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O inconsciente é a política - Seminário Internacional - Marie-Helene Brousse


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Marie-Hélene Brousse 
"O inconsciente é a política" 
Seminário Internacional 
Organização 
Carmen Sílvia Cervelatti 
Escola Brasileira de Psicanálise - São Paulo 
1 • edição - Maio de 2003 
São Paulo - SP 
facebook.com/lacanempdf
Tnnscriç&s 
Eliana Machado Figueiredo (português) 
Maria Noemi de Araújo (francês) 
Revisão tknica 
Carmen Sílvia Cervelatti 
Sandra Arruda Grostein 
Rmslo de portugub 
Celso William Cavicchia 
Notu bt'"bliogr6ficas 
Carmen Sílvia Cervelatti 
Eliana Machado Figueiredo 
Tradução simuldnca das Conferencias 
Clary Khalifeh 
Projeto grüiço e editoração clctrõnica 
Duo Creative Designers 
Agradecimentos especiais 
Maria Bonomi 
Marizilda Paulino 
Silvana Cardoso de Almeida 
Seminário Internacional promovido pela 
Escola Brasileira de Psicanálise - São Paulo, 
Novembro de 2002 
Texto não revisto pela autora 
Dados Internacionais de Catalogação na Public:açlo (CIP) 
(Cimara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Brousse, Marie-Hél!ne. 
�o inconsciente é a política" I Marie-Hélêne Brousse. -
São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, 2003. 
ISBN 85-89632-01-6 
Bibliografia 
1. Psicanálise e inconsciente 2. Barros, Romildo do Rego 
3. Grostein, Sandra Arruda 4. Nicéas. Carlos Augusto li. Título 
CDD-150.195 
índice para catilogo sistem!tico: 
1. Psicanálise: inconsciente 150.195 
• Sumário 
O inconsciente é a política 
Marie-Hélene Brousse 
Apresentação 
Sandra Arruda Grostein 
Prefãcio 
Angelina Harari 
Conferências 
O analista e o político: 
"Alcançar em seu horizonte a 
subjetividade de sua época" 
• A psicanálise no tempo dos "mercados 
comuns e dos processos de segregação" 
O futuro da psicanálise depende da 
.. insistência do real" 
07 
09 
13 
33 
59 
Apresentação 
- -� -- - Sandra Arruda Grostein 
Este lhTo é uma tentativa de recuperar e preservar na escrita um 
bom encontro de psicanalistas preocupados com o futuro da 
psicanálise e de sua inserção na cultura. 
Pois, "se o sucesso da psicanálise é seu fracasso", que futuro 
podemos esperar para ela? 
O eixo do livro se sustenta nas três conferências proferidas por 
Marie-Hélene Brousse em São Paulo - a primeira O analista e o 
político: "Alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época", a 
segunda A psicanálise no tempo dos "mercados comuns e dos 
processos de segregação" e, finalmente O futuro da psicanálise 
depende "da insistência do real". 
Além delas contamos com as intervenções dos três debatedores, 
Romildo do Rêgo Barros, Sandra Grostein e Carlos Augusto Nicéas, e 
com as contribuições dos coordenadores Rômulo Ferreira da Silva e 
Carmen Sih·ia Cervelatti. Há também a introdução de Cássia Maria 
Rumenos Guardado, o encerramento que coube a Maria do Carmo 
Dias Batista e as perguntas do público. 
Marie-Hélene Brousse é psicanalista, membro da Escola da 
Causa Freudiana de Paris e os outros ou são membros da Seção São 
Paulo ou da Escola Brasileira de Psicanálise. As duas Escolas fazem 
parte da Associação Mundial de Psicanálise. 
O leitor \'ai encontrar, nas páginas seguintes, um debate muito 
7 
interessante, tendo a psicanálise de orientação lacaniana como bússola 
para abrir os caminhos ainda não explorados das aproximações e dos 
distanciamentos na relação da psicanálise com as psicoterapias. 
As propostas apresentadas são otimistas quanto ao futuro, pensado 
a partir da possibilidade de a psicanálise "desembaraçar-se das suas 
melhores amigas", a ciência (aplicada à saúde) e a psicoterapia. 
O Seminário, "O inconsciente é a política", ocorreu em novembro 
de 2002, no anfiteatro da Pinacoteca do Estado de São Paulo, como 
uma atividade que marca as relações de troca de trabalho entre as 
Escolas da AMP, uma iniciativa da Seção São Paulo da EBP. 
O título, "O inconsciente é a política", sugestão de Jorge Forbes, 
foi recortado de uma articulação de Jacques Lacan feita no Seminário 
XIV, revisitada por Jacques-Alain Miller em seu curso de 2001-2002, 
no âmbito da Seção Clinica de Paris VIII. 
Os significantes que movimentam os analistas da AMP e os 
convocam à pesquisa estão amplamente representados neste livro. 
Uma citação de Freud, no "Mal-estar na civilização", utilizada 
por Marie-Hélene Brousse, concentra e condensa nosso objetivo com 
a publicação deste livro: 
"As pessoas, em todos os tempos, deram o maior valor à ética, como 
se esperassem que ela, de modo específico, produzisse resultados 
especialmente importantes. De fato, ela trata de um assunto que pode ser 
facilmente identificado como sendo o ponto mais doloroso de toda 
civilização. A ética deve, portanto, ser considerada como uma tentativa 
terapêutica - como um esforço por alcançar, através de uma ordem do 
superego algo até agora não conseguido por meio de quaisquer outras 
atividades culturais. Como já sabemos, o problema que temos pela frente 
é saber como livrar-se do maior estorvo à civilização - isto é, a inclinação, 
constitutiva dos seres humanos, para a agressividade mútua"1• 
Nota 
' Freud S. "O mal-estar na ci,·ilizaçào'' ( 19.29): Edição Standard Brasileira das Obras 
Completas de Sigmund Freud. Vol. X..\] (19.27-1931); Rio de Janeiro: Imago Ed., 
1974, p. 167. 
Prefácio 
Angelina Harari 
Este é um livro que mostra não somente três conferências, sobre 
um tema candente da psicanálise, exposto com preciosismo pela 
autora, mas também o trabalho dos comentadores aliado ao atento 
público, este último constituído essencialmente pela comunidade 
vinculada à Seção São Paulo da Escola Brasileira de Psicanálise. 
As conferências de Marie-Hélene Brousse inserem-se no marco 
de uma atividade contínua da EBP: os assim chamados Seminários do 
Campo freudiano. Nestes, por um lado, as Seções/Delegações da EBP 
coordenam-se, duas a duas, para convidar um colega do Campo 
freudiano, e por outro escolhem, uma a uma, o tema que se articula 
melhor ao trabalho da comunidade local. 
No convite feito à autora, levou-se em consideração o enlace 
inconsciente/política, cuja abordagem anterior de Lacan foi atualizada 
por Jacques-Alain Miller em maio de 2002. A atualização ocorreu no 
marco da criação de outra Escola da Associação Mundial de 
Psicanálise, dessa vez na Itália. 
Marie-Hélene Brousse procede a uma análise do tema o 
inconsciente é a política fundamentada em citações marcantes do texto 
de Lacan, chamando a atenção não somente pela época, como ainda 
pela inspiração com que foram ditas. Tais citações foram extraídas dos 
seguintes textos: "Função e campo da fala e da linguagem em 
psicanálise"'. de 1953; "A direção do tratamento e os princípios de seu 
9 
poder", de 1958; "A psiquiatria inglesa e a guerra", de 1947; 
"Proposição de 9 de outubro ... " de 1967. Além disto hã nas 
conferências referências mais gerais de Lacan e de Freud, assim como 
do curso de Jacques-Alain Miller na Universidade de Paris VIII. 
O leitor terá oportunidade de se deparar com várias chaves 
lógicas encadeando os três capítulos, são vários os desdobramentos 
possíveis aos quais a autora nos conduz. 
Eis, à guisa de introdução do leitor ao livro, um, entre vários 
possíveis, encadeamento lógico dos capítulos a respeito do tema O 
inconsciente é a política: 
• na primeira conferência a autora mostra como a dialética do 
desejo não é jamais individual no campo analítico; portanto o 
inconsciente está no cerne da política e isso se reflete no 
interesse do analista em alcançar em seu horizonte a 
subjetividade de sua época: 
• em seguida, a conferencista marca a relação entre-a união dos 
mercados (globalização) por um lado, e os processos de 
segregação por outro, como a universalização em que, com o 
intuito de anular as
diferenças, vê a segregação ressurgir; 
• por último, e sempre partindo de Lacan, postula que o futuro da 
psicanálise está ligado ao fracasso em satisfazer a demanda do 
mestre. 
Falta apenas dizer que esta publicação acontece num momento 
institucional importante da Seção São Paulo, uma vez que a 
Editora/Diretora Sandra Grostein (2001-2003) termina sua gestão. O 
livro fica como resíduo-letra do trabalho de uma Diretoria. 
10 
• INTRODUÇÃO 
"O inconsciente é a política" 
- -- ----�- - �- --- -- - - - - Cássia Maria Rumenos Guardado 
"Eu não digo a política é o inconsciente, mas simplesmente, o 
inconsciente é a política". Essa frase de Lacan, no Seminário 14, A 
lógica do fantasma1 , foi colhida por Jacques-Alain Miller e deu base às 
suas (dele, Miller) intuições milanesas para desenvolver as relações 
entre o inconsciente e a política. 
O primeiro ponto a se destacar é a preferência dada por Lacan à 
afirmação o inconsciente é a política, determinando-lhe a "competência", 
como sendo a de um psicanalista, pois propõe uma definição do 
inconsciente como aquilo com que um analista tem (sempre) que lidar. 
A fórmula o inconsciente é a política caminha não só com a 
definição de Lacan de que o inconsciente é ó discurso do Outro (A), 
na medida em que o Outro é dividido e não existe como "Um" 
(elaboração própria a seu primeiro ensino), como também com a 
asserção de que o inconsciente tem a ver com o laço social, justamente 
porque não há relação sexual. 
Para Lacan, o inconsciente se produz na relação do sujeito com o 
Outro (A) e, depois (em seu ensino), no encontro do sujeito com o 
Outro sexo. 
Assim, o inconsciente tem a ver com e se produz a partir do laço 
11 
O inc:on<.:i�n,� I a polu,.: a 
social, e sendo o inconsciente aquilo com que um analista tem sempre 
a ver, o analista, e a psicanálise, têm a ver com o laço social, aquilo que 
faz o laço com o Outro e com os outros, aquilo que o coloca frente a 
frente com a cidade e com a subjetividade de sua época. 
Sem abrir mão de seus princípios, sem abdicar daquilo que faz a 
sua particularidade, a fratura e a "ex-sistência" do Real, a psicanálise 
faz face à lógica da totalização, (de)monstrando o furo, o equívoco, 
fazendo vacilar o sintoma, liberando o sinthome, fazendo aparecer o 
laço social como forma de suplência ao Real. 
O witz de Freud é, para Lacan, a forma por excelência na qual o 
inconsciente se mostra político, fazendo laço social, laço com o O utro, 
seja através do jogo do significante, seja do jogo com a letra, como faz 
Lacan, ele mesmo, ao final da aula de 10.12.1976, no Seminário O 
Sinthomli. Ali ele joga com seu auditório e seu próprio nome, Jacques 
Lacan, para dizer-lhes que estava satisfeito de até onde tinha chegado 
com eles aquele dia e que assim eles tinham sua "claque'.', mesmo sua 
')aclaque", a que ele acrescentaria um han!, o que lhe dava um alívio, 
e assim ele fazia de seu nome próprio, um nome comum. Eu diria 
aquilo que faz laço com o Outro e com os outros, como Joyce, que 
pode se tomar, com o seu Here Comes Everybody, Homem Comum. 
Enfim, a bela e justa tradução em português do livro homônimo de 
Anthony Burgess sobre Joyce. 
