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PITADAS DE DIREITO PENAL Prof. Ms. Rafael de Paiva SUMÁRIO INTRODUÇÃO DO ERRO NO DIREITO PENAL ERRO DE TIPO ERRO DE PROIBIÇÃO DELITO PUTATIVO POR ERRO DE TIPO DELITO PUTATIVO POR ERRO DE PROIBIÇÃO ERRO DE TIPO ESSENCIAL ERRO DE TIPO ACIDENTAL ERRO DE TIPO INCRIMINADOR ERRO DE TIPO PERMISSIVO DESCRIMINANTES PUTATIVAS POR ERRO DE TIPO DESCRIMINANTES PUTATIVAS POR ERRO DE PROIBIÇÃO DELITO PUTATIVO POR OBRA DE AGENTE PROVOCADOR CONCLUSÃO Olá amigos! A minha experiência como docente de disciplinas de Direito Penal me mostrou a dificuldade da maior parte dos alunos em compreender a complexidade que envolve o tema do erro de tipo (e de proibição, por que não) no Direito Penal. Não os culpo. Eu mesmo terminei os meus estudos na faculdade sem entender corretamente o que era erro de tipo e o que era erro de proibição. Diferenciar então erro de tipo permissivo de erro de tipo incriminador era para mim tarefa impossível. Apenas consegui aprender o tema depois de muita leitura e muitos exercícios. Confesso que não é matéria simples, mas é muito importante, pois não há prova da OAB ou de concurso público (que envolva direito penal, por óbvio) em que não são cobradas questões envolvendo erro de tipo e suas respectivas derivações. Como docente, fico preocupado com a dificuldade da maior parte dos alunos em compreender definitivamente a matéria e é por isso que decidi elaborar este resumo simplificado envolvendo tudo aquilo que eu (e as bancas examinadoras de concursos públicos / OAB) acredito ser relevante sobre o tema. O texto foi pensado de forma a ser dinâmico e simplificado, como uma aula mesmo que ministramos com carinho em sala. Espero que você goste do conteúdo e definitivamente compreenda de uma vez por todas o que é a questão do erro no direito penal brasileiro. Bons estudos! Prof. Rafael de Paiva ** DO ERRO NO DIREITO PENAL ** Antes de começarmos a falar de erro de tipo e de erro de proibição é importante entendermos o que genericamente significa o erro. ERRO é a falsa percepção da realidade. Pois bem, feita esta primeira consideração, devemos saber que o Direito Penal Brasileiro prevê basicamente dois tipos distintos de erro: a) Erro de Tipo - Está previsto no Artigo 20 do Código Penal; b) Erro de Proibição - Está previsto no Artigo 21 do Código Penal. E quais são as principais diferenças entre erro de tipo e erro de proibição? É o que vamos ver a seguir: ** ERRO DE TIPO X ERRO DE PROIBIÇÃO ** Erro de tipo: é a falsa percepção do agente no que tange à realidade que o circunda. Para se lembrar, imagine que no erro de tipo o agente não enxergue a realidade de forma que necessite de óculos para que possa enxergar com exatidão a realidade que o cerca. A falsa percepção da realidade deve recair sobre os elementos constitutivos do tipo legal. Por exemplo, o elemento constitutivo do tipo penal de furto é a coisa alheia móvel. Quer um exemplo? Imagine a situação do agente que está saindo cheio de compras de um Shopping Center movimentado e entra em um carro de terceiro de mesma cor e modelo, acreditando veementemente se tratar de seu próprio carro. Observe que no exemplo dado o agente não enxerga que está subtraindo um carro de outrem. Objetivamente, pratica o tipo penal do furto, porém não se dá conta disso, pois acredita que está apenas conduzindo o seu próprio veículo. Importante você saber que o erro de tipo está previsto no Artigo 20 do Código Penal, cuja leitura é muito recomendada, haja vista ser este um tema que despenca em concursos públicos e no exame da OAB. Erro de proibição: neste caso o agente enxerga perfeitamente a realidade a seu redor, porém o seu erro incide sobre a compreensão a respeito de uma regra de conduta. O exemplo clássico de todos os livros é o do marido que sabe que constranger uma mulher a fazer sexo com ele é crime de estupro, mas acredita veementemente que se fizer isso com sua esposa não estará praticando nenhum crime, haja vista que na sua cabeça estaria no exercício de um direito de marido sobre a mulher. Feitos estes esclarecimentos iniciais, vamos estudar as situações de delito