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Síndromes Convulsivas na Infância Departamento Materno-Infantil Disciplina de Pediatria Prof. Marta Lyra No Caminho, com Maiakóvski Eduardo Alves da Costa (1960) ................................. Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada. ............................................ Síndromes Convulsivas na Infância • Definição: • A epilepsia é do ponto de vista fisiopatológico uma alteração do ritmo neuronal cujos mecanismos bioquímicos e fisiológicos são imprecisos. • Dependendo do local onde apareça esta descarga neuronal evidencia-se, as formas mais variadas de alterações do mecanismo Eletroencefalograma (EEG). Síndromes Convulsivas na Infância Imaturidade córtical, sub-cortical • Incidência: Menor 2 anos: alterações pré-natais; 4-8 anos: sem causa aparente e Puberdade: alterações bioquímicas e fisiológicas. FATORES CAUSAIS (A maioria dos casos inicia-se na infância) Baixo limiar convulsivante (alterações metabólicas são suficientes para desencadear as crises) Síndromes Convulsivas na Infância Etiopatogenia: • Orgânica: lesões adquiridas nos períodos pré, peri e pós- natal. • Funcionais: hiperexitabilidade cerebral transmitida geneticamente por alterações metabólicas, alterações bioquímicas ou alterações fisiológicas (às vezes as crises funcionais são prolongadas, causando lesão e se transformando em epilepsia orgânica). Síndromes Convulsivas na Infância Patologias associadas à síndrome convulsiva Síndromes Convulsivas na Infância Não convulsivas: Com alteração só da consciência: Breve (ausência típica e atípica). Longa (estado de ausência). Com alteração da consciência e outros fenômenos Ausência típica ou atípica com: 1. Componente clônico (ausência mioclônica). 2. Aumento do tono postural (retropulsiva ). 3. Diminuição do tono postural (atônica). 4. Automatismos. 5. Com sintomas vegetativos (abdominal, enuréticos) 6. Mista Convulsivas 1. Mioclônicas: 2. Generalizadas (espasmo infantil) 3. Parciais 4. Clônicas 5. Tônicas 6. Tônico- clônicas CLASSIFICAÇÃO: 1. CRISES GENERALIZADAS: Síndromes Convulsivas na Infância PARCIAIS Com sintomatologia elementar: Com sintomatologia complexa: Sintomas motores: 1. Focais 2. Adversivas 3. Posturais 4. Somáticas inibidoras 5. Que afetam a palavra. Com alterações só da consciência. Com sintomas sensoriais ou somato-sensoriais 1. Sômato-sensoriais 2. Visuais 3. Auditivas 4. Olfativos 5. Gustativos 6. Vertiginosos Com sintomas intelectuais: 1.Dismnésicas. 2.Transtornos de pensamento Afetiva Psico-sensorial Com sintomas vegetativos Psicomotora Mistos Mistas CLASSIFICAÇÃO 2. CRISES HEMIGENERALIZADAS: Síndromes Convulsivas na Infância CRISES SECUNDARIAMENTE GENERALIZADAS. • Erráticas do recém-nascido. • Crises não classificadas. Síndromes Convulsivas na Infância • Diagnóstico: Crise convulsiva e epilepsia (convulsões recorrentes) • Retrospectivo e baseado na anamnese (O médico raramente presencia as crises, a não ser em serviços de pronto socorro ou quando elas são muito frequentes). • Exames clínico, neurológico e laboratorial complementam e confirmam a suspeita diagnóstica. • Antecedentes familiares de epilepsia e doenças que além de convulsão outras anormalidades (p.ex. esclerose tuberosa, fenilcetonúria). Síndromes Convulsivas na Infância • Antecedentes gestacionais: 1. Processos infecciosos; 2. Hemorragia; 3. Duração da gestação; 4. Trabalho de parto – parto prolongado, muito rápido, pélvico, cirúrgico, prolapso de cordão; 5. Peso ao nascer - pré-termo, PIG e GIG. • Avaliação das aquisições do desenvolvimento. Diagnóstico: • Antecedentes patológicos desidratação, teníase, traumas cranianos, infecções em geral e do SNC. Síndromes Convulsivas na Infância • Idade de aparecimento – 1. RN: convulsões atípicas, focais ou migratórias. 2. Após 6º mês: convulsão febril benigna (muitas vezes, surgem as primeiras crises no fim do primeiro ou no decurso do segundo ano de vida. Costumam desaparecer aos seis anos de idade). 3. Durante o 1º anos: Síndrome de West. 4. Entre o 3º e 4º ano: Síndrome de Lennox-Gastaut. 