É o que poderemos acompanhar e discutir nesse Seminário 
Internacional do Campo freudiano, nestas três conferências, com a 
convidada Marie-Hélene Brousse e o trabalho e o debate, sempre na 
linha da transferência epistêmica, de nossos debatedores. 
Notas 
' Lacan, J. Seminário 14, A lógica do fantasma. Seminário inédito. 
' Lacan, J. Seminário 23, O sinthoma. Seminário inédito. 
12 
lª CONFE�NCIA 26/11/2002 
• PRIMEIRA CONFERÊNCIA 26 l 1 '2002 
O analista e o político: 
"�Jca�çar,em seu horizonte1a 
subjetividade de sua época" 
- -- -- Marie-Hélcne Brousse 
O tema desta conferência, amplamente discutido no âmbito da 
Associação l\lundial de Psicanálise, interessa à medida que particulariza 
o momento arual naquilo gue concerne à psicanálise. Vamos resumi-lo --t­
em algumas frases: {� sucesso da terapêutica,I e em particular da 
p�oterapêutica, com·�-�-º-�!��Q!ico,�_ctncipal!.)lente na Europa, a 
��nunciar legalmente_a respeito do seu exercício. Dessa maneira, o 
lugar_da psicanálise em relação às psicoterapias e ao campo da saúde 
mental se encontra questionado. para �esponder e se situar com relação 
a esses diferentes pontos, a psicanálise busca, a partir dos seus próprios 
1 �' fundamentos. analisar a época na qual ela está inserida e a partir daí se 
cesp.2.nsabilizar por seu lugar./Esses três seminários serão dedicados a 
um aprofundamento sobre esses diferentes pontos. O primeiro tema, O 
analista, e não a psicanálise, e o político. O desenvolvimento seguirá a 
orientação dada por Lacan, o qual conduzirá a um posicionamento. 
Um silêncio é rompido 
Primeiramente. devemos constatar que não é uma tradição dos 
analistas assumir ou tomar uma posição política publicamente. Isso já 
ocorreu na história da psicanálise, mas nesses últimos anos os analistas 
15 
O ,noon.5..·:�r:tt> � a poli11 .. ·� 
� ( >V ff !.le.; n·u ..J.-O"í 'l\"t>'(' e J_,;� cu.\ i"ll a..,......_,o. t,' �. (<.'). C-cY\ Í-.J r.,;._ l.e,.. , 
permaneceram em silêncio. As Cartas à opinião esclarecida, de 
Jacques-Alain Miller, vieram romper um longo silêncio. Miller, que 
criou a Associação Mundial de Psicanálise (AMP), havia reservadQ. o 
seu trabalho à teoria e à clínica analítica se dirigindo essencialmente a 
um público de analistas, no interior de uma comunidade de trabalho. 
No ano passado, pela primeira vez, depois de vinte anos, ele saiu do 
seu silêncio e se dirigiu à "opinião", como ele chamou, além das 
instituições. Portanto, podemos dizer que ele retomou o seu lugar na 
cidade. Ele o fez por razões éticas e também por razões ligadas ao 
4r avanço e\!_ defesa da psicanálise lacaniana na nossa sociedade, Eº 
início do século_ XXI. .. Defesa porque a psicanãlise é mui�o 
freqüentemente atacada. Ela se encontra sempre em uma situação 
particulitr . e .. 111 relaç!9 ªQ QO<!� É raramente reconhecida na 
universidade e, se está presente no campo da saúde mental, é mais pel� 
fato de os analistas,,um a um, optarem por este trabalho. Talvez esteja 
bem assim, porém!isso implica gue o discurso analítico· não esteja po 
\.-!) mesmo Iug_!,I" 9.\:!e os outros discursos, É necessário tomá-lo conhecido., 
O analista e a política 
Para refletir sobre qual a !.�l�<;>.fu11damental que o analista tem 
com a dimensão política1 a partir do ensino de Lacan, usamos duas 
referêncjas. que não são exatamente da mesma época, às quais 
_acrescentarei uma terceira. Foram escolhidas pela clareza. 
A primeira, "alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua 
época"', citação de "Função e campo da fala e da linguagem em 
_psicanálise", texto de\ 1953,,no qual Lacan enuncia claramente, pela 
primeira vez, a tese que irá orientá-lo em sua leitura de Freud e 
re.valuciaoar a psicanáijse. É o momento em que Lacan apresenta o 
axioma "o inconsciente é estruturado como uma linguagem", quando 
se inicia a orientação estruturalista da psicanálise e se articula o avanço 
da teoria do inconsciente com o da lingüística. 
No campo analítico, ele diz que a dial�tica do desejo não é jamais 
•f ' ,", , 
µ/ . --: ().1v1.l{). '( �;",, �-l, ,, //Oíl , ;J -on :t C,{_ 
' ' . ( ' 
') / '.�Ç,T).l,.:l.,-1.J. � �(>",�{JW) 16 
- - ;, j, i 1 ft- --',' (/) t ., ., . �- �·�J 7 -, :1 t'Ci € - Â z ;d; ·, é-u i:1/. 
· - � · ." ' MaricaHêléne Broussc .' , . . -, t f1 . tw ' '-'Coi<S �-.hv• . " o " '"' " <'.\ >'• e�� 
• / ' , /' /. - . � . / (. / � - . _,,,!· . --�- rv(Á /<')V<' ., ·,, i• e-1 ,l(;rtA -, u;, q �yc, · � �u -,1._if/_".':;,--c--, �fr H e v.q ,1 ac, . 
indiv�<!_llal_;
Não vamos tirar as conseqüências disso'imediatamente.\Não 'lE..,{; há nada que pareç_ª mais individual do que fazer uma análise. O sujeito 
fala a respeito do que el��m de mais íntimo, do gue ele tem de mais 
singular. confessa o seu inconfessável.\Eis aí uma p_r:áH�_a qye .Qª_rec� 
centrada no indivídu�_que aconte�e den_tr� de um consultório, 1distante 
d�s laços soc��is que � suj�_ito estabelece, isto é, distante do coletivo\ 
,2 q�e quer di�er então "a dialética não. é individual':J Isso faz, evidentemente, referência ao inconsciente estruturado como uma 
linguagem., Na perspectiva ai_ialítica, a oposição individual/coletivo 
não é válida, e q desejo que o sujeito visa a decifrar é sempre o deseio 
do Outro, uma vez que passa pelos desfiladeiros do significant� --===- -Além disso, Lacan sublinha n�L!,inguagem\ tanto sua ! natureza 
histórica como també� sistêmica,J um sistema diferente conforme as 
lín�.t Ele até se perguntou se os japoneses têm um inconsciente, 
levando-se em conta a natureza da língua japonesa. Portanto, existe 
1historicismo da língua, ela traz em si a história e os traços fundamentais da 
civilização. É nessa perspectiva que podemos compreendei o que ele dirá 
mais tarde: o inconsciente é lítico - essa proposição que, sem a 
referência ao desejo do Outro, nos esforçaríamos para considerar evidente. 
Em Milão2, J.-A. Miller, relembrou que\a política é o inconsc_ient�fa 
perguntou: será que o senso comum compreende isso? P��ig_'!�-� lapsos 
do_s_ _políti<;o� e depois os interprete, e intel]!_�te--ª-_ 'Ô®_política como� 
interpretam os fenômenos de formação do inconsciente. Ele retoma a 
proposição dizendo:�'? mconsc1ente e a poHiicaJ que está em defas.�� à 
com relação ª-�s� (?rientação do senso comum,\�Êo1Jtica e o!!Jsj}aicZen!�) · 
Miller ressaltou algo que é muito preciso: é modéstia de Lacan quando ele 
diz isso. Ele é modesto, pois afinal de contas ele dá uma definição do 
inconsciente. Para um analista é perfeitamente legítimo e mesmo 
desejável. Ele não _ � �j_!__e_ <;mr _\ID"!a definicào 9.9._@líti�9. Q_gµe afinal 
�e_ ç_Qntas nãQ_�flll nada_mlli�_do ql!�_uma interpretação se!vagem. 
Tudo isso nos conduz à expressão em questão,}, levando-s� 
c�nta o fato de 9.1Je a dialética do desejo não é indiY.idua.1.Jexige-se do 
- --·- - -- __ ... 
17 
'- = ..... • "'' ' - .... . � - ......._,...,... � . ... - . -- - - {' - , , 
�lista que ele se interesse pela dimensão_d.Q .I>.ºlítico e da cidDde. 
Lacan chega ao ponto de dizer que aquele que não quiser se interessar 
por isso, não pode ser analista. Eu vou citar a frase inteira. Ele fala do 
analista: "Que antes renuncie a isso, i>_oi:t--ª�tºi. q!-!_ef!1_ não �e_gujr 
alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua, �oca. Pois, como 
poderia fazer fie seu ser o ei_xo de tantas vi�s 19uem nada soubesse da 
\dialética gue o compromete <;om essas ,l;j4as num movimento 
àmhó�3 • É uma frase belíssima, em primeiro lugar, porque é uma 
definição do trabalho do analista: "fazer de seu ser o eixo de tantas 
vidas". Não é dessa forma que ele falaria a respeito disso mais tarde, 
porém um ponto permaneceu constante até o final do seu ensino: que a 
1 �áti��_ do analista \o compromete em seu próprio se�. Além disso, é 
interessante a forma como ele fala dos analisandos: �·tantas vidas'� 
mostrando que a experiência analítica do analisando é uma experiência 
que não �nas terapêutica e sim uma.experiência étiça, que col� 
_questão os fundamentos essenciais de seu destino. ,A ruào_�.alo 
analista deve se interessar ��a s��jetividade de sua época �e�� 
)vidas são tomadas �<!_ �jal�tJcl! 4� u111 _m��i!!!_ent� _ sir1_!�óli�2· Lacan 
definiu como tal o que Freud chamou de "civilização" - 1moviment� 
simbólico da cjvilizacàDNÉ isso que o analista deveria poder decifrar. 
Podemos dizer que para Lacan existe, do ponto de vista do 
analista,,um imperativo de d_ecifr�!]lento do movim�nto simbóliç_o, o 
que ele mais adiante no texto chamará de ('a espiral a que o arrasta su� 
Jpgca".\Q__ecifrar, portanto, o Outro gµei a Qutm si���nguanto 
efeito da língua. __ i;_o?emos dizer� se trata de um dever de saber. É a 
_primeira relação que o analista_ tem _ com � política.l Poderíamos 
representar isso com o materna que Lacan apresentou desde então. 
\Tr<!ta-se de decifrar S (fJ,_ 01c1 sej�.1. o significante do Ou!rº--�-e n㺠
existe, que só existe sob essa forma de significante, do movimeot9 ---== 
simbólico. Pode parecer paradoxal associar o Outro que não existe e 
decifrar o movimento simbólico. Ou seja, o Outro, que se reduz ao 
conjunto de significantes, é um Outro que �ó exis_!� como s_�b!ante.,_ 
�
1 v, ": J-011:;e,la1� ,.."' -�·o1 -, :� �b (( ,,,0 1n,":Jll. ; ... :,,.,..._�'l"co. 
\_i . () �JJ F f)rrJv �-w r.,.: � ;+!,,",r,õ,u, _1. 8 
-r l \ , 
' . � ,:, ()'1< .. Ll 
/...1 . l!.- C ,. ,� , · 'r-/\ ('nJ : b � w�'v-"J J,._ '�) ,:) .,_,. _,.e -=-:�'-'--------
com_o _!!l�_ctU_ina significa_nte. Não se trata de um ser supremo ou 
malvado, de malvadez-LNão se trata de UJ!I parceiro maquiavélico qu� 
tenta subjugar-nos ou nos explorar. É simplesmente _a estl}!�ura da .l. · �- ---
ling�em tªI como da nos permeia� 
Portanto, Lacan exige do analista efetuar esse deciframento e ai 
constituir um saber. Embora Freud não tenha abertamente apresentado 
suas opções políticas, ele escreveu "O mal-estar na civilização" e 
"Psicologia de grupo e a análise do ego", dois textos sobre a guerra. 
