesão corporal é tratada de forma equivocada por este ordenamento, pois de
acordo com art. 129 deste código, “considera-se lesão corporal a ofensa a integridade corporal ou a
saúde de outrem”. Neste caso, o legislador esqueceu que ter saúde envolve o bem estar físico, mental e
psicológico e que, uma vítima de estupro terá sequelas psicológicas para o resto da vida. Errou também
o legislador quando considerou como lesão corporal grave, aquele que incapacita a vítima para suas
ocupações habituais por mais de trinta dias, ou que causa debilidade permanente de membro, sentido
ou função, dentre outras que consideramos importantes.
 “Lesão corporal não é apenas ofensa a integridade corpórea, mas também, à saúde. Portanto, é lesão
corporal a desordem das funções fisiológicas, como a das funções psíquicas, como é o caso da vítima que
desmaia em virtude de forte tensão emocional produzida por agressão do réu” (TJMG,RT,616/358) .
 Não restam dúvidas de que, já que qualquer pessoa pode ser autor do crime de estupro e que a lei,
ao tipificar este delito não atribuiu qualidades especificas ao réu , o marido pode ser autor do crime de
estupro contra sua companheira e vice-versa e as sanções serão as mesmas previstas neste dispositivo.
Nesse sentido, os grandes doutrinadores brasileiros afirmam que:
 "Tal situação não cria o direito de estuprar a esposa, mas sim o de exigir, se for o caso, o término da
sociedade conjugal na esfera civil, por infração a um dos deveres do casamento" (NUCCI, Guilherme de
Souza. Código penal comentado. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 655-657: (p. 655) .
 “Traz a divergência na doutrina, mencionando que "embora se tenha negado essa possibilidade,
quando não há justa causa para a recusa da mulher, entendemos que há crime na conjunção carnal
forçada do marido contra a esposa por ser ato incompatível com a dignidade da mulher. A recusa
imotivada da mulher pode, entretanto, dar causa a separação judicial" (MIRABETE, Júlio Fabbrini.
Código penal interpretado. São Paulo: Atlas, 1999. p. 1245-1246: " (p. 1245-1246) .
 "Quanto à possibilidade de o marido ser agente de crime de estupro praticado contra a esposa, a
doutrina tradicional entende que não pode sê-lo, porquanto seria penalmente lícito constranger a
mulher a conjunção carnal, sendo que esta, por si só, não é crime autônomo. Assim, embora a relação
sexual voluntária seja lícita ao cônjuge, o constrangimento ilegal empregado para realizar a conjunção
carnal à força não constitui exercício regular de direito (CP, art. 23, II, 2 parte), mas, sim, abuso de direito,
porquanto a lei civil não autoriza o uso de violência física ou coação moral nas relações sexuais entre os
cônjuges . DELMANTO , Celso et. al. Código penal comentado. 5 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p.
413: (Celso Delmanto, 'Exercício e abuso de direito no crime de estupro', in RT 536/257, RDP 28/106 e
ROAB 13/105)" (p. 413) .
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 "Assim, segundo alguns autores, não haveria crime caso o marido constrangesse a mulher à
conjunção carnal, em razão do direito daquele de exigir desta a satisfação sexual" (p. 95). "Outros
autores (...) caso a negativa da mulher se apoie em motivo justo, haverá crime" (p. 95). "Entendemos que
o marido pode ser sujeito ativo do crime de estupro contra a própria esposa. Embora com o casamento
surja o direito de manter relacionamento sexual, tal direito não autoriza o marido a forçar a mulher ao
ato sexual " JESUS , Damásio de. Direito penal: parte especial. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 1998. v. 3. p. 95-
96:
 Ressalta-se que a garantia de proteção a liberdade de opção (inclusive sexual), encontra
fundamento Constitucional no art.5ᵒ/II onde “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa, senão em virtudeda lei”, e isso inclui a prática sexual, além do enorme arcabouço de documentos
internacionais tratam da proteção à mulher em que o Brasil é parte, como por exemplo a Convenção
sobre a eliminação de todas as formas de violência contra a mulher, IV conferencia mundial sobre as
mulheres em 1995, Pacto de San José da Costa Rica, etc.
 Então, quando tratamos da figura do cônjuge como sujeito ativo do delito previsto no art.213 do
Código Penal (Crime de Estupro), Guilherme Nucci, 2012 afirma que “deve-se incluir o marido ou a esposa,
uma vez que o cônjuge não é objeto sexual, cada qual possuindo iguais direitos no contexto da sociedade
conjugal, conforme lhe assegura a Constituição Federal de 1988, art.226,§ 5ᵒ”.
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
 (...),§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e
pela mulher.
 Antigamente, o homem achava que podia constranger sua esposa à prática de ato sexual por que o
código civil assegurava a ambos, o débito conjugal; em outras palavras: o dever de praticar sexo! Esta
situação não gera e nunca gerou ao homem, o direito de estuprar sua companheira e sobre esse
assunto, entendemos que o que aproxima os parceiros é o amor e/ou o desejo e que a prática sexual
deverá ser obrigatoriamente consensual, caso contrário estremos diante do crime de estupro não
importando se o sujeito ativo é o cônjuge.
Nota: Este artigo foi publicado na edição n.147 da Revista Prática Jurídica
Bibliografia
1- ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Código Penal Anotado. Editora Saraiva. São Paulo, 2007
2- ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal, 7ª edição, editora Saraiva. São Paulo, 2001
3- NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado , 12ª edição, editora Revista dos Tribunais,
São Paulo, 2012.
4- CAPEZ, Fernando. Código Penal Comentado, 4ª edição. Editora Saraiva. São Paulo, 2013.
5- GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. 4ª edição. Editora Impetos. Rio de Janeiro,2010.
6- www.conjur.com.br <acesso em: 17.abr.2014>
 
 
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“OS RISCOS QUE UM CHEFE PERSEGUIDOR E MAL
HUMORADO PODE CAUSAR A SAÚDE DE SEUS
SUBORDINADOS”. Como combater este mal ?
(FERNANDES , Rômulo Corrêa. Bacharel em Direito, Farmacêutico-Bioquímico, Perito Criminal Oficial do
Estado do Amapá. Especialista em Analises Clinicas e no Magistério Superior.Professor.Esp.do Curso de
Direito da Faculdade Seama/Estacio-AP).
 
 Não é raro nos depararmos com pessoas reclamando de estarem sendo vítimas de algum tipo de
perseguição no ambiente de trabalho. Neste diapasão, precisamos diferenciar a perseguição
propriamente dita do funcionário conhecido como ‘enrolão’. Muitas vezes, este funcionário cria
inúmeras situações para tentar justificar a sua irresponsabilidade com o serviço. No serviço público, isso
é comum, haja vista que muitas leis acabam por despertar nos maus servidores o sentimento de
impunidade. No serviço público Estadual, Municipal e Federal existem leis que acertadamente garantem
aos funcionários públicos o devido processo legal e ampla defesa para toda e qualquer punição que, por
ventura possa ser-lhe imposta . Isso também está disposto na Constituição Federal em seu art. 5º /LIII /
LV . “ Ninguém será processado ou sentenciado senão pela autoridade competente – art 5º
/LIII & Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo , e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes – art.
5º /LV” .
 Porém, tanto no serviço público como na iniciativa privada existem aqueles ‘chefes’ que se acham
verdadeiros ‘Deuses’. Estas pessoas chegam a acreditar que estão acima das leis e que jamais irão
responder pelos crimes de Abuso de Autoridade, Assédio Moral e Danos Morais no âmbito do trabalho.
Sabem por que isso acontece? Por que estes perseguidores sempre selecionam suas vítimas entre
aquelas pessoas humildes, de boa índole e tímidas, pois é quase certo que estas pessoas dificilmente
denunciarão estarem sendo vítimas desses atos criminosos, seja por medo de perder o emprego, no
caso da iniciativa privada, seja por medo de perder alguma gratificação, no caso dos servidores públicos.
 Em face deste medo de denunciar o agressor, os danos vão acumulando para a vítima, chegando
inclusive a atingir familiares e amigos da mesma. Em uma análise rebuscada sobre este assunto, veremos
que o próprio Estado poderá ser atingido pelo atos do agressor. Seja numa ação indenizatória que
poderá ser movida pela vítima contra o Estado, seja por aumento nos atendimentos dos serviços
públicos de saúde de pessoas vítimas de perseguição no local de trabalho com quadros de Hipertensão
arterial, Síndrome do Pânico, Infarto Agudo do Miocárdio, seja pelo pagamento de pensão aos
dependentes daquele funcionário que não agüentou a perseguição imposta pelo agressor e tomou a
atitude drástica de cometer suicídio.
 ‘Pesquisa feita pela Universidade de Estocolmo concluiu que o mau chefe não dá apenas dor de
cabeça aos subordinados. Os danos à saúde podem ser fatais. O estudo mostra que o risco de sofrer um
ataque cardíaco é 25% maior entre os funcionários que têm um chefe rigoroso demais em sem razão,
injusto e, principalmente desmotivador’ e perseguidor.
 Os pesquisadores do Instituto Karolinska e da Universidade de Estocolmo acompanharam o
histórico e as ocorrências relacionadas a saúde de 3 mil funcionários, todos homens, com idades entre
19 e 70 anos e encontraram uma forte relação entre o aparecimento de eventos cardiovasculares e a
subordinação dessas desses funcionários a um ‘mau chefe’. Durante esta pesquisa, foram registrados 74
casos (fatais e não fatais) de ataques cardíacos ou angina instável, marcada por fortes dores ou
desconfortos no peito ou áreas subjacentes. Este estudo também concluiu que funcionários que ficaram
mais de quatro anos sob o comando de um mau chefe, apresentaram um risco 64% maior de
apresentarem doenças cardiovasculares . Uma pesquisa da OMS constatou que 12 milhões de
trabalhadores europeus têm algum problema de saúde provocado pelos maus tratos do chefe .
 Vale ressaltar que o direito concede a Administração Pública, de modo explícito ou implícito, a
discricionariedade, para praticar atos administrativos com certa liberdade. Porém, não podemos
esquecer que esta discricionariedade não pode se confundir de forma alguma com arbitrariedade, atos
este feitos em desconformidade com a lei por funcionários corruptos ou perseguidores.
 Se considerarmos as garantias previstas no art.5º da Constituição Federal, que proíbe dentre
outros, qualquer atentado contra o direito a manifestação de opinião, a liberdade de locomoção, bem
como as garantias previstas na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 10 de dezembro de 1948,
podemos afirmar com segurança que o chefe que persegue seus subordinados por questões meramente
pessoais deveria estar na cadeia cumprindo pena, uma vez que as vítimas deste crime poderão
desenvolver problemas de saúde de ordem permanente , chegando inclusive, a tirar a própria vida.
 Existem projetos de lei tramitando na Câmara Federal e Assembléias Legislativas no sentido de
punir o chefe carrasco. 
 Reconheça o chefe hipócrita.
 
