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Epilepsia na infância DEFINIÇÃO ➢ Hughlings Jackson, Sec. XIX, definiu como “uma descarga ocasional, súbita, rápida e localizada na substância cinzenta (córtex cerebral)” ➢ Ocorrência de paroxismos transitórios de descargas neuronais incontroláveis que podem ser causadas por uma grande variedade de fatores, e que resultam em crises epiléptica ➢ Recorrentes e não provocados (sintomático). O tipo crise epiléptico depende da localização da descarga inicial e de sua programação ➢ Mais prevalente em classes socioeconômicas mais baixas ➢ Epilépticos têm uma prevalência maior de neurotransmissores excitatórios em detrimento dos inibitórios, o que causa atividade hiperexcitatória O QUE É EPILEPSIA? ➢ É um distúrbio cerebral crônico caracterizado por uma permanente predisposição para gerar crises epilépticas recorrentes e por suas consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais ➢ Epilepsia é uma doença do cérebro caracterizado por uma das seguintes condições: o Ocorrência de pelo menos duas crises epilépticas não provocadas ou duas crises reflexas ocorre em um intervalo superior a 24 horas (em 10 anos) ▪ Crises Reflexas = crises desencadeadas por estímulo luminoso (estímulo sensorial), por exemplo o Ocorrência de uma crise epiléptica não provocada ou uma crise reflexa e chance de recorrência estimada em pelo menos 60% o Diagnóstico de uma síndrome epiléptica O QUE É CRISE EPILÉPTICA? ➢ É uma manifestação transitória de sinais e/ou sintomas causadas pela atividade neuronal síncrona ou excessiva no cérebro ou parte dele ▪ Lobo Occipital: alteração visual ▪ Lobo Frontal: alteração motora ▪ Lobo Temporal: alteração comportamental ▪ Todo o córtex: crise generalizada, pode haver até perda de consciência ➢ Estes sintomas incluem fenômenos anormais súbitos transitórios, como alterações de consciência ou eventos motores, sensitivos/ sensoriais, autonômicos ou psíquicos involuntários; que são percebidos pelo paciente ou um observador ➢ A maioria das crises é autolimitada SÍNDROME EPILÉPTICA ➢ Relacionadas a idade e com características clinicas comuns EPILEPSIA RESOLVIDA: ➢ Epilepsia relacionada a uma determinada faixa etária e que agora ultrapassa essa idade; ou indivíduos que tiveram a ultima crise há mais de dez anos e estão há pelo menos 5 anos sem usar FAE CLASSIFICAÇÃO ➢ Generalizadas x Focais o Generalizadas: se originam em algum ponto de uma rede neuronal e rapidamente envolvem e se distribuem em redes neuronais bilaterais ▪ Na maioria das vezes são consideradas idiopáticas ▪ Pode haver liberação esfincteriana ▪ Tipos: ❖ Tônico-clônicas ❖ Ausência ❖ Clônicas ❖ Tônicas ❖ Atônicas ❖ Miotônicas ▪ Conduta Emergencial: ❖ Proteger a cabeça ❖ Posicionar lateralmente, para evitar aspiração da saliva ❖ Oxigênio o Focais: se originam em redes neuronais limitadas a um hemisfério cerebral, as quais podem ser restritas ou distribuídas de forma mais ampla ▪ Tipos: ❖ Motora ❖ Autonômica ❖ Contato ▪ Na maioria das vezes são consideradas lesionais CRISES GENERALIZADAS ➢ Conduta o Valproato o Fenobarbital o Fenitoina o EEG o Exames de imagem CRISE FOCAL COM ALTERAÇÃO DA PERCEPTIVIDADE OU NÃO ➢ Sem perda de perceptividade: consegue interagir com o médico, respondendo às perguntas ➢ Com perda da perceptividade: não consegue interagir com o médico, porem se encontra consciente CRISES FOCAIS ➢ Conduta o Carbamazepina o Fenitoina o Topiramato o EEG o Exames de imagem SÍNDROMES ELETROCLÍNICAS LISTADAS DE ACORDO COM A IDADE DE INÍCIO PERÍODO NEONATAL Crises neonatais autolimitadas Encefalopatia mioclônica Epilepsia neonatal familiar autolimitada Precoce(EME) Síndrome de Ohtahara LACTÂNCIA (inicio abaixo dos dois anos) Crises Febris Epilepsia mioclônica do lactente