Então '\podemos e.çrcd>er �m �lguns textos qye Freud se mos!@ 
__.,. e 
interessado pela subjetividade de sua épocaj 
Uma segunda maneira, a meu ver, de aproximar a relação do 
analista com a política é · u_m _ dev�r __ de �aber1 um dever d� ato. � 
_2_odemos conceber a análise sem a dimensão do ato. E nesse nível se � ·---- - ' === --=:z: - ' -
apresenta também a questão do político
.:, 
Façamos uma pequena digressão, usando o texto "A direção do 
tratamento e os princípios de seu poder". Na última página há uma 
descrição de Freud, o analista, num estilo eminentemente lírico. "Quem 
terá ainda a ingenuidade de se ater, no tocante a Freud, à imagem de 
burguês bem situado de Viena que espantou seu visitante André Breton, 
QQ!:.!1-�0 � aureolar de nenhum convívio com as.Mênades? Agora que já 
não temos senão sua obra,'�caso não �ç_onheceremos_ _nela um rio d_<! [o.,gQ 
que nada deve ao riach_o artificial de Franço_is Mauriac? [ . . . ] Quem 
trovejou como esse homem de gabinete ç_omrLo açambarcamento d_() 
gozo por aqueles que amontoam sobre os ombros dos outros os fardos da 
necessidade?';4 E a descrição continua, mas trata-se de um retrato que 
implica a questão do político, às vezes pela crítica de uma sociologia 
simplista da posição de Freud, o "burguês de Viena" é um rio de fogo. E 
lá podemos ver como � pen�amento dç l.!)c_a_!!_ t1:1m pe_nsa!!_lento _que 
i
_
nclui um ju!g_a111��t� pgJj!_Íf.Qi..mo.stnmgC!_ �e\O\campo da so<:!ol9g_ia não � _ 
e o da p_sicanálise"' Nã�_ é_ poí9U� a pessoa é aquele bu�ês t>em 
comportado vivendo em uma casinha normal, que do ponto de vista do 
dcsrjo_ não é um_ grande subversivo. 
19 
Essa descrição mostra o analista como homem de desejo, e de um 
desejo articulado ao insuportável, ou seja, 1um desejo que não recu��iante 
�on!9 do insyportávrl_�da.um. É o que Freud chamou de "a Coi�", 
cf:as Ding,. o centro vazio de cada analista. E por que vazio? PQ_rqll� �-9 
P.Onto ondep_.si.ijci� ���O sujeito esvanece exatamente ali onde ele 
�e aproximado ponto do que é insuportável, o ponto de horror.\ 
Muitas vezes, no Seminário 7 - A ética da psicanális�, Lacan 
lembra Aristóteles. Ele confronta a ética da psicanálise com a ética 
aristotélica. Resumindo, / Aristóteles clefine o campo� �ti_ca, 
c_on_��d�dog_tE .o meio é.J>gµe está fora desse campo, tudo o que eJe 
chama de monstrµa§Q. t!.ldQ�
� �a ordem dQ_g_ue_s��de imagi11ar � 
de pior exista Ele exemplifica com os atos de barbáries, com os tiranos 
de sua época e, completa, disso não se fala porque não faz parte das 
coisas humanas, portanto não faz parte do campo da ética. 
Diferentemente, a psicanális� - por consid�r_a! o -�_o_n�truº-�-º 
não como uma_j@rtic_l!_��Ld!!de.1.2,e alguns � sim c.9mo en�<_?n�r_ável �1}1 
todos os humanos, mesmo que com modalidades diferentes, mas 
«.:....::; - - - ----�- · - - - - • certamente para todos -,coloca então no centro do sujeito um ponto 
de horror que o faz yacjlarl Eis aí o retrato de Freud, aquele que não 
recuou diante disso, diante do horror. \Podemos dizer que cada 
analista não deve recuar diante do horror, I>Qis, dessa mªneira, o mais 
1 horrível é o mais humaJ'!O e passível de ���-�nalisado. Isso conduz a 
pensar a relação entre o analista e o políticq, não apenas na vertente 
do saber, 1�s na vertente do ato,t ou seja, ,a forma ge respondg 
através do ato ª-��e ponto central.l Daí a necessidade de rever a 
noção de neutralidade do analista. 
A neutralidade do analista 
O que é a neutralidade do analista? Não é um eu não vou tomar 
partido. O analista é forçosamente alguém que se compromete, que se 
envolve e que toma partido. Como definir esta_ neutral_i�ad�,_!endo 
como fundo o comprometimento? 
Em primeiro lugar, considerar-se ileutro não significa e sta r fora 
da subj etividade de sua época . É não apenas estar dentro dessa 
subjetividade como também saber se orientar nela . 
Em segundo lugar, �que a neutra lidade seria mais uma 
neutralização do jui z!;)-: O analista não tem que julgar, ele não é um juiz. 
Lacan diz isso em uma conferência:\quem sou eu para julgar essa v ida 
�e confessa?; Portanto. nada de sugestão, nem de juiz. nem de 
conselheiro_J A neutra lidade do analista deve ser definida e baseada 
nesses dois pontos. li; uma neutra lidade com relação ao eu.J. e ao 
supereu) ma s é uma neutralidade que é de um compromisso para o 
sujeito.l É uma espécie de adiamento do p�çonceitp e_.de. escolha,. 
escc:,lhas que lhe são próprias enquanto sujçito e _não enquanto ana lista. 
'º analista não está presente na análise enquanto sujeito, e sua 
neutra lidade diz respeito ao eu, à adaptação soc ia l e ao supereu=;- seut 
. :sz 
imperativo de gozoj E�, é um:i n�utra lidade que diz� resp�ito aos 
.�mperativos presentes gp_ gj�çpcsa �o roestre. Por outro lado, é o 
c��ruame nto com relação à orientação do sujeito, ou seja.lo delti.,<>.c 
Tcpgyanto cjrculando na cadeia de significante�_gue é o sujeit�. E m 
cada interpret�ão esse engajamen�-9�0. Portanto, o analista 
não é neutro da mesma maneira como nós entendemos a S uíça como 
um país neutro. Tra ta-se de uma neutra lidade muito mai s complicada. 
Trata-se de uma neutralidade política? Para responder, introduzirei um 
terceiro termo, a noção de discurso. 
� .J .. : -'A L� 't , e ��tb� J.o� .. "°) ,x;·s w ( 'i,� . 
c,o disclll'SQ� o laço social gue implica I.QlLfi;çio_sobre o gozg,, 
Lacan, em 1 95 3 ,\ refere-se à subj etiv idade dll_ �a é_p�c-� , _em 
t�r_mos de movimento--.S.iJnM.lico,f Mais tarde, isso será re duzido à 
dimensão do disc urso, através da proposição de quq_a psica nálise é um 
�iscurso� segundo uma definição que encontramos no Seminário 1 7 -
O avesso da psicanálise. É uma definição que engloba todos os 
di scursos, desde a categoria do discurso em geral até o da ps icanálise. 
isto é, u.ma formação humana que serve como freio para o gozo. A 
® 4 17eu&i&olor.Pé :/-Ó �t·i{ oi,� �·/.o ()t,o 
� � -ÍJ- I /_ � .:. .... A - � • - (; 2} J ,, U-LJ-u (/ . _ / /. 
_,. •.,'.; " �- ,. �- .. estrutura do discurso da psicanálise é a mesma daquela simbolizada 
por Lacan como discurso_ do mestre, discurso da histérica,_ dis�urso 
universitário - os_q.u.atm .grandes. . .moJklo.s..Jle_d�cy�Q_ e_m __ LacaniJ) 
discurso é o laço social que imQ.lica s�l_!lpre un:iJreio sobre o gozo, uma 
ordenação do gozo, uma organização d�ozo humano: um freio, um , 
limite, portanto, um modo de organização do gozo. Como laço social, 
a psicanálise implica urn\two) sobre o g;�--
Contrariamente, há um outro tipo de saber,\ pois a psicanálise é 
Y,m laço social e um sabs,r:. Mas poderíamos dizer o mesmo de todos os 
discursos, pois todos os discursos im..Itlic!lm um_ saber. Em 
compensaçãoÍhá ;i saber que não implica o laço social,\o que não 
sigri_i�ca _ _ que ele não _esteja _preso pu dentro de outros laços sociais, mas significa que, enquanto tal, enquanto saber,\não implica um laço 
social.' Esse saber�.r�_nte é a ciênciaJ Portanto, Lacan faz uma 
oposição entre, por um lado, a ciência, 1!.ª qual _há um saberl�..não 
l.li:n_� ordenação do gQZO, e a psic_aflá!is'2.Pº� outro !ado, que �-UDl s�Q� 
que não é sem relação com o saber científico, mas �ue é também um -----�---- - - ·- - ----laço socia.!J 1E justamente po.rque a psicanálise�é. ... w11,-Jaç.o .sººª1. portanto um tratamento do gozo, que ela _ está necessariamente 
misntqida na gues.tà.a do político.: 
� _..,_ Indo ao centro do problema, a expenencia analítica é uma · 
, experiência que se propõ�ratar o gozg,lgue propõe.elucidatuelação 
do sozo e o laco sociallTrata-se, em uma análise,\4� modificar a 
relação do sujeito com o sisnjficante-�stre(ou seja, modificar a 
posição do sujeito a partir do lu_gar que ele ocupa !!Q discurso .do. 
mestre, ou melhor,-ll, interpretação gue eJe havia fejtp do djsçnp59 do 
mestreJ Colocar em evidência os significante�-:m<:s�reyproporciona 
uma outra experiência, urna experiência inédita que, como diz Lacan, 
através da prática de um outro laço social leva o sujeito a mudar de 
posição em relação ao significante-mestre., 
Essa é a versão ativa do analista em relação à dimensão política. 
É por isso que Lacan está certo de que todo discurso do mestre possui 
�r _ A c;._i..,._vA e. rv a�;,� _ �. "éª l'""f' ,,:e))-... n o,clf 110,uw d<) 
� • A ;...,.,..; . r, ""' ,�· l � 22 ,.e; ,U nJ .f� .. co /c?W.J.Ji _[. / trn,V/ __ 
� " 
uma voc ação totalitári a., )nclusive aq�ele do m�_!��.A�m.9_�ri1Jil- N ão 
são apenas os tiranos que têm essa vocação totalitária.\Q_�iscurso do 
,mestre coloca um si�nificante no posto de çqmandgJE é por essa razão 
que a psicaná�se_ opera sobre o discurso do mestre, na medida em que 
\;le está pre sente no sujeito e mesmo ele o constitui. �por isso que_ a 
psicanálise é mal vista. 1Nem vamos falar dos regimes totalitários, pois 
destes ela sempre foi excluí da. �as também não é muito bem vista 
@ando o saber é po�to pelo me�tr� _na posição de siiJlificante:m,es� 
- o saber cientificoJ 
Regularmente me dizem que a psicanálise é um assunto de guru e 
que não _!em_ ;_mesmi1 eficácia que C!_S !ntidepressivos e que, de qualquer 
forma, g�S� Jº progresso da neuropsicologia, não iremos mais precisar 
dela�1Janto agui como na França, são publicados a.rtigg��-AAUnCi!!!1_(! 
�10rte da psicanálise. A__p_sicanálise está morta, e deve ser enterrada, ou 
ainda, ela não es_tá suficientemente morta e devemos matá-la. 
Acredito que isso tem a mesma estrutura da operação analí tica, 
haja vista quelo tratamento que a experiência analí tica dispensa a_2 
�iscu�so d��!!'e���_e\Lmpede que ela sej a politicam�nte correta.1 A meu 
\" er, é isso �ue dá ao analista o dCY.!:f de política:Ld,evolver ao sujeito a 
\ �
colha1 a escolha decidida.:.. OJ.l melhor.__a�C,,Q.}ruLw:�- �-ª 
relação com _ o significa��'::":1�� 
Notas 
Lacan, J. .. Função e campo da fala e da l inguagem em psicanálise", in Escritos; Rio 
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 998, p. 322. 
