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Marie-Hélene Brousse "O inconsciente é a política" Seminário Internacional Organização Carmen Sílvia Cervelatti Escola Brasileira de Psicanálise - São Paulo 1 • edição - Maio de 2003 São Paulo - SP facebook.com/lacanempdf Tnnscriç&s Eliana Machado Figueiredo (português) Maria Noemi de Araújo (francês) Revisão tknica Carmen Sílvia Cervelatti Sandra Arruda Grostein Rmslo de portugub Celso William Cavicchia Notu bt'"bliogr6ficas Carmen Sílvia Cervelatti Eliana Machado Figueiredo Tradução simuldnca das Conferencias Clary Khalifeh Projeto grüiço e editoração clctrõnica Duo Creative Designers Agradecimentos especiais Maria Bonomi Marizilda Paulino Silvana Cardoso de Almeida Seminário Internacional promovido pela Escola Brasileira de Psicanálise - São Paulo, Novembro de 2002 Texto não revisto pela autora Dados Internacionais de Catalogação na Public:açlo (CIP) (Cimara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Brousse, Marie-Hél!ne. �o inconsciente é a política" I Marie-Hélêne Brousse. - São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, 2003. ISBN 85-89632-01-6 Bibliografia 1. Psicanálise e inconsciente 2. Barros, Romildo do Rego 3. Grostein, Sandra Arruda 4. Nicéas. Carlos Augusto li. Título CDD-150.195 índice para catilogo sistem!tico: 1. Psicanálise: inconsciente 150.195 • Sumário O inconsciente é a política Marie-Hélene Brousse Apresentação Sandra Arruda Grostein Prefãcio Angelina Harari Conferências O analista e o político: "Alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época" • A psicanálise no tempo dos "mercados comuns e dos processos de segregação" O futuro da psicanálise depende da .. insistência do real" 07 09 13 33 59 Apresentação - -� -- - Sandra Arruda Grostein Este lhTo é uma tentativa de recuperar e preservar na escrita um bom encontro de psicanalistas preocupados com o futuro da psicanálise e de sua inserção na cultura. Pois, "se o sucesso da psicanálise é seu fracasso", que futuro podemos esperar para ela? O eixo do livro se sustenta nas três conferências proferidas por Marie-Hélene Brousse em São Paulo - a primeira O analista e o político: "Alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época", a segunda A psicanálise no tempo dos "mercados comuns e dos processos de segregação" e, finalmente O futuro da psicanálise depende "da insistência do real". Além delas contamos com as intervenções dos três debatedores, Romildo do Rêgo Barros, Sandra Grostein e Carlos Augusto Nicéas, e com as contribuições dos coordenadores Rômulo Ferreira da Silva e Carmen Sih·ia Cervelatti. Há também a introdução de Cássia Maria Rumenos Guardado, o encerramento que coube a Maria do Carmo Dias Batista e as perguntas do público. Marie-Hélene Brousse é psicanalista, membro da Escola da Causa Freudiana de Paris e os outros ou são membros da Seção São Paulo ou da Escola Brasileira de Psicanálise. As duas Escolas fazem parte da Associação Mundial de Psicanálise. O leitor \'ai encontrar, nas páginas seguintes, um debate muito 7 interessante, tendo a psicanálise de orientação lacaniana como bússola para abrir os caminhos ainda não explorados das aproximações e dos distanciamentos na relação da psicanálise com as psicoterapias. As propostas apresentadas são otimistas quanto ao futuro, pensado a partir da possibilidade de a psicanálise "desembaraçar-se das suas melhores amigas", a ciência (aplicada à saúde) e a psicoterapia. O Seminário, "O inconsciente é a política", ocorreu em novembro de 2002, no anfiteatro da Pinacoteca do Estado de São Paulo, como uma atividade que marca as relações de troca de trabalho entre as Escolas da AMP, uma iniciativa da Seção São Paulo da EBP. O título, "O inconsciente é a política", sugestão de Jorge Forbes, foi recortado de uma articulação de Jacques Lacan feita no Seminário XIV, revisitada por Jacques-Alain Miller em seu curso de 2001-2002, no âmbito da Seção Clinica de Paris VIII. Os significantes que movimentam os analistas da AMP e os convocam à pesquisa estão amplamente representados neste livro. Uma citação de Freud, no "Mal-estar na civilização", utilizada por Marie-Hélene Brousse, concentra e condensa nosso objetivo com a publicação deste livro: "As pessoas, em todos os tempos, deram o maior valor à ética, como se esperassem que ela, de modo específico, produzisse resultados especialmente importantes. De fato, ela trata de um assunto que pode ser facilmente identificado como sendo o ponto mais doloroso de toda civilização. A ética deve, portanto, ser considerada como uma tentativa terapêutica - como um esforço por alcançar, através de uma ordem do superego algo até agora não conseguido por meio de quaisquer outras atividades culturais. Como já sabemos, o problema que temos pela frente é saber como livrar-se do maior estorvo à civilização - isto é, a inclinação, constitutiva dos seres humanos, para a agressividade mútua"1• Nota ' Freud S. "O mal-estar na ci,·ilizaçào'' ( 19.29): Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. X..\] (19.27-1931); Rio de Janeiro: Imago Ed., 1974, p. 167. Prefácio Angelina Harari Este é um livro que mostra não somente três conferências, sobre um tema candente da psicanálise, exposto com preciosismo pela autora, mas também o trabalho dos comentadores aliado ao atento público, este último constituído essencialmente pela comunidade vinculada à Seção São Paulo da Escola Brasileira de Psicanálise. As conferências de Marie-Hélene Brousse inserem-se no marco de uma atividade contínua da EBP: os assim chamados Seminários do Campo freudiano. Nestes, por um lado, as Seções/Delegações da EBP coordenam-se, duas a duas, para convidar um colega do Campo freudiano, e por outro escolhem, uma a uma, o tema que se articula melhor ao trabalho da comunidade local. No convite feito à autora, levou-se em consideração o enlace inconsciente/política, cuja abordagem anterior de Lacan foi atualizada por Jacques-Alain Miller em maio de 2002. A atualização ocorreu no marco da criação de outra Escola da Associação Mundial de Psicanálise, dessa vez na Itália. Marie-Hélene Brousse procede a uma análise do tema o inconsciente é a política fundamentada em citações marcantes do texto de Lacan, chamando a atenção não somente pela época, como ainda pela inspiração com que foram ditas. Tais citações foram extraídas dos seguintes textos: "Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise"'. de 1953; "A direção do tratamento e os princípios de seu 9 poder", de 1958; "A psiquiatria inglesa e a guerra", de 1947; "Proposição de 9 de outubro ... " de 1967. Além disto hã nas conferências referências mais gerais de Lacan e de Freud, assim como do curso de Jacques-Alain Miller na Universidade de Paris VIII. O leitor terá oportunidade de se deparar com várias chaves lógicas encadeando os três capítulos, são vários os desdobramentos possíveis aos quais a autora nos conduz. Eis, à guisa de introdução do leitor ao livro, um, entre vários possíveis, encadeamento lógico dos capítulos a respeito do tema O inconsciente é a política: • na primeira conferência a autora mostra como a dialética do desejo não é jamais individual no campo analítico; portanto o inconsciente está no cerne da política e isso se reflete no interesse do analista em alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época: • em seguida, a conferencista marca a relação entre-a união dos mercados (globalização) por um lado, e os processos de segregação por outro, como a universalização em que, com o intuito de anular as diferenças, vê a segregação ressurgir; • por último, e sempre partindo de Lacan, postula que o futuro da psicanálise está ligado ao fracasso em satisfazer a demanda do mestre. Falta apenas dizer que esta publicação acontece num momento institucional importante da Seção São Paulo, uma vez que a Editora/Diretora Sandra Grostein (2001-2003) termina sua gestão. O livro fica como resíduo-letra do trabalho de uma Diretoria. 10 • INTRODUÇÃO "O inconsciente é a política" - -- ----�- - �- --- -- - - - - Cássia Maria Rumenos Guardado "Eu não digo a política é o inconsciente, mas simplesmente, o inconsciente é a política". Essa frase de Lacan, no Seminário 14, A lógica do fantasma1 , foi colhida por Jacques-Alain Miller e deu base às suas (dele, Miller) intuições milanesas para desenvolver as relações entre o inconsciente e a política. O primeiro ponto a se destacar é a preferência dada por Lacan à afirmação o inconsciente é a política, determinando-lhe a "competência", como sendo a de um psicanalista, pois propõe uma definição do inconsciente como aquilo com que um analista tem (sempre) que lidar. A fórmula o inconsciente é a política caminha não só com a definição de Lacan de que o inconsciente é ó discurso do Outro (A), na medida em que o Outro é dividido e não existe como "Um" (elaboração própria a seu primeiro ensino), como também com a asserção de que o inconsciente tem a ver com o laço social, justamente porque não há relação sexual. Para Lacan, o inconsciente se produz na relação do sujeito com o Outro (A) e, depois (em seu ensino), no encontro do sujeito com o Outro sexo. Assim, o inconsciente tem a ver com e se produz a partir do laço 11 O inc:on<.:i�n,� I a polu,.: a social, e sendo o inconsciente aquilo com que um analista tem sempre a ver, o analista, e a psicanálise, têm a ver com o laço social, aquilo que faz o laço com o Outro e com os outros, aquilo que o coloca frente a frente com a cidade e com a subjetividade de sua época. Sem abrir mão