Crises febris plus Epilepsia infantil familiar autolimitada Epilepsia do lactente com crises focais migratórias Sindrome de Dravet Síndrome de West Encefalopatia mioclônica em distúrbios não progressivos INFÂNCIA Crises Febris Epilepsia occipital na infância do tipo tardia (tipo Gastaur) Crises febris plus Epilepsia ausência da infância Epilepsia occipital de início na infância precoce (Síndrome de Panayiotopoulos) Epilepsia com ausências mioclonais Epilepsia mioclônica com crises atônicas (anteriormente astáticas) Sindrome de Lennox-Gastatut Epilepsia autolimitada com descargas centrotemporais Encefalopatia epiléptica com descargas de ponta- onda continuas durante o sono Epilepsia frontal autossômica dominante Sindrome de Landau-Kleffner ADOLESCENTE-ADULTO Epilepsia ausência juvenil Epilepsias mioclonicas progressivas Epilepsia mioclônica juvenil Epilepsias parcial autossômica dominante com manifestações auditivas Epilepsia com crises tônico-generalizadas apenas Outras epilepsias do lobo temporal familiar SINDROMES EPILEPTICAS FAMILIARES Epilepsia focal familiar com focos variáveis Epilepsia Genéticas com crises febris plus (GESF*) ENTIDADES CLINICO-RADIOLOGICAS EPILEPSIAS AUTODISTRIBUIDAS E ORGANIZADAS POR CAUSAS Genéticas, estruturais, metabólicas, imunes e infecciosas Epilepsias de causas desconhecidas CONDIÇÕES COM CRIESE EPILEPTICAS QUE NÃO SÃO TRADICIONALEMNTE CLASSIFICADAS COMO FORMAS DE EPILEPSIAS POR SI SÓ Crises Neonatais benignas Crises febris TRATAMENTO FARMACOLOGICO FARMACOS TRADICIONAIS NOVOS FARMACOS BROMETOS OXCARBAMAZEPINA FENOBARBITAL DIVALPROATO CARBAMAZEPINA LAMOTBENRIGINA VALPROATO VIGABATRINA BENZODIAZEPNICOS TOPIRAMATO GABAPENTINA LACOSAMIDA LEVETIRACETAM FÁRMACOS ANTIGOS NOVOS FÁRMACOS Kwan & Brodie 2000: jan 1984- jan 1997 → 64% livres de crises Stephen et al 2012: apesar dos novos FAEs → 68% livres de crises VALPROATO: antiga, maior espectro clinico, atua em todos os tipos de crises epilépticas e não piora quaisquer delas CARBAMAZEPINA: crises parciais EPILEPSIA NA INFÂNCIA PERÍODO NEONATAL ➢ RN é caracterizado por uma intensa imaturidade cerebral (mielinização incompleta) o Focais > generalizadas o Sintomáticas > idiopáticas ➢ Etiologia o Anóxia, infecções, distúrbios metabólicos, malformações cerebrais, aminoacidopatias, encefalopatia bilirrubínica, encefalopatia hipóxico‑isquêmica, abstinência de drogas, distúrbios metabólicos, distúrbios dos ácidos orgânicos, doenças infecciosas, traumas cranianos decorrentes de complicações no parto, dependência de piridoxina e de ácido fólico, incontinência pigmentar, doenças neurocutâneas ➢ Avaliação diagnostica o História Pré e Perinatal, Exames Laboratoriais (pesquisar infecções, distúrbios metabólicos, teste do pezinho...) e Exames de Imagem o EEG: diagnostico e prognóstico (surto-supressão) ➢ Tratamento o Etiológico e Sintomático o Fenobarbital: 20mg/kg/dia EV → o tratamento é tanto para a crise, quanto para a manutenção (EV para crise e Oral {5mg/kg/dia} para manutenção) o Diazepam: deve ser evitado no RN, pois pode precipitar kernicterus o Fenitoína: evitar, pois pode causar dano cardíaco (é altamente cardiotóxica) ➢ Sinais de Mau Prognóstico o EG de baixa voltagem, multifocal ou surto-supressão (alternância entre ausência de atividade elétrica e surto de atividade) o Lesões nos exames de imagem o Persistência de exames neurológicos anormais o Crises por mais de 72 horas LACTENTE (CONVULSÃO FEBRIL) “Crise febril (CF) é definida como ´uma crise epiléptica que ocorre entre 6 meses e 6 anos de idade, associada à doença febril, não causada por uma infecção do sistema nervoso central (SNC), sendo excluídas as crianças que apresentaram crise neonatais ou crises não provocadas ou, que se encaixam nos critérios de outra