5. Entre do 4º ao 8º ano: Pequeno Mal ou Ausência, geralmente até a puberdade. 6. Em qualquer idade: Crises psicomotoras. Diagnóstico: Síndromes Convulsivas na Infância •Horário: tem importância na terapêutica. •Tempo e duração dos episódios pode sugerir certas patologias West, pequeno Mal mioclônico e acinético g segundos; Ausênciag5 a 20 segundos; Febril benignag10 a 20 segundos). •Sintomas associados à convulsão ou no período pós ictal. Diagnóstico: Síndromes Convulsivas na Infância Exames complementares: •EEG é o único relacionado com epilepsia. •Radiologia do crânio g pode ser útil para identificar calcificações – TOXO, CMV, Neurocisticercose, podem chamar atenção para hipertensão intracraniana ou alteração da sela turca, fratura ou afundamento no trauma. •LCR g na suspeita de processos infecciosos e nos RN, hemorragia subaracnóide, leucoencefalites. •Ecoencefalograma: Mostra os desvios das estruturas encefálicas em relação a linha mediana, e pesquisa de processos patológicos que ocupam espaço (tu, hematomas e abscessos supratentoriais). Síndromes Convulsivas na Infância Exames complementares: • Estudos metabólicos:(Na+, K+, Glicemia, pH, substâncias tóxicas). • Teste para avaliação do desenvolvimento motor, mental e da personalidade. • TC de crânio, RNM de crânio e Tomografia por emissão de fotom. único (SPECT): Quando há sinais neurológicos focais ou progressivos (neoplasias, malforma- ções vasculares, doenças degenerativas, digenesias cerebrais, hematomas e abscessos). Síndromes Convulsivas na Infância Tratamento: 1. Controlar a convulsão – medicação adequada para cada tipo clínico; 2. Permitir a criança o exercício de suas atividades habituais (limitações são relativas a atividades nas quais a ocorrência de uma convulsão coloca em risco físico o paciente ou outras pessoas como, por exemplo, a natação sem supervisão) atividades recreativas, esportivas e escolares não necessitam restrições. 3. Se, além das crises convulsivas, há também dificuldade escolar, tornam-se necessárias uma avaliação e uma orientação especiais. 4. Evitar desencadeantes conhecidos de convulsões (exposição muito prolongada ao sol, privação de sono por muitas horas além do habitual, ingestão, em uma só refeição, de exagerada quantidade de hidratos de carbono ou de líquidos e ainda bebidas alcóolicas). Tratamento: Síndromes Convulsivas na Infância 5. Explicar aos familiares e dentro do grau de desenvolvimento à própria criança o significado das crises, as limitações, esclarecer sobre misticismos. 6. Se a criança tem deficiência psicomotora ou doenças progressivas requer outro tipo de orientação. 7. Tratamento do agente causal requer outras medidas, clínicas ou cirúrgicas (terapêutica etiológica). 8. Em determinadas ocasiões (foco convulsivo bem delimitado e incontrolável pelos meios clínicos), tem indicação os procedimentos cirúrgicos que se devem dirigir para a extirpação do foco, independentementede sua causa. A. Uso de medicamentos anticonvulsivantes. Critérios: 1. Determina-se a dose da medicação para cada paciente (mínima capaz de controlar as crises e a máxima tolerável pela criança). 2. Administrar, nos primeiros dias, apenas frações da dose total prevista. Aumentá-la, de modo progressivo, a fim de avaliar os seus efeitos. 3. Observar 2 a 4 semanas, para julgar o efeito droga, pois, é necessário algum tempo para que atinja nível efetivo. 5. Manter o esquema estabelecido, sem interrupções e sempre no mesmo horário (suspensão ou troca de medicação faz-se de modo lento e progressivo, a não ser em face de intolerância grave). 6. Dispensar especial atenção aos efeitos colaterais (sonolência, excitação) e tóxicos (hipoplasia de medula óssea) que podem surgir mesmo após tempo de uso de algumas substâncias. Tratamento: Síndromes Convulsivas na Infância Síndromes Convulsivas na Infância SÍNDROME DE WEST ou espasmos infantis ou encefalopatia mioclônica com hipsiarritmia. • Definição: A síndrome de WEST é uma forma peculiar de epilepsia da infância que se caracteriza pela tríade: • espasmos, • deterioração neuropsíquica e • EEG patognomônico. Surge g 3 – 8 meses (maior incidência em torno dos 6 meses). Síndromes Convulsivas na Infância – Síndrome de West Quadro clínico da crise Característico: 1. Espasmos de aparecimento súbito, rápidos, generalizados, (como se tratasse de contrações mioclônicas maciças). Geralmente em extensão (atitude de opistótono). 