' '.\liller, J.-. .\. "'lntuitions milanaises [I)", in Mental - Revue lntemationale de Santé 
.\lenta/e e Psychanalyse Appliquée, nº 1 1 . décembre 2002, pp. 9-2 1 . 
,'Q Lacan, J. 
.. Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise", in Escritos-,
Rio 
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 998, p. 322. 
' Lacan. J. ··_.\ direção do tratamento e os princípios de seu poder", in Escritos: Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar Ed .. 1 998, p. 648. 
Lacan, J. O Seminário - Livro 7: A ética da psicanálise; Rio de Janeiro: Jorge Zahar 
Ed., 1 988. p. 1 4. 
·, � 1 . C: c,,,,ul ()! d, (}..O a.v1 0 &-s,4 o cÚ vtJõ 6lÍ:-t 
; ,s-C-1/w, : d( v' iY v ('l( ai) _� j) O Cc(cJ'Ív,, 
� fh C.{;f f,q WúdtJJé �!li !Ottl-0 &ft} o 
&J ,, 
Debate 
� - -- Romildo do Rêgo Barros 
Marie-Hélene Brousse trouxe-nos uma mensagem preciosa. 
Normalmente, quando se fala de política, se pensa no coletivo. Quando 
se diz "deve-se participar da política", se está dizendo, em geral, que 
se deve sair do privado para o público. Por exemplo, "você que é um 
privilegiado, deve ajudar os não privilegiados". Ou, como se dizia em 
1 968, "não_ fiqu� - �arado, voc_ê é exploraqo','. 
A política seria aquilo que tem que ver com o público..1 e a moral -- - - - - .. . -- -- - - - . - . - - - ----
��_p_�ad<:!. Faz-se uma escolha moral para se ajudar a dimensão 
política do público. Quando Marie-Hélene Brousse diz que a separação 
fgUre o iodjyjdual e coletivo, em psicanálise, deixa de existir como 
t-op_osiÇ.ão. ela nos faz dar um _!lvanço_ muito grande/ A partir daí, já não 
se trata simplesmente de sair do campo do privado para o público, mas 
�alizar antes de tudo o político no campo do privadg. Isso tem de 
fato tudo que ver com o nosso tempo. 
Participei de uma mesa redonda no Tribunal de Justiça do Rio de 
Janeiro, num encontro de psicólogos jurídicos, e um desembargador, 
que estava na mesma mesa que eu, disse algo que eu não sabia, e que 
transmito a vocês sem ter confirmado se entendi corretamente a 
afirmação\ a partir da Constituf�ào ll��fl�ira de 1 988,,a le_gitim�çã,2_ 
2S 
dos filhos não se dá mais simplesmente pelo casa�ento, mas por algo que 
l 
s�hama �·sentimento filial", que é de alguma forma <;>_reconhecimento 
qQ!pais �[_parte dos filho,Vlsso mostra um dos paradoxos da noss;; 
época, uma vez que se toma algo, �_m_ princípio _privado, como e 
sentimento, comq_critériQ_çie legkir_n�ª-2· Ao mesmo tempo, o Estado se: 
dá o direito de uma ingerência cada vez maiOLna privad9, ou at�_!!C: -� 
íntimo.� O mesmo desembargador, por exemplo, acha que num futurc; 
mais ou menos próximo, o Estado vai ter o direito de se imiscuir não sé. 
no casamento como instituto legal, mas também terá uma palavra a dizer' 
sobre a existência ou não de afeto; ele vai buscar penetrar nesse âmbito. ! 
-f7' Para esta nossa discussão.l!_oca.Jjzei alguns dos sentidos da palavra· 
"subjetividade" nos Escritos de Lacan. É uma palavra que na nossa época' 
ganhou uma importância muito grande, e me pareceu que o sentido· 
consagrado atualmente não é exatamente o mesmo sentido gue dá Lacan. 
Subjetividade corresponde para Lacan, mesmo em épocas muito diversas 
do seu ensino,V1o_gue poderíamos chamar de efeitos dt! suieito. e não a 
uma configuração qualquer, que fosse próxima do indivíduo psicológico. ! 
Por exemplo, a subjetiYidade surge no texto de Lacan em : 
oposição ao mental, ou à rede de alianças simbólicas. Neste sentido, é j 
uma noção que\�ao esta !l_!�ito _1�!!81:: �11 <!e sil'!_t_o_n:i.�J � subjetividade é ! 
aquilo que s e precipita dç_YfillL.�ª vontade, � .um_a-�rt�i 
organj:za�º·J Entào�_tem ck_fato um caráter mais ou menos 1 
subversiyo. O que vale dize!"__q!:_le .!_�m g_ç_saída !-1.JTI caráter político. 1 
Ora, se costumamos dizer - Marie-Hélene Brousse trouxe-nos uma 
contribuição importante sobre essa questão - que vivemos em útft lempo 
em quef os laços sociais são estruturados a partir do discurso dãcifnçji ao 
mesmo tempo sa�.!n_()�-9�e_a ci�ncja. 9ã_Q __ i_r.r}p!i_ç1:t u_rn. _disc!IfSO,. n_�� 
implica um laço social. Podemos concluir que os laços sociais interessam 
de muito perto aos psicanalistas, uma vez que cada um deles yaj apresentar 
µm tr2E.Sº J?IÓprio. A subjetividade vai aparecer para um psicanalista 
fundamentalmente como tropeço. como algo que não está no seu lugar. 
Em certo sentido, c�da tropeço vaj set O��J)discurs-9 n��.ti&!na. 
� i _. ç: v,,l (,Ío,"'rt'n iv? r'/ 4 e. t/n, <LI C4t '.;.., ·:.e, eh (' &' M ú, 7-'"' -1 ·11 . ' 
/J O� � .: - ' � j) .:... . . • - ; � ... j � -" C,(:) � ,,·, �� "M;. ' [• ,., [:.J' ·.Ji"' ,; ... �"\ C "'"
""
•) 
O totalitarismo, por exemplo, produz sintomas, que são facetas do 
que chamamos de "subjeliYi.dade__de nosso tempo". 
Quando Lacan faz o e!Qg_io de F�d, quando se opõe à critica de 
André Breton, que ficou decepcionado por encontrar em Freud a 
imagem de um burguês bem comportado de Viena, L.acan está dizenjo 
que não é exatamente a participação pública pgHtjca de Freud que o 
�cteriza como a to� de fogo que B!e!?E_ d�sejava ter . 
encontrado, \mas'Jo fato dweJer �ciado, posto a nu, aquilo que é/?;) 
segregadoJ \0 que Marie-Hélene Brousse çbamou. de �monstnrnso.", 
e�tá l!ª verdadd no cerne do indiv@ijili",g_g_ �()J_ett�o.' 
O que Freud inventou politicamente foi a idéia - expressa em uma 
prática sistemática - de que tratar um tropeço da lógica de um Qi�ç_urso, 
isto é, tratar um sintoma\é contesJar ���e -�isçurso, e ir mais longe do_9!!� (�, 
a tentativa frustrada da his�til!.Jl!J.k se.re1u1e à i!TIRQtêQ�J\JJ --::· �;:" . ::-��;r,·
-
�· ,; 
Então, me pareceu muito feliz a demonstração de Marie-Hélene 
Brousse, de que o analista,\__!endo º!1 não uma E_articipação coletiva 
visível,! não pode esquecer que \o fato de agir como analista já é ,'B ; .. . - --E2m� Gosto muito de uma definição que _ deu_ Lacan . da _ a_nálise. 
Lacan dizia que\a analise é "ª_ir_rupção do erivado no públ ico"i Quer 
dizer, .n!<? é nem <:> privado e nem C> _púi?li.c;:.9. É uma irrupção, �ma -!? 
espécie de duração sem tempoJque chamamos �-AW ; .) 
Foi muito interessante que Marie-Hélene Brousse tenha 
terminado a conferência dela apelando para o que poderia ser o grande 
objetivo da política, que serialgI�f: o._calJI�<> c:l,a .J:�ª� .2 "... 
� � :),•1' (j t;,', (i\ JJL_ W, � r4 ',).,�:-
Perguntas t �, M vo- ,; _-;:, t. e.._ v..i ·..,..� , cJ.,.. "" .J), 
Angelina Harari 'r,1 '4)1. :,...J r,,,,_·,)o'/\W):_ -t .:.; ,__.:. 1 1,.l, , " i , , ,. .I . r"·- , ,.� ' r- m,IJ (?-v,U,/-l f_ 1 I i.<Y i , ,,� · ' 
Quero colocar uma visão que é um pouco lateral; ela não está no 
cerne da exposição de Marie-Hélene Brousse e nem nos comentários 
de Romildo. É uma questão que toca no tema da neutralidade do 
analista. Marie-Hélene Brousse trouxe um esclarecimento, quando ela 
junta o termo neutralidade e o termo engajam�pto. Também é uma 
27 
Lneutraliclade COJn um engajamento) O lateral da minha questão tem que 
ver com algo que discu timos em um carte l sobre a contratransferência. 
Uma colega no carte l pe rguntava a respe ito da relação entre a 
neutralidade e a contratransferên_çia. QIJ� dizer.:.....Q. filie seria esse 
engajamento? Em um_ movim_!f!t� p�icanalítico esse eng�mento _foi 
entendido como o analist�ter de se colocâr na relação analítica. Então, 
colocar- se seria falar a partir dos seus se ntimentos, dos seus 
julgamentos, preconceitos etc. Eu gostaria de que Marie-Hélene Brousse 
pudesse falar um pouco sobre essa relação, sobre esse "sai r ç}Q_silêncio". ' -...:-�--=-..:.==-�...:e..;:::. 
Enquanto formulava minha pergunta, me dei conta de que o tema que 
nos reúne , i�nconsciente é a_ políti?, surgiu em um curso de J. -A. 
Miller, logo após uma e tapa em que e le trabalhava a\§�ratrãnsferené'§ 
Então, há alguma relação? 
Marie-Hélêne Brousse 
Gostaria de fazer alguns comentários a respe ito da intervenção de 
Romildo sobre as observações que e le faz das diferente s definições 
propostas por Lacan sobre o te rmo subjetividade. O que e le chama 
efeito de sl!ieito, isto
é, unplica uma diferenc iação entre o eu, o 
��pe��� � saj�i�; simplesmenteJefeito do significante, tomado em 
1 
- �adeia. N ão há indivíduo numa análise , não é a política do indivíd�o. / 
é_ a..P.olítica do suje ito que interessa numa análise .\ _... 