1- Está sempre mal humorado,
2- É arrogante, mesquinho e vingativo,
3- Acha que tem sempre razão e nunca abre espaços para receber críticas,
4- Humilha e ofende, porém evita a presença de testemunhas,
5- Ignora o funcionário, para de falar com ele e só manda recados por terceiros,
6- Tenta colocar um colega contra o outro,
7- Espalha boatos contra as pessoas queperseguem.
 
 Se você está sendo vítima de perseguições em seu local de trabalho, não tenha medo, culpa ou
vergonha, isso é tudo que o perseguidor quer para te aniquilar. Anote tudo que ele (a) faz contra você,
inclusive dia, hora e local. Grave em mídia as conversas que ele tiver com você. Procure atendimento
médico se necessário. Guarde cópias de receitas médicas. Peça laudo médico de seu estado emocional
se for o caso. Nunca aceite conversar com o perseguidor a sós. Procure sempre testemunhas idôneas,
aquelas que não fazem parte do grupo de ‘puxa sacos’ do chefe perseguidor. Se você receber licença
médica por este motivo, preencha o guia de Comunicação de Acidente de Trabalho e coloque como
causa de seu afastamento a opressão de chefe tirano. Se ele te der uma bronca em público e você se
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sentir diminuído em sua auto-estima por isso, chame um advogado, pois o agressor poderá ser
processado pelos crimes de calúnia e difamação previstos no código penal, além de ter que lhe indenizar
por danos morais conforme o caso concreto.
 Evite enfrentar este tipo de chefe sozinho! Procure ajuda, seja através de advogado, de denuncia ao
Ministério Público ou a Delegacia de Polícia. Chefes que perseguem e humilham devem ser convidados a
participarem de curso de relação humanas e em casos de reincidência por culpa ou dolo, devem ser
banidos tanto do serviço público como também da iniciativa privada!
 
 
Bibliografia Consultada.
 
1- BELMONTE, Alexandre Agra , DANOS MORAIS NO DIREITO DO TRABALHO, 3ª edição , renovar, São
Paulo 2007.
2- Senado Federal – Secretaria Especial de Editoração e Publicações. DIREITOS HUMANOS , Brasília,
2007.
3- BATALHA, Lílian Ramos, ASSÉDIO MORAL EM FACE DO SERVIDOR PÚBLICO , 2ª edição, lúmen
júris, editora, Rio Janeiro, 2009.
4- BEZERRA FILHO, Aluízio, LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA , editora Juruá, Curitiba, 2009.
5- SANTOS, Paulo Fernando, CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE, livraria e editora universitária de
direito, São Paulo 2003.
6- LOPES DAVID, Fernando, ABUSO DE AUTORIDADE VISTO PELOS TRIBUNAIS, edipro, 1994.
7- Chefe faz mal a Saúde, www.betoribeiro.com.br <acesso em 25.nov.2009>
Possibilidade da cobrança de honorários Advocatícios na
Justiça do Trabalho
 
(FERNANDES , Rômulo Corrêa. Bacharel em Direito, Farmacêutico. Pós Graduado em Análises Clinicas e
Magistério Superior. Pós Graduando em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Estácio de Sá.
Professor e Coordenador Adjunto do Curso de Direito da Faculdade Estácio/Seama-AP)
 
 
 A reforma do Poder Judiciário através da emenda constitucional nᵒ 45 acabou por ampliar a
competência da justiça do trabalho, mas deixou algumas lacunas no que tange a possibilidade de
profissionais liberais (dentre eles o Advogado) de utilizarem esta justiça especializada para cobrarem
seus honorários.
 Resumidamente, podemos dizer que para que um Advogado possa ingressar com a ação de
cobrança de seus honorários na justiça do trabalho em face de seu cliente, há de se verificar se a lide
envolve relação de consumo ou relação de trabalho/emprego.
 Segundo a Teoria Contratualista, o ajuste entre as partes é fundamental na relação de emprego,
pois, sem a vontade dos contratantes, esta relação não se constitui, uma vez que o pretendente ao
emprego deve “aceitar as condições oferecidas para o emprego, e o chefe da empresa deve
escolher aquele trabalhador, mesmo quando a lei imponha regras mínimas que não podem
ser derrogadas pelas partes” (CASSAR, 2013 p.237).
 A relação de trabalho é gênero, e uma de suas modalidades é a relação de emprego além do
trabalho eventual, autônomo e individual .
 Por via transversa, quando falamos da relação de consumo, devemos entender que “haverá relação
jurídica de consumo sempre que se puder identificar num dos polos da relação o consumidor, no outro,
o fornecedor, ambos transacionando produtos ou serviços(NUNES,2009. p.71).
 De acordo com o art.2ᵒ da lei nᵒ 8.078/90, consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire
ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Na relação de consumo, o tomador do serviço
contrata o prestador para utilizar seus serviços na condições de destinatário final, e, nesse caso,
estamos tratando de uma relação consumerista pura e simplesmente, e isso por sua vez, tem o condão
de afastar a competência da justiça do trabalho para apreciar a lide. Seria o caso, por exemplo, do
Advogado que é contratado para prestar assistência jurídica para pessoa física que será o destinatário
final da prestação desses serviços.
 Então, no que tange a emenda constitucional nᵒ 45; esta deu nova redação ao art. 114 de nosso
ordenamento máximo, que antes da edição da referida emenda disciplinava que “compete a justiça
do trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e
empregadores” , e que após a edição da emenda em tela passou a ter a seguinte redação: “Compete a
Justiça do Trabalho processar e julgar, I- as ações oriundas da relação de trabalho,
abrangidos os entes de direito publico externo e a administração pública direta e indireta da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; IV- as ações de indenização por dano
moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; IX- outras controvérsias
decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei” .
 Nesse sentido, Renata Martins da Rosa afirma que “não sendo possível a cobrança de honorários por
profissionais liberais através da Justiça do Trabalho (...) feriria o principio da segurança jurídica que
garante a todos o pleno acesso à justiça competente”. Por outro lado, considerando que um Advogado foi
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contratado por uma empresa para representa-la judicialmente, seja no polo ativo como no polo passivo
da lide , sob cláusula de exclusividade e mediante recebimento de salário, estaríamos diante de uma
relação de emprego conforme dispõe o art.3ᵒ da CLT, e, neste caso, a competência material para apreciar
a cobrança de honorários é da justiça do trabalho, pois segundo GARCIA, 2014 “a doutrina
majoritária, ao tratar da natureza jurídica do contrato de trabalho, entende que se trata de
um vínculo de natureza contratual, onde há a manifestação da vontade das partes em
contratar, com a possibilidade de manutenção do referido contrato, seja na forma tácita ou
expressa” . Logo, a possibilidade de manutenção deste contrato, bem como a existência ou não da
relação de consumo serão ‘divisores de águas’ que irão proporcionar ao Advogado a possibilidade deste
ingressar na justiça do trabalho para a cobrança de seus honorários.
CLT.art.3ᵒ - “Considera-se empregado toda pessoa física que presta serviço de natureza não eventual a
empregador, sob a dependência deste e mediante salário”
“EMENTA: HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS. EXECUÇÃO. INCOMPETENCIA DA
JUSTIÇA DO TRABALHO . Mesmo após a ementa constitucional 45/04, falece competência a esta
Justiça do Trabalho para execução relativa ao crédito de honorários pactuados pelo Advogado com
particular que contrata seus serviços” (TRT 4ª Região - 2ª Turma, ACÓRDÃO 00374-2005-561-04-00-7 AP,
MARIA BEATRIZ CONDESS FERREIRA – Juíza Relatora).
EMENTA: COMPETENCIA MATERIAL PARA APRECIAR PEDIDO DE COBRANÇA DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. JUSTIÇA DO TRABALHO. EMENDA CONSTITUCIONAL N.45/2004. A competência
da justiça do trabalho para instruir e julgar ação de cobrança de honorários advocatícios é indiscutível,
em face da nova redação conferida pela emenda constitucional n.45 ao inciso I do art.114 da
Constituição, ao dispor que “compete à justiça do trabalho processar e julgar I- as ações oriundas da
relação de trabalho, abrangidosos entes de direito publico externo e a administração pública direta e
indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;. Neste sentido, afirma-sea
competência da justiça do trabalho em sentido lato, inclusive nas relações regidas pela lei civil,
decorrentes de prestação de serviços por profissionais liberais, como o advogado.(PROC –
00313.2006.021.23.00-7 (RO) - 1ª T 23ª Região. Desembargador Tarcísio Valente).
 Ante o exposto, podemos afirmar que mesmo diante de algumas controvérsias sobre este
tema, é preciso se distinguir a existência de relação consumerista ou trabalhista nas querelas que
envolvam a cobrança de honorários advocatícios, pois será de competência material da justiça comum a
apreciação e julgamento da lide que envolva uma relação consumerista, ou seja; aquela onde o
advogado (autor da ação) figura como prestador de serviços e o réu é o destinatário final destes serviços.
Por outro lado, será de competência material da Justiça do Trabalho a apreciação das lides , àquelas
onde o Advogado (autor) figurar como empregado propriamente dito.
 Ressaltamos que este tema ainda merece discussões mais acuradas para que se tenha uma melhor
compreensão e se elimine toda e qualquer controvérsia que possa gerar um possível conflito de
competência.
 Nota: Este artigo foi publicado na edição n.149 da Revista Prática Jurídica.
Bibliografia.
1- CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho, 7ª edição. Editora método. São Paulo, 2013.
2- NUNES , Rizatto. Curso de Direito do Consumidor, 4ª edição, editora saraiva. São Paulo, 2009.
3- ROSA , Ana Martins. A Competência da Justiça do Trabalho para cobrança de honorários por
profissionais liberais após a EC nᵒ 45/2004 – Reforma do Judiciário. Disponível em: www.ambito-
juridico.com.br . acesso em: <03.mai.2014>
4- GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho, 8ª edição. Editora forense. Rio de
Janeiro,2014.
 
