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Propriedades mecânicas e deformação plástica Disciplina: Introdução à Ciência dos Materiais Prof.: Fábio de O. Braga Graduação em Engenharia Civil Escola de Engenharia Departamento de Engenharia Civil (TEC) 1. Introdução às propriedades mecânicas Golden Gate Bridge, San Francisco, CA, EUA Motivação 1. Introdução às propriedades mecânicas Peças solicitadas mecanicamente Motivação 1. Introdução às propriedades mecânicas • Propriedade mecânica é a resposta de um material quando submetido a uma força ou carga mecânica. • A medida destas garante que o material não sofrerá deformações excessivas, ou fratura, em operação. 1. Introdução às propriedades mecânicas • São verificadas pela execução de experimentos de laboratório cuidadosamente programados, que reproduzem o mais fielmente possível as condições de serviço. • Fatores a serem considerados: • Natureza da carga aplicada; • Duração da sua aplicação; • Condições ambientais. 1. Introdução às propriedades mecânicas Tipos de carregamento e suas deformações Tração Compressão Cisalhamento Torsão 1. Introdução às propriedades mecânicas 1. Propriedades mecânicas • O papel dos engenheiros estruturais é o de determinar as tensões e as distribuições de tensão dentro dos membros que estão sujeitos a cargas. • Já o pessoal de materiais estão preocupados com a produção de materiais para atender as exigências de serviços conforme previsto por essas análises de tensão. 1. Propriedades mecânicas • As principais propriedades mecânicas a serem apresentadas são: • Resistência; • Limite de escoamento; • Módulo de elasticidade; • Ductilidade; • Tenacidade; • Dureza; • Resistência ao impacto; • Resistência à fadiga; • Resistência à fluência. • Para que estas sejam medidas, são projetados ensaios para sua determinação, denominados ensaios mecânicos. 2. Ensaios mecânicos 2. Ensaios mecânicos Ensaio de tração • É o ensaio mecânico mais comum, especialmente nos metais. • Determina muitas propriedades mecânicas, que serão definidas a seguir. • A amostra é deformada por uma carga trativa que atua ao longo do eixo da peça, sendo aumentada gradualmente, geralmente até a fratura. • Geralmente o corpo-de-prova tem seção transversal circular, podendo também ser retangular. • Para que rompa na região de interesse, a região do centro do corpo-de-prova possui seção reduzida (d=0,505 pol, L~4d~2 pol). Máquina de ensaio – tração e compressão Corpo-de-prova de tração padrão (ASTM E8) Tensão de engenharia Deformação de engenharia 2. Ensaios mecânicos Δl = alongamento; l0 = comprimento inicial; li = comprimento final. F = carga aplicada; A0 = área inicial da amostra. Máquina universal de ensaios – realizando ensaios de tração Teste de material – aço ASTM* E8/E8M e/ou ABNT NBR ISO 6892-1 Teste de produto – vergalhão ASTM A 370 ISO 15630-1 *American Society for Testing Materials 2. Ensaios mecânicos 2. Ensaios mecânicos Ensaio de tração • A saída de dados é registrada em computador, com informações de carga e deslocamento. • Como estas informações são dependentes da geometria da peça, os dados devem ser tratados para obter a tensão e deformação. 2. Ensaios mecânicos Ensaio de compressão • Realizado quando, nas condições de serviço, o material está submetido a tensões de compressão. • As equações para calcular a tensão e a deformação são as mesmas que as utilizadas para tração. • Neste caso, a força é no sentido contrário da tração, e é considerada negativa, bem como a tensão. • O alongamento e, consequentemente, a deformação, também são considerados negativos. • Comum em materiais frágeis em tração como os concretos e os cerâmicos. Máquina universal de ensaios – realizando ensaio de compressão Teste de material – concreto ASTM C 39 ABNT NBR 5739:2018 Teste de produto – tubo plástico ASTM D 2412 ABNT NBR 14272:1999 2. Ensaios mecânicos 2. Ensaios mecânicos Ensaio de torção • Neste teste, as tensões são consideradas como de cisalhamento puro (τ). • Neste caso, as forças são aplicadas nas faces superior e inferior da peça, na forma de um torque T. • A deformação de cisalhamento (ϒ) é calculada pela tangente do ângulo φ. • Estas cargas são encontradas em eixos de motores, ferramentas de perfuração, etc. Tensão de cisalhamento de engenharia Máquina de ensaio de torção 2. Ensaios mecânicos Norma ensaio de torção ASTM E 143 Teste de produto – arames de aço ABNT NBR 6003:1984 3. Comportamento tensão- deformação 3. Comportamento tensão-deformação • As curvas abaixo descrevem o comportamento tensão- deformação típico de: (a) um aço-carbono comum, ou um outro metal ou liga dúctil (alumínio, cobre, etc.); (b) um material pouco dúctil, como um aço de alta resistência. 