--V Às perguntas da Angelina vou responder apre sentando um caso 
c línico. Trata-se de uma jovem que faz análise há dois anos; que já fez 
algumas escolhas fundamentais na orientação de sua existênc ia. Ela 
abandonou o seu parce iro e entrou em uma nova relação. Neutralidade 
do analista é: eu não tenho nada a dizer sobre a escolha que e la faz de 
seus parce iros. A escolha desse novo parce iro é feita de tal forma, que 
eu mesma, sua analista, c�idero que e lª_e..s..tá c.olocando no exterior 
u m interlocutor qll_e �stá �_ ent!o Ê��a '!lesma, ou seja, esse homem seria 
um testa-de-fe rro, e está c laro que ele é um pof!a-�OJ: de_!lmil 
_?rie!) tação, que é_ uma orientação para __ ,.rll!, Ela compartilha da 
28 
orientação política deste parceiro. Na verdade, essa orientação política 
não é exatamente a minha, portanto - contratransfer_ência. Se estivesse 
na perspectiva de analisar a contratransferência, eu teria fei� uma 
intervenç�o .f_Q__f!1 _�el��E_ él_�_s._sa escolha política, alh�.s., essa escolha iria 
implicar numa viagem 120.lítiça_ . qu� _era _ _ m1Jitº arris�ada,. Nossa 
orientação_ nos pr9íQe de fazer i_sso pois(temos o princípio de que a 
contratransfe_rência é a somató�a dos ereconceitos do analista/Nesta 
linha, poderia considerar que minha critica dessa posição política seria 
apenas um dos meus preconceitos. Tendo uma vez apontado realmente 
um pouquinho esses aspectos, ela teve uma reação e me colocou 
devidamente no meu lugar. �o mel! l_!]_gªr, ne;it.e caso, era_tentar fazer 
com que ela des_cpbrisse\9ual era a sua causa nessa escolha política (0 
humanitária, portanto, nessa escolha de ideal .\ 
Por não considerar isso na definição da contratransferência, 
conseqüentemente por calar um pouco o comando da interpretação, 
permitiu-me tentar fazer com que ela decifrasse a orientação de gozo 
que se encontrava no âmago de sua escolha amorosa - uma 
identificação com a vítima e _uma presença incontestá�e_l da pulsão de ----- - --- - - - - -- ---- -
f!19rt;.1 Isso levou um certo tempo, mas ela conseguiu chegar lá. Eu tive 
de lQJl!arurn� de_çisão....u.m_ poucQ_ di.fiçi1.._qu_e_ era a de não colocar todo 
º..J!l�Q transferenc_il!l ºª J>a1ªn�_ para_irri11edir que ela fosse para 
aquele local extremamen!�rjgoso, como el�ueria _ ir._fja acabou 
i_Qd-9/Mesmo que eu tenha dito estar preocupada, nada mais do que isso, 
mas também nada menos. Para onde ela iria exigia que ela tomasse 
algumas medidas para que garantisse que ela pudesse voltar./A idéia de 
�nnanecer nesse lugar tem para ela um sentido de morrer 1�. foi � 
ela ouviu,1Voltou, pelo menos fisicamente, ela teve um mau encontro, ela 
se deparou com o ponto de horror, ao qual me referi. Efl"I -�gebra 
l�caniana. podem_o� dj�€:r que_no lugar do grande p1!_i <!_e_�-� <l> (A,) - ela . 
tinha. enç911!r.�..Q o "a" minúsculo
1 
Isso me parece responder à questão da neutralidade. Para que o 
analista seja neutro em relação a um ponto central deve fazer a_pare�� 
_i;i -.; ( , (; . ·../ , ·,: ....;, r, � ,:.,..,l-:":° t41. de ( ,, cl, � t.;.__y ca:.::�:C, - ,i_ V' CÍ<f /r: , .,., rf<·Ay,,=r o 1 ;,ú;, c.,._.<-.,."1 29 .<.t , , e. r c,-<< 6 t;. · ,..-.v cJ .S 115 d., r,..u;,. -
� ! _: :: 
� 
O '""·onscicnre � .J polioc:J _;i · • 
, _ J,._.' �.;! � ,,,,_:: 
/�' .. ·" , .:_ J . ,.,- o ·r· - . , . \ .:_. -'/� � 
sob os�deais as suas articulações com o i_mperativo Jê'go�o� o 'que, nã9 
. , · , / ,r,· .e;.. �'!J , ,_ 
exclui, naturalmente, que existam ideais, pois o analistà, como disse 
Lacan, não é alguém que desencoraja seu analisante ou que o conduza 
a uma posição de ceticismo nem tampouco a encontrar uma solução 
cínica. Existem perdas de identificação em uma análise, 111_<1s isso não 
�.S!liD_c_a _ql!� s� �aia de !lma -ªJláli�e sem ideais, . si01p!esme_!l!e_ não s� 
tem a mesma po��ão que se tinha anteri.Qr:rr!_ente com_ reh1ção_� 
ideais, ou seja, e!es estão llrt_�culados por um lado ao ,1. maiúsculo 
barrado (A) e de outro lado ao a minúsculo/Há o Outro que não existe 
e há a questãQ do obj�to perdido. \A neutralidade poderia �_E_ uma 
Sandra Anuda Grostein 
Quero retomar a sua articulação entre o discurso como um laço 
social e que � freio ao gozo.� per:isannos que em uma análise há_ ugia 
circulação nos q:ua!ro disçursos, nós não �stamos, durante toda o temP9 
em que a análise ocorre,'\no discurso analítico. Peço um esclarecimento ----- --- - � 
se qualquer um dos discursos, discurso do mestre, discurso da histérica, 
discurso universitário, o analítico,\ qualquer um deles te_fl! a mesma 
funçã�, se operam da mesma maneira, digamos assim� sobre o gozo, 
so�e uma organização do goz,g,. um ordenamento do gozo'l.J 
Marie-Hélene Brousse 
Sim, todo discurso implica um freio ao gozo. Essa frase é de 
Lacan. Mas há diversas maneiras de entender o gozo. O discurso é da 
ordem ��_strutura da linguagem e implica forçosamente em uma 
organização de um modo de gozo. Portanto, todo discurso opera dessa 
forma. Com relação às quatro modalidades de discurso que Lacan 
constrói a partir de seu esquema de quatro lugares,\em cada um deles 
�iste um lugar para o gozo que não é __ ocupado pelo mesmo 
significante.Jf_i>_f'!anto existe em cada discurso uma modalidadt: d� 
gozo dif�r�I!!.� Por outro lado, temos que observar, e é extremamente 
-
f ' .- / - . . , ,, [ Ç_ tJ ,}CJ r, · 0 - , ..i , ,/;, ,,./(· _� tt.( 11 {1? { ·l l __ ';) '. , ét:; :'{ ?" ' /� '[(_ l, v V" -' 1..: • . _::: - "-()( ea r.· . ,, v .._, - v.- , 
30 
. 
-- �. /,-. · /, ,/ , _. _ __ ,.. _....._ 
importante, que o discurso do �!I!__�_!!gorosamente o avesso do. 
- - - - - - - ---- � 
Jiscurso analit_i�o- �s� leva Lacan a dizer gue o discu�? _do mestre� 
1ambém é o discurso do inconsciente,\já que o inconsciente é o efeito 
das relações de l inguagem nas quais somos capturados/- ,é lógico 
considerar que o inconsciente, na verdade, _é o discurso do �estr_�:,) 
- . - - - - - - - - -- ---\ 
O tratamento que o discurso analítico_ faz 1e_111_ �� _dispositivo novo, 
d iferente, <!a relação do sujeito com o significante 1le,.ya a �!fl� 
modificação da posição do1 sujeito em reJa.Ç�Q ao gozg. �oderiamos dizer 
que esta �a.�_i!i:_rença�ntre a ciênci�: �_sicanális�:1a psicanálise é uma-2 
escolha sobre uma modali�Ad��parti�u!a_r de tratamenJ<> .. sobre o gozo .. 
Existe a!g9sIJ1-f-Q!!!_l!l!1 e.ntr�l:! ciência e a psicanálLse ºº-s��!ido__d!! 9.1:!_e 
���1,1a;_furrcionam� parti� da m�Íerialidade da le_trw_e.pO� ou sej:, 
as duas funcionam afastando a questão da ,significação e do sentido.11 == 
Não existe um manual sobre efeitos do gozo, uma equação ou 
uma fórmula química. A psica_!!�)_i�� _ acei!aJratar do gozo, mas IJão �-ª­
mesma operaç!o que a ciência faz sobre o gozo. Em poucas palavras 
- - - - . - - - - -- - - - �--- - . 
se alcança _a_f <:>�_!lla __ do _fan_!asma19ue pode ser1 resumida erri.Jrases 9u 
�ras
ll �u ainda em uma frase quando se é -�reudian�,\e ao mesmo 
1empo ocotre ��e_ indicação 4o freip sg.l)re Q_�o./ O próprio 
fato de se construir a fórmula do fantasma � uma administração _Q(? 
gozo! uma administração pel_? nomeaçàoJ 
2ª CONFERtNCIA 27/11/2002 
Rõmu/o Ferreira da Si/\·a 
Na conferência anterior, Marie-Hélene Brousse abordou o tema O 
analista e o político: "Alcançar em seu horizonte a supjetfridade de sua 
época". Ela contextualizou o inconsciente estruturado como uma 
li nguagem em Lacan em "Função e campo da fala e da linguagem em 
psicanálise", \���and() que� oposiçã� �ntte __
o indivtdual e o coleti vo jJ) 
deixa de ser válida, poi s a dialética do desrjo oão. é, iodixhl!!.�.l: "o desejo 
é �- deajQ_Ao Outro]. O_ �ll_é!_lj s� _epco_!ltra-s�_, en�o�'.em pgsiçãg de :) 
deciframento do simbólico,�'-! �ej a,_deve _agir no deciframento do Outr_? 
si mbólico.enquanto �fejto � lingua. 10 materna S de A barrado se apresenta. 1, .. � -
N o texto "A direção do tratamento e os pri ncípios de seu poder" 
há uma definição de Freud, analista, que o coloca claramente local izado 
na subjetividade de sua época. Com os quatro discursos: mestre, 
histérica, universitário e analítico, Lacan propõe que a experiência 
analítica, inédita para o sujeitot modifique a relação com o signific;wte�' "j) 
m,.:EI,ejTrata-se de uma outra modalidade de laço social: portanto. o 
analista está metido em política. Ela ilustrou a neutralidade do analista 
com um belo fragmento de um caso clínico, mostrando que 
neutralidade é não julgar e não aconselhar. Neutralidade é não agir . - - --- - - -� - - r· 
segundo a �ubjetividade do_�n�lis�a1...ou seja,,, CQITI .Q� se�s pré,:-ç.QDÇ.eito� <� 
35 
• SEGUl\DA CONFERÊ�CIA 27 1 1 2002 
A psicanálise no tempo dos 
"mercados comuns e dos 
processos de segregação" 
Marie-Hélene Brousse 
Para dar início a essa conferência, utilizaremos uma referê ncia de 
Lacan, uma referência antiga, de 194 7, após a S e�da Guerra 
-- ·----- -
iytundia l, um texto belíssimo escrito para uma revista de psiquiatria na 
França , L 'Évolution psychiatrique, intitulad°' {'A J?Siguiatria inglesa e a - - - � - --- - · - -==--= 
g�.;!!,ª".@a conclusão desse texto, duas frases fora m selecionadas. 
Antes de fazer a citação se faz necessária uma explicação por que esse 
texto fo i escolhido. De um lado, porque ele é interessante e, de outro, 
p or ser um texto de 194 7 , escrito exatamente 20 anos a ntes de 196 7, de 
quando extra ímos outra referê ncia para essa conferê ncia , a saber, a 
"Prog_osição de 9 de outubro d� 1967 sobµ: o psjçapa)jsta da Escola". 
Primeira citação, que se encontra ao final do texto "A psiquiatria 
inglesa e a guerra": �Minha exposição encerra-S�!t<;>_Q_onto em que se­
vislumb_ra os horizontes ue nos io'etam na vida 6bl1êã"'.a té mesmo, 1 . 
que horror\..,�
!..l?olíti� Se� dl!YJcbJ\!í enco�tra��mos -ohioos dê 
interessej para nos compensarem de��e� apajxo_n _antes trabalhos <;lo ti.RQ 
'dosli8em dos produtos de desintegraç_ã_o _uréj��E�para.frel!.!ª fabulante', 
produtos eles mesmos inesgotáveis desse esnobismo de uma fal 
ciência . .. "1• E m outras palavras, aqui é a idéia de qu���nc9ntram coisa� 
mais interessantes na psicanálise dq QO�t9_g� y ista polit ic� do que no 
exemplo que é dado, que seria a mudança do índice de a lguma 
37 
O in,.:on,. .. ·,�nr� � :1 politi .. ·a 
substância na unna. É por isso que ele fala dos trabalhos sobre os 
produtos de uma falsa ciência. E_!e __ empre� o termo "fal sa ciênc�" 
porque considera que a utilização da ciência nesse tipo de trabalho não 
é_ outra coisa que 1:l_f!l�Je.11t�U.!Ya..lkse aprop.riaLd.Ç YJ!!?.. fal�éi. l�g_iti_maçª"o. 