A Pedofilia e Sua Compreensão Jurídica
A Pedofilia e sua Compreensão Jurídica.
(FERNANDES , Rômulo Corrêa. Bacharel em Direito, Farmacêutico, Perito Criminal Oficial do Estado do
Amapá. Especialista em Analises Clinicas e no Magistério Superior. Especializando em Direito Procesual
do Trabalho pela Faculdade Estácio. Professor.Esp.do Curso de Direito da Faculdade Seama/Estacio-AP).
 
 De uma maneira simplória, podemos dizer que a pedofilia é a atração sexual que um individuo
maior de dezesseis anos tem por pessoas que ainda não desenvolveram os caracteres sexuais
secundários.
A Organização Mundial de Saúde ao tratar desde assunto diz trata-se da ocorrência de práticas sexuais
entre um indivíduo maior de 16 anos com uma criança na pré-puberdade. A psicanálise, por sua vez,
encara a pedofilia como uma perversão sexual. 
 Etimologicamente, pedofilia “é uma palavra que deriva do grego ped (o), paídos – que traduz a ideia
de criança e phílos – que expressa o conceito de amigo” (MONTEIRO, 2013). Citado por Verônica 
Magalhães de Paula . 
 A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (também conhecida
como Classificação Internacional de Doenças – CID 10) é publicada pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) e visa padronizar a codificação de doenças e outros problemas relacionados à saúde. A CID 10
fornece códigos relativos à classificação de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas,
aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças . A
cada estado de saúde é atribuída uma categoria única à qual corresponde um código CID 10. No que
tange a pedofilia, esta está incluída no CID10-F65 no rol dos transtornos de preferencia sexual, mais
especificamente sob o código CID-10 – F65.4. 
Há autores que dizem que a pedofilia não é uma doença, mas sim uma parafilia , ou seja; um distúrbio
psíquico que se caracteriza pela obsessão por práticas sexuais não aceitas pela sociedade, como o
exibicionismo e o sadomasoquismo. Porém, com base nessa afirmação cabe uma pergunta: “Se
pedofilia não é doença por que ela encontra-se disposta no Código Internacional de
doenças?” .
Rotular o agente que pratica ato sexual com pessoas que ainda não desenvolveram os caracteres sexuais
secundários, ou mesmo com menores de 18 anos requer certo conhecimento que vai além das letras
frias da lei. Em primeiro lugar a vítima pode ter o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e
ser maior de 18 anos, ou ter menos de 18 anos e já ter estes caracteres desenvolvidos e levar o autor a
um erro de tipo por exemplo. Por outro lado, a medicina legal considera a prática sexual por homens e
menores com faixa etária entre 10 e 16 anos como sendo hebefilia. E segue ainda afirmando segundo
Dalton Crose,2010 (p.708) que “os hebefélicos são indivúduos com características de violadores, com
distúrbios de juízo, amiúde incluídos nos padrões-psiquiátricos “esquizo-adeaptativos”” .
Verônica Magalhães de Paula , afirma em seu artigo intitulado “Pedofiolia, Crime ou Doença? A
falsa sensação de impunidade” quea OMS (Organização Mundial da Saúde), através do Manual de
Classificação Estatística Internacional de Doenças, Lesões e Causas de Morte, traz a pedofilia no capítulo
de transtornos mentais, no que tange às Neuroses, Transtornos de Personalidade e outros Transtornos
Mentais Psicóticos, sob o código 302 – Desvio Sexual, subcódigo 302.2 pedofilia.
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 “Freud afirma ser a pedofilia a ‘perversão dos fracos e impotentes”, como muita propriedade, pois
as ações praticadas por eles são de caráter masturbatório e exibicionista, com tendências narcisistas”.
(Delton Crose,2010) .
Ressalta-se que normalmente a pedofilia é praticada por bissexuais adultos e , raramente por
homossexuais .
Então se considerarmos a pedofilia como doença psiquiátrica, num primeiro momento seria possível
considerar o autor deste crime como inimputável ou semi-imputável? De que argumentos jurídicos o
Estado pode utilizar para punir este doente? Para responder este questionamento, precisamos ter em
mente alguns ordenamentos importantes.
1ᵒ Nosso Ordenamento Jurídico máximo em seu art.227 dispõe que “É dever da família, da
sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito , à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. § 4º - A lei punirá
severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente.”
2ᵒ Nosso código penal ao tratar dos crimes sexuais contra vulnerável em seu art.217-A, nos ensina que “§
4º - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente.
 Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.” Esse mesmo dispositivo prevê reclusão, de 2 (dois) a 5
(cinco) anos em seu arf.218 para aquele Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia
de outrem, e segue punindo com reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos àquele que praticar, na presença
de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato
libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem em seu art.218-A.
3ᵒ Ao tratar da imputabilidade penal em seu art.26, o Código Penal nos ensina que “É isento de pena o
agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráterilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). Entendemos que esse
dispositivo é fundamental para entendermos que mesmo sendo considerada uma doença de caráter
psiquiátrico, a prática da pedofilia deve ser punida de forma severa pelo Estado, pois para que o autor
seja isento de pena , este deve ser ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. O que acontece no que
tange os crimes de pedofilia é que na imensa maioria das vezes seus autores são pessoas com total
compreensão da ilicitude deste fato, uma vez que sempre o praticam utilizando-se de meios escusos
para tentar esconder sua participação na tentativa de escaparem impunes para voltarem a praticar tais
atos, porém , há que se observar os casos onde o autor apresenta comprometimento em sua
autodeterminação como no julgado a seguir.
APR -Apelação Criminal
Relator(a): SOUZA E AVILA
Processo: 20100310115029APR (TJDF)
APELAÇÃO CRIMINAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. VÍTIMAS: CINCO CRIANÇAS. ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
ACERVO PROBATÓRIO ROBUSTO. RELATOS DAS CRIANÇAS, DE SEUS FAMILIARES E CONFISSÃO DO RÉU.
DOSIMETRIA. REPAROS. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR MEDIDA DE SEGURANÇA.
INTERNAÇÃO. POSSIBILIDADE. LAUDO PSIQUIÁTRICO E PSICOLÓGICO ATESTANDO SEMI-IMPUTABILIDADE.
3
DIAGNÓSTICO DE PEDOFILIA. INDICAÇÃO DE TRATAMENTO MÉDICO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. NÃO HÁ FALAR EM ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS DA AUTORIA, QUANDO O
CONJUNTO PROBATÓRIO É ROBUSTO,CONTANDO DECLARAÇÕES DAS VÍTIMAS, DEPOIMENTOS DOS
FAMILIARES DAS CRIANÇAS VITIMADAS E CONFISSÃO EXTRAJUDICIAL E JUDICIAL DO RÉU.
(...)
7. A PERÍCIA PSIQUIÁTRICA DIAGNOSTICOU QUE O RÉU SOFRE DE TRANSTORNO DE PREFERÊNCIA SEXUAL -
PEDOFILIA, PERTURBAÇÃO DA SAÚDE MENTAL CATALOGADA NO CID10=F65.4, QUE, EMBORA NÃO
COMPROMETA SUA CAPACIDADE DE ENTENDIMENTO, COMPROMETE PARCIALMENTE SUA
AUTODETERMINAÇÃO; E CONCLUIU QUE O RÉU NECESSITA DE TRATAMENTO MÉDICO
COMPULSÓRIO, COM ABORDAGEM TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA, PSICOTERÁPICA E COM
ACOMPANHAMENTO DO SERVIÇO SOCIAL.
8. A PERÍCIA PSICOLÓGICA APRESENTOU O MESMO DIAGNÓSTICO DE PEDOFILIA E CONSIGNOU QUE O
COMPORTAMENTO CRIMINOSO, MOTIVADO PELA PERTURBAÇÃO DA SAÚDE MENTAL, NÃO É PASSÍVEL SER
INIBIDO PELO ENCARCERAMENTO OU PELO ARREPENDIMENTO, SENDO IMPRESCINDÍVEL HAVER
COMPREENSÃO DE SUA CONDIÇÃO DE VULNERABILIDADE, PELO QUE REQUER TRATAMENTO ESPECÍFICO. 
9. FACE AOS LAUDOS PERICIAIS QUE RECONHECERAM A SEMI-IMPUTABILIDADE DO RÉU E ACONSELHARAM O
TRATAMENTO MÉDICO, REFUTANDO O ENCARCERAMENTO, É POSSÍVEL A SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA
DE LIBERDADE PODE SER MEDIDA DE SEGURANÇA, CONSOANTE REDAÇÃO DO ART. 98 DO CÓDIGO PENAL,
PRAZO MÍNIMO DE 3 (TRÊS) ANOS, E PRAZO MÁXIMO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE A ELE APLICADA.
10. A SEMI-IMPUTABILIDADE AUTORIZA A REDUÇÃO DA PENA (ART. 26, PARÁGRAFO ÚNICO, DO
CÓDIGO PENAL) EM FRAÇÃO A SER IMPOSTA PELO MAGISTRADO CONSOANTE O GRAU DE
COMPROMETIMENTO DE SUAS CAPACIDADES DE ENTENDIMENTO E AUTODETERMINAÇÃO.
(grifamos)
 