putativo por erro de tipo e delito putativo por erro de proibição. Antes de ficar desesperado, lembre-se das aulas de excludentes de ilicitude! Sempre que eu falar a palavra putativo você deve ser lembrar da fantasia, ou seja, quando o agente age putativamente ele fantasia uma situação de fato que na verdade não existe. Podemos dizer que o Papai-Noel, o Coelhinho da Páscoa e o Saci- Pererê são personagens putativas? SIM, pois são apenas imaginadas! Não existem de fato (Sorry!). Inicialmente vamos entender a diferença entre erro de tipo e delito putativo por erro de tipo: Erro de tipo X Delito putativo por erro de tipo: No erro de tipo, como você já sabe, o agente, por ter captado mal a realidade que o circunda, realiza uma conduta criminosa sem se dar conta disso. Exemplo disso é o do agente que carrega uma arma verdadeira acreditando ser uma réplica inofensiva. Observe que neste caso o agente acredita que não está cometendo crime algum, mas na verdade está cometendo um crime gravíssimo. Já no delito putativo por erro de tipo o crime existe só na cabeça do agente, sem que configure qualquer tipo penal. Observe que neste caso o agente acredita que está praticando um crime, mas na verdade não está cometendo crime algum! Para não esquecer, lembre do exemplo do agente que carrega consigo uma arma de brinquedo acreditando ser uma arma de fogo verdadeira. Em que pese ele acreditar veementemente que está cometendo crime, na verdade se trata de hipótese de crime impossível previsto no Artigo 17 do Código Penal. Já leu o Artigo 17? Não? Está esperando o que? Erro de proibição X Delito putativo por erro de proibição: No erro de proibição o agente conscientemente pratica uma conduta que sabe ser criminosa, acreditando entretanto ser ela no seu caso específico autorizada pelo Direito. Para lembrar, volte no exemplo do homem que constrange a sua esposa a praticar com ele sexo. Ele sabe que estupro é crime, mas acredita que por ser casado com a vítima pode forçá-la a com ele fazer sexo. Já no delito putativo por erro de proibição o agente pratica conscientemente um fato que para ele é criminoso, mas que na verdade não caracteriza crime algum. Um exemplo disso é o do agente que faz sexo consentido com sua filha maior de 18 anos. Ele acredita que está cometendo um crime gravíssimo e mesmo assim pratica a conduta. Ocorre que apesar o incesto ser uma conduta muito censurada pela sociedade (imoral mesmo, não é?), não representa crime algum. Pois bem! Você já sabe a diferença entre erro de tipo e erro de proibição. Também já sabe a diferença entre erro de tipo e delito putativo por erro de tipo e a diferença entre erro de proibição e o delito putativo por erro de proibição. Vamos agora nos ater ao ERRO DE TIPO! Aprenderemos a seguir a diferenciar as espécies de erro de tipo e isso vai ser muito importante para que você possa entender como o agente vai ser ou não punido pela sua conduta: Espécies de erro de tipo O erro de tipo pode ser: a) Essencial: exclui sempre o dolo, tornando a conduta atípica, pois tem-se que o agente não tem a capacidade de perceber que comete um crime; b) Acidental: não beneficia o agente, pois o agente neste caso tem capacidade de perceber que comete um crime. Por enquanto vamos deixar de ladoo erro de tipo acidental e vamos nos debruçar com maior carinho no erro de tipo essencial, que é aquele que SEMPRE exclui o dolo e às vezes exclui também a culpa. Para sabermos, portanto, quando o erro de tipo essencial vai excluir, além do dolo (SEMPRE exclui, lembra), também a culpa, temos que definir se esse erro de tipo essencial foi inevitável ou evitável. - Espécies de Erro de Tipo Essencial: Lembre-se, o erro de tipo essencial, seja ele inevitável ou evitável, SEMPRE exclui o dolo. A diferença é a possibilidade de punição a título de culpa. 