,­ A segunda frase: "_)>ara dizer a verdade.\os riscos inerentes a taJ 
.·; r�-�ito .gelos interesses coletivoy'na prática pareceram reduzir-se a 
proporções ínfimas, � esta guerra. penso eu, demonstrou cabalmente 
quelnão é de uma dea,asjada jnd.Qcilidwk dos jpdjyjdyos que advirão 
! os perigos do futuro human_oj Fica doravante claro que as forças 
, sombrias do superego se coligam aos mais frouxos abandonos da 
consciência para CQ.IJ!luzir º�l!_omens a uma mortejl,Çeit<!_por causas ao 
me_nos hu_m<1n11s_. ·�que ��Jlll�� _a_pa�5,...e�S?Elº,,�çti_fici.2._!)�_p_e>r i�so é 
G
h,e!élLc,27'Portanto, esta já é uma perspectiva bastante clara de que 1� 
pe�� _ e os riscos nã_o virão d� _ _indocilidade dos indivíduos., e a 
psicanálise escalberia.\âe.lÍYess.� que escol her, a indocil idade ao invés da 
��il idede f: essa docil idade é apenas o poder do supereu e os abandonos 
da consciência. forno já foi dito. supere11 + e,r - sacri.icio, c_oostge(ilQdo 
que o sacàficia não é absah:uamentc , cm si mesmo, heréic� 
supereu + eu = sacrifício 
- -- A orientação que Lacan dá à _psicanálise não é de modo algum 
--· -" · --- - - - - -- - - --�-- - - - - -- -
sacri ficial e nem do l ado da docilidade. Em 1 947, já aprofundou um - - - - - - - - --- -�---
- c_onflito com a psicanálise do el! e as perspectivas de readaptação do eu. 
O horizonte da psicanálise e os pontos de fuga 
Em 1 967, vinte anos mais tarde, ele defi ne �is..�o os hori zontes 
que estão presentes na frase de 1 947, os horizontes que nos prole.� r.i� 
vida pública pela política. Ele os define através de três pon_to� de fu_ga. Isso 
supõe um--ª---.�ferê_ncia à perspectiva: o hori zonte ao longe é del imitado 
através de pontos de fuga, ou seja.,� elementos da,..3rs�ctJ��-"I:1JY1-�: 
<J.,o hori zonte da QSicanálise em ex tensão, is�º é, _gsicanál ise_ à_.!lle9� q� 
38 
ela se aplica ao laço social. É a psicanálise à medida_ qtJ� JJào determin� 
um_ real socil!!_, no_qual está submersa. O� trê!_PQ...n!_os de f'llj_a __ eermi!.1:.'!1 
�':!�� tanto (!_g_Ue def]ne a época q_uanto o mundo 9ue determina a 
organização da pr_§pri� psicanáli se. Esses pontos de fuga, diz ele, são os 
f2_,7°gj: 
Desejo _ _ ressaltar toda. a importância desse termo. N ão se trata de 
troria nem de i deologia e sim de,coisas advindas da experiência.,.. 
D�s d�i s prif!1eiros pontos de fuga, que são as coordenadas do 
nosso h_?�Z0�!�4Um é ex traído da CUBi?,:F: O carro da transmi ssão do 
�b�r ana)jtjçp I Para Lacan,\!..Prática da psicanáli se é defini da pelos 
três pontos de Üiia a pattic de três diPJ�o��- o simbólico, o 
imagi nári o e o real , � 
�(V\. 0 � 0 4 
pnmeiro ponto de fuga: o ÉdiJX? não é soll!Ç!Q_ - 1 "t,�" �! 
O primei ro ponto é aquele que é extraído da clíni ca. O que a clíni ca 
analíti ca nos demonstra é que\o Édipo é um problema para a psicanálise, 
_ em 1967 . F� claro que hoj e já não é mais um groblem� . O problema já 
foi solucionado. Mas naquele momento Lacan di zia que se tratava de um 
p roblema. Para Freud, por outro lado, o Édipo era uma solução. 
D evemos ressaltar alguns elementos que nos permitam 
compreender \porqu�_ L acan considera que um dos pontos que 
�����ª ª-P��ijnaÜtica é a inadeq11açã9 do �urar1te toda a 
primeira parte do ensino de Lacan, ele se dedicou a reler, portantQJ 
· 
� . 
reinterpretar o Edipo .freudiano� A partir desta i nterpretação ele
/ �onstruiu a clini ca difere_ncia_l _psicanalíti ca, �le demonstrou que o 
Edipo freudiano é eguivale_11_ te ao Nome-do-Pai - metáfora pater:na. il 
-- -- ------,- - -
Édipo = Nome-do-Pai = metáfora pate��� 
' ·------------- �-
�rante um tempo, Lacan desenvolveu uma psicanálise ori entada • 
eJ truturalmeote em sua elín� em sua prática, centrando-a n� 
��áf ora pat��sse seria o tempo um, o primeiro tempo do ensi no 
de Lacan. 
l 
( . -r 1 !_ . !.4J.,, ! ..,vv\Ü .J�, ..,.,-.o,.. 1 } b· 'r/ {.. c ,J /1�"'(''.i �� l;-t,Y.v>O r1 j 
1 . \ � "'· "' Ir 7\ '1\0,._ 
,Em 1 967, os efeitos da cHoica a obrigaram a rnr:dar de..po5jcão. 
O Édipo engy�mto Norne-do-Paj é um problema para a psicanálise. 
peixou de ser uma solução./ 
No Seminário J 7, O a, ·esso da psicanálise', encontramos a 
formula�o�e�e prob�ema e já uma nova respo� Nesse seminário ele 
faz uma apá)jse ��rutural dos (mnos edipianos em Freu07 o próprio 
Édigg, "lotem e Tabu", "Moisés e o ManÔteísw.y: - ãplicando -o método 
�!!II'- e, - !_ 1. ' � , ' >' de análise estrutural dos mitos, de Lévi-Stranss• E ele chegâ a uma 
fórmula que fornece a verdade desses mitosJ o gue faz com que não sejam 
_!Tlais mitos.�le retira deles as suas caract�risticas épic_llS para mostram.uai 
_é a função desses mitos,
W!!Zind()-()s a uma fóillllll;J 
A partir da análise desses mitos, ele produz uma fórmula - o 
Édipo, o mito edipiano assegura a seguinte equivalência_;, q .12fil, ..P!.Í 
_morto, N_ome-do-Pai $�1ente1� condjçijo de _&ºZU.� 
i- 1 i - 1;- u_J 
P = Nome-do-Pai (pai morto) = condição do gozo ' ,'= ..tz. _ 1·.'� - - - · - - - - - -- - - r , "' -<--
;-, . ·ai ' 
E Lacan acrescenta: este é o desejo de Freud. A igéia de percorrer 
o mito fundador _ da psir,anáJise. o mito do Édipo,J QUe a .� 
paterna é aquela que regula o 5020. Que re�ula. ou seja,'9ue o orien� 
e o limi!!J É a funcão paterna que , destina os lugares ao gozo e Jlºr 
1 \ocaljzá-lo acaba controlando-o. , 
� clinica mostra que querer atribuir ao pai essa Junção de 
ignificante-mestre, "á ue é o siimificante re ula e rQ.dUZ o g(?Zl? 
- ou melhor, que gerencia, �E!i� �o -, não correspo� 
.!º real que a experiência anal itic:,. imQ§e, quer seja a experiência das 
'.psicoses, das neuroses nu das per,ersões.1 
O que mostra a clínica? Q!e não conseguimos nos Uy_rar 99 g_Q.�.9 
atribuindo-o ao pai ou ao mestre/E. de fato. o gozo, as ex eriências de 
o o satisfa ão da ulsão ortanto , se aram o be a verdade 
que significa isso? Se considerarmos que o saber é S 1 + S2, o 
- -- -.. - . .. .. ··- --- .... · · - · ...... -==-�-------
S!8!}_ffjç_ante paterno �ais todos os significantes ordenados a partir dele - -" . ---·-----
40 
nãg. rew.:it am o gozo e então o gozo �parece e �urg�_ com�_un:i_a�erdade 
di ssociada de um saber. Existe uma dissociação entre o saber de um - ... · - -· . --
lado e a verdade do outro. 1 
· - --
- ' " -,.JC
� 
� '• ''· 
I 
S1 + S2 {saber) 1 Verdade 
Isso produz algo assim como �·eu sei bem, mas mesmo assiw". � 
Ou então a relação que o sujeito tem com o seu sintoma;y,or exemplo, 
o sintoma obsessivo, O.J!Çdido de verificação, o ritual,\guando o s.ujçito 
�iz "eu sei qlle_é absurd�0 _mas eu}1ào 9onsi&o me impedir", 
-o saber 
está separado da verdade. "Eu sei bem, mas não adianta: a verdade está 
no meu sintoma". J. 
E Lacan acrescenta no texto: " ... mesmo para a criança, apesar do 
que se pensa, o pai é aquele que não sabe nada da verdade"6.� 
operaç�o de análise dos mitos freudianos pennite mostrarLa função do 
�me-do-:Paj na constituição do saber I em _ contradição com_7as 
evidências da clínicat Conseqüências: ,Q,tdipo não é a solução. �� � 
n����sário matar nenh um pai para g�zar. M esmo os significantes 
freL1_dianos como trauma, sedução ou sintoma, não têm .nada que \'.Cr_c;, 
c�_1��Portanhl,l a cli nica contemporânea é a prova dessa não­
��ção com o pai./No interior da psicaná!ise_ existe mna....c.r:itica .à 
a 
i_ç!eolo� ia edipiana. Não são os nossos adversários que criticam o 
Édipo. -Somos nós mesmos.' E nós o fazemos a partir da experiência 
;inalítica cli nica E conseqüentemente, se ara iio� ser fei 
("§ S�gundo ponto de fuga: a solução Escola 
- O segundo ponto de fuga - e isso se e.!!f2!!lra do lado da dim� 
do imaginá.ti.o - se refere ao que foram e ao que devem ser as 
(}],,!� ""w-t -'i< ��� �-1z#1(?n� �� .-l.�I1z. ,o --inj ....;+,·� 
'J \ 'V\..',) ti� , 0 
. , _ 41 , ,, I' , � ./ ') • 
, ,, .,. "\._ Ó( .() AA\ • """'· · . - • ..i A.a... • d - L'Y,: .-. - ,,-.- ,n/Ã) - - ,1/... .-(1 l. 
O 1m.:onftC1enre ,} :, ,-.,lit11.·;1 
i!_lsti�uições_de p�lca_aj_fü� Ou seja, a or�nização de sua transmissão, 
e seu avanço e dos meios que ela cria para a formação de seus 
analistas. Portanto, é uma crítica aos g_rupos psicai:iªlíti�s. Laçan diz 
que elas respondem aos modelos descritos por Freuq, da Igreja e do 
Exército, ou seja, totalmente regulados pela função paterna na sua 
�ierarquia, nas identificações imaginárias do &cupo, no tratamento do 
siber sob forma de um manual ou de jargões, lugar-comum. 