 Nestes crimes, o importante é saber que, seja o autor capaz de entender total ou parcialmente a ilicitude
do fato, ou absolutamente incapaz de tal entendimento, o Estado tem o a obrigação de afastar essas
pessoas do convívio social, seja através das sanções previstas aos que praticam crimes contra a
liberdade sexual, seja por medida de segurança através da internação compulsória.
Nota: Este artigo foi publicado na edição n.146 de 31 de maio de 2014 da Revista Prática Jurídica.
 
Bibliografia.
www.atualidadesdodireito.com.br <acesso em :19.abr.2014>
www.medicinanet.com.br/cid10 <acesso em: 19.abr.2014>
CROSE, Delton. Manual de Medicina Legal. 7ª edição. Editora Saraiva. São Paulo, 2010.
PIERANGELI, José Henrique. Crimes Sexuais. Editora Del Rey, Belo Horizonte, 2010.
PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. Editora Saraiva. São Paulo.
2010
AUGUSTO DE SÁ, Alvino. Criminologia Clínica e Psicologia Criminal, 2ª edição. Editora Revistas dos
Tribunais. São Paulo, 2010.
A Competência da Justiça do Trabalho para cobrança de
honorários por profissionais liberais após a EC n°. 45/2004 –
Reforma do Judiciário
A Competência da Justiça do Trabalho para cobrança de honorários por profissionais
liberais após a EC n°. 45/2004 – Reforma do Judiciário
Renata Martins da Rosa, Marilia Brum da Rosa
Disponível em: www.ambito-juridico.com.br <acesso em: 22.mai.2014>
 