2. Pode se limitar à flexão do pescoço + tique de SALAAM. 3. Pode apresentar um indício de lateralização (rotação da cabeça para um lado ou contração mais intensa de um braço). 4. Quando em flexão g flexão da cabeça sobre o tórax, o tronco se encurva com flexão de todos os segmentos dos membros e com abdução dos membros superiores. Quadro clínico: 5. É comum a associação do quadro ao de retardo neuropsíquico e motor. 6. Espasmos se acompanharem de grito ou riso após e/ou durante a crise. 7. Com frequência ocorrem em salvas, com h progressivo dos intervalos entre os espasmos e i progressiva de sua intensidade. 8. Alterações no comportamento da criança, surgem coincidindo com o aparecimento das crises, pouco depois ou mais raramente precedendo-o. 9. A criança deixa de sorrir, reage pouco aos estímulos. Síndromes Convulsivas na Infância – Síndrome de West Síndromes Convulsivas na Infância – Síndrome de West 1. Perda de condutas já adquiridas, 2. Há o reaparecimento de reflexos primitivos que a haviam desaparecido e 3. Acentuada hipotonia muscular. Exame Físico Síndromes Convulsivas na Infância – Síndrome de West ETIOPATOGENIA: Podemos considerar: • Grupo idiopático a criança tem desenvolvimento normal até o início dos sintomas e dai em diante ela passa a apresentar regressão. • Grupo sintomático processo patológico nítido, o retardo de desenvolvimento anterior ao aparecimento dos espasmos - o fator mais comum é a anóxia neonatal. Outras causas: meningencefalites, toxoplasmose, hematoma subdural, sífilis, doença de STURGE-WEBER, esclerose tuberosa, TAY-SACHS, fenilcetonúria. Síndromes Convulsivas na Infância – Síndrome de West • Diagnóstico Diferencial: 1. O mais importante é com a síndrome de LENNOX (muitos autores se referem a casos de WEST ocorrendo na idade de um, dois anos ou até mais tarde, quando na realidade se trata de síndrome de LENNOX). 2. Reflexo de MORO, este ocorre até os quatro meses e meio no máximo e nunca em salvas. Além disso, no reflexo de MORO, os dedos se refletem como que em preensão e, nos espasmos, eles se estendem. 3. Como o espasmo é geralmente associado ao grito, há possibilidade de ser confundido com cólica do lactente. PROGNÓSTICO É reservado. Depende: 1. do diagnóstico precoce, 2. da etiologia e 3. da fase de início do tratamento. Grupo idiopático: • tratado precocemente (na 1ª semana), a evolução é muito boa. Pode chegar a haver cura total e definitiva. • entre uma semana e um mês há cura em 50% dos casos. • entre um mês e quatro meses, o prognóstico é para cura em 1/3 dos casos. • 2 meses sem tratamento específico constitui o limite a partir do qual o QI médio diminui de modo muito rápido. Síndromes Convulsivas na Infância – Síndrome de West Síndrome de Lennox-Gastaut ou encefalopatia epiléptica da infância com pontas-ondas lentas difusas ou variante de pequeno mal. Definição: A síndrome de LENNOX é: 1. Uma forma grave de epilepsia da infância em que é fundamental o diagnóstico EEG. 2. Surge entre 1 a 6 anos de idade (h incidência 3 anos ½ a 4 anos). 3. São definidas como crises clínicas atípicas, diferente das crises tipo pequeno mal. Síndromes Convulsivas na Infância Síndromes Convulsivas na Infância - Síndrome de Lennox-Gastaut Quadro clínico: A síndrome de LENNOX se caracteriza por: 1. Uma crise convulsiva associada à deficiência mental. 2. As crises epilépticas tem início na infância em torno dos três anos (raramente após os dez anos, excepcionalmente, no adulto). 3. Frequentemente são as crises tônicas (em cerca de 70% dos casos e que podem ser axiais (musc. axial), axorizomélicas(raízes dos membros)). 