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Unidade 1 – Texto Base 1 O mundo do silêncio “Todo dia ela faz tudo sempre igual Me sacode às seis horas da manhã Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortelã.” (trecho da música “Cotidiano” Chico Buarque/1971) Todos os dias, as atividades que realizamos já se tornaram tão rotineiras que nem nos damos conta delas. Por exemplo, acordamos, tomamos banho, preparamos o café da manhã, saímos para trabalhar ou para ir à escola. Nestas atividades simples e corriqueiras estão presentes vários sons. Você já prestou atenção neles? • O som do despertador do relógio ou de alguém chamando nosso nome. • O som da água jorrando pela torneira, o som da escovação dos dentes, o barulho da válvula da privada ou do chuveiro funcionando. • Na cozinha, o som da chaleira apitando com a água fervendo, o barulho dos talheres à mesa e o som do abrir e fechar a geladeira, que aguça nosso apetite. E no caminho para a escola ou trabalho? Faça um exercício recordando os sons que você ouve normalmente, sem prestar atenção, mas que lhe orientam para uma série de comportamentos... Agora imagine se você não fosse mais capaz de ouvir estes sons! Unidade 1 – Texto Base 2 Pois é, há um grupo de pessoas que lida com estas situações todos os dias e muitas outras que não ouvem nenhum dos sons que estamos acostumados a ouvir. Você já se perguntou como elas conseguem realizar as atividades que realizamos sem ouvir os sons? Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 10% da população mundial tem algum déficit auditivo. Já a chamada "surdez severa" incide em uma entre cada mil pessoas nos países desenvolvidos e em quatro entre cada mil nos países subdesenvolvidos. No Brasil, segundo dados do IBGE, o número de surdos é de 5,7 milhões (surdos profundos e deficientes auditivos). No estado de São Paulo há 480.000 e na capital o número é de 150.000. Há pessoas surdas ou com alguma deficiência auditiva em toda a parte, mas no Brasil, muitos são invisíveis à sociedade, vivendo isoladamente em praças, parques, bares, escolas, universidades etc. Em décadas passadas, as famílias costumavam esconder as pessoas surdas, por vergonha de terem gerado filhos diferentes. Essas pessoas surdas nem saiam de casa e estavam sempre acompanhadas por familiares e a comunicação entre eles era muito complicada, pois geralmente a família rejeitava a mímica, os gestos, por considerarem isso “feio”. A falta de comunicação propiciava naturalmente o isolamento dos surdos e, muitas vezes, eles se tornavam nervosos e profundamente irritados, ou mesmo deprimidos. Vivendo esta situação, os próprios surdos não compreendiam a importância da comunicação por meio da Língua de Sinais para a comunicação e para o desenvolvimento da linguagem e cognição. A sociedade, por sua vez, também ignorava as comunidades surdas e as isolava e discriminava. Nos últimos anos, o olhar da sociedade tem mudado significativamente, buscando uma política de inclusão ao cidadão que é surdo. As pessoas surdas desenvolvem mais os outros sentidos, principalmente o sentido da visão. O corpo é um canal fundamental para chegar à vibração e é sentindo as vibrações pelo corpo, que as pessoas com um determinado nível de surdez chegam mais facilmente ao que chamamos de som. Unidade 1 – Texto Base 3 Ele também facilita o processo de comunicação pelos gestos, mímicas, olhares firmes. Os surdos são muito mais visuais e perceptivos do que os ouvintes. Eles “falam com as mãos e ouvem com os olhos”. É possível por meio da língua dos sinais transcrever músicas. A “Língua de Sinais Poética” permite ao surdo cantar por meio da Língua de Sinais, usando todo um conjunto – o espaço visual, a expressão corporal e facial e os diversos parâmetros do idioma, bem como a ênfase nas mãos. Alguns sinais podem ser feitos com mais velocidade e expressividade, outros de forma mais lenta e suave. Dessa forma, a música toca profundamente o surdo. O mundo do surdo é especial e diferente. É um mundo cercado