A transmissão da psicanálise vai em direção de uma recusa em 
�stionar a teo�clínica.JO que Lacan tem em mente quando faz 
essa crítica das instituições psicanalíticas é a IPA. A �ir desse ponto de ------ -- . - ----
� �le apresenta_a solução, q_ue é a Escola. Portanto, diz não ao grupo 
imaginário, hierárquico, edipiano, e sim,à solução Escola, onde o saber 
fica livre da trrefa com relação ao si_ggificante-mestre (Sl}JPara que haja 
gsquisa não precisa haver o significante-mestrezJ Por exemplo, fui 
convidada por uma americana que faz formação em análise lacaniana e 
também uma formação psiquiátrica e psicanalítica em Nóva York, num 
dos lugares mais prestigiados da IPA, o _ Çolum_bia In�tjtut. Ela ao mesmo 
tempo está na Escola de Medicina de Columbia e no Instituto de 
Psicanálise de Columbia. 'Nesta minha v_isita fiz uma Apre�entaçào de 
.J:>acientes, na qual falei durante um determÍ!!a_do tempo. Ent_r:e_".:'_i�ei u_ � 
senhora que, sem dúvida algumª, til!t-ª-ya-:§e de uma esquizofrê_n� Aliás, 
foi interessante conversar com ela. Num _ dado momento perguntei-lhe 
onde ela havia nascido.\_Ela me disse que tinha nascido no Vietnã. Na 
- - - - - -- - - - - � 
verdade, ela havia m1�cido no Bronx. Ela não havia dialetizado sua 
invenção de ter nascido no Vietnã. Ela não fez nada com isso, nenhum 
delírio. Com relação a esse aspecto, ela se limit�a diz_e! aquilo. 
Dando continuidade às minhas atividades no Instituto de 
Colúmbia, fiz uma reunião de trabalho com os estudantes e os 
professores. Nessa reunião, um professor de psicologia, com formação 
em psicanálise, fez a seguinte observação: "�sta senhora falou do 
Yietnã. F�lar t�lvez seja um exagero, ela nos deu um significante -
Ykto.i\.. Podemos observar que na época da Guerra do Vietnã, ela seria 
42 
�hn.:-Hêlênt: Brow.� 
urna cri ança." Eu concordei com ele sobre a c_ oincidência de datas. Aí 
de disse: " pois bem, se ela falou Vietnã era para dizer que na sua 
infã ncia os pais dela bri gavam, portanto, �o falar em Vietnã ela estava , 
se referindo ao desespero que ela sentia quando criança frente ao 
espetáculo de ver seus pais se enfrentando" .@ aqui um v�irQ 1 
pa rtidário do Édipo, a ponto de nã-9 sa�ermos quem delira mai_s, a 
p1ciente ou o psicanalista.(�_essa i_nterpretação, o Édipo está mais do 
lado do delí rio. �l!_ respondi que ele, o psicanalista, tinha sido muitQ 
g__cneroso em relação à estrutura, gue eu não estava segura de que o 
mundo interno dessa senhora fosse determinado �elo con!Jito ent re se� 
papai e sua mamãe, isto é, pel o conflito edipiano. Na perspectiva da 
--==-=-=-=--� -� 
clínicà de orientação lacaniana, a escuta dos pacientes psicóticos é uma 
liç ão para entra���- undo �e-��m outro tjp9 _
_ de arquitetura; uma 
arquitetura diferente daquela dos neuróticos. 
A crítica à descrição do Édipo, o__além-do-Édipo, como primeiro 
ponto de fuga, associada ao conceito de Escola como lugar de debate e de 
fonnacão, qu_e nã_o seja mais org3!1izado pelo�i_gnific_�nte-rn�stre, isto nos--=> 
·, 
conduz à idéia de uma psicanálise gue se desenvolve num cenário político · ' -
rgtalmçqte difereot,;J_Existem muitas maneiras de tratar essa constata�o; 
por exemplo, se o pai não regula mais o gozo, então podemos fazer o que 
quisermos, isto é, uma nova �_j.DCiedade dos irmão� no sent!4º 
"Totem e Tabu", na época da ciência. O que é a democracia na época da 
ciência? Seria ainda uma democracia dos cidadãos, que estavam mais 
l igados ao significante-mest re, QY seri a uma democracia dos 
c_onsmnidores. ou até mesmo dos produtos, ou ainda do material lmmano 
que está majs relaciaoado ao objetO çlo gue ao s�ificante-mestre?\ 
\,. -rv-�°'- _d-i.. Ir' 1 
(-=g O terceiro ponto de fuga: o campo de concentração � � t ·" ' ' " ' 
Q terceiro ponto de fuga diz resp.Çjto ao real. Lacan o enuncia ao 
fo lar dos campos de caoceotraçãn . \É a reação do precursor em relação 
d J �W:.Le�ºyajys;rá a partir do�emanejamento dos grupos
sociais 
P!!la ciênciaJ Precisamente pela universalização que ela propiciou. 
43 
Portanto, temos aí o campo de concentração., ,os agrupamentos sociais 
como nova organização no real,J 
Os três J!!)ntos, a{ém-do-Édipo, µ_ma f�colí! e o C.!l!EPº_ d.e 
conc�!TafàO, sà_Q_ º�- pQntos atrall�� quais Lacan agarra _a 
..JDQdernidé!cl.€:.\ Acrescentamos ainda esta frase: "Nosso futuro de 
mercados comuns encontrará seu equilíbrio num.extensão cada vez mais 
ao 
<!_ura dos processos de �gregacão"·. O conjunto desses três pontos está 
c9rr�lacionªº.9 ªº �rni.niQ_(IQ saber científi@_s_obre os laços sociais. 
;, CQmo situar o dese · o o s1cana 1sta nessa con untura. 
Em primeiro lugar, nós temos que nos assegurar e nos convencer de 
que a e_sicanálise não é wn abrigo contra a ciência, pois quando é utilizada 
como abrigo ela desaparece como clínica.� proponho uma nova esc�tà 
P.ara o discum1 do mÊstre que é cgnjuntural, ou, mais exatamente, wna 
concretizacão dos símbolos lltil�dos _pQr Lacan para_ <:!escrever o disc� 
do mestre. Vocês já viram que o mestre não é mais o pai. Então, a escrita 
que Lacan dá para o discurso do mestre é a seguinte: 
DM 
s, 52 
S · a 
I · . J 
� 
O S I é o significante-mestre, que �__!Kente �o �j_Sfl,!r�o,_que 
determina_o saber (S�este é o patamar do Outro (A); temos o sujeito ·� - - --
_(�) que é efeito da cadeia significante, o sujeito que decorre dessa cadeia; 
� o objeto de gozoJa).__ao_qw,.L�l� estárelacionado. 1Essa equação, como 
sabem, é a fórmula do fantasma <i O a). O fantasma é determinado pelo 
Outro na medida em que,articula o significante-mestre com o saber..(SJ - S2J 
OM 
'., u -r I .. J, ; .,, '-,.,J . 
s, 
s a 
{ A 
{ S 
p , C.: t L I , e..• r' 
Qual o valor que podemos dar. nesta é,eoc�1.ao S 11? Qual poderia 
ser o significante-mestre operacion�I. uma vez q�e não é mais o pai? 
44 
O discurso do mestre moderno 
Vamo! recllperardo tex to de Lacan o termo que ele utilizou em 
t967R, �a época dos mercados comt.mS - 1.!_l]lp�ríodo _l!IU ito particular 
_;Europa. M esmo que tenha se tomado um mercado comum úni co, 
vamos �bstifl!i�___!!!ercado com um pqr _ _g! ob<!liza�o. com o Jacques­
Alain Miller fez em seu curso O lugar � o JaçcJ". O Sõ é econômico, 
portanto podemos chamá-lo de\globalização dos mercados� Já o Spé o a 
modo de saber que corresponde a essa globalizaçfil�,- Bom. isso é algo 
que Lacan não diz, então temos que inventar. Proponho - é apenas uma 
hipótese -, 110 1 ug�r do_�ª�! inssr��e:! ai� 1:f'!Ilº\Rçocedirne.r1rg. vá que a 
maior parte das empresas produz m anuais de procedimento. não �p_enas 
�s empresas, was todas as instituições, 1São esses procedimentos que 
re&-Úlàm a condi.ita dos funcionári�s q��ndo s� !!�t� de adm inistrar 
seres humanos, mas que também organizam o t�_J!l.J?O de uma pesquisa 
cienti fica./Por exemplo, para um procedimento parà experimentação 
de medicamentos está incluída a seleção de sujeitos cobaias. Além 
diss.o, na França o termo procedimento'º tem um duplo sentido j á que 
também denota um procedimento jurídico/Não podemos fazer um jogo 
de palavras� um sa_ber que �r�a it!_ri9!f�men�e o_ gozo, e 9!1_e �� f}lzer_ 
isso !ªZ de�ae�recer a sirigulandage\ Em todos os McDona/d 's do 
mundo tanto o hambúrguer como o sorriso daquele que o vende são os 
mesmos. O u pelo menos fazem de tudo para serem o mesmo. 
O campo de concentração· no discurse>de> mestre ocupará o lugar 
do pequeno ªt o_I ugar do go:zt:>; I sto é,\ohnodo _predominante de gozo Í 
:i)!•aJtDeote é Q da.wrega�o!-portanto, ' seg.regação é a OQVa solução 
dada ao gozo.1 
45 
procedimento 
campos de 
Jacques-Alain Miller, em seu curso O lugar e o laço, utilizou a 
expressão de um italiano, Antonio Negri, autor de O Império1 1Jalienaf.ào 
autônoma - o processo 2or meio do qual a e_r�ria pe��.? se coloca no 
campo de concentração.\!:omemos_um exe�� homossex u�lid<1de�n9 
mundo todo ela se tomou uma posiçãoL um campo de concent�o 
gozo - uma auto-segregação. t_um gueto _DQ gual se escolhe se fechar. 
Então, �os <campos de concentracãg. expressão que, a meu ver, deve 
ser usada no plural. \�ses guetos produzem mundos Pª=�los-1 Essa 
expressão eu encontrei há bastante tempo num autor de livros de 
suspense/policiais americanos, autor de Dália Negra, James Ellroy, que 
em sua autobiografia fala de s i próprio e de que ele, numa determinada 
época de sua vida, vi_v_i� num � f!lundo paralelo, que se refere a um 
momento preciso, em que ele viv ia numa comunidade �Jack. des toando 
/
dessa comunidade, e e.sses mundos não se enc_ontravamsxce.to, diz el� 
�m moms_ntos de ç_x�IQsào de violência, qye ele chamava -d� tunrnltos. \Os 
mundos paralelos se encontram atravé�EC>JUºJHI.to , pelo saque. Entª9, � 
lfil! mundo que invade .Q.J)utro....é um encontro viokm.94 
N�_ 
lu�ar d� suj eito bé![Tad�(�) no di�CJJLS9_ q9_me5!re eu 
proponho as rede�, 1 
Miller fala �m redes flexiyeisí moduláveis,_ flutuantes , por ond� 
circula a maes tria. Portanto, podemos dizer que do lado do sujeito (�) 
e do objeto (a) com o qual ele está relacionado -!que é estaJllienaçJo -
. l1,ltônoma, 1 Jacques-Alain M iller diz dela que se trata de uma I bela 
definição da "ex tim_i4ade'1"-, e��a -��tL_midªcie de� .f�_!'ta forma 
caracteriza o sujeit_q . Eis , então, uma proposta para a escri ta do 
di���rso do mestre �oderno,\pós-N ome-do-Pail
1 ou, para dizê-lo de - - · ·.-.... � . 
forma mais precisa,\de tal forma ql,!e o Nom�-do-Pai nãp seja mais o 
� l!á gutros S 1 que não são redutíveis aopo_der paterno e, por outro 
lado�n:_o há determinação causal entre o SI e o gozo. li 
Vamos novamente nos basear no mesmo curso de M iller, f no qual 
--=---,----
ele estuda a modificação que sofre a psicanálise ao longo dos avanços na 
1 --- �--- ---- - - -� 
obra de Lacan. Ele ressalta no início do ensino de Lacan uma parte em 
T::7 ·- ==--·- - ·3 
·1
1 L 1 -"" , L. ú l: c..:.C a u ;_é' > 1 e u il'{ -/.: 2-"' c.: ':.'YG d.( aafo /�.: 'A- --r""f' � t.{ e� 
_.J--- � -. 46 lj U / t ,,. u� t �.r· ,. , , . . • , ( f.. í t ( L.'-L • 
que. e� função da revisita do Édipo pela �ra paterna, ��mos 
que _f�er isso q�e �il_l
��ma ��- 1:1'!1ª ��a _dis�ip
if§),\uma �poca � . 
djsc1plmaula ps1car:m�1num mundo onde a funçao paterna podia ter 
J 
esse papel, de fazer a disciplina do gozofoa medida em que nossa época 
��� disciplinar, como podemos qualificá-la? ·� -
A solução mais simples seria dizer qu�é a época da globalizaçã�-.,. 