de seus princípios, sem abdicar daquilo que faz a sua particularidade, a fratura e a "ex-sistência" do Real, a psicanálise faz face à lógica da totalização, (de)monstrando o furo, o equívoco, fazendo vacilar o sintoma, liberando o sinthome, fazendo aparecer o laço social como forma de suplência ao Real. O witz de Freud é, para Lacan, a forma por excelência na qual o inconsciente se mostra político, fazendo laço social, laço com o O utro, seja através do jogo do significante, seja do jogo com a letra, como faz Lacan, ele mesmo, ao final da aula de 10.12.1976, no Seminário O Sinthomli. Ali ele joga com seu auditório e seu próprio nome, Jacques Lacan, para dizer-lhes que estava satisfeito de até onde tinha chegado com eles aquele dia e que assim eles tinham sua "claque'.', mesmo sua ')aclaque", a que ele acrescentaria um han!, o que lhe dava um alívio, e assim ele fazia de seu nome próprio, um nome comum. Eu diria aquilo que faz laço com o Outro e com os outros, como Joyce, que pode se tomar, com o seu Here Comes Everybody, Homem Comum. Enfim, a bela e justa tradução em português do livro homônimo de Anthony Burgess sobre Joyce. É o que poderemos acompanhar e discutir nesse Seminário Internacional do Campo freudiano, nestas três conferências, com a convidada Marie-Hélene Brousse e o trabalho e o debate, sempre na linha da transferência epistêmica, de nossos debatedores. Notas ' Lacan, J. Seminário 14, A lógica do fantasma. Seminário inédito. ' Lacan, J. Seminário 23, O sinthoma. Seminário inédito. 12 lª CONFE�NCIA 26/11/2002 • PRIMEIRA CONFERÊNCIA 26 l 1 '2002 O analista e o político: "�Jca�çar,em seu horizonte1a subjetividade de sua época" - -- -- Marie-Hélcne Brousse O tema desta conferência, amplamente discutido no âmbito da Associação l\lundial de Psicanálise, interessa à medida que particulariza o momento arual naquilo gue concerne à psicanálise. Vamos resumi-lo --t em algumas frases: {� sucesso da terapêutica,I e em particular da p�oterapêutica, com·�-�-º-�!��Q!ico,�_ctncipal!.)lente na Europa, a ��nunciar legalmente_a respeito do seu exercício. Dessa maneira, o lugar_da psicanálise em relação às psicoterapias e ao campo da saúde mental se encontra questionado. para �esponder e se situar com relação a esses diferentes pontos, a psicanálise busca, a partir dos seus próprios 1 �' fundamentos. analisar a época na qual ela está inserida e a partir daí se cesp.2.nsabilizar por seu lugar./Esses três seminários serão dedicados a um aprofundamento sobre esses diferentes pontos. O primeiro tema, O analista, e não a psicanálise, e o político. O desenvolvimento seguirá a orientação dada por Lacan, o qual conduzirá a um posicionamento. Um silêncio é rompido Primeiramente. devemos constatar que não é uma tradição dos analistas assumir ou tomar uma posição política publicamente. Isso já ocorreu na história da psicanálise, mas nesses últimos anos os analistas 15 O ,noon.5..·:�r:tt> � a poli11 .. ·� � ( >V ff !.le.; n·u ..J.-O"í 'l\"t>'(' e J_,;� cu.\ i"ll a..,......_,o. t,' �. (<.'). C-cY\ Í-.J r.,;._ l.e,.. , permaneceram em silêncio. As Cartas à opinião esclarecida, de Jacques-Alain Miller, vieram romper um longo silêncio. Miller, que criou a Associação Mundial de Psicanálise (AMP), havia reservadQ. o seu trabalho à teoria e à clínica analítica se dirigindo essencialmente a um público de analistas, no interior de uma comunidade de trabalho. No ano passado, pela primeira vez, depois de vinte anos, ele saiu do seu silêncio e se dirigiu à "opinião", como ele chamou, além das instituições. Portanto, podemos dizer que ele retomou o seu lugar na cidade. Ele o fez por razões éticas e também por razões ligadas ao 4r avanço e\!_ defesa da psicanálise lacaniana na nossa sociedade, Eº início do século_ XXI. .. Defesa porque a psicanãlise é mui�o freqüentemente atacada. Ela se encontra sempre em uma situação particulitr . e .. 111 relaç!9 ªQ QO<!� É raramente reconhecida na universidade e, se está presente no campo da saúde mental, é mais pel� fato de os analistas,,um a um, optarem por este trabalho. Talvez esteja bem assim, porém!isso implica gue o discurso analítico· não esteja po \.-!) mesmo Iug_!,I" 9.\:!e os outros discursos, É necessário tomá-lo conhecido., O analista e a política Para refletir sobre qual a !.�l�<;>.fu11damental que o analista tem com a dimensão política1 a partir do ensino de Lacan, usamos duas referêncjas. que não são exatamente da mesma época, às quais _acrescentarei uma terceira. Foram escolhidas pela clareza. A primeira, "alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época"', citação de "Função e campo da fala e da linguagem em _psicanálise", texto de\ 1953,,no qual Lacan enuncia claramente, pela primeira vez, a tese que irá orientá-lo em sua leitura de Freud e re.valuciaoar a psicanáijse. É o momento em que Lacan apresenta o axioma "o inconsciente é estruturado como uma linguagem", quando se inicia a orientação estruturalista da psicanálise e se articula o avanço da teoria do inconsciente com o da lingüística. No campo analítico, ele diz que a dial�tica do desejo não é jamais •f ' ,", , µ/ . --: ().1v1.l{). '( �;",, �-l, ,, //Oíl , ;J -on :t C,{_ ' ' . ( ' ') / '.�Ç,T).l,.:l.,-1.J. � �(>",�{JW) 16 - - ;, j, i 1 ft- --',' (/) t ., ., . �- �·�J 7 -, :1 t'Ci € -  z ;d; ·, é-u i:1/. · - � · ." ' MaricaHêléne Broussc .' , . . -, t f1 . tw ' '-'Coi<S �-.hv• . " o " '"' " <'.\ >'• e�� • / ' , /' /. - . � . / (. / � - . _,,,!· . --�- rv(Á /<')V<' ., ·,, i• e-1 ,l(;rtA -, u;, q �yc, · � �u -,1._if/_".':;,--c--, �fr H e v.q ,1 ac, . indiv�<!_llal_; Não vamos tirar as conseqüências disso'imediatamente.\Não 'lE..,{; há nada que pareç_ª mais individual do que fazer uma análise. O sujeito fala a respeito do que el��m de mais íntimo, do gue ele tem de mais singular. confessa o seu inconfessável.\Eis aí uma p_r:áH�_a qye .Qª_rec� centrada no indivídu�_que aconte�e den_tr� de um consultório, 1distante d�s laços soc��is que � suj�_ito estabelece, isto é, distante do coletivo\ ,2 q�e quer di�er então "a dialética não. é individual':J Isso faz, evidentemente, referência ao inconsciente estruturado como uma linguagem., Na perspectiva ai_ialítica, a oposição individual/coletivo não é válida, e q desejo que o sujeito visa a decifrar é sempre o deseio do Outro, uma vez que passa pelos desfiladeiros do significant� --===- -Além disso, Lacan sublinha n�L!,inguagem\ tanto sua ! natureza histórica como també� sistêmica,J um sistema diferente conforme as lín�.t Ele até se perguntou se os japoneses têm um inconsciente, levando-se em conta a natureza da língua japonesa. Portanto, existe 1historicismo da língua, ela traz em si a história e os traços fundamentais da civilização. É nessa perspectiva que podemos compreendei o que ele dirá mais tarde: o inconsciente é lítico - essa proposição que, sem a referência ao desejo do Outro, nos esforçaríamos para considerar evidente. Em Milão2, J.-A. Miller, relembrou que\a política é o inconsc_ient�fa perguntou: será que o senso comum compreende isso? P��ig_'!�-� lapsos do_s_ _políti<;o� e depois os interprete, e intel]!_�te--ª-_ 'Ô®_política como� interpretam os fenômenos de formação do inconsciente. Ele retoma a proposição dizendo:�'? mconsc1ente e a poHiicaJ que está em defas.�� à com relação ª-�s� (?rientação do senso comum,\�Êo1Jtica e o!!Jsj}aicZen!�) · Miller ressaltou algo que é muito preciso: é modéstia de Lacan quando ele diz isso. Ele é modesto, pois afinal de contas ele dá uma definição do inconsciente. Para um analista é perfeitamente legítimo e mesmo desejável. Ele não _ � �j_!__e_ <;mr _\ID"!a definicào 9.9._@líti�9. Q_gµe afinal �e_ ç_Qntas nãQ_�flll nada_mlli�_do ql!�_uma interpretação se!vagem. Tudo isso nos conduz à expressão em questão,}, levando-s� c�nta o fato de 9.1Je a dialética do desejo não é indiY.idua.1.Jexige-se do - --·- - -- __ ... 17 '- = ..... • "'' ' - .... . � - ......._,...,... � . ... - . -- - - {' - , , �lista que ele se interesse pela dimensão_d.Q .I>.ºlítico e da cidDde. Lacan chega ao ponto de dizer que aquele que não quiser se interessar por isso, não pode ser analista. Eu vou citar a frase inteira. Ele fala do analista: "Que antes renuncie a isso, i>_oi:t--ª�tºi. q!-!_ef!1_ não �e_gujr alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua, �oca. Pois, como poderia fazer fie seu ser o ei_xo de tantas vi�s 19uem nada soubesse da \dialética gue o compromete <;om essas ,l;j4as num movimento àmhó�3 • É uma frase belíssima, em primeiro lugar, porque é uma definição do trabalho do analista: "fazer de seu ser o eixo de tantas vidas". Não é dessa forma que ele falaria a respeito disso mais tarde, porém um ponto permaneceu constante até o final do seu ensino: que a 1 �áti��_ do analista \o compromete em seu próprio se�. Além disso, é interessante a forma como ele fala dos analisandos: �·tantas vidas'� mostrando que a experiência analítica do analisando é uma experiência que não �nas terapêutica e sim uma.experiência étiça, que col� _questão os fundamentos essenciais de seu destino. ,A ruào_�.alo analista deve se interessar ��a s��jetividade de sua época �e�� )vidas são tomadas �<!_ �jal�tJcl! 4� u111 _m��i!!!_ent� _ sir1_!�óli�2· Lacan definiu como tal o que Freud chamou de "civilização" - 1moviment� simbólico da cjvilizacàDNÉ isso que o analista deveria poder decifrar. Podemos dizer que para Lacan existe, do ponto de vista do analista,,um imperativo de d_ecifr�!]lento do movim�nto simbóliç_o, o que ele mais adiante no texto chamará de ('a espiral a que o arrasta su� Jpgca".