de luz, cores, movimentos, expressões de tristeza e alegria e tudo o que se pode captar com os olhos ou com a vibração do corpo. O impacto da imagem para alguém que não ouve é muito maior, por isso a relação com uma pessoa surda deve ser sempre cuidadosa e atenta. Vamos imaginar, por exemplo, que estamos tentando nos comunicar com um surdo. Se nesta tentativa de comunicação, por distração, nos viramos sem encará-lo, ele poderá interpretar como uma atitude de indiferença ou descaso. Além disso, se ele estiver tentando ler nossos lábios, para entender o que falamos, como conseguirá fazer isso se não estivermos de frente para ele? Há muitos problemas gerados a partir da falta de comunicação entre o surdo e o ouvinte. Problemas de interpretação e tradução, ou então educacionais que comprometem o desenvolvimento na comunicação. A dificuldade em entender e ser entendido provoca efeitos, muitas vezes irreversíveis, na interação do profissional (professor e/ou intérprete) com o surdo. Nas comunidades surdas pode-se observar que estes problemas prejudicam o trabalho desenvolvido por educadores e intérpretes que muitas vezes são rejeitados e mesmo excluídos. Tanto os surdos como os ouvintes precisam ser sensíveis e compreender o grau de dificuldade que envolve a tradução de uma língua numa modalidade oral-auditiva (Língua Oral) para uma língua visual-espacial (Língua de Sinais) e considerar as diferentes formas de cada uma para determinar o significado da mensagem. Os hábitos da comunidade surda são pouco divulgados ou de forma pouco eficaz. Unidade 1 – Texto Base 4 Os próprios integrantes dessa comunidade, às vezes, não têm consciência de suas especificidades, o que pode gerar problemas de comunicação. A dificuldade de comunicação, que algumas pessoas surdas vivem, pode gerar atitudes que são interpretadas como isolamento, timidez, agressividade, falta de educação, egocentrismo. É necessário levar em conta que uma pessoa que não entende o que o outro diz e que não é capaz de se fazer entender pode desenvolver atitudes que, nem sempre, são compreendidas pela comunidade em que vive e até mesmo pela própria família. Nessas circunstâncias uma pessoa surda perde o referencial familiar e social e consequentemente a noção de seu espaço e da sua função no mundo, diminui sua autoestima, sente- se inútil como um fardo a ser carregado. Há muitas crenças sem fundamento em relação às pessoas surdas. Alguns acreditam, por exemplo, que porque uma pessoa é surda, ela também é muda. As pessoas surdas possuem, no geral, condições físicas e fisiológicas para poder falar. Algumas, se não falam é porque não aprenderam ou porque acham que os gestos favorecem a agilidade na comunicação, e outras ainda por opção. Os surdos são tão capazes quanto os ouvintes para desenvolver competências. A surdez não compromete a intelectualidade do surdo. Há muitos surdos que são advogados, arquitetos, engenheiros e profissionais de diversas áreas. Tudo o que não depende da audição, o surdo pode fazer e mostrar o quanto é capaz. Outra crença comum é julgar que todas as pessoas surdas não escutam absolutamente nada, ou que somente escutam quando querem. Há graus diferentes de surdez e, dependendo do grau, há um comprometimento maior ou menor da comunicação. Por exemplo, a maioria das pessoas surdas pode ouvir sons graves e intensos, como o som de um trovão, uma batida forte de uma porta ou então o som de um alarme de incêndio, pois a maioria destes sons possui níveis altíssimos de decibéis. Mas, é importante ressaltarque a altura que estae indivíduos ouvem não é igual a de uma pessoa ouvinte. Outros surdos chegam até ouvir a voz humana, mas não conseguem discriminar as palavras. As pessoas que apresentam problemas mais leves de audição costumam usar equipamentos que possibilitam a amplificação dos sons. Unidade 1 – Texto Base 5 São chamados de Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (AASI). O importante é identificar qual o tipo de surdez que uma pessoa tem para que se possa