Resumo: Esta análise apresenta a problemática da competência no que se refere ao processo e
julgamento das ações para cobrança de honorários por profissionais liberais frente à justiça do
trabalho, o que, por certo, resulta da ampliação da jurisdição trabalhista ocorrida em detrimento da
entrada em vigor da EC n°. 45/2004. Referido dispositivo legal, prevê expressamente como atribuição da
justiça declinada a solução dos litígios relativos às relações de trabalho, e não somente de emprego.
Palavras-chave: cobrança de honorários, profissionais liberais, relação de trabalho, justiça do
trabalho.
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa visa esclarecer a competência para o processo e julgamento das ações oriundas de
cobranças de honorários por profissionais liberais diante da ampliação de competência da justiça do
trabalho pela EC n°. 45/2004.
Será demonstrado o conflito de competência existente entre o judiciário comum e o trabalhista, bem
como precedentes jurisprudenciais aptos a, se não pacificar a controvérsia, pelo menos apresentar a
justiça do trabalho como instituição capaz de extinguir litígios desta natureza, baseando suas decisões,
primeiramente, na dignidade humana das partes da relação trabalhista.
Ainda, por mera argumentação, impõe-se afirmar que valores, como o acima mencionado, servem de
embasamento para as decisões tomadas pelos tribunais trabalhistas.
A metodologia utilizada foi à pesquisa bibliográfica sendo que a escolha do tema foi em função de que
somente com a pacificação de tal controvérsia o judiciário “dará mais um passo a caminho da justiça
social”, objeto embrionário da justiça do trabalho.
2. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA A COBRANÇA DE HONORÁRIOS POR
PROFISSIONAIS LIBERAIS
A reforma do judiciário ampliou a competência da justiça do trabalho, dando nova redação ao art. 114 da
CF. Conquanto tenha pacificado muitas questões até então controvertidas, a emenda gerou grandes
discussões quanto a outros assuntos, dentre eles, a possibilidade dos profissionais liberais (advogado,
médico, taxista, engenheiro), ingressarem com ação judicial para cobrança de honorários na justiça do
trabalho.
Esse exame faz referência ao art. 114, I da CF, o qual substituiu à expressão “Compete à Justiça do
Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores” , dando
nova redação, em que passa a competir a Justiça do Trabalho “...processar e julgar as ações oriundas das
relações de trabalho.” Ainda, há necessidade de se analisar tal alteração com a redação trazida no inciso
X do dispositivo legal já declinado neste parágrafo, o qual caracteriza como sendo competência da
justiça do trabalho “outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho”.
A par disso, percebe-se que por qualquer inciso do art. 114 da CF que se analise, é facilmente extraída a
competência da justiça especializada para processar e julgar ações de cobrança de honorários por
profissionais liberais.
Com efeito, importa ressaltar que a emenda constitucional fonte deste estudo, modificou os dispositivos
do art. 114 da “Carta Mãe”, para que a justiça do trabalho não mais limite a sua competência,
especificamente na relação de emprego,(sujeito ativo – empregado e sujeito passivo - empregadores),
mas igualmente, na relação de trabalho, expandindo à competência aos casos em que são partes
profissionais autônomos, eventuais, avulsos, dentre outros, alargando as atribuições trabalhistas,
jamais restringindo.
O Brilhante Mestre Amauri Mascaro do Nascimento, comenta sobre o tema[1]:
“... a relação de trabalho no sentido da doutrina, é gênero que comporta diversas modalidades, não
somente o empregado, mas o avulso, o temporário, o eventual, e o autônomo, motivo pelo qual a prevalecer
o texto constitucional, todos esses tipos de trabalho agora encontram na Justiça do Trabalho o órgão
judicial competente para apreciar tais questões.”
Assim, o Nobre Doutrinador, corrobora o entendimento acima mencionado, pois considera a justiça do
trabalho o órgão capaz de processar e julgar os litígios decorrentes das relações de trabalhos, e por
conseqüência os honorários dos profissionais liberais.
Inicialmente os Tribunais Regionais do Trabalho contrariavam de plano o pensamento de Amauri, e
assim, da ampliação de competência trazida pela EC n° 45/2004. A tendência dos mesmos era no sentido
de que a justiça em apreciação autuasse apenas em matérias que consideravam essencialmente
empregatícias, como o dano moral decorrente do acidente de trabalho, sem examinar, questões como a
configuração do referido dano, que cabe a justiça civil, entendimento ainda vigente.
Em verdade, receavam o afogamento das Varas Trabalhistas com demandas das mais diversas áreas do
“trabalho”, tornando esta instituição, que é especializada em comum, obstando a sua célere atuação.
Ainda avaliando a questão dos profissionais liberais frente ao entendimento do Culto Doutrinador, não
sendo possível a cobrança de honorários por profissionais liberais através da justiça do trabalho, o
direito, como meio de pacificação social, feriria o princípio da segurança jurídica que garante a todos
pleno acesso a justiça competente.
Estar-se-ia privando o profissional da tutela jurídica adequada e, por conseguinte, impedindo que o
judiciário trabalhista, diante de sua nova competência, cumprisse o seu papel, qual seja: dar plena
efetividade ao princípio do valor social do trabalho, distribuindo a verdadeira justiça social, abalizado na
dignidade humana.
Mesmo que se tenha demonstrado a atribuição da justiça do trabalho para processo e julgamento de
cobrança de honorário por profissionais liberais, para a maioria da doutrina brasileira, a questão ainda
é controversa, haja vista a existência de duas vertentes de interpretação: de um lado, a relação de
consumo, e de outro, a relação de trabalho. É através da consolidação de um ou outro vínculo que se
decide pela aplicação da legislação em discussão.
Ocorre que, na relação de consumo, o tomador dos serviços contrata o prestador para gozar
exclusivamente do seu serviço na qualidade de destinatário final, o que configura, nos termos da Lei
8.078/90, Código de Defesa do Consumidor, relação consumerista, afastando qualquer hipótese de
incidência da Justiça do Trabalho. Nesse caso, o hipossuficiente será o tomador de serviços, jamais o
prestador de serviços especializados (por exemplo o advogado), determinando a competência para a
Justiça Comum.
Em contra partida, se o tomador de serviços for uma grande empresa, que contrata prestador de
serviços, então profissional liberal, para viabilizar sua empresa, formando uma relação de dependência
econômica, nos termos da CLT, trata-se de relação laboral, e portanto, apta a ser processada pela justiça
do trabalho, sendo o prestador de serviços o ente menos favorecido na relação.
O próprio reconhecimento da prestação de serviços de alguns profissionais liberais como relação de
consumo (no caso de advogados, por exemplo) é matéria de acirrados debates. Embora seja a solução
menos adequada, mormente em se tratando de estabelecer competência, a questão tem sido resolvida
casuisticamente. Senão vejamos:
Um advogado contrata com um cliente, cobrando-lhe honorários, em contra-partida marca um horário
para atendê-lo, local e forma de pagamento, tais caracteres, estabelecidos unicamente pelo prestador de
serviços, todos aspectos de uma relação de consumo, distante do que preceitua o art. 114 da CF.
Por outro lado, se esse mesmo advogado fosse contratado por uma grande empresa para representá-la
nas ações judiciais em que é parte, sob cláusula de exclusividade e mediante salário, presentes estariam
os requisitos do art. 3° da CLT, e, portanto, configurada a relação de emprego, sendo a justiça do
trabalho a instituição competente a dirimir litígios decorrentes dessa relação.
Apenas, como argumentação, outros exemplos comuns às situações acima descritas: um médico
cirurgião plástico que agenda uma consulta com local, preço, hora e data estabelecidos para a realização
da intervenção médica está-se diante de uma relação consumerista, pois não presentes a habitualidade
na prestação de serviços, hipossuficiência do médico, então prestador de serviços, obrigações
previdenciárias, encargos estes que caracterizam a relação de emprego já descrita no art. 3° da CLT.
Assim, mesmo diante de tanta similaridade nas relações de serviços prestados, o profissional do direito
tem que analisar as diferenças existentes entre ambas, se consumerista ou trabalhista, razão bastante
para a determinação dos casos levados a juízo. Não é satisfatório averiguar qual o serviço prestado pelo
profissional liberal, é necessária à verificação das condições em que os serviços foram prestados, e
como se deu à relação jurídica entre contratante e contratado.
Corrente semelhante à de Amauri, que vindo complementá-la, admite que a prestação de serviços feita à
pessoa jurídica recairia sob à égide trabalhista, entretanto, se prestada a pessoa física, a prestação de
serviços exaurir-se-ia em si, não contemplando uma cadeia produtiva, e sim consumerista. Voltando-se a
admitir que conflitos envolvendo relações consumeristas sejam processados na justiça trabalhista.
Há ainda, os que recusam a alteração da Emenda Constitucional n°. 45/2004, de forma, que conflitos que
envolvam interesses de profissionais liberais não seria protegidos pela Justiça Especializada.
Vê-se, portanto, que em um primeiro momento, a dificuldade será estabelecer, diante das diversas
nuances de uma mesma relação jurídica (prestação de serviços), tratar-se de relação de trabalho ou de
consumo, haja vista a longínqua pacificação neste sentido.
Como exposto anteriormente, a resistência dos Tribunais em julgar ações em que os profissionais
liberais busquem a cobrança de seus honorários profissionais é forte, mas que vem se flexibilizando, em
prol da justiça social.
Conquanto a os nossos tribunais venham alterando seus posicionamentos a respeito, ainda existem
diversas decisões dos mesmos no sentido da incompetência da justiça em estudo. Senão vejamos:
“EMENTA: HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS. EXECUÇÃO. INCOMPETÊNCIA MATERIAL
DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Mesmo após a Emenda Constitucional nº 45/04, falece competência a esta
Justiça do Trabalho para a execução relativa ao crédito de honorários pactuados pelo advogado com o
particular que contrata os seus serviços.”(TRT 4ª Região – 2ª Turma, ACÓRDÃO 00374-2005-561-04-00-7 AP,
MARIA BEATRIZ CONDESSA FERREIRA - Juíza-Relatora).
Tal decisão não foge aos padrões de primários dos Tribunais, sendo até mesmo compreensível, pois
abarca o entendimento que na relação com particulares, a prestação de serviço encerra-se em si mesma,
caracterizando-se como consumerista.
Observa-se, em nova decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, decisão acertada ao não
acolher a competência como sendo da Justiça do Trabalho, uma vez que sob a ótica que será
apresentada, a relação de trabalho é oobjeto secundário.
“EMENTA: COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. HONORÁRIOS DE ADVOGADO. O contrato de 
advogado e de honorários advocatícios não enseja a acepção de relação de trabalho da nova competência
da jurisdição trabalhista, porque o mandato é preponderante e a relação de trabalho secundária ou
acessória. E, no mister de advogar o profissional prestador do serviço está empreendendo uma atividade e
não alcançando propriamente uma prestação de trabalho caracterizada pela energia despendida por
uma pessoa natural. Recurso não provido.”(TRT 4ª Região – 3ª Turma, ACÓRDÃO 00773-2005-017-04-00-
9AP, EURÍDICE JOSEFINA BAZO TÔRRES –Juíza-Relatora).
Por outro lado, se considerarmos a que a relação foi travada entre o prestador de serviços e uma pessoa
jurídica, a decisão transcrita é inadmissível. No caso, poderia ter sido acolhida à tese do recorrente para
que se admitisse à Justiça do Trabalho como competente para julgar o dissídio com uma cooperativa de
crédito, mormente porque em sua íntegra, afasta a relação de consumo.
Opondo esse entendimento, de que a relação de trabalho é gênero em que a relação de emprego é
espécie, e que somente nesta última exige-se subordinação e continuidade, a decisão em comento
apega-se ao fato de que na prestação de serviços não há sequer resquício de subordinação e que não se
protrai no tempo e, com isso, conclui pela incompetência da justiça especializada.
Não houve unanimidade nessa decisão, sendo vencido o Exmo. Juiz Ricardo Carvalho Fraga, que com
extrema clareza apóia seu voto na mais consagra doutrina, ensinando que embora a relação seja