\Q__ecifrar, portanto, o Outro gµei a Qutm si���nguanto efeito da língua. __ i;_o?emos dizer� se trata de um dever de saber. É a _primeira relação que o analista_ tem _ com � política.l Poderíamos representar isso com o materna que Lacan apresentou desde então. \Tr<!ta-se de decifrar S (fJ,_ 01c1 sej�.1. o significante do Ou!rº--�-e n㺠existe, que só existe sob essa forma de significante, do movimeot9 ---== simbólico. Pode parecer paradoxal associar o Outro que não existe e decifrar o movimento simbólico. Ou seja, o Outro, que se reduz ao conjunto de significantes, é um Outro que �ó exis_!� como s_�b!ante.,_ � 1 v, ": J-011:;e,la1� ,.."' -�·o1 -, :� �b (( ,,,0 1n,":Jll. ; ... :,,.,..._�'l"co. \_i . () �JJ F f)rrJv �-w r.,.: � ;+!,,",r,õ,u, _1. 8 -r l \ , ' . � ,:, ()'1< .. Ll /...1 . l!.- C ,. ,� , · 'r-/\ ('nJ : b � w�'v-"J J,._ '�) ,:) .,_,. _,.e -=-:�'-'-------- com_o _!!l�_ctU_ina significa_nte. Não se trata de um ser supremo ou malvado, de malvadez-LNão se trata de UJ!I parceiro maquiavélico qu� tenta subjugar-nos ou nos explorar. É simplesmente _a estl}!�ura da .l. · �- --- ling�em tªI como da nos permeia� Portanto, Lacan exige do analista efetuar esse deciframento e ai constituir um saber. Embora Freud não tenha abertamente apresentado suas opções políticas, ele escreveu "O mal-estar na civilização" e "Psicologia de grupo e a análise do ego", dois textos sobre a guerra. Então '\podemos e.çrcd>er �m �lguns textos qye Freud se mos!@ __.,. e interessado pela subjetividade de sua épocaj Uma segunda maneira, a meu ver, de aproximar a relação do analista com a política é · u_m _ dev�r __ de �aber1 um dever d� ato. � _2_odemos conceber a análise sem a dimensão do ato. E nesse nível se � ·---- - ' === --=:z: - ' - apresenta também a questão do político .:, Façamos uma pequena digressão, usando o texto "A direção do tratamento e os princípios de seu poder". Na última página há uma descrição de Freud, o analista, num estilo eminentemente lírico. "Quem terá ainda a ingenuidade de se ater, no tocante a Freud, à imagem de burguês bem situado de Viena que espantou seu visitante André Breton, QQ!:.!1-�0 � aureolar de nenhum convívio com as.Mênades? Agora que já não temos senão sua obra,'�caso não �ç_onheceremos_ _nela um rio d_<! [o.,gQ que nada deve ao riach_o artificial de Franço_is Mauriac? [ . . . ] Quem trovejou como esse homem de gabinete ç_omrLo açambarcamento d_() gozo por aqueles que amontoam sobre os ombros dos outros os fardos da necessidade?';4 E a descrição continua, mas trata-se de um retrato que implica a questão do político, às vezes pela crítica de uma sociologia simplista da posição de Freud, o "burguês de Viena" é um rio de fogo. E lá podemos ver como � pen�amento dç l.!)c_a_!!_ t1:1m pe_nsa!!_lento _que i _ nclui um ju!g_a111��t� pgJj!_Íf.Qi..mo.stnmgC!_ �e\O\campo da so<:!ol9g_ia não � _ e o da p_sicanálise"' Nã�_ é_ poí9U� a pessoa é aquele bu�ês t>em comportado vivendo em uma casinha normal, que do ponto de vista do dcsrjo_ não é um_ grande subversivo. 19 Essa descrição mostra o analista como homem de desejo, e de um desejo articulado ao insuportável, ou seja, 1um desejo que não recu��iante �on!9 do insyportávrl_�da.um. É o que Freud chamou de "a Coi�", cf:as Ding,. o centro vazio de cada analista. E por que vazio? PQ_rqll� �-9 P.Onto ondep_.si.ijci� ���O sujeito esvanece exatamente ali onde ele �e aproximado ponto do que é insuportável, o ponto de horror.\ Muitas vezes, no Seminário 7 - A ética da psicanális�, Lacan lembra Aristóteles. Ele confronta a ética da psicanálise com a ética aristotélica. Resumindo, / Aristóteles clefine o campo� �ti_ca, c_on_��d�dog_tE .o meio é.J>gµe está fora desse campo, tudo o que eJe chama de monstrµa§Q. t!.ldQ� � �a ordem dQ_g_ue_s��de imagi11ar � de pior exista Ele exemplifica com os atos de barbáries, com os tiranos de sua época e, completa, disso não se fala porque não faz parte das coisas humanas, portanto não faz parte do campo da ética. Diferentemente, a psicanális� - por consid�r_a! o -�_o_n�truº-�-º não como uma_j@rtic_l!_��Ld!!de.1.2,e alguns � sim c.9mo en�<_?n�r_ável �1}1 todos os humanos, mesmo que com modalidades diferentes, mas «.:....::; - - - ----�- · - - - - • certamente para todos -,coloca então no centro do sujeito um ponto de horror que o faz yacjlarl Eis aí o retrato de Freud, aquele que não recuou diante disso, diante do horror. \Podemos dizer que cada analista não deve recuar diante do horror, I>Qis, dessa mªneira, o mais 1 horrível é o mais humaJ'!O e passível de ���-�nalisado. Isso conduz a pensar a relação entre o analista e o políticq, não apenas na vertente do saber, 1�s na vertente do ato,t ou seja, ,a forma ge respondg através do ato ª-��e ponto central.l Daí a necessidade de rever a noção de neutralidade do analista. A neutralidade do analista O que é a neutralidade do analista? Não é um eu não vou tomar partido. O analista é forçosamente alguém que se compromete, que se envolve e que toma partido. Como definir esta_ neutral_i�ad�,_!endo como fundo o comprometimento? Em primeiro lugar, considerar-se ileutro não significa e sta r fora da subj etividade de sua época . É não apenas estar dentro dessa subjetividade como também saber se orientar nela . Em segundo lugar, �que a neutra lidade seria mais uma neutralização do jui z!;)-: O analista não tem que julgar, ele não é um juiz. Lacan diz isso em uma conferência:\quem sou eu para julgar essa v ida �e confessa?; Portanto. nada de sugestão, nem de juiz. nem de conselheiro_J A neutra lidade do analista deve ser definida e baseada nesses dois pontos. li; uma neutra lidade com relação ao eu.J. e ao supereu) ma s é uma neutralidade que é de um compromisso para o sujeito.l É uma espécie de adiamento do p�çonceitp e_.de. escolha,. escc:,lhas que lhe são próprias enquanto sujçito e _não enquanto ana lista. 'º analista não está presente na análise enquanto sujeito, e sua neutra lidade diz respeito ao eu, à adaptação soc ia l e ao supereu=;- seut . :sz imperativo de gozoj E�, é um:i n�utra lidade que diz� resp�ito aos .�mperativos presentes gp_ gj�çpcsa �o roestre. Por outro lado, é o c��ruame nto com relação à orientação do sujeito, ou seja.lo delti.,<>.c Tcpgyanto cjrculando na cadeia de significante�_gue é o sujeit�. E m cada interpret�ão esse engajamen�-9�0. Portanto, o analista não é neutro da mesma maneira como nós entendemos a S uíça como um país neutro. Tra ta-se de uma neutra lidade muito mai s complicada. Trata-se de uma neutralidade política? Para responder, introduzirei um terceiro termo, a noção de discurso. � .J .. : -'A L� 't , e ��tb� J.o� .. "°) ,x;·s w ( 'i,� . c,o disclll'SQ� o laço social gue implica I.QlLfi;çio_sobre o gozg,, Lacan, em 1 95 3 ,\ refere-se à subj etiv idade dll_ �a é_p�c-� , _em t�r_mos de movimento--.S.iJnM.lico,f Mais tarde, isso será re duzido à dimensão do disc urso, através da proposição de quq_a psica nálise é um �iscurso� segundo uma definição que encontramos no Seminário 1 7 - O avesso da psicanálise. É uma definição que engloba todos os di scursos, desde a categoria do discurso em geral até o da ps icanálise. isto é, u.ma formação humana que serve como freio para o gozo. A ® 4 17eu&i&olor.Pé :/-Ó �t·i{ oi,� �·/.o ()t,o � � -ÍJ- I /_ � .:. .... A - � • - (; 2} J ,, U-LJ-u (/ . _ / /. _,. •.,'.; " �- ,. �- .. estrutura do discurso da psicanálise é a mesma daquela simbolizada por Lacan como discurso_ do mestre, discurso da histérica,_ dis�urso universitário - os_q.u.atm .grandes. . .moJklo.s..Jle_d�cy�Q_ e_m __ LacaniJ) discurso é o laço social que imQ.lica s�l_!lpre un:iJreio sobre o gozo, uma ordenação do gozo, uma organização d�ozo humano: um freio, um , limite, portanto, um modo de organização do gozo. Como laço social, a psicanálise implica urn\two) sobre o g;�-- Contrariamente, há um outro tipo de saber,\ pois a psicanálise é Y,m laço social e um sabs,r:. Mas poderíamos dizer o mesmo de todos os discursos, pois todos os discursos im..Itlic!lm um_ saber. Em compensaçãoÍhá ;i saber que não implica o laço social,\o que não sigri_i�ca _ _ que ele não _esteja _preso pu dentro de outros laços sociais, mas significa que, enquanto tal, enquanto saber,\não implica um laço social.' Esse saber�.r�_nte é a ciênciaJ Portanto, Lacan faz uma oposição entre, por um lado, a ciência, 1!.ª qual _há um saberl�..não l.li:n_� ordenação do gQZO, e a psic_aflá!is'2.Pº� outro !ado, que �-UDl s�Q� que não é sem relação com o saber científico, mas �ue é também um -----�---- - - ·- - ----laço socia.!J 1E justamente po.rque a psicanálise�é. ... w11,-Jaç.o .sººª1. portanto um tratamento do gozo, que ela _ está necessariamente misntqida na gues.tà.a do político.: � _..,_ Indo ao centro do problema, a expenencia analítica é uma · , experiência que se propõ�ratar o gozg,lgue propõe.elucidatuelação do sozo e o laco sociallTrata-se, em uma análise,\4� modificar a relação do sujeito com o sisnjficante-�stre(ou seja, modificar a posição do sujeito a partir do lu_gar que ele ocupa !!Q discurso .do. mestre, ou melhor,-ll, interpretação gue eJe havia fejtp do djsçnp59 do mestreJ Colocar em evidência os significante�-:m<:s�reyproporciona uma outra experiência, urna experiência inédita que, como diz Lacan, através da prática de um outro laço social leva o sujeito a mudar de posição em relação ao significante-mestre., Essa é a versão ativa do analista em relação à dimensão política. É por isso que Lacan está certo de que todo discurso do mestre possui �r _ A c;._i..,._vA e. rv a�;,� _ �. "éª l'""f' ,,:e))-... n o,clf 110,uw d<) � • A ;...,.,..; . r, ""' ,�· l � 22 ,.e; ,U nJ .f� .. co /c?W.J.Ji _[. / trn,V/ __ � " uma voc ação totalitári a., )nclusive aq�ele do m�_!