crise sintomática aguda´.” ➢ Evolução benigna (não é considerada uma crise epiléptica) ➢ Febre de origem não neurológica➢ Seis meses a cinco anos de idade (prevalência maior de 9-18m) ➢ Ocorre em associação com infecções virais das vias aéreas superiores, pulmonares, intestinais e do trato urinário, assim como associada à febre decorrente de vacinação ➢ Ocorrem nas primeiras 24h de febre ➢ Quanto maior a temperatura da febre, menor a chance de recorrência ➢ Típicas (80-90%) o Generalizadas clônicas ou tônicas o Duração: até 15 min o Não recorrente em 24h (são ÚNICAS) o Sem anormalidades neurológicas pós-crise o EEG interictal normal ➢ Atípicas o Focais, se repetem em 24hrs o Duração prolongada (> 15 min) o Anormalidades neurológicas prévias o Anormalidades neurológicas transitórias ou permanentes (Todd) o Pode desencadear hemiplegia após a crise, graças ao grau de exaustão neuronal o EEG anormal ➢ Fatores de Risco para a 1ª Crise Febril: o História de crise febril em parentes de 1º e 2º graus; o Internação hospitalar no período neonatal; o Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor; o Atendimento frequente em hospital‑dia. ➢ Risco de Recorrência o História familiar febril ou afebril o Idade de início: <12 meses o Período de Febre: < 1h de febre o Delta Temperatura: baixa o Crises atípicas o Exame neurológico anormal o Após a segunda crise ➢ Risco de Epilepsia Subsequente o Crise febril simples: 1% o Crise febril complexa focal: 29% o Anormalidades do neurodesenvolvimento: 33% o História familiar de epilepsia: 18% o Crises atípicas de qualquer tipo: 6% o Crises febris recorrentes: 4% ➢ Conduta (Cuidado com meningite) o LCR ▪ Crianças < 6m – 1 ano → Deve colher o liquor ▪ Sinais de acometimento do SNC ▪ Recuperação lenta ou alteração neurológica pós-crise ▪ Sem foco infeccioso encontrado o EEG: >2 sem o Terapêutica: ▪ Controle da febre: antitérmicos, banhos, compressas frias... ▪ Contínuo: Fenobarbital ou Valproato → não é tão indicado ▪ Intermitente: Clobazan ou Diazepam (via retal ou retrolabial, durante a crise) Obs.: A profilaxia secundária não é indicada no caso de CF simples, mas no caso de CF complexa, prolongada ou focal, a profilaxia secundária intermitente pode ser considerada. SÍNDROME DE WEST ➢ 3-7 meses ➢ Criptogênica ou assintomática ➢ Pode não ter uma causa determinante ou etiologia variável (erros inatos de metabolismo, lesões cerebrais hemorrágicas, insulto hipóxico‑isquêmico, distúrbios da migração neuronal, esclerose tuberosa) ➢ Tríade: Espasmos infantis + Atraso no DNPM + Hipsiarritmia ➢ As crises podem ser flexoras, extensoras ou mistas ➢ Geralmente acontece mais quando a criança está prestes a dormir ou imediatamente após despertar ➢ Geralmente são simétricos; quando são assimétricos, refletem a presença de uma lesão estrutural ➢ Regressão cognitiva e retardo neuropsicomotor manifestam‑se logo no início do quadro, com a perda do sorriso social, desinteresse pelo ambiente, involução das aquisições motoras adquiridas, como controle de tronco, sentar, engatinhar ➢ Etiologia o Afecções pré e perinatais o Infecções e distúrbios metabólicos o Malformações cerebrais o Síndromes neurocutâneas (Esclerose Tuberosa → nesse caso, tratar com Vigabatrina) ➢ Tratamento: ACTH ou Vigabatrina o Controle medicamentoso muito difícil o Tratamento deve ser iniciado imediatamente após o diagnóstico ➢ Evolução o Evoluem para Lennox-Gastaut ➢ Prognóstico o Geralmente ruim ➢ Conduta o ACTH, Vigabatrina, VPA e BZP ➢ Etiologia o Afecções pré e perinatais o Infecções e distúrbios metabólicos o Malformações cerebrais o Síndromes neurocutaneas (Esclerose Tuberosa ou Bourneville) PRÉ-ESCOLAR, ESCOLAR E ADOLESCENTE ➢ Período Benigno ➢ Prevalecem as Idiopáticas o Ausência clássica o Generalizada