3. Comportamento tensão-deformação • No primeiro gráfico, observa-se distintamente duas regiões: a) Uma região aproximadamente linear (inclinação aproximadamente constante); b) Uma região não-linear (inclinação decresce). • Observar que no segundo gráfico quase só há a região linear. 3. Comportamento tensão-deformação • A região linear descreve o comportamento denominado “linear-elástico”. • A região não linear descreve o comportamento denominado “plástico”. 3. Comportamento tensão-deformação • O comportamento linear-elástico é descrito pela equação: • Onde: σ = tensão; E = módulo de elasticidade ou módulo de Young; ε = deformação; τ = tensão de cisalhamento; γ = deformação de cisalhamento; G = módulo de cisalhamento. • Esta equação é denominada “lei de Hooke”. • Para o aço, E = 210 GPa, e é praticamente independente da composição química do aço. • A deformação ε permanece enquanto a carga é mantida. Assim que a carga cessa, o material volta às dimensões iniciais. (tração e compressão) (torção) 3. Comportamento tensão-deformação • A Tabela mostra os módulos de elasticidade (tração) e o módulo de cisalhamento (torção) para diversos metais. 3. Comportamento tensão-deformação • A deformação elástica é consequência do alongamento das ligações atômicas, que voltam ao normal após o descarregamento. 3. Comportamento tensão-deformação • Apesar da regra, existem materiais que apresentam comportamento elástico não linear. Ex: concreto, ferro fundido cinzento, diversos polímeros. 3. Comportamento tensão-deformação • Neste caso, apesar da deformação não linear, o material volta para o comprimento inicial após o descarregamento. • Neste caso o módulo elástico é obtido pela reta secante entre dois pontos previamente definidos, ou pela tangente em um ponto. 3. Comportamento tensão-deformação • Exemplo do cálculo do alongamento elástico: • Um pedaço de cobre originalmente com 305 mm de comprimento é puxado em tração com uma tensão de 276 MPa. Se a sua deformação é inteiramente elástica, qual será o alongamento resultante? Considere o módulo de Young do cobre como 110 GPa. 3. Comportamento tensão-deformação • Quando uma tensão é imposta sobre uma amostra metálica ao longo do eixo da peça (eixo z), resulta em uma deformação εz. • Como resultado do alongamento, haverá uma contração nas direções x e y, perpendiculares à tensão aplicada (deformações εx e εy). • Se o material for isotrópico, εx = εy. • O coeficiente de Poisson (ν) é definido com a razão entre as deformações lateral e axial. • Os metais tem 0,25 < ν < 0,35. 3. Comportamento tensão-deformação • Exemplo: Uma tensão de tração deve ser aplicada ao longo do eixo do comprimento de uma barra cilíndrica de latão, que tem um diâmetro de 10 mm. Determine a magnitude da carga necessária para produzir uma variação de 2,5 x10-3mm no diâmetro se a deformação é puramente elástica. Considere νCu = 0,34. 3. Comportamento tensão-deformação Deformação plástica • Para a maioria dos metais → deformação elástica até ε ~ 0,005. • A partir daí, a deformação é não-linear, não-recuperável, denominada deformação plástica. 3. Comportamento tensão-deformação Deformação plástica 3. Comportamento tensão-deformação Deformação plástica • Limite de escoamento: Tensão em que ocorre a transição do regime elástico para o regime plástico. • Dependendo do material, pode ser bem definido ou não. Desta forma pode ser necessária uma metodologia para determiná-lo. Limite de escoamento definido com uma pré-deformação de 0,002 ou 0,2% Limite de escoamento superior e inferior. Por questão de segurança, o limite inferior é considerado para projeto. 3. Comportamento tensão-deformação Recuperação elástica após deformação plástica 3. Comportamento tensão-deformação Deformação plástica • Limite de resistência à tração: É o valor máximo de tensão na curva tensão- deformação de engenharia. • É a tensão máxima que um material pode suportar sob tração. • Um estrangulamento começa a se formar na seção transversal do corpo- de-prova, que é conhecido como estricção. 3. Comportamento tensão-deformação Deformação plástica • O que ocorre microscopicamente? Movimento de discordâncias 3. Comportamento tensão-deformação Deformação plástica • O que ocorre microscopicamente? Movimento de discordâncias Linhas de escorregamento em amostra policristalina de cobre. Ampliação 173x. Alteração da microestrutura pela deformação plástica: (a) antes; (b) depois, grãos alongados. Ampliação 170x. 3. Comportamento tensão-deformação Deformação plástica • Ductilidade: Medida do grau de deformação plástica que foi suportado até a fratura. • Material que suporta pouca deformação plástica é conhecido como sendo frágil. • A ductilidade pode ser expressa como alongamento percentual (%AL) ou uma redução percentual de área (%RA) no regime plástico (excluir a parte elástica). 