��.A�m.9_�ri1Jil- N ão são apenas os tiranos que têm essa vocação totalitária.\Q_�iscurso do ,mestre coloca um si�nificante no posto de çqmandgJE é por essa razão que a psicaná�se_ opera sobre o discurso do mestre, na medida em que \;le está pre sente no sujeito e mesmo ele o constitui. �por isso que_ a psicanálise é mal vista. 1Nem vamos falar dos regimes totalitários, pois destes ela sempre foi excluí da. �as também não é muito bem vista @ando o saber é po�to pelo me�tr� _na posição de siiJlificante:m,es� - o saber cientificoJ Regularmente me dizem que a psicanálise é um assunto de guru e que não _!em_ ;_mesmi1 eficácia que C!_S !ntidepressivos e que, de qualquer forma, g�S� Jº progresso da neuropsicologia, não iremos mais precisar dela�1Janto agui como na França, são publicados a.rtigg��-AAUnCi!!!1_(! �10rte da psicanálise. A__p_sicanálise está morta, e deve ser enterrada, ou ainda, ela não es_tá suficientemente morta e devemos matá-la. Acredito que isso tem a mesma estrutura da operação analí tica, haja vista quelo tratamento que a experiência analí tica dispensa a_2 �iscu�so d��!!'e���_e\Lmpede que ela sej a politicam�nte correta.1 A meu \" er, é isso �ue dá ao analista o dCY.!:f de política:Ld,evolver ao sujeito a \ � colha1 a escolha decidida.:.. OJ.l melhor.__a�C,,Q.}ruLw:�- �-ª relação com _ o significa��'::":1�� Notas Lacan, J. .. Função e campo da fala e da l inguagem em psicanálise", in Escritos; Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 998, p. 322. ' '.\liller, J.-. .\. "'lntuitions milanaises [I)", in Mental - Revue lntemationale de Santé .\lenta/e e Psychanalyse Appliquée, nº 1 1 . décembre 2002, pp. 9-2 1 . ,'Q Lacan, J. .. Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise", in Escritos-, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 998, p. 322. ' Lacan. J. ··_.\ direção do tratamento e os princípios de seu poder", in Escritos: Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed .. 1 998, p. 648. Lacan, J. O Seminário - Livro 7: A ética da psicanálise; Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 988. p. 1 4. ·, � 1 . C: c,,,,ul ()! d, (}..O a.v1 0 &-s,4 o cÚ vtJõ 6lÍ:-t ; ,s-C-1/w, : d( v' iY v ('l( ai) _� j) O Cc(cJ'Ív,, � fh C.{;f f,q WúdtJJé �!li !Ottl-0 &ft} o &J ,, Debate � - -- Romildo do Rêgo Barros Marie-Hélene Brousse trouxe-nos uma mensagem preciosa. Normalmente, quando se fala de política, se pensa no coletivo. Quando se diz "deve-se participar da política", se está dizendo, em geral, que se deve sair do privado para o público. Por exemplo, "você que é um privilegiado, deve ajudar os não privilegiados". Ou, como se dizia em 1 968, "não_ fiqu� - �arado, voc_ê é exploraqo','. A política seria aquilo que tem que ver com o público..1 e a moral -- - - - - .. . -- -- - - - . - . - - - ---- ��_p_�ad<:!. Faz-se uma escolha moral para se ajudar a dimensão política do público. Quando Marie-Hélene Brousse diz que a separação fgUre o iodjyjdual e coletivo, em psicanálise, deixa de existir como t-op_osiÇ.ão. ela nos faz dar um _!lvanço_ muito grande/ A partir daí, já não se trata simplesmente de sair do campo do privado para o público, mas �alizar antes de tudo o político no campo do privadg. Isso tem de fato tudo que ver com o nosso tempo. Participei de uma mesa redonda no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, num encontro de psicólogos jurídicos, e um desembargador, que estava na mesma mesa que eu, disse algo que eu não sabia, e que transmito a vocês sem ter confirmado se entendi corretamente a afirmação\ a partir da Constituf�ào ll��fl�ira de 1 988,,a le_gitim�çã,2_ 2S dos filhos não se dá mais simplesmente pelo casa�ento, mas por algo que l s�hama �·sentimento filial", que é de alguma forma <;>_reconhecimento qQ!pais �[_parte dos filho,Vlsso mostra um dos paradoxos da noss;; época, uma vez que se toma algo, �_m_ princípio _privado, como e sentimento, comq_critériQ_çie legkir_n�ª-2· Ao mesmo tempo, o Estado se: dá o direito de uma ingerência cada vez maiOLna privad9, ou at�_!!C: -� íntimo.� O mesmo desembargador, por exemplo, acha que num futurc; mais ou menos próximo, o Estado vai ter o direito de se imiscuir não sé. no casamento como instituto legal, mas também terá uma palavra a dizer' sobre a existência ou não de afeto; ele vai buscar penetrar nesse âmbito. ! -f7' Para esta nossa discussão.l!_oca.Jjzei alguns dos sentidos da palavra· "subjetividade" nos Escritos de Lacan. É uma palavra que na nossa época' ganhou uma importância muito grande, e me pareceu que o sentido· consagrado atualmente não é exatamente o mesmo sentido gue dá Lacan. Subjetividade corresponde para Lacan, mesmo em épocas muito diversas do seu ensino,V1o_gue poderíamos chamar de efeitos dt! suieito. e não a uma configuração qualquer, que fosse próxima do indivíduo psicológico. ! Por exemplo, a subjetiYidade surge no texto de Lacan em : oposição ao mental, ou à rede de alianças simbólicas. Neste sentido, é j uma noção que\�ao esta !l_!�ito _1�!!81:: �11 <!e sil'!_t_o_n:i.�J � subjetividade é ! aquilo que s e precipita dç_YfillL.�ª vontade, � .um_a-�rt�i organj:za�º·J Entào�_tem ck_fato um caráter mais ou menos 1 subversiyo. O que vale dize!"__q!:_le .!_�m g_ç_saída !-1.JTI caráter político. 1 Ora, se costumamos dizer - Marie-Hélene Brousse trouxe-nos uma contribuição importante sobre essa questão - que vivemos em útft lempo em quef os laços sociais são estruturados a partir do discurso dãcifnçji ao mesmo tempo sa�.!n_()�-9�e_a ci�ncja. 9ã_Q __ i_r.r}p!i_ç1:t u_rn. _disc!IfSO,. n_�� implica um laço social. Podemos concluir que os laços sociais interessam de muito perto aos psicanalistas, uma vez que cada um deles yaj apresentar µm tr2E.Sº J?IÓprio. A subjetividade vai aparecer para um psicanalista fundamentalmente como tropeço. como algo que não está no seu lugar. Em certo sentido, c�da tropeço vaj set O��J)discurs-9 n��.ti&!na. � i _. ç: v,,l (,Ío,"'rt'n iv? r'/ 4 e. t/n, <LI C4t '.;.., ·:.e, eh (' &' M ú, 7-'"' -1 ·11 . ' /J O� � .: - ' � j) .:... . . • - ; � ... j � -" C,(:) � ,,·, �� "M;. ' [• ,., [:.J' ·.Ji"' ,; ... �"\ C "'" "" •) O totalitarismo, por exemplo, produz sintomas, que são facetas do que chamamos de "subjeliYi.dade__de nosso tempo". Quando Lacan faz o e!Qg_io de F�d, quando se opõe à critica de André Breton, que ficou decepcionado por encontrar em Freud a imagem de um burguês bem comportado de Viena, L.acan está dizenjo que não é exatamente a participação pública pgHtjca de Freud que o �cteriza como a to� de fogo que B!e!?E_ d�sejava ter . encontrado, \mas'Jo fato dweJer �ciado, posto a nu, aquilo que é/?;) segregadoJ \0 que Marie-Hélene Brousse çbamou. de �monstnrnso.", e�tá l!ª verdadd no cerne do indiv@ijili",g_g_ �()J_ett�o.' O que Freud inventou politicamente foi a idéia - expressa em uma prática sistemática - de que tratar um tropeço da lógica de um Qi�ç_urso, isto é, tratar um sintoma\é contesJar ���e -�isçurso, e ir mais longe do_9!!� (�, a tentativa frustrada da his�til!.Jl!J.k se.re1u1e à i!TIRQtêQ�J\JJ --::· �;:" . ::-��;r,· - �· ,; Então, me pareceu muito feliz a demonstração de Marie-Hélene Brousse, de que o analista,\__!endo º!1 não uma E_articipação coletiva visível,! não pode esquecer que \o fato de agir como analista já é ,'B ; .. . - --E2m� Gosto muito de uma definição que _ deu_ Lacan . da _ a_nálise. Lacan dizia que\a analise é "ª_ir_rupção do erivado no públ ico"i Quer dizer, .n!<? é nem <:> privado e nem C> _púi?li.c;:.9. É uma irrupção, �ma -!? espécie de duração sem tempoJque chamamos �-AW ; .) Foi muito interessante que Marie-Hélene Brousse tenha terminado a conferência dela apelando para o que poderia ser o grande objetivo da política, que serialgI�f: o._calJI�<> c:l,a .J:�ª� .2 "... � � :),•1' (j t;,', (i\ JJL_ W, � r4 ',).,�:- Perguntas t �, M vo- ,; _-;:, t. e.._ v..i ·..,..� , cJ.,.. "" .J), Angelina Harari 'r,1 '4)1. :,...J r,,,,_·,)o'/\W):_ -t .:.; ,__.:. 1 1,.l, , " i , , ,. .I . r"·- , ,.� ' r- m,IJ (?-v,U,/-l f_ 1 I i.<Y i , ,,� · ' Quero colocar uma visão que é um pouco lateral; ela não está no cerne da exposição de Marie-Hélene Brousse e nem nos comentários de Romildo. É uma questão que toca no tema da neutralidade do analista. Marie-Hélene Brousse trouxe um esclarecimento, quando ela junta o termo neutralidade e o termo engajam�pto. Também é uma 27 Lneutraliclade COJn um engajamento) O lateral da minha questão tem que ver com algo que discu timos em um carte l sobre a contratransferência. Uma colega no carte l pe rguntava a respe ito da relação entre a neutralidade e a contratransferên_çia. QIJ� dizer.:.....Q. filie seria esse engajamento? Em um_ movim_!f!t� p�icanalítico esse eng�mento _foi entendido como o analist�ter de se colocâr na relação analítica. Então, colocar- se seria falar a partir dos seus se ntimentos, dos seus julgamentos, preconceitos etc. Eu gostaria de que Marie-Hélene Brousse pudesse falar um pouco sobre essa relação, sobre esse "sai r ç}Q_silêncio". ' -...:-�--=-..:.==-�...:e..;:::. Enquanto formulava minha pergunta, me dei conta de que o tema que nos reúne , i�nconsciente é a_ políti?, surgiu em um curso de J. -A. Miller, logo após uma e tapa em que e le trabalhava a\§�ratrãnsferené'§ Então, há alguma relação? Marie-Hélêne Brousse Gostaria de fazer alguns comentários a respe ito da intervenção de Romildo sobre as observações que e le faz das diferente s definições propostas por Lacan sobre o te rmo subjetividade. O que e le chama efeito de sl!ieito, isto é, unplica uma diferenc iação entre o eu, o ��pe��� � saj�i�; simplesmenteJefeito do significante, tomado em 1 - �adeia. N ão há indivíduo numa análise , não é a política do indivíd�o. / é_ a..P.olítica do suje ito que interessa numa análise .