comunicar mais efetivamente com ela. Vamos, a seguir, entender melhor o que vem a ser a surdez e seus diversos graus. A surdez Ao olharmos uma pessoa que tem dificuldade de locomoção logo percebemos isso. Se olharmos para uma pessoa com Síndrome de Down, logo percebemos essa condição. Pois é, mas a surdez é um defeito invisível. Para detectar que uma pessoa é surda é necessário tentar comunicar-se com ela. Em geral, a audição não é muito valorizada a não ser quando se começa a perdê-la. Os seres humanos, a partir de uma certa idade, começam a perder a audição e torna-se difícil ouvir algumas palavras, campainha, telefone etc. A televisão e o rádio são ajustados num volume insuportável a qualquer ouvinte e, somente então, essas pessoas e os ouvintes que as rodeiam percebem que há algum problema. A audição tem grande importância para a comunicação. A deficiência auditiva é o problema sensorial de maior incidência na população. Em cada mil crianças nascidas no Brasil, de duas a sete apresentam problemas de surdez. O diagnóstico precoce até os seis meses de idade é crucial para o desenvolvimento do bebê, mas isso geralmente não ocorre. Um método de teste para diagnóstico de surdez de origem genética, adaptado pela doutora Edi Lúcia Sartorato, da Unicamp, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Governador do Estado em 2001 e um projeto de lei está tramitando na Assembleia Legislativa para torná-lo obrigatório em unidades públicas de saúde paulistas. E, gratuitamente. O teste genético para surdez pode ser feito juntamente com o do “pezinho”, que atualmente permite apontar até 80 patologias em recém- nascidos. Unidade 1 – Texto Base 6 Mas, a maioria das ocorrências de surdez no Brasil, de acordo com Edi, tem causas não-genéticas, classificadas de ambientais, como rubéola, traumatismo de parto, complicações perinatais, meningite e uso de determinados medicamentos durante a gestação. Com o aumento da atenção à saúde materno-infantil, os casos ambientais tendem a diminuir e, os casos genéticos, a crescer progressivamente, o que torna o teste fundamental. No Brasil, a deficiência auditiva costuma ser percebida pelas mães quando a criança tem em média três anos de idade, pois elas começam a preocupar-se, porque o filho não fala. A história da educação do surdo iniciou há cerca de 300 anos, e nos seus primórdios havia pouca compreensão da psicologia do problema, e os indivíduos deficientes eram colocados em asilos. A surdez, e a consequente mudez, eram confundidas com deficiência mental. É verdade que a ausência da linguagem influi profundamente no desenvolvimento psicossocial do indivíduo, mas felizmente, o deficiente auditivo pode aprender a comunicar-se utilizando a língua dos sinais, ou a própria língua oral. E pode compreender a fala pela forma motora dos sons nos lábios. As perdas auditivas são divididas em grupos de acordo como a localização da lesão, encontram-se entre o ouvido externo e janela oval (ou seja, no ouvido médio) e ocasionam perdas de condução. Elas localizam-se entre a janela oval e as áreas medulares do cérebro, ou no interior destas áreas, ocasionam perdas de percepção. As perdas de condução e de percepção são chamadas de perdas mistas. As implicações das perdas auditivas variam segundo as pessoas e as circunstâncias. Por isso, a relevância de se ressaltar diferentes graus de perdas, tendo em vista as perspectivas de intervenção. As perdas auditivas muitas vezes acontecem não só em termos de intensidade, mas também, em frequência (inteligibilidade e distorção auditiva). As perdas auditivas são classificadas também em relação ao seu grau (Devis e Silverman, 1986), em: Unidade 1 – Texto Base 7 • audição normal ou com pequena perda - perda de até 25 dB; • perdas leves - perda de 25 a 40 dB; • perdas moderadas - perda de 41 a 70 dB; • perdas severas - perda de 71 a 90 dB; • perdas profundas - perda superiores a 91 dB. Mesmo com uma surdez apenas parcial, a fala costuma ser prejudicada e, é necessário auxílio de especialistas