tônico-clônicas o Mioclônica juvenil o Parcial rolândica o Parioxísmos occipitais ➢ Encefalopatias Epilépticas o Síndrome de Lennox-Gastaut (comprometimento cognitivo) o Síndrome de Doose o Rasmussen SÍNDROME DE LENNOX-GASTAUT ➢ Idade de inicio o 1-7 anos ➢ Semiologia Clínica o Ausência atípica (perda de consciência é incompleta, permitindo de alguma forma a manutenção parcial da atividade que vinha sendo desenvolvida), crises tônicas e/ou atônicas ➢ Se caracteriza por também ter o Estado de mal de ausência atípica, crises mioclônicas, tônico-clônicas generalizadas e parciais complexas o Quadro de sonolência, dificuldade de aprendizagem e lentidão psicomotora o Progressivo déficit cognitivo (com o passar das recorrências das crises) ➢ EEG o Complexos ponta onda 1-2,5 Hz, Polipontas difusas, ritmo recrutante ➢ Evolução o Retardo mental, déficit cognitivo ➢ Prognóstico geralmente ruim, apesar de múltiplos FAE, dieta cetogênica, calosotomia ➢ Antecedentes positivos ➢ Tratamento o VPA + CBZ + Benzodiazepínicos, Dieta Cetogênica, Topiramato, Levitiracetam, Calosotomia AUSÊNCIA SIMPLES ➢ Idade de Início o 3-11 anos ➢ Acomete mais meninas ➢ Epilepsia generalizada primária ➢ Etiologia genética ➢ A resposta ao tratamento é eficiente em 80% dos casos, eas crises são bem controladas com ácido valproico, etossuximida e/ou lamotrigina ➢ Remissão até os 12 anos de idade ➢ Bom prognóstico ➢ Perda de consciência, olhar vago ➢ Duração de 5-25 minutos (inúmeras vezes ao dia) ➢ Fatores desencadeantes → hiperventilação ➢ Início e término abruptos ➢ Piscamentos palpebrais com perda fugaz da consciência ➢ Se caracteriza por também ter o Componente tônico ou atônicas discretos, automatismos gestuais, midríase, incontinência urinária ➢ EEG o Complexos ponta onda 3 HZ difusas e bilaterais ➢ Evolução normal ➢ Prognóstico favorável ➢ Conduta o Etosuximida, Valproato, Lamotrigina EPILEPSIA ROLÂNDICA ➢ Idade de inicio o 4- 10 anos com pico em 8 anos ➢ Semiologia Clinica o Manifestações motoras orofaciais, tremores parestesias de língua, bloqueio fonatório sem perda de consciência ➢ Se caracteriza por também ter o Mais comum epilepsia desta faixa etária; Meninas > meninos ➢ EEG o Normal ou foco centrotemporal contralateral ➢ Evolução o Normal ➢ Prognóstico o Evolução benigna (20% desfavorável) ➢ Conduta o FNB, CBZ ou Fenitoína MIOCLONIA DE JANS ➢ Idade de início o 12-18 anos ➢ Epilepsia generalizada idiopática, de etiologia genética ➢ Semiologia Clinica o Caracteriza‑se por crises mioclônicas, irregulares, simples ou repetitivas, arrítmicas, predominantemente nos membros superiores, em geral ao despertar ou após privação de sono o Fatores precipitantes: privação de sono, exposição à fotossensibilidade e uso de álcool ➢ Se caracteriza por também ter o Mioclonias ao despertar e contrações súbitas da musculatura, podendo levar a quedas ➢ EEG o Atividade de base normal, espiculas e poliespiculas difusas, complexo ponta-ondas 4- 6Hz, PP frontal ➢ Prognostico o Crises controladas em 90% dos pacientes remissão difícil ➢ Conduta o Valproato (não pode ser administrado a mulheres em idade fértil, pois tem alto potencial teratogênico) SÍNDROME LANDAU-KLEFNER ➢ Predomínio masculino, entre 3-5 anos ➢ Afasia adquirida + alteração do comportamento + crises epilépticas generalizadas raras ➢ A criança gradativamente passa a ser incapaz de atribuir um valor semântico a sinais acústicos, reduz ou perde a espontaneidade da expressão verbal, passa a apresentar estereotipias, perseveração, parafasias, hiperatividade e oscilações do humor ➢ Linguagem pode ser readquirida pelo menos parcialmente, dependendo do início e desde que haja intervenção precoce ➢ Achados no EEG não são típicos
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