3. Comportamento tensão-deformação 3. Comportamento tensão-deformação • Resiliência: Capacidade do material de absorver energia quando é deformado elasticamente. O módulo de resiliência é calculado pela área sob a curva tensão-deformação até o escoamento. • Tenacidade: Capacidade do material de absorver energia até a fratura. Calculada pela área sob a curva tensão-deformação até a fratura. Representação do módulo de resiliência (área sombreada) Curvas tensão-deformação para um mesmo aço em temperaturas diferentes, mostrando diferentes tenacidades. 3. Comportamento tensão-deformação • Tenacidade ao entalhe: É a medida mais conhecida da resistência ao impacto de um material. Corpos-de-prova são submetidos ao impacto com carga padronizada, com possuindo entalhe com geometria conhecida. • Os ensaios mais conhecidos são o Charpy e o Izod (ASTM E 23). 3. Comportamento tensão-deformação • Tenacidade à fratura: Consiste na resistência do material à propagação de trincas pré-existentes em sua estrutura. • Os ensaios mais conhecidos são CTOD, o ensaio de fadiga da/dN. Ensaio CTOD com corpo-de-prova do tipo compact tension (CT)(ASTM E 399). A mesma geometria é utilizada para ensaios de fadiga da/dN. Ensaio CTOD com corpo-de-prova do tipo flexão. 3. Comportamento tensão-deformação • Resistência à fadiga: Resistência do material quando submetido a uma grande quantidade de ciclos de carga-descarga, com uma tensão que pode ser abaixo ou acima do limite de escoamento. • O ensaio de fadiga é especificado pela ASTM E 466. Ensaio de fadiga com aplicação de carga com eixo desalinhado. O material sofre sucessivos ciclos de tração-compressão em cada ponto de sua seção. 3. Comportamento tensão-deformação • Os materiais podem se deformar plasticamente com carga constante abaixo do limite de escoamento, especialmente em altas temperaturas, em que outros mecanismos de deformação plástica começam a agir. • Resistência à fluência é a capacidade do material de resistir a este fenômeno. Ensaio de fluência (ASTM E 139). 3. Comportamento tensão-deformação • Dureza: É a medida da resistência do material a uma deformação plástica localizada (pequena impressão ou risco). • Os métodos de determinação de dureza mais conhecidos são os ensaios de dureza Rockwell, Brinell, Vickers (dureza e microdureza) e Knoop (microdureza). • Em todos estes ensaios, um penetrador (indentador) é pressionado com cargas e tempos pré-estabelecidos, gerando uma marca, ou impressão. • A profundidade e o tamanho da impressão são associados com o número índice de dureza. • Cada método possui penetradores, carga e tempo de aplicação específicos. 3. Comportamento tensão-deformação Conversão de escalas de dureza • CALLISTER JR., William D; RETHWISCH, David G. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 8ª. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. Referências 1. Uma barra cilíndrica de liga de titânio, tendo um módulo de elasticidade de 107 GPa e um diâmetro de 3,8 mm, sofre deformação elástica quando uma carga de tração de 2.000 N é aplicada. Calcule o comprimento máximo que a amostra pode ter antes da deformação, se o alongamento máximo permitido é 0,42 mm. Exercícios 2. Considere uma amostra cilíndrica de aço liga com 10.0 mm de diâmetro e 75 mm de comprimento, que é carregada em tração. O diagrama tensão-deformação para este aço é mostrado abaixo. Determine o alongamento do peça quando uma carga de 20.000 N é aplicada. Exercícios 3. A figura abaixo mostra, para um ferro fundido cinzento, a curva tensão-deformação de engenharia no regime elástico. Determine: (a) o módulo de elasticidade tangente (GPa) a 10.3 MPa e (b) o módulo de elasticidade secante (GPa) tomado entre 0 e 6.9 MPa. Exercícios 4. Você pode precisar de uma planilha eletrônica: Uma peça cilíndrica de alumínio com diâmetro de 12,8 mm e um comprimento útil de 50,800 mm é carregada em tração. Use os dados obtidos no ensaio de tração deste mesmo material (ver tabela ao lado) para realizar as etapas a seguir: (a) Plote os dados como tensão de engenharia versus deformação de engenharia; (b) Calcule o módulo de elasticidade (GPa); (c) Determine a tensão de escoamento pelo método da paralela de 0,002 de deformação (MPa); (d) Determine o limite de resistência à tração (MPa) desta liga; (e) Qual a ductilidade aproximada, em %AL. Exercícios
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