\ _... --V Às perguntas da Angelina vou responder apre sentando um caso c línico. Trata-se de uma jovem que faz análise há dois anos; que já fez algumas escolhas fundamentais na orientação de sua existênc ia. Ela abandonou o seu parce iro e entrou em uma nova relação. Neutralidade do analista é: eu não tenho nada a dizer sobre a escolha que e la faz de seus parce iros. A escolha desse novo parce iro é feita de tal forma, que eu mesma, sua analista, c�idero que e lª_e..s..tá c.olocando no exterior u m interlocutor qll_e �stá �_ ent!o Ê��a '!lesma, ou seja, esse homem seria um testa-de-fe rro, e está c laro que ele é um pof!a-�OJ: de_!lmil _?rie!) tação, que é_ uma orientação para __ ,.rll!, Ela compartilha da 28 orientação política deste parceiro. Na verdade, essa orientação política não é exatamente a minha, portanto - contratransfer_ência. Se estivesse na perspectiva de analisar a contratransferência, eu teria fei� uma intervenç�o .f_Q__f!1 _�el��E_ él_�_s._sa escolha política, alh�.s., essa escolha iria implicar numa viagem 120.lítiça_ . qu� _era _ _ m1Jitº arris�ada,. Nossa orientação_ nos pr9íQe de fazer i_sso pois(temos o princípio de que a contratransfe_rência é a somató�a dos ereconceitos do analista/Nesta linha, poderia considerar que minha critica dessa posição política seria apenas um dos meus preconceitos. Tendo uma vez apontado realmente um pouquinho esses aspectos, ela teve uma reação e me colocou devidamente no meu lugar. �o mel! l_!]_gªr, ne;it.e caso, era_tentar fazer com que ela des_cpbrisse\9ual era a sua causa nessa escolha política (0 humanitária, portanto, nessa escolha de ideal .\ Por não considerar isso na definição da contratransferência, conseqüentemente por calar um pouco o comando da interpretação, permitiu-me tentar fazer com que ela decifrasse a orientação de gozo que se encontrava no âmago de sua escolha amorosa - uma identificação com a vítima e _uma presença incontestá�e_l da pulsão de ----- - --- - - - - -- ---- - f!19rt;.1 Isso levou um certo tempo, mas ela conseguiu chegar lá. Eu tive de lQJl!arurn� de_çisão....u.m_ poucQ_ di.fiçi1.._qu_e_ era a de não colocar todo º..J!l�Q transferenc_il!l ºª J>a1ªn�_ para_irri11edir que ela fosse para aquele local extremamen!�rjgoso, como el�ueria _ ir._fja acabou i_Qd-9/Mesmo que eu tenha dito estar preocupada, nada mais do que isso, mas também nada menos. Para onde ela iria exigia que ela tomasse algumas medidas para que garantisse que ela pudesse voltar./A idéia de �nnanecer nesse lugar tem para ela um sentido de morrer 1�. foi � ela ouviu,1Voltou, pelo menos fisicamente, ela teve um mau encontro, ela se deparou com o ponto de horror, ao qual me referi. Efl"I -�gebra l�caniana. podem_o� dj�€:r que_no lugar do grande p1!_i <!_e_�-� <l> (A,) - ela . tinha. enç911!r.�..Q o "a" minúsculo 1 Isso me parece responder à questão da neutralidade. Para que o analista seja neutro em relação a um ponto central deve fazer a_pare�� _i;i -.; ( , (; . ·../ , ·,: ....;, r, � ,:.,..,l-:":° t41. de ( ,, cl, � t.;.__y ca:.::�:C, - ,i_ V' CÍ<f /r: , .,., rf<·Ay,,=r o 1 ;,ú;, c.,._.<-.,."1 29 .<.t , , e. r c,-<< 6 t;. · ,..-.v cJ .S 115 d., r,..u;,. - � ! _: :: � O '""·onscicnre � .J polioc:J _;i · • , _ J,._.' �.;! � ,,,,_:: /�' .. ·" , .:_ J . ,.,- o ·r· - . , . \ .:_. -'/� � sob os�deais as suas articulações com o i_mperativo Jê'go�o� o 'que, nã9 . , · , / ,r,· .e;.. �'!J , ,_ exclui, naturalmente, que existam ideais, pois o analistà, como disse Lacan, não é alguém que desencoraja seu analisante ou que o conduza a uma posição de ceticismo nem tampouco a encontrar uma solução cínica. Existem perdas de identificação em uma análise, 111_<1s isso não �.S!liD_c_a _ql!� s� �aia de !lma -ªJláli�e sem ideais, . si01p!esme_!l!e_ não s� tem a mesma po��ão que se tinha anteri.Qr:rr!_ente com_ reh1ção_� ideais, ou seja, e!es estão llrt_�culados por um lado ao ,1. maiúsculo barrado (A) e de outro lado ao a minúsculo/Há o Outro que não existe e há a questãQ do obj�to perdido. \A neutralidade poderia �_E_ uma Sandra Anuda Grostein Quero retomar a sua articulação entre o discurso como um laço social e que � freio ao gozo.� per:isannos que em uma análise há_ ugia circulação nos q:ua!ro disçursos, nós não �stamos, durante toda o temP9 em que a análise ocorre,'\no discurso analítico. Peço um esclarecimento ----- --- - � se qualquer um dos discursos, discurso do mestre, discurso da histérica, discurso universitário, o analítico,\ qualquer um deles te_fl! a mesma funçã�, se operam da mesma maneira, digamos assim� sobre o gozo, so�e uma organização do goz,g,. um ordenamento do gozo'l.J Marie-Hélene Brousse Sim, todo discurso implica um freio ao gozo. Essa frase é de Lacan. Mas há diversas maneiras de entender o gozo. O discurso é da ordem ��_strutura da linguagem e implica forçosamente em uma organização de um modo de gozo. Portanto, todo discurso opera dessa forma. Com relação às quatro modalidades de discurso que Lacan constrói a partir de seu esquema de quatro lugares,\em cada um deles �iste um lugar para o gozo que não é __ ocupado pelo mesmo significante.Jf_i>_f'!anto existe em cada discurso uma modalidadt: d� gozo dif�r�I!!.� Por outro lado, temos que observar, e é extremamente - f ' .- / - . . , ,, [ Ç_ tJ ,}CJ r, · 0 - , ..i , ,/;, ,,./(· _� tt.( 11 {1? { ·l l __ ';) '. , ét:; :'{ ?" ' /� '[(_ l, v V" -' 1..: • . _::: - "-()( ea r.· . ,, v .._, - v.- , 30 . -- �. /,-. · /, ,/ , _. _ __ ,.. _....._ importante, que o discurso do �!I!__�_!!gorosamente o avesso do. - - - - - - - ---- � Jiscurso analit_i�o- �s� leva Lacan a dizer gue o discu�? _do mestre� 1ambém é o discurso do inconsciente,\já que o inconsciente é o efeito das relações de l inguagem nas quais somos capturados/- ,é lógico considerar que o inconsciente, na verdade, _é o discurso do �estr_�:,) - . - - - - - - - - -- ---\ O tratamento que o discurso analítico_ faz 1e_111_ �� _dispositivo novo, d iferente, <!a relação do sujeito com o significante 1le,.ya a �!fl� modificação da posição do1 sujeito em reJa.Ç�Q ao gozg. �oderiamos dizer que esta �a.�_i!i:_rença�ntre a ciênci�: �_sicanális�:1a psicanálise é uma-2 escolha sobre uma modali�Ad��parti�u!a_r de tratamenJ<> .. sobre o gozo .. Existe a!g9sIJ1-f-Q!!!_l!l!1 e.ntr�l:! ciência e a psicanálLse ºº-s��!ido__d!! 9.1:!_e ���1,1a;_furrcionam� parti� da m�Íerialidade da le_trw_e.pO� ou sej:, as duas funcionam afastando a questão da ,significação e do sentido.11 == Não existe um manual sobre efeitos do gozo, uma equação ou uma fórmula química. A psica_!!�)_i�� _ acei!aJratar do gozo, mas IJão �-ª mesma operaç!o que a ciência faz sobre o gozo. Em poucas palavras - - - - . - - - - -- - - - �--- - . se alcança _a_f <:>�_!lla __ do _fan_!asma19ue pode ser1 resumida erri.Jrases 9u �ras ll �u ainda em uma frase quando se é -�reudian�,\e ao mesmo 1empo ocotre ��e_ indicação 4o freip sg.l)re Q_�o./ O próprio fato de se construir a fórmula do fantasma � uma administração _Q(? gozo! uma administração pel_? nomeaçàoJ 2ª CONFERtNCIA 27/11/2002 Rõmu/o Ferreira da Si/\·a Na conferência anterior, Marie-Hélene Brousse abordou o tema O analista e o político: "Alcançar em seu horizonte a supjetfridade de sua época". Ela contextualizou o inconsciente estruturado como uma li nguagem em Lacan em "Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise", \���and() que� oposiçã� �ntte __ o indivtdual e o coleti vo jJ) deixa de ser válida, poi s a dialética do desrjo oão. é, iodixhl!!.�.l: "o desejo é �- deajQ_Ao Outro]. O_ �ll_é!_lj s� _epco_!ltra-s�_, en�o�'.em pgsiçãg de :) deciframento do simbólico,�'-! �ej a,_deve _agir no deciframento do Outr_? si mbólico.enquanto �fejto � lingua. 10 materna S de A barrado se apresenta. 1, .. � - N o texto "A direção do tratamento e os pri ncípios de seu poder" há uma definição de Freud, analista, que o coloca claramente local izado na subjetividade de sua época. Com os quatro discursos: mestre, histérica, universitário e analítico, Lacan propõe que a experiência analítica, inédita para o sujeitot modifique a relação com o signific;wte�' "j) m,.:EI,ejTrata-se de uma outra modalidade de laço social: portanto. o analista está metido em política. Ela ilustrou a neutralidade do analista com um belo fragmento de um caso clínico, mostrando que neutralidade é não julgar e não aconselhar. Neutralidade é não agir . - - --- - - -� - - r· segundo a �ubjetividade do_�n�lis�a1...ou seja,,, CQITI .Q� se�s pré,:-ç.QDÇ.eito� <� 35 • SEGUl\DA CONFERÊ�CIA 27 1 1 2002 A psicanálise no tempo dos "mercados comuns e dos processos de segregação" Marie-Hélene Brousse Para dar início a essa conferência, utilizaremos uma referê ncia de Lacan, uma referência antiga, de 194 7, após a S e�da Guerra -- ·----- - iytundia l, um texto belíssimo escrito para uma revista de psiquiatria na França , L 'Évolution psychiatrique, intitulad°' {'A J?Siguiatria inglesa e a - - - � - --- - · - -==--= g�.;!!,ª".