para corrigir os distúrbios decorrentes. As perdas leves e moderadas, por exemplo, provocam danos específicos na fala, tais como as trocas, omissões e distorções de fonemas. Já as perdas severas e profundas provocam uma grande dificuldade em todo o processo de aquisição da linguagem. A sensibilidade do ouvido recolhe do mundo à sua volta os sons e os conduzem aos centros medulares que os codificam em uma diversidade de representações neuronais. A audição é um sentido que funciona de forma ininterrupta, colocando o indivíduo em constante contato com o meio, sendo o principal canal para a aquisição da linguagem na modalidade oral. A aquisição da linguagem ajuda a criança a desenvolver seus conceitos sobre o mundo e está interligada ao desenvolvimento das capacidades mentais. Além disto, a educação auditiva depende das inter-relações sociais, culturais e emocionais da criança surda. Identificação da Surdez Há algumas observações que podem ajudar a identificar a surdez. Logo nas primeiras semanas após o nascimento, se o pediatra e os familiares estiverem atentos pode-se observar algumas reações como: Unidade 1 – Texto Base 8 • o bebê não acorda ou não se assusta com um barulho forte e súbito; • o bebê não para de chorar, quando a mãe usa apenas a voz para acalmá-lo; • o bebê não procura a origem do barulho, virando a cabeça na direção da fonte sonora, isso já numa fase posterior do desenvolvimento; • o bebê é exageradamente quieto. Alguns sinais podem ser observados, quando a criança tem mais de 1 ano de idade: • as primeiras palavras aparecem tardiamente (3 a 4 anos); • não responde ao ser chamada em voz normal; • quando de costas, não se volta para a pessoa que lhe dirige a palavra. Além disso, há outros aspectos que podem ser observados: • excesso de comunicação gestual e pouca emissão de palavras; • fala com voz muito alta ou muito baixa; • vira sempre a cabeça para ouvir melhor; • o olhar sempre está dirigido para os lábios de quem fala e não para os olhos; • troca e omissão de fonemas na fala e na escrita. É mais fácil descobrir uma perda de audição de nível severo ou profundo do que uma perda leve ou moderada. Há situações em que um professor, numa sala de aula, tem mais condições de identificar um problema auditivo do que a própria família. Unidade 1 – Texto Base 9 Ao observar um aluno tímido, com dificuldade de comunicação, uma das hipóteses é que ele pode ter um problema auditivo. O jornalista Gilberto Dimenstein faz uma referência ao problema de surdez no site www.aprendiz.uol.com.br. Veja o que ele afirma : “Em 2001, um grupo de médicos saiu pelo Brasil para medir a audição do brasileiro - comandado pelo professor Ricardo Bento, da USP, o projeto era bancado pelos ministérios da Educação e Saúde. Descobriu-se que 18% dos estudantes não ouviam direito, boa parte deles apenas porquenão sabiam limpar direito o ouvido. Não limpar direito significa usar uma série de instrumentos, entre os quais o cotonete, que empurram a cera para dentro, formando uma espécie de rolha. Um tratamento de apenas 30 segundos retirando essa cera resolveria o problema e a criança voltaria a ter audição. Daí se vê como medidas simples poderiam estimular milhões de estudantes a ter um desempenho melhor. Digo milhões porque, nas escolas, há milhões de jovens que não enxergam direito pela falta de um par de óculos, não se concentram porque são anêmicas ou porque sentem dor de dente.” A questão da inclusão do surdo no contexto social e educacional tem sido alvo de inúmeros debates e os governos, de uma maneira geral, têm adotado políticas nacionais que visam promover e implementar programas de atendimento a deficientes auditivos. Essas políticas buscam devolver a autoestima para as pessoas surdas, orientando-as no sentido de reconhecer seus direitos e deveres enquanto cidadãos, seu papel na sociedade, sua condição enquanto pessoa surda e, principalmente, o seu "eu", por meio de atividades e de cursos que promovem uma ampliação do seu conhecimento sobre o