consumerista, por si só, não afasta a competência da justiça aqui declinada.
O Superior Tribunal de Justiça igualmente à maioria dos Tribunais Regionais do Trabalho tem resistido
em reconhecer a competência desta justiça especializada para conhecer os litígios decorrentes da
relação do profissional liberal e seu contratante. É importante observar que a justiça do trabalho trará
agilidade no tratamento do consumidor (empregado) prejudicado, em contrapartida o direito do
consumidor, tendo sua codificação apenas em 1990, contribuirá para a rápida solução dos litígios com
teorias mais modernas.
Recentemente o Tribunal Superior de Justiça, mais uma vez, decidiu por estabelecer a competência
como sendo da justiça comum, em causa referente a arbitramento de honorários advocatícios.
“CONFLITO DE COMPETÊNCIA. ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS. RELAÇÃO JURÍDICA DE
NATUREZA CIVIL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL INALTERADA PELA EC 45/2004. 1. Discute-
se a competência para julgamento de ação de arbitramento de honorários referentes aos serviços
prestados em ação de cobrança de valores devidos a título de FGTS. 2. Ao dar nova redação ao art. 114 da
Carta Magna, a EC 45/2004 aumentou de maneira expressiva a competência da Justiça Laboral, passando
a estabelecer, no inciso I do retrocitado dispositivo, que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar
"as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da
administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios". 3.
Entretanto, a competência para julgamento de causas como a dos autos não foi atraída para a Justiça do
Trabalho. Isso porque a demanda em questão possui natureza unicamente civil e se refere a contrato de
prestação de serviços advocatícios, celebrado entre profissionais liberais e seus clientes, razão pela qual a
relação jurídica existente entre os autores e os réus não pode ser considerada como de índole trabalhista. 4.
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca de Mogi
Guaçu/SP, o suscitado.” (PROC. CC 52719/SP; 2005/0119847-0 Relatora Ministra DENISE ARRUDA (1126)
Órgão Julgador S1 - PRIMEIRA SEÇÃO Data do Julgamento 11/10/2006).
Afora tais julgados, atualmente, percebe-se a modificação constante de opiniões de doutrinadores e
juízes do trabalho, que têm tomado decisões visando proteger o prejudicado, com base nos valores do
valor social do trabalho e da dignidade humana, de maneira a considerar a justiça do trabalho
competente para dirimir os conflitos decorrentes da cobrança de honorários por profissionais liberais.
Entendimentos que há poucos anos eram isolados, hodiernamente se expandem, passando então, a
doutrina e a jurisprudência a configurarem a relação existente na prestação de serviços liberal também
como trabalhista, como não poderia deixar de ser.
Abaixo, importante decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª. Região:
“ADVOGADO. CONSULTORIA JURÍDICA. INCIDÊNCIA DE LEI ESPECÍFICA (ESTATUTO DA OAB). INAPLICABILIDADE
DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RELAÇÃO DE TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
O enquadramento da atividade de consultoria jurídica como relação de consumo é um grave equívoco,
resultante da desconsideração das raízes do Direito do Trabalho e da própria evolução deste ao longo dos
anos, a qual culminou, inclusive, com a ascensão da valorização do trabalho à condição de fundamento da
República Federativa do Brasil (Constituição Federal, art. 1º, inciso IV). Entender a atividade dos
profissionais liberais como essencialmente incita a uma relação de consumo é um infeliz retrocesso aos
primórdios do capitalismo, por atribuir ao trabalho desses profissionais a condição de mercadoria, idéia
repelida veementemente já pelo Tratado de Versalhes, em sua parte XIII (Du Travail), que constituiu a
Organização Internacional do Trabalho sob a premissa essencial de não ser o trabalho humano uma
mercadoria (art. 427). É de trabalho, então, a relação mantida entre um profissional liberal e seu cliente,
sujeitando-se a lide em torno dela estabelecida à competência da Justiça do Trabalho. Essa a hipótese dos
autos, em que o autor, enquanto advogado, sujeita-se aos ditames da Lei nº 8.906/94, a qual, regulando sua
atividade, impede seja tida como de consumo a relação por ele mantida com terceiro que se vale de seus
serviços, como se vê, por exemplo, dos arts. 31, §1º e 34, incisos III e IV, que vedam a captação de causas e o
uso de agenciador, evidenciando natureza incompatível com a atividade de consumo. Recurso provido
para, em reformando a sentença, declarar a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar a
presente demanda, determinando a baixa dos autos à Vara de origem para que seja proferida decisão
enfrentando o mérito da pretensão autoral, decidindo-se como de direito.” (PROC 01261-2005-063-01-00-7
(RO) - 3ª T ª 1ª Região - RJ - Juiz Mello Porto - Relator. DJ/RJ de 17/07/2006).
Disposição pautada e argumentada levando-se em conta a realidade vivida pelos profissionais liberais
na atualidade, eleva os mesmos a categoria de trabalhadores, nos termos do art. 114, I da CF, e, portanto,
merecedores da célere prestação jurisdicional dispensada aos empregados e empregadores, sujeitos
previamente definidos no art. 3° da CLT.
Em mais uma análise, o reconhecimento da apreciação pelos magistrados trabalhistas tornou-se
concreta, conforme se demonstrará nos julgados a seguir:
"Ementa: HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - AÇÃO DE COBRANÇA - NOVA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
DO TRABALHO - EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004. 'Havendo relação de trabalho, seja de
emprego ou não, os seus contornos serão apreciados pelo juiz do trabalho. Para esses casos, evidentemente,
aplicará a Constituição e a legislação civil comum, considerando que as normas da CLT regulamentam o
pacto entre o empregado e o empregador. Como conseqüência, a Justiça do Trabalho passa a ser o
segmento do Poder Judiciário responsável pela análise de todos os conflitos decorrentes da relação de
trabalho em sentido amplo. Os trabalhadores autônomos de um modo geral, bem como os respectivos
tomadores de serviço, terão as suascontrovérsias conciliadas e julgadas pela Justiça do Trabalho.
Corretores, representantes comerciais, representantes de laboratórios, mestres-de-obras, médicos,
publicitários, estagiários, contratados do poder público por tempo certo ou por tarefa, consultores,
contadores, economistas, arquitetos, engenheiros, dentre tantos outros profissionais liberais, ainda que não
empregados, assim como também as pessoas que locaram a respectiva mão-de-obra (contratantes),
quando do descumprimento do contrato firmado para a prestação de serviços podem procurar a Justiça do
Trabalho para solucionar os conflitos que tenham origem em tal ajuste, escrito ou verbal.' (Grijalbo
Fernandes Coutinho, Juiz do Trabalho em Brasília/DF, e presidente da Anamatra - Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho. http://www.anamatra.org.br/opinião/artigos - Artigo: Agora, sim,
Justiça do Trabalho). Destarte, a partir da edição da EC n. 45/2004, a Justiça do Trabalho passou também a
ter competência para julgar as ações de cobrança de honorários advocatícios, pois o advogado, no seu
mister não pratica relação de consumo, mas relação de trabalho, por impedimento legal, não podendo
captar causas ou se utilizar de agenciador (Lei n. 8.906/94, arts. 31, § 1º e 34, III e IV).” Precedentes do STJ
(RESP n. 532.377 - RJ - Relator Min. Cesar Asfor Rocha e RESP n. 539.077 - MS - Relator Min. Aldir Passarinho
Júnior) (PROC. RO 00132.2005.026.23.00-1- TRT 23ª Região - Desembargador Osmair Couto– Relator )
Publicada em 06.09.2005, por decisão unânime, o julgado acima conseguiu proferir a verdadeira
interpretação a ser dada ao art 114, I da CF após a sua alteração pela EC 45/2004. Em apenas uma frase, o
Nobre Relator traduz a quão discutida alteração: 'Havendo relação de trabalho, seja de emprego ou não,
os seus contornos serão apreciados pelo juiz do trabalho.
Dessa forma, o profissional liberal, mesmo não empregado, ainda é trabalhador, e, portanto pode e deve
procurar a justiça do trabalho para solução das lides que advenham dos contratos de prestação de
serviços por ele ajustados. Nota-se, assim, que o legislador pretendeu dar um tratamento humanitário,
de forma que os serviços prestados por esses profissionais não sejam considerados mercadorias,
expressão advinda do Código de Defesa do Consumidor.
No mesmo sentido:
Ementa: COMPETÊNCIA MATERIAL PARA APRECIAR PEDIDO DE COBRANÇA DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. JUSTIÇA DO TRABALHO. EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004. A competência da
Justiça do Trabalho para instruir e julgar ação de cobrança de honorários advocatícios é indiscutível, em
face da nova redação conferida pela Emenda Constitucional n. 45 ao inciso I do art. 114 da Constituição, ao
dispor que 'compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho,
abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;'. Neste sentido, firma-se a competência da Justiça do
Trabalho para apreciar os litígios que versem sobre as relações de trabalho em sentido lato, inclusive, as
relações regidas pela legislação civil, decorrentes de prestação de serviços por profissionais liberais, como o
advogado. (PROC - 00313.2006.021.23.00-7 (RO) - 1ª T 23ª Região Desembargador Tarcísio Valente).
Ao mesmo tempo, que corrobora o entendimento da competência trabalhista, o julgado renova os
conceitos, uma vez que afirma de forma irrefutável o cumprimento regular do art. 114, I da CF, ou seja, o
caso em exame não é atribuição do direito do consumidor. Referida decisão foi proferida em 24.10.2006,
por unanimidade.
Referido julgado foi utilizado como argumentação no Recurso Ordinário do TRT da 23ª região, n°. 00623-
2006-026-23-00-3, instruído em 2006, entretanto, a decisão do recurso foi proferida em 13.02.2007, o que
faz perceber que corrente forte dos magistrados trabalhistas vêm seguindo referido entendimento, o
que deixa a expectativa de justiça mais célere aos profissionais liberais.
As decisões de que a justiça do trabalho é competente para julgar litígios decorrentes da cobrança de
honorários por profissionais liberais é crescente, conforme a Revista Consultor Jurídico de 31 de julho
de 2007. Em 30.07.2007, dois magistrados do Mato Grosso se declararam incompetentes para julgar
processos dessa natureza, entretanto, admitiram que a competência é da justiça do trabalho para
processar as ações de cobrança de honorários por profissionais liberais.
Em momento posterior O juiz Yale Sabo Mendes, do Juizado Especial do Planalto, em Cuiabá,
determinou que a “Ação de Cobrança de Honorários Advocatícios que um advogado moveu contra uma
cliente seja remetida a uma das Varas de Trabalho da Capital”.
Igualmente, no mesmo artigo, o juiz Adauto dos Santos Reis, da Comarca de Cáceres, ordenou que a
“Ação Ordinária de Arbitramento de Honorários Advocatícios com pedido de Nulidade de Cláusula
Contratual, proposta por um cliente contra o Banco da Amazônia, seja remetida à Justiça trabalhista.”
O Dr. Sabo ainda esclareceu que explicou que “por força da nova redação contida no artigo 114 da
Constituição Federal, preconizada pela Emenda Constitucional 45/2004, a competência para julgar o
presente feito é da Justiça do Trabalho[2]”.
1. CONCLUSÃO
Através da análise acima transcrita, percebe-se que, mesmo com a ampliação da EC 45/2004, dando à
justiça do trabalho competência para o processo e julgamento de ações que envolvam as relações de
trabalho, permanecem controvérsias. Ressalta-se a travada quanto ao julgamento das ações para
cobranças de honorários por profissionais liberais, que se encontram longe de ser pacificado. Nota-se a
importância de destacar a natureza da relação, se consumerista ou trabalhista, tendo em vista as
características de ambas, mencionadas no curso da pesquisa. Entretanto, os tribunais trabalhistas têm
demonstrado a evolução esperada por todo ente da relação de trabalho nos seus julgados, pois,
conforme observado é crescente o número de deliberações em que a competência para tal feito é da
justiça do trabalho.
Por fim, é sabido que o objetivo do judiciário trabalhista é a proteção do ser humano, enquanto ente do
vínculo laboral, e que a garantia da dignidade humana e do valor social do trabalho somente serão
atingidos se tais ações forem julgadas e processadas por esta instituição, sob pena de “trabalhadores”
serem considerados mercadorias.
 