@a conclusão desse texto, duas frases fora m selecionadas. Antes de fazer a citação se faz necessária uma explicação por que esse texto fo i escolhido. De um lado, porque ele é interessante e, de outro, p or ser um texto de 194 7 , escrito exatamente 20 anos a ntes de 196 7, de quando extra ímos outra referê ncia para essa conferê ncia , a saber, a "Prog_osição de 9 de outubro d� 1967 sobµ: o psjçapa)jsta da Escola". Primeira citação, que se encontra ao final do texto "A psiquiatria inglesa e a guerra": �Minha exposição encerra-S�!t<;>_Q_onto em que se vislumb_ra os horizontes ue nos io'etam na vida 6bl1êã"'.a té mesmo, 1 . que horror\..,� !..l?olíti� Se� dl!YJcbJ\!í enco�tra��mos -ohioos dê interessej para nos compensarem de��e� apajxo_n _antes trabalhos <;lo ti.RQ 'dosli8em dos produtos de desintegraç_ã_o _uréj��E�para.frel!.!ª fabulante', produtos eles mesmos inesgotáveis desse esnobismo de uma fal ciência . .. "1• E m outras palavras, aqui é a idéia de qu���nc9ntram coisa� mais interessantes na psicanálise dq QO�t9_g� y ista polit ic� do que no exemplo que é dado, que seria a mudança do índice de a lguma 37 O in,.:on,. .. ·,�nr� � :1 politi .. ·a substância na unna. É por isso que ele fala dos trabalhos sobre os produtos de uma falsa ciência. E_!e __ empre� o termo "fal sa ciênc�" porque considera que a utilização da ciência nesse tipo de trabalho não é_ outra coisa que 1:l_f!l�Je.11t�U.!Ya..lkse aprop.riaLd.Ç YJ!!?.. fal�éi. l�g_iti_maçª"o. , A segunda frase: "_)>ara dizer a verdade.\os riscos inerentes a taJ .·; r�-�ito .gelos interesses coletivoy'na prática pareceram reduzir-se a proporções ínfimas, � esta guerra. penso eu, demonstrou cabalmente quelnão é de uma dea,asjada jnd.Qcilidwk dos jpdjyjdyos que advirão ! os perigos do futuro human_oj Fica doravante claro que as forças , sombrias do superego se coligam aos mais frouxos abandonos da consciência para CQ.IJ!luzir º�l!_omens a uma mortejl,Çeit<!_por causas ao me_nos hu_m<1n11s_. ·�que ��Jlll�� _a_pa�5,...e�S?Elº,,�çti_fici.2._!)�_p_e>r i�so é G h,e!élLc,27'Portanto, esta já é uma perspectiva bastante clara de que 1� pe�� _ e os riscos nã_o virão d� _ _indocilidade dos indivíduos., e a psicanálise escalberia.\âe.lÍYess.� que escol her, a indocil idade ao invés da ��il idede f: essa docil idade é apenas o poder do supereu e os abandonos da consciência. forno já foi dito. supere11 + e,r - sacri.icio, c_oostge(ilQdo que o sacàficia não é absah:uamentc , cm si mesmo, heréic� supereu + eu = sacrifício - -- A orientação que Lacan dá à _psicanálise não é de modo algum --· -" · --- - - - - -- - - --�-- - - - - -- - sacri ficial e nem do l ado da docilidade. Em 1 947, já aprofundou um - - - - - - - - --- -�--- - c_onflito com a psicanálise do el! e as perspectivas de readaptação do eu. O horizonte da psicanálise e os pontos de fuga Em 1 967, vinte anos mais tarde, ele defi ne �is..�o os hori zontes que estão presentes na frase de 1 947, os horizontes que nos prole.� r.i� vida pública pela política. Ele os define através de três pon_to� de fu_ga. Isso supõe um--ª---.�ferê_ncia à perspectiva: o hori zonte ao longe é del imitado através de pontos de fuga, ou seja.,� elementos da,..3rs�ctJ��-"I:1JY1-�: <J.,o hori zonte da QSicanálise em ex tensão, is�º é, _gsicanál ise_ à_.!lle9� q� 38 ela se aplica ao laço social. É a psicanálise à medida_ qtJ� JJào determin� um_ real socil!!_, no_qual está submersa. O� trê!_PQ...n!_os de f'llj_a __ eermi!.1:.'!1 �':!�� tanto (!_g_Ue def]ne a época q_uanto o mundo 9ue determina a organização da pr_§pri� psicanáli se. Esses pontos de fuga, diz ele, são os f2_,7°gj: Desejo _ _ ressaltar toda. a importância desse termo. N ão se trata de troria nem de i deologia e sim de,coisas advindas da experiência.,.. D�s d�i s prif!1eiros pontos de fuga, que são as coordenadas do nosso h_?�Z0�!�4Um é ex traído da CUBi?,:F: O carro da transmi ssão do �b�r ana)jtjçp I Para Lacan,\!..Prática da psicanáli se é defini da pelos três pontos de Üiia a pattic de três diPJ�o��- o simbólico, o imagi nári o e o real , � �(V\. 0 � 0 4 pnmeiro ponto de fuga: o ÉdiJX? não é soll!Ç!Q_ - 1 "t,�" �! O primei ro ponto é aquele que é extraído da clíni ca. O que a clíni ca analíti ca nos demonstra é que\o Édipo é um problema para a psicanálise, _ em 1967 . F� claro que hoj e já não é mais um groblem� . O problema já foi solucionado. Mas naquele momento Lacan di zia que se tratava de um p roblema. Para Freud, por outro lado, o Édipo era uma solução. D evemos ressaltar alguns elementos que nos permitam compreender \porqu�_ L acan considera que um dos pontos que �����ª ª-P��ijnaÜtica é a inadeq11açã9 do �urar1te toda a primeira parte do ensino de Lacan, ele se dedicou a reler, portantQJ · � . reinterpretar o Edipo .freudiano� A partir desta i nterpretação ele / �onstruiu a clini ca difere_ncia_l _psicanalíti ca, �le demonstrou que o Edipo freudiano é eguivale_11_ te ao Nome-do-Pai - metáfora pater:na. il -- -- ------,- - - Édipo = Nome-do-Pai = metáfora pate��� ' ·------------- �- �rante um tempo, Lacan desenvolveu uma psicanálise ori entada • eJ truturalmeote em sua elín� em sua prática, centrando-a n� ��áf ora pat��sse seria o tempo um, o primeiro tempo do ensi no de Lacan. l ( . -r 1 !_ . !.4J.,, ! ..,vv\Ü .J�, ..,.,-.o,.. 1 } b· 'r/ {.. c ,J /1�"'(''.i �� l;-t,Y.v>O r1 j 1 . \ � "'· "' Ir 7\ '1\0,._ ,Em 1 967, os efeitos da cHoica a obrigaram a rnr:dar de..po5jcão. O Édipo engy�mto Norne-do-Paj é um problema para a psicanálise. peixou de ser uma solução./ No Seminário J 7, O a, ·esso da psicanálise', encontramos a formula�o�e�e prob�ema e já uma nova respo� Nesse seminário ele faz uma apá)jse ��rutural dos (mnos edipianos em Freu07 o próprio Édigg, "lotem e Tabu", "Moisés e o ManÔteísw.y: - ãplicando -o método �!!II'- e, - !_ 1. ' � , ' >' de análise estrutural dos mitos, de Lévi-Stranss• E ele chegâ a uma fórmula que fornece a verdade desses mitosJ o gue faz com que não sejam _!Tlais mitos.�le retira deles as suas caract�risticas épic_llS para mostram.uai _é a função desses mitos, W!!Zind()-()s a uma fóillllll;J A partir da análise desses mitos, ele produz uma fórmula - o Édipo, o mito edipiano assegura a seguinte equivalência_;, q .12fil, ..P!.Í _morto, N_ome-do-Pai $�1ente1� condjçijo de _&ºZU.� i- 1 i - 1;- u_J P = Nome-do-Pai (pai morto) = condição do gozo ' ,'= ..tz. _ 1·.'� - - - · - - - - - -- - - r , "' -<-- ;-, . ·ai ' E Lacan acrescenta: este é o desejo de Freud. A igéia de percorrer o mito fundador _ da psir,anáJise. o mito do Édipo,J QUe a .� paterna é aquela que regula o 5020. Que re�ula. ou seja,'9ue o orien� e o limi!!J É a funcão paterna que , destina os lugares ao gozo e Jlºr 1 \ocaljzá-lo acaba controlando-o. , � clinica mostra que querer atribuir ao pai essa Junção de ignificante-mestre, "á ue é o siimificante re ula e rQ.dUZ o g(?Zl? - ou melhor, que gerencia, �E!i� �o -, não correspo� .!º real que a experiência anal itic:,. imQ§e, quer seja a experiência das '.psicoses, das neuroses nu das per,ersões.1 O que mostra a clínica? Q!e não conseguimos nos Uy_rar 99 g_Q.�.9 atribuindo-o ao pai ou ao mestre/E. de fato. o gozo, as ex eriências de o o satisfa ão da ulsão ortanto , se aram o be a verdade que significa isso? Se considerarmos que o saber é S 1 + S2, o - -- -.. - . .. .. ··- --- .... · · - · ...... -==-�------- S!8!}_ffjç_ante paterno �ais todos os significantes ordenados a partir dele - -" . ---·----- 40 nãg. rew.:it am o gozo e então o gozo �parece e �urg�_ com�_un:i_a�erdade di ssociada de um saber. Existe uma dissociação entre o saber de um - ... · - -· . -- lado e a verdade do outro. 1 · - -- - ' " -,.JC � � '• ''· I S1 + S2 {saber) 1 Verdade Isso produz algo assim como �·eu sei bem, mas mesmo assiw". � Ou então a relação que o sujeito tem com o seu sintoma;y,or exemplo, o sintoma obsessivo, O.J!Çdido de verificação, o ritual,\guando o s.ujçito �iz "eu sei qlle_é absurd�0 _mas eu}1ào 9onsi&o me impedir", -o saber está separado da verdade. "Eu sei bem, mas não adianta: a verdade está no meu sintoma". J. E Lacan acrescenta no texto: " ... mesmo para a criança, apesar do que se pensa, o pai é aquele que não sabe nada da verdade"6.� operaç�o de análise dos mitos freudianos pennite mostrarLa função do �me-do-:Paj na constituição do saber I em _ contradição com_7as evidências da clínicat Conseqüências: ,Q,tdipo não é a solução. �� � n����sário matar nenh um pai para g�zar. M esmo os significantes freL1_dianos como trauma, sedução ou sintoma, não têm .nada que \'.Cr_c;, c�_1��Portanhl,l a cli nica contemporânea é a prova dessa não ��ção com o pai./No interior da psicaná!ise_ existe mna....c.r:itica .à a i_ç!eolo� ia edipiana. Não são os nossos adversários que criticam o Édipo. -Somos nós mesmos.' E nós o fazemos a partir da experiência ;inalítica cli nica E conseqüentemente, se ara iio� ser fei ("§ S�gundo ponto de fuga: a solução Escola - O segundo ponto de fuga - e isso se e.!!f2!!lra do lado da dim� do imaginá.ti.o - se refere ao que foram e ao que devem ser as (}],,!� ""w-t -'i< ��� �-1z#1(?n� �� .-l.�I1z. ,o --inj ....;+,·� 'J \ 'V\..',) ti� , 0 . , _ 41 , ,, I' , � ./ ') • , ,, .,. "\._ Ó( .() AA\ • """'· · . - • ..i A.a... • d - L'Y,: .-. - ,,-.- ,n/Ã) - - ,1/... .-(1 l. O 1m.:onftC1enre ,} :, ,-.,lit11.·;1 i!