mundo. E, na escola, como viabilizar uma educação inclusiva? Educação inclusiva é a educação para todos, isto é, a educação que procura reverter o caminho da exclusão, ao criar condições e espaços para alcançar uma diversidade de educandos. Unidade 1 – Texto Base 10 Assim, a escola será inclusiva quando conseguir transformar não apenas o ambiente físico, mas a postura, as atitudes e a forma de pensar dos educadores e da comunidade escolar, em geral, para aprender a lidar com o heterogêneo e conviver naturalmente com as diferenças. Há uma diferença entre inclusão e integração. Você sabe qual é? Integrar pressupõe adaptar o aluno à escola ou o sujeito à sociedade na qual está inserido. Já, promover a inclusão parte do princípio de que a escola e a sociedade em geral é que devem ser transformadas para adaptarem-se às necessidades de todos e de cada um. Ambas acolhem o diferente, mas na integração as pessoas têm que se adaptar à sociedade como ela é, enquanto na inclusão é o ambiente que precisa adequar-se às demandas e necessidades dos indivíduos. Por exemplo, se uma criança tem uma deficiência, ela deve apresentar determinadas condições para poder ser integrada em uma escola comum. Agora, se há uma preocupação com a inclusão de uma criança com deficiência, é a escola que deve responder às necessidades específicas desta criança. Uma postura social de inclusão deve criar condições para responder às necessidades de todos e de cada um dos cidadãos. Se uma pessoa necessita de uma cadeira de rodas, ela deve poder usá-la livremente nas ruas, nos ônibus e nos prédios públicos; uma pessoa cega que domina bem o braille, a bengala e mesmo o computador necessita utilizar estes recursos nos espaços frequentados pelas demais pessoas; uma pessoa surda que sabe comunicar-se por meio da Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS necessita comunicar-se não só com seus pares, outros surdos, mas com outros profissionais, com familiares, com outras pessoas ouvintes que necessitam para isso, também conhecer LIBRAS. Unidade 1 – Texto Base 11 A questão da inclusão é discutida há muito tempo. Em 1990, a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada na Tailândia, já tratava da democratização da educação, independente das diferenças particulares dos alunos. Em 1994, com a Declaração de Salamanca, foi reafirmado o compromisso com a Educação para Todos e elaborado um documento proclamando a importância da Educação Inclusiva. No Brasil, a perspectiva inicial era a da integração, em cuja proposta todos os alunos possuem o direito a entrar no sistema e transitar por ele. Mas, a escola não assumia a responsabilidade de adaptar-se para receber o aluno com alguma deficiência ou com dificuldades de aprendizagem. Não é suficiente matricular um aluno em classe regular sem fazer alguma mudança; a inclusão não se refere apenas ao portador de deficiências, mas de todos os excluídos da educação. A convivência de alunos com e sem deficiências enriquece o ambiente educativo e traz inúmeras vantagens. É uma oportunidade de vivenciar conflitos, de confrontar valores, de praticar a cooperação e solidariedade no ambiente escolar. Os alunos passam a conviver com pessoas diversas e aprendem que há pessoas que possuem necessidades, condições e habilidades diferentes das suas. Quanto maior for a diversidade em uma sala de aula mais desafiador será o ambiente, maior será a mobilização propiciando a aprendizagem e até a formação de líderes. Aprender a lidar com as diferenças prepara para o convívio social e para uma relação mais natural e tranquila com pessoas com alguma deficiência. Educação Especial A educação para surdos faz parte do que é considerado Educação Especial. Unidade 1 – Texto Base 12 Alunos com necessidades educacionais especiais são aqueles que apresentam, durante o processo educacional, dificuldades acentuadas de aprendizagem que podem ser ou não vinculadas a uma causa orgânica específica ou relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências, abrangendo dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, bem como altas habilidades ou superdotação. Os tipos de necessidades educacionais especiais, classificadas pelo Ministério de Educação, são1: • altas habilidades/superdotação; • autism; • condutas típicas; • deficiência física; • deficiência mental; • deficiência visual; • surdocegueira; • síndrome de Down; • deficiência auditiva. Neste curso, serão abordados aspectos relacionados aos surdos. Como devemos nos referir quando nos reportamos a uma pessoa que não ouve? Surdo, surdo-mudo, mudo, deficiente auditivo, portador de deficiência auditiva, pessoa portadora de deficiência auditiva, portadora de surdez? Unidade 1 – Texto Base 13 Segundo Romeu Kazumi Sassaki2, “devemos parar de dizer ou escrever a palavra ‘portadora’ (como substantivo e como adjetivo). A condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa e esta pessoa não porta sua deficiência. Ela tem uma deficiência. Tanto o verbo ‘portar’ como o substantivo ou adjetivo ‘portadora’ não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que está presente na pessoa. Uma pessoa só porta algo que ela possa não portar, deliberada ou casualmente. Por exemplo, uma pessoa pode portar um guarda-chuva se houver necessidade e deixá-lo em algum lugar por esquecimento ou por assim decidir. Não se pode fazer isto com uma deficiência, é claro”. Observa-se que culturalmente as pessoas com perda parcial da audição referem-se a si mesmas como tendo uma deficiência auditiva (D.A.). Aquelas que têm perda total da audição preferem serem chamadas de surdas. A expressão “deficiente” não costuma ser bem aceita, pois eles têm a mesma capacidade dos ouvintes para desenvolver suas habilidades. O que vem a ser a língua dos sinais? Desde a Antiguidade até o século XV acreditava-se que os surdos eram seres primitivos e não educáveis. No início do século XVI identificamos alguns relatos de pedagogos de diversos países europeus que trabalharam com surdos e diziam que eles podiam aprender, utilizando a estratégia da fala, entre outras, para compreender a língua falada e assim poder desenvolver o pensamento, adquirir conhecimentos, se comunicar com o mundo do ouvinte e poder expressar seu pensamento.Surgiram os professores, os preceptores que educavam em casa e desenvolviam técnicas para que os surdos pudessem dominar a oralidade, a habilidade da leitura labial e também usavam a escrita como um meio de comunicação. Esta preocupação em desenvolver a oralidade nos surdos foi chamada de abordagem oralista; esta se opunha ao uso de comunicação por sinais e alfabeto digital que era proibido. Unidade 1 – Texto Base 14 Em 1815, Thomas H. Gallaudet, que era um professor americano interessado na educação de surdos, foi para a França e conheceu o abade L ‘Epèe que ao observar um grupo de surdos, iniciou um estudo sobre a língua dos sinais. E em 1817, os alunos do abade, Laurent Clerc e Thomas Gallaudet, fundam, nos EUA, uma escola permanente para surdos usando sinais e adaptando o francês para o inglês. No Brasil, em 1835, o deputado Cornélio França apresentou um projeto para criação de cargo de professor de surdos-mudos no Rio de Janeiro. Mas este atendimento somente foi implantado 22 anos depois. Em 1855 veio ao Brasil um professor francês surdo, Ernest Huet, que com a aprovação do imperador D. Pedro II, fundou a primeira escola para surdos em 1857, que hoje é conhecido como Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Para essa escola vinham alunos de todo o país e eram educados na língua escrita e na língua dos sinais. E o alfabeto manual passou a ser conhecido e usado em todo território brasileiro. Em 1864 foi fundada a primeira universidade para surdos nos EUA, chamada Universidade Gallaudet. Em 1878 em um congresso em Paris os educadores consideravam a oralidade melhor que os sinais, mas admitiam o seu uso para a comunicação das crianças. E assim, a discussão sobre oralidade ou sinais começou a tomar forma e numa votação num congresso para