157 10.1 As principais classes de medicamentos que agem sobre o sistema nervoso central ......................156 10.2 Neurolépticos ......................................................................................................................................157 10.3 Benzodiazepínicos ..............................................................................................................................161 10.4 “Antidepressivos” ...............................................................................................................................164 10.4.1 Os diferentes “antidepressivos” .....................................................................................................166 10.4.2 “Estabilizadores de humor” ............................................................................................................168 10.4.3 Algumas considerações ...................................................................................................................170 Cuidado da Pessoa em Sofrimento: Conceitos gerais e aplicações práticas I Parte 11 SAÚDE MENTAL Apresentação Caro leitor, este material foi escrito por profissionais que já desenvolveram trabalhos ligados à saúde mental e à abordagem do álcool e outras drogas no campo da Atenção Básica. Escrevemos este caderno com a expectativa de estimular e compartilhar o conhecimento acumulado no cuidado em saúde mental na Atenção Básica. Além de apresentar ferramentas e estratégias de intervenções terapêuticas, também almejamos que este caderno possa dialogar com a sua realidade de profissional de Saúde, trazendo cenas e questionamentos que acreditamos serem fundamentais ao exercício do trabalho com a saúde mental. Para começar, entendemos que a saúde mental não está dissociada da saúde geral. E por isso faz-se necessário reconhecer que as demandas de saúde mental estão presentes em diversas queixas relatadas pelos pacientes que chegam aos serviços de Saúde, em especial da Atenção Básica. Cabe aos profissionais o desafio de perceber e intervir sobre estas questões. É por isso que neste caderno privilegiamos as práticas de saúde mental que possam ser realizadas por todos os trabalhadores na Atenção Básica, independentemente de suas formações específicas. Ao atentar para ações de saúde mental que possam ser realizadas no próprio contexto do território das equipes, pretendemos chamar a atenção para o fato de que a saúde mental não exige necessariamente um trabalho para além daquele já demandado aos profissionais de Saúde. Trata-se, sobretudo, de que estes profissionais incorporem ou aprimorem competências de cuidado em saúde mental na sua prática diária, de tal modo que suas intervenções sejam capazes de considerar a subjetividade, a singularidade e a visão de mundo do usuário no processo de cuidado integral à saúde. No entanto, nem tudo aquilo que se realiza como prática em saúde mental ainda está para ser descoberto. Desse modo, um dos objetivos deste caderno é justamente conferir visibilidade a algumas intervenções terapêuticas que já são realizadas por diferentes profissionais no âmbito da Atenção Básica. Isto porque nem sempre o cuidado em saúde mental é entendido como tal pelos profissionais de Saúde que atuam nos serviços de Atenção Básica. Dessa forma, a pretensão deste material é de colaborar com algumas sugestões e ferramentas de trabalho para ampliar a capacidade de cuidado dos profissionais da Atenção Básica. Também desejamos poder apoiar o leitor no reconhecimento de práticas em saúde mental que já são realizadas e no desenvolvimento de estratégias de manejo em saúde mental pertinentes ao seu próprio contexto e conectadas com o seu fazer cotidiano. Para isso, este caderno apresenta e discute: as principais demandas em saúde mental, os fatores de proteção e de risco em saúde mental, os planos de intervenção e os métodos de acompanhamento dos casos. Esses pontos buscam exemplificar possibilidades de atuação para as equipes e profissionais de Saúde da Atenção Básica. No Capítulo 1 do caderno faremos uma breve abordagem sobre a Política Nacional da Atenção Básica, e como ela está intrinsicamente envolvida com os cuidados em saúde mental. O Capítulo 2 trata do pensamento estruturante deste caderno, abordando a definição dos conceitos de pessoa, sofrimento, cuidado e territórios existenciais. O Capítulo 3 trabalha na perspectiva da cartografia da pessoa, da família e da comunidade. 12 Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Departamento de Atenção Básica Convida o leitor a refletir sobre o conceito de vínculo, a criação de redes de cuidado compartilhado, o trabalho em equipe e os processos de trabalho a partir dos múltiplos olhares para um caso- problema que contextualiza e dialoga entre os conceitos e a prática cotidiana dos profissionais na Atenção Básica. O Capítulo 4 contextualiza a produção do cuidado em saúde mental na perspectiva multiprofissional, priorizando o Projeto Terapêutico Singular e a lógica da Redução de Danos. O Capítulo 5 apresenta algumas ferramentas concretas que auxiliam no processo de cartografia em saúde mental: ferramentas de comunicação, exame psíquico/exame do estado mental, genograma, ecomapa e diagnóstico de recursos do território. O Capítulo 6 aborda as situações de saúde mental mais comuns que ocorrem na Atenção Básica, com foco no sofrimento mental comum, transtornos mentais graves, suicídio, problemas do sono, demências, sofrimento decorrente do uso de álcool e outras drogas. O Capítulo 7 destaca os instrumentos de intervenção psicossocial na Atenção Básica com ênfase nas seguintes tecnologias de cuidado: grupos na APS, rede de suporte social, intervenções psicossociais avançadas, entre outros. O Capítulo 8 finaliza o Caderno com o tema do uso de psicofármacos no cuidado centrado na pessoa. Observem que ao longo do Caderno, vocês encontrarão exemplos que remetem ao “Caso Roberta”. Esse caso foi elaborado pelos autores do Caderno. “CASO ROBERTA” A seguir apresentamos o “Caso Roberta”, médica de família de uma Unidade Básica de Saúde. Leia cuidadosamente o caso apresentado a seguir; ao longo deste Caderno alguns exemplos serão remetidos a partir das reflexões e vivências de Roberta. Boa leitura! Roberta é médica. Nasceu em Votuporanga, onde mora sua família, e mudou-se para São Paulo quando entrou na faculdade. Passou os primeiros anos do curso de Medicina estudando anatomia, fisiologia, histologia e bioquímica, para então aprender como os processos patológicos alteravam os órgãos, os diversos aparelhos, os tecidos e as células. Quando estudou as diferentes doenças, guiou-se pelos tratados médicos, divididos por aparelhos circulatório, respiratório etc., e dentro dos capítulos, em epidemiologia, quadro clínico e tratamento. Teve alguns cursos de Bioética e Psicologia Médica, em que aprendeu que era importante escrever no prontuário com letra legível e que deveria olhar no olho de seus pacientes – o que achou uma orientação um pouco despropositada, pois tinha aprendido, desde pequena, que é assim que se conversa com as pessoas. Nos dois anos de internato, passou por vários departamentos do Hospital Universitário, em estágios que duravam raramente mais de um mês, e também na UBS ligada à faculdade, mas era raro que conseguisse ver mais de duas vezes o mesmo paciente, pois só ia lá um período por semana. Mesmo nos estágios de enfermaria, muitas vezes não pôde acompanhar o tratamento hospitalar de seus pacientes do início ao fim. Ficava cansada por causa do grande número de plantões, mas empolgava-se com os estágios de pronto-socorro, em que sentia que colocava 13 SAÚDE MENTAL em prática tudo aquilo que estudou por tantos anos – especialmente casos graves – e estava finalmente pegando a mão, sabendo pensar em diagnóstico