_lsti�uições_de p�lca_aj_fü� Ou seja, a or�nização de sua transmissão, e seu avanço e dos meios que ela cria para a formação de seus analistas. Portanto, é uma crítica aos g_rupos psicai:iªlíti�s. Laçan diz que elas respondem aos modelos descritos por Freuq, da Igreja e do Exército, ou seja, totalmente regulados pela função paterna na sua �ierarquia, nas identificações imaginárias do &cupo, no tratamento do siber sob forma de um manual ou de jargões, lugar-comum. A transmissão da psicanálise vai em direção de uma recusa em �stionar a teo�clínica.JO que Lacan tem em mente quando faz essa crítica das instituições psicanalíticas é a IPA. A �ir desse ponto de ------ -- . - ---- � �le apresenta_a solução, q_ue é a Escola. Portanto, diz não ao grupo imaginário, hierárquico, edipiano, e sim,à solução Escola, onde o saber fica livre da trrefa com relação ao si_ggificante-mestre (Sl}JPara que haja gsquisa não precisa haver o significante-mestrezJ Por exemplo, fui convidada por uma americana que faz formação em análise lacaniana e também uma formação psiquiátrica e psicanalítica em Nóva York, num dos lugares mais prestigiados da IPA, o _ Çolum_bia In�tjtut. Ela ao mesmo tempo está na Escola de Medicina de Columbia e no Instituto de Psicanálise de Columbia. 'Nesta minha v_isita fiz uma Apre�entaçào de .J:>acientes, na qual falei durante um determÍ!!a_do tempo. Ent_r:e_".:'_i�ei u_ � senhora que, sem dúvida algumª, til!t-ª-ya-:§e de uma esquizofrê_n� Aliás, foi interessante conversar com ela. Num _ dado momento perguntei-lhe onde ela havia nascido.\_Ela me disse que tinha nascido no Vietnã. Na - - - - - -- - - - - � verdade, ela havia m1�cido no Bronx. Ela não havia dialetizado sua invenção de ter nascido no Vietnã. Ela não fez nada com isso, nenhum delírio. Com relação a esse aspecto, ela se limit�a diz_e! aquilo. Dando continuidade às minhas atividades no Instituto de Colúmbia, fiz uma reunião de trabalho com os estudantes e os professores. Nessa reunião, um professor de psicologia, com formação em psicanálise, fez a seguinte observação: "�sta senhora falou do Yietnã. F�lar t�lvez seja um exagero, ela nos deu um significante - Ykto.i\.. Podemos observar que na época da Guerra do Vietnã, ela seria 42 �hn.:-Hêlênt: Brow.� urna cri ança." Eu concordei com ele sobre a c_ oincidência de datas. Aí de disse: " pois bem, se ela falou Vietnã era para dizer que na sua infã ncia os pais dela bri gavam, portanto, �o falar em Vietnã ela estava , se referindo ao desespero que ela sentia quando criança frente ao espetáculo de ver seus pais se enfrentando" .@ aqui um v�irQ 1 pa rtidário do Édipo, a ponto de nã-9 sa�ermos quem delira mai_s, a p1ciente ou o psicanalista.(�_essa i_nterpretação, o Édipo está mais do lado do delí rio. �l!_ respondi que ele, o psicanalista, tinha sido muitQ g__cneroso em relação à estrutura, gue eu não estava segura de que o mundo interno dessa senhora fosse determinado �elo con!Jito ent re se� papai e sua mamãe, isto é, pel o conflito edipiano. Na perspectiva da --==-=-=-=--� -� clínicà de orientação lacaniana, a escuta dos pacientes psicóticos é uma liç ão para entra���- undo �e-��m outro tjp9 _ _ de arquitetura; uma arquitetura diferente daquela dos neuróticos. A crítica à descrição do Édipo, o__além-do-Édipo, como primeiro ponto de fuga, associada ao conceito de Escola como lugar de debate e de fonnacão, qu_e nã_o seja mais org3!1izado pelo�i_gnific_�nte-rn�stre, isto nos--=> ·, conduz à idéia de uma psicanálise gue se desenvolve num cenário político · ' - rgtalmçqte difereot,;J_Existem muitas maneiras de tratar essa constata�o; por exemplo, se o pai não regula mais o gozo, então podemos fazer o que quisermos, isto é, uma nova �_j.DCiedade dos irmão� no sent!4º "Totem e Tabu", na época da ciência. O que é a democracia na época da ciência? Seria ainda uma democracia dos cidadãos, que estavam mais l igados ao significante-mest re, QY seri a uma democracia dos c_onsmnidores. ou até mesmo dos produtos, ou ainda do material lmmano que está majs relaciaoado ao objetO çlo gue ao s�ificante-mestre?\ \,. -rv-�°'- _d-i.. Ir' 1 (-=g O terceiro ponto de fuga: o campo de concentração � � t ·" ' ' " ' Q terceiro ponto de fuga diz resp.Çjto ao real. Lacan o enuncia ao fo lar dos campos de caoceotraçãn . \É a reação do precursor em relação d J �W:.Le�ºyajys;rá a partir do�emanejamento dos grupos sociais P!!la ciênciaJ Precisamente pela universalização que ela propiciou. 43 Portanto, temos aí o campo de concentração., ,os agrupamentos sociais como nova organização no real,J Os três J!!)ntos, a{ém-do-Édipo, µ_ma f�colí! e o C.!l!EPº_ d.e conc�!TafàO, sà_Q_ º�- pQntos atrall�� quais Lacan agarra _a ..JDQdernidé!cl.€:.\ Acrescentamos ainda esta frase: "Nosso futuro de mercados comuns encontrará seu equilíbrio num.extensão cada vez mais ao <!_ura dos processos de �gregacão"·. O conjunto desses três pontos está c9rr�lacionªº.9 ªº �rni.niQ_(IQ saber científi@_s_obre os laços sociais. ;, CQmo situar o dese · o o s1cana 1sta nessa con untura. Em primeiro lugar, nós temos que nos assegurar e nos convencer de que a e_sicanálise não é wn abrigo contra a ciência, pois quando é utilizada como abrigo ela desaparece como clínica.� proponho uma nova esc�tà P.ara o discum1 do mÊstre que é cgnjuntural, ou, mais exatamente, wna concretizacão dos símbolos lltil�dos _pQr Lacan para_ <:!escrever o disc� do mestre. Vocês já viram que o mestre não é mais o pai. Então, a escrita que Lacan dá para o discurso do mestre é a seguinte: DM s, 52 S · a I · . J � O S I é o significante-mestre, que �__!Kente �o �j_Sfl,!r�o,_que determina_o saber (S�este é o patamar do Outro (A); temos o sujeito ·� - - -- _(�) que é efeito da cadeia significante, o sujeito que decorre dessa cadeia; � o objeto de gozoJa).__ao_qw,.L�l� estárelacionado. 1Essa equação, como sabem, é a fórmula do fantasma <i O a). O fantasma é determinado pelo Outro na medida em que,articula o significante-mestre com o saber..(SJ - S2J OM '., u -r I .. J, ; .,, '-,.,J . s, s a { A { S p , C.: t L I , e..• r' Qual o valor que podemos dar. nesta é,eoc�1.ao S 11? Qual poderia ser o significante-mestre operacion�I. uma vez q�e não é mais o pai? 44 O discurso do mestre moderno Vamo! recllperardo tex to de Lacan o termo que ele utilizou em t967R, �a época dos mercados comt.mS - 1.!_l]lp�ríodo _l!IU ito particular _;Europa. M esmo que tenha se tomado um mercado comum úni co, vamos �bstifl!i�___!!!ercado com um pqr _ _g! ob<!liza�o. com o Jacques Alain Miller fez em seu curso O lugar � o JaçcJ". O Sõ é econômico, portanto podemos chamá-lo de\globalização dos mercados� Já o Spé o a modo de saber que corresponde a essa globalizaçfil�,- Bom. isso é algo que Lacan não diz, então temos que inventar. Proponho - é apenas uma hipótese -, 110 1 ug�r do_�ª�! inssr��e:! ai� 1:f'!Ilº\Rçocedirne.r1rg. vá que a maior parte das empresas produz m anuais de procedimento. não �p_enas �s empresas, was todas as instituições, 1São esses procedimentos que re&-Úlàm a condi.ita dos funcionári�s q��ndo s� !!�t� de adm inistrar seres humanos, mas que também organizam o t�_J!l.J?O de uma pesquisa cienti fica./Por exemplo, para um procedimento parà experimentação de medicamentos está incluída a seleção de sujeitos cobaias. Além diss.o, na França o termo procedimento'º tem um duplo sentido j á que também denota um procedimento jurídico/Não podemos fazer um jogo de palavras� um sa_ber que �r�a it!_ri9!f�men�e o_ gozo, e 9!1_e �� f}lzer_ isso !ªZ de�ae�recer a sirigulandage\ Em todos os McDona/d 's do mundo tanto o hambúrguer como o sorriso daquele que o vende são os mesmos. O u pelo menos fazem de tudo para serem o mesmo. O campo de concentração· no discurse>de> mestre ocupará o lugar do pequeno ªt o_I ugar do go:zt:>; I sto é,\ohnodo _predominante de gozo Í :i)!•aJtDeote é Q da.wrega�o!-portanto, ' seg.regação é a OQVa solução dada ao gozo.1 45 procedimento campos de Jacques-Alain Miller, em seu curso O lugar e o laço, utilizou a expressão de um italiano, Antonio Negri, autor de O Império1 1Jalienaf.ào autônoma - o processo 2or meio do qual a e_r�ria pe��.? se coloca no campo de concentração.\!:omemos_um exe�� homossex u�lid<1de�n9 mundo todo ela se tomou uma posiçãoL um campo de concent�o gozo - uma auto-segregação. t_um gueto _DQ gual se escolhe se fechar. Então, �os <campos de concentracãg. expressão que, a meu ver, deve ser usada no plural. \�ses guetos produzem mundos Pª=�los-1 Essa expressão eu encontrei há bastante tempo num autor de livros de suspense/policiais americanos, autor de Dália Negra, James Ellroy, que em sua autobiografia fala de s i próprio e de que ele, numa determinada época de sua vida, vi_v_i� num � f!lundo paralelo, que se refere a um momento preciso, em que ele viv ia numa comunidade �Jack. des toando / dessa comunidade, e e.sses mundos não se enc_ontravamsxce.to, diz el� �m moms_ntos de ç_x�IQsào de violência, qye ele chamava -d� tunrnltos. \Os mundos paralelos se encontram atravé�EC>JUºJHI.to , pelo saque. Entª9, � lfil! mundo que invade .Q.J)utro....é um encontro viokm.94 N�_ lu�ar d� suj eito bé![Tad�(�) no di�CJJLS9_ q9_me5!re eu proponho as rede�, 1 Miller fala �m redes flexiyeisí moduláveis,_ flutuantes , por ond� circula a maes tria. Portanto, podemos dizer que do lado do sujeito (�) e do objeto (a) com o qual ele está relacionado -!que é estaJllienaçJo - . l1,ltônoma, 1 Jacques-Alain M iller diz dela que se trata de uma I bela definição da "ex tim_i4ade'1"-, e��a -��tL_midªcie de� .f�_!'ta forma caracteriza o sujeit_q . Eis , então, uma proposta para a escri ta do di���rso do mestre �oderno,\pós-N ome-do-Pail 1 ou, para dizê-lo de - - · ·.-.... � . forma mais precisa,\de tal forma ql,!e o Nom�-do-Pai nãp seja mais o � l!á gutros S 1 que não são redutíveis aopo_der paterno e, por outro lado�n:_o há determinação causal entre o SI e o gozo. li Vamos novamente nos basear no mesmo curso de M iller, f no qual --=---,---- ele estuda a modificação que sofre a psicanálise ao longo dos avanços na 1 --- �--- ---- - - -� obra de Lacan. Ele ressalta no início do ensino de Lacan uma parte em T::7 ·- ==--·- - ·3 ·1 1 L 1 -"" , L. ú l: c..:.C a u ;_é' > 1 e u il'{ -/.: 2-"' c.: ':.'YG d.