4. Às vezes unilaterais com ou sem subsequente automatismo, 5. Às vezes reduzidas a simples desvio conjugado do olhar para cima. Síndromes Convulsivas na Infância Síndrome de Lennox-Gastaut a) Lennox: perda de consciência de curta duração (5’’) + início e término gradativos + sem perda total de consciência (durante a crise, pode mesmo responder às perguntas). b) Ausências: acompanhadas por automatismo (por ex.: andar, movimentos deglutição) + fenômenos vegetativos (salivação, lacrimejamento) ou por alterações de tônus. Nesta última eventualidade, ocorre, às vezes, uma total atonia limitada ao segmento cefálico. São crises acinéticas como foram denominadas por LENNOX. Quadro clínico: 6. 32% dos casos ocorrem ausências (são m do pequeno mal). Síndromes Convulsivas na Infância Síndrome de Lennox-Gastaut 7. Menos frequentes são as tônico-clônicas, generalizadas ou parciais, e as crises com características psicomotoras. 8. Combinação dos vários tipos de crises (cerca de 50% dos casos), sendo que a mais comum é a de crise tônicas com ausências. Quadro clínico: Síndromes Convulsivas na Infância Síndrome de Lennox-Gastaut Frequência das crises: • Cerca da metade dos pacientes apresenta mais de uma crise por dia. Síndromes Convulsivas na Infância Síndrome de Lennox-Gastaut Exame: • Exame Neurológico não é característico da síndrome (as poucas manifestações, como hemiplegia distonia ou comprometimento de pares cranianos são resultantes de uma encefalopatia preexistente). • A deficiência mental é de grau variável (geralmente severa, quando as crises se iniciam tardiamente o grau de comprometimento mental é menos acentuado) e é uma característica fundamental na síndrome de Lennox. Síndromes Convulsivas na Infância Síndrome de Lennox-Gastaut Alterações Radiológicas: • TC e RMC mostra atrofia global, unilateral ou localizada (geralmente temporal). Eletroencefalograma: • EEG: constituído por complexos de espículas-ondas lentas, isoladas ou em surtos de 1,5 a 2 ciclos por segundo. Podem ser bilaterais, síncronos e simétricos ou assimétricos (as alterações se tornam mais evidentes com o sono). Síndromes Convulsivas na Infância - Síndrome de Lennox-Gastaut Diagnóstico Diferencial (DD) 1. Síndrome de WEST quando ela ocorre mais tarde que o habitual, mas o EEG apresenta alteraçõescaracterísticas. 2. Epilepsia generalizada comum (o QI não costuma estar comprometido, a TC e a RMC não apresenta atrofia e o EEG não é característico). 3. Estado de mal do pequeno mal: o DD é difícil, porque no EEG as espículas-ondas, podem perder o ritmo regular de 3 ciclos/segundo e se tornarem mais lentas e irregulares. O melhor meio de DD é a prova terapêutica (o diazepan endovenoso tem efeito imediato sobre o estado de mal do pequena mal). Síndromes Convulsivas na Infância - Síndrome de Lennox-Gastaut Diagnóstico Diferencial (DD) 4. Epilepsia psicomotora – O DD se faz pelo EEG e o QI não costuma estar comprometido. 5. Algumas doenças degenerativas que se acompanham de epilepsia (idiopatia amaurótica infantil tardia, doença de UNVERRICHT-LUNDBORG). O DD se faz pela progressão dos sinais neurológicos nas doenças degenerativas. Síndromes Convulsivas na Infância Síndrome de Lennox-Gastaut Etiopatogenia: • Formas primárias A deficiência mental é menos acentuada e podem se encontrar nesse grupo crianças com inteligência limítrofe (30% dos casos, a síndrome de LENNOX parece ocorrer como uma afecção primária em crianças normais sem nenhum antecedente patológico). • Formas secundárias As alterações neuropsiquiátricas e a atrofia cerebral são encontradas com maior intensidade (33% dos casos trauma obstétrico. Citam-se outros fatores etiológicos como encefalite, traumas cranioencefálicos, malformações arterio-venosas, hidrocefalia, meningite e abscesso cerebral, esclerose tuberosa, oligofrenia fenilpirúvica). Síndromes Convulsivas na Infância Síndrome de Lennox-Gastaut PROGNÓSTICO: O prognóstico a longo prazo é quase desconhecido. Como um quadro clínico completo dessa afecção nunca foi encontrado em adulto supõe-se que esses sintomas desapareçam gradualmente para ser substituídos por outras manifestações. O que mais me impressiona nos fracos, é que eles precisam de humilhar os outros, para se sentirem fortes... Gandhi Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor. Vladimir Maiakóvski Obrigada
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