Referências:
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. 4ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Porto Alegre, Verbo Jurídico, 2007.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituição/Emendas/Emc/emc45.htm. Acesso em 05.08.2007.
http://www.dip.com.br/files/EC_45_comparativo.pdf. Acesso em 05.08.2007.
MARTINS, Sérgio Pinto.Direito Processual do Trabalho. Ed.27. São Paulo.
NASCIMENTO, AMAURI Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. Ed. 22. São Paulo:
Saraiva,2007.
RELATÓRIO final de projetos de pesquisa: modelo de apresentação de artigo científico. Disponível em:
<http://www.cav.udesc.br/anexol.doc> . Acesso em 08.08.2007.
Notas:
[1] Nascimento, Amauri Mascaro. Curso de Direito processual do Trabalho.22 ed. São Paulo, 2007.
[2] http://conjur.estadao.com.br/static/text/58100,1 – Revista Consultor Jurídico - Relação de trabalho -
Honorários devem ser cobrados na Justiça do Trabalho
Limites do Magistrado na Execução Trabalhista de Ofício
Limites do magistrado na execução trabalhista de ofício.
Por Flávia Pires Veloso Melo
 Disponível em: http:www.jus.com.br/artigos/24890/limites-do-magistrado-na-execucao-trabalhista-de-
oficio Acesso em: <27.abr.2014>
1 Introdução
A previsão do artigo 878 da CLT aponta a maior singularidade do processode execução trabalhista. Isto
porque a redação do artigo permite que o juiz inicie de ofício a execução trabalhista, o que não é
permitido no processo civil.
O citado artigo atribui um poder-faculdade ao magistrado singular, não devendo servir de causa ao
abandono ao dever de imparcialidade, nas palavras de Manoel Antonio Teixeira Filho .
Tal poder deve ser utilizado com cautela e se reveste de limites de observância obrigatória.
Já a juíza do TRT da 4ª Região, Ana Ilca Harter Saalfeld, defende que o magistrado deve adotar uma
postura enérgica em defesa dos interesses do credor e pelo cumprimento efetivo das decisões judiciais.
A execução é o procedimento pelo qual se realiza o que foi decidido e garantido pelo processo de
conhecimento. E no caso do processo trabalhista, este cumprimento da ordem proferida, é ainda mais
relevante, posto que são verbas alimentares, das quais depende o sustento e sobrevivência do
trabalhador e de sua família.
[1]
É pela execução que se realiza o contrato de trabalho descumprido por uma das partes, ainda que tal
cumprimento se de forma tardia e judicialmente. 
No presente trabalho, sem intenção de esgotar o tema, levantamos os principais pontos sobre a atuação
do magistrado de ofício, analisando os princípios e limites desta atuação, com análise ainda da
experiência de alguns países.
2 Conceitos
Antes de entrar na temática do presente trabalhado, faz-se necessário rever alguns conceitos sobre o
tema a ser tratado.
Iniciamos por Execução: para Candido Rangel Dinamarco, execução é:
“em uma primeira abordagem, o conjunto de medidas com as quais o juiz produz a satisfação do direito
de uma pessoa à custa do patrimônio de outra, quer com o concurso da vontade desta, quer
independentemente ou mesmo contra ela”.
De ofício, ou ex officio, é uma expressão que indica ato feito por obrigação e regimento; por dever do
cargo; diz-se do ato oficial que se realiza sem provocação das partes.
Ainda para Candido Rangel Dinamarco, a execução forçada, a ser realizada por obra dos juízes e com
vista a produzir a satisfação de um direito, tem lugar quando esse resultado prático não é realizado por
aquele que em primeiro lugar deveria fazê-lo, ou seja, pelo obrigado.
Para Humberto Theodoro Júnior, citado por Manoel Antonio Teixeira Filho, execução forçada pressupõe
prática de atos de constrição patrimonial, que só se configura a partir da penhora ou do depósito dos
bens.
Em suas próprias palavras, Manoel Antonio Teixeira Filho afirma sobre execução forçada no âmbito do
processo do trabalho:
“é a atividade jurisdicional do Estado, de índole essencialmente coercitiva, desenvolvida por órgão
competente, de ofício ou mediante iniciativa do interessado, com o objetivo de compelir o devedor ao
cumprimento da obrigação contida na sentença condenatória transitada em julgado ou em acordo
judicial inadimplido ou em título extrajudicial, previsto em lei”. 
Dessa forma, temos que a execução quando iniciada pelo juiz é conhecida como de ofício e havendo
contrição patrimonial, como execução forçada. 
3 Natureza Jurídica
Sobre a natureza jurídica da execução trabalhista, parte da doutrina entende que se trata de processo
autônomo, enquanto parte admite se tratar de fase do processo de conhecimento.
Apesar da doutrina não ser unanime, percebemos que ela tem natureza dúplice, podendo em alguns
casos ser considerada fase e em outros casos processo.
José Augusto Rodrigues Pinto reforça que:
“Muito tem se discutido e divergido sobre a verdadeira natureza jurídica da execução de sentença.
Atualmente, porém, a doutrina converge para a conclusão de tratar-se de ação e processo autônomos,
em relação aos de conhecimento, fundando-se em título diverso e novo do que originou a instância
destinada a fazer atuar, em concreto, a norma abstrata e dando origem à instauração de uma outra, que
lhe é consequente.”
Conclui Carlos Henrique Bezerra Leite , que a parte da doutrina que justifica a execução como processo
autônomo, se baseia na existência do ato de citação, que em tese inicia um processo. Aqueles que
consideram a execução trabalhista como fase do processo de conhecimento, utilizam justamente a
possibilidade desta ser iniciada de ofício, o que afastaria o princípio da demanda ou dispositivo.
Ao destacar tal justificativa, o autor ressalta ainda a previsão do art. 856 da CLT que admitia
instauração de ofício pelo Presidente do Tribunal do dissídio coletivo de greve, apesar de atualmente, tal
dispositivo ser incompatível com a previsão do § 2º do artigo 114 da CF/88, após EC n. 45/2004.
4 Princípio da Demanda X Impulso Oficial
Ao falar sobre execução de ofício é necessário contrapor o princípio da demanda ao princípio do
impulso oficial.
O princípio básico da execução regida pelo Código de Processo Civil é o Princípio da demanda,
dispositivo e da inércia da jurisdição, do latim Nemo iudex sine actore; ne procedat iudex ex officio, que
pode ser assim traduzido “Não há juiz sem autor, o juiz não pode proceder sem a provocação da
parte[5]”.
Este princípio está previsto no Código de Processo Civil no artigo 2º que assim dispõe: Art. 2º Nenhum
juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma
legais.
Maria Cecília Máximo Teodoro ensina que:
“O princípio do Dispositivo, da Demanda ou da Inércia da jurisdição informa que cabe às partes que se
sentem lesadas ao ameaçadas em relação a um direito que se dizem titulares, e não ao juiz, a iniciativa da
ação, ou seja, a jurisdição deve ser provocada para que inicie sua atuação. Porém é sabido que tal
princípio sofre limitações quando os direitos tem natureza indisponível, pela prevalência do interesse
público sobre o privado.
Além disto, outro importante Princípio informa a Teoria Geral do Processo, que é o do Impulso Oficial,
pelo qual o processo se desenvolve por impulso oficial, devendo o juiz assumir uma postura inquisitiva a
fim de prestar a jurisdição efetiva.”
No Código de Processo Civil, o procedimento se inicia por demanda das partes, mas se
desenvolve por Impulso oficial. Prevê o CPC, no capítulo:
DA FORMAÇÃO DO PROCESSO
Art. 262. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial.
Nelson Nery explica sobre o impulso oficial:
Uma vez iniciado, o processo se desenvolve por impulso oficial, isto é, por atos do juiz e
dos auxiliares da justiça. Há, contudo, atos que devem ser praticados pelas partes ou que
exigem sua provocação. Nestes casos, se a parte não der andamento ao processo
praticando ato cuja iniciativa lhe competia, ocorre a contumácia, que, se for do autor, pode
ensejar a extinção do processo sem resolução do mérito (CPC 267 II e III).
[2]
[3]
[4]
[6]
Os princípios citados são harmônicos e, em conjunto, rege o procedimento civil, aplicado
subsidiariamente ao processo do trabalho.
Nos casos em que a CLT admite a atuação do magistrado ex officio, como no caso da permissão
legislativa do artigo 878, o princípio da demanda tem aplicação atenuada.
5 Atuação do Magistrado