( aafo /�.: 'A- --r""f' � t.{ e� _.J--- � -. 46 lj U / t ,,. u� t �.r· ,. , , . . • , ( f.. í t ( L.'-L • que. e� função da revisita do Édipo pela �ra paterna, ��mos que _f�er isso q�e �il_l ��ma ��- 1:1'!1ª ��a _dis�ip if§),\uma �poca � . djsc1plmaula ps1car:m�1num mundo onde a funçao paterna podia ter J esse papel, de fazer a disciplina do gozofoa medida em que nossa época ��� disciplinar, como podemos qualificá-la? ·� - A solução mais simples seria dizer qu�é a época da globalizaçã�-.,. É uma éeoca quando\ 'JS polít�s se empaljdecem se comparadas às economias.f Existe uma espécie de desvalorização da dimensão do � político, e portanto daq�ele�gu�c...�esemp�n.ham esse paprl. E esses não se beneficiam mais da transferência ao Pai. Como dizia Lacan, mesmo as crianças não acreditam que o Pai seja a verdade. E ainda, !ll�_çm pensa que o Presidente da República sabe. Ninguém acredita que o Bush seja grande coisa. N.ós supomos neles um_gQ.��DÓS �.!QValTlos esse gozo, a tal ponto gµe v�m.o.s _ _pr�. em se tratando de Clinton, se procurar, achamos. Portanto, n�sse período, que não é mais o períajo disciplinar, o significante que Jacques-Alain Miller utiliza_ parª repre�entar t�ssa época, lé uma época de íãrranjoJ <2JJue nós estamos l prepa�do _c:omo S I para colocar no lugar �i1 Qual é o novo par S 1 - gozo?/Sobre esse par nós sabemos que não há relação sexual-_ Na ��ressão ·�n.ão hiLrcla.ção _sexwr ..... o _ __terrrw rel�çi_q_��� fün�amental, pois o sexual nós sabemo� que sempr.e há. A expressão "não há relação sexual" causou escândalo na década de 60 e 70. Hoje, em 2002, é perfeitamente_ admissível por todos( Mas, como já disse, não com relação_�o_fa�o_ �e qlle !!!o haja algo sexual, gtl�tf!ti<>1 L; �unca o sexual esteve tanto em voga,\já que o gozo não está mais !imitado pela disciplinvExistem imagens disso em todos os lugares. I;:�tamos convencidos de que nãoh� relafào.\ E o que está presente no lugar da relação? Seria a equivalência, a cquh·aiência das normas. J\sJlonnas se eq u1;:m. Daí a importância ,._· F . - - E . - � do direito. que permit� legislar sobre essas equivalências.f De certa forma,\a_R.sicanálise_está perfeitamente de _acordo com essa �rienta5ão do discurso � ine_s!fe1 ela é pontual, ela não está atrasada . . "' . · f · - ...,__ .. · /l'r_ ( · ... ir ',, ( (_./t( · Yc' ?t-f ' A,f r/"1,L<-{ H tC.. i,_�: LC( J l. (�t ( L,, . ,' Portanto, é importante que possamos precisar com o que a psicanálise pode, a partir do tratamento analítico, ,contribuir para o que colocar no Jugar de S lj Bem entendido, não são os mercados comuns. Não que tenhamos algo contra os mercados comuns, nem mesmo contra a globalizaçã<:>, uma ye.z___q_ue _ yirn falar --ª-QUL no___l3rasil. 1'.'1ós mesmos �enc_emos a uma empresa globalizada da psicanálise, porém, podemos dizer que \temos algo contra o comuml já que D.Qssa prática clínica se - .. sustenta no singular e não no comum.1 Interessa-se pelo particular�n_ã_o pelo unive_rsal\Qp�g��I� s�l����;,Ánào �(3$_ pr��i�. O dever sorrir de uma certa maneira em determinadas condições não assegura nada, nem mesmo que se deva sorrir. O fato de passar uma vida vendendo hambúrgueres no McDonald 's, não quer dizer que sorrir seja a resposta adequada, do ponto de vista do sujeito. Não �e_mos ganl!ltir_� haja solução do sujeito universal, l!'is não há solucão universal. Notas ' Lacan, J. "A psiquiatria inglesa e a guerra", in A querela dos diagnósticoS', Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 989, p. 24-25. ' Idem, p. 25. 1 Lacan, J. O Seminário - Livro 1 7: O ai·esso da psicanálise; Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 992. 'Jden,_.__cL,,�-ªPítulo VllI;C,Po mito à estrutura", pp. l 1_1 - 1 24. '. ' Idem, p. 1 1 3.I • �m, p. 122. ' Lacan, J. "Proposição de 9 de outubro de 1 967 sobre o psicanalista da Escola", in º2fjQ Lacaniana nº 1 7, novembro de 1996, p. 1 2. • Idem. - - - - - - -- --- - - · - - ' • Miller, J.-A. Seminário inédito (2001-1002). ' "NR: Procedimento significa em português: ato ou efeito de proceder; 1 ) maneira de agir, modo de proceder, conduta, comportamento; 2) modo de fazer, técnica. método; 3) forma estabelecida por lei para se tratarem as causas em juízo e para o cumprimento dos atos e trâmites do processo. 1 1 Hardt, M. & Negri, A. Império; Rio de Janeiro: Ed. Recorei, 2001 . 1 � 1i-_ -é11, i c\ uL�- ,. t:'c,o<u e =C " ''; w( cl o, J"'L_ �u: � Slt )ru1:,,, +i ·cvri , k �-'- �t. ; L Ta vu k1 1-{8 1-< l!.u â . I ; ,' ic· z,_ ' _1.;;_.,, ( -..,., / . Debate Da ética ao avesso da psicanálise Direito, avesso e vazio Sandra Arruda Grostcin O curso de Jacques-Alai n Miller encerrado em junho deste ano, do qual saiu o título deste seminário, foi vári as vezes cit ado por Marie Hélene Brousse. Em suas últ imas aulas,\ M iller refez, em t rabalho c2n�to com Éric La�t, o cami11h_o_percorrido por �l!can que vai d9 Seminário 71 A ética da psicanálise ao Seminário 1 7, O __ av�sso da pyicanálise,j Do Seminário 7, Laurent ressalta que U>ara Lacan existe uma \-�-m-u-ta_ç_ã ..., 9 no que di�re§,Pe�t_o à guestãa c1a des_w, e uma wet iç!g com relação ao gozo. Ele usa a expressão(acumulariao invés deígoza_.id Já no Seminário 1 7 - ele frisa bem a questão do desejo e do gozo - há uma permissividade em relação ao gozo.\Espera-se que o suj eito não tenha mais vergonha de seu gozo, e que se envergonhe sim do seu dese.i9. N esse meu esboço, �ou__b�_!!Q Seminário 7 el�IJJ�ntos (l�e colaborem para o melhor entendimento sobre essa relação entre desejo �� o nas art iculações feitas por Lacan. Na página 1 62 do Seminário 7, em português, ele diz: .. Quando lhes dou uma fórmula como o desejo do homem é o desejo do Outro, trata-se de uma fórmula fn3 embora Freud não tenha procurado fornecê-la como tal. [ ... ] citei-lhes uma fórmula muito curta que aproxima os mecanismos 49 respec ti�os da histeria, da neurose obsessiva e da paranóia, -� termos de sublimaç�o - a arte, a religião e a ciência. ( ... ] Essas indicações nos ajudarão a articular, em toda a sua generalidade, a fórmula com que, no final, c.!!_egaremos a pnar a função da sub limaç_ão na teferênc ia à Coisa", das Ding. ( . . . ] "Essa Coisa, da qua i J . todas as formas criadas_ pelo h_oJ'l'le_f1! _são do registro da sublimação ' será sempre representada por um vazi o, precisamente pelo fato de el não poder ser representada por outra coisa - ou, mais exatamente, d ela não poder ser represen tada senão por outra coisa . 1 Mas, em tod� forma de sublimação o vazio será determinante. [ . . . ] Toda ar1e_ sei caracter:_iP!_por_ µm cgtQ_rnQdo_de OJgMli_;zação em tomo desse vazio.1 [ . . . ] � religiãe>_ co�t� em._ todos os modos de evitar esse vazLo". [ . . . ] E; · a ciênc ia, "o discurso da ciência rejeita a presença da Cojg_ .. . " , das Ding, " . . . u:ina_v_ez__q11�_.e.m sua perspectiva� delineia o ideal do saber -- - -----�- � - - - ·.:: :- absoluto, i�to éJ. de algo ��lec:e, no en tanto, a Coisa não a levando ao mesmo tempo em conta"' . . Então, a arte or�º-i�a_ o vazio, l! . religiã� evita e a c iência rej�� Ao retomar o Seminário 1 7, e_!11_relaç ão uem1issividade do gozo, L auren t diz <}!le! o mestre- e Marie-Hélene desenvolveu bem em sua con ferência - que l5l significante-mestre ÍÍXí!_ o sujeito em(sji) regime de gozo;1Lauren t recupera então na página 1 97 do Seminário 1 7: �E u sou liberal, como todo mundo, l!Q_enas na medida em que sou _ antiprogressist�?:?ó que estou metido em um movimento que merece ser chamado de progressista, p_ois tprogressis��m ver fundamentar-se o-=' <!i_sc urso psicarialítico, na m�dida em que este completa o c írculo que poderia, talvez, ' permitir a vocês situarem exatamente aquilo contra o - - --- - - -- que se revoltam40 que não impede que isso continue func ionan do bem paca. E os primeiros· a colaborarem com isso, aqui mesmo em Vincennes, são \'Q_C ês, pois desem�nham a função dd hilotâi\ de� r�im�JVocês também não sabem o que isso quer dizer? O regim� Q �_?stra_ para vocês. E le dj:z: - Vejam como_gg�!!!'"· Ou seja, é atrav� do regime político �� pod�p_os �lcançar '!qssas modalida_de�=de _gozo. so Para melhor exemplificar isto, teremos que voltar à referência das ú lt imas au las � á c itado curso de J.-A. Miller., Nesse contexto, nessa discussão entre Miller e Lauren t, ele uti liza a famosa frase de maig de 1968 para falar da permissividade do gozo: ··�ibido proibir". Estudando n esse curso e trabalhando esse texto, lembrei- me da frase "proibido proibir", transportada dos muros de Paris, em 1968, para São Paulo. Aqui, mesmo nessa época, ela rep resentou uma música - e representa até hoje - um momento, uma época. Caetano Veloso, num festival de Música Popular Brasileira, ap resenta sua canção É Proibido Proibir. Recebe do público, em suas próprias palavras, no livro Verdade Tropical: "A platéia, n o Auditório do TUCA (o Teatro da Universidade Católica tinha sido a escolha dos organizadores do FIC) , predominan temente estudantil e comprometida com um nac ionalismo de esquerda (quer dizer, antiimperialista), reagiu com violenta indign ação. Várias caras conhec idas se mostravam ostensivamente hostis a mim [ .. . ] e não pouc os entremeavam as vaias convenc ionais (uuuuuuuu) , com xingamentos e palavrões"� . No palco, "À medida que os rostos curiosos - mas nem por isso livres do ódio que os fizera desaparecer