É uma éeoca quando\ 'JS polít�s se empaljdecem se comparadas às 
economias.f Existe uma espécie de desvalorização da dimensão do � 
político, e portanto daq�ele�gu�c...�esemp�n.ham esse paprl. E esses não 
se beneficiam mais da transferência ao Pai. Como dizia Lacan, mesmo 
as crianças não acreditam que o Pai seja a verdade. E ainda, !ll�_çm 
pensa que o Presidente da República sabe. Ninguém acredita que o 
Bush seja grande coisa. N.ós supomos neles um_gQ.��DÓS �.!QValTlos 
esse gozo, a tal ponto gµe v�m.o.s _ _pr�. em se tratando de Clinton, se 
procurar, achamos. Portanto, n�sse período, que não é mais o períajo 
disciplinar, o significante que Jacques-Alain Miller utiliza_ parª­
repre�entar t�ssa época, lé uma época de íãrranjoJ <2JJue nós estamos 
l 
prepa�do _c:omo S I para colocar no lugar �i1 Qual é o novo par S 1 
- gozo?/Sobre esse par nós sabemos que não há relação sexual-_ 
Na ��ressão ·�n.ão hiLrcla.ção _sexwr ..... o _ __terrrw rel�çi_q_��� 
fün�amental, pois o sexual nós sabemo� que sempr.e há. A expressão 
"não há relação sexual" causou escândalo na década de 60 e 70. Hoje, 
em 2002, é perfeitamente_ admissível por todos( Mas, como já disse, 
não com relação_�o_fa�o_ �e qlle !!!o haja algo sexual, gtl�tf!ti<>1 L; 
�unca
o sexual esteve tanto em voga,\já que o gozo não está mais 
!imitado pela disciplinvExistem imagens disso em todos os lugares. 
I;:�tamos convencidos de que nãoh� relafào.\ 
E o que está presente no lugar da relação? Seria a equivalência, a 
cquh·aiência das normas. J\sJlonnas se eq
u1;:m. Daí a importância ,._· 
F . - - E . - � 
do direito. que permit� legislar sobre essas equivalências.f 
De certa forma,\a_R.sicanálise_está perfeitamente de _acordo com essa 
�rienta5ão do discurso � ine_s!fe1 ela é pontual, ela não está atrasada . 
. "' . · f · - ...,__ .. · /l'r_ ( · ... ir ',, ( (_./t( · Yc' ?t-f ' A,f r/"1,L<-{ H tC.. i,_�: LC( J l. (�t ( L,, . 
,' 
Portanto, é importante que possamos precisar com o que a psicanálise 
pode, a partir do tratamento analítico, ,contribuir para o que colocar no 
Jugar de S lj Bem entendido, não são os mercados comuns. Não que 
tenhamos algo contra os mercados comuns, nem mesmo contra a 
globalizaçã<:>, uma ye.z___q_ue _ yirn falar --ª-QUL no___l3rasil. 1'.'1ós mesmos 
�enc_emos a uma empresa globalizada da psicanálise, porém, podemos 
dizer que \temos algo contra o comuml já que D.Qssa prática clínica se - .. 
sustenta no singular e não no comum.1 Interessa-se pelo particular�n_ã_o 
pelo unive_rsal\Qp�g��I� s�l����;,Ánào �(3$_ pr��i�. 
O dever sorrir de uma certa maneira em determinadas condições não 
assegura nada, nem mesmo que se deva sorrir. O fato de passar uma vida 
vendendo hambúrgueres no McDonald 's, não quer dizer que sorrir seja a 
resposta adequada, do ponto de vista do sujeito. Não �e_mos ganl!ltir_� 
haja solução do sujeito universal, l!'is não há solucão universal. 
Notas 
' Lacan, J. "A psiquiatria inglesa e a guerra", in A querela dos diagnósticoS', Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 989, p. 24-25. 
' Idem, p. 25. 
1 Lacan, J. O Seminário - Livro 1 7: O ai·esso da psicanálise; Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar Ed., 1 992. 
'Jden,_.__cL,,�-ªPítulo VllI;C,Po mito à estrutura", pp. l 1_1 - 1 24. '. 
' Idem, p. 1 1 3.I 
• �m, p. 122. 
' Lacan, J. "Proposição de 9 de outubro de 1 967 sobre o psicanalista da Escola", in 
º2fjQ Lacaniana nº 1 7, novembro de 1996, p. 1 2. 
• Idem. - - - - - - -- --- - - · - - ' 
• Miller, J.-A. Seminário inédito (2001-1002). 
' "NR: Procedimento significa em português: ato ou efeito de proceder; 1 ) maneira de 
agir, modo de proceder, conduta, comportamento; 2) modo de fazer, técnica. método; 3) 
forma estabelecida por lei para se tratarem as causas em juízo e para o cumprimento 
dos atos e trâmites do processo. 
1 1 Hardt, M. & Negri, A. Império; Rio de Janeiro: Ed. Recorei, 2001 . 
1 
� 1i-_ -é11, i c\ uL�- ,. t:'c,o<u e =C " ''; w( cl o, J"'L_ 
�u: � Slt )ru1:,,, +i ·cvri , k �-'- �t. ; L Ta vu k1 1-{8 1-< 
l!.u â . 
I ; ,' ic· z,_ 
' _1.;;_.,, ( -..,., / . 
Debate 
Da ética ao avesso da psicanálise 
Direito, avesso e vazio 
Sandra Arruda Grostcin 
O curso de Jacques-Alai n Miller encerrado em junho deste ano, 
do qual saiu o título deste seminário, foi vári as vezes cit ado por Marie­
Hélene Brousse. Em suas últ imas aulas,\ M iller refez, em t rabalho 
c2n�to com Éric La�t, o cami11h_o_percorrido por �l!can que vai d9 
Seminário 71 A ética da psicanálise ao Seminário 1 7, O __ av�sso da 
pyicanálise,j 
Do Seminário 7, Laurent ressalta que U>ara Lacan existe uma 
\-�-m-u-ta_ç_ã
...,
9 no que di�re§,Pe�t_o à guestãa c1a des_w, e uma wet iç!g com 
relação ao gozo. Ele usa a expressão(acumulariao invés deígoza_.id Já no 
Seminário 1 7 - ele frisa bem a questão do desejo e do gozo - há uma 
permissividade em relação ao gozo.\Espera-se que o suj eito não tenha 
mais vergonha de seu gozo, e que se envergonhe sim do seu dese.i9. 
N esse meu esboço, �ou__b�_!!Q Seminário 7 el�IJJ�ntos (l�e 
colaborem para o melhor entendimento sobre essa relação entre desejo 
�� o nas art iculações feitas por Lacan. Na página 1 62 do Seminário 
7, em português, ele diz: .. Quando lhes dou uma fórmula como o 
desejo do homem é o desejo do Outro, trata-se de uma fórmula 
fn3 embora Freud não tenha procurado fornecê-la como tal. [ ... ] 
citei-lhes uma fórmula muito curta que aproxima os mecanismos 
49 
respec ti�os da histeria, da neurose obsessiva e da paranóia, -� 
termos de sublimaç�o - a arte, a religião e a ciência. ( ... ] Essas 
indicações nos ajudarão a articular, em toda a sua generalidade, a 
fórmula com que, no final, c.!!_egaremos a pnar a função da 
sub limaç_ão na teferênc ia à Coisa", das Ding. ( . . . ] "Essa Coisa, da qua
i
J
. 
todas as formas criadas_ pelo h_oJ'l'le_f1! _são do registro da sublimação ' 
será sempre representada por um vazi o, precisamente pelo fato de el 
não poder ser representada por outra coisa - ou, mais exatamente, d 
ela não poder ser represen tada senão por outra coisa . 1 Mas, em tod� 
forma de sublimação o vazio será determinante. [ . . . ] Toda ar1e_ sei 
caracter:_iP!_por_ µm cgtQ_rnQdo_de OJgMli_;zação em tomo desse vazio.1 
[ . . . ] � religiãe>_ co�t� em._ todos os modos de evitar esse vazLo". [ . . . ] E; · 
a ciênc ia, "o discurso da ciência rejeita a presença da Cojg_ .. . " , das Ding, 
" . . . u:ina_v_ez__q11�_.e.m sua perspectiva� delineia o ideal do saber 
-- - -----�- �
- - - ·.:: :-
absoluto, i�to éJ. de algo ��lec:e, no en tanto, a Coisa não a 
levando ao mesmo tempo em conta"' . 
. 
Então, a arte or�º-i�a_ o vazio, l!
. 
religiã� evita e a c iência rej�� 
Ao retomar o Seminário 1 7, e_!11_relaç ão uem1issividade do 
gozo, L auren t diz <}!le! o mestre- e Marie-Hélene desenvolveu bem em 
sua con ferência - que l5l significante-mestre ÍÍXí!_ o sujeito em(sji) 
regime de gozo;1Lauren t recupera então na página 1 97 do Seminário 
1 7: �E u sou liberal, como todo mundo, l!Q_enas na medida em que sou 
_ antiprogressist�?:?ó que estou metido em um movimento que merece 
ser chamado de progressista, p_ois tprogressis��m ver fundamentar-se o-=' 
<!i_sc urso psicarialítico, na m�dida em que este completa o c írculo que 
poderia, talvez, ' permitir a vocês situarem exatamente aquilo contra o 
- - --- - - --
que se revoltam40 que não impede que isso continue func ionan do bem 
paca. E os primeiros· a colaborarem com isso, aqui mesmo em 
Vincennes, são \'Q_C ês, pois desem�nham a função dd hilotâi\ de� 
r�im�JVocês também não sabem o que isso quer dizer? O regim� Q 
�_?stra_ para vocês. E le dj:z: - Vejam como_gg�!!!'"· Ou seja, é atrav� 
do regime político �� pod�p_os �lcançar '!qssas modalida_de�=de _gozo. 
so 
Para melhor exemplificar isto, teremos que voltar à referência das 
ú lt imas au las � á c itado curso de J.-A. Miller., 
Nesse contexto, nessa discussão entre Miller e Lauren t, ele uti liza 
a famosa frase de maig de 1968 para falar da permissividade do gozo: 
··�ibido proibir". Estudando n esse curso e trabalhando esse texto, 
lembrei- me da frase "proibido proibir", transportada dos muros de 
Paris, em 1968, para São Paulo. Aqui, mesmo nessa época, ela 
rep resentou uma música - e representa até hoje - um momento, uma 
época. Caetano Veloso, num festival de Música Popular Brasileira, 
ap resenta sua canção É Proibido Proibir. Recebe do público, em suas 
próprias palavras, no livro Verdade Tropical: "A platéia, n o Auditório 
do TUCA (o Teatro da Universidade Católica tinha sido a escolha dos 
organizadores do FIC) , predominan temente estudantil e comprometida 
com um nac ionalismo de esquerda (quer dizer, antiimperialista), reagiu 
com violenta indign ação. Várias caras conhec idas se mostravam 
ostensivamente hostis a mim [ .. . ] e não pouc os entremeavam as vaias 
convenc ionais (uuuuuuuu) , com xingamentos e palavrões"� . No palco, 
"À medida que os rostos curiosos - mas nem por isso livres do ódio 
que os fizera desaparecer

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