As regras apresentadas, para o sistema processual civil, quanto ao princípio da demanda e do impulso
oficial, aplicam-se tanto para o processo de conhecimento quanto para o processo de execução.
A Consolidação das Leis Trabalhistas, por sua vez, apresenta neste aspecto, a possibilidade do
procedimento executivo ser iniciado pelo magistrado competente para julgar a execução ou por
interessados. O texto legislativo prevê:
Art. 876 - As decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido recurso com efeito
suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante o
Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as Comissõesde Conciliação
Prévia serão executada pela forma estabelecida neste Capítulo. (Redação dada pela Lei nº 9.958, de
12.1.2000)
Parágrafo único. Serão executadas ex-officio as contribuições sociais devidas em decorrência
de decisão proferida pelos Juízes e Tribunais do Trabalho , resultantes de condenação ou
homologação de acordo, inclusive sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido.
(Redação dada pela Lei nº 11.457, de 2007)
(...)
Art. 878 - A execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex officio pelo
próprio Juiz ou Presidente ou Tribunal competente, nos termos do artigo anterior.
Parágrafo único - Quando se tratar de decisão dos Tribunais Regionais, a execução poderá ser
promovida pela Procuradoria da Justiça do Trabalho.
(...)
Art. 880. Requerida a execução, o juiz ou presidente do tribunal mandará expedir mandado de citação do
executado, a fim de que cumpra a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as cominações
estabelecidas ou, quando se tratar de pagamento em dinheiro, inclusive de contribuições sociais devidas
à União, para que o faça em 48 (quarenta e oito) horas ou garanta a execução, sob pena de penhora.
(Redação dada pela Lei nº 11.457, de 2007)
Com tais previsões, a CLT atribui uma possibilidade ao juiz. O vocábulo poderá demonstra que o
legislador não teve a intenção de criar uma obrigação ao magistrado, mas uma faculdade.
Apesar de inicialmente parecer que a atuação do magistrado de ofício fica restrita ao processo
trabalhista. Há previsão também no Código de Processo Civil permite a atuação do juiz, nos seguintes
limites, nas palavras de Nelson Nery Júnior:
Procedimentos que podem ser iniciados de ofício pelo juiz: inventário (CPC 989), exibição de testamento
(CPC 1129), arrecadação de bens de herança jacente (CPC 1142), arrecadação de bens de ausente (CPC
1160). O juiz pode, de ofício, ainda, suscitar conflito de competência (CPC 116) e incidente de
uniformização da jurisprudência (CPC 476). No processo trabalhista o juiz pode dar início à execução da
sentença (CLT 878). 
Além disto, vale lembrar as matérias que estão sujeitas ao controle oficial na ação de execução, quais
sejam, falta de título executivo, iliquidez, inexigibilidade, excesso de execução, ilegitimidade ad causam,
cúmulo indevido de execuções, todos previstos no artigo 741 do CPC .
Candido Rangel Dinamarco ensina que:
“na execução o juiz mandará expedir mandado de entrega do bem devido sempre que o obrigado não o
haja depositado ou entregue (art. 625), determinará a avaliação do bem penhorado (art. 680), designará
dia e hora para a hasta pública (art. 685, par.) etc. – tudo sem depender de requerimentos específicos
porque esses atos integram seu dever de ofício e, uma vez instaurado o processo, para o correto
cumprimento da função jurisdicional é indispensável a efetiva atuação judicial.”
A previsão da CLT, por sua vez, nos informa que o juiz está dentre os legitimados para promover a
execução trabalhista, nos termos da previsão do artigo 878 da CLT, de forma diversa do previsto no
ordenamento civilista. Tal previsão quebra o princípio da inércia da jurisdição, como explica Manoel
Antonio Teixeira Filho:
“Na processualística laboral, ao reverso, a execução pode ter início por ato do credor ou do próprio
magistrado, indistintamente, agindo este ex officio; a faculdade de o juiz promover, por sua iniciativa, a
execução, é-lhe outorgada pelo art. 878, caput, da CLT. Essa significativa singularidade revela,
claramente, a inaplicabilidade do princípio sub examen ao processo do trabalho. Em rigor, poder-se-ia
dizer que a execução trabalhista em a presidi-la, no particular, o princípio da iniciativa judicial, que se
contrapõe àquele segundo o qual se orienta o processo civil.”
Ainda segundo Manoel Antonio Teixeira Filho, a execução de ofício estava prevista desde 1939, no
Decreto-lei n. 1.237/39, e
. . .....tal possibilidade, segundo ele, enfatiza o caráter de fase processual da execução, com “absoluta
dependência da execução ao processo de conhecimento”.
Manoel Antonio Teixeira Filho enumera as atitudes que podem ser tomadas de ofício pelo magistrado
trabalhista:
a) Ordenar intimação de testemunha que deixou de comparecer à audiência (CLT, art. 825, parágrafo
único) de instrução dos artigos de liquidação ou dos embargos oferecidos pelo devedor ou por terceiro;
b) Determinar o comparecimento das partes a juízo (CPC, art. 599, I);
c) Advertir o devedor que o seu procedimento constitui ato atentatório à dignidade da justiça (CPC, art.
599, II);
d) Fazer com que a penhora obedeça à ordem preferencial, estabelecida em lei (n. 6.830/80, art. 11);
e) Suspender a execução, quando se verificarem, em concreto, quaisquer das hipóteses previstas no art.
40 da Lei n. 6.830/80.
A Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho editou a Recomendação CGJT n. 001/2011 visando maior
efetividade às execuções trabalhistas. São atos que objetivam tornar frutífera a execução trabalhista,
senão vejamos:
[7]
[8]
[9]
RECOMENDAR às Corregedorias dos Tribunais Regionais do Trabalho que orientem os Juízes de
Execução a adotarem a seguinte estrutura mínima e sequencial de atos de execução, antes do
arquivamento dos autos:
a) Citação do executado;
b) Bloqueio de valores do executado via sistema do BACENJUD;
c) Desconsideração da personalidade jurídica da empresa executada, nos termos dos artigos 79 e 80 da
Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho;
d) Registro no sistema informatizado e citação do sócio;
e) Pesquisa de bens de todos os corresponsáveis via sistemas BACENJUD, RENAJUD e INFOJUD;
f) Mandado de penhora;
g) Mandado de protesto notarial;
h) Arquivamento provisório;
i) Emissão de Certidão de Crédito Trabalhista após prazo mínimo de 1 ano de arquivamento provisório, e
renovação da pesquisa de bens de todos corresponsáveis com as ferramentas tecnológicas disponíveis;
j) Arquivamento definitivo;
l) Audiência de tentativa conciliatória a qualquer momento.
Apesar de não ter força normativa, as resoluções são utilizadas como orientações aos magistrados e
buscam uma harmonia dos julgados, além de visar o cumprimento e efetividade das decisões judiciais.
Contribuições previdenciárias
Dentre as possibilidades de atuação de ofício do magistrado trabalhista, alguns temas merecem
destaque especial como o caso das execuções das contribuições previdenciárias.
A Emenda Constitucional nº 45, de 2004 ampliou a competência da Justiça do Trabalho e, no que se
refere ao recolhimento das contribuições previdenciárias, o TST reviu a súmula sobre a matéria,
estabelecendo diretrizes. A redação constitucional prevê :
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
(...)
VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos
legais, decorrentes das sentenças que proferir; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
A CLT por sua vez prevê:
Art. 876 - As decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido recurso com efeito
suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante o
Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação
Prévia serão executada pela forma estabelecida neste Capítulo. (Redação dada pela Lei nº 9.958, de
12.1.2000)
[10]
Parágrafo único. Serão executadas ex-officio as contribuições sociais devidas em decorrência
de decisão proferida pelos Juízes e Tribunais do Trabalho , resultantes de condenação ou
homologação de acordo, inclusive sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido.
(Redação dada pela Lei nº 11.457, de 2007)
O Supremo Tribunal Federal já se pronunciou

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