educação de surdos em Milão, em 1880, o método oralista venceu o de sinais e a partir daí ficou proibido usar os sinais para a educação dos surdos. No início do século XX , o uso do oralismo ainda predominava na educação de surdos, no mundo. Foi na década de 60 que William Stokoe publicou um artigo em que demonstrava que a língua americana de sinais ( ASL) era uma língua com todas as características de uma língua oral. Unidade 1 – Texto Base 15 Como havia muita insatisfação dos familiares dos surdos com a educação oral das crianças, pois os resultados ficavam a desejar, muitos educadores passaram a estudar novas formas de ensino. Chegaram a uma proposta que combinava os sinais e outros códigos manuais com o oralismo que deu origem a Comunicação Total que usa todas as formas possíveis de comunicação. A universidade de Gallaudet que usava o inglês sinalizado passou a adotar a Comunicação Total tornando-se um centro de pesquisa dessa forma de ensinar surdos. Assim, com a Comunicação Total, os surdos puderam ter acesso ao contato com sinais manuais antes proibidos. O uso da fala e dos sinais é completamente diferente. A língua dos sinais tem regras próprias diferentes da língua falada que não devem ser usadas ao mesmo tempo para a aprendizagem. O maior problema da Comunicação Total é que ela usa vários sistemas que não são línguas e o objetivo é que o surdo adquira a língua oral, pois há uma crença de que a língua oral é imprescindível para que o indivíduo surdo se adapte ao mundo em que vive, cuja maioria é de ouvintes. Podemos dizer que a Comunicação Total não está em oposição à utilização da língua oral, mas é um sistema complementar a ela. Com a reivindicação dos surdos pelo direito de usarem a língua dos sinais e a rejeição à Comunicação Total, alguns educadores propuseram uma abordagem bilíngue. O bilinguismo tem como proposta a aquisição pelo surdo da língua dos sinais, como primeira língua, pois ela é mais natural para o surdo e auxilia a comunicação e facilita a construção do conhecimento mais adequado e compatível com crianças ouvintes na mesma faixa etária e como segunda língua a língua oficial do seu país. O bilingüismo leva em conta que os surdos formam uma comunidade com cultura e língua próprias. Aprender a modalidade da língua oral não quer dizer que ele deve se aproximar ao máximo do padrão de normalidade. No Brasil, na década de 80, Ferreira Brito (1986) iniciou os estudos para descrição da Língua de Sinais do Brasil e Karnopp (1994) e Quadros (1995) começaram a estudar a aquisição da LIBRAS por crianças surdas. Unidade 1 – Texto Base 16 Desde então, o olhar do surdo sobre sua língua tem mudado significativamente. Educadores, sociolinguistas, antropólogos têm demonstrado uma preocupação maior com questões educacionais, sociais, linguísticas e culturais do surdo. Em 2002, o Senado Federal reconheceu LIBRAS como língua oficial dos surdos. Isto foi muito importante pois torna legal ao surdo, ser educado em sua língua natural. Reconhecer o uso de LIBRAS pelos linguistas e pelos órgãos governamentais significa haver uma centralização na questão e um discurso voltado para formação de surdos em bilinguismo. Com a oficialização do uso de LIBRAS, tornou-se importante destacar as obrigações governamentais que asseguram: (...) a presença de profissionais intérpretes nos espaços formais e institucionais (...) e a inclusão da língua brasileira de sinais nos cursos de formação docentes e profissionais intérpretes, sendo optativo para o aluno ouvinte e obrigatório para a instituição de ensino (Diário Oficial, 24/04/2002). A língua dos sinais é uma língua genuína, e evitar seu uso desta língua no ensino do surdo é aumentar a probabilidade de fracasso e também usar o direito ao cidadão, pertencente a qualquer comunidade linguística, de ser educado na sua própria língua. 1 Fonte: http://portal.mec.gov.br/seesp/index.php?option=content&task=view&id=114 2 Fonte: http://www.educacaoonline.pro.br/
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