1) Inevitável: É o erro de tipo desculpável, cuja falsa percepção da realidade não 2) Evitável: É o erro de tipo indesculpável, cuja falsa percepção da realidade provém advém da culpa do agente mesmo se considerarmos a cautela do homem médio. da culpa do agente, que deixa de empregar a cautela do homem médio. Tá bom, você já sabe agora que o erro de tipo inevitável SEMPRE exclui o dolo e a culpa, e que o erro de tipo evitável SEMPRE exclui o dolo, mas mantém a punição por CULPA caso haja previsão em lei (lembre-se, nem todos os crimes possuem a previsão por crime culposo. É o caso do roubo, por exemplo, que não admite a modalidade culposa, mas sim apenas dolosa). Agora eu imagino que ficou a seguinte dúvida: Como aferir se o erro praticado pelo agente era evitável ou inevitável? Já sei que no erro inevitável o agente permaneceria em erro mesmo se tomasse as cautelas do homem médio e que no erro evitável o agente apenas recai no erro porque deixou de empregar as cautelas do homem médio. Mas o que vem a ser essa cautela do homem médio? São duas as correntes que tratam deste assunto. Eu já adianto que acho melhor você adotar a segunda corrente, pois ela é a mais moderna e, convenhamos, mais racional. Questão Relevante! Como aferir se o erro era inevitável ou evitável? 1ª Corrente – A primeira corrente vai aferir a previsibilidade da culpa através da analise do comportamento do homem médio. Trata-se da corrente que predomina entre os doutrinadores clássicos. 2ª Corrente – Os doutrinadores mais modernos do Direito Penal não aceitam esta imposição do padrão do homem médio. Para eles a conceituação do que viria a ser este homem médio é muito subjetiva e falha, pois são diversos os fatores sociais, culturais e econômicos que interferem no ideal de homem médio. Esta teoria é a mais adequada, pois vai considerar o agente no momento da conduta a fim de aferir se ele podia ou não evitar a situação de erro. Vamos agora analisar outras duas espécies de erro de tipo: o erro de tipo incriminador e o erro de tipo permissivo. Erro de tipo incriminador X Erro de tipo permissivo a) Erro de tipo incriminador: É previsto no Artigo 20, caput, do Código Penal. É a modalidade de erro de tipo que vimos até agora! Neste caso, a falsa percepção da realidade recai sobre uma elementar (requisitos sem os quais o crime deixa de existir) ou uma circunstância do tipo penal (dados acessórios que podem repercutir na quantidade da pena). OK! Já vimos bastante coisa sobre o erro de tipo incriminador, o que eu chamo de erro de tipo comum. Vamos ver agora o erro de tipo permissivo. b) erro de tipo permissivo: Previsto no Art. 20, §1º, CP. O que temos neste Artigo? As famosas descriminantes putativas, as quais acabamos vendo no início desta apostila. No erro de tipo permissivo o erro recai sobre um pressuposto que interfere ou não na incidência de uma excludente de ilicitude. São as chamadas descriminantes putativas por erro de tipo (Quais são elas? legítima defesa putativa, estado de defesa putativo, etc). Um exemplo de erro de tipo permissivo é o do agente que se depara com um sósia do seu inimigo, o qual põe sua mão na cintura. O agente, acreditando que está prestes a ser atingido por um tiro, dispara contra o sósia, matando-o. Agora eu quero que você se lembre da fórmula a seguir: Erro de Tipo Essencial Escusável Exclui o dolo e a culpa Inescusável Exclui o dolo, mas não a culpa ERRO DE TIPO PERMISSIVO = DESCRIMINANTES PUTATIVAS Partindo, portanto, do pressuposto que o erro de tipo permissivo corresponde às descriminantes putativas, devemos indicar quais são estas discriminantes fantasiadas pelo agente: - Espécies de descriminantes putativas: 1) Erro relativo aos pressupostos de fato de uma causa de exclusão da ilicitude: Consiste no erro no qual o agente desconhece uma circunstância do fato que impede a existência de uma causa de exclusão da ilicitude. Exemplo clássico é o do agente que encontra seu inimigo na rua e, ao notar que ele coloca as mãos no bolso da jaqueta, acredita se tratar de um movimento de saque de uma arma de fogo e, para repelir a injusta agressão imaginada (putativa), saca seu revólver e dispara contra o inimigo, vindo a saber posteriormente que este encontra-se cego e que sequer o havia percebido enquanto caminhava pela rua. Esta primeira espécie de erro quanto às descriminantes (erro permissivo) possui natureza diferente dependendo da teoria da culpabilidade que se adote: a) Teoria limitada da culpabilidade: É capitaneada por Damásio de Jesus e Francisco de Assis Toledo. Para esta teoria o erro relativo aos pressupostos de fato de uma causa excludente de ilicitude corresponde ao erro de tipo permissivo (que significa o mesmo que descriminantes putativas). Esta teoria limitada da culpabilidade é a que é por nós adotada. Quais as consequências da adoção desta teoria? Isso vai depender (mais uma vez) da análise da inevitabilidade do erro (observem que são as mesmas regras que adotamos quanto ao erro de tipo incriminador essencial): i) Se o erro for inevitável, há exclusão do dolo e da culpa, tornando o fato atípico. ii) Se o erro for evitável, exclui-se apenas o dolo, persistindo a punição pela culpa caso haja expressa previsão legal, nos termos do §1º, do Artigo 20, CP. b) Teoria normativa pura da culpabilidade: É capitaneada por Cezar Roberto Bittencourt e Guilherme Nucci. Para eles, o erro relativo aos pressupostos de fato de uma causa de exclusão da ilicitude tem natureza jurídica de erro de proibição (e não de erro de tipo permissivo, como na teoria limitada da culpabilidade). A adoção desta corrente trás consequências drásticas para o agente, tudo a depender (novamente) da evitabilidade do erro (neste caso, erro de proibição): i) Se o erro for inevitável mantém-se o dolo e a culpa, mas pode haver a exclusão da culpabilidade do agente; ii) Se o erro for evitável persistirá, além do dolo e da culpa, também a culpabilidade, podendo a pena ser diminuída de 1/6 a 1/3, nos termos do Artigo 21, caput, CP. 2) Erro relativo à existência de uma causa de exclusão da ilicitude: Neste caso o agente imagina a incidência de uma causa de exclusão da ilicitude que na verdade não existe. Observe que neste caso, diferentemente do que acontece no erro relativo aos pressupostos de fato de uma causa excludente da ilicitude, o agente enxerga corretamente a realidade que o circunda, porém acredita estar autorizado a praticar o crime em uma determinada circunstância por achar que age em excludente de ilicitude. É a situação do indivíduo que, após encontrar sua mulher na cama com um amante, acreditando estar agindo em uma imaginada legítima defesa da honra, mata ambos. Neste ponto a doutrina é pacífica em compreender que o erro relativoà existência de uma causa de exclusão da ilicitude tem natureza de erro de proibição. Trata-se, neste caso, de descriminante putativa por erro de proibição. Como aconteceu na primeira hipótese, nesta segunda a punição do agente vai depender da análise da evitabilidade do erro: i) Se o erro for inevitável: subsiste o dolo e a culpa, havendo entretanto a exclusão da culpabilidade; ii) Se o erro for evitável, persistirá, além do dolo e da culpa, também a culpabilidade, podendo a pena ser diminuída de 1/6 a 1/3, nos termos do Artigo 21, caput, CP. 3) Erro relativo aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude: Está umbilicalmente ligado ao excesso no uso das causas de exclusão da ilicitude. É o exemplo do proprietário de fazenda que acredita poder matar todo e qualquer indivíduo que invada a sua propriedade. O erro relativo aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude tem natureza de erro de proibição¸ ou seja, descriminante putativa por erro de proibição. Nesta terceira situação (do excesso, lembre-se) a punição do agente vai depender da análise da evitabilidade do erro cometido por ele: i) Se o erro for inevitável: subsiste o dolo e a culpa, havendo entretanto a exclusão da culpabilidade; ii) Se o erro for evitável, persistirá, além do dolo e da culpa, também a culpabilidade, podendo a pena ser diminuída de 1/6 a 1/3, nos termos do Artigo 21, caput, CP. Imagino que depois da análise destas três situações de descriminantes putativas você deve estar um pouco confuso. Para te ajudar, elaboramos uma tabela resumida a respeito da natureza das três hipóteses que levantamos acima: Tabela resumida - Descriminantes putativas Descriminante putativa Teoria limitada da culpabilidade Teoria normativa da culpabilidade Erro relativo aos pressupostos de fato de uma causa de exclusão da ilicitude Erro de Tipo. Erro de proibição. Erro relativo à existência de uma causa de exclusão da ilicitude Erro de proibição. Erro de proibição. Erro relativo aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude Erro de proibição. Erro de proibição. Muito bem! Espero que você tenha chegado até aqui sabendo diferenciar erro de tipo de erro de proibição, delito putativo por erro de tipo e delito putativo por erro de proibição, erro de tipo permissivo e erro de tipo incriminador e por fim erro de tipo essencial. Faltou falarmos do erro de tipo acidental, lembram-se? É aquele que diverge do erro de tipo essencial (se por acaso você já se esqueceu do que é erro de tipo essencial, recomendo muito que volte até o início da apostila e relembre!). Vamos, portanto, falar de erro de tipo acidental. Erro de Tipo Acidental: Conceito: é aquele erro de tipo que não recai sobre algum elemento constitutivo do tipo, mas sim sobre circunstâncias qualificadoras, agravantes genéricas, causas de aumento de pena ou fatores irrelevantes da figura típica. Consequência jurídica: IMPORTANTE! Esse tipo de erro acidental (independentemente da modalidade em que for praticado) não afasta a responsabilidade penal (o que você já sabe que não acontece com o erro de tipo essencial). Neste caso, inclusive, tanto faz se o erro for evitável ou inevitável. De qualquer forma o agente responderá pela conduta que praticou. O erro de tipo acidental pode ser de seis tipos diferentes: 1) Erro de tipo acidental sobre a pessoa: Também é conhecido por error in persona. Consiste no erro quanto à vítima a ser atingida, que no final das contas é irrelevante, haja vista que não isenta o agente de pena. Além disso, conforme dispõe o Artigo 20, §3º, CP (esse artigo é muito importante! Não deixe de lê-lo muitas vezes!), deverão ser levadas em consideração as características da vítima virtual (aquele a quem o agente pretendia atingir) e não da vítima real (aquele que efetivamente, por erro quanto à pessoa, foi atingida pelo agente. Exemplo clássico é o do agente que pretende matar seu irmão e, em razão da baixa luminosidade no local em que se encontra, dispara contra uma terceira pessoa que fisicamente era muito parecida com seu irmão. Observem que neste caso a vítima real é um terceiro que apenas morreu porque era muito parecido com o irmão do agente. Neste caso irá incidir com toda a certeza a agravante genérica do Artigo 61, inciso II, alínea "e", do Código Penal (Não deixe de ler esse artigo também), pois deverão ser consideradas as características da vítima virtual (aquele que o agente queria atingir), e não da vítima real. 2) Erro sobre o objeto: Neste caso o erro recai sobre objeto diverso daquele pretendido pelo agente, consistindo em erro irrelevante, haja vista não interferir na tipicidade penal. A doutrina majoritária defende que o agente deve responder pelo objeto efetivamente alvo da conduta, e não por aquele que o agente pretendia atingir. Um exemplo válido é o do agente que furta um relógio falso acreditando estar subtraindo um relógio muito valioso. Neste caso, o relógio subtraído, fabricado em latão, tem um valor infinitamente menor do que aquele desejando, podendo ser inclusive aplicado o princípio da insignificância. 3) Erro sobre as qualificadoras: Neste caso o erro recai sobre uma qualificadora de um determinado tipo legal, onde o agente acredita estar cometendo um delito qualificado quando na verdade está cometendo o mesmo crime na sua modalidade comum. É o exemplo do Sujeito que, mediante fraude, consegue as chaves de um veículo e, acreditando estar usando uma chave falsa (qualificadora do crime de furto), subtrai um determinado veículo. Importante consignarmos que neste caso o agente deverá responder pelo crime de furto simples, e não pelo crime de furto qualificado. 4) Erro sobre o nexo causal (aberratio causae): Também chamado de dolo geral por erro sucessivo. Neste caso o erro recai sobre o meio de execução do crime (erro sobre a relação de causalidade), onde o agente, acreditando ter consumado o crime com sua conduta inicial, pratica uma segunda conduta com finalidade diversa, constatando-se ao final que na verdade fora a sua segunda conduta a responsável pela consumação do delito. Trata-se de um erro irrelevante. O exemplo clássico dos livros é o do agente que, querendo causar a morte de seu inimigo, administra-lhe veneno. Uma vez vendo seu inimigo desmaiado, o agente, acreditando estar este morto e, com o objetivo de se desfazer do corpo, joga-o de uma ponte, vindo posteriormente a se descortinar que a morte não havia sido causado pelo veneno, mas sim pelo afogamento. Nesta situação, o agente deverá responder por homicídio qualificado pelo emprego de veneno, haja vista que era este o seu objetivo/conduta inicial. Para você não se esquecer da aberratio causae, lembre- se que esta foi a tese da acusação no caso envolvendo a menina Isabella Nardoni! 5) Erro na execução (aberratio ictus): Previsto no Artigo 73, CP. Nada mais é do que o erro no ataque em relação à pessoa a ser atingida. Nele, o agente quer atingir "A", mas por erro na execução do crime acaba por atingir "B". Esta modalidade de erro acidental é popularmente chamada de erro por falha na pontaria. Quero que você observe que neste caso também é aplicada a regra do Artigo 20, §3º, do Código Penal (erro sobre a pessoa), devendo ser consideradas as condições da vítima virtual (aquele a quem era dirigido o ataque), e nãoda vítima real (aquele que efetivamente, por erro na execução, foi atingida). Erro sobre a pessoa X erro na execução Não quero que você confunda o erro acidental sobre a pessoa com o erro acidental na execução. São situações BEM diferentes! Vamos entender? No erro sobre a pessoa o agente apenas confunde a vítima com terceiro (lembre-se daquela situação envolvendo baixa luminosidade no local do crime e pessoas bem parecidas fisicamente). Neste caso, a vítima real sequer sofre o risco de ser atingida com a conduta, pois ela (a conduta do agente) é dirigida diretamente, ainda que por erro, contra a vítima virtual (aquele que efetivamente é atingida). O mesmo não ocorre no caso do erro na execução, onde não há qualquer confusão quanto à pessoa que se deseja atingir. Neste caso, o agente sabe quem pretende atingir, porém, por uma aberração no ataque (má pontaria é o exemplo clássico), acaba por atingir pessoa diversa. Quero que você se lembre do seguinte: No erro na execução a vítima real também sofre o risco de ser atingida, apenas não o sendo por erro na execução por parte do agente criminoso. Não acaba por aqui! Quando falamos em erro na execução abrimos a possibilidade de outras pessoas (dentre elas a vítima virtual) serem atingidas pelo ataque do agente, certo? Essa aberração no ataque pode ser tão drástica a ponto de fazer com que o agente atinja não só a vítima virtual, mas também a vítima real! É o que veremos a seguir: Espécies de erro na execução a) Erro na execução com resultado único: Nesta modalidade de erro na execução a vítima real (aquela a quem efetivamente era dirigido o ataque) não suporta qualquer tipo de lesão. Aplica-se, neste caso, o disposto no §3º do art. 20, CP, ou seja, as circunstâncias especiais da vítima virtual são consideradas em detrimentos daquelas relacionadas à vítima real (aquela que efetivamente é atingida pelo ataque). Cuida da primeira parte do Art. 73, do Código Penal. b) Erro na execução com resultado duplo: Neste caso o ataque atinge tanto a vítima real (que inclusive pode ser mais de uma pessoa) como a vítima virtual. São ocasionados dois resultados: o pretendido e o involuntário. Aplica-se a esta situação a regra do concurso formal próprio previsto no Art. 70, caput, primeira parte, do Código Penal, devendo o magistrado aplicar a pena do crime mais grave, a qual deverá ser aumentada de 1/6 até 1/2 (de acordo com o número de crimes praticados a título de culpa). ATENÇÃO! O erro na execução com resultado duplo apenas é admitido quando os demais crimes forem cometidos culposamente, sendo certo que, caso os demais crimes tenham sido cometidos em verdadeiro dolo eventual deverá ser aplicada a regra do concurso formal impróprio (sistema do cúmulo material) com a consequente somatória das penas - é a segunda parte do Artigo 70, do Código Penal. 6) Resultado diverso do pretendido (aberratio delicti): Encontra previsão no Art. 74, do Código Penal. Neste caso o agente deseja praticar um crime, porém acaba praticando um diferente daquele inicialmente pretendido. Difere-se do erro na execução porque neste caso a relação é de crime X crime (e não pessoa x pessoa existente no erro na execução). Exemplo interessante é o do agente que arremessa uma pedra na rua para quebrar a vidraça da casa de seu vizinho e, por erro, acaba atingindo terceiro desconhecido que caminhava tranquilamente pela rua. Este tipo de erro, conforme vimos também no erro na execução, comporta duas possibilidades distintas: Espécies de resultado diverso do pretendido a) Resultado diverso do pretendido com resultado único: É previsto na primeira parte do art. 74, CP. Nesta modalidade, o agente atinge apenas o bem jurídico diverso do pretendido, devendo apenas responder pelo crime cometido na modalidade culposa (desde que haja expressa previsão legal); b) Resultado diverso do pretendido com resultado duplo: É previsto na segunda parte do art. 74, CP. Neste caso o agente atinge o resultado pretendido a título de dolo e também o resultado secundário a título de culpa. Aplica-se, neste caso, a regra do concurso formal, devendo o magistrado utilizar a pena do crime mais grave, a qual deverá ser aumentada de 1/6 até 1/2 (de acordo com o número de crimes praticados a título de culpa). ATENÇÃO! A regra acima exposta apenas é aplicada caso o resultado previsto como crime culposo for mais grave que o doloso. Em caso negativo, ou caso não haja previsão para punição pelo crime culposo, não deverá ser aplicada esta regra. Por exemplo, se o agente, com o intuito de matar seu inimigo, dispara com uma arma de fogo em sua direção e acaba por atingir apenas a sua vidraça, deverá responder pela prática do homicídio tentado. A lógica é a seguinte: O crime de dano não suporta a modalidade culposa (e mesmo que aceitasse, o crime de dano é deveras menos grave que o de homicídio), razão pela qual deverá ser imputada ao agente a prática do homicídio doloso tentado. Pronto! Acabamos de ver o que havia de mais importante a ser observado quanto ao erro de tipo e ao erro de proibição. Faltou apenas falarmos do erro de tipo determinado por terceiro, que é previsto no Artigo 20, §2, do Código Penal. Erro de Tipo determinado por terceiro: Conceito: São as hipóteses em que o agente pratica determinada conduta com uma falsa percepção da realidade em razão da atuação de um terceiro denominado de agente provocador. Neste caso, temos que a falsa percepção da realidade que acomete o agente não é espontânea, mas sim provocada. Este erro pode ser provocado dolosamente ou culposamente pelo agente provocador. Se agir o agente provocador dolosamente, deverá responder a título de dolo pela conduta praticada pelo agente provocado. O agente provocado, por sua vez, ficará impune neste caso apenas se o seu erro for inevitável (desculpável, lembra-se?). Se por outro lado, o agente provocado agir por erro evitável (indesculpável, lembra?) poderá responder a título de culpa. Se, por outro lado, o agente provocador agir apenas com culpa, deverá responder apenas pela culpa se houver previsão legal e o erro for evitável. Se o erro por inevitável, deverá tanto o agente provocador quanto o agente provocado impunes. CONCLUSÃO / CONTATO DO PROFESSOR Espero que este resumo tenha te ajudado a entender a complexidade envolvendo ERRO DE TIPO e ERRO DE PROIBIÇÃO. Você deve ter notado (espero!) que o tema não é de difícil compreensão. O que dificulta o seu aprendizado é a quantidade de possibilidades e classificações. A possibilidade de engano nestes casos é enorme! Por isso, leia atentamente todos os artigos de lei citados e faça revisões regulares nesta matéria! Não deixe também de sempre fazer exercícios destes temas, pois eles auxiliam muito a fixação da matéria. Você encontrará questões sempre atualizadas e comentadas na minha página pessoal do Facebook. Bons estudos! Boa aprovação! Conte sempre comigo